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A sociedade Vinhos do Côa, Lda.

, aprovou, em assembleia-geral realizada em 10 de


Setembro de 2018, a destituição do sócio António das suas funções de gerente e a
nomeação do sócio Bernardo como gerente, tendo ambos os sócios estado presentes
na referida assembleia. Em 13 de Janeiro de 2019, a Vinhos do Côa, Lda., registou as
deliberações perante a Conservatória do Registo Comercial. António, inconformado
com aquelas deliberações e receando que Bernardo lese os interesses da Vinhos do
Côa, Lda., pretende impedir que este assuma funções como gerente. António dispõe de
algum meio para fazê-lo?

 No presente caso estamos no âmbito da matéria das providências cautelares


consagradas no art. 381º e ss CPC

 Função específica das providências cautelares consiste em prevenir os perigos


que, antes da propositura de uma acção ou durante o tempo em que esta
seencontra pendente, possam comprometer os resultados (ou seja, alcançar a
pretensão deduzida na acção), regular provisoriamente o conflito de interesses
até serlograda a composição definitiva, ou, inclusivamente, em antecipar a
realização dos efeitos jurídicos e do direito que previsivelmente poderá vir a ser
reconhecido na acção

 Nos termos do 381º/3 CPC existindo um procedimento cautelar especificado em


que se possa resolver a questão não se pode resolver a mesma com recurso ao
processo cautelar comum.

 Nos termos do art. 396º e ss CPC encontra-se regulada a suspensão de


deliberações sociais que constitui um procedimento cautelar especificado.

 A suspensão de deliberações sociais, providência dirigida às sociedades (civis,


comerciais, ainda que estás últimas esteja irregularmente constituídas, e às
associações de direito privado) é instrumental ou anciliar das acções de
declaração de invalidade (nulidade ou anulabilidade) de deliberações tomadas
pelos órgãos competentes daquelas pessoas colectivas (Assembleia Geral,
Conselho de Administração, Direcção, Conselho Fiscal) por serem contrárias às
leis, aos estatutos ou ao contrato de sociedade, independentemente do desvalor
da deliberação socialcuja suspensão seja pedida. É uma providência
antecipatória, visto que permite, de algum modo, adiantar certos efeitos
derivados da sentença que, na acção principal, declare com efeitos constitutivos
de nulidade ou anulabilidade dessa deliberação
É necessário analisar os requisitos contantes do art. 396º CPC para saber se se
encontram reunidas as condições de impugnação de uma deliberação social:

 Aprovação deuma deliberação social (‘’A sociedade Vinhos e Côa, aprovou, em


Assembleia geral (…) a destituição do sócio António das suas funções de
gerente e a nomeação do sócio Bernardo como gerente (…)’’)
o Requisito verificado
 Deliberação Social contrária à lei, aos estatutos ou ao contrato presume- se que
sim)
o Requisito verificado
 Impugnação da deliberação social está dependente de quem tenha a qualidade de
sócio (António era sócio)
o Requisito verificado
 A impugnação da deliberação social terá de ser efectuada no prazo de 10 dias,
contando-se o prazo desde o momento em que a deliberação social foi tomada
(neste caso, António teria 10 dias a contar de dia 10 de Setembro, ou seja
poderia requerer a suspensão da deliberação social até dia 20 de Setembro)
o Requisito verificado
 É necessário que a deliberação social possa causar um dano apreciável (António
deixaria de ser Gerente, passando a ser Bernardo o gerente, pelo que o primeiro
receava que o segundo lesasse os interesses da sociedade em causa)
o Requisito verificado
 A deliberação social ainda não tenha produzido efeitos jurídicos, ou seja não
pode ocorrer a consumação da lesão. Quando se diz ‘’suspende-se’’ pretende-se
que a deliberação social em causa ainda não tenha produzido qualquer efeito
jurídico. Como é que se sabe se a deliberação social já produziu ou não efeitos?
Em resposta a tal questão existem duas teorias:
o Uma parte da doutrina entende que com o registo das deliberações
perante a Conservatória do Registo Comercial a 13 de Setembro, ou seja
com o registo dos órgãos resultantes de uma deliberação social, tal torna-
se intacável, uma vez que não se pode requerer uma providência cautelar
contra a lei, apenas podendo intentar-se uma acção de anulação ou de
nulidade (a acção principal pode sempre propor-se).
o Contudo, a boa doutrina e a boa jurisprudência de jurisprudência
defendem que a deliberação social em causa é uma deliberação de
execução continuada, ou seja todos os dias aquela produz efeitos
jurídicos, podendo então neste caso a suspensão produzir efeitos

Deste modo, António poderia intentar uma providência cautelar específica de


suspensão da deliberação social.

Em Agosto de 2018, Caetano foi citado pelo Tribunal Judicial de Portimão de que fora
decretado o arresto de todos os bens imóveis de que é proprietário, no âmbito do
procedimento cautelar requerido contra si pelo seu credor Diogo. Diogo foi notificado
da citação de Caetano em 13 de Agosto de 2018.

Caetano, inconformado com a sentença que determinou o arresto porque


baseada em depoimentos de testemunhas da confiança de Diogo, pretende
que o Tribunal Judicial de Portimão ouça o depoimento de outras testemunhas,
pelo que recorreu daquela sentença. Procedeu correctamente?

 No presente caso estamos face a uma situação de arresto que consubstancia uma
providência cautelar conservatória, ou seja estas visam prevenir o efeito útil da
acção principal assegurando a permanência da situação existente à época em que
o conflito de interesses foi desencadeado ou quando se verificou a situação de
periculum in mora.

 O arresto, consagrado no art. 406º e ss CPC e no art. 601º e 619º CC, pode ser
requerido por todo aquele que se arroga na qualidade de credor do requerido,
contando que, demonstre a probabilidade da existência do seu crédito e o
fundandoou justo receio da perda da sua garantia patrimonial. Ou seja, o arresto
consiste na apreensão, por parte de um agente de execução, de bens
(penhoráveis) do devedor ou de bens que foram por este transmitidos a um
terceiro.

 Uma das características dos procedimentos cautelares é o facto de nestes poder


ser dispensada a audiência previa do requerido, ou seja a providência cautelar
pode, em casos excepcionais (art. 3º/2 CPC) ser decretada, sem que o requerido
tenha sido ouvido. O juiz só está autorizado a dispensar a audiência do requerido
quando os conceitos indeterminados ‘’risco sério’’ e ‘’fim ou eficácia da
providência’’ estiverem no caso concreto preenchidos.

 Há casos em que no dominio das providências cautelares especificadas, como é


o arresto, é praticamente imposta por lei. Nos termos do art. 408º/1 consagra-se
que não existe audiência prévio, sendo que conjugando este artigo com o art.
406º, é óbvio que se se provar que o requerido se encontra a praticar actos que
coloquem em causa uma diminuição do seu património, não faz sentido que ele
seja ouvido.

 Nestes termos o art. 408º/1 relaciona-se com o art. 385º/1 CPC que consagra um
desvio ao Princípio do Contraditório

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