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APROFUNDAMENTO EM ESPORTES INDIVIDUAIS IV

ROTEIRO DE ESTUDOS ORIENTADOS – REO3


DOCENTE: RAONI PERRUCCI TOLEDO MACHADO 
DISCENTE: RODRIGO DE SOUZA ALVES

A relação das atividades físicas na natureza com o Movimento Olímpico

Nas vésperas do início dos Jogos Olímpicos do Rio em 2016, o Comitê Olímpico
Internacional (COI), decidiu acrescentar mais cinco modalidades às vinte e oito disputadas na
cidade maravilhosa. Nos Jogos de Tóquio adiados para 2021, Escalada Esportiva, Skate Street,
Skate Park, BMX Park e Surfe, considerados modalidades de aventura, serão agora novas
modalidades olímpicas. No entanto, é válido afirmar que a presença dessas novas modalidades
tem gerado um debate entre os praticantes.
É provável que as transformações modernas do mundo esportivo nas últimas décadas
se distanciaram da finalidade social do conceito inicial dos Jogos Olímpicos. À essa questão
surgem três grandes indagações, a saber: Será que o profissionalismo e a mercantilização do
esporte alteraram o conceito inicial e a filosofia do Olimpismo? De que forma o marketing
esportivo influencia a sociedade a se aproximar dos valores apregoados pelo esporte? Teriam
os Jogos Olímpicos se tornado algo apenas lucrativo, como um grande negócio gerador de
capital? (Proni, 2008).
Sabemos que durante o século XX, contemplou-se uma crescente espetacularização
das práticas esportivas, assim como a mercantilização das competições. Em um mundo
globalizado, tais aspectos se ressaltaram e redesenharam o mundo esportivo contemporâneo.
Entre as transformações de mais destaque estão aquelas que reconfiguraram o “esporte de
alta performance” em práticas profissionais orientadas para atender a rica indústria do
entretenimento. É notório que a existência de um viés econômico passou a comandar os
interesses do sistema esporte-espetáculo. Isso se confirma na divulgação de grandes marcas e
patrocínios que vemos ao longo do marketing esportivo a fim de atrair seu público
consumidor.
O esporte em si é um campo que gera fluxo econômico gigante no mundo globalizado,
não apenas na esfera profissional e de alto rendimento, mas também nas categorias de base e
no formato amador e de lazer. Porém é importante destacar que as modalidades praticadas na
natureza nasceram em um contexto de contracultura. Como já vimos em discussões
anteriores, o contexto sociocultural da época revolucionou essas práticas não apenas
enquanto esporte, mas como uma forma de criticar a realidade política e social da época, na
qual o indivíduo deveria desprender-se das amarras de uma sociedade capitalista, a fuga do
meio urbano, do consumismo exacerbado, religar-se à natureza e aproveitar o lazer e a
contemplação do belo.
Dessa forma, o debate gerado entre os praticantes ressalta a importância do
movimento de contracultura como modificador das realidades dos praticantes das
modalidades de ação. E a esportivização dessas práticas corporais talvez se distanciassem do
real conceito que a modalidade carrega em sua manifestação, pois muitos praticantes
concebem essas atividades como estilos de vida alternativos e não como esportes, ou seja,
bem diferente dos valores disciplinares, hierárquicos e nacionalistas que são vivenciados no
regime olímpico. De acordo com Wheaton 2004, é como se a indústria do esporte-espetáculo
se apropriasse da filosofia dos esportes não convencionais e incrementasse-os no programa
olímpico, na busca de recuperar a audiência e atrair o público jovem.
Outra questão norteadora para este trabalho é: Diante do capitalismo global, quem
ganha com os megaeventos esportivos? Sabe-se que ao longo do processo de esportivização
das práticas corporais, o lucro dos megaeventos se configura em ganhos fabulosos para as
entidades organizadoras, além de que o governo aliado nesse processo enxerga sua própria
imagem engrandecida pela “capacidade” de conseguir realizar uma competição globalmente
conhecida que expõe a cidade (país-sede) em destaque no mundo.
Sabemos que existe o uso de recursos públicos para a realização de tais eventos, em
um País como o Brasil, por exemplo, cheio de desigualdades sociais percebe-se que os Jogos
Olímpicos RIO 2016 reunindo capitais nacionais e internacionais, em si já foi também um
aparelho de gerar lucros, marketing, venda de entradas, direitos de imagem e publicidade,
entre outros ganhos, no entanto, majoritariamente o público consumidor presente nas
competições foram as pessoas de classes mais elitizadas. Onde fica o conceito de esporte
legítimo para todos? Incoerente? Bom essas questões abrem um leque de possibilidades ao
debate.
Embora o objetivo maior do olimpismo seja através dos conceitos iniciais de contribuir
na construção de um mundo igual para todos, sem preconceitos e discriminação, também se
dedica pela prática esportiva e pela sua democratização, como um direito de todos. O
Olimpismo preza pelos conceitos da amizade, compressão mútua e coletiva, solidariedade,
igualdade e jogo limpo (fair play), assim sendo, essa filosofia perpassa a esfera esportiva para a
esfera sociocultural e de vida, tendo em mente que esses valores ultrapassem a barreira
esportiva e seja incutido na vida de todos e todas.
É importante pontuar questões positivas na discussão gerada com o processo de
esportivização das práticas corporais de aventura. A algum tempo o COI enxergou a
necessidade de alcançar também o interesse do público mais jovem dentro dos Jogos
Olímpicos e a inclusão dessas novas modalidades é também a confirmação de que o plano saiu
do papel e se transferiu para o campo da prática. A necessidade de se reinventarem as
modalidades dos esportes a fim de aproximar com a realidade dos praticantes. No skate por
exemplo, ainda permanece um tratamento estereotipado pela sociedade conservadora e do
olhar da vigilância sobre essa prática que acontece dentro das interseções do ambiente
urbano. Incluir essas modalidades de ação no programa olímpico, significa também uma
mudança que esse esporte tem na sociedade, ou seja, a quebra do estereótipo sobre o jovem
que é colocado à margem social, por praticar essas modalidades não convencionais.
Além disso, buscava-se também de maneira tímida igualar o número de atletas do sexo
masculino e feminino, pois as mudanças também ocorreram em algumas modalidades que
deixarão de ocorrer. Esse grande evento multiesportivo vive agora uma revolução, além das
novas provas e novas modalidades, as mulheres ganharam mais espaço, com intuito de igualar
o quadro de medalhas entre os sexos. É válido destacar a importância das modalidades de
aventura para promoção do lazer e qualidade de vida, como um saber do campo da Educação
Física apresentar à sociedade esses conhecimentos e valores historicamente desenvolvidos. A
partir da inclusão deste esporte nos Jogos Olímpicos, é possível incluir a prática destas
modalidades e o estilo de vida presente, através dos componentes positivos de cada
modalidade contidos no olimpismo.
Dessa forma, as transformações econômicas, sociais, políticas e culturais analisadas na
segunda metade do século XX, nos faz perceber que é comum a indústria cultural se apropriar
dos conceitos presentes no olimpismo e transformá-los. A cultura midiática impulsionou esse
processo, tonando-se um catalizador para a sociedade de consumo, propiciando o esporte-
espetáculo esportivo, se transformasse em meio de propaganda de capitais de consumo
destinados a públicos de massa e ressignificando as tradições e o ideário olímpico. É
importante entendermos o contexto histórico dessas transformações sem darmos juízo de
valor à essas metamorfoses que continuarão ocorrendo.

MACHADO, Raoni Perrucci Toledo. Uma Aventura Olímpica: Novas Modalidades, novos
desafios. Olimpianos-Journal of Olympic Studies, v. 1, n. 3, p. 220-231, 2017.

PRONI, Marcelo Weishaupt. A reinvenção dos Jogos Olímpicos: um projeto de


marketing. Esporte e Sociedade, v. 3, n. 9, p. 1-35, 2008.
WHEATON, Belinda. Introduction: Mapping the lifestyle sport-scape. In: Lifestyle sport:
Consumption, identity and difference. Routledge, 2004. p. 1-28.

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