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Simpósio Fortaleza
Simpósio Fortaleza
que a memória substitui por imagens capazes de conter elas próprias o vazio e assim o
transportarem. Aquilo que o poema conta é a formação da recordação (2012, p. 49). E
continua mais à
50). Para esclarecer esse jogo entre recordação do real e recordação em devir na poesia, Lopes
alerta- não se possa confundir com uma subordinação da poesia aos
factos ou ao verossímil, justamente aquilo que do real é limitado ao que alguém sente ou admite
autonomia da literatura deve ser repensada. Ela não deve esmagar o acontecimento, mas ser o
acontecimento mesmo. Temos, assim, um ser escritural entre o testemunho e a ficção e não se deve
propor a desconstrução de um ou de outro, pois a literatura seria feita desse duplo. A partir desse
jogo da linguagem, propomos este simpósio que acolherá trabalhos voltados para a discussão do
trabalhos que façam uma análise imanente do texto literário, com o foco em seus procedimentos
estéticos e as possíveis questões teóricas, históricas e filosóficas que possam auxiliar a discussão.
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Se considerarmos os sentidos que a poesia lírica assume ainda hoje para um amplo espectro de
leitores, observaremos que a expectativa predominante é marcada por traços românticos: um poema
será a expressão em versos de inquietações sentimentais do eu-lírico, que o distanciam do mundo
empírico em direção à busca pelo ideal, realizada a partir de um conjunto de vocábulos e formas
predefinidas como poéticas. A formação da sensibilidade estética na contemporaneidade conserva,
pois, o imaginário romântico como paradigma na definição do poético. Tal definição importa na
medida em que teóricos discordantes como Hugo Friedrich (A estrutura da lírica moderna) e
Michael Hamburger (A verdade da poesia) partem do pressuposto de que a poesia que se
impressão de obscuridade. A poesia de Charles Baudelaire, tomada como síntese das tensões que
seriam desenvolvidas por algumas das vertentes da poesia moderna e contemporânea, propõe certas
mal, esse personagem é o poeta em busca de matéria para sua poesia, aproveitando do mundo aquilo
que até então não fazia parte das imagens poéticas confeccionadas pelo romantismo, o que resultará
o, na medida em que
a busca pelo ideal está no centro da poética baudelairiana. Para um crítico como Octávio Paz (Os
O simpósio temático ora proposto visa congregar e compartilhar comunicações sobre literaturas
contemporâneas, que dialoguem com a literatura do passado numa perspectiva comparada,
ressaltando os aspectos transnacionais, culturais, e de movimentos emigrantes na escrita do
romance. O retalho de perspectivas em que o romance contemporâneo trabalha traz não como
tradição, mas renovação a temática da terra e do amor. Se no século XIX o quadro de referências
do romance era tratar do nacional, nesses primeiros decênios do século XXI as referências são de
ordem cultural, em que ainda se encontram em processo de transformação onde o tema do amor e
da terra se renovam (JOBIM, 2013). Os romancistas brasileiros do séc. XIX, seguiram os modelos
europeus, e influenciaram nossos hábitos de leitura, com estereótipos que se fixaram em nossa
imaginação, cujos pressupostos em parte não pertenciam ao Brasil ou apresentavam-se alterados
(SCHWARZ, 2000). Com reservas às proporções devidas, muito do que se produziu no
Romantismo no Brasil influenciou a literatura modernista. É possível que Macunaíma esteja para
Iracema, como Grande Sertão para Til. O corpo geográfico brasileiro, o índio, a esfera social, entre
outros elementos participam, com proporção, da inventividade do que é brasileiro, graças à
produção alencarina e de Euclides, por exemplo. A literatura contemporânea ainda sofre influênc ias
dessa literatura de dois séculos atrás: são exílios, buscas por melhores condições, o falar da terra
brasilis por diferentes enfoques. Escritores do Agora, como Antônio Torres e Milton Hatoum a
título de ilustração compactuam deste passado que se faz presente dialogando e estreitando as
distâncias de lugares. Entretanto percebemos que não há mais um lugar fixo que defina e delimite as
personagens, ao contrário, o lugar de origem e o atual das personagens não as pertence mais, pois
tornaram-se nômades sendo definidas pelos laços culturais que cultivam em maior ou menor
instância de suas vidas. Os romances contemporâneos, em que o alargamento do presente e o
compartilhamento de convivência são uma constância, mostram- nos que o romance de ontem foi
revigorado nos seus aspectos culturais, em consonância com os blocos transnacionais.
O subjetivismo romântico, uma das características mais marcantes do conjunto de cultura e arte que
se monta e se estende entre o final do século XVIII e a primeira metade do século XIX, indicava
uma radical ruptura com a orientação pragmática e normativa que a literatura clássica propunha; a
partir de então, e durante décadas, predominaram noções como a de sujeito e a de livre imaginação,
ambas conectadas entre si por um fundamento de misticismo cristão (sendo essa conexão o eixo da
chamada metafísica ocidental). Os modernismos artísticos, desde as primeiras décadas do século
XX, retomam o individualismo e a relativa iconoclastia da arte romântica e os radicalizam,
provocando uma explosão dos códigos éticos e estéticos de até então, de modo que, da liberdade
romântica que tinha como horizonte certos valores já mencionados (individualismo, religiosidade,
primado da emoção), a cultura artística no ocidente corre para uma liberdade destituída de uma base
de valores, que, assim, pôde transitar entre o niilismo mais mórbido e o construtivismo mais
engajado. Isso, como construção de arte, mas também como transformação das apreensões
existenciais disponíveis ao senso-comum, é algo que vai sendo detectado por diversos pensadores,
como se exemplifica, ao menos de forma restrita, no conceito de ser na obra de Martin Heidegger
ou o de porvir na obra de Maurice Blanchot, sem contar com discussões posteriores como o
inconsciente discursivo lacaniano, a différance derridiana ou o estilhaçamento do sujeito moderno
como detectado por Michel Foucault. A escrita contemporânea, dessa maneira, toma a abertura
relativa da escrita romântica e a extrapola, de modo que se torna uma subversão potencial do
próprio romantismo e mesmo de si própria. Como contraponto inexato à abertura cada vez mais
radical da escritura desde o romantismo, tem-se a possibilidade da inscrição particular, da rasura, do
risco, que pode vir a compor cartografias inesperadas, ocorrências circunstanciais, o ente como
rasura do ser, tensões políticas como limiar entre a diferença e o em-comum impessoal, a história
como a disparidade entre os discursos que a narram e o deteriorar das periodizações, o
multilinguismo (entre idiomas ou gêneros discursivos) como tensão entre culturas e ânsia pela
linguagem primordial, que sempre existiu, fantasma de qualquer língua, que nunca se cala quando a
palavra silencia, e que nenhum discurso formula. Esta proposta de simpósio, assim, visa a reunir
experiências críticas que sejam cartografias do contemporâneo na literatura com foco na
experimentação constante ou obsessiva, diante do abismo-devir que invade continuamente a
escritura e a caracteriza como o que continua sem nenhum caráter.
O presente Simpósio tem como objetivo proporcionar reflexões acerca da alteridade. Em nossa
pesquisa atual, para abordar a temática, estudamos a obra de Cecília Meireles e o olhar que a autora
lança ao Oriente, especialmente, à Índia. Cecília Meireles foi grande conhecedora e divulgadora da
cultura oriental, o que se revela tanto em sua obra poética, como em sua prosa. Além disso, a autora
foi tradutora de vasto material da literatura oriental, dentre os quais, Poemas Chineses (1996),
Poesia de Israel (1962), o romance Çaturanga (1962) e a peça teatral O carteiro do Rei (1961), de
Rabindranath Tagore, escritor indiano com o qual Cecília Meireles manteve afinidades ideológicas
reconhecíveis ao longo de sua produção literária. A partir das reflexões acerca do olhar ceciliano
lançado ao Oriente, pesquisamos o tema da alteridade, principalmente, por meio das ideias de
Tzvetan Todorov em A conquista da América. Embasadas pela afirmação do autor de que o modelo
de colonização da América é o que funda o sujeito ocidental moderno, reconhecemos, na história da
literatura, a repetição desse modelo de colonização, de maneira subjetiva e subjacente. As traduções
de Rabindranath Tagore para a Europa, no início do século XX, são um exemplo desse processo.
Em geral, suas traduções foram editadas e organizadas para o "gosto" ocidental. Tal rearranjo e
edição de obras literárias orientais é tema abordado por Edward Said (2007), em Orientalismo, livro
que compõe este corpus de pesquisa. Também, Janet Paterson (2007) é importante para nosso
estudo, pois a autora afirma, em consonância com Todorov e Said, que a questão da alteridade está
na raiz da guerra, da discriminação e do racismo. Por meio das leituras sobre o olhar do colonizador
lançado ao "outro" e o olhar da poeta Cecília lançado ao Oriente, estabelecemos um contraponto
que nos possibilita fazer reflexões abrangentes sobre o comportamento que estabelecemos em
relação com o "outro" diferente de nós. Através da literatura, é possível entabular um
relacionamento com o "outro" que não seja a repetição, mesmo que de forma oculta, do modelo
colonizador. Assim, neste Simpósio, serão benvindos trabalhos que possam dialogar com a questão
da alteridade, bem como com a obra de Cecília Meireles e outros escritores, e, ainda, com as
relações entre Ocidente e Oriente, no que se refere à literatura.
afirma que o
Brasil é marcado, desde sua formação, por uma forte sustentação de políticas autoritárias e elitistas.
Os processos de transformações sociais desenvolvem-se a partir de interesses de alianças, o que
desarticula as mobilizações sociais, prevalecendo imposições violentas e excludentes, mesmo em
2012, p. 237). A violência e a repressão atingem diretamente a linguagem, demonstrando que nosso
processo civilizatório nos deixou miseráveis, restando-nos, sobretudo, a força do corpo. Sendo
assim, esse simpósio temático tem como objetivo principal discutir a presença da violência na
literatura brasileira contemporânea e o efeito que ela causa à nossa sensibilidade e reação artística.
O debate sobre a genialidade é extenso e quase tão antigo quanto a própria literatura. Sua ocorrência
percorre desde especulações filosóficas correlacionando arte, gênio e melancolia expressas
no Problema XXX, I de Aristóteles, até algumas perspectivas com pretensões científicas do século
XIX, como a de Taine, que buscavam compreender o gênio como uma forma condensada da índole
do povo e dos Estados Nacionais. O gênio seria considerado ainda a expressão do singular
equilíbrio entre natureza e espírito defendido pelo romantismo, principalmente Schiller e
a bildung alemã, ou o meticuloso, distanciado e metódico observador da realidade proposto por
certas vertentes sociológicas, como o Flaubert apresentado por Bourdieu. Os exemplos correntes de
marcos definidores e distintos em sua realização parecem animar um amplo mapa dessas
nomeações de genialidade. As razões identificáveis para o destaque de uma elevação de
sensibilidade como a de Homero, Virgílio, Dante, Shakespeare, Goethe, Machado de Assis, Proust,
Kafka, no âmbito literário, ou nas artes, nas inteligências realizadoras em outros âmbitos, podem
estimular estudos que reconheçam como se consubstanciam as forças que fazem emergir essa ideia
em destaque. A discussão em torno da genialidade nos conduz ainda para a compreensão do status
conferido à própria literatura e suas categorias adjacentes, como imaginação, estilo e observação. A
literatura é a expressão de um modo de pensar e sentir específicos de determinado tempo e
sociedade, ou fruto da criatividade subjetiva? E esta criatividade proviria de uma capacidade
subjetiva grandiosa, como deuses em miniatura e seus parâmetros de perfeição humana, ou, pelo
contrário, através da sensibilidade doentia de um Dostoievski? Este simpósio se interessa pela
problemática acerca dos variados temas ou casos específicos que discutam a elaboração do gênio,
da produção social ou mesmo da articulação entre os vetores que formem esses exemplos. Aqui
cabem, portanto, propostas disciplinares ou interdisciplinares que viabilizem a presença de marcos
históricos, apagamentos contextuais ou resgate de algumas das formas de reconhecimento da noção
de genialidade que, no geral, identifica uma época. O objetivo é debater este tema, não com a
finalidade de estabelecer um critério geral, mas, através da exposição de variadas vertentes teóricas
e literárias, ser possível transitar por diversas concepções estéticas sobre a relação entre texto e
contexto encarnados na atividade criativa.
Se no mundo moderno o autor e a escrita conhecem um lugar de prestígio, nem sempre foi assim.
Ao longo dos tempos, a história literária se compõe também de coletividades orais na composição
de narrativas e poemas escritos. Observa-se na literatura clássica, medieval e contemporânea que a
forma literária foi tencionada de modo a fazer a voz um elemento marcado na obra literária, ao que
se chama oralidade. Paul Zumthor assevera que a voz tem forte função coesiva em comunidades
porque uma de suas funções consiste em exaltar o grupo no consentimento ou na resistência. O
referido crítico ocupa-se em seus textos de uma sociologia da voz, sobretudo, quando nos informa
acerca de seu papel na sociedade. Igualmente relevante para os estudos literários são os efeitos de
sentido dessa presença residuamente obstinada na tradição escrita. Idelette Muzart Fonseca dos
Santos chama a atenção para o entrelaçamento entre a voz e a escrita, especialmente, por meio da
literatura de cordel. Em virtude disso, justificam-se os pressupostos que norteiam a literatura
popular do Nordeste brasileiro, conservada pelo cordel e prática da cantoria. Assim, este simpósio
ocupa-se dos estudos que abarcam o modo de estruturação e a semântica da voz em textos de
tradição popular ou erudita da literatura contemporânea. O debate pretende trazer à discussão os
métodos de abordagem da oralidade, bem como os autores em que se verifique a presença da voz
enquanto elemento marcante para a cultura literária.
9 Relações entre infância, lite ratura e outras artes: novos sentidos do texto
Coordenadores:
Maria Edinete Tomás (UVA Sobral) - editomas@hotmail.com
Margarida Pontes Timbó (UFC) - guidinhapontes@yahoo.com.br
Benedito Teixeira de Sousa (UFC) - benitoteixeira@gmail.com
Este simpósio objetiva congregar trabalhos que promovam o diálogo entre literatura, teatro, cinema,
pintura e quadrinhos, que tematizem a infância, estimulem a reflexão sobre as personagens infantis
veiculados pelos diferentes recursos midiáticos, os novos sentidos e símbolos que recebem. Sendo
assim, pensa-se que os estudos agregados a este simpósio discutam processos de significação das
personagens infantis representados em narrativas literárias, cinematográficas, pinturas e histórias
em quadrinhos, transpostas e ressignificadas em outras linguagens artísticas. Como possível base
teórica das discussões sugere-se autores como: Pignatari (1987), Plaza (2001), que discutem a
tradução intersemiótica dos signos e sua relação com a literatura; Candido (et al., 2001), Gallagher
(2009), que apontam diferentes visões teóricas acerca da categoria personagem; Ariès (2006),
Coutinho (2012) e Resende (1988) que investigam a infância, dentre outros. Preve-se que as
discussões ora estimuladas ampliem a compreensão de novos modos de significação dos sujeitos
ficcionais, levando em conta aspectos afetivos, sexuais, de raça etnia, classe social / condição
econômica, atitudes políticas e simbólicas que são capazes de intervirem na formação social de
leitor. Dessa forma, procura-se responder aos seguintes questionamentos: como os sujeitos
ficcionais infantis são ressignificados nessas variadas formas de discurso levando em conta as
variáveis acima destacadas? A transposição para uma nova linguagem, tendo em vista a mudança
temporal e de formato, acarreta mudanças no tratamento textual e narrativo da personagem infantil?
Se e de que maneira o tratamento dado à personagem infantil nas diferentes narrativas pesquisadas
contribuem para a formação cidadã do público leitor? Ressalte-se que, embora esteja-se tratando de
diferentes formas de linguagens, o possível elo entre elas aponta para o aspecto narrativo dos
objetos investigados. Os textos, de certo modo, atualizam o fator simbólico e a linguagem humana,
portanto provocando uma reflexão sobre a realidade no tempo de publicação das obras e a
constatação de sua evolução no tempo, bem como os impactos sobre o leitor contemporâneo, além
de possíveis mudanças no que se refere à forma como as narrativas em diferentes formatos são
assimiladas.
O simpósio agrupa trabalhos que abordam pontos de contato entre a tradição romântica e a literatura
produzida nos século XX e XXI. Os trabalhos focalizam considerações sobre: a) o conceito de
ironia romântica em autores do Romantismo e seus desdobramentos até os dias atuais, b) pontos de
influência do Romantismo para a literatura produzida ao longo do século XX e XXI, c) te nsões
formativas da tradição literária brasileira em diálogo com o Romantismo na Europa e o
Modernismo na América Latina, d) Influências europeias no Romantismo brasileiro tanto na prosa
de ficção quanto na poesia lírica, e) apresentação e discussão de autores românticos e modernistas,
tanto em prosa como em verso, sob a perspectiva da revisão do cânone. É premissa dos trabalhos do
simpósio a necessária reavaliação da importância do Romantismo nos limites da tradição literária
brasileira ao entendermos que a tradição romântica no Brasil é importante na configuração temática
e estética de nossa tradição literária. Os trabalhos apresentados no simpósio valorizam o caráter
libertário e renovador do Romantismo, bem como o aproveitamento de traços irônicos como e spaço
de confluência e dissonância para as principais ideias do primeiro Modernismo e possíveis
desdobramentos nos dias atuais. Os trabalhos podem, ainda, polemizar o conceito de influência, o
que garante a possibilidade de questionamentos face ao caráter ingênuo da tradição romântica em
direção à formação de um percurso irônico/reflexivo que perpassa a tradição literária do século XX
e XXI. Entendemos que a discussão da tradição romântica no Brasil contribui para a ampliação de
percursos históricos e estéticos distintos, mas que apresentam formas de organização estética e
temática singulares para a literatura produzida no século XX e XXI. A ideia é polemizar o
esgotamento do Romantismo e, quando possível, indicar a presença do percurso reflexivo à luz do
c -de-
conforme Soren Kierkegaard (2000) em uma perspectiva de valorização do Romantismo na
literatura do século XX e XXI.