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SUMÁRIO

1. Ação Civil Pública (ACP) ......................................................................................................... 4


1.1. Ação civil pública – noções gerais....................................................................................... 4
1.2. Condições da ação .............................................................................................................. 5
1.2.1. Legitimidade ad causam.................................................................................................. 5
1.2.2. Interesse processual....................................................................................................... 14
1.2.3. Possibilidade jurídica do pedido ................................................................................... 15
1.3. Elementos da ação ............................................................................................................ 16
1.3.1. Partes .............................................................................................................................. 16
1.3.2. Causa de pedir................................................................................................................ 16
1.3.3. Pedido ............................................................................................................................. 16
1.4. Competência ..................................................................................................................... 16
1.4.1. Competência originária nos tribunais de superposição .............................................. 16
1.4.2. Competência de jurisdição ............................................................................................ 17
1.4.3. Competência territorial.................................................................................................. 18
1.5. LITISCONSÓRCIO, INTERVENÇÃO DE TERCEIROS E OPOSIÇÃO ...................................... 19
1.5.1. Litisconsórcio e assistência............................................................................................ 19
1.5.2. Denunciação da lide....................................................................................................... 21
1.5.3. Chamamento ao processo ............................................................................................. 22
1.5.4. Oposição ......................................................................................................................... 22
1.6. Conexão, continência e litispendência ............................................................................ 22
1.6.1. Relação entre demandas coletivas e ações individuais ............................................... 22
1.6.2. Relação entre demandas coletivas................................................................................ 23
1.7. Inquérito civil e procedimento preparatório.................................................................... 24
1.7.1. Finalidades ..................................................................................................................... 24
1.7.2. Instauração ..................................................................................................................... 24
1.7.3. Arquivamento ................................................................................................................. 25
1.7.4. Princípio da publicidade x sigilo.................................................................................... 26
1.7.5. Princípio inquisitivo, contraditório e ampla defesa ..................................................... 26
1.7.6. Valor probatório ............................................................................................................. 26
1.8. Autocomposição................................................................................................................ 27
1.8.1. Autocomposição extrajudicial: Compromisso de Ajustamento de Conduta............... 27
1.8.2. Autocomposição judicial................................................................................................ 29
1.9. Sentenças coletivas........................................................................................................... 29
1.10. Coisa julgada coletiva ..................................................................................................... 30
1.10.1. Coisa julgada material secundum eventum litis e secundum eventum probationes.. 31
1.10.2. Transporte in utilibus da coisa julgada coletiva .......................................................... 31
2.10.3. Transporte in utilibus da coisa penal........................................................................... 32
1.10.4. Limites territoriais e subjetivos da coisa julgada........................................................ 32
1.11. Liquidação e execução de sentenças ............................................................................. 33

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1.11.1. Direitos difusos e coletivos em sentido estrito ........................................................... 33
1.11.2. Direitos individuais homogêneos ................................................................................ 33
1.12. Custas processuais e ônus da sucumbência .................................................................. 34
1.13. Prescrição ........................................................................................................................ 35

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1. Ação Civil Pública (ACP)

A ação civil pública (ACP) é um instrumento de defesa dos interesses metaindivi-


duais, ao lado da ação popular e do mandado de segurança coletivo.

A LACP (Lei da Ação Civil Pública - Lei nº 7.347/85) é fruto de intenso debate e
nasce sobre influência da doutrina italiana e das classactions dos países oriundos do sistema
de common law. Surge a partir da percepção da necessidade de desenvolver ferramentas
processuais mais adequadas para a solução de conflitos de interesses transindividuais.

Contudo, não é demais observar que muito antes da edição da LACP, o Ministério
Público já estava legitimado a ajuizar ações civis voltadas à reparação de danos ao meio
ambiente, conforme dispõe o art. 14, § 1º, da Lei n° 6.938/81 (PNMA).

A Lei da Ação Civil Pública e o Código de Defesa Consumidor contemplam as


normas processuais de caráter genérico do microssistema processual coletivo, razão pela
qual suas disposições devem ser aplicadas de forma integrada.

1.1. Ação civil pública – noções gerais

A expressão ação civil pública, em seus primórdios, não era utilizada no mesmo
sentido que é concebida no dia de hoje, ou seja, como instrumento destinado à defesa de
direitos coletivos em geral.

Antes da promulgação da LACP, ações civis públicas eram ações de natureza não
penal, ajuizadas pelo Ministério Público. Eram civis por não possuírem natureza penal, e
eram públicas por serem ajuizadas por um órgão público, o MP.

Inclusive, podemos ver claramente que o art. 3º da Lei n° 40/81, que estabelece
normas gerais para a organização dos Ministérios Públicos Estaduais, diferencia a ação civil
pública da ação penal pública. Observa-se que não só são diferentes, como são opostas.
Vejamos:

Art. 3º - São funções institucionais do Ministério Público:


I - velar pela observância da Constituição e das leis, e promover-lhes
a execução;
II - promover a ação penal pública;
III - promover a ação civil pública, nos termos da lei.

Assim, desde que ajuizadas pelo MP, ações que tinham natureza não penal, eram
denominadas ações civis públicas. Antes do advento da LACP, ações civis públicas seriam
não só as ações voltadas à defesa de interesses metaindividuais, como também a ação de

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interdição de incapaz, a actio civilis ex delicto e as ações amparadas pelo art. 14, § 1º da Lei
n° 6.938/81 (PNMA).

Com o advento da LACP, duas mudanças ocorreram: consolidação do emprego


da locução ação civil pública para designar as ações voltadas à defesa de interesses difusos
e coletivos stricto sensu; e, o termo ação civil pública deixou de ser utilizado com exclusivi-
dade para as ações ajuizadas pelo MP, pois a lei atribuiu legitimidade ativa a uma série de
entes políticos e, até mesmo, a pessoas jurídicas de direito privado, a exemplo das associa-
ções.

O objeto da ACP tem previsão nos artigos 1º, 3º e 11 da LACP. Com efeito, a ACP
tem por objeto a tutela preventiva (inibitória ou de remoção do ilícito) ou ressarcitória (mo-
ral ou material) dos seguintes bens ou direitos metaindividuais:

a) Meio-ambiente (natural, artificial, cultural e do trabalho);


b) Consumidor;
c) Bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e pai-
sagístico;
d) Ordem econômica;
e) Ordem urbanística;
a) Honra e dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos (novida-
de da Lei n. 12.966/2014);
f) Qualquer outro interesse ou direito metaindividual (difusos, cole-
tivos ou individuais homogêneos).

Conforme lições de João Paulo Lordelo, a ação civil pública não pode ter por ob-
jeto ato jurisdicional, por este já possuir meios próprios de impugnação. A ACP não pode fa-
zer as vezes de ADI (controle concentrado), embora a inconstitucionalidade de determinado
ato normativo possa ser questão prejudicial. Cabe apenas como meio de controle difuso. E,
por fim, é perfeitamente admissível o manejo de ACP para o fim de responsabilizar alguém
por danos morais causados a quaisquer valores transindividuais de que cuida a lei.

1.2. Condições da ação

1.2.1. Legitimidade ad causam

1.2.1.1. Legitimidade ativa

Consoante o disposto no artigo 5º da LACP, tem legitimidade para propor ação


civil pública:

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I - o Ministério Público;
II - a Defensoria Pública;
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de econo-
mia mista
V - a associação que, concomitantemente:     
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;     
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patri-
mônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem
econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étni-
cos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turís-
tico e paisagístico.

Conclui-se, portanto, que o nosso sistema é misto ou pluralista, pois tanto os en-
tes públicos quanto os entes privados estão legitimados a agir na defesa de interesses cole-
tivos em sentido amplo.

Além disso, trata-se de legitimidade concorrente, porque não foi deferida exclu-
sivamente a determinado ente, e disjuntiva, pois a formação de litisconsórcio entre os legi-
timados é meramente facultativa.

1.2.1.1.1. Natureza jurídica

De modo geral, entende-se que a legitimidade para a defesa de direitos difusos,


coletivos ou individuais homogêneos é extraordinária, na forma de substituição processual,
ressalvadas as associações que, segundo o STF, a partir da interpretação do artigo 5º, inciso
XXI, da Constituição Federal de 1988, atuam como representantes processuais de seus filia-
dos (RE 193503).

No tocante ao ajuizamento de ações coletivas para a defesa de interesses difusos


e coletivos em sentido estrito, parcela da doutrina entende que se trata de legitimação ordi-
nária, porquanto os legitimados também são titulares do direito discutido em juízo.

Ainda, há quem entenda tratar-se de legitimação autônoma para a condução do


processo, tendo em vista que a legitimidade extraordinária pressupõe substituído certo, o
que não ocorre nas ações coletivas em que os titulares do direito são indetermináveis.

ATENÇÃO: Ações pseudocoletivas: embora propostas por um único legitimado extraor-


dinário, na verdade são pleiteados, específica e concretamente, direitos individuais de
inúmeros substituídos, caracterizando uma pluralidade de pretensões equiparável ao li-
tisconsórcio multitudinário.

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1.2.1.1.2. Ministério Público

Apesar de prescindível a comprovação de pertinência temática, é mister verificar,


em cada caso, se a defesa dos interesses discutidos na demanda é compatível com o perfil
constitucional do órgão ministerial. Nesse contexto, o Ministério Público tem legitimidade
para defender qualquer interesse difuso, pois inegável a sua relevância social.

Por outro lado, no tocante aos direitos coletivos em sentido estrito e individuais
homogêneos, a atuação do parquet está adstrita aos interesses indisponíveis ou afetos à
coletividade. A relevância social pode ser objetiva (decorrente da própria natureza dos va-
lores e bens em questão, tal como a dignidade humana, a saúde, a educação, etc.) ou subje-
tiva (em razão da qualidade especial dos titulares – um grupo de idosos ou de crianças por
exemplo).

Embora a atuação do Ministério Público não esteja vinculada à respectiva Justi-


ça, na prática, os Ministérios Públicos Estaduais têm restringido a sua atuação às Justiças
Estaduais, ao passo que o Ministério Público Federal tem se limitado a atuar na seara fede-
ral, nas hipóteses previstas no artigo 109 da Constituição Federal.

Todavia, deve-se ressaltar que a LACP, no art. 5º, § 5º, admite o litisconsórcio fa-
cultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa
dos interesses e direitos de que cuida a referida lei. O Plenário do STF1, inclusive, já se ma-
nifestou pela possibilidade de litisconsórcio e o STJ2, ratificando tal entendimento, afirmou
que é possível a atuação conjunta de MPF e MPE desde que alguma razão específica justifi-
que a presença de ambos na lide (Este assunto será visto mais detalhadamente em tópico
posterior).

2.2.1.1.3. Defensoria Pública

O artigo 5º, inciso II, com redação dada pela Lei 11.448/07, arrola expressamente
a Defensoria Pública entre os entes legitimados à propositura de ações coletivas.

Mesmo antes da edição da referida lei, a doutrina majoritária e o STJ3 já enten-


diam pela legitimidade da Defensoria, com base no artigo 82, II, do CDC. O raciocínio era
mais ou menos o seguinte: se o referido dispositivo autoriza a propositura de ação coletiva
pela União, Estados, Municípios e Distrito Federal, por consectário natural, está autorizando
também a Defensoria Pública da União e a Defensoria dos Estados e do Distrito Federal, afi-

1 ACO 1.020/SP, Rel. Min. Carmen Lúcia, julgado em 08/10/2008


2 STJ. 3ª Turma. REsp 1.254.428-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 2/6/2016
3 REsp 555.111-RJ, Rel. Min. Castro Filho, julgado em 05/09/2006

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nal tais instituições compõe a respectiva Administração Direta. Logo, a Lei 11.448/07 só teria
reforçado a legitimidade do órgão defensorial.

A CONAMP (Associação Nacional dos Membros do Ministério Público) se insurgiu


por meio da ação direta de inconstitucionalidade 3943, argumentando que a legitimidade
da Defensoria afetava diretamente as atribuições do Ministério Público, além de não se com-
patibilizar com a função institucional. O STF, todavia, não concordou com a tese ministerial
e privilegiou o acesso à justiça, conferindo ao termo necessitado uma “definição segundo
princípios hermenêuticos garantidores da força normativa da Constituição e da máxima efe-
tividade das normas constitucionais”.

A legitimidade também encontra fundamento na Lei Complementar 80/94, nota-


damente após as alterações promovidas pela Lei Complementar 132/09:

Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre ou-


tras:
[...]
VII – promover ação civil pública e todas as espécies de ações capa-
zes de propiciar a adequada tutela dos direitos difusos, coletivos ou
individuais homogêneos quando o resultado da demanda puder be-
neficiar grupo de pessoas hipossuficientes; (Redação dada pela Lei
Complementar nº 132, de 2009).
VIII – exercer a defesa dos direitos e interesses individuais, difusos,
coletivos e individuais homogêneos e dos direitos do consumidor, na
forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal; (Redação
dada pela Lei Complementar nº 132, de 2009).
[...]
X – promover a mais ampla defesa dos direitos fundamentais dos ne-
cessitados, abrangendo seus direitos individuais, coletivos, sociais,
econômicos, culturais e ambientais, sendo admissíveis todas as es-
pécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela;
(Redação dada pela Lei Complementar nº 132, de 2009).
XI – exercer a defesa dos interesses individuais e coletivos da crian-
ça e do adolescente, do idoso, da pessoa portadora de necessidades
especiais, da mulher vítima de violência doméstica e familiar e de
outros grupos sociais vulneráveis que mereçam proteção especial
do Estado; (Redação dada pela Lei Complementar nº 132, de 2009).

A Constituição também sustenta a legitimidade da Defensoria, principalmente


após a Emenda Constitucional 80/2014, que trouxe, de forma expressa, que à Defensoria
incumbe a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extra-

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judicial, dos direitos individuais e coletivos dos necessitados. Nos termos do artigo 134 da
Constituição Federal:

Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à


função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e
instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orienta-
ção jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos
os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos,
de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do  inciso
LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal.

Ante sua função institucional, é mister que a Defensoria atue em prol dos neces-
sitados, mas nada impede que, em virtude da natureza difusa do direito tutelado, a coletivi-
dade substituída também seja composta por pessoas não necessitadas. Assim, consoante o
entendimento dos Tribunais Superiores, a Defensoria Pública detém legitimidade para pro-
por ação civil pública em defesa de qualquer interesse difuso e, em relação aos interesses
coletivos em sentido estrito e individuais homogêneos, quando o grupo de lesados incluir
titulares necessitados, ainda que nem todos ostentem tal condição (STF, ADI 3943).

1.2.1.1.4. Entes da Administração Direta

Apesar de prescindível a comprovação de pertinência temática, há que se verifi-


car, em cada caso concreto, se existe conexão entre as competências, os serviços, as ativida-
des ou o patrimônio do ente, e a causa de pedir e o pedido formulados na ação. A doutrina
interpreta essa vinculação como interesse processual (interesse de agir).

Nessa esteira, o STJ entende que o Município tem legitimidade ad causam para
ajuizar ação civil pública em defesa de direitos consumeristas questionando a cobrança de
tarifas bancárias. Para a Corte Cidadã, a legitimação dos entes políticos para a defesa de
interesses metaindividuais é justificada pela qualidade de sua estrutura, capaz de conferir
maior probabilidade de êxito na implementação da tutela coletiva.

1.2.1.1.5. Entes da Administração Indireta

Ao contrário dos entes da Administração direta, a legitimação das autarquias,


fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista está condicionada à com-
provação de pertinência temática. Apesar de a lei exigir tal requisito apenas em relação às
associações, a atuação dos entes da Administração indireta está adstrita às finalidades para
as quais foram criadas, por força do princípio da especialidade. Portanto, a propositura de
ação civil pública pressupõe adequação entre o objeto da demanda e as funções institucio-
nais da entidade autora.

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1.2.1.1.6. Fundações privadas

A LACP cita o vocábulo “fundação” no inciso pertinente a outros entes da Admi-


nistração Indireta, mas não se refere expressamente às fundações públicas ou privadas. Por
essa razão, o STJ já se manifestou pela legitimidade de fundação privada para a propositura
de ação civil pública (AR 497).

1.2.1.1.7. Ordem dos Advogados do Brasil

A Ordem dos Advogados do Brasil não figura como legitimada à propositura de


ação civil pública no rol da Lei 7347/85. Porém, o Estatuto da OAB confere ao Conselho Fe-
deral e aos respectivos Conselhos Seccionais a prerrogativa de ajuizar ações coletivas desti-
nadas à defesa dos interesses que lhes são afetos (artigos 54, inciso XIV, e 57 da Lei 8906/94).

Na qualidade de entidade de classe, a OAB detém legitimidade para defender, via


ação civil pública, os interesses coletivos em sentido estrito e individuais homogêneos dos
advogados a ela filiados. Quanto aos interesses difusos, apesar da divergência doutrinária e
jurisprudencial, prevalece o entendimento pela legitimidade da Ordem, quando o grupo de
lesados incluir titulares advogados, ainda que nem todos ostentem tal condição.

1.2.1.1.8. Entes despersonalizados

O CDC, em seu artigo 82, inciso III outorgou às entidades e órgãos da Administra-
ção Direta ou Indireta, ainda que sem personalidade jurídica, a legitimidade para propor
ações coletivas.

Tendo em vista a reciprocidade existente entre as normas da LACP e do CDC, não


apenas os entes administrativos despersonalizados de defesa dos consumidores, mas tam-
bém os voltados à defesa de outros interesses transindividuais, têm legitimidade para a
propositura de ação civil pública, desde que comprovada a pertinência temática.

1.2.1.1.9. Associações civis

No gênero associação civil encontram-se não apenas as associações tradicionais,


mas também as entidades de classe e as confederações (associação de associações).

A legitimidade das associações está condicionada à sua representatividade ade-


quada que decorre do preenchimento dos seguintes requisitos: a) constituição formal; b)
pré-constituição pelo prazo de um ano e; c) pertinência temática (artigo 5º, V, b da LACP).

A segunda exigência pode ser excepcionada, consoante o art. 5º, § 4° da LACP, que
dispõe que o requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz quando houver

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manifesto interesse social, evidenciado pela dimensão ou característica do dano ou pela
relevância do bem jurídico a ser protegido. Um exemplo em que se verificou essa flexibiliza-
ção do requisito temporal foi o REsp 1600172-GO, julgado pelo STJ em 2016, acerca de ação
civil pública que tratava da prestação de informações ao consumidor sobre a existência de
glúten em alimentos.

O último requisito citado é a pertinência temática. Sobre ele existem algumas de-
cisões no âmbito dos Tribunais Superiores. Em julgado de 2017, por exemplo, o STJ enten-
deu que uma associação que tenha fins específicos de proteção ao consumidor não possui
legitimidade para o ajuizamento de ação civil pública com a finalidade de tutelar interesses
coletivos de beneficiários do seguro DPVAT, afinal não se trataria de relação consumerista,
tampouco de relação jurídica contratual, sendo o DPVAT um seguro obrigatório por força de
lei, que tem por objetivo mitigar os danos advindos da circulação de veículos automotores
(STJ. 2ª Seção. REsp 1.091.756-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Belliz-
ze, julgado em 13/12/2017).

Deve-se registrar que o STJ tem reconhecido a legitimidade da associação para


propositura de ação civil pública, ainda que não prevista em seu estatuto, ipsis literis, a fi-
nalidade de defesa de determinado direito transindividual. Um exemplo foi o REsp 31150/
SP, em que se decidiu que tanto uma associação de bairro que tem entre suas finalidades
o “bem-estar coletivo”, quanto uma associação destinada à proteção específica do meio
ambiente, podem ajuizar ação civil pública na defesa do meio ambiente. O argumento foi
o seguinte: a cláusula que tutela o bem-estar coletivo engloba a qualidade de vida das pes-
soas, e esta, por sua vez, só pode ser preservada enquanto favorecida pelo meio ambiente.

No tocante à natureza jurídica da legitimidade das associações, a jurisprudência


do STF e do STJ aborda a situação de duas formas distintas, o que irá definir casos em que
se faz necessária autorização específica dos associados para ajuizar ação coletiva (natureza
de representação processual) e casos em que essa autorização é desnecessária (natureza de
substituição processual).

Ação coletiva de rito ordinário Ação civil pública (ação coletiva


proposta pela associação na proposta na defesa de direitos
defesa dos interesses de seus difusos, coletivos ou individuais
associados homogêneos)
Autorização
específica dos
associados NECESSÁRIA DESNECESSÁRIA
para ajuizar a
ação

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Natureza
REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL
jurídica
As associações possuem legitimi-
dade para defesa dos direitos e dos
interesses coletivos ou individuais
homogêneos, independentemen-
te de autorização expressa dos
associados. STJ. 2ª Turma. REsp
1796185/RS, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 28/03/2019.
Por se tratar do regime de substi-
O disposto no artigo 5º, inciso XXI, tuição processual, a autorização
da Carta da República encerra repre- para a defesa do interesse coletivo
sentação específica, não alcançan- em sentido amplo é estabelecida
do previsão genérica do estatuto da na definição dos objetivos institu-
associação a revelar a defesa dos in- cionais, no próprio ato de criação
teresses dos associados. As balizas da associação, sendo desnecessá-
subjetivas do título judicial, formali- ria nova autorização ou delibera-
zado em ação proposta por associa- ção assemblear.
Precedentes ção, é definida pela representação As teses de repercussão geral re-
no processo de conhecimento, pre- sultadas do julgamento do RE
sente a autorização expressa dos 612.043/PR e do RE 573.232/SC
associados e a lista destes juntada à tem seu alcance expressamen-
inicial. STF. Plenário. RE 573232/SC, te restringido às ações coletivas
rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, de rito ordinário, as quais tratam
red. p/ o acórdão Min. Marco Auré- de interesses meramente indivi-
lio, julgado em 14/5/2014 (repercus- duais, sem índole coletiva, pois,
são geral) (Info 746). nessas situações, o autor se limi-
ta a representar os titulares do
direito controvertido, atuando na
defesa de interesses alheios e em
nome alheio. STJ. 3ª Turma. REsp
1649087/RS, Rel. Min. Nancy Andri-
ghi, julgado em 02/10/2018. STJ.
3ª Turma. AgInt no REsp 1719820/
MG, Rel. Min. Marco Aurélio Belliz-
ze, julgado em 15/04/2019.

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1.2.1.1.10. Partidos políticos

Prevalece o entendimento no sentido de que os partidos políticos constituem es-


pécie do gênero associação e, como tal, detém legitimidade para a propositura de ação civil
pública, dispensada, contudo, a comprovação de pertinência temática, dada a sua abran-
gência programática.

1.2.1.1.11. Sindicatos

A legitimidade dos sindicatos para a defesa dos interesses coletivos e individuais


da categoria decorre do artigo 8º, inciso III da Constituição Federal. Não obstante, as entida-
des sindicais têm personalidade associativa e, como tal, sua legitimação para a propositura
de ação civil pública também tem assento na Lei 7347/85.

Outrossim, a legitimidade dos sindicatos não está adstrita à defesa dos seus filia-
dos, mas abrange os integrantes de toda a categoria representada. Além disso, a entidade
sindical atua em juízo na qualidade de substituto processual, de sorte que, consoante o
entendimento do STF, a propositura da demanda independe de autorização específica dos
substituídos (RE 193503).

1.2.1.1.12. Legitimidade ativa subsidiária

Denomina-se legitimidade ativa subsidiária a hipótese prevista no artigo 5º, § 3º,


da LACP, de forma que, em caso de desistência infundada ou abandono da ação pela as-
sociação autora, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa. É
subsidiária porque quem assume o polo ativo o faz em substituição ao autor original.

Se o magistrado discordar da recusa do membro do Ministério Público em assu-


mir a titularidade da ação, deverá, em analogia ao disposto no artigo 9º da LACP, remeter os
autos ao Conselho Superior. Por outro lado, qualquer outro legitimado, inclusive o Ministé-
rio Público, pode desistir da demanda coletiva, comprovado justo motivo para tanto.

Destaca-se que, em 2019, a 3ª Turma do STJ interpretou o art. 5º, § 3º, da LACP no
sentido de permitir que a associação que ingressou com a ACP fosse substituída por outra
associação similar no polo ativo da demanda. Conforme o STJ:

O microssistema de defesa dos interesses coletivos privilegia o apro-


veitamento do processo coletivo, possibilitando a sucessão da par-
te autora pelo Ministério Público ou por algum outro colegitimado,
mormente em decorrência da importância dos interesses envolvidos
em demandas coletivas. STJ. 3ª Turma. EDcl no REsp 1405697/MG,
Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/09/2019.

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1.2.1.2. Legitimidade passiva

Qualquer pessoa física ou jurídica, responsável pelo dano, efetivo ou potencial, a


direitos coletivos em sentido amplo, pode figurar como réu em ação civil pública, inclusive
entes sem personalidade jurídica, quando dotados de personalidade judiciária.

1.2.1.2.1. Legitimação extraordinária passiva

A princípio, todos os entes legitimados à propositura de ação civil pública pode-


riam figurar como réus em demandas da mesma espécie. Todavia, a denominada ação co-
letiva passiva é objeto de controvérsia doutrinária, destacando-se duas correntes, a saber:

a) Favorável: o artigo 5º, § 2º, da LACP faculta aos legitimados habilitarem-se


como litisconsortes de “qualquer das partes”, inclusive do réu. Mister, porém, neste caso,
que o juiz analise a representatividade adequada do réu, tal como ocorre no modelo das
classactions norte-americanas.

b) Desfavorável: a substituição processual é instituto excepcional e as normas


que regem a ação coletiva autorizam a legitimação extraordinária somente no polo ativo.
Entendimento em sentido contrário é incompatível com o regime da coisa julgada coletiva,
bem como viola os postulados constitucionais do contraditório, da ampla defesa e do devi-
do processo legal. Ressalvam-se, apenas, as hipóteses de embargos à execução, embargos
de terceiro, ação rescisória e ação anulatória de compromisso de ajustamento de conduta.

ATENÇÃO: de acordo com a última corrente não é cabível reconvenção em sede de ação
civil pública, pois a substituição somente é admitida no polo ativo, ao passo que a re-
convenção pressupõe que o autor-reconvindo esteja legalmente autorizado à defesa em
nome próprio de interesses alheios no polo passivo.

1.2.2. Interesse processual

Considerando o binômio necessidade-adequação, a reparação do dano ou a ado-


ção de medidas destinadas e evitá-lo, afasta a necessidade de provimento jurisdicional para
satisfazer a pretensão e, portanto, o interesse processual.

ATENÇÃO: Falta ao autor interesse processual para a propositura de ação civil pública
destinada a impugnar atos jurisdicionais típicos. Isso porque os pronunciamentos ju-
diciais dessa natureza podem ser impugnados pela via recursal própria, ou através das
ações autônomas de impugnação, tais como o mandado de segurança e a ação rescisória.

14 14
Todavia, os atos expedidos pelo Poder Judiciário no exercício de função admi-
nistrativa, por sua vez, são atos judiciais atípicos e, nessa qualidade, podem ser objeto de
ação popular, desde que presentes os demais pressupostos caracterizadores do interesse
processual.

1.2.3. Possibilidade jurídica do pedido

1.2.3.1. Controle de constitucionalidade

A arguição de inconstitucionalidade no bojo de uma ação civil pública somente é


admissível em caráter incidental, ou seja, como causa de pedir, sob pena de usurpação da
competência do STF, tendo em vista os efeitos erga omnes da coisa julgada coletiva.

1.2.3.2. Questões tributárias, contribuições previdenciárias, FGTS e outros fundos

Dispõe o artigo 1º, parágrafo único da LACP:

Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que en-
volvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucio-
nal cujos beneficiários podem ser individualmente determinados.

Sem embargo o STF reconheceu que o Ministério Público tem legitimidade para
propor ação civil pública visando à anulação de benefícios fiscais em defesa dos interesses
de todos os cidadãos, no tocante à integridade do erário e à higidez do processo de arreca-
dação tributária, valores de natureza metaindividual (RE 576155). Ademais, a vedação legal
não abrange tarifas ou preços públicos, pois não possuem natureza tributária e envolvem
relações de consumo.

Ademais, em recente julgado, a Corte Suprema decidiu que o Ministério Público tem
legitimidade para a propositura de ação civil pública em defesa de direitos sociais relacio-
nados ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). STF. Plenário. RE 643978/SE, Rel.
Min. Alexandre de Moraes, julgado em 9/10/2019 (repercussão geral – Tema 850) (Info 955).

Nesse julgado o STF realizou uma interpretação conforme a Constituição Federal do


parágrafo único do art. 1º da Lei 7.347/85. Conforme a Corte, este dispositivo tem o objetivo
apenas de não vulgarizar o manejo de ação coletiva, evitando demandas com propósitos de
simples saques ou movimentação das contas. Contudo, entendeu o STF que o caso tratado
pelo Ministério Público era de elevada amplitude e relevância, envolvendo interesses so-
ciais qualificados, ainda que sua natureza seja de direitos individuais homogêneos.

15 15
1.3. Elementos da ação

1.3.1. Partes

A questão sobre quem pode ser parte em uma ação civil pública foi tratada no
item sobre legitimidade ad causam.

1.3.2. Causa de pedir

Na ação civil pública, não é preciso descrever a situação fático-jurídica peculiar a


cada um dos interessados, pois o que caracteriza os interesses coletivos em sentido amplo
são as circunstâncias comuns a todos os titulares.

1.3.3. Pedido

1.3.3.1. Objeto imediato

Por força do princípio da máxima amplitude do processo coletivo, para a defesa


de interesses transindividuais são cabíveis todas as espécies de ações (conhecimento ou
execução), procedimentos, provimentos (declaratório, condenatório, constitutivo ou man-
damental), e tutelas provisórias (cautelares, antecipadas ou de evidência).

1.3.3.2. Objeto mediato

Qualquer bem que pode ser objeto de interesses coletivos em sentido amplo,
pode ser objeto mediato do pedido formulado em sede de ação civil pública.

Para fins de determinação do pedido mediato, deve-se considerar o bem da vida


particularizado na petição inicial e não a mera identidade de gênero. Especificamente nas
ações coletivas que versem sobre interesses individuais homogêneos, o pedido e, conse-
quentemente, eventual sentença condenatória serão sempre genéricos (artigo 95 do CDC).

1.4. Competência

1.4.1. Competência originária nos tribunais de superposição

A regra geral é que a ação coletiva se inicia em primeira instância. Isso inclui tam-
bém as ações de improbidade. Todavia, existem exceções constitucionais.

A Constituição não prevê, expressamente, nenhuma hipótese que autorize o STJ


a processar e julgar, originariamente, ações civis públicas. Já o STF será originariamente
competente para tanto nas seguintes hipóteses:

16 16
a) litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado,
o Distrito Federal ou o Território (artigo 102, I, e da CF);

b) causas e conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou


entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta (artigo 102,
I, f da CF);

c) ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente


interessados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam
impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados (artigo 102, I, n da CF) e;

d) ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do


Ministério Público (artigo 102, I, r da CF);

De outro lado, não existe foro por prerrogativa de função nas ações civis públicas.
Até houve uma tentativa legislativa de se criar foro por prerrogativa de função na impro-
bidade administrativa (Lei 10.628/02, que alterou a redação do art. 84 do CPP), mas o STF
rechaçou veementemente a inovação legal e na ADI 2797 declarou a inconstitucionalidade
da lei.

1.4.2. Competência de jurisdição

1.4.2.1. A presença do Ministério Público Federal e a questão da competência

A simples presença do Ministério Público Federal no polo ativo tem o condão de


atribuir a competência à Justiça Federal? A esse respeito, destacam-se dois entendimentos,
a saber:

a) O MPF é um órgão da União, de forma que, figurando como parte na relação


processual, caberá à Justiça Federal apreciar a demanda;

b) A presença do MPF no polo ativo não é suficiente para fixar a competência da


Justiça Federal, pois, por força dos princípios da unidade e indivisibilidade, a atuação dos
diversos ramos do Ministério Público não está vinculada à respectiva Justiça.

Márcio André Lopes Cavalcante aponta a existência de julgados sobre o tema: um


do STF, proferido em 2016, e outro do STJ, de 2017. Senão, vejamos:

STF. Plenário. RE 669952 AgR-ED, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em


09/11/2016: As ações propostas pelo MPF deverão ser ajuizadas na
Justiça Federal. Isso porque o MPF é órgão da União, o que atrai a
competência do art. 109, I, da CF/88. Assim a competência será de-

17 17
terminada, em um primeiro momento, pela parte processual. Num
segundo momento, contudo, o Juiz Federal irá averiguar se o MPF é
parte legítima. Se o MPF for parte legítima, perpetua-se a competên-
cia na Justiça Federal. Por outro lado, se for parte ilegítima, deverá
determinar o deslocamento da competência para a Justiça Estadual.
Desse modo a circunstância de o Ministério Público Federal figurar
como parte na lide não é suficiente para determinar a perpetuação
da competência da Justiça Federal para o julgamento da ação.

STJ. 1ª Seção. AgInt no CC 151506/MS, Rel. Min. Assusete Magalhães,


julgado em 27/09/2017: Em ação proposta pelo Ministério Público
Federal, órgão da União, somente a Justiça Federal está constitucio-
nalmente habilitada a proferir sentença que vincule tal órgão, ainda
que seja sentença negando a sua legitimação ativa.

1.4.3. Competência territorial

Conjugando as regras previstas no artigo 2º da LACP e 93 do CDC, bem como


disposições específicas da legislação especial, temos:

EXTENSÃO DO DANO COMPETÊNCIA


LOCAL (um único ou poucos foros, ainda
Qualquer dos foros atingidos
que em dois Estados vizinhos)
REGIONAL (muitos foros de um único
Estado, sem abranger todo o território Foro da capital do Estado
Estadual)
REGIONAL (vários Estados, e,
Foros das capitais dos Estados atingidos e
eventualmente, o Distrito Federal, sem
foro do Distrito Federal (se atingido)
abranger todo o território nacional)
Foros das capitais de quaisquer dos
NACIONAL (todo o território nacional)
Estados atingidos e foro do Distrito Federal
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO Local da ação ou omissão (artigo 209 do
ADOLESCENTE ECA)
Foro do domicílio do idoso (artigo 80 do
ESTATUTO DO IDOSO
Estatuto do Idoso)

Trata-se de competência determinada pelo local do dano, mas qualificada pela


LACP como funcional. Portanto, a competência estabelecida nas regras citadas é absoluta e
insuscetível de prorrogação por causas voluntárias (não oposição de exceção de incompe-
tência, eleição de foro), mas prorrogável por causas legais (conexão e continência).

18 18
No tocante à continência, importante observar o enunciado da Súmula 489 do
STJ, de sorte que, verificada a identidade parcial, devem ser reunidas na Justiça Federal as
ações civis públicas propostas nesta e na Justiça Estadual.

1.4.3.1. Juizados Especiais Cíveis Federais

O artigo 3º, § 1º, inciso I da Lei 10.259/01 excluiu expressamente da competência


dos Juizados Especiais Federais as demandas sobre interesses difusos, coletivos em sentido
estrito e individuais homogêneos. Ressalte-se que, tal vedação diz respeito às ações coleti-
vas e não às demandas individuais acerca destes direitos.

1.4.3.2. Juizados Especiais Cíveis Estaduais

Apesar da inexistência de vedação legal expressa, os Juizados se destinam às


causas cíveis de menor complexidade, cujo valor não seja superior a 40 (quarenta) salá-
rios-mínimos. Além disso, não podem figurar como parte no procedimento sumaríssimo as
pessoas jurídicas de direito público.

Por tais razões, o Fórum Nacional de Juizados Especiais realizado em 2009, edi-
tou o Enunciado 32, com a seguinte redação:

Não são admissíveis as ações coletivas nos Juizados Especiais Cíveis.

No tocante aos Juizados Especiais da Fazenda Pública, por força de disposição


legal expressa, não se admite a veiculação, nesses juízos, de demandas sobre interesses
difusos e coletivos (artigo 2º, § 1º, I da Lei 12153/09).

1.5. LITISCONSÓRCIO, INTERVENÇÃO DE TERCEIROS E OPOSIÇÃO

1.5.1. Litisconsórcio e assistência

1.5.1.1. Litisconsórcio ativo de colegitimados

A legitimidade para a propositura de ação civil pública é disjuntiva, mas nada


impede que dois ou mais colegitimados ajuízem a demanda em conjunto. Trata-se de litis-
consórcio facultativo e unitário.

Consoante o disposto no artigo 5º, § 2º da LACP:

Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos


termos deste artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das par-
tes.

19 19
Parte da doutrina entende que o nosso sistema processual não admite a forma-
ção de litisconsórcio ulterior facultativo, salvo no caso de litisconsórcio necessário. Sob tal
premissa, a hipótese prevista no dispositivo acima reproduzido, por contemplar interven-
ção facultativa no processo, não seria de litisconsórcio, mas de assistência litisconsorcial.

Outros, embora admitam o litisconsórcio facultativo ulterior, distinguem-no da


assistência litisconsorcial, sustentando que, naquele, o interveniente tem legitimidade para
ajuizar ação com o mesmo objeto litigioso da proposta pelo assistido; ao contrário, na assis-
tência litisconsorcial, apesar de possuir relação jurídica com a parte contrária, o assistente
não tem legitimidade para propor ação com objeto litigioso idêntico ao do assistido. Logo,
sob tal ponto de vista, o dispositivo legal citado representa hipótese de litisconsórcio.

1.5.1.2. Litisconsórcio ativo entre Ministérios Públicos

A formação de litisconsórcio facultativo entre membros do Ministério Público de


diferentes ramos decorre de disposição legal expressa. Nesse sentido dispõe o artigo 5º, §
5º da Lei 7347/85:

Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos


da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses
e direitos de que cuida esta lei.

Porém, a validade do aludido dispositivo legal é controvertida na doutrina. Con-


tra tal possibilidade, argumenta-se que o Ministério Público é uma instituição una e indivi-
sível e que a atuação de cada ramo está vinculada à respectiva Justiça. Em sentido oposto,
alega-se que o princípio da unidade se verifica dentro de cada um dos ramos da instituição,
bem como que a sua atuação não está vinculada à respectiva Justiça.

Os Tribunais Superiores, por sua vez, admitem a atuação conjunta de membros


pertencentes a ramos diversos da instituição, tendo em vista o princípio da unidade. Ressal-
te-se, todavia, que, consoante o entendimento do STJ, a complexidade da causa, por si só,
não justifica a formação de litisconsórcio ativo entre membros do Ministério Público Esta-
dual e Federal, que pressupõe a comprovação de alguma razão específica para tanto.

Isso porque, a formação desnecessária do litisconsórcio poderá, ao final, com-


prometer as finalidades do instituto (economia processual e efetividade da jurisdição), re-
sultando, por exemplo, em procrastinação do feito pela necessidade de intimação pessoal
de cada membro do órgão ministerial, que dispõe de prazo específico para manifestação
(REsp 1254428).

20 20
1.5.1.3. Litisconsórcio, assistência simples e litisconsorcial de não colegitimados

Não há impedimento à assistência simples de não colegitimados no polo ativo ou


passivo. Igualmente, é possível o litisconsórcio e a assistência litisconsorcial no polo passi-
vo. A controvérsia, portanto, reside no polo ativo. Vejamos:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA LITISCONSÓRCIO E ASSISTÊNCIA LITISCONSORCIAL DE NÃO


PARA A DEFESA DE: COLEGITIMADOS NO POLO ATIVO
Regra: impossíveis, pois: 1) a lei só admite litisconsórcio no caso
de colegitimados ou de interesses individuais homogêneos; 2)
haveria risco de tumulto processual, pelo grande afluxo de no-
Interesses difusos vos sujeitos processuais.
Exceção doutrinária: possível o litisconsórcio somente ao cida-
dão, nos casos em que também lhe for possível ajuizar ação po-
pular com idêntico objeto ou conexa.
Impossíveis, pois: 1) a lei só admite litisconsórcio no caso de
colegitimados ou de interesses individuais homogêneos; 2) ha-
veria risco de tumulto processual, pelo grande afluxo de novos
Interesses coletivos
sujeitos processuais.
em sentido estrito
Obs.: não se aplica a exceção doutrinária, pois os cidadãos não
têm legitimidade para defender interesses coletivos em sede de
ação popular.
Interesses individuais
Possíveis para os indivíduos lesados
homogêneos

1.5.1.4. Facultatividade do litisconsórcio passivo em ações ambientais

Considerando que a responsabilidade dos poluidores é solidária, a formação de


litisconsórcio entre eles, nas ações destinadas à reparação dos danos ambientais, é mera-
mente facultativa.

1.5.2. Denunciação da lide

O STJ e a doutrina majoritária não admitem denunciação da lide nas ações civis
públicas fundadas na responsabilidade objetiva do réu, tendo em vista que a introdução
da responsabilidade subjetiva de terceiro na discussão tende a procrastinar a conclusão do
processo, violando os princípios da celeridade e economia processual.

21 21
1.5.3. Chamamento ao processo

Tal espécie de intervenção de terceiro também não é admitida nas ações civis pú-
blicas fundadas na responsabilidade objetiva do réu, pelos mesmos motivos que vedada a
denunciação da lide, ressalvada, tão somente, a possibilidade de chamamento ao processo
da seguradora nas ações de responsabilidade do fornecedor de produtos e serviços (artigo
101, II do CDC).

1.5.4. Oposição

No Novo CPC, a oposição não constitui mais espécie de intervenção de terceiros


e sim procedimento especial (artigos 682 a 686). De qualquer forma, o autor da ação civil
pública é legitimado extraordinário e, como tal, sua atuação está restrita ao polo ativo da
demanda.

1.6. Conexão, continência e litispendência

1.6.1. Relação entre demandas coletivas e ações individuais

1.6.1.1. Identidade total

Não há litispendência ou coisa julgada entre demandas coletivas e ações indivi-


duais, pois as partes sempre serão formalmente diversas. Além disso, nas ações coletivas o
pedido é genérico.

Deve-se registrar, ainda, que embora o art. 104 do CDC, quando afirma que as
ações coletivas não induzem litispendência para as ações individuais, não aluda às ações
envolvendo direitos individuais homogêneos, para João Paulo Lordelo, a rigor, nem mesmo
nestes casos haverá litispendência entre ação coletiva e ação individual.

1.6.1.2. Identidade parcial

Pode haver conexão entre demandas coletivas e ações individuais por identida-
de da causa de pedir. Neste caso, a ação individual deve ser suspensa até o julgamento do
processo coletivo. Para João Paulo Lordelo essa suspensão pode ser facultativa (requerida
pela parte – art. 104, CDC) ou obrigatória judicial (nas ações individuais multitudinárias).

22 22
1.6.2. Relação entre demandas coletivas

1.6.2.1. Identidade total

Pode haver litispendência ou coisa julgada entre demandas coletivas (a depen-


der do fundamento da improcedência da primeira ação).

Um exemplo dado por João Paulo Lordelo é a existência de uma ação popular
para impedir a privatização de uma empresa pública em uma Vara em São Paulo, e outra
ação popular, para discutir a mesma temática, em uma Vara no Rio de Janeiro. Outro fato
corriqueiro é a coexistência de duas ações coletivas idênticas para a proteção do meio am-
biente: uma de autoria do MPE e outra de autoria do MPF.

E qual a consequência da litispendência em ações coletivas? Existem duas cor-


rentes:

1ª Corrente (Antônio Gidi): o caso é de extinção da ação repetida, e


a parte da ação extinta poderá ingressar como litisconsorte na ação
que remanesceu.

2ª Corrente (Ada Grinover): o caso não é de extinção, mas sim de reu-


nião para julgamento conjunto (mesmo efeito da conexão e conti-
nência) ou, não sendo isso possível, a suspensão de uma delas. Essa
posição é dominante na doutrina.

João Paulo Lordelo observa que em ações coletivas com pedido e causa de pedir
idênticos, há litispendência ainda que os legitimados das ações sejam diferentes, aplican-
do-se, no caso, a teoria da identidade da relação jurídica, e não a teoria da identidade dos
elementos da ação, sendo, assim, suficiente a identidade da situação jurídica substancial
deduzida.

O referido autor também leciona que é possível que haja litispendência entre
duas demandas coletivas que tramitem por ritos diversos (ação civil pública e ação popular,
por exemplo), já que a similitude do procedimento é irrelevante diante da atipicidade da
tutela jurisdicional coletiva, que define que qualquer procedimento pode servir à tutela
de um direito coletivo. É o que o STJ denomina ação popular multilegitimária (STJ, Resp
401.964/RO Dj 11/11/2002).

1.6.2.2. Identidade parcial

Se é possível que haja identidade total, também é possível a identidade parcial


entre as ações. A consequência da conexão/continência será a reunião das causas para jul-

23 23
gamento simultâneo. Por oportuno, cite-se a súmula 489 do STF, que prevê que “reconhe-
cida a continência, devem ser reunidas na Justiça Federal as ações civis públicas propostas
nesta e na Justiça estadual.”

Somente se não for possível a reunião é que se procederá à suspensão.

1.7. Inquérito civil e procedimento preparatório

Dispõe o artigo 8º, § 1º da LACP:

O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquéri-


to civil, ou requisitar, de qualquer organismo público ou particular,
certidões, informações, exames ou perícias, no prazo que assinalar,
o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis.

ATENÇÃO: Em razão do disposto no artigo 105-A da Lei 9504/97, o Procurador-Geral da


República editou a portaria 499/2014, instituindo e regulamentando o Procedimento
Preparatório Eleitoral (PPE), para ser utilizado pelo Ministério Público na investigação de
ilícitos eleitorais, no lugar do inquérito civil.

1.7.1. Finalidades

PROCEDIMENTO PREPARATÓRIO INQUÉRITO CIVIL


Fornecer ao membro do Ministério Público
Fornecer ao membro do Ministério Público
subsídios para a formação de seu convenci-
subsídios para a formação de seu conven-
mento sobre a necessidade ou não de tutelar
cimento sobre a necessidade ou não de ins-
determinados interesses transindividuais, e
taurar um inquérito civil e sobre sua atribui-
identificar os meios adequados para tanto
ção para instaurá-lo.
(judiciais ou extrajudiciais)

1.7.2. Instauração

Possui atribuição para instaurar o inquérito civil ou o procedimento preparatório


o órgão do Ministério Público competente para ajuizar a futura ação civil pública.

A instauração do inquérito civil ocorre através de portaria, que deve indicar fun-
damentadamente o objeto da investigação. A portaria pode ser baixada de ofício; por repre-
sentação; ou por requisição do Procurador Geral.

24 24
Deve-se destacar que a regra é que esta atribuição seja conferida a um membro
que oficie perante órgãos judiciários de primeira instância. Mas, como já mencionado, é
possível que a instauração se dê pelo Procurador Geral na:

a) Ação civil pública de competência originária do STF: Procurador-Geral da Re-


pública (artigo 46, parágrafo único, inciso III da LC 75/93);

b) Ação civil pública em face do Governador do Estado, do Presidente da Assem-


bleia Legislativa ou dos Presidentes de Tribunais: Procurador-Geral de Justiça do respectivo
Estado (artigo 29, inciso III da Lei 8625/93).

1.7.3. Arquivamento

Diante da inexistência de fundamento para a propositura da ação civil pública,


o Ministério Público deve promover o arquivamento do inquérito civil e demais peças de
informação e remeter os autos ao respectivo Conselho Superior. Nesse sentido dispõe o
artigo 9º da LACP:

Art. 9º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligên-


cias, se convencer da inexistência de fundamento para a propositura
da ação civil, promoverá o arquivamento dos autos do inquérito civil
ou das peças informativas, fazendo-o fundamentadamente.
§ 1º Os autos do inquérito civil ou das peças de informação arqui-
vadas serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave, no
prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério Público.
§ 2º Até que, em sessão do Conselho Superior do Ministério Público,
seja homologada ou rejeitada a promoção de arquivamento, pode-
rão as associações legitimadas apresentar razões escritas ou docu-
mentos, que serão juntados aos autos do inquérito ou anexados às
peças de informação.
§ 3º A promoção de arquivamento será submetida a exame e delibe-
ração do Conselho Superior do Ministério Público, conforme dispu-
ser o seu Regimento.
§ 4º Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de ar-
quivamento, designará, desde logo, outro órgão do Ministério Públi-
co para o ajuizamento da ação.

Em sentido amplo, todos os elementos de convicção colacionados pelo Ministé-


rio Público em um procedimento investigatório distinto do inquérito civil são peças de infor-
mação. Portanto, o arquivamento do procedimento preparatório também deve ser subme-
tido à homologação do Conselho Superior.

25 25
O arquivamento implícito é incompatível com o princípio da obrigatoriedade,
razão pela qual se a medida (judicial ou extrajudicial) adotada pelo Ministério Público con-
templar apenas parte dos fatos investigados em sede de inquérito civil, aqueles que não
foram objeto de ação civil pública ou compromisso de ajustamento de conduta devem ser
arquivados e submetidos à revisão do órgão superior.

ATENÇÃO: o arquivamento do inquérito civil ou do procedimento preparatório promovi-


do pelo Procurador-Geral da República não se submete à homologação de órgão revisor.
Diferentemente, a Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, aplicável aos Ministérios
Públicos Estaduais, não isenta os arquivamentos promovidos pelos Procuradores-Gerais
de Justiça da necessidade de revisão perante os respectivos Conselhos Superiores.

1.7.4. Princípio da publicidade x sigilo

Em regra, os atos praticados no inquérito civil e no procedimento preparatório


são regidos pelo princípio da publicidade, portanto, nada obsta que o membro do Ministé-
rio Público preste informações, inclusive aos meios de comunicação social, acerca das pro-
vidências adotadas para a apuração de fatos em tese ilícitos, vedada tão somente a emissão
ou antecipação de juízos de valor a respeito de apurações ainda não concluídas.

Excepcionalmente, a publicidade pode ser restringida nas hipóteses de sigilo le-


gal, em prol do êxito das investigações ou quando indispensável à segurança da sociedade
ou do Estado (artigo 5º, XXXIII da CF). Contudo, ainda que decretado o sigilo, o advogado
constituído tem direito de acesso aos autos do inquérito civil, relativamente aos elementos
documentados referentes ao investigado (Súmula Vinculante nº 14).

1.7.5. Princípio inquisitivo, contraditório e ampla defesa

A ausência de contraditório e ampla defesa são características dos procedimen-


tos investigatórios, de natureza inquisitiva, tal como o inquérito civil e o procedimento pre-
paratório.

Porém, nada obsta que a autoridade responsável pelo procedimento admita o


exercício do contraditório na prática de alguns atos investigatórios, pois, desde que não
comprometa o resultado da investigação, tal permissão pode reforçar o valor probatório do
ato.

1.7.6. Valor probatório

Em decorrência da natureza inquisitiva, os elementos de informação coligidos


no inquérito civil e no procedimento preparatório têm valor probatório relativo. Ademais,
eventuais irregularidades na produção da prova não configuram nulidade processual, pois

26 26
tratam-se de procedimentos administrativos e informais que sequer constituem condição
de procedibilidade ou pressuposto processual da ação civil pública.

1.8. Autocomposição

1.8.1. Autocomposição extrajudicial: Compromisso de Ajustamento de Conduta

1.8.1.1. Legitimação

De acordo com o disposto no artigo 5º, § 6º da Lei 7347/85:

Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados


compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais,
mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extraju-
dicial.

A expressão “órgãos públicos” constante do aludido dispositivo legal deve ser in-
terpretada no sentido de entes públicos, de forma a abranger não somente os órgãos, que, a
rigor, não detêm personalidade jurídica, mas também as instituições, a exemplo do Ministé-
rio Público, e as pessoas jurídicas de direito público. Nesse contexto, autarquias e fundações
públicas têm legitimidade para celebrar Compromisso de Ajustamento de Conduta.

Ao contrário, a legitimação das empresas públicas e sociedades de economia mis-


ta é controvertida na doutrina, tendo em vista possuírem personalidade jurídica de direito
privado. Por essa razão, prevalece o entendimento doutrinário de que somente as empresas
estatais prestadoras de serviços públicos podem figurar como tomadoras do compromisso
extrajudicial, pois, nessa qualidade, equiparam-se aos entes dotados de personalidade ju-
rídica de direito público.

Contudo, o STF trilhou caminho oposto da doutrina. Conforme entendimento do


Supremo, apesar do art. 5º, §6º não prevê associações privadas, a ausência de disposição
normativa expressa no que concerne a associações privadas não afasta a viabilidade do
acordo. Isso porque a existência de previsão explícita unicamente quanto aos entes públi-
cos diz respeito ao fato de que somente podem fazer o que a lei determina, ao passo que aos
entes privados é dado fazer tudo que a lei não proíbe. (STF. Plenário. ADPF 165/DF, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, julgado em 1º/3/2018 (Info 892).4

4 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É possível que as associações privadas façam transação em ação civil pú-
blica. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/
detalhes/00c17237d011cca999f55a43db2ce040>. Acesso em: 04/02/2019

27 27
1.8.1.2. Natureza jurídica

Apesar da controvérsia doutrinária, prevalece o entendimento de que o Compro-


misso de Ajustamento de Conduta não tem natureza jurídica de transação. Isso porque, o
tomador não é titular do interesse em questão e, portanto, o compromisso não envolve con-
cessões mútuas de direito material. Além disso, os interesses coletivos têm natureza tran-
sindividual e não pertencem ao gênero dos direitos patrimoniais de caráter privado.

Seja uma espécie de acordo, seja um ato administrativo negocial, não há dúvida
sobre o caráter bilateral do compromisso que, por tal razão, está sujeito às mesmas condi-
ções de existência, validade e eficácia dos negócios jurídicos em geral.

1.8.1.3. Objeto

Embora o compromissário faça concessões em relação ao direito material con-


trovertido, o tomador não pode abdicar, ainda que parcialmente, do seu conteúdo, pois não
é o titular do interesse em questão. Logo, o compromisso deve versar apenas sobre o modo,
lugar e tempo no qual o dano ao interesse transindividual deve ser reparado, ou a ameaça
afastada, em sua integralidade.

1.8.1.4. Cominações

Conforme se infere da leitura do artigo 5º, § 6º, da Lei 7347/85, o Compromisso


de Ajustamento de Conduta deve estabelecer medidas coercitivas adequadas e suficientes
para desestimular o descumprimento das obrigações.

Assim, considerando as peculiaridades de cada caso concreto, podem ser fixa-


das sanções pecuniárias com periodicidades diversas ou, ainda, obrigações de fazer ou não
fazer. Todavia, apesar da relevância da cominação, a ausência de previsão de multa comi-
natória não acarreta a nulidade do compromisso. Neste caso, o próprio juiz pode fixá-la
quando apresentado o título para execução (artigo 814 do CPC).

1.8.1.5. Compromisso de ajustamento celebrado no âmbito de inquérito civil ou procedi-


mento preparatório

Celebrado o compromisso, antes mesmo de cumpridas as obrigações pactuadas,


o inquérito civil ou o procedimento preparatório deverá ser arquivado pelo membro que o
presidir e remetido ao Conselho Superior para homologação.

Nas lições de João Paulo Lordelo, as Câmaras do MPF entendem que como o ar-
quivamento do inquérito civil depende de homologação pelo órgão superior do MP, a pró-
pria validade do TAC também estaria condicionada à homologação do arquivamento.

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1.8.1.6. Complementação, impugnação e novação

O Compromisso de Ajustamento de Conduta constitui garantia mínima em favor


da coletividade de lesados, nunca limitação máxima da responsabilidade do infrator. Por-
tanto, a princípio, tendo em vista a legitimidade concorrente para a propositura de ação ci-
vil pública e a garantia constitucional da inafastabilidade da jurisdição, qualquer legitimado
pode ajuizar demanda relacionada ao mesmo fato objeto do compromisso.

Todavia, quando o compromisso é suficiente para a satisfação do direito tutelado


falta interesse processual para o ajuizamento de ação civil pública ao tomador e aos demais
legitimados. Logo, a propositura da demanda está condicionada à insuficiência ou invalida-
de do acordo extrajudicial no que tange à tutela integral do interesse transindividual visado.

1.8.1.7. Execução

Qualquer dos legitimados à propositura de ação civil pública em defesa dos


interesses versados no acordo extrajudicial poderá executá-lo.

Entendimento em sentido contrário comprometeria demasiadamente a eficácia


da tutela coletiva, de sorte que existente o título, qualquer legitimado pode promover-lhe a
execução, tal como se verifica em relação à sentença proferida em sede de ação civil pública
(artigo 15 da Lei 7347/85). Portanto, quando celebrado por entidade da Administração
direta, o Ministério Público ou qualquer outro legitimado detém legitimidade para promover
a execução do compromisso.

1.8.2. Autocomposição judicial

A celebração de acordo judicial não é privativa dos órgãos públicos legitimados à


propositura da ação civil pública, podendo também as pessoas jurídicas de direito privado
realizá-lo, conforme entendimento do STF.

Após a homologação, litisconsortes, assistentes litisconsorciais e o Ministério


Público na qualidade de fiscal da ordem jurídica podem impugnar o acordo pela via recursal
própria. Igual direito detém o colegitimado que não atuou como parte no processo e,
eventualmente, o cidadão ou indivíduo lesado que poderiam ter atuado como assistentes
litisconsorciais.

1.9. Sentenças coletivas

Se não foi possível obstar o dano ou o inadimplemento contratual através da


adoção de medidas preventivas, será cabível a tutela ressarcitória, voltada a sua reparação.

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Neste caso, tem prioridade a tutela específica da obrigação, tendo em vista a indisponibili-
dade material do direito.

Portanto, somente quando inviável a reprodução da situação anterior à lesão é


cabível a tutela ressarcitória pelo equivalente em dinheiro, salvo tratando-se de obrigação
de pagar quantia certa, pois, neste caso, a entrega do numerário não representa a resolução
da obrigação em perdas e danos, mas a própria tutela específica.

ATENÇÃO: Por força do princípio da inafastabilidade da jurisdição, tendo em vista o direi-


to à tutela jurisdicional adequada e efetiva, prevalece o entendimento no sentido de que,
a partir do Novo CPC, é possível exigir imediatamente do réu o pagamento das multas
cominadas liminarmente. Apesar do disposto no artigo 12, § 2º da LACP, a concessão de
efetiva prevenção e reparação judicial pressupõe a disponibilização de medidas liminares
eficazes e, para tanto, exigíveis de imediato.

A sentença proferida em sede de ação civil pública é recorrível via apelação, sem
prejuízo do pedido de suspensão da execução do pronunciamento judicial não transitado
em julgado, na forma prevista no artigo 12 da LACP.

1.10. Coisa julgada coletiva

O regime da coisa julgada coletiva é ditado pelos artigos 103 e 104 do CDC,
associados aos polêmicos artigos 16 da LACP e 2º-A da Lei 9494/97. Em resumo, temos:

Interesses
Interesses difusos Interesses coletivos individuais
homogêneos
Coisa julgada erga Coisa julgada ultra Coisa julgada erga
Procedência
omnes partes omnes
Improcedência Há coisa julgada
Coisa julgada erga Coisa julgada ultra
por pretensão em relação aos
omnes partes
infundada colegitimados, mas
não erga omnes
(não impede que
as vítimas que não
Improcedência atuaram como
Não há coisa
por insuficiência Não há coisa julgada litisconsortes
julgada
de provas busquem a
reparação
individual)

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1.10.1. Coisa julgada material secundum eventum litis e secundum eventum probationes

Na ação civil pública destinada à defesa de qualquer interesse transindividual, a


existência de coisa julgada erga omnes ou ultra partes está condicionada à procedência ou
improcedência da demanda (secundum eventum litis).

Além disso, exclusivamente nas ações civis públicas destinadas à defesa de


interesses difusos e coletivos em sentido estrito, a coisa julgada material das sentenças de
improcedência depende do seu fundamento (secundum eventum probationes).

Percebe-se, portanto, que no processo coletivo a coisa julgada é, via de regra,


secundum eventum probationis. A única exceção se verifica justamente no âmbito dos
interesses individuais homogêneos, pois caso seja julgado improcedente o pedido e
tendo havido o trânsito em julgado, com ampla instrução, não será possível uma nova
ação coletiva, independentemente do motivo que levou à improcedência (falta de provas,
ou não). Assim, conclui-se que nas ações civis públicas destinadas à defesa de interesses
individuais homogêneos, a coisa julgada material é secundum eventum litis, mas não é
secundum eventum probationes.

1.10.2. Transporte in utilibusda coisa julgada coletiva

O transporte in utilibus da coisa julgada consiste na possibilidade de extensão


dos efeitos da sentença coletiva em favor de pretensões individuais não deduzidas no pro-
cesso, a depender do estágio procedimental das demandas:

a) Trânsito em julgado da sentença coletiva antes da propositura da ação indivi-


dual: basta que a vítima proceda à liquidação e execução do título;

b) Ação individual e ação coletiva em andamento: a vítima deve requerer, no


prazo de 30 dias, a contar da ciência da existência da ação coletiva, a suspensão do processo
individual;

ATENÇÃO: O STJ admite a suspensão de ofício dos processos individuais, tendo em vista
os princípios da economia processual, celeridade e harmonização dos julgados.

c) Trânsito em julgado da sentença individual antes da sentença coletiva: nes-


te ponto, há duas correntes. Ada Pellegrini leciona que o indivíduo não pode se beneficiar
com coisa julgada coletiva superveniente, pois a coisa julgada individual, que é específica,
prevalece sobre a coletiva. Hugo Nigro Mazzilli, por sua vez, ensina que o indivíduo pode se
beneficiar da coisa julgada coletiva, com base na preservação da igualdade e por inexistên-
cia da possibilidade de suspender a ação individual por esta já estar transitada em julgado.

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2.10.3. Transporte in utilibus da coisa penal

O aproveitamento da coisa julgada penal depende da espécie de crime pratica-


do. Em resumo, temos:

a) Crimes praticados em face de coletividades abstratas: aplica-se o regime da


coisa julgada coletiva, de forma que a sentença penal de improcedência, em nenhuma hi-
pótese, prejudicará o direito à indenização das vítimas. Se procedente, basta a liquidação e
execução da sentença penal condenatória no juízo cível;

b) Crimes praticados contra vítimas determinadas: aplica-se o regime da coisa


julgada individual, de forma que a sentença penal absolutória fundada na inexistência do
fato ou da autoria prejudica o direito à indenização das vítimas no juízo cível.

1.10.4. Limites territoriais e subjetivos da coisa julgada

Acerca da validade dos artigos 16 da LACP e 2º-A da Lei 9494/97, o STJ, amparado
pelo entendimento da doutrina majoritária, concluiu que a eficácia da sentença não está
circunscrita a lindes geográficos, mas aos limites objetivos e subjetivos do que foi decidido,
sob pena de violação ao princípio da igualdade, da segurança jurídica, da economia proces-
sual e do devido processo legal no aspecto substantivo, considerando a natureza indivisível
dos interesses transindividuais.

ATENÇÃO! Em relação ao art. 16 da LACP, nas ações coletivas que versem sobre direitos
individuais homogêneos, de natureza divisível, há uma divergência pela sua aplicabili-
dade ou não, por ser possível o tratamento diferenciado entre os seus titulares.

Podemos tomar como exemplo a sentença que concede a reintegração de posse de um


imóvel que se estende a território de mais de uma unidade federativa não valer em
relação a parte dele. Se de fato fossemos aplicar o art. 16 da LACP, decisões como essa
poderiam ser comuns.

O STJ tinha posicionamento pela validade do art. 16 da LACP até meados de 2014 (REsp
1.114.035-PR). Todavia, o posicionamento mais recente do Tribunal é pela não aplica-
ção do referido artigo (EREsp 1134957/SP).

Além disso, para o Tribunal, o artigo 2º-A da Lei 9494/97 aplica-se somente para ações
coletivas propostas contra o Poder Público e abrange qualquer corporação legitimada
à propositura de ações judiciais, inclusive os sindicatos.

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Nessa situação deve a ação abranger apenas os substituídos que tenham, na data da
propositura desta, domicílio no âmbito da competência territorial do órgão prolator. E
quando for proposta contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas
autarquias e fundações, a petição inicial deverá obrigatoriamente estar instruída com
a ata da assembleia da entidade associativa que a autorizou, acompanhada da relação
nominal dos seus associados e indicação dos respectivos endereços.

1.11. Liquidação e execução de sentenças

1.11.1. Direitos difusos e coletivos em sentido estrito

No tocante à legitimidade para a execução da sentença coletiva, dispõe o artigo


15 da LACP:

Art. 15. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da sentença


condenatória, sem que a associação autora lhe promova a execução,
deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada igual iniciativa aos de-
mais legitimados.

O procedimento executório depende da espécie de obrigação a ser cumprida (fa-


zer, não fazer, entregar, pagar quantia certa), podendo o magistrado adotar medidas coerci-
tivas e sub-rogatórias para tanto.

Os valores pagos a título de multa, em regra, reverterão ao fundo de reconsti-


tuição do bem lesado criado pela LACP, exceto nas ações fundadas no ECA e no Estatuto
do Idoso que, neste caso, serão destinados, respectivamente, ao Conselho dos Direitos da
Criança e do Adolescente do Município e ao Fundo do Idoso ou ao Fundo Municipal de As-
sistência Social.

1.11.2. Direitos individuais homogêneos

1.11.2.1. Liquidação e execução individuais

A sentença condenatória proferida nas ações coletivas destinadas à defesa de


interesses individuais homogêneos é genérica, pois o âmbito cognitivo da decisão é restrito
ao núcleo de homogeneidade de tais direitos. Assim, na fase de liquidação, o interessado
deve comprovar, além do quantum debeatur, a condição de credor da obrigação reconheci-
da na sentença. Por essa razão, tal procedimento é denominado liquidação imprópria.

A liquidação e a execução da sentença poderão ser promovidas pela vítima e seus


sucessores, no juízo da liquidação ou da condenação, de sorte que o produto da indeniza-
ção é revertido em benefício dos próprios lesados individuais (artigos 97 e 98 do CDC).

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1.11.2.2. Liquidação e execução coletivas

A execução coletiva, promovida pelos colegitimados à propositura da ação, tem


natureza subsidiária, pois pressupõe o decurso do prazo de um ano sem habilitação de inte-
ressados em número compatível com a gravidade do dano (artigo 100 do CDC).

Neste caso, o valor apurado reverterá ao fundo de reconstituição do bem lesado


criado pela LACP. Esta forma de reparação é fluida (fluid recovery), pois não reverte concreta
e individualizadamente às vítimas, favorecendo-as apenas difusamente, mediante a recom-
posição de bem conexo aos interesses individuais violados.

1.12. Custas processuais e ônus da sucumbência

A isenção de custas e despesas processuais previstas nos artigos 18 da LACP e


87 do CDC beneficia somente aos autores da demanda, a fim de facilitar o acesso à justiça
coletiva. Portanto, na hipótese de procedência da ação, a parte vencida (réu) arcará com
todas as custas e despesas processuais, inclusive honorários advocatícios. Igual sistemática
aplica-se ao autor, nas hipóteses de litigância de má-fé.

Em que pese o art. 18 da LACP ter previsto que apenas o autor não deve pagar ho-
norários advocatícios, o STJ, interpretando este dispositivo, aplicou a simetria, entendendo
que a mesma regra deve ser aplicada nas situações em que o réu é sucumbente, isto é, nas
hipóteses em que o pedido é julgado procedente. Veja-se:

A parte que foi vencida em ação civil pública não tem o dever de pa-
gar honorários advocatícios em favor do autor da ação. A justificativa
para isso está no princípio da simetria. Isso porque se o autor da ACP
perder a demanda, ele não irá pagar honorários advocatícios, salvo
se estiver de má-fé (art. 18 da Lei nº 7.347/85). Logo, pelo princípio
da simetria, se o autor vencer a ação, também não deve ter direito
de receber a verba. Desse modo, em razão da simetria, descabe a
condenação em honorários advocatícios da parte requerida em ação
civil pública, quando inexistente má-fé, de igual sorte como ocorre
com a parte autora. STJ. Corte Especial. EAREsp 962.250/SP, Rel. Min.
Og Fernandes, julgado em 15/08/2018.5

ATENÇÃO: a execução de individual de sentença coletiva pela própria vítima pressupõe o


pagamento antecipado das respectivas despesas processuais, tendo em vista a tutela de
interesse eminentemente privado nesta fase.

5 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O demandado que for sucumbente na ACP não tem o dever de pagar ho-
norários advocatícios. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/
jurisprudencia/detalhes/8aa2c95dc0a6833d2d0cb944555739cc>. Acesso em: 17/03/2019

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1.13. Prescrição

Ante a ausência de disposição legal expressa na LACP e no CDC, aplica-se, analo-


gicamente, a prescrição quinquenal da ação popular, que integra o microssistema proces-
sual coletivo ao lado da ação civil pública. Ressalvam-se apenas a pretensão de ressarci-
mento ao erário e reparação de danos ambientais imprescritíveis.

Cumpre frisar que, em recente decisão, a 3ª Turma do STJ entendeu que o prazo
de 5 (cinco) anos para o ajuizamento da ação popular não se aplica às ações coletivas de
consumo (REsp 1.736.091/PE).

Para a Min. Nancy Andrigh, relatora do caso, é “necessária a superação (overru-


ling) da atual orientação jurisprudencial desta Corte, pois não há razão para se limitar o uso
da ação coletiva ou desse especial procedimento coletivo de enfrentamento de interesses indi-
viduais homogêneos, coletivos em sentido estrito e difusos, sobretudo porque o escopo desse
instrumento processual é o tratamento isonômico e concentrado de lides de massa relaciona-
das a questões de direito material que afetem uma coletividade de consumidores, tendo como
resultado imediato beneficiar a economia processual”.

Já no ano de 2020, a quarta turma do STJ reiterou o entendimento do prazo pres-


cricional de 5 anos, aplicando-se analogicamente o prazo prescricional da ação popular,
concluindo que “o prazo para execução individual de sentença proferida contra planos de
saúde em ação civil pública é de cinco anos”(AgInt no REsp 1.807.990-SP, Rel. Min. Maria Isa-
bel Gallotti, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 20/04/2020, DJe 24/04/2020).

Todavia, ainda prevalece que, inexistindo a previsão de prazo prescricional espe-


cífico na Lei nº 7.347/85, aplica-se à Ação Civil Pública, por analogia, a prescrição quinque-
nal instituída pelo art. 21 da Lei nº 4.717/65. Tal entendimento foi, inclusive, assentado em
embargos de divergência.

ATENÇÃO: o despacho que determina a citação nas ações coletivas destinadas à defesa
de interesses individuais homogêneos interrompe a prescrição em favor de todos os le-
sados, pois, do contrário, as vítimas teriam que adotar atitudes incompatíveis com os ob-
jetivos do processo coletivo para tal finalidade (habilitar-se como litisconsortes na ação
coletiva ou ajuizar demandas individuais).

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