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1.11.1. Direitos difusos e coletivos em sentido estrito ........................................................... 33
1.11.2. Direitos individuais homogêneos ................................................................................ 33
1.12. Custas processuais e ônus da sucumbência .................................................................. 34
1.13. Prescrição ........................................................................................................................ 35
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1. Ação Civil Pública (ACP)
A LACP (Lei da Ação Civil Pública - Lei nº 7.347/85) é fruto de intenso debate e
nasce sobre influência da doutrina italiana e das classactions dos países oriundos do sistema
de common law. Surge a partir da percepção da necessidade de desenvolver ferramentas
processuais mais adequadas para a solução de conflitos de interesses transindividuais.
Contudo, não é demais observar que muito antes da edição da LACP, o Ministério
Público já estava legitimado a ajuizar ações civis voltadas à reparação de danos ao meio
ambiente, conforme dispõe o art. 14, § 1º, da Lei n° 6.938/81 (PNMA).
A expressão ação civil pública, em seus primórdios, não era utilizada no mesmo
sentido que é concebida no dia de hoje, ou seja, como instrumento destinado à defesa de
direitos coletivos em geral.
Antes da promulgação da LACP, ações civis públicas eram ações de natureza não
penal, ajuizadas pelo Ministério Público. Eram civis por não possuírem natureza penal, e
eram públicas por serem ajuizadas por um órgão público, o MP.
Inclusive, podemos ver claramente que o art. 3º da Lei n° 40/81, que estabelece
normas gerais para a organização dos Ministérios Públicos Estaduais, diferencia a ação civil
pública da ação penal pública. Observa-se que não só são diferentes, como são opostas.
Vejamos:
Assim, desde que ajuizadas pelo MP, ações que tinham natureza não penal, eram
denominadas ações civis públicas. Antes do advento da LACP, ações civis públicas seriam
não só as ações voltadas à defesa de interesses metaindividuais, como também a ação de
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interdição de incapaz, a actio civilis ex delicto e as ações amparadas pelo art. 14, § 1º da Lei
n° 6.938/81 (PNMA).
O objeto da ACP tem previsão nos artigos 1º, 3º e 11 da LACP. Com efeito, a ACP
tem por objeto a tutela preventiva (inibitória ou de remoção do ilícito) ou ressarcitória (mo-
ral ou material) dos seguintes bens ou direitos metaindividuais:
Conforme lições de João Paulo Lordelo, a ação civil pública não pode ter por ob-
jeto ato jurisdicional, por este já possuir meios próprios de impugnação. A ACP não pode fa-
zer as vezes de ADI (controle concentrado), embora a inconstitucionalidade de determinado
ato normativo possa ser questão prejudicial. Cabe apenas como meio de controle difuso. E,
por fim, é perfeitamente admissível o manejo de ACP para o fim de responsabilizar alguém
por danos morais causados a quaisquer valores transindividuais de que cuida a lei.
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I - o Ministério Público;
II - a Defensoria Pública;
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de econo-
mia mista
V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patri-
mônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem
econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étni-
cos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turís-
tico e paisagístico.
Conclui-se, portanto, que o nosso sistema é misto ou pluralista, pois tanto os en-
tes públicos quanto os entes privados estão legitimados a agir na defesa de interesses cole-
tivos em sentido amplo.
Além disso, trata-se de legitimidade concorrente, porque não foi deferida exclu-
sivamente a determinado ente, e disjuntiva, pois a formação de litisconsórcio entre os legi-
timados é meramente facultativa.
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1.2.1.1.2. Ministério Público
Por outro lado, no tocante aos direitos coletivos em sentido estrito e individuais
homogêneos, a atuação do parquet está adstrita aos interesses indisponíveis ou afetos à
coletividade. A relevância social pode ser objetiva (decorrente da própria natureza dos va-
lores e bens em questão, tal como a dignidade humana, a saúde, a educação, etc.) ou subje-
tiva (em razão da qualidade especial dos titulares – um grupo de idosos ou de crianças por
exemplo).
Todavia, deve-se ressaltar que a LACP, no art. 5º, § 5º, admite o litisconsórcio fa-
cultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa
dos interesses e direitos de que cuida a referida lei. O Plenário do STF1, inclusive, já se ma-
nifestou pela possibilidade de litisconsórcio e o STJ2, ratificando tal entendimento, afirmou
que é possível a atuação conjunta de MPF e MPE desde que alguma razão específica justifi-
que a presença de ambos na lide (Este assunto será visto mais detalhadamente em tópico
posterior).
O artigo 5º, inciso II, com redação dada pela Lei 11.448/07, arrola expressamente
a Defensoria Pública entre os entes legitimados à propositura de ações coletivas.
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nal tais instituições compõe a respectiva Administração Direta. Logo, a Lei 11.448/07 só teria
reforçado a legitimidade do órgão defensorial.
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judicial, dos direitos individuais e coletivos dos necessitados. Nos termos do artigo 134 da
Constituição Federal:
Ante sua função institucional, é mister que a Defensoria atue em prol dos neces-
sitados, mas nada impede que, em virtude da natureza difusa do direito tutelado, a coletivi-
dade substituída também seja composta por pessoas não necessitadas. Assim, consoante o
entendimento dos Tribunais Superiores, a Defensoria Pública detém legitimidade para pro-
por ação civil pública em defesa de qualquer interesse difuso e, em relação aos interesses
coletivos em sentido estrito e individuais homogêneos, quando o grupo de lesados incluir
titulares necessitados, ainda que nem todos ostentem tal condição (STF, ADI 3943).
Nessa esteira, o STJ entende que o Município tem legitimidade ad causam para
ajuizar ação civil pública em defesa de direitos consumeristas questionando a cobrança de
tarifas bancárias. Para a Corte Cidadã, a legitimação dos entes políticos para a defesa de
interesses metaindividuais é justificada pela qualidade de sua estrutura, capaz de conferir
maior probabilidade de êxito na implementação da tutela coletiva.
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1.2.1.1.6. Fundações privadas
O CDC, em seu artigo 82, inciso III outorgou às entidades e órgãos da Administra-
ção Direta ou Indireta, ainda que sem personalidade jurídica, a legitimidade para propor
ações coletivas.
A segunda exigência pode ser excepcionada, consoante o art. 5º, § 4° da LACP, que
dispõe que o requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz quando houver
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manifesto interesse social, evidenciado pela dimensão ou característica do dano ou pela
relevância do bem jurídico a ser protegido. Um exemplo em que se verificou essa flexibiliza-
ção do requisito temporal foi o REsp 1600172-GO, julgado pelo STJ em 2016, acerca de ação
civil pública que tratava da prestação de informações ao consumidor sobre a existência de
glúten em alimentos.
O último requisito citado é a pertinência temática. Sobre ele existem algumas de-
cisões no âmbito dos Tribunais Superiores. Em julgado de 2017, por exemplo, o STJ enten-
deu que uma associação que tenha fins específicos de proteção ao consumidor não possui
legitimidade para o ajuizamento de ação civil pública com a finalidade de tutelar interesses
coletivos de beneficiários do seguro DPVAT, afinal não se trataria de relação consumerista,
tampouco de relação jurídica contratual, sendo o DPVAT um seguro obrigatório por força de
lei, que tem por objetivo mitigar os danos advindos da circulação de veículos automotores
(STJ. 2ª Seção. REsp 1.091.756-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Belliz-
ze, julgado em 13/12/2017).
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Natureza
REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL
jurídica
As associações possuem legitimi-
dade para defesa dos direitos e dos
interesses coletivos ou individuais
homogêneos, independentemen-
te de autorização expressa dos
associados. STJ. 2ª Turma. REsp
1796185/RS, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 28/03/2019.
Por se tratar do regime de substi-
O disposto no artigo 5º, inciso XXI, tuição processual, a autorização
da Carta da República encerra repre- para a defesa do interesse coletivo
sentação específica, não alcançan- em sentido amplo é estabelecida
do previsão genérica do estatuto da na definição dos objetivos institu-
associação a revelar a defesa dos in- cionais, no próprio ato de criação
teresses dos associados. As balizas da associação, sendo desnecessá-
subjetivas do título judicial, formali- ria nova autorização ou delibera-
zado em ação proposta por associa- ção assemblear.
Precedentes ção, é definida pela representação As teses de repercussão geral re-
no processo de conhecimento, pre- sultadas do julgamento do RE
sente a autorização expressa dos 612.043/PR e do RE 573.232/SC
associados e a lista destes juntada à tem seu alcance expressamen-
inicial. STF. Plenário. RE 573232/SC, te restringido às ações coletivas
rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, de rito ordinário, as quais tratam
red. p/ o acórdão Min. Marco Auré- de interesses meramente indivi-
lio, julgado em 14/5/2014 (repercus- duais, sem índole coletiva, pois,
são geral) (Info 746). nessas situações, o autor se limi-
ta a representar os titulares do
direito controvertido, atuando na
defesa de interesses alheios e em
nome alheio. STJ. 3ª Turma. REsp
1649087/RS, Rel. Min. Nancy Andri-
ghi, julgado em 02/10/2018. STJ.
3ª Turma. AgInt no REsp 1719820/
MG, Rel. Min. Marco Aurélio Belliz-
ze, julgado em 15/04/2019.
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1.2.1.1.10. Partidos políticos
1.2.1.1.11. Sindicatos
Outrossim, a legitimidade dos sindicatos não está adstrita à defesa dos seus filia-
dos, mas abrange os integrantes de toda a categoria representada. Além disso, a entidade
sindical atua em juízo na qualidade de substituto processual, de sorte que, consoante o
entendimento do STF, a propositura da demanda independe de autorização específica dos
substituídos (RE 193503).
Destaca-se que, em 2019, a 3ª Turma do STJ interpretou o art. 5º, § 3º, da LACP no
sentido de permitir que a associação que ingressou com a ACP fosse substituída por outra
associação similar no polo ativo da demanda. Conforme o STJ:
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1.2.1.2. Legitimidade passiva
ATENÇÃO: de acordo com a última corrente não é cabível reconvenção em sede de ação
civil pública, pois a substituição somente é admitida no polo ativo, ao passo que a re-
convenção pressupõe que o autor-reconvindo esteja legalmente autorizado à defesa em
nome próprio de interesses alheios no polo passivo.
ATENÇÃO: Falta ao autor interesse processual para a propositura de ação civil pública
destinada a impugnar atos jurisdicionais típicos. Isso porque os pronunciamentos ju-
diciais dessa natureza podem ser impugnados pela via recursal própria, ou através das
ações autônomas de impugnação, tais como o mandado de segurança e a ação rescisória.
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Todavia, os atos expedidos pelo Poder Judiciário no exercício de função admi-
nistrativa, por sua vez, são atos judiciais atípicos e, nessa qualidade, podem ser objeto de
ação popular, desde que presentes os demais pressupostos caracterizadores do interesse
processual.
Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que en-
volvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucio-
nal cujos beneficiários podem ser individualmente determinados.
Sem embargo o STF reconheceu que o Ministério Público tem legitimidade para
propor ação civil pública visando à anulação de benefícios fiscais em defesa dos interesses
de todos os cidadãos, no tocante à integridade do erário e à higidez do processo de arreca-
dação tributária, valores de natureza metaindividual (RE 576155). Ademais, a vedação legal
não abrange tarifas ou preços públicos, pois não possuem natureza tributária e envolvem
relações de consumo.
Ademais, em recente julgado, a Corte Suprema decidiu que o Ministério Público tem
legitimidade para a propositura de ação civil pública em defesa de direitos sociais relacio-
nados ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). STF. Plenário. RE 643978/SE, Rel.
Min. Alexandre de Moraes, julgado em 9/10/2019 (repercussão geral – Tema 850) (Info 955).
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1.3. Elementos da ação
1.3.1. Partes
A questão sobre quem pode ser parte em uma ação civil pública foi tratada no
item sobre legitimidade ad causam.
1.3.3. Pedido
Qualquer bem que pode ser objeto de interesses coletivos em sentido amplo,
pode ser objeto mediato do pedido formulado em sede de ação civil pública.
1.4. Competência
A regra geral é que a ação coletiva se inicia em primeira instância. Isso inclui tam-
bém as ações de improbidade. Todavia, existem exceções constitucionais.
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a) litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado,
o Distrito Federal ou o Território (artigo 102, I, e da CF);
De outro lado, não existe foro por prerrogativa de função nas ações civis públicas.
Até houve uma tentativa legislativa de se criar foro por prerrogativa de função na impro-
bidade administrativa (Lei 10.628/02, que alterou a redação do art. 84 do CPP), mas o STF
rechaçou veementemente a inovação legal e na ADI 2797 declarou a inconstitucionalidade
da lei.
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terminada, em um primeiro momento, pela parte processual. Num
segundo momento, contudo, o Juiz Federal irá averiguar se o MPF é
parte legítima. Se o MPF for parte legítima, perpetua-se a competên-
cia na Justiça Federal. Por outro lado, se for parte ilegítima, deverá
determinar o deslocamento da competência para a Justiça Estadual.
Desse modo a circunstância de o Ministério Público Federal figurar
como parte na lide não é suficiente para determinar a perpetuação
da competência da Justiça Federal para o julgamento da ação.
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No tocante à continência, importante observar o enunciado da Súmula 489 do
STJ, de sorte que, verificada a identidade parcial, devem ser reunidas na Justiça Federal as
ações civis públicas propostas nesta e na Justiça Estadual.
Por tais razões, o Fórum Nacional de Juizados Especiais realizado em 2009, edi-
tou o Enunciado 32, com a seguinte redação:
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Parte da doutrina entende que o nosso sistema processual não admite a forma-
ção de litisconsórcio ulterior facultativo, salvo no caso de litisconsórcio necessário. Sob tal
premissa, a hipótese prevista no dispositivo acima reproduzido, por contemplar interven-
ção facultativa no processo, não seria de litisconsórcio, mas de assistência litisconsorcial.
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1.5.1.3. Litisconsórcio, assistência simples e litisconsorcial de não colegitimados
O STJ e a doutrina majoritária não admitem denunciação da lide nas ações civis
públicas fundadas na responsabilidade objetiva do réu, tendo em vista que a introdução
da responsabilidade subjetiva de terceiro na discussão tende a procrastinar a conclusão do
processo, violando os princípios da celeridade e economia processual.
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1.5.3. Chamamento ao processo
Tal espécie de intervenção de terceiro também não é admitida nas ações civis pú-
blicas fundadas na responsabilidade objetiva do réu, pelos mesmos motivos que vedada a
denunciação da lide, ressalvada, tão somente, a possibilidade de chamamento ao processo
da seguradora nas ações de responsabilidade do fornecedor de produtos e serviços (artigo
101, II do CDC).
1.5.4. Oposição
Deve-se registrar, ainda, que embora o art. 104 do CDC, quando afirma que as
ações coletivas não induzem litispendência para as ações individuais, não aluda às ações
envolvendo direitos individuais homogêneos, para João Paulo Lordelo, a rigor, nem mesmo
nestes casos haverá litispendência entre ação coletiva e ação individual.
Pode haver conexão entre demandas coletivas e ações individuais por identida-
de da causa de pedir. Neste caso, a ação individual deve ser suspensa até o julgamento do
processo coletivo. Para João Paulo Lordelo essa suspensão pode ser facultativa (requerida
pela parte – art. 104, CDC) ou obrigatória judicial (nas ações individuais multitudinárias).
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1.6.2. Relação entre demandas coletivas
Um exemplo dado por João Paulo Lordelo é a existência de uma ação popular
para impedir a privatização de uma empresa pública em uma Vara em São Paulo, e outra
ação popular, para discutir a mesma temática, em uma Vara no Rio de Janeiro. Outro fato
corriqueiro é a coexistência de duas ações coletivas idênticas para a proteção do meio am-
biente: uma de autoria do MPE e outra de autoria do MPF.
João Paulo Lordelo observa que em ações coletivas com pedido e causa de pedir
idênticos, há litispendência ainda que os legitimados das ações sejam diferentes, aplican-
do-se, no caso, a teoria da identidade da relação jurídica, e não a teoria da identidade dos
elementos da ação, sendo, assim, suficiente a identidade da situação jurídica substancial
deduzida.
O referido autor também leciona que é possível que haja litispendência entre
duas demandas coletivas que tramitem por ritos diversos (ação civil pública e ação popular,
por exemplo), já que a similitude do procedimento é irrelevante diante da atipicidade da
tutela jurisdicional coletiva, que define que qualquer procedimento pode servir à tutela
de um direito coletivo. É o que o STJ denomina ação popular multilegitimária (STJ, Resp
401.964/RO Dj 11/11/2002).
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gamento simultâneo. Por oportuno, cite-se a súmula 489 do STF, que prevê que “reconhe-
cida a continência, devem ser reunidas na Justiça Federal as ações civis públicas propostas
nesta e na Justiça estadual.”
1.7.1. Finalidades
1.7.2. Instauração
A instauração do inquérito civil ocorre através de portaria, que deve indicar fun-
damentadamente o objeto da investigação. A portaria pode ser baixada de ofício; por repre-
sentação; ou por requisição do Procurador Geral.
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Deve-se destacar que a regra é que esta atribuição seja conferida a um membro
que oficie perante órgãos judiciários de primeira instância. Mas, como já mencionado, é
possível que a instauração se dê pelo Procurador Geral na:
1.7.3. Arquivamento
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O arquivamento implícito é incompatível com o princípio da obrigatoriedade,
razão pela qual se a medida (judicial ou extrajudicial) adotada pelo Ministério Público con-
templar apenas parte dos fatos investigados em sede de inquérito civil, aqueles que não
foram objeto de ação civil pública ou compromisso de ajustamento de conduta devem ser
arquivados e submetidos à revisão do órgão superior.
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tratam-se de procedimentos administrativos e informais que sequer constituem condição
de procedibilidade ou pressuposto processual da ação civil pública.
1.8. Autocomposição
1.8.1.1. Legitimação
A expressão “órgãos públicos” constante do aludido dispositivo legal deve ser in-
terpretada no sentido de entes públicos, de forma a abranger não somente os órgãos, que, a
rigor, não detêm personalidade jurídica, mas também as instituições, a exemplo do Ministé-
rio Público, e as pessoas jurídicas de direito público. Nesse contexto, autarquias e fundações
públicas têm legitimidade para celebrar Compromisso de Ajustamento de Conduta.
4 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É possível que as associações privadas façam transação em ação civil pú-
blica. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/
detalhes/00c17237d011cca999f55a43db2ce040>. Acesso em: 04/02/2019
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1.8.1.2. Natureza jurídica
Seja uma espécie de acordo, seja um ato administrativo negocial, não há dúvida
sobre o caráter bilateral do compromisso que, por tal razão, está sujeito às mesmas condi-
ções de existência, validade e eficácia dos negócios jurídicos em geral.
1.8.1.3. Objeto
1.8.1.4. Cominações
Nas lições de João Paulo Lordelo, as Câmaras do MPF entendem que como o ar-
quivamento do inquérito civil depende de homologação pelo órgão superior do MP, a pró-
pria validade do TAC também estaria condicionada à homologação do arquivamento.
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1.8.1.6. Complementação, impugnação e novação
1.8.1.7. Execução
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Neste caso, tem prioridade a tutela específica da obrigação, tendo em vista a indisponibili-
dade material do direito.
A sentença proferida em sede de ação civil pública é recorrível via apelação, sem
prejuízo do pedido de suspensão da execução do pronunciamento judicial não transitado
em julgado, na forma prevista no artigo 12 da LACP.
O regime da coisa julgada coletiva é ditado pelos artigos 103 e 104 do CDC,
associados aos polêmicos artigos 16 da LACP e 2º-A da Lei 9494/97. Em resumo, temos:
Interesses
Interesses difusos Interesses coletivos individuais
homogêneos
Coisa julgada erga Coisa julgada ultra Coisa julgada erga
Procedência
omnes partes omnes
Improcedência Há coisa julgada
Coisa julgada erga Coisa julgada ultra
por pretensão em relação aos
omnes partes
infundada colegitimados, mas
não erga omnes
(não impede que
as vítimas que não
Improcedência atuaram como
Não há coisa
por insuficiência Não há coisa julgada litisconsortes
julgada
de provas busquem a
reparação
individual)
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1.10.1. Coisa julgada material secundum eventum litis e secundum eventum probationes
ATENÇÃO: O STJ admite a suspensão de ofício dos processos individuais, tendo em vista
os princípios da economia processual, celeridade e harmonização dos julgados.
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2.10.3. Transporte in utilibus da coisa penal
Acerca da validade dos artigos 16 da LACP e 2º-A da Lei 9494/97, o STJ, amparado
pelo entendimento da doutrina majoritária, concluiu que a eficácia da sentença não está
circunscrita a lindes geográficos, mas aos limites objetivos e subjetivos do que foi decidido,
sob pena de violação ao princípio da igualdade, da segurança jurídica, da economia proces-
sual e do devido processo legal no aspecto substantivo, considerando a natureza indivisível
dos interesses transindividuais.
ATENÇÃO! Em relação ao art. 16 da LACP, nas ações coletivas que versem sobre direitos
individuais homogêneos, de natureza divisível, há uma divergência pela sua aplicabili-
dade ou não, por ser possível o tratamento diferenciado entre os seus titulares.
O STJ tinha posicionamento pela validade do art. 16 da LACP até meados de 2014 (REsp
1.114.035-PR). Todavia, o posicionamento mais recente do Tribunal é pela não aplica-
ção do referido artigo (EREsp 1134957/SP).
Além disso, para o Tribunal, o artigo 2º-A da Lei 9494/97 aplica-se somente para ações
coletivas propostas contra o Poder Público e abrange qualquer corporação legitimada
à propositura de ações judiciais, inclusive os sindicatos.
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Nessa situação deve a ação abranger apenas os substituídos que tenham, na data da
propositura desta, domicílio no âmbito da competência territorial do órgão prolator. E
quando for proposta contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas
autarquias e fundações, a petição inicial deverá obrigatoriamente estar instruída com
a ata da assembleia da entidade associativa que a autorizou, acompanhada da relação
nominal dos seus associados e indicação dos respectivos endereços.
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1.11.2.2. Liquidação e execução coletivas
Em que pese o art. 18 da LACP ter previsto que apenas o autor não deve pagar ho-
norários advocatícios, o STJ, interpretando este dispositivo, aplicou a simetria, entendendo
que a mesma regra deve ser aplicada nas situações em que o réu é sucumbente, isto é, nas
hipóteses em que o pedido é julgado procedente. Veja-se:
A parte que foi vencida em ação civil pública não tem o dever de pa-
gar honorários advocatícios em favor do autor da ação. A justificativa
para isso está no princípio da simetria. Isso porque se o autor da ACP
perder a demanda, ele não irá pagar honorários advocatícios, salvo
se estiver de má-fé (art. 18 da Lei nº 7.347/85). Logo, pelo princípio
da simetria, se o autor vencer a ação, também não deve ter direito
de receber a verba. Desse modo, em razão da simetria, descabe a
condenação em honorários advocatícios da parte requerida em ação
civil pública, quando inexistente má-fé, de igual sorte como ocorre
com a parte autora. STJ. Corte Especial. EAREsp 962.250/SP, Rel. Min.
Og Fernandes, julgado em 15/08/2018.5
5 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O demandado que for sucumbente na ACP não tem o dever de pagar ho-
norários advocatícios. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/
jurisprudencia/detalhes/8aa2c95dc0a6833d2d0cb944555739cc>. Acesso em: 17/03/2019
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1.13. Prescrição
Cumpre frisar que, em recente decisão, a 3ª Turma do STJ entendeu que o prazo
de 5 (cinco) anos para o ajuizamento da ação popular não se aplica às ações coletivas de
consumo (REsp 1.736.091/PE).
ATENÇÃO: o despacho que determina a citação nas ações coletivas destinadas à defesa
de interesses individuais homogêneos interrompe a prescrição em favor de todos os le-
sados, pois, do contrário, as vítimas teriam que adotar atitudes incompatíveis com os ob-
jetivos do processo coletivo para tal finalidade (habilitar-se como litisconsortes na ação
coletiva ou ajuizar demandas individuais).
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