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Revista Psicologia e Saúde. DOI: http://dx.doi.org/10.

20435/2177093X2016103 14

Psicologia e Saúde Pública: Cartografia das Modalidades de Prática


Psicológica nas Policlínicas
Psychology and Public Health: Mapping of Forms of Psychological Practice in
Polyclinics
Psicología y Salud Pública: Cartografía de las Mmodalidades de la Práctica
Psicológica en las Policlínicas
Ana Paula Noriko Cimino1
Instituto Brasileiro de Gestão & Marketing
Danielle de Fátima da Cunha Cavalcanti de Siqueira Leite
Instituto Brasileiro de Gestão & Marketing

Resumo
A inserção dos psicólogos na Saúde Pública foi estimulada a partir da Reforma Sanitária Brasileira. No entanto a
formação em Psicologia, ao privilegiar um modelo de clínica tradicional, desconsidera as especificidades da prática
nesse âmbito. Tal contexto justifica a presente pesquisa, que buscou cartografar a prática dos psicólogos nas Policlínicas
Municipais do Recife. A metodologia utilizada funda-se em um enfoque qualitativo de cunho fenomenológico. Os
dados foram colhidos via narrativas e interpretados através do método proposto por Giorgi. As conclusões apontam
para a necessidade de desenvolver uma atitude clínica ético-política vinculada às dimensões histórico-culturais e
socioeconômicas da população. Assinala para a necessidade de se repensar a formação acadêmica dos psicólogos,
privilegiando modalidades de prática psicológica que possam acolher a demanda de sofrimento dos usuários,
privilegiando uma maior articulação com o social.
Palavras-chave: Fenomenologia; Formação do psicólogo; Políticas públicas; Modalidades de prática.
Abstract
Psychologists’ incoming in Public Health was stimulated since the Brazilian Health Reform. However, psychology
formation privileges a traditional clinical model which does not consider this practice’s specificities. Such context
justifies the present research, which aimed to map psychologists’ practice in Municipal Polyclinics from Recife
City. Used Methodology based on a qualitative phenomenological focus. Data were collected through narratives
and interpreted using Giorgi method proposal. Conclusions point to a need to develop an ethical-political clinical
attitude, linked to the population’s historical, cultural and socio-economical dimensions. It also sign the need to
rethink psychologists’ academic formation, privileging modalities of psychological practices that can answer to

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users’ suffering in articulation with social aspects.
Key-words: Phenomenology; psychologists’ formation; public policies; modalities of practice.
Resumen
La inserción de los psicólogos en la Salud Pública fue estimulado a partir de la Reforma Sanitaria Brasileña. Por lo
tanto, la formación en Psicología, al privilegiar un modelo de clínica tradicional, desconsidera las especificaciones
de la práctica en ese ámbito. En este contexto se justifica la presente investigación, que busco cartografiar la práctica
de los psicólogos en las Policlínicas Municipales de Recife. La metodología utilizada se asenta en un enfoque
cualitativo de cuño fenomenológico. Los datos fueron recogidos o escogidos por la vía narrativa e interpretados
atraves del método propuesto por Giorgi. Las conclusiones señalan para la necesidad de desarrollar una actitud clínica
ético-política vinculada a las dimensiones histórico-culturales y socio-económicas de la población. Señala para la
necesidad de replantear la formación académica de los psicólogos, privilegiando modalidad de práctica psicológica
que puedan acoger la demanda del sufrimiento de los usuarios, privilegiando una mayor articulación con lo social.
Palabras-clave: Fenomenología; formación del psicólogo; políticas publicas; modalidades de práctica.

Introdução ao paciente a possibilidade de participação nos atos


da vida social e caracteriza o aniquilamento do sujei-
Ao longo dos anos, foram criadas convenções so- to, então denominado doente mental. Em 1793, Pinel
bre o conceito de doença e o tratamento adequado, trouxe uma importante reflexão sobre o assunto, quan-
tanto na dimensão física do ser humano, quanto na do considerou que a reclusão e isolamento dos pacien-
psíquica. As especificidades variavam de acordo com tes levavam a uma alienação e estimulava a criação
a época, o perfil econômico e político da sociedade e de um mundo e linguagem próprios. Essa condição de
sua organização. No que se refere ao portador de sofri- reclusão e aniquilamento do sujeito, através da priva-
mento mental, a internação foi o recurso mais utilizado ção do convívio social, confirmava a inadequação do
no tratamento por muito tempo. Tal terapêutica nega modelo de confinamento hospitalar, característica da
instituição médica clássica (Tenório, 2001).
1
Endereço de Contato: Rua Nunes Machado, n. 97, apto. 504, Bair-
A essas críticas podemos também somar as refle-
ro: Soledade, Recife, PE. CEP: 50050-590. xões realizadas pelo italiano Basaglia, que, a partir da

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sua atuação como psiquiatra, discordou enfaticamen- destinadas a reverter o modelo assistencial organicis-
te dos tratamentos dados aos pacientes dessas insti- ta e medicalizante que havia” (Dimenstein, 1998, p.
tuições. Essa situação pôde ser vista com frequência 63).
nos hospitais psiquiátricos brasileiros, a exemplo do É nesse momento histórico que o profissional de
Hospital Colônia de Barbacena, instituição essa vi- Psicologia passa a atuar na rede pública de saúde, in-
sitada por Basaglia em 1979 (Antunes, Botelho & serindo-se no setor público de atenção à saúde men-
Costa, 2013). tal. Desde a criação da Psicologia como profissão,
Tal contexto histórico foi o marco disparador da em 1962, a ação do psicólogo estava voltada para a
necessidade de inserir o doente mental na sociedade, atuação na clínica privada, na escola e na indústria,
tarefa assumida pela Reforma Psiquiátrica. Datada centrada na dimensão técnico-científica, alienada do
na virada da década de 1970 para a de 1980, funda- processo histórico e político em que a Psicologia es-
mentava-se nas críticas de maus tratos, abandono, tava inserida. A partir da década de 1980, uma nova
fraudes no financiamento e em todos os excessos e problemática se impõe à Psicologia, advinda da inser-
desvios constatados nos hospícios (Tenório, 2001). ção dos psicólogos na rede pública de saúde sob a in-
A Reforma objetivava responder às questões sociais, fluência da Reforma Psiquiátrica. No entanto, apesar
políticas, clínicas e, principalmente, à crise do mo- desse novo direcionamento,
delo hospitalocêntrico e aos esforços dos movimen- [...] os cursos universitários de psicologia, parti-
tos sociais pelos direitos dos pacientes psiquiátricos. cularmente os de graduação, se mostraram geral-
Buscava possibilitar a recuperação da cidadania dos mente inertes frente aos desafios dos novos campos
asilados, defendendo a convivência social com a lou- de atuação profissional na área pública, repetindo
os padrões hegemônicos de formação voltados
cura e, nessa direção, um processo de politização na
para uma prática clínica nos consultórios privados.
prática clínica, com novas formulações em relação a (Vasconcelos, 2004, p. 76).
essa prática e propostas de reformulação legal nas po-
líticas públicas de saúde. Nesse sentido, o psicólogo brasileiro – inserido
O movimento da Reforma Psiquiátrica teve como na rede pública – deparou-se com questionamentos
meta principal a luta antimanicomial convocando a sobre sua prática, até então fundados em modelos
todos para a discussão e reconstrução da relação com técnico-científicos derivados da Ciência da Natureza
o louco e a loucura. O marco dessa luta foi a VIII Moderna e transportados para a constituição da
Conferência Nacional de Saúde realizada em 1986, Psicologia sem uma explicitação e diferenciação de
essa conferência teve um papel primordial em todo seu objeto de estudo, gerando os grandes sistemas
o movimento desencadeado pela crítica ao modelo psicológicos sustentados por uma pseudo unidade da
hospitalocêntrico e apresentou as bases da Reforma Psicologia (Cimino & Barreto, 2013). E, em

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Sanitária: [...] decorrência desse tipo de formação e da cultura
mais difusa na categoria, os psicólogos que entra-
- concepção ampliada de Saúde, entendida numa
ram na rede pública se mostraram completamente
perspectiva de articulação de práticas sociais e
despreparados para os novos desafios e serviços
econômicas;
que encontraram, tendendo a repetir nos serviços
- saúde como direito de cidadania e dever do Es-
ambulatoriais, com clientela oriunda principalmen-
tado;
te das classes populares, o padrão de prática hege-
- instituição de um Sistema Único de Saúde que tem
como princípios fundamentais a universalidade, a mônico nas clínicas privadas. (Vasconcelos, 2004,
integralidade das ações, a descentralização e hierar- p. 76).
quização dos serviços de saúde; Assim, a prática do psicólogo na Saúde Pública
- participação popular e controle social dos serviços tem se ancorado, predominantemente, nos saberes da
públicos de Saúde (Dimenstein, 1998, p. 62). clínica psicológica tradicional sem que haja revisão
Apesar de se configurar como um fator inédito no e/ou contextualização, e colabora com a percepção
que tange às discussões sobre a história das políticas social da psicologia como sinônimo de psicotera-
públicas de saúde, dada a representatividade da so- pia. Esse cenário aponta para a necessidade de um
ciedade civil nas discussões pautadas nessa conferên- redirecionamento da prática psicológica indicando a
cia, algumas críticas ao seu relatório são apontadas urgência de uma atuação atravessada por uma série
na I Conferência Nacional de Saúde Mental (CNSM). de questionamentos político-sociais e comprometida
E, como um dos eixos de discussão da I CNSM, são com a dimensão ético-política da profissão. Assinala,
apontadas importantes necessidades no tocante às assim, para a necessidade de construção de modali-
políticas de recursos humanos, indicando inclusive, dades de prática que atendam a essa nova demanda,
a necessidade de reformulação curricular para a for- contextualizando as problemáticas emergentes das
mação de profissionais de saúde, além da contratação diversas comunidades atendidas. Esse ‘outro’ modo
de novos profissionais. E, como um dos requisitos de implicação da prática no contexto da saúde cole-
básicos levantados pela I CNSM, foi a “implantação tiva acolhe, de modo efetivo, a demanda das classes
e privilegiamento das equipes multiprofissionais na sociais menos favorecidas, o que vem gerando uma
rede básica e nos hospitais e de práticas ambulatoriais revolução no que se refere aos modelos dos servi-

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ços psicológicos tradicionais, que são voltados para existencial vem desenvolvendo pesquisas e trabalhos
o atendimento de uma minoria pertencente às clas- que contemplem diferentes possibilidades de práti-
ses média e alta. O crescente envolvimento com os ca psicológica, as quais têm se mostrado eficazes no
serviços ofertados pelas Unidades Básicas de Saúde, atendimento ao sofrimento contemporâneo, entre eles
vinculadas à assistência em Saúde Pública, “vem ge- destacam-se: plantão psicológico, psicodiagnóstico
rando desafios e angústia para os psicólogos compro- colaborativo e oficinas de criatividade. O Plantão
missados com uma transformação pessoal. Para que Psicológico surgiu nos anos 1960, sob a coordenação
esta se efetive, faz-se necessária outra postura, outra de Rachel Rosenberg e Oswaldo de Barros Santos,
forma de conceber as relações sociais, o homem, a sendo considerado um serviço inovador de atenção
vida” (Andrade & Morato, 2004). psicológica prestado à população. É um atendimen-
Retomando o foco da Reforma psiquiátrica, to destinado a pessoas que necessitam de uma ajuda
novos mecanismos de cuidado foram apresentados especializada, no momento da demanda, ampliando
no Projeto de Lei 3657 de 1989 – “Lei da Reforma suas compreensões acerca da situação vivida e bus-
Psiquiátrica”, aprovado somente em abril de 2001. ca de soluções concretas e circunscritas à realidade
Apresentava artigos que apontavam para modifi- sociocultural da clientela atendida (Barreto, 2009).
cações substanciais, no entanto ainda indicava uma Pode ser implantado em ambiente clínico, educacio-
postura tímida em relação à substituição asilar. É im- nal, comunitário ou institucional. Outra importante
portante ressaltar que a referida Lei regulamenta o modalidade de prática psicológica a ser considerada
funcionamento dos Centros de Atenção Psicossocial é o psicodiagnóstico colaborativo, que se constitui
(CAPS), além de deliberar também assistência em como uma proposta diagnóstica que considerada o
outros dispositivos, como por exemplo, os Serviços cliente como um parceiro ativo do processo (Yehia,
Residenciais Terapêuticos, criando moradia para 2009). Nesse sentido, cliente e psicólogo participam
clientela egressa de longa permanência institucional. e constroem em conjunto as possibilidades diagnósti-
Tal perspectiva coincide com a proposta de uma cas de modo a beneficiar o cliente com intervenções
“clínica ampliada”, que aponta para a necessidade de durante o processo, através de uma compreensão
buscar outros saberes/fazeres extraclínicos, neces- mútua para a solução dos problemas. A Oficina de
sários à reformulação do conceito de doença mental Criatividade é outra modalidade a ser considerada;
oriundo da clinica tradicional. Esse olhar supõe uma trata-se de atividades realizadas em grupos – que po-
não valorização da doença ou da sintomatologia tra- dem ser oferecidas em diferentes contextos – e utiliza
dicional, privilegiando um voltar-se para a existência recursos expressivos para o acesso à experiência do
da pessoa doente em sua totalidade, valorizando tanto cliente (Cupertino, 2008). Tal modalidade de prática
as condições objetivas de vida, como as subjetivas aponta para o trabalho do psicólogo – voltado para

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(Tenório, 2001). uma postura de facilitador do processo de transforma-
Pesquisas já assinalam diversas dificuldades ção – gerado a partir do esclarecimento da demanda
encontradas pelos psicólogos que atuam na Saúde dos clientes. Após essa breve apresentação das moda-
Pública (Dimenstein, 1998; Yamamoto & Cunha, lidades de prática psicológica, voltamos a enfocar o
1998; Lima, 2005; Carvalho, Bosi, & Freire, 2009). objetivo principal da pesquisa - cartografar o trabalho
Os resultados apontam para três principais fatores di- realizado por psicólogos nas Unidades Ambulatoriais/
ficultadores: a inadequação da formação acadêmica Policlínicas da Rede Municipal de Saúde da cidade
para a atuação do psicólogo em instituições de Saúde do Recife.
Pública, dificuldade de adaptar-se às condições de Diante desse contexto, considerando as possi-
perfil profissional exigido pelo SUS e a transposição bilidades apresentadas e buscando indicadores que
do modelo hegemônico de clínica psicológica tradi- possam nortear a adequação entre a formação aca-
cional para o setor público. Os fatores expostos pelas dêmica do psicólogo e a prática psicológica que de-
pesquisas mencionadas corroboram para a transposi- senvolve nas Unidades Ambulatoriais, justifica-se a
ção do modelo de atuação tradicional de clínica pri- importância desta pesquisa. Nessa direção, é de fun-
vada para Saúde Pública, o que gera uma prática des- damental importância que busquemos compreender
contextualizada, não atendendo muitas vezes às reais a prática dos psicólogos na Saúde Pública, suas di-
demandas da clientela. As especificidades da Saúde ficuldades e especificidades. Para tanto, realizou-se
Pública demandam maior flexibilidade por parte dos um mapeamento das modalidades de prática psico-
psicólogos exigindo novas possibilidades de prática lógica desenvolvidas pelos psicólogos nas Unidades
psicológica, contextualizadas e constituídas com os Ambulatoriais dos diversos territórios sanitários da
atravessamentos das dimensões políticas e sociais. cidade do Recife; e buscou-se identificar o paradigma
Assim, um horizonte de possibilidades se faz de ciência que referenda tais modalidades de prática,
necessário para o atendimento das diferentes de- buscando explicitar seus efeitos, tanto no modo como
mandas da clientela usuária dos serviços, de forma os psicólogos compreendem o sofrimento e o desam-
a contemplar o compromisso ético-político da pro- paro social dos usuários do serviço público de saúde,
fissão. Como proposta, a psicologia fenomenológica como nas diversas formas de intervenção.

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Diante da amplidão da rede pública, optamos enquadram nessa perspectiva. Na presente pesquisa,
por cartografar a ação do psicólogo nas Unidades optou-se pela fenomenologia pautada no pensamento
Ambulatoriais – Policlínicas da cidade do Recife, de Edmund Husserl (1976/2008). A fenomenologia
distribuídas nos seis Distritos Sanitários, estes no husserliana, conhecida também como fenomenologia
momento da realização da pesquisa, contavam com pura, considera fenômeno aquilo que se torna pre-
nove Unidades Ambulatoriais - Policlínicas. Tal de- sente e pode ser conhecido por meio da consciência.
limitação justifica-se pelo fato de que a presente pes- Segundo ele, a consciência humana é intencional,
quisa está inserida em um projeto mais amplo, onde ou seja, ela é sempre consciência de alguma coisa,
as demais instâncias de atenção psicológica foram es- cabendo à fenomenologia o estudo da significação
tudadas por outros pesquisadores (CAPS, Programa dessas vivências. Para tanto, propõe “voltar às coisas
de Saúde da Família, entre outras). mesmas” como acesso às essências contidas no modo
de aparecer dos fenômenos que permite aproximar
Material e Métodos dos conceitos que distinguem e classificam os fatos.
Indica a necessidade de suspender os juízos em rela-
Na presente pesquisa, o método utilizado recorreu ção ao mundo transcendente (mundo exterior) para
a um enfoque qualitativo e privilegiou a perspectiva chegar ao fenômeno. Essa postura denominou-se “re-
clínica interventiva de cunho fenomenológico, como dução fenomenológica” e, através dela, é que se che-
estratégia para o acesso e registro da experiência clí- ga à essência do fenômeno em questão.
nica de psicólogos no âmbito da Saúde Pública. Quanto à metodologia de pesquisa, a psicologia
O enfoque qualitativo pressupõe “que as pessoas fenomenológica vincula-se à filosofia interpretati-
agem em função de suas crenças, percepções, senti- vista (Schawandt, 2008). Toda ação humana é con-
mentos e valores, e seu comportamento tem sempre siderada significativa, ou seja, possui um conteúdo
um sentido, um significado que não se dá a conhecer intencional, cabendo ao pesquisador compreender o
de modo imediato, precisando ser desvelado” (Alves, significado que constitui essa ação. A compreensão
1991, p. 54). interpretativa tem três diferentes formas, são elas:
O caráter interventivo, próprio do agir clínico, ao identificação empática, sociologia fenomenológica e
possibilitar espaço para que alguém conte sua expe- jogos de linguagem. A presente pesquisa é baseada na
riência, enfocando o trabalho cotidiano, oportuniza a compreensão pela identificação empática, que busca
elaboração da experiência no próprio ato de contar. captar o significado contido na experiência dos psicó-
O conhecimento passa a ser construído na ação entre logos, ou seja, requer entender a intenção subjetiva do
os envolvidos, momento em que o participante narra ator a partir de dentro (crenças, desejos) de maneira

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sua experiência e o pesquisador acolhe a narrativa e, objetiva.
de alguma forma, dá um retorno ao entrevistado, que Tal atitude, segundo Souza e Cury (2009), consis-
passa a assumir o papel de coparticipante da expe- te num processo especifico para abordar a consciên-
riência. Nessa postura metodológica, o pesquisador cia e a experiência humana imediata, com o objetivo
assume a atitude “de um estar junto”, na qual é gera- de fazer uma análise fenomenológica das vivências
da a oportunidade de construção e comunicação do relatadas. Pode ser definida como um tipo de observa-
conhecimento, possibilidade criativa característica do ção sistemática e de descrição da experiência de um
humano. indivíduo consciente, numa dada situação.
Assim, o pesquisador passa a ser uma parte im- Nesse contexto, apreender a experiência dos psi-
portante da pesquisa, demandando contato direto e cólogos – considerados sujeitos colaboradores – nas
prolongado com o campo a ser pesquisado, buscando policlínicas significa criar um espaço para que falem
interagir com os participantes a fim de apreender o de sua experiência no atendimento aos usuários. Tal
significado atribuído aos fenômenos estudados. Uma experiência foi “colhida” pelo depoimento oral dos
investigação de inspiração fenomenológica caracteri- profissionais colaboradores.
za-se por: A metodologia de relatos orais se sintoniza com a
concepção de narrativa, adotada nesta pesquisa, e ba-
[...] sempre colocar em andamento uma interroga-
ção. É perguntar. Não se sai em busca da compre- seia-se nas reflexões de Benjamin (1989). Para o refe-
ensão de um fenômeno tentando aplicar sobre ele rido autor, a narrativa possibilita entrar em contato e
uma resposta já sabida sobre ele mesmo. Investigar elaborar (tematizar) a experiência vivida, privilegian-
não é, assim, uma aplicação sobre o real do que já do a manutenção de seu caráter artesanal como forma
se sabe a seu respeito. Ao contrário, é a ele que per- principal de comunicação dos narradores. Permite,
guntamos o que queremos saber dele mesmo. (Cri- assim, uma compreensão abrangente e integradora
telli, 1996, p. 25). das vivências dos participantes, respeitando a rique-
Em relação à fenomenologia, é importante es- za da experiência contada em seus múltiplos senti-
clarecer que existem diversas possibilidades de ar- dos. Lançando mão da figura do narrador, Benjamin
ticulações metodológicas, no sentido em que há di- ressalta a ambiguidade que sustenta a elaboração da
ferentes métodos e compreensões possíveis que se experiência, condição que possibilita tanto a singu-

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larização como o conhecer sua própria história, no cadas, buscou-se o que havia de comum nos relatos
próprio lugar em que está. de experiência dos sujeitos colaboradores, para fins
Considerando a narrativa como instrumen- de confirmação e verificação das convergências entre
to, após anuência dos gestores das nove Unidades as experiências destes sobre a pesquisa contida nas
Ambulatoriais - Policlínicas, os psicólogos foram unidades significativas.
informados sobre a pesquisa e convidados a cola-
borar com o estudo. Dos profissionais convidados, Resultados e Discussão
cinco participaram, e a eles foi solicitado – indivi-
dualmente, e em local previamente combinado – que Como proposto no primeiro momento metodo-
relatassem sua experiência clínica na Policlínica à lógico, foi feita a leitura geral de cada entrevista,
qual estavam vinculados. A narrativa foi estimulada buscando a compreensão do sentido do todo, para,
pela seguinte colocação disparadora: “Fale-me da sua posteriormente, partir para identificação das unidades
experiência nos atendimentos psicológicos realizados significativas que configuram o segundo momento
nas policlínicas”. A partir dessa posição, o pesqui- metodológico. As unidades significativas identifi-
sador atentava para os fenômenos vivenciados pelo cadas nas entrevistas dos sujeitos colaboradores,
sujeito colaborador nas suas experiências profissio- focadas na experiência quanto ao atendimento psi-
nais e buscava enfocar os significados relacionados à cológico nas Unidades Ambulatoriais/Policlínicas,
prática clínica destes. são as seguintes: I) acolhimento do usuário; II) com-
As narrativas/depoimentos foram gravadas com preensão de sofrimento; III) modalidades de prática;
a autorização dos sujeitos colaboradores que aceita- IV) sentimento frente às dificuldades; e V) formação
ram participar da presente pesquisa. Posteriormente acadêmica.
foram transcritos e literalizados – diz-se do processo Com a identificação das unidades significativas,
de trabalhar as narrativas – a fim de tornar o texto passamos para o terceiro momento metodológico, que
mais fluido e acessível à leitura e à compreensão res- se constitui na transformação das expressões cotidia-
peitando-se o texto original. Após a confirmação dos nas dos sujeitos numa linguagem psicológica. Pelo
depoimentos literalizados pelos sujeitos colaborado- fato de os sujeitos colaboradores serem psicólogos,
res, os depoimentos foram interpretados, buscando a os relatos já apresentam uma linguagem psicológica,
compreensão do seu sentido pelo pesquisador. o que facilitou o trabalho dos pesquisadores na ela-
Como método de conhecimento e interpretação dos boração da compreensão empática dos depoimentos.
depoimentos, foi utilizada a proposta de Giorgi (2008). Partindo para o quarto momento metodológico, a fim
Tal método fenomenológico “parte das descrições ou de estruturar melhor a experiência, foi feita a síntese
entrevistas transcritas dos participantes sobre suas ex- das unidades significativas transformadas, constituída

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periências vividas em relação a um fenômeno e con- como apreensão dos fenômenos descritos presentes
tém quatro passos” (Andrade, 2007, p. 34). São eles: no conjunto dos depoimentos. Sempre que possível,
1º) O sentido do todo - De posse das narrativas serão expostos fragmentos da entrevista para exem-
transcritas e literalizadas, buscou-se o sentido do todo plificação da estruturação da experiência dos psicó-
para melhor apropriação da experiência comunicada logos no atendimento em Unidades Ambulatoriais/
e compreensão da linguagem utilizada pelos sujeitos Policlínicas.
colaboradores. Os depoimentos foram lidos diversas Importa esclarecer que a análise não se restringiu
vezes, na tentativa de encontrar os significados rela- à apresentação da compreensão empática elaborada
cionados ao objetivo da pesquisa, buscando apreen- pelos pesquisadores. Optou-se por trazer algumas
dê-los a partir do contato do pesquisador com a expe- reflexões que dialogassem com os autores consul-
riência, considerada como fenômeno, narrada pelos tados que também desenvolveram pesquisas sobre
sujeitos colaboradores. a atuação do psicólogo no serviço público, como
2º) Identificação das unidades de significado - Dimenstein (1998), Vasconcelos (2004), Andrade e
Após o primeiro passo, o pesquisador buscou iden- Morato (2004); além disso, também trazer reflexões
tificar as unidades de significado nas narrativas, pri- de autores que desenvolveram pesquisas, na fenome-
vilegiando a perspectiva psicológica que emerge dos nologia existencial, apresentando outras possibili-
depoimentos conforme significados reais atribuídos dades de prática psicológica, como Barreto (2009),
pelo narrador. Yehia (2009) e Morato (2009).
3º) Transformação das expressões cotidianas dos I) Acolhimento do usuário: O acolhimento segue
sujeitos numa linguagem psicológica - etapa que ob- o modelo de clínica ambulatorial em que o usuário do
jetiva privilegiar as múltiplas descrições dos sujeitos serviço busca uma ajuda, seja para um acompanha-
e elucidar os aspectos psicológicos, num aprofunda- mento inicial ou para dar continuidade ao tratamento
mento teórico que corresponda à compreensão das iniciado em algum dos serviços da rede pública, e é
narrativas. atendido dentro de uma das modalidades de prática
4º) Síntese das unidades de significado transfor- oferecidas. Há também os casos em que os demais
madas - Com as unidades de significado presentifi- setores da Policlínica encaminham o usuário para o

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atendimento no setor de psicologia, pois não foram diante da demanda, experiência acentuada quando
encontradas causas biológicas para os sintomas en- necessitam selecionar os clientes que “precisam” ser
contrados; mas, apesar desse encaminhamento, não atendidos, reconhecendo a dificuldade de tal decisão
há troca entre os profissionais envolvidos. Os psicó- diante de sintomas e sofrimentos mentais graves.
logos afirmam que, entre os casos que foram encami- Nessa direção, podemos inferir o quanto a objetivida-
nhados e aqueles que são considerados urgentes, os de metafísica da atuação profissional assume impor-
últimos são priorizados. Nesse sentido, percebemos tância secundária diante das ‘coisas como aparecem’
posturas diferentes em relação à grande procura, que (Goto, 2008).
gera a lista de espera, uma vez que alguns psicólogos, Compreensão de sofrimento: Em relação à com-
pelo modo de marcação da Policlínica, sequer têm preensão do sofrimento vivenciado pelos usuários das
acesso ao número de usuários que não são atendidos. Policlínicas, os psicólogos ressaltam que ele possui
Já alguns profissionais relatam que, diante da grande íntima ligação com os fatores familiares, culturais,
procura e aliada ao pequeno número de profissionais econômicos, políticos e sociais. Diante de tamanha
para o atendimento aos usuários, muitas vezes se faz amplitude, os recursos clínicos se mostram insufi-
necessário uma ‘seleção’ daqueles que serão atendi- cientes para responder às queixas, que trazem sofri-
dos, já que não há vagas para todos. mentos muito concretos.
PSI 01: “a demanda de psicologia é grande... há PSI 1: “[o paciente] vive num contexto tão comple-
momentos de saturação... quando encontro aquele xo de sofrimento, junto a outros, que a intervenção
corredor cheio... e digo para mim mesma... o que eu feita ali, no espaço clínico, é uma intervenção pe-
tenho é muito pouco para favorecer... não há vagas quena frente ao que está sendo revelado”.
para a realização de atendimentos mais específicos
PSI 04: “Uma angústia existencial como qualquer
que requerem tempo... essa é uma das dificuldades
criatura na face da terra... o fato de serem pesso-
na prática psicológica em Policlínica Pública... não
as pertencentes a uma classe econômica muito
há vaga para todo mundo, e você tem que favore-
carente... mas as necessidades são... angústias...
cer um limite... às vezes, é preciso selecionar quem
preocupações... dificuldades... dificuldades com
entra... isso é difícil porque os sintomas são graves,
emprego... problema familiar... violência... violên-
e o sofrimento mais ainda... um sofrimento mental
cia doméstica... separação... adolescentes com...
que precisa de uma intervenção... não temos como
problemas de aprendizagem...”
atender...”
Diante de tais relatos, percebe-se a consciência da
Nessa direção, Amatuzzi (2009) ressalta que uma
insuficiência da intervenção psicológica realizada, o
psicologia de inspiração fenomenológica é, princi-
sofrimento dos usuários revela carências que apon-
palmente, caracterizada pela importância que dá ao
tam para a necessidade de uma ação interdisciplinar.

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vivido, pois nele que o fenômeno se manifesta, reação
Para além de tal percepção, os psicólogos entrevista-
essa antes mesmo de uma reflexão ou elaboração de
dos reconhecem também o fato de, no geral, o público
conceitos teóricos. Tal situação pode ser vislumbrada
não conhecer o trabalho de um psicólogo, frequen-
no depoimento acima que ilustra as inquietações so-
tando o serviço porque foi encaminhado ou porque
fridas pelos profissionais frente à demanda que, muito
quer ser medicado. Tal situação demanda um trabalho
embora surja de uma necessidade conceitual - psico-
psicoeducativo por parte do psicólogo, para que haja
logia -, coloca os profissionais frente às pessoas. E
o reconhecimento da importância do investimento do
esse ‘encontro’ emerge nos profissionais a necessida-
usuário no atendimento psicológico oferecido. Sousa
de de “... lidar com a angústia através de movimentos
corrobora com essa visão, indicando que a Saúde
construtivos e reflexivos. Tais movimentos partem da
Pública aponta “para uma polissemia tanto no apren-
experiência prática para uma reflexão sobre os recur-
dizado em psicologia, quanto nas invenções e inova-
sos teóricos permitindo a elaboração de novos con-
ções” (Sousa, 2006, p. 53) para atender à diversidade
ceitos” (Cimino & Barreto, 2013, p. 451).
e singularidade própria da prática nesse contexto.
Em relação às queixas dos usuários, os profissio-
nais relatam que o modelo da clínica psicológica em PSI 02: “[...] existem muitos casos de abandono
também algumas... alguns casos porque há uma
ambulatório não consegue vislumbrar a totalidade do
melhora às vezes significativa... e eles acham que
contexto em que o usuário do serviço convive, uma aquela melhora já é o suficiente... não tem... por
vez que o contexto é muito amplo e abrange uma pro- mais que seja trabalhado aquela noção que aquele
blemática muito complexa. Nesse sentido, indicam a processo não é só uma melhora da sintomatologia...
necessidade de uma maior articulação entre os servi- mas acontece... como há também aquelas que vêm
ços públicos, como forma de otimizar suas interven- com o contrário... aquela expectativa de que vin-
ções e obter um suporte social. do ao psicólogo é aquela coisa mágica... vindo ao
Apesar de reconhecerem o desencontro entre a psicólogo tudo vai ser resolvido... num curtíssimo
formação e a prática clínica nas Policlínicas e a falta espaço de tempo... então, quando isso não acontece,
muitas vezes há o abandono...”
de articulação entre os diversos setores dos serviços
públicos em saúde, os psicólogos entrevistados re- A situação de abandono do tratamento é associa-
velam, nas suas falas, um sentimento de impotência da a uma remissão dos sintomas ou a uma expecta-

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tiva mágica sobre o poder do psicólogo. Estas são [pois] prioriza a subjetividade humana e aproxima-se
possibilidades compreensivas que acompanham a do método qualitativo ... a Psicologia deve partir de
descrição da pratica exercida, uma tentativa de en- sua própria visão de mundo em sua construção cien-
contrar a “essência do fenômeno” gerado na relação tífica, de um retorno às origens fenomenológicas dos
psicólogo-usuário. No entanto ainda consideram que processos psicológicos”.
o não engajamento ao tratamento proposto centra-se Segundo Andrade e Morato (2004), a possibili-
na dificuldade do usuário de “investir” ou “entender” dade de assumir outras modalidades de prática psi-
o tratamento, como apresentado no relato indicado cológica exige uma transformação pessoal que leva
abaixo: a outra postura, outro modo de conceber as relações
PSI 03: “[...] porque a questão do investimento é sociais, o homem e a vida. Tal mudança implica a
uma coisa complicada... o investimento no trata- suspensão dos conhecimentos definidos previamen-
mento aqui... porque tem pacientes que não conse- te sobre a prática psicológica, exigindo um mergu-
guem investir por mais mobilizados que estejam... lhar na relação intersubjetiva que se estabelece en-
não conseguem... na realidade... entender esse tra- tre psicólogo e usuário, para assim poder intuir sua
tamento.... não conseguem evoluir bem... não con- “essência” (Penna, 2001). Ou, dito de outro modo,
seguem usufruir de todos os benefícios... é como se partir do que se revela na relação intersubjetiva para
não tivesse ainda uma compreensão... têm muitos
questionar o modelo proposto a priori pelo psicólogo,
que procuram... porque... assim... tem ‘n’ motivos..
têm aqueles que procuram para se afastar do tra- fazendo uma redução fenomenológica ao modo de
balho... tem uns que procuram para poder pegar Husserl (1976/2008), na busca de outras modalidades
remédio... e tem aqueles que pegam o remédio e de pratica que venham a acolher a real demanda dos
não usam... naturalmente não é comigo... vai para o usuários.
psiquiatra e ele percebe que precisa de um acompa- III) Modalidades de prática: Apesar da ênfase na
nhamento do psicólogo e aí vem pra cá...” psicoterapia individual, foram encontradas também
Dessa forma, os psicólogos indicam que o usuário as seguintes modalidades de prática: oficina diagnós-
não consegue investir no “tratamento”, por não en- tica, plantão psicológico, ludoterapia e atendimentos
tender a proposta, buscando atendimento psicológico em grupo para crianças, adolescentes e adultos. As
como motivo para afastar-se do trabalho ou ser medi- práticas desenvolvidas enfatizam a dimensão subje-
cado. Fica evidente que, nesse momento, o psicólogo tiva do sofrimento vivido pelos usuários e revelam
não questiona se está atendendo às necessidades do a limitação da ação clínica para acolher a demanda
usuário, não conseguindo abrir-se para outras modali- trazida vinculada às questões concretas que envolvem
dades de prática psicológica. Fica preso à perspectiva condições econômicas, culturais, violência, falta de
da clínica tradicional de acompanhamento em longo moradia, entre outros. Essas possibilidades de atendi-

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prazo, uma vez que são levantados aspectos dificul- mentos foram implantadas para responder ao grande
tadores com relação ao abandono e à falta de inves- número de clientela e à complexidade da demanda, de
timento financeiro por parte do usuário. Dimenstein modo a garantir o acolhimento e acompanhamento ao
(1998), ao pesquisar sobre a prática do psicólogo no sofrimento no serviço prestado. Apesar da implanta-
contexto da Saúde Pública, aponta que modelo clíni- ção de novas modalidades de prática, o atendimento
co na formação e prática profissional do psicólogo in- é considerado insuficiente e é ressaltada para a neces-
fluencia até os dias atuais para a predominância dessa sidade de ampliação do número de atendimento e de
visão clássica da psicologia que, desde o seu nasci- criação de outras modalidades de prática psicológica.
mento, dedica-se a prestar serviços às classes mais PSI 1: “[...] favorece o plantão psicológico que é
abastardas. Nessa direção, reconhecem os fatores cul- a porta de entrada para o atendimento psicológico
no Distrito... temos a oficina diagnóstica [...] Temos
turais e econômicos como fatores invibilizadores do
as grupoterapias... recursos clínicos de atenção ao
acompanhamento, uma vez que os usuários, às vezes, adulto... ao adulto portador ou não de transtorno
não possuem sequer condições financeiras de se loco- psíquico... para o adolescente e o idoso, em progra-
moverem até a Policlínica. mas específicos em que o psicólogo é inserido num
Tal postura diante do fenômeno apontado revela trabalho multiprofissional...”
uma atitude centrada no modelo de clínica já estabe- No entanto a maioria dos serviços realizados pe-
lecido e transportado para a Policlínica, sem conside- los psicólogos entrevistados privilegia o modelo de
rar os fenômenos que emergem da relação intersubje- atendimento individual, em alguns casos norteados
tiva entre psicólogo e usuário, que poderiam apontar pela perspectiva da psicoterapia breve, na tentativa
para outras possibilidades compreensivas, levando á de responder ao grande número de usuários em bus-
busca de outros modos de estar na relação e de exer- ca por atendimento psicológico. Os dados indicam a
cer a prática clínica. Dessa forma, a herança médi- necessidade de redefinição para a formação da ação
ca, apontada por Dimenstein (1998) como necessá- do psicólogo na sociedade, precisando acolher a po-
ria para alcançar o reconhecimento e status social da pulação de baixa renda, que também tem despertado
psicologia, na compreensão de Giorgi (1978 citado o interesse por esse tipo de acompanhamento. Além
por Sousa, 2006, p. 60), é “... a outra possibilidade disso, aponta a necessidade da reformulação do modo

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de funcionamento do serviço prestado nos ambulató- apontando para a insuficiência da intervenção psico-
rios, de forma a discutir sobre o papel dessas unida- lógica frente ao grande número de pacientes e com-
des, e para a necessidade de construção de práticas plexidade da demanda apresentada, confirmando a
que atendam a essa nova demanda, contextualizando especificidade da clínica psicológica e das interfaces
as problemáticas emergentes das diversas comunida- que a rodeiam.
des atendidas. PSI 1: “... são poucos psicólogos na Policlínica
Para além de tais compreensões, importa ressaltar para atender as pessoas que buscam atenção... em
a importância da experiência e dos fenômenos que termos de remuneração, também é algo frustrante...
emergem da relação psicólogo-usuário que apontam fica difícil para nós... Há momentos de saturação...
para a necessidade de uma atitude fenomenológica, quando encontro aquele corredor cheio... e digo
privilegiando a descrição e a compreensão dos fe- para mim mesma... o que eu tenho é muito pouco
para favorecer... não há vagas para todo mundo e
nômenos que emergem de tal relação. Atitude feno-
você tem que favorecer um limite...”.
menológica, conforme indica Penna (2001), consis-
te numa experiência direta das coisas como se dão PSI 2: “As dificuldades que a gente tem primeiro
à consciência. Nessa direção, ao relatarem o modo é em relação ao número de profissionais... que eu
acho que ainda é muito restrito ... é a dificuldade da
como trabalham, os psicólogos descrevem sua ação
frustração... daquele sentimento de tristeza porque
como pautada na clínica individual, mesmo consi- em alguns locais vemos que as pessoas não têm o
derando a possibilidade de uma psicoterapia breve. mínimo para sobreviver... De impotência... inclusi-
Ficam na descrição e no reconhecimento da insufici- ve já citei isso no próprio serviço...”.
ência de tal modelo, não conseguindo voltar-se “para
Nota-se que, embora haja nos profissionais o re-
as coisas mesmas” que emergem na relação intersub-
conhecimento das nuances que a prática em Saúde
jetiva com o usuário.
Pública demanda, ainda predomina o sentimento de
PSI 2: “Temos que trabalhar com os recursos que a impotência, possivelmente gerado pela dificuldade
gente pode... então... faço aqui atendimento indivi-
de apropriação dos conhecimentos necessários para
dual ... Procuramos trabalhar mais com a psicotera-
pia breve... mais focal...”.
a atuação na Saúde Pública. Conhecimentos esses,
diferentes daqueles já referendados tradicionalmente
PSI 4: “O trabalho que eu desenvolvo aqui no ser- na construção da identidade do psicólogo e na forma-
viço público... na policlínica... é um trabalho am- ção profissional. As dificuldades no rompimento com
bulatorial e é um trabalho de psicoterapia com ado-
esse referencial também foi evidenciado por Dias e
lescentes e com adultos ... e eu trabalho da mesma
forma que eu trabalho no meu consultório particu- Muller (2008, p. 58) como um processo “muito difí-
lar...” cil, pois coloca em cheque o fazer do psicólogo e sua

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identidade profissional”. Essa problemática coloca os
PSI 5: “Eu faço atendimento individual nos pacien- profissionais diante de um dilema que, muitas vezes,
tes... eu não trabalho... não tenho formação para
extrapola a compreensão aqui empreendida, mas,
trabalhar em grupo... muito embora... ache interes-
sante a proposta para alguns tipos de transtorno...” que, ao mesmo tempo abre para novos questionamen-
tos, como os que vemos a seguir:
Retomando a reflexão anterior, os depoimentos
PSI 3: “O número de pessoas é deprimente ... eu
acima apresentados confirmam a dificuldade dos psi-
não tenho condição de fazer uma evolução ... tem
cólogos de questionarem e até abandonarem o mo- dias de eu atender 9 a 10 pacientes... num turno de
delo de clínica psicoterapêutica individual, apesar de 4 horas... aí eu me estendo... 5 horas... já aconteceu
reconhecerem a sua limitação para a situação de aten- de eu sair daqui quase 2 horas da tarde... mas não
dimento em serviço público. Reafirmam assim, a ne- tem condições... eles pedem para a gente atender 7
cessidade de “uma modificação de olhar, um direcio- pacientes por dia... não tem condição...”
namento para a investigação da experiência vivida” PSI 4: “... o que a gente faz para sobreviver em re-
(Sousa, 2006, p.60). Nessa mesma direção, Cimino lação ao que acontece é estabelecer contatos... na
e Barreto (2013) refletem sobre esse fenômeno, in- rede ... enquanto o profissional dentro dos limites
dicando a necessidade de um posicionamento profis- do possível a gente vai se ajudando... e vai fazendo
sional que envolva não apenas conteúdos didáticos e/ com que o usuário sofra o menos possível...”
ou teóricos, mas que seja, sobretudo, uma atitude que Nesse contexto, percebemos que, diante dos sen-
envolve um compromisso profissional frente às ques- timentos experienciados, os psicólogos apontam dife-
tões sociais. rentes reações que repercutem no modo como reali-
IV) Sentimento frente às dificuldades: através zam seu serviço. A inquietação frente às dificuldades
do relato dos psicólogos, percebemos que a experi- mobiliza mudanças e aperfeiçoamento nos serviços
ência do atendimento nas Policlínicas gera diversos oferecidos, além de um maior investimento em nível
sentimentos, no entanto o sentimento de impotência pessoal no seu trabalho. A impotência experenciada
frente às diversas dificuldades encontradas perpassa mobiliza os psicólogos, na sua ação clínica, levando a
as narrativas de muitos dos psicólogos. Tal contexto uma maior disponibilização para acolher, compreen-
evidencia os limites da prática psicológica exercida, der e responder à demanda dos clientes. Nesse ponto,

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observa-se que, à medida que é promovida experiên- partir da Reforma Psiquiátrica possam resvalar cada
cia dialógica entre o vivido e a atuação profissionais vez mais na formação/prática dos profissionais de
promovendo rupturas com o estabelecido nos mode- psicologia, bem como nas melhorias necessárias aos
los institucionais e/ou teóricos, aproxima-se assim, atendimentos prestados por eles na Saúde Pública.
da dimensão ético-política necessária para a prática Reverberando a atualidade das críticas outrora feitas
psicológica em Saúde Pública (Cimino & Barreto, por Husserl (1991 citado por Goto, 2008, p. 106),
2013). Nessa mesma direção, Sá (2009) indica que o ao observar que a ciência moderna está carente de
setting clínico não é mais visto na sua ambiência físi- significados, “isso quer dizer que a ciência não tem
ca e/ou conceitual emergindo da própria experiência respondido, e ainda, nem dado a importância para a
no exercício do cuidado. Tal problemática corrobo- existência humana”.
ra as reflexões de Amatuzzi (2009), que indica que o Diante do que foi revelado, nas entrevistas reali-
atendimento e, por consequência, a sua qualidade ad- zadas, percebemos que os dados confirmam os prin-
quirem grande importância no processo clínico “pois cipais fatores dificultadores expostos por Dimenstein
é a partir desta que a capacidade de ver claramente e (1998), Lima (2005), Yamamoto e Cunha (1998),
de orientar a própria conduta por parte da pessoa que Carvalho, Bosi e Freire (2009): a inadequação da for-
se relaciona com o psicólogo vai se estabelecendo” mação acadêmica para a atuação do psicólogo em ins-
(p.98). Reafirmando, segundo o autor, a necessidade tituições de saúde pública, dificuldade de adaptar-se
de a prática psicológica requerer mais que esclareci- às condições de perfil profissional exigido pelo SUS e
mentos teóricos recorrendo, também, às elucidações a transposição do modelo hegemônico de clínica psi-
de experiências vividas em contextos específicos. cológica tradicional para o setor público. Aliados a
V) Formação acadêmica: os psicólogos afirmam esses fatores, ressaltamos, como dificuldades, o gran-
não terem tido apoio de sua formação acadêmica para de número de pacientes, falta de condições físicas e
atuação no serviço público de saúde. As teorias e téc- materiais e número reduzido de profissionais. Os re-
nicas aprendidas são importadas e não se adaptam sultados apontam para a necessidade de reformulação
à realidade brasileira. Tal contexto demanda grande do modo de funcionamento do serviço prestado nos
ambulatórios, de forma a discutir sobre o papel des-
flexibilidade em nível profissional e pessoal por parte
sas unidades, buscando uma eficaz integração com os
do psicólogo, além da necessidade de estudos com-
outros serviços existentes, de modo a potencializar os
plementares. Além dos fatores já discutidos sobre a
atendimentos em número e qualidade.
identidade/formação profissional do ponto de vista
histórico, Dias e Muller (2008) apontam também o
desconhecimento e desvalorização da atuação do Considerações Finais

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psicólogo do serviço público, como reflexos de uma As conclusões apontam para a necessidade de de-
formação que, muitas vezes, não atende às necessida- senvolver uma atitude clínica ético-política vincula-
des dessa população. Segundo tais autores, apesar do da às dimensões histórico-cultural e socioeconômica
crescimento nas demandas e espaços de intervenção da população atendida. Essa postura é percebida por
do psicólogo, aparentemente, “o desenvolvimento te- uma atitude que privilegia uma visão global desse
órico não acompanhou essa prática” (Dias & Muller, usuário, não o desvinculando dos aspectos históricos,
2008, p. 58). Essa reflexão reafirma a crítica da fe- culturais, sociais e econômicos que constituem sua
nomenologia em relação à ciência positivista, que existência. Essa perspectiva deve atravessar a atua-
não valoriza as questões referentes à subjetividade, ção do psicólogo brasileiro na intervenção clínica e
assim, “meras ciências de fatos fazem meros homens não pode ser desconsiderada, devendo tornar-se alvo
de fatos” (Husserl, 1991, p. 6 citado por Goto, 2008, de reflexões e questionamentos.
p.105). Os resultados assinalam para a necessidade de se
PSI 1: “Minha formação não deu condição nenhu- repensar a formação acadêmica dos psicólogos, pri-
ma para eu atender no campo da saúde... Uma ex- vilegiando modalidades de prática psicológica que
periência desalojante...” possam acolher a demanda de sofrimento dos usu-
PSI 6: “... eu sempre fui assim de buscar muito... ários, possibilitando uma maior articulação com o
participar de congresso... de reuniões... sempre es- social. Desse modo, indicam para a necessidade de
tou... em grupo de estudos ... eu acho importante ampliar o campo de atuação do psicólogo, de modo a
você sempre estar se atualizando...” assumir uma preocupação com a população antes ex-
A esse respeito, Sousa (2006) indica, como uma cluída do “cuidado” psicológico. O atendimento nas
possibilidade de transformação na realidade dos Policlínicas exige uma atenção à dimensão coletiva
psicólogos, uma formação que privilegie serviços do sofrimento aliada a uma preocupação ético-políti-
de atenção básica, uma vez que esta possibilitaria a ca da ação do psicólogo, ação esta, não privilegiada
quebra de preconceitos e paradigmas depreciativos na formação acadêmica tradicional.
promovendo uma atitude de defesa e valorização
do SUS. Colabora para que as mudanças iniciadas a

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Recebido: 30/07/2013
Última revisão: 26/04/2016
Aceite final: 26/04/2016

Sobre as autoras:
Ana Paula Noriko Cimino – Instituto Brasileiro de Gestão & Marketing. Mestre em Psicologia Clínica
pela Universidade Católica de Pernambuco e docente da graduação e pós-graduação (lato sensu) do Instituto
Brasileiro de Gestão & Marketing – Faculdade IBGM. E-mail: ananoriko@hotmail.com
Danielle de Fátima da Cunha Cavalcanti de Siqueira Leite – Doutoranda em Psicologia Clínica pela
Universidade Católica de Pernambuco, Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade Católica de Pernambuco
e docente da pós-graduação (lato sensu) do Instituto Brasileiro de Gestão & Marketing – Faculdade IBGM.
E-mail: daniellesiqueira_psico@hotmail.com

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