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O PROTESTO NEGRO NA PSICOLOGIA: CONTRIBUIÇÕES DE FLORESTAN

FERNANDES

Pedro Henrique Antunes da Costa​1


Thiago Augusto Pereira Malaquias​2

Grupo de Trabalho: ​GT 4 Carolina Maria de Jesus - Movimentos sociais, grupos, insurgências e
resistência na América Latina

Resumo: ​O presente trabalho discorre sobre alguns aportes à Psicologia brasileira oriundos das
formulações de Florestan Fernandes sobre o ​problema do negro ​e do ​protesto negro ​em nossa
realidade, de modo a analisar como o racismo a constitui e como se dá o ​protesto negro na Psicologia​.
A partir da interpretação ​florestaniana sobre nossa gênese e fundamento colonial-escravocrata, o
racismo que estrutura o capitalismo dependente brasileiro e, mais especificamente, ​como se erige a
resistência da população negra, nos confrontamos com a Psicologia como expressão desse processo
histórico, ao mesmo tempo que o conformando. Focaremos na obra ​Significado do protesto negro​, em
que o autor reelabora algumas de suas teses e análises sobre o tema, fruto da radicalização do seu
pensamento, adensamento de sua fundamentação marxista e contato com o próprio movimento negro.
Adicionalmente, nos debruçaremos em outras de suas obras sobre o tema, mas considerando suas
reflexões maduras, até porque são (re)posicionamentos de quem se defrontou com as derrotas e
reinvenções do conjunto dos explorados e oprimidos, redundando no seu projeto de ​revolução
brasileira.​ Sobre a Psicologia, a análise basear-se-á no perfil mais recente da profissão, em trabalhos
que versam sobre o histórico da ciência e profissão e sua relação com o problema do(a) negro(a),
considerando da questão racial e racismo, e que analisam como ele é abarcado na formação, produção
acadêmica e prática ​psi​. Nesse ínterim, apresentaremos algumas obras e psicólogos(as) que constituem
importantes referências na abordagem da questão racial e do racismo pela Psicologia: manifestações do
protesto negro na Psicologia​, sem esgotar o tema. Os resultados serão apresentados da seguinte forma:
(a) uma interpretação histórica sobre a insuficiência de negros(as) na Psicologia brasileira; (b) outras
formas de negação e separação do(a) negro(a), da raça e do racismo na/pela Psicologia; (c) reflexões
sobre os caminhos possíveis para a reversão do panorama apresentado, a partir do diálogo com
Florestan; (d) qual o horizonte do protesto negro e transformação ​psi,​ em termos de reforma ou
revolução; e (e) considerações finais. Trata-se de balancear a transformação e democratização da
Psicologia face à própria revolução do capitalismo e, nele, do capitalismo dependente brasileiro que
deita suas raízes na colonização escravocrata. Para a Psicologia, a sua transformação consiste no seu
principal horizonte interno, isto é, o norte de sua revolução, da revolução “dentro da ordem” - da
Psicologia e ordem social. Cabe à Psicologia e aos(às) psicólogos(as) se implicarem como
trabalhadores(as), negros(as), indígenas, brancos(as), homens, mulheres etc. por fora da Psicologia em
um horizonte de revolução “por fora”, “para fora” da ordem e “contra” ela. Um processo que vise
suprimir por completo nossas estruturas exploratórias e opressivas e, nisso, colocar em xeque a própria
Psicologia enquanto complexo particular do saber-fazer que nasce e se desenvolve, justamente, sob os
marcos do capitalismo e, no caso brasileiro, do capitalismo dependente, sua gênese

1
Doutor em Psicologia, Universidade de Brasília, phantunes.costa@gmail.com.
2
Psicólogo, Universidade da Paraíba, tapm83@gmail.com.

1
colonial-escravocrata e racismo estrutural. Nisso, concordando com Florestan, o ​protesto negro ​é
bússola e pólvora.
Palavras-chave: ​Protesto negro. Florestan Fernandes. Psicologia.

INTRODUÇÃO
No centenário de Florestan Fernandes (1920-2020), dialogaremos com suas reflexões sobre o
problema do negro​, referente à gênese e fundamento colonial-escravocrata de nossa formação social, o
racismo que estrutura o capitalismo dependente brasileiro e, mais especificamente, o ​protesto negro
como resistência histórica da população negra. Nosso intuito é o de demonstrar algumas das
contribuições do autor para a Psicologia brasileira, ao mesmo tempo que buscando compreender como
as problemáticas abordadas se desenvolvem no seu interior enquanto complexo de saber-fazer
particular: como o racismo a constitui e como se dá o ​protesto negro na Psicologia​.
A aproximação de Florestan com a temática da questão racial e o movimento negro se deu na
passagem dos anos 1940 aos 1950. Um marco importante é a realização do chamado ​Projeto UNESCO,​
de estudo das relações sociais em São Paulo, materializadas em ​Relações raciais entre negros e
brancos em São Paulo (​ BASTIDE; FERNANDES, 1955). Para isso, Florestan e demais pesquisadores
dialogaram com militantes da Frente Negra Brasileira (FNB, 1931-1937), “primeiro movimento negro
de caráter urbano e de massas no Brasil” (COSTA, 2017). Tal aproximação tornou-se “objeto” de
estudo e de vida para Florestan, uma pauta prioritária de sua sociologia engajada e militância socialista
com o conjunto dos explorados e oprimidos. Nisso, não podemos nos esquecer de seus trabalhos
prévios com os ​tupinambás​, reforçando que seu compromisso com os “de baixo” considerava suas
particularidades e singularidades.
Em termos interpretativos, nas
primeiras publicações sobre a temática racial, Florestan Fernandes ainda apresentava
como possibilidade histórica a noção de que a discriminação racial poderia desaparecer
com a consolidação do capitalismo no Brasil”, mediante a organização e luta do
movimento negro e aliados (COSTA, 2017, p. 13).
Contudo, principalmente após o golpe civil-militar de 1964, Florestan vai radicalizando sua
compreensão pelas armas do materialismo histórico-dialético, tendo como marco de inflexão a
publicação ​A revolução burguesa no Brasil em 1975 (FERNANDES, 2006), em que o capitalismo
“dependente” e “selvagem” brasileiro se edifica sobre o racismo, o reificando e se reificando, numa
imbricação entre “dominação racial e exploração capitalista” (COSTA, 2017, p. 14). Com o racismo
sendo constitutivo do desenvolvimento capitalista brasileiro, a luta de classes deve se racializar, e
vice-versa, como condições para uma revolução que dê fim aos antagonismos raciais e de classe e suas
inúmeras implicações objetivo-subjetivas.
Conforme Costa (2017), Florestan “compreendia que a emancipação do negro constituía um
movimento de autoemancipação” (p. 13), levando-a se posicionar historicamente como um aliado na
luta, cujas ​armas da crítica,​ inclusive, eram produzidas com a militância negra. Nesse aspecto, é
pertinente salientar seus diálogos permanentes com o movimento negro, gerando relações deferência e
amizade com alguns dos mais importantes militantes, como Abdias do Nascimento e José Correia
Leite. Por fim, salientamos também sua destacada atuação parlamentar sobre a questão racial, junto ao
movimento negro como deputado federal (1987-1995) pelo Partido dos Trabalhadores.
É interessante mencionar o intercruzamento concreto de Florestan com a Psicologia. Para além
de suas reflexões e diálogos transdisciplinares, é importante frisar sua participação no mencionado.
Segundo Fernandes (2017, p. 131), Roger Bastide foi convidado para ser o coordenador da pesquisa em

2
São Paulo, o convidando posteriormente para a coordenação conjunta, e, nesse interregno, surgiram
como desdobramentos “dois estudos de psicologia, atribuídos a Aniela Ginsberg e a Virgínia Bicudo;
uma sondagem sociológica sobre uma comunidade rural do Estado de São Paulo” a cargo de Oracy
Nogueira. No entanto, os trabalhos de Nogueira, Ginsberg e Bicudo foram incorporados à publicação
apenas como apêndices. Na segunda edição do livro (em 1959), os três trabalhos foram, inclusive,
excluídos. Não adentraremos aqui nas pormenorizações que levaram a tais atos, muito menos
repousamos sobre Florestan qualquer indício de responsabilidade sobre o ocorrido​3​. Apenas
consideramos importante mencioná-lo, sobretudo no caso de Virgínia Bicudo, socióloga e psicanalista
negra, pois diz de um episódio em uma carreira de apagamento sistemático de suas contribuições à
temática das relações sociais - e à Psicologia brasileira.
Não obstante, acreditamos que os aportes ​florestanianos ​sobre como o(a) negro(a) emerge na
Psicologia, e como este(a) se movimenta (e pode vir a se movimentar) contribuem para um exercício de
profunda autocrítica acerca da Psicologia, atrelada à realidade brasileira, e o papel que ela vem
desempenhando. Sem o intuito de realizar um exercício historiográfico sobre a ciência e profissão no
país, devemos alertar para o papel que as ideias psicológicas do período colonial ao início da Primeira
República, - ou seja, bem antes do desenvolvimento e regulamentação da profissão (que ocorreu em
1962) - serviram como justificação da colonização e exploração-opressão, numa perspectiva racista, em
que os povos originários e africanos eram concebidos (e seus descendentes) como raças inferiores,
“primitivos”, “selvagens”.
Segundo Antunes (2012), o período colonial, no qual o Brasil serviu à acumulação primitiva
de Capital na Europa, as ideias psicológicas foram dominadas pela filosofia da “tábula rasa”, que
supostamente permitiria a conversão de indígenas nativos e africanos escravizados ao cristianismo e
sua conformação ao modo de produtivo que se impunha. No período imperial, o país entra em processo
de urbanização, com as ideias psicológicas atreladas a medicina emerge o higienismo. Já na República,
face ao tardio e denso processo de industrialização e “modernização” capitalista do país, a Psicologia se
consolida em meio à repressão da pobreza e recrudescimento da higienização social e eugenia
(ANTUNES, 2012). Nessa esteira que seguem os trabalhos da ​Escola Baiana de Antropologia,​ de
Raimundo Nina Rodrigues e discípulos que, por um corte médico-psicológico afirmam a raça como
conceito biológico, tendo o(a) negro(a) e seus atributos como degenerados, contribuindo para a
naturalização do racismo (SCHUCMAN; MARTINS, 2017).
Estes fatores se atrelam à natureza capitalista da Psicologia. Segundo Yamamoto (1987), o
cientificismo burguês que subordina a ciência ao poder do capital, ao instaurar a divisão capitalista do
trabalho e a fragmentação do conhecimento, demandou da ciência um saber e um fazer. Estes deveriam
ser cientificamente capazes de forjar, nas necessidades da produção capitalista, os próprios
trabalhadores em suas condições exploratórias e alienadas. Nesse cenário, surge a Psicologia que,
“concebida como uma “ciência autônoma”, compreende uma forma de saber e uma técnica – ou dito de
outra forma, ideologia e prática” (YAMAMOTO, 1987, p.16): ideologicamente burguesa, a serviço do
Capital, na institucionalização e mensuração dos trabalhadores, no controle e solução de conflitos na
produção e na transfiguração de sujeitos em mercadorias descartáveis dentro de um exército industrial
de reserva.

3
Um maior detalhamento sobre a relação de Bicudo com o ​projeto UNESCO ​e alguns dos entraves da pesquisa ​pode ser
encontrado em Maio (2010). Fernandes (2017) caracteriza a realização da pesquisa como um “acaso” (p. 131) e fala em
“lapso editorial” (p. 135) ao abordar problemas na publicação da primeira edição do estudo.

3
Ao se voltar à realidade brasileira, o autor estende suas críticas às diversas áreas da Psicologia,
como, por exemplo, a educação e a mensuração das diferenças individuais para seleção dos “mais
capazes”, e a clínica com suas bases na medicina e operando com a noção de normalidade e patologia.
No decorrer do desenvolvimento da Psicologia, até mesmo no âmbito epistemológico, os
atravessamentos ideológicos burgueses que sustentam as diversas perspectivas que lhe dão forma
“enquanto um modo de conceber o real, também devem ser buscados na sociedade capitalista”
(YAMAMOTO, 1987, p. 28). Na particularidade brasileira: uma sociabilidade forjada nos/pelos
antagonismos de classe raça (e etnia e gênero) que se desenvolveu no genocídio e o epistemicídio dos
povos nativos, tradicionais e seus saberes.
O brevíssimo resumo das contradições inerentes ao desenvolvimento da Psicologia no Brasil,
dialeticamente às transformações políticas, econômicas, sociais, culturais e ideológicas regidas pelo
capitalismo que refletem na particularidade dos saberes e técnicas psicológicas introjetadas no país, não
visa abarcar toda complexidade das contradições, mas apontar, conforme destaca Lacerda Jr. (2013), o
que Martín-Baró denominou como “​miséria​” da Psicologia, que se traduz no fato de que ela no Brasil
“muitas vezes, reproduz ideias e práticas predominantes nos grandes centros capitalistas” (LACERDA
JR., 2013): ao mesmo tempo, sintoma e corroboradora da condição colonizada e dependente do país.
A partir do exposto, que dialogaremos com a interpretação ​florestaniana,​ de modo a analisar
as mudanças ocorridas na Psicologia brasileira por meio do ​protesto negro.​ Adicionalmente, ​é nesses
marcos que postularemos como horizonte a transformação radical da/na Psicologia, que acompanhe a
transformação substancial da realidade brasileira para a construção, de fato, de uma democracia em
todos os âmbitos: sociais, raciais (étnicos e de gênero).

MÉTODO
Para o resgate das reflexões ​florestanianas s​ obre o problema do(a) negro(a) no Brasil, e suas
implicações à psicologia, focaremos na obra ​Significado do protesto negro (FERNANDES, 2017),
originalmente publicada em 1989, e que reúne um conjunto de ensaios, entrevistas e artigos de opinião
do autor sobre o tema. A escolha de tal obra se deve ao próprio movimento de reelaboração de algumas
de suas teses e análises sobre a questão racial e o movimento negro, fruto da radicalização do seu
pensamento e do adensamento de sua fundamentação marxista. A análise ​florestaniana ​se baseia
também nos próprios fluxos e refluxos da trajetória do movimento negro, que não só acompanhou de
perto como estabeleceu inúmeros diálogos, desde o FNB, colocado na ilegalidade durante o primeiro
regime ​varguista​, até o Movimento Negro Unificado (MNU), criado em 1978 no bojo de
reivindicações contra a ditadura civil-militar.
Com isso, não queremos incorrer numa cisão entre o Florestan “jovem” e o “maduro”, que, de
acordo com Farias (2020, s/p.), “impede que se compreenda os caminhos que levaram Florestan à sua
maturidade”, tomando-o como uma totalidade que, por sua vez, não é homogênea e monolítica. Assim,
dialogaremos com outras de suas obras, mas considerando suas reflexões maduras, até porque são
(re)posicionamentos de quem se defrontou com as derrotas e reinvenções do conjunto dos explorados e
oprimidos frente à ditadura civil-militar, dialogando com os fluxos e refluxos do movimento e protesto
negro e alguns intelectuais-militantes que ganharam destaque no período e se tornaram referências para
Florestan (como os já citados Abdias do Nascimento e José Correia Leite), redundando no seu projeto
de ​revolução brasileira4​​ .

4
Em ​Significado do protesto negro​, Florestan faz um reexame de suas produções e posições anteriores sobre as relações
raciais e aproveita para rechaçar críticas sobre um suposto paternalismo, ao evidenciar seu papel como sociólogo e militante

4
Sobre a Psicologia, de modo a subsidiar o diálogo com as reflexões ​florestanianas,​ a análise
basear-se-á, inicialmente, no perfil mais recente da profissão, fornecido pelo Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE, 2016), focalizando nas diferenças
entre psicólogos(as) negros(as) e não negros(as). Ademais, lançaremos mão de trabalhos que versam
sobre o histórico da Psicologia e sua relação com o problema do(a) negro(a), a partir da consideração
da questão racial e do racismo, bem como de produções que analisam como estes são abarcados na
formação, produção acadêmica e prática ​psi​. Nesse ínterim, apresentaremos alguns trabalhos e
psicólogos(as) que constituem importantes referências na abordagem da questão racial e do racismo
pela Psicologia: manifestações do ​protesto negro na Psicologia,​ sem a pretensão de esgotamento do
tema.
A partir da operacionalização do presente método e, visando alcançar os objetivos delineados,
os resultados serão apresentados e discutidos na seguinte estrutura: (a) uma interpretação inicial sobre a
insuficiência de negros(as) na Psicologia brasileira; (b) para além desse distanciamento, discorreremos
sobre outras formas de negação e separação do(a) negro(a), da raça e do racismo na/pela Psicologia; (c)
reflexões sobre quais são os caminhos possíveis para a reversão do panorama apresentado, a partir do
diálogo com Florestan; (d) qual o horizonte do protesto negro e transformação ​psi​, em termos de
reforma ou revolução; e (e) as considerações finais, com uma síntese argumentativa e apontamentos
gerais.

POR QUE (AINDA) HÁ POUCOS(AS) NEGROS(AS) NA PSICOLOGIA?


Tornou-se comum a constatação da ​elitização da Psicologia, em especial, em vertentes ​críticas
que pressupõem a crítica não apenas da Psicologia, mas da sociedade que a tem como necessidade e
resultante, produzindo-a sob determinados marcos, ao mesmo tempo que conformada por ela
(LACERDA JR., 2013). É comum pensar que esta seja composta hegemonicamente por brancos(as), o
que, é um fato, tanto no passado quanto no presente.
Segundo levantamento do DIEESE (2016), apenas ​16,5% dos psicólogos(as) se declararam
negros(as); um total de 24.162 pessoas (da amostra de 122.559). É pertinente acreditar que tal
discrepância, mesmo que abismal, seja menor do que historicamente existiu, reflexo das contradições
entre as políticas afirmativas que ampliaram o acesso das camadas mais subalternizadas (e negras) à
universidade pública, e a expansão privada do ensino superior, denotando a mercantilização da
educação e políticas da área, bem como a submissão do Estado ao setor privado - dinâmica essa que
demanda análises críticas que fogem do escopo do presente artigo. ​Contudo, falta entender o porquê de
tal distanciamento e ​inospitalidade d​ a psicologia ao(à) negro(a). Não é suficiente constatar que há
poucos negros(as) na Psicologia. É preciso escrutinar os porquês, para que se possa transformar tal
realidade. E isso nos remete ao processo de formação social brasileiro e sua consequente análise.
Conforme Florestan, a “Abolição” e​ nquanto “revolução das elites, pelas elites e para as elites;
no plano racial, de uma revolução do ​branco p​ ara o ​branco​” (FERNANDES, 2017, p. 30), produz o
negro, agora ​trabalhador livre,​ não mais escravo, como o “bagaço do antigo sistema de produção” (p.
29). A despeito da importância da luta dos “de baixo”, se tratou de um revolução social conduzida
pelos “de cima” e ​para os de cima, das classes dominantes brancas, com os negros postos “à margem
da condição de agentes do processo de redefinição do trabalho livre como categoria histórica” (p. 52).

“de servir de ponte entre as gerações que desencadearam o primeiro protesto negro e as que erguem, no presente [na década
de 1980], as bandeiras da liberdade maior no ‘meio negro’” (FERNANDES, 2017, p. 139), sem tergiversar sobre a
necessidade de auto-organização e autoemancipação do(a) negro(a).

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Dessa forma, “[o] bombardeio da identidade racial é o prelúdio ou o requisito da formação de
uma população excedente destinada, em massa ao trabalho sujo e mal pago” (FERNANDES, 2017, p.
46). Face ao imigrante contratado como assalariado, por ser menos ​oneroso​, o destino do negro é
compor a massa do exército industrial de reserva alvo da superexploração econômica. “Nessa
população, recrutam-se os malditos da terra, os que são ultraespoliados e têm por função desvalorizar o
trabalho assalariado, deprimir os preços no mercado de trabalho para elevar os lucros, quebrar a
solidariedade operária e enfraquecer as rebeliões sociais” (p. 47).
Assim se desenvolve o capitalismo dependente brasileiro, numa dinâmica de apropriação dual
do valor produzido, capaz de sanar as necessidades tanto de uma burguesia interna, nacional, mas que
de nacionalista nada tinha, quanto - e sobretudo - a internacional, transferindo a maior parcela do desse
valor para fora (FERNANDES, 2006). Como sustentação desse caráter ​ultraespoliativo​, tem-se a
materialização de uma autocracia como dominação burguesa permanente e a superexploração da força
de trabalho que se orienta principalmente ao negro “liberto”, como “condição tanto da desvalorização
do trabalho operário em geral quanto do fortalecimento do despotismo das classes burguesas”
(FERNANDES, 2017, p. 47). Enquanto o negro é compelido ao “‘trabalho sujo’, com o ‘trabalho
arriscado’ e com o ‘trabalho mal pago’”, à mulher, restam as reatualizações escravocratas do trabalho
doméstico e seus dois papeis “o de trabalhar e o de satisfazer o apetite sexual do patrão ou do
filho-famílias” (p. 82).
O(a) negro(a) é, pois, alijado historicamente do mercado formal de trabalho e, nele, das
profissões associadas a melhores condições de vida. As exceções, nesse caso, servem como
confirmação da regra, por mais que sejam mostradas rotineiramente por um viés liberal meritocrático
de ​vitória pessoal passível de ser conquistada por todos(as) - e que se não alcançada, trata-se de um
fracasso igualmente pessoal. A despeito das mudanças societárias face ao desenvolvimento do
capitalismo dependente brasileiro, ainda perdura tal panorama que marginaliza e nega o(a) negro(a) em
todos os aspectos objetivo-subjetivos de suas vidas.
Os processos que fazem com que haja poucos(as) negros(as) na Psicologia são similares, no
que diz de suas estruturas, aos de outros campos do saber-fazer, como a Medicina, o Direito,
engenharias etc. ou, mesmo, das profissões mais bem remuneradas e postos de trabalho com mais
direitos e garantias. Apesar das especificidades de cada, ao se desenvolverem sob os marcos do
desenvolvimento capitalista brasileiro, de gênese colonial-escravocrata, influem nesse terreno onde o(a)
negro(a) historicamente foi alijado das melhores condições de trabalho, cerne de uma massa excedente
configuradora do exército industrial de reserva. Numa sociedade antidemocrática, como a nossa, não é
de se espantar uma não-democracia na Psicologia, começando por quem a constitui - e, dialeticamente,
por quem não a compõe.
Em nossa historicidade, o(a) negro não só não pôde ser psicólogo(a), como também não foi
“alvo” da Psicologia, ao menos no que se refere à menina de seus olhos, a clínica,​ afinal, como
argumentado, suas condições de vida no geral obstaculizaram o seu acesso à terapia nos moldes como
ela se hegemonizou, fazendo com esta se voltasse para a burguesia ou as parcelas mais abastadas da
classe trabalhadora; ou seja, aos(às) brancos(as). Não estando presente no “campo visual” ​psi​, o(a)
negro(a) inexiste. Ao inexistir, a Psicologia contribui para a reificação de sua condição negada ou,
quando considerada, subalternizada. Concernente aos outros dois campos tradicionais de
desenvolvimento da profissão - o mundo do trabalho e a educação -, dado o ​modus operandi d​ a
Psicologia pautado pela seleção, adaptação, psicopatologização e como agente racionalizador
subordinado ao Capital (YAMAMOTO, 1987), sua relação com o(a) negro(a) corrobora com a
superexploração que o(a) atravessa, e a consequente barbarização das condições de sua vida.

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Dessa forma, a análise ​florestaniana q​ ue busca a todo momento atentar para os imbricamentos
e a consubstancialidade entre raça e classe serve também à Psicologia, afinal diz da interpretação sobre
o movimento do real - e não qualquer real, mas o da realidade brasileira, ao qual se volta nossa
Psicologia. “Nada de isolar ​raça e​ ​classe”​ ​(FERNANDES, 2017, p. 35), sob a pena de se interpretar
erroneamente essa realidade, parcializando-a, e produzindo respostas igualmente equivocadas. O
supracitado levantamento do DIEESE (2016), ilustra tal consubstanciação no bojo da própria
Psicologia, ao identificar que os(as) psicólogos(as) negros(as) recebiam, em média, 83% do recebido
pelos(as) não negros(as).
Por conseguinte, as próprias lutas de classes e de raças estão interconectadas, “duas
polaridades, que não se contrapõem mas se interpenetram como elementos explosivos - a classe e a
raça” (FERNANDES, 2017, p. 84/85). É a síntese entre classe raça, formando uma unidade na
diversidade, em que não se nega as especificidades de cada: “uma não esgota a outra e, tampouco, uma
não se esgota na outra. Ao se classificar socialmente, o negro adquire uma situação de classe proletária.
No entanto, continua a ser negro” (p. 84). Isso nos remete a Frantz Fanon, a quem “o negro não é um
homem”, “o negro é um homem negro”, habitando “uma zona de não-ser” (FANON, 2008/1952, p.
26). Modificando um pouco a constatação ​fanoniana,​ o negro é negro, não necessariamente ser
humano. Atrelando-a a de Florestan, trabalhador negro é trabalhador e negro, não necessariamente
humano.
Sob os marcos segregatórios, exploratório-opressivos da formação social brasileira, a
Psicologia se desenvolve perpassada pelas contradições e tensionamentos inerentes a essa realidade.
Inúmeros movimentos de crítica ao seu caráter elitizado surgem o que, em meio, à dinâmica societária
brasileira e, no caso aqui analisado, às confluências do movimento negro, influem na dinâmica da
própria Psicologia. Na passagem dos anos 1970 aos 1980, tais críticas ganham corpo, reverberando em
um debate acerca de a ​que e​ ​quem s​ e volta a Psicologia e postulando a necessidade de sua maior
democratização. Emergida num panorama de efervescência política que culmina num processo “lento,
gradual e seguro” de passagem do regime ditatorial ao “democrático”, cuja “conciliação pelo alto” não
rompe com o caráter autocrática da burguesia brasileira (FERNANDES, 2006), a Psicologia se
expande, se aproximando das classes populares e mais pauperizadas - e, portanto, negras -, por meio da
ampliação de seus serviços no seio das políticas sociais no aparato estatal.
Contudo, conforme Yamamoto (2009), a despeito de todas as iniciativas críticas, tal processo
não derivou de um ascenso de consciência da Psicologia acerca do seu papel frente às necessidades do
povo brasileiro. Dada a crise econômica vivida pelo país na década de 1980, que afeta sobremaneira
sua clientela - a burguesia e a classe média, já que o grosso da classe trabalhadora já não era
encampado pelos seus “serviços” -, diminuindo a demanda pela clínica, e o aumento no número de
psicólogos, a Psicologia se defronta com uma “crise” que, na verdade, era uma insatisfação
generalizada de estudantes e profissionais ​psi (​ YAMAMOTO, 1987). Movidos por necessidades
objetivas e demandas corporativistas, que se aproveitam da ampliação do campo de trabalho pela
redefinição do setor de bem-estar social e “reabertura democrática”, temos esse movimento
contraditório em que a Psicologia busca se democratizar apenas pela via da oferta dos seus serviços a
uma parcela populacional historicamente alijada por ela e da ordem - sem que isso representasse uma
real transformação democrática desde suas bases ontológico-epistemológicas. Devido à maior inserção
de psicólogos(as) nestes agora “novos” contextos, associado também às vinculações com movimentos
sociais, entidades de categoria, sindicatos etc., redefinições teóricas adentram nos campos de batalha
psi​, só que sem conformar um projeto ético-político, de fato, democrático, sendo ainda movimentos
contra hegemônicas.

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No âmbito da ​integração do(a) negro(a) à Psicologia, a maior presença destes(as) como
psicólogos(as), indica que nossa formação social possibilitou resíduos de refúgio à população negra,
como Fernandes observara (2010) nas suas análises sobre o desenvolvimento capitalista brasileiro. No
entanto, a ainda ínfima presença, diz de uma perversa dialética de incorporação e integração da mão de
obra negra, como justificativa de uma suposta democratização em voga. Apesar de mais “aberta”, a
Psicologia ainda é, em sua hegemonia, um ​circuito fechado5​ a​ o(à) negro(a). Como vimos, isso não
significa que a Psicologia seja democrática, afinal, enquanto produto de nossa sociedade (e a
conformando), ela também reflete o caráter antidemocrático de nosso fazimento histórico. Conforme
Almeida (2018), “o racismo não se limita à representatividade. Ainda que essencial, a mera presença de
pessoas negras e outras minorias em espaços de poder e decisão [e, pois, na Psicologia] não significa
que a instituição [a Psicologia] deixará de atuar de forma racista” (p. 37/38).
Nesse ínterim, o(a) negro(a), a questão racial e o racismo, paulatinamente, passam a estar mais
presentes no campo de “visão” e atuação da Psicologia, bem como em suas produções e reflexões
teórico-conceituais. Contudo, “apenas” englobar o(a) negro(a) como “objeto” em suas reflexões não é
sinônimo de democracia; tal movimento pode ser feito por perspectivas fetichizantes e paternalistas
que, a despeito das intencionalidades, não o(a) têm como sujeito em si, no máximo como objeto,
concebendo-o de maneira inferiorizada e reificada: o mito de democracia racial na Psicologia, tal como
o da realidade brasileira. Por outro lado, todos esses processos, mesmo que limítrofes e ínfimos só
foram possíveis em decorrência das árduas batalhas do movimento negro e suas reverberações na
Psicologia.
Discorremos, assim, sobre alguns dos fundamentos do distanciamento objetivo entre a
Psicologia e o(a) negro(a) no desenvolvimento do capitalismo dependente brasileiro. Estes, plasmados
às raízes escravocratas que engendram o racismo enquanto estruturante de nossa formação social,
produto e produtor, confluem para um distanciamento que é também subjetivo, manifestado no
apagamento simbólico e epistemológico do(a) negro(a) na/pela Psicologia: uma ausência
objetivo-subjetiva, seja como psicólogo(a) ou como “objeto” da Psicologia, mas, também, nos seus
arcabouços teórico-conceituais. A seguir, perscrutaremos sobre esses apagamentos simbólicos que
complexificam a relação da Psicologia com o(a) negro(a), a raça e o racismo, não se resolvendo, pois,
com a maior presença de negros(as) na Psicologia - o que, de forma alguma significa que esse
movimento seja desnecessário.

O RACISMO QUE APAGA: REVERBERAÇÕES NA PSICOLOGIA


Associado ao distanciamento objetivo da Psicologia com o(a) negro(a), outros processos de
separação e apagamento mais sutis e, por isso mesmo, não menos perversos, nos convocam a
compreender a complexidade do ​problema do(a) negro(a) e​ o ​racismo estrutural em nossa sociedade e
suas reverberações na Psicologia brasileira. Nesse sentido, abordaremos algumas dessas facetas no que
se refere à formação, produção acadêmica e prática ​psi.​
No que se refere à produção acadêmica, estudos como o de Schucman, Nunes e Costa (2017),
evidenciam as lacunas existentes na Psicologia relacionadas às relações raciais. As autoras analisaram
as dissertações e teses elaboradas de 1970 a 2012 no Instituto de Psicologia da Universidade de São
Paulo. Apesar de encontrarem importantes trabalhos denunciadores do racismo, com sinalizações de
como superá-lo, da mesma forma que analisando suas reverberações subjetivas, se depararam com

5
Título de obra de Florestan (2010).

8
poucos trabalhos (apenas 15 abordaram raça e racismo, num total de 0,5% do total de pesquisas
realizadas no período abarcado).
Ao investigarem a compreensão de ​estudantes de Psicologia de uma universidade pública da
região metropolitana de São Paulo acerca da raça na constituição desigual de nossa realidade, bem
como na formação ​psi​, ​Santos e Schucman (2015) ​observaram que, apesar de os(as) estudantes
considerarem a importância do tema, houve pouca inserção e comparecimento da raça, do racismo,
relações raciais e afins na formação. Para eles(as), as cotas que possibilitaram maiores discussões e
reflexões sobre o tema, “sendo um mote importante para abertura dos universos de locução e
possibilidade de construção de uma visão crítica sobre a escassa abordagem das relações raciais no
âmbito dos currículos de graduação e pós-graduação em Psicologia” (p. 135).
Para investigar como as questões raciais atravessam os currículos de Psicologia no Brasil,
Espinha (2017) analisou Projetos Político-Pedagógicos (PPPs) de 35 dos 421 cursos de Psicologia em
316 instituições de ensino entre os anos de 2014 e 2015, o que corresponde a 8,3% dos cursos ofertados
na época. A autora identificou 358 instituições de ensino particulares, 47 públicas, 13 estaduais e três
municipais. Das 47 instituições públicas, 17 disponibilizavam seus PPPs, enquanto das 358
particulares, apenas 22 tornaram acessíveis tais informações. A autora constatou que nenhum dos 35
PPPs analisados apresentavam as palavras-chave branquitude, Justiça Social, Estereótipo, Negritude,
Negro e Negra. Por outro lado, as palavras-chave foram encontradas: Direitos Humanos (26 PPPs), por
vezes ensinado de modo descontextualizado; Diversidade (16 PPPs), pautada num referencial
heteronormativo eurocêntrico; Inclusão (16 PPPs), atrelada à ideia do compromisso social de se manter
uma educação inclusiva através do acesso e permanência de alunos em instituições de ensino e sobre
direitos de pessoas portadoras de deficiência física; e Exclusão (oito PPPs), relacionada a temáticas e
situações de superação, enfrentamento e combate a diferentes dimensões da exclusão social,
sinalizando para a autora a continuidade de “discursos contraditórios e a manutenção de uma ideologia
neoliberal que há muito tempo encontra-se nos processos de formação em Psicologia no Brasil” (p.
142).
Ainda segundo Espinha (2017) houve uma intensa prevalência da formação em psicologia na
área da saúde em todas as regiões do em país e tipos de instituição, sendo que em vista do discurso
presente nas Diretrizes Curriculares os cursos deveriam tender a uma formação generalista, ao passo de
que essa prevalência se mantém por uma adaptação ao mercado de trabalho, o que acaba camuflando
também a continuidade da clínica enquanto principal área na qual os profissionais são capacitados a
atuar, porém agora em outro contexto; ênfase em psicologia social mais presente nas regiões Nordeste e
Centro-Oeste e em instituições federais e ênfase em saúde e clínica mais presente em instituições no sul
do Brasil onde não ofertavam ênfase em social ou psicossocial, o que sugere que houve “modificação
somente de discurso [...] e revelaram o atravessamento ideológico desse material que se perpetua até
hoje” (p. 141).
Ao encontrar a temática do racismo apenas em um PPP daqueles 35 analisados, a autora
conclui que a problemática ainda é pouco debatida nos cursos de psicologia por todo território
brasileiro, e, quando abordada, apresenta-se ocasional e superficialmente em poucas disciplinas que
deslocam o racismo para uma abordagem étnica, sugerindo um silenciamento das contradições sociais e
evidenciando no território político que subjaz nos Currículos de Psicologia. Por fim, ela salienta “a
necessidade dos cursos se repensarem de maneira mais estrutural e não somente no âmbito do conteúdo
de uma ou outra disciplina” (ESPINHA, 2017, p. 219).
Em pesquisa que objetivou coletar e analisar narrativas de negras atendidas por
psicoterapeutas brancos(as), Gouveia e Zanello (2019) constataram um descontentamento por parte das

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mulheres atendidas, “​pois questões raciais e suas experiências de racismo como fonte de sofrimento
mental, quando e se relatadas em sessão, não foram em geral bem recebidas, consideradas ou
exploradas pelo(a) profissional” (p. 12). Dessa forma, a raça não comparece no ​setting ​clínico, na
abordagem do(a) psicoterapeuta, apesar de ser constitutiva da formação do ser que é atendido; há um
apagamento daquilo que constitui o indivíduo e, pois, desse próprio ser. Segundo as autoras, pratica-se
“o racismo por omissão” (p. 13), em uma Psicologia ainda colonizada. A saída aponta por elas também
diz da necessidade de mudanças na formação em Psicologia, de modo a abarcar a realidade dos
indivíduos aos quais essa se volta. Poderíamos ampliar nossa análise a outros contextos, campos e
formas de atuação ​psi​, mas aglutinando as reflexões já apresentadas sobre formação e prática,
acreditamos ser suficiente dizer que o apagamento do racismo, da questão racial é hegemônico na
Psicologia.
Apesar de concordamos com as autoras sobre a importância da formação e a premência de sua
transformação, devemos considerar que o apagamento da raça na formação e, consequentemente, na
prática do(a) psicólogo(a) já é um sintoma; em suma, que a “má formação” em Psicologia é resultante
de um apagamento sistemático prévio do(a) negro(a) em nossa realidade, ao passo que contribui a isso
reproduzindo tal ​modus operandi​. Nosso entendimento é que esse apagamento sistemático do(a)
negro(a) que se dá pelo racismo estrutural constitui a Psicologia brasileira como um campo do
saber-fazer, demonstrando a necessidade que essa seja compreendida na concretude histórica que a
forja e é forjada por ela. Buscando, então, esquadrinhar esse panorama mais abrangente e que remete à
nossa gênese e processualidade histórica:
Não adianta o olhar para o(a) brasileiro(a) se em minhas abstrações ontológicas e
epistemológicas tomo o europeu ou o estadunidense dos séculos XIX, XX e XXI como
ideal. Assim, nunca o(a) enxergarei como ser em si; no máximo como um não-europeu,
não-estadunidense, imputando a este inferiorizações e culpabilizações [...] que [...]
corroboram e justificam o que a colonização imputou a nós na dinâmica social global e
o modo de produção e reprodução capitalista tratou de assentar (COSTA;
LORDELLO, 2019, p. 41).
Se a Psicologia, no plano hegemônico, desconsidera o(a) negro(a) naquilo que o(a) constitui é
porque, antes de tudo, em nosso fazimento colonizado, que não é rompido em essência e totalidade no
decorrer de nosso desenvolvimento capitalista - pelo contrário -, existe uma dupla negação do negro,
como mercadoria, ao vender sua força de trabalho, e como coisa-animal, face à dominação racial que
impera e lhe retira a condição de humano. Nesse processo de negação dupla, a existência e afirmação
do negro, dialeticamente “nega duplamente a sociedade na qual vivemos - na condição racial e na
condição de trabalhador” (FERNANDES, 2017, p. 26/27). Dessa forma, o negro, ao ser duplamente
negado, é “duplamente revolucionário - como proletário e como negro” (p. 26). Não por acaso,
Florestan reformula a máxima ​marxiana:​ “proletários de todas as raças do mundo, uni-vos” (p. 27). A
ela acrescentamos: proletários de todas as ​raças, etnias e gêneros d​ o mundo, uni-vos.
Ao silenciar e negar o(a) negro(a), a questão racial e o racismo como estruturantes de nossa
realidade, objetiva e subjetivamente, a Psicologia aparece, então, como um dos vários exemplos
concretos da “[c]ontinuidade das estruturas sociais e mentais coloniais e escravistas, que o negro
odiava, mas não podia extinguir” (FERNANDES, 2017, p. 82). Martín-Baró (2011), importante
psicólogo salvadorenho, ao analisar a constituição da Psicologia na América Latina atesta a sua miséria
e escravidão, justamente, na sua condição colonizada e dependente, ao reproduzir acriticamente, de
maneira transplantada, sob a forma de teorias, conceitos e métodos, uma visão de ser humano e de

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mundo que, além de reificadora da ordem capitalista, reatualiza nossa subalternidade, ao corroborar
como padrão universal de humanidade o que não somos, em grande parte.
Agora paremos para pensar na condição do(a) negro(a) e do conjunto dos(as) não-brancos(as),
que “se viram condenados a serem o ​outro​, ou seja, uma réplica sem grandeza dos ‘brancos de segunda
ordem’” (FERNANDES, 2017, p. 68). Temos a intensificação de processos de negação, silenciamento
e assujeitamento que, junto das próprias condições de vida já subalternizadas, precarizadas, corrobore
com que o(a) negro(a), mesmo quando adentrando nas frestas da Psicologia ainda seja visto como
anômalo, até porque concretamente o é, e se sinta em território inimigo. Conforme Florestan atestou
para o negro “liberto”, relegado aos piores trabalhos e condições de vida, “ele se sentiu,
subjetivamente, como se ainda estivesse condenado à escravidão” (p. 39).
Soma-se a isso as múltiplas formas de se encarar o(a) negro(a), a raça e o racismo em nossa
sociedade. Partimos de uma compreensão de que o racismo é estrutural (ALMEIDA, 2018), como
contraponto a concepções individualizantes do racismo bastante presentes na sociedade e, em especial,
na Psicologia. De acordo com Almeida (2018, p. 28),
O racismo, segundo esta visão [individualizante], é concebido como uma espécie de
‘patologia’. Seria um fenômeno ético ou psicológico de caráter individual ou coletivo,
atribuído a grupos isolados; ou, ainda, a uma ‘irracionalidade’[...] a concepção
individualista pode não admitir a existência de ‘racismo’, mas somente de
‘preconceito’, a fim de ressaltar a natureza psicológica do fenômeno em detrimento de
sua natureza política.
Se o racismo é estrutural, ele não é uma patologia, um desvio, uma anormalidade, mas,
justamente, a norma: “uma decorrência da própria estrutura social, ou seja, do modo ‘normal’ com que
se constituem as relações políticas, econômicas, jurídicas e até familiares, não sendo uma patologia
social e nem um desarranjo institucional” (ALMEIDA, 2018, p. 38). Não obstante, o racismo não se
reduz a comportamentos e atitudes racistas, ao preconceito, à discriminação, por mais que estes
manifestem o racismo; até porque não existe tal cisão e dicotomia entre indivíduo e sociedade. Ou seja,
se a presença de negros(as) na Psicologia é premente, mas não suficiente, o mesmo pode ser dito sobre
a presença da “raça”, do racismo e temáticas e elementos associados nos cursos e formação, conceitos,
teorias e práticas da Psicologia.

O PROTESTO NEGRO EM MEIO ÀS CONTRADIÇÕES DA PSICOLOGIA


Tal como Florestan, para quem o protesto negro “constitui a única manifestação autêntica de
populismo, de afirmação do povo humilde como agente de sua autolibertação” (FERNANDES, 2017,
p. 31), forjando uma ​contraideologia racial,​ o protesto negro na Psicologia emana como necessidade
histórica dos negros(as) como expressão dos “de baixo”, do conjunto dos explorados e oprimidos,
como desvelador e opositor ao racismo, aliado ao classismo (da subordinação às classes dominantes),
machismo etc. hegemônicos no complexo do saber-fazer ​psi.​ Se para o autor, “o negro vem a ser a
pedra de toque da revolução democrática na sociedade brasileira” (FERNANDES, 2017, p. 41), para
nós, o(a) negro(a), vem a ser a pedra de toque da revolução democrática na Psicologia brasileira. Se a
“raça se configura como pólvora do paiol”, definindo “o padrão de democracia, em extensão e
profundidade” (p. 63), o mesmo vale à Psicologia brasileira
No bojo do protesto negro contemporâneo no Brasil, forjou-se a imperiosidade de uma
Segunda Abolição, ​desmistificando a própria farsa da primeira. No desenvolvimento da Psicologia
brasileira, cabe a ​Primeira Abolição,​ e uma abolição real, concreta, nem tragédia, nem farsa. Inúmeros
movimentos, indicam que, sim, houve tensionamento, crítica e protesto, mas atravessados pelo

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apagamento sistemático, aliado ao próprio distanciamento objetivo e subjetivo da Psicologia do(a)
negro(a), expressão do racismo estrutural que nos conforma. Dentre os exemplos passíveis de serem
pinçados de nossa história, gostaríamos de citar as seguintes produções como ilustrações: ​Atitudes
raciais de pretos e mulatos em São Paulo,​ de Virgínia Leone Bicudo (1945, republicada em 2010);
Tornar-se negro: ​As vicissitudes da Identidade do Negro Brasileiro em Ascensão Social,​ de Neusa
Santos Souza (1983); a publicação ​Eu, mulher, psicóloga e negra,​ na revista Psicologia: Ciência e
Profissão (1984); ​Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil​,
organizado por Iray Carone e Maria Aparecida Silva Bento (2002); ​Entre o encardido, o branco e o
branquíssimo: branquitude, hierarquia e poder na Cidade de São Paulo,​ de Lia Vainer Schucman
(2012), e ​Identidade, branquitude e negritude - contribuições para a psicologia social no Brasil: novos
ensaios, relatos de experiência e de pesquisa,​ organizado por Maria Aparecida Silva Bento, Marly de
Jesus Silveira e Simone Gibran Nogueira (2014). Poderíamos citar outras produções, inclusive, das(os)
autoras(es) supracitados, mas pensamos já ser suficiente.
A partir da historicização de Schucman e Martins (2017), ressaltamos também a criação e
iniciativas de instituições como o ​Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades
(CEERT), em 1990, cuja fundadora foi, inclusive, Maria Aparecida Silva Bento, o ​Instituto AMMA
Psique e Negritude,​ fundado em 1995 pelas psicólogas negras Silvia de Souza, Marilsa de Souza
Martins, Ana Maria Silva e Maria Lucia da Silva, e a Articulação Nacional de Psicólogas(os)
Negras(os) e Pesquisadoras(es) (ANPSINEP), em 2011, um dos reflexos do I Encontro Nacional de
Psicólogos(as) Negros(as) e Pesquisadores(as) sobre Relações Raciais e Subjetividade no Brasil, em
2010. No âmbito da regulação da profissão, é importante mencionar a Resolução nº 018/2002, do
Conselho Federal de Psicologia (CFP), que estabelece normas de atuação para os psicólogos em
relação ao preconceito e à discriminação racial (CFP, 2002), e, mais recentemente, a referência técnica
“Relações raciais: referências técnicas para a prática da(o) psicóloga(o)” (CFP, 2017)​6​.
Tais movimentos e atores configuram-se como pilares do protesto negro na Psicologia
brasileira e, portanto, chaves para a compreensão da sua transformação necessária. Os exemplos
quebram com leituras que negam a participação do(a) negro(a) na Psicologia, mas também dizem do
seu ​emparedamento nela; ao desvelarem que, sim, a Psicologia brasileira se debruçou sobre o racismo e
suas múltiplas mediações e determinações, sobretudo pelo movimento dos(as) negros(as), e que tal
movimento tem se intensificado, também atesta para a lacuna e apagamentos existentes ao racismo e
ao(à) negro(a) e que, a despeito da importância, ainda se tratam de esforços contra hegemônicos, a
tentativa de uma ​contraideologia racial ​na Psicologia. Dialeticamente, suas existências e afirmações
trazem consigo a negação e apagamento do(a) negro(a) e da questão racial na/pela Psicologia.
Conforme Schucman e Martins (2017, p. 181) é
através da pressão e articulação das organizações negras e de diferentes psicólogas,
mulheres negras, como Neusa Santos Souza, Edna Roland, Edna Muniz, Maria Jesus
Moura, Maria Aparecida Silva Bento, Isildinha Baptista Nogueira, entre outras, que a
temática das relações raciais e do racismo começa desde a década de 1980 até os dias
atuais a tomar corpo na produção de conhecimento dentro da área da Psicologia, nos
debates com a categoria e também na atuação dos psicólogos.
Todas essas constatações reforçam a validade da afirmação ​florestaniana q​ ue, contrariando as
teses do(a) negro(a) passivo(a), resignado(a), e, pois, que nunca emergiu na história brasileira,
defenderá que, ​se não tivesse emergido e insurgido contra a ordem, “nem ‘as revoluções institucionais’

6
Ainda lembramos que, em 2018, o CFP promoveu o seminário “Todo racismo é uma forma de violência”.

12
nem o Estado autocrático burguês seriam uma imperiosa necessidade histórica” (FERNANDES, 2010,
p. 28). O distanciamento e a negação do(a) negro(a) na/pela Psicologia não foram capazes de evitar sua
emergência e protesto nela, com os avanços provenientes.
Ainda segundo Schucman e Martins (2017), é a partir dos anos 1980, no bojo de efervescência
e luta política, que o racismo e suas implicações deixa de ser objeto de estudo somente na Psicologia,
mas entendido como estruturante de nossa sociabilidade e, portanto, atravessando e constituindo nossa
dinâmica, relações sociais, o ser e sua subjetividade e, não menos, a Psicologia. Nesse sentido, reflete
não apenas uma aproximação psi com o tema, sobretudo a Psicologia Social, como se fosse externo a
ela, mas uma reflexão sobre a sua constituição racializada como campo do saber-fazer e o compromisso
ético-político que dela emana. Nisso, “é a partir do olhar do negro para a Psicologia, e não mais da
Psicologia em relação ao negro como objeto, que a Psicologia Social brasileira passa a se comprometer
de fato com o combate ao racismo” (SCHUCMAN; MARTINS, 2017, p. 181).
Essas necessárias realizações não omitem contradições que ainda permanecem pulsantes
dentro da psicologia, conforme apresentamos nas seções anteriores. Ademais, ao mesmo tempo em que
se tem a luta antirracista introjetada no sistema de conselhos, este ainda se encontra instrumentalizado
em processos promotores de extermínio de negros e povos originários quando, se valendo do Código de
Ética Profissional, regulamenta, através da resolução CFP nº 018/2008, a atuação do psicólogo na
avaliação psicológica para concessão e porte de arma de fogo (CFP, 2008). Os dados identificam que
75,5% das vítimas das mortes violentas intencionais são pessoas negras, em sua maioria homens entre
15 e 29 anos, e que essas armas representam uma fatia de 72,4% dos assassinatos no país, o que
corresponde a 47.496 mil de um total de 65.602 mil mortes violentas intencionais/ano como ocorreu
em 2017 (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA; FÓRUM BRASILEIRO DE
SEGURANÇA PÚBLICA, 2019).
Em pesquisa realizada com psicólogas vinculadas à Polícia Civil de estado do Sudeste que
atuam com avaliação psicológica para concessão de porte de arma de fogo, 12 das 14 entrevistadas,
todas mulheres de 30 a 60 anos de idade que se identificam como empresárias, alegaram que a chance
de aumentarem a própria renda e a renda da empresa foi a motivação da escolha profissional
(RAFALSKI; ANDRADE, 2015). As entrevistadas citam que a área é uma nova oportunidade de
atuação, relatam a precariedade da formação acadêmica para o trabalho e reclamam da falta de
critérios, demandando a definição de certo “perfil psicológico” de candidatos para concessão do porte
de arma para que possam “aprimorar” suas funções. Frente tal exposição, sob a luz dos princípios
éticos que norteiam a profissão, qual seria o perfil psicológico para a Psicologia conceder-lhe o direito
de atirar e matar? Uma vez que as vítimas, essas já se conhece bem o perfil como uma constante
histórica no país.
É nestes marcos contraditórios e desafiadores que o ​protesto negro n​ a Psicologia vem se
alicerçando, refletindo o que o próprio Florestan apontou como a necessidade do “resgate da herança
cultural”, junto do “uso flexível da imaginação criadora” (FERNANDES, 2017, p. 67): o diálogo da
Psicologia com outros campos do saber-fazer, com movimentos sociais e, sobretudo, a partir da maior
penetração dos “de baixo” que trazem consigo uma longa caminhada histórica. Esse protesto diz de
uma ​práxis ​dialógica com muitas outras pessoas, realidades, para além do ensimesmamento da
Psicologia. Mais especificamente, refere-se à própria negritude como pulsão criativa, expressão vital
do(a) negro(a), em oposição à branquitude como universalização apagadora, espoliativa, plasmada ao
movimento de autovalorização do capital que, para isso, se pauta na exploração e opressão humana; ao
mesmo tempo, esse movimento convoca os(as) brancos(as) a se defrontarem com suas
responsabilidades perante um projeto de Psicologia e sociedade, de fato, antirracistas e democráticos,

13
não sendo exclusividade dos(as) negros(as). Não se pode pensar no protesto negro na Psicologia,
dissociado do geral, como ilustra o exemplo das cotas raciais, uma conquista do movimento negro, que
tem possibilitado não apenas o acesso a um maior número de negro(as) no ensino superior e na
Psicologia, mas a evidenciação do óbvio que precisa ser dito: nossa constituição racial e o seu
apagamento pelo racismo estrutural. Assim, se orienta ​da e​ ​para a​ realidade brasileira, devendo ser
compreendido nesse bojo de desenvolvimento. Entendendo que esta realidade não se reduz à
Psicologia, o seu fazimento, e nele, o do(a) negro(a), nada devem à Psicologia; é esta que deve à
realidade e ao(à) negro(a).
Ensejando responsabilizar a Psicologia, cabe a ela se racializar, afinal, assim é a realidade e os
seres que nela se fazem - e a fazem. Inclusive, tal evidenciação nos faz questionar a construção
ficcional que a Psicologia brasileira faz dos seres e realidade aos quais se volta, ao desconsiderar,
minimizar ou descaracterizar aquilo que os constitui. Sabemos que tal movimento de racialização da
Psicologia não é algo que ocorrerá naturalmente, e dizemos isso amparados na sua própria história, mas
tem sido e será reflexo da ação direta de negros(as), e brancos(as) aliados(as), enquanto movimento de
livramento da Psicologia de sua branquitude, expressão de sua miséria colonial dependente
(MARTÍN-BARÓ, 2011) e, pois, de si própria. Assim se põe a necessidade de continuação e expansão
do ​protesto negro na Psicologia.​
A partir disso, é possível tornar a Psicologia ​menos Psicologia,​ não como demérito, mas, pelo
contrário, como constatação de que se trata de um campo de saber-fazer que se ancora na
universalização do indivíduo egoísta da sociedade capitalista e do branco: é, pois, branca em sua
hegemonia, assim como conformadora do modo de produção capitalista e, em nossa particularidade
social, de um capitalismo dependente, ao reproduzir saberes e uma visão de ser humano e mundo que
são reificações do estado das coisas. Não se pretende a negação da razão, da ciência, mas a crítica e
supressão de uma ciência e razão que se ancoram em uma universalização do particular (e a
corroboram), alijando, pois, o(a) negro(a) dela ou tomando-o como mero objeto, coisa, e não ser em si;
perpetuando seu não-lugar, seu não-ser ou de um ​ser em função de outro que ele não é - e jamais será .
Novamente, não se trata de um atributo estrito da Psicologia, mas um reflexo do movimento da
totalidade social e seu desenvolvimento desigual e combinado alicerçado pela colonização da periferia
- o que também não significa desresponsabilizá-la.
O problema do(a) negro(a) na Psicologia é uma expressão particular do problema do(a)
negro(a) no capitalismo e na formação social brasileira de base colonial-escravocrata, o problema de
uma sociedade racista, de base colonial-escravocrata. Dessa forma, não é puramente cultural, moral ou
algo irracional, por mais que também seja cultural e moral. Trata-se de uma racionalidade excludente
muito bem construída como justificação, historicamente alicerçada em uma ordem que se estrutura
no/pelo racismo plasmada ao caráter intrinsecamente exploratório do capitalismo. Nessa esteira que
entendemos que a compreensão do racismo como estrutural, conforme propositura de Almeida (2018),
não só compreende a complexidade do processo, como também possibilita diálogos com a própria
conceitualização ​florestaniana ​sobre o tema.
As críticas e precauções que Florestan faz a determinados aspectos do movimento negro
valem, portanto, à Psicologia, resguardados os dimensionamentos necessários, os quais sintetizamos
nos seguintes pontos: (a) consubstancialidade entre raça, classe (e acrescentamos, etnia e gênero),
convergindo numa radicalidade anticapitalista e antirracista (e antipatriarcal); (b) as desigualdades
entre negros(as) e mulatos(as) (usando sua terminologia), em que “ambos participam dos mesmos
problemas mas em intensidades diferentes” (FERNANDES, 2017, p. 95), mas sem fragmentação entre
eles - e entre classe e raça -, sendo que “[e]stimular a segregação é fazer o jogo das classes dominantes”

14
(p. 128); (c) as contradições e limitações de perspectivas individualizantes e liberais, representando a
introjeção e continuidade de reprodução da moralidade burguesa.
Além do que já fora por nós abordado, ressaltamos que o protesto negro na Psicologia pode
aprender com o acúmulo histórico do próprio movimento negro no Brasil e suas expressões anteriores
na própria Psicologia. Melhor dizendo, o primeiro já é uma consequência e extensão do segundo.
Conforme Florestan, ao contrário “dos grandes líderes das décadas de 1930 e 1940”, o protesto negro
reatualizado nas décadas de 1970 e 1980, no seio da efervescência e oposição política à ditadura
civil-militar, se ocupou em “fundir os ‘ismos’, injetar neles afro-brasilidade, imprimindo ao movimento
negro uma radicalidade revolucionária” (FERNANDES, 2017, p. 138). Não se trata, pois, de uma
ascensão ou integração negra na Psicologia para que ela continue sendo a mesma, só que com mais
negros(as); é necessário tomá-la pelas mãos e transformá-la substancialmente.
A estes, associamos os seguintes pontos específicos à Psicologia a serem evitados: (a)
romantizações e idealizações acerca da própria Psicologia, seu papel e (in)capacidade como disciplina
particular do conhecimento e profissão; e (b) crença em uma descolonização subjetiva,
teórico-epistemológica, sem a descolonização objetiva, sem a libertação dos grilhões raciais-sociais
concretos. Assim, não se “trata” o racismo com a Psicologia, apesar de que essa pode contribuir para a
sua compreensão, abordagem e suporte para aqueles(as) que pelo racismo se fazem, são negados e
sofrem; a “cura” do racismo é a abolição das raças, a desracialização que, em nosso entendimento - a
partir de Florestan - requer também a abolição do capitalismo. Não obstante, abordar a dimensão
subjetiva do racismo não é psicologizá-lo; compreender suas encarnações singulares em corpos e
mentes não é individualizá-lo. Por fim, os “ismos” mencionados por Florestan, nas formas do
antirracismo, anticapitalismo (e antipatriarcalismo) conjugados, emanam como horizonte de
transformação da Psicologia, questionando-a sobre seu projeto ético-político contributivo a esse projeto
societário novo, e, mais, se a construção de uma nova sociedade e de um novo ser necessita da
Psicologia - ao menos como essa tem sido.
Acreditamos que é sob esses pilares que qualquer projeto de “descolonização da Psicologia”
deve se edificar. De acordo com Florestan, a “descolonização não chegou ainda tão longe e tão fundo
no Brasil para permitir e fomentar essa modalidade vigorosa e revolucionária de superação, que impõe
uma descolonização mental completa e global do intelectual negro” (FERNANDES, p. 74). Se essa é a
realidade brasileira, é pertinente hipotetizar que ela conformará a Psicologia brasileira. Isso nos impõe
um problema tático, pois, ao mesmo tempo, o etapismo, o reformismo, não nos legou tal horizonte:
A ​solução gradual não leva a nada. Ela só é efetiva para os que comandam, que podem
usar o gradualismo para aperfeiçoar as suas técnicas de dominação e para intensificar a
eficácia dos meios de que dispõem para atingir os seus fins egoístas. Ela nunca nos
levará à descolonização na esfera das relações raciais - ou se levar, isso será tão tardio
que, provavelmente, nos encontraremos com a felicidade no dia do juízo final
(FERNANDES, 2017, p. 76).
Com isso, Florestan não nega a “descolonização como processo histórico” (FERNANDES,
2010, p. 29). No entanto, é preciso desvendar “o ​quantum de descolonização que não pode ser feito
simplesmente porque se restringe ou se torna impossível uma participação popular revolucionária nas
estruturas de poder da Nação e do Estado” (p. 29).
Um dos aspectos constritores do racismo ao(à) negro(a) no Brasil, segundo Florestan, é que
“para o negro vencer, ele tem de suplantar o branco em seu próprio terreno” (FERNANDES, 2017, p.
113). A Psicologia é e tem sido terreno do branco, expressão da branquitude, assim como uma ciência e
profissão subordinada ao Capital e às classes dominantes. Por isso, questionamos: não cabe, nesse

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processo, forjar uma outra Psicologia ou, mesmo, se orientar para a sua destruição, em conjunto à
supressão da ordem que a tem como produto e produtora?

REFORMA OU REVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA?


Se a Psicologia surge como necessidade histórica no seio da reprodução ampliada do Capital e
desenvolvimento do modo de produção capitalista, sua manutenção no presente momento significa que
ela continua a ser necessária a esse sistema e seu desenvolvimento. Na particularidade histórica
brasileira, remete à gênese colonial escravocrata - subsidiando o desenvolvimento das formações
sociais capitalistas mais desenvolvidas -, cujas “sequelas da colônia e da sociedade escravista”
(FERNANDES, 2017, p. 81) ainda se fazem presentes em nosso subdesenvolvimento permanente e
profundos antagonismos sociais, raciais, de gênero etc.
Portanto, não se trata de ​reformar a Psicologia, mas de buscar sua transformação substancial,
uma revolução “por dentro” dela; a revolução na/da Psicologia. Entretanto, de acordo com Florestan, “a
revolução dentro da ordem é insuficiente para eliminar as iniquidades econômicas, educacionais,
culturais, políticas etc., que afetam os estratos negros e mestiços da população” (FERNANDES, 2017,
p. 42). Traçando um paralelo com a Psicologia, a revolução “por dentro dela própria”, por mais que
uma conquista, um avanço, é insuficiente, pois ainda está limitada pela Psicologia como campo
particular do conhecimento e profissão subordinados à ordem capitalista e ao racismo estrutural.
Ainda em consonância com Florestan, “[o] essencial não é o ‘melhorismo’, a ‘reforma
capitalista do capitalismo’. Mas, a eliminação da classe, do regime de classes e da sociedade
organizada em classes” (FERNANDES, 2017, p. 86) e raças. Sendo a Psicologia resultante dessa
sociedade que não somente é organizada em classes e raças, como se estrutura pela opressão e
exploração de uma por outra, a ela se põe uma encruzilhada, de onde há de extrair uma escolha.
Novamente, tendo a história brasileira como fiadora, a Psicologia pode se espelhar nos movimentos
abolicionistas pacíficos que, expressões do liberalismo e humanitarismo dos brancos e classes
dominantes, “queriam libertar o Brasil [o desenvolvimento capitalista brasileiro] da nódoa e do atraso
da escravidão” (p. 103), e ser “inclusiva” ao(à) negro(a), mas como forma de aumentar sua clientela,
expandir os serviços psicológicos ou, mesmo, se pautar por um caráter paternalista fetichizante sob
mistificações antirracistas. Ou ela pode se assentar e se nutrir dos movimentos abolicionistas que
vieram das senzalas, exprimindo a luta do escravo para passar à condição de gente, ser humano, e,
portanto, entender que se trata de conflito, de combate, um processo violento de ruptura, pois, almeja
suprimir a violência que a constitui e que ela corrobora.
Ao protesto negro na Psicologia, em consonância com outros movimentos e lutas, é premente
almejar a transformação radical da mesma. Evitando os perigos da capitulação e conciliação, assim
como Florestan alertou não apenas para o movimento negro, mas para o conjunto dos explorados e
oprimidos, isto é, os “de baixo”, se a Psicologia se orienta a contribuir para a construção de “uma
sociedade igualitária inclusiva, na qual nenhum racismo ou forma de opressão [e exploração] possa
substituir e florescer” (FERNANDES, 2017, p. 64), ela deve romper consigo mesma, com as suas
estruturas, de modo a não reproduzi-las, seja de maneira explícita, seja pelo ocultamento, não
corroborando com nenhuma outra forma de opressão e exploração.
Ainda de acordo com Florestan, o
“​[p]roblema do negro v​ em a ser o problema da viabilidade do Brasil como Nação. Não
haverá nação enquanto as sequelas do escravismo, que afetaram os antigos agentes do
trabalho escravo e seus descendentes ou os ditos ‘brancos pobres livres’, não forem
definitivamente superadas e absorvidas” (FERNANDES, 2017, p. 65).

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Sendo assim, o problema do(a) negro(a) (do indígena, da mulher, população LGBT+ etc.) é o
problema da Psicologia, da possibilidade de uma Psicologia democrática. Se é “a partir do negro que se
deverá tentar descobrir como ‘o Povo emerge na história’, no Brasil” (FERNANDES, 2010, p. 28), é a
partir do(a) negro(a), dos povos originários etc. que se deverá tentar descobrir como a Psicologia
emerge na história e, mais, como deveria ter emergido e como pode e deve (re)emerger. Caso essa
queira contribuir para a libertação e democracia real das maiorias populares, deve romper com seu
caráter racista, classista, patriarcal, colonizado. Isso significa assumir a perspectiva das maiorias
populares, tornando as necessidades destas como os problemas a serem enfrentados e suplantados,
teoricamente de maneira prática, subjetiva e objetivamente. Concernente à questão racial, isso implica
em se racializar, como já argumentamos, mas para contribuir com o erigir de uma sociedade
desracializada (despatriarcalizada e sem exploração de uma classe a outra), fruto dos corpos e mentes
dos sujeitos históricos revolucionários: o conjunto dos(as) explorados(as) e oprimidos(as), os
condenados e vítimas da terra e do cimento, a “gentinha”, os “de baixo”, considerando sua diversidade
na unidade, afinal, “o que define a vítima não é a intensidade do sofrimento, da humilhação ou da
anulação - é a própria condição social e histórica de exclusão” (FERNANDES, 2017, p. 70/71).
Dessa forma, acreditamos que a revolução da Psicologia brasileira não está dissociada da
revolução brasileira; que a revolução “por dentro da Psicologia” não exclui a revolução “por fora” dela
- pelo contrário, ambas se fortalecem. É nesta última, e por ela, que tais sujeitos potencialmente
revolucionários se fazem revolução em ato, rompendo com os grilhões sociais, raciais, étnicos,
patriarcais etc., em suma, as amarras exploratório-opressivos. Em conformidade com as reflexões de
Florestan sobre a reforma universitária (FERNANDES, 2020): numa terra radiosa, vive um povo alegre
em eterna servidão. A revolução da Psicologia não nos libertará dessa servidão. Mas poderá contribuir
com a evidenciação de caminhos subjetivos que permitirão conquistar a própria liberdade concreta,
condição moral para extinguir todas as formas de servidão, internas e externas, que metamorfoseiam
uma terra radiosa e um povo alegre numa realidade triste​7​.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Parafraseando Marx, sabemos que as armas da crítica ao racismo não substituem as críticas
das armas; que o racismo, sendo estrutural, tem que ser destruído, justamente, pela sua raiz. Essa
radicalidade, que diz da radicalidade do humano e de tudo que esse humano pode(ria) ser, ao ser
tolhida pelo racismo, nos orienta à necessidade de produção de uma nova sociedade, um novo ser e
novas relações. Nisso, a crítica das armas e as armas da crítica se unem e a Psicologia surge como um
possível punhal, que devemos decidir se continua a perfurar os “de baixo” ou é lançada contra a ordem
- correndo o risco ​necessário​ de se autoinfligir e findar.
Além disso, como ocorre com o próprio Marx, demonstramos que se Florestan Fernandes é
insuficiente para compreender e transformar a realidade brasileira no presente, suas reflexões sobre o
problema do(a) negro(a) n​ os mostram que ainda é fundamental, não podendo ser desconsiderado. Tal
problema é, na verdade, um problema da sociedade, do país e, em extensão, da Psicologia. No caso da
última, reforçamos a premência de que esta se desloque, saia de si, se expandindo não apenas para

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“[N]uma terra radiosa, vive um povo alegre em eterna servidão. A reforma universitária não nos libertará dessa servidão.
Mas nos poderá ensinar os caminhos intelectuais e políticos que permitirão conquistar a própria liberdade intelectual e
política, condição moral para extinguir todas as formas de servidão, internas e externas, que metamorfoseiam uma terra
radiosa e um povo alegre numa realidade triste” (FERNANDES, 2020, p. 55).

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outros campos e disciplinas do saber-fazer, mas em especial, num movimento ​da e​ ​para a​ realidade que
a conforma, caso queira, de fato, ser antirracista, anticapitalista (e antipatriarcal).
Por fim, trata-se de balancear a transformação e democratização da Psicologia face à própria
revolução do capitalismo e, nele, do capitalismo dependente brasileiro que deita suas raízes na
colonização escravocrata. Para a Psicologia, a sua transformação consiste no seu principal horizonte
interno, isto é, o norte de sua revolução, da revolução “dentro da ordem” - da Psicologia e ordem
social. Entretanto, frente ao desafio imposto por uma sociedade democrática em todos os níveis e
âmbitos, a democratização e transformação ​psi​, por mais que seja importante, não é nem de longe nossa
preocupação societária central. Entendemos que não se trata de esforços excludentes; pelo contrário,
eles se imbricam e se fortalecem. Cabe, então, à Psicologia e aos(às) psicólogos(as) se implicarem
como trabalhadores(as), negros(as), indígenas, brancos(as), homens, mulheres etc. por fora da
Psicologia em um horizonte de revolução “por fora”, “para fora” da ordem e “contra” ela. Um processo
que vise suprimir por completo nossas estruturas exploratórias e opressivas e, nisso, colocar em xeque
a própria Psicologia enquanto complexo particular do saber-fazer que nasce e se desenvolve,
justamente, sob os marcos do capitalismo e, no caso brasileiro, do capitalismo dependente, sua gênese
colonial-escravocrata e seu racismo estrutural. Nisso, concordando com Florestan, o ​protesto negro é​
bússola e pólvora.

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