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Introdução

José Joaquim Cesário Verde, nascido a 25 de Fevereiro de 1855 em Lisboa, é um poeta


Parnasiano de grande importância para a língua Portuguesa. Embora tenha vivido
apenas 31 anos, Cesário influenciou a literatura e a poesia em Portugal do século XX
(vinte). Poeta do campo que vivia na cidade, era oriundo de uma família ligada a
agricultura e ao campo e, talvez por isso, fosse tão apaixonado pela natureza.
Trabalhador com seu pai numa loja de ferragens e em negócios de fruticultura, Cesário
estudou também na universidade de letras embora a tivesse vindo a abandonar passados
alguns meses. Na sua vida, Cesário escreveu vários poemas, alguns dos quais foram
publicados em revistas e jornais da altura, mas que só em 1887 foram publicados em
livro após a sua compilação realizada pelo amigo de universidade Silva Pinto.

Poeta do Campo perdido na cidade, como dizia Fernando Pessoa, Cesário acreditava
que o campo era fonte de alegria, amor e vida enquanto a cidade era melancólica,
doentia e triste. Na cidade, o poeta procurava em cada recanto algo que lhe lembrasse a
vida no campo. Num simples canteiro recheado de cor, Cesário imaginava os campos
floridos. A sua inteligência, a sua imaginação e a sua arte de escrever levavam-no a
pintar telas com letras e pontos descrevendo o que via enquanto passeava pela cidade
(deambulismo). Defensor do trabalho e de quem trabalha e é humilde, nas suas prosas e
com um jeito impressionante, Cesário deixa várias críticas sociais para com aqueles que
vivem a custa do outro, não trabalham e não são humildes.

Objectivos

Geral:

 Compreender o Parnasianismo

Específicos

 Discernir o contexto histórico-cultural do surgimento do Parnasianismo em


Portugal;
 Indicar o envolvimento de Cesário Verde no Pensamento Parnasiano
 Caracterizar a influência de Cesário Verde no Pensamento Parnasiano;
 Caracterizar um poema de Cesário Verde.
Parnasianismo Luso-brasileiro

Conceitos

Parnasianismo foi um movimento que se opunha aos ideais do romantismo,


estabelecendo princípios estéticos como o rigor formal e a recuperação de temáticas
clássicas.

COSTA,(1985), o parnasianismo foi um movimento literário que surgiu na França no


final do século XIX, tendo como principal bandeira a oposição ao realismo e ao
naturalismo, movimentos que ocorriam nesse contexto. No Brasil, esse movimento
opunha-se principalmente ao romantismo, já que, apesar dos ideais românticos terem
dado lugar ao realismo e ao naturalismo na prosa, ainda eram fortes suas características
na poesia. Assim, os poetas parnasianos incorporaram em suas produções poéticas
traços que se opunham directamente à poesia romântica.

Contexto histórico e origem do parnasianismo

A segunda metade do século XIX foi um período em que a literatura europeia buscou


novas formas de expressão, as quais estavam em sintonia com as mudanças que
ocorriam em diferentes esferas da sociedade e em diferentes áreas do conhecimento.
Nesse contexto, por exemplo, teses científicas e sociológicas eram desenvolvidas e
difundidas, como o determinismo social.

O parnasianismo, então, surgiu como um movimento concomitante ao realismo e ao


naturalismo, porém tendo o género lírico como sua principal manifestação.
Parnasianismo advém da palavra “Parnaso”, que, segundo a mitologia grega, refere-se a
um lugar, um monte, consagrado a Apolo e às musas, em que os poetas, inspirados pela
aura do lugar, compunham.

Além dessa origem mítica, o parnasianismo foi o nome designado para intitular o
movimento literário surgido na França na segunda metade do século XIX, também em
razão de uma antologia, publicada em três volumes, sendo o primeiro em 1866,
intitulada Parnasse contemporain (Parnaso contemporâneo). CÂNDIDO, (1959:59),
Edward Burne-Jones, pintor inglês que, à época do parnasianismo, retomou, na pintura,
os temas de influência clássica.
Características do parnasianismo

CÂNDIDO, (1959:59), o próprio nome que designa o movimento parnasiano já é um


indicativo de sua principal característica: o forte interesse pela cultura greco-latina. Esse
interesse temático e formal em relação à cultura clássica opunha-se directamente à
estética vigente no romantismo, movimento rechaçado pelos parnasianos, uma vez que
não interessava aos artistas românticos uma volta à Grécia Antiga, mas antes uma
representação capaz de ir ao encontro da burguesia crescente. Eis as características do
parnasianismo, divididas em aspectos formais e conteúdos dísticos:

Aspectos formais

 Linguagem objectiva, em oposição à linguagem mais subjectiva do romantismo;


 Predomínio de vocabulários e estrutura sintáctica cultos;
 Busca pelo equilíbrio formal;
 Predilecção pelo soneto.

Aspectos conteúdo dísticos

 Paganismo greco-latino, em oposição ao cristianismo e ao misticismo


do simbolismo;
 Retomada de elementos da tradição clássica;
 Materialismo e racionalismo;
 Contenção de sentimentos, em oposição à externalização amorosa romântica;
 A busca da arte pela arte.

 Parnasianismo em Portugal

Em Portugal, o parnasianismo, movimento introduzido pelo poeta João Penha (1838-


1919), coexistiu com o movimento realista e com o movimento simbolista, opondo-se,
principalmente, ao romantismo, movimento anterior, no que dizia respeito ao
sentimentalismo e ao egocentrismo tão típicos dos escritores românticos. As poesias dos
principais poetas parnasianos portugueses foram reunidas, por Teófilo Braga, no
livro Parnasso português moderno, publicado em 1877.
Principais autores e obras do parnasianismo em Portugal

Guerra Junqueiro (1850-1923)

Poeta e político, foi considerado por seus pares como o poeta mais popular de sua época
em Portugal. Iniciou sua carreira literária no jornal A Folha, dirigido pelo poeta João
Penha. Publicou inúmeras obras, e mais polêmica foi A velhice do padre eterno (1885),
em que tece duras críticas ao clero.

Teófilo Braga (1843-1924)

 Poeta, sociólogo, filósofo e político, iniciou sua carreira literária em 1859, no famoso
jornal literário A Folha. Colaborou em diversos jornais da época, nos quais publicou
muitos de seus poemas. Escreveu, entre outras obras, História da poesia moderna em
Portugal (1869).
 

João Penha (1838-1919).

Poeta e jurista, notabilizou-se por ter fundado o jornal literário A Folha, sendo


considerado um dos principais escritores parnasianos portugueses. Escreveu os
seguintes livros de poesia: Rimas (1882), Novas rimas (1905), Ecos do
passado (1914), Últimas rimas (1919) e O canto do cisne (1923).

 Gonçalves Crespo (1846-1883): Poeta e jurista, nasceu no Rio de Janeiro, mas fixou
residência ainda criança em Portugal. Filho de mãe escrava, destacou-se no meio
literário português, tendo colaborado no jornal A Folha, principal meio de difusão da
poesia parnasiana. Seu primeiro livro foi a colectânea Miniaturas, publicada em 1870.
 

António Feijó (1859-1917): Poeta e diplomata, actuou no Brasil como embaixador nos
consulados situados nos estados de Pernambuco e do Rio Grande do Sul. Publicou as
seguintes obras poéticas: Transfigurações (1862), Líricas e
bucólicas (1884), Cancioneiro chinês (1890), Ilha dos
amores (1897), Bailatas (1907), Sol de inverno (coletânea escrita entre 1915-1917),
e Novas Bailatas (editada postumamente em 1926).

Cesário Verde (1855-1886): Poeta e comerciante, escreveu muitas de suas poesias em


periódicos da época, destacando-se o semanário Branco e Negro (1896-1898) e as
revistas O Ocidente (1878-1915), Renascença (1878-1879) e o Azeitonense (1919-
1922). Após sua morte, suas poesias foram reunidas, por Silva Pinto, na obra O livro de
Cesário Verde  (1887).    

Parnasianismo no Brasil

CÂNDIDO, (1959:56), o parnasianismo brasileiro começou a ser difundido no país a


partir de 1870, pois, no final dessa década, criou-se uma polémica no jornal Diário do
Rio de Janeiro, que reuniu, de um lado, os adeptos do romantismo e, de outro, os
adeptos do realismo e do parnasianismo. Como resultado dessa querela literária,
desenvolvida em artigos, conhecida como “Batalha do Parnaso”, houve uma difusão das
ideias e das características do parnasianismo nos meios artísticos e intelectuais.

Principais autores e obras do parnasianismo no Brasil

LOPES, Óscar. (s/d). Teófilo Dias (1854-1889): Foi advogado, jornalista e poeta. O


primeiro livro de poesia considerado parnasiano, publicado em 1882, foi uma obra de
sua autoria: Fanfarras. Publicou ainda os seguintes livros: Flores e amores
(1874), Cantos tropicais (1878), Lira dos verdes anos (1876), A comédia dos deuses
(1887) e A América (1887).

Alberto de Oliveira (1857-1937): Foi farmacêutico, professor e poeta, e um dos


fundadores da Academia Brasileira de Letras, tendo sido, inclusive, eleito o “Príncipe
dos Poetas” em 1924. Escreveu as seguintes obras poéticas: Canções
românticas (1878), Meridionais (1884), Sonetos e poemas (1885), Versos e
rimas (1895), Poesias - 1ª série (1900), Poesias - 2ª série (1906), Poesias - 2
vols. (1912), Poesias - 3ª série (1913), Poesias - 4ª série (1928), Poesias
escolhidas (1933), Póstumas (1944).
 
Raimundo Correia (1859-1911): Foi magistrado, professor, diplomata e poeta. Um dos
fundadores da Academia Brasileira de Letras, escreveu os livros Primeiros sonhos
(1879), Sinfonias (1883), Versos e versões (1887), Aleluias (1891), Poesias (1898).
 

Olavo Bilac (1865-1918): Foi jornalista, inspetor de ensino e poeta. Foi também um


dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Publicou as seguintes
obras: Poesias (1888), Crônicas e novelas (1894), Sagres (1898), Crítica e fantasia
(1904), Poesias infantis (1904), Conferências literárias (1906), Tratado de
versificação (com Guimarães Passos) (1910), Dicionário de rimas (1913), Ironia e
piedade (1916), Tarde (1919).

 Vicente de Carvalho (1866-1902): Foi advogado, jornalista, político, magistrado,


poeta e contista. Publicou as seguintes obras: Ardentias (1885), Relicário (1888), Rosa,
rosa de amor (1902), Poemas e canções (1908), Versos da mocidade (1909), Verso e
prosa (1909), Páginas soltas (1911), A voz dos sinos (1916), Luizinha (1924).
 

Exemplo de poema do parnasianismo brasileiro

Vaso chinês

Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,


Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado,


Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura,


Quem o sabe?... de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura.
Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa

Vida e obra de Cesário Verde

 Segundo a WIKIPEDIA a ECICLOPEDIA livre Cesário Verde nasceu na cidade de


Lisboa, em 25 de fevereiro de 1855. José Joaquim Cesário Verde foi um importante
poeta português do século XIX. É considerado um dos principais poetas do realismo e
naturalismo na Literatura Portuguesa. Faleceu de tuberculose na mesma cidade em que
nasceu, aos 31 anos, em 19 de Julho de 1886.
 Vários poetas e escritores portugueses, do século XX, foram influenciados pela poesia
de Cesário Verde. Um dos principais foi o grande escritor português Fernando Pessoa,
que considerava Cesário Verde como um dos seus mestres.
 
 Movimento literário que pertenceu:
 
  Realismo/Naturalismo

Principais características do estilo literário:

 Poesia caracterizada, principalmente, por grande sensibilidade e delicadeza.


 Suas poesias expressam a realidade do mundo. Para isso, usou imagens visuais
em seus poemas.
 Presença, em suas poesias, de naturalidade (expressão de forma natural).
 Retratou aspectos da vida urbana e rural de Portugal, principalmente ligados ao
quotidiano.
 Presença de vocabulário objectivo.
 Uso de metáforas, sinestesias e comparações.
 Suas poesias são marcadas por: quadras (uma estrofe de quatro versos) e versos
decassílabos (verso com dez sílabas poéticas), que também são conhecidos como
versos alexandrinos.

Análise poema “ De Tarde”:


No poema que a seguir intitulado de “ De Tarde” é visível o gosto do poeta pelo campo
e pela natureza..

Naquele piquenique de burguesas,

Houve uma coisa simplesmente bela,

E que, sem ter história nem grandezas,

Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,

Foste colher, sem imposturas tolas,

A um granzoal azul de grão-de-bico

Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,

Nós acampámos, inda o Sol se via;

E houve talhadas de melão, damascos,

E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpura a sair da renda

Dos teus dois seios como duas rolas,

Era o supremo encanto da merenda

O ramalhete rubro das papoulas!

Esquema rimático: (Rima cruzada)

a - b - a - b 

(4 quadras cada uma com 4 versos)


Demonstrativo "Naquele" e a forma verbal no Pretérito Perfeito "Houve" remetem para
o passado, instaurando a memória como meio de representação poética.

Indicadores de espaço: “A um granzoal azul de grão-de-bico”, “Pouco depois, em


cima duns penhascos,”

  Campo de cultivo de grão-de-bico


 Pequeno molho de flores
 Vinho branco e generoso feito de uva muito doce e odorífera, originária da
Grécia
 Encarnado

A descrição do local onde a burguesa fora colher as pápulas “um granzoal azul de grão-
de-bico” demonstra a capacidade descritiva do real observado pelo poeta e, assim
quando a sua poesia é lida logo o leitor imagina a sena presenciada pelo poeta.

Verifica-se ainda o gosto de Cesário pela mulher simples que não se dá a luxos e que,
tal como ele, gosta da natureza e do campo.

Na segunda estrofe o poeta usa a aliteração em “granzoal azul grão de bico” e em


“ramalhete rubro” para valorizar a ideia de campo.

Ao usar o gerúndio (“descendo”) faz transmitir a ideia de movimento da figura feminina


naquele momento.

De seguida o sujeito poético faz uma pequena descrição dos elementos que compõem a
merenda, através de alguns substantivos e de enumerações (“talhadas de melão,
damascos”, “pão de ló molhado em malvasia”) onde frisa o erotismo dos frutos e do
resto da comida, através de sensações visuais e gustativas.

Na última quadra, Cesário Verde inicia a frase com uma conjunção coordenativa
adversativa que confere a ideia de que o poeta esqueceu o picnic por um instante e se
concentra na mulher que lhe provoca vários sentimentos e que é portadora de uma
grande sensualidade «Mas, todo púrpura, a sair da renda, dos teus seios como duas
rolas», usando aqui a comparação.

O poema termina com uma frase exclamativa que pretende transpor-nos aquilo que o
sujeito poético reteve do picnic, ou seja, essencialmente a beleza daquela figura
feminina que vai provocando um turbilhão de ideias na cabeça do sujeito poético.
Nesta, os dois seios remetem para a sensualidade da mulher, destaca-se muito a cor
vermelha «rubro» que nos remete para a vida sanguínea mas também para o calor dos
seios da figura feminina, metonimicamente deslocados para as papoulas.

Em finalização, deste poema retém-se o gosto do poeta pelo campo e a atracção que
aquela figura feminina lhe provoca.
Conclusão

Chegado ao fim do presente conclui que verde foi um grande parnasianismo e neste
poema verifica-se a capacidade descritiva de Cesário Verde e o seu gosto pela natureza.
É possível verificar-se ainda uma característica muito especial do poeta, o gosto pela
simplicidade. O facto de a burguesa ter descido do burrico descontraída e sem
imposturas tolas e ter ido colher papoulas deu a Cesário um significado belo. Para o
poeta o real valor das coisas estava na simplicidade.
Bibliografia

CÂNDIDO, António, (1959). Formação da Literatura Brasileira, Belo Horizonte, Ed,


Itália Lda,.

COSTA, Pedeiro.(1985) Literatura Portuguesa, Lisboa, Publicações Europa América


CINTRA.

LOPES, Óscar. (s/d). Manual Elementar de Literatura Portuguesa, Lisboa, Livraria


Didáctica.

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