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BREXIT ......................................................................................................................................... 94
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Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
I. JUSTIÇA EUROCOMUNITÁRIA
Desde a CECA que o projeto de integração europeia conta com a existência de um tribunal
permanente, dotado de jurisdição obrigatória.
➢ Instituído em 1952 como Tribunal de Justiça da CECA2, foi alargado às outras duas
comunidades em 1958, sob a designação de Tribunal de Justiça das Comunidades
Europeias (TJCE).
Limitado pelo princípio da competência de atribuição – art. 5º/1, 2 + art. 13º/1, 2 TUE
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Os tribunais organicamente da UE (TJ e TG) interpretam e aplicam o DUE no âmbito das competências
que estão expressamente tipificadas nos Tratados.
➢ MLD: à partida não há poderes implícitos
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Esta instituição existe como tribunal de jurisdição obrigatória desde o Tratado de Paris (1951)
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Ao TJUE compete garantir a todos e a cada um o exercício judicial do direito invocado, no quadro
das vias processuais instituídas pelos Tratados. Se não for possível invocar o TJUE, a competência
residual pertence aos tribunais nacionais (art. 274º TFUE).
Aceção restrita: justiça eurocomunitária é assegurada pelos tribunais orgânicos da UE, através
do sistema das formas processuais instituídas pelos Tratados com vista a garantir a tutela
jurisdicional efetiva do Direito da União Europeia
Esta União Europeia de Direito é reafirmada no art. 2º TUE e implica uma dupla dimensão:
• SUBSTANTIVA/MATERIAL – UE está obrigada a respeitar o Direito, sob a forma de
normas adotadas pelas instituições da União competentes, normas e princípios
resultantes dos Tratados e princípios gerais de Direito.
o Vinculação normativa que sujeita e enquadra a ação da UE é (analogamente ao
Estado Soberano) a garantia da limitação jurídica do poder e da prevenção de
derivas autoritárias e anti-democráticas.
• JUDICIÁRIA – numa vertente orgânico-institucional e jurídico-processual que assegure
o ubi ius ibi remedium.
o É a vertente instrumental relativamente ao primado axiológico do direito como
“bloco de juridicidade”.
o É instrumental mas necessária, pois a cada direito há-de corresponder uma via
processual de salvaguarda adequada e vocacionada para garantir a realização
plena da tutela jurisdicional efetiva (art. 47º CDFUE).
TJUE sempre tomou como rumo “uma certa ideia de Europa”, impondo uma leitura axiológica
dos Tratados.
Configuração substancialista devido à perceção dos Tratados como uma “carta constitucional de
uma Comunidade de Direito” – Parecer 1/91 (14/12/1991) – e devido à jurisprudência relativa à
proteção dos direitos fundamentais que supriu a ausência de uma cláusula específica.
Visão de síntese sobre o papel do TJUE: desde os anos 60 até hoje, a decisão judicial foi – e
continua a ser – um instrumento privilegiado de realização e ampliação do paradigma da
União de Direito.
➢ A jurisprudência do TJUE, desde sempre que foi o motor da evolução ao interpretar as
normas dos Tratados num sentido favorável ao alargamento das competências das
instituições da UE.
➢ Houve um certo ativismo judiciário por parte do TJUE – muito premente no âmbito dos
direitos humanos e no reconhecimento de posições jurídicas aos particulares, que
podem ser opostas aos Estados ou a outros particulares.
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Perspetiva de Autonomia: garantem aos recorrentes o direito de acionar uma determinada via
processual sem que lhe possa ser oposta ressalva de recurso a outra via processual.
Perspetiva de Complementaridade: permitem ao TJUE uma leitura diferente da articulação
entre as diferentes vias processuais, avaliadas na sua função compensatória.
Tratado de Lisboa
Deu continuidade a um processo iniciado 20 anos antes, com a criação do Tribunal de Primeira
Instância, que foi seguido nos sucessivos projetos de revisão e visa:
1) Reforço dos poderes de controlo jurisdicional pela Instituição TJUE
2) Alargamento das competências do TPI, rebatizado Tribunal Geral, de modo a agilizar os
tempos de pendência judicial e dando respostas satisfatórias ao problema crónico dos
atrasos da resposta processual
Principais alterações:
• Art. 13º/1, 19º/1 TUE – Uma instituição, vários tribunais
• Art. 19º/1 TUE; Art. 256º/2, 257º/§3 TFUE– Princípio da unidade institucional do sistema
eurocomunitário de tutela com a garantia de um duplo grau de jurisdição
• Art. 255º TFUE – seleção dos membros do TJ e TG é feita com intervenção de comité
• Art. 6º/2 TUE – adesão da UE à CEDH
o Não se verificou dado o veredicto negativo do próprio TJUE – Parecer 2/13
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Crise de Identidade da UE
Influência e visibilidade do TJUE
1ª Fase: anos 1960
➢ Jurisprudência criativa, aproveitado a evolução contínua e solar do projeto de
integração europeia, impulsionada pela prosperidade económica e estabilidade dos
Tratados
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Tratado de Nice criou “câmaras jurisdicionais” que vieram a dar origem aos Tribunais
Especializados4.
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Há posições algo entricheiradas entre Comissão e Parlamento contra Conselho e Estados-Membros: os
primeiros defendem uma leitura de bases jurídicas existentes nos Tratados que garantam à UE uma
autonomia de decisão; os segundos, ciosos das tradicionais prerrogativas de soberania dos Estados,
procuram travar o processo de comunitarização.
➢ O TJUE encontra-se no centro de uma disputa jurídico-institucional de recorte constitucional. Ex:
Parecer 3/15 deu veredicto favorável para que a UE tenha competência exclusiva em domínio de
vinculação internacional sobre propriedade intelectual e política comercial comum
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Na UE, como tribunal especializado, apenas existiu o Tribunal da Função Pública da União Europeia entre
2004 e 2016
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Tem o mesmo valor jurídico que os Tratados, por estar anexo a estes, ex vi art. 51º TUE
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1. Tribunal de Justiça
COMPOSIÇÃO
28 Juízes – 1 por cada Estado-Membro (art. 19º/2 TUE)
Função dos juízes não é a de representar o seu Estado-Membro de nacionalidade, do qual não
pode receber instruções – ele apenas representa um determinado sistema jurídico, na serventia
de o dar a conhecer e permitir, com base nesta revelação, a identificação de princípios gerais
comuns aos direitos dos Estados-Membros
Nomeação: comum acordo pelos Governos dos Estados-Membros por um período de 6 anos,
passível de renovação sem limites (art. 253º e 254º TFUE)
• São recrutados da esfera judicial, académica e diplomática
• Art. 255º TFUE – candidatos são sujeitos a um parecer, elaborado por um Comité de 7
personalidades, sobre a sua adequação ao exercício de funções.
o Introduzido com o Tratado de Lisboa, sujeita os candidatos a um escrutínio
prévio de idoneidade funcional.
o Surge por inspiração do Comité que existia, nestes termos, para o Tribunal da
Função Pública.
• Juiz Português atual é Nuno Piçarra, desde 2018
Presidente: escolhido pelos outros juízes por um período de 3 anos, reelegível (art. 253º/§3,
254º/§3 TFUE)
• Atual é o holandês Koen Lenaerts, desde 2015
Estatuto: tem um conjunto alargado de direitos e obrigações que visam tutelar o atributo de
independência e imparcialidade6
• Obrigações: prestação de juramento em audiência pública; fixação de residência no
Luxemburgo; proibição de exercer qualquer função política, administrativa ou
profissional
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O que também está na base do secretismo das deliberações – art. 35º ETJUE
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A sua função não se confunde com a do Ministério Público – não existe qualquer vínculo de
subordinação, não dependem de qualquer autoridade e não estão encarregados da defesa de
qualquer interesse que seja8.
As suas conclusões não são um parecer destinado aos juízes ou às partes.
Opiniões importantes, pois no TJUE existe regra do secretismo das decisões (art. 35º ETJUE) e a
fundamentação é feita pelo mínimo denominador comum – opinião AG mostra que outros
argumentos podiam estar a ser discutidos e quais fizeram vencimento e quais não.
AG não é parte.
NATUREZA DA JURISDIÇÃO
O Tribunal de Justiça exerce os seus poderes de “interpretação e aplicação” do DUE10 no âmbito
de uma jurisdição definida como:
i. Jurisdição de Atribuição
Art. 5º/1, 13º/2 TUE
Fonte de jurisdição do TJUE: art. 13º, 19º TUE e art. 251º TFUE
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Só pode haver afastamento por decisão unânime dos outros juízes e Advogados-Gerais.
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É a figura de um amicus curea – estuda o caso e dá a sua opinião sobre qual a melhor solução.
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Ex: AG Maurice Lagrange, caso Comptoirs, 1960 – lançou a ideia fecunda dos princípios gerais de Direito
que o TJUE acolheu, 9 anos depois, no caso Stauder
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Rui Lanceiro:
• Papel de “TC Federal” – TJUE resolve as questões emergentes dos Tratados.
• Papel de “STA” – TJUE resolve as questões da Administração da UE
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• Estatuto do TJUE é estabelecido pelo Protocolo nº3 e tem o mesmo valor jurídico dos
Tratados (que é a de valor hierárquico superior/constitucional).
• Outro nível de fontes: Regulamento de Processo + Regulamento Adicional
Art. 291º TFUE – princípio que o DUE é aplicado pelos Estados-membros numa lógica de
cooperação leal.
➢ Rui Lanceiro: Lógica de Federalismo Executivo
o Lógica de desdobramento funcional: Tribunais dos Estados-membros também
são órgãos da UE – utilização instrumental dos órgãos dos Estados-membros
como órgãos de aplicação do DUE.
o Tribunais nacionais são Tribunais Comuns da UE – daí que a UE se preocupe
com a sua independência.
Não há hierarquia entre os tribunais nacionais e o TJUE – portanto não há recurso de nacionais
para o TJUE.
• Estes tribunais relacionam-se de forma cooperante.
• Mecanismo privilegiado é o das Questões Prejudiciais – mas essa relação não é de muito
diálogo, executa somente aquilo que está na sua competência.
Daí que,
Tribunais Eurocomunitários: TJ, TG e Tribunais Nacionais
Tribunais Organicamente Eurocomunitários: TJ e TG
➢ Jurisdição depende de uma norma do Tratado que defina o âmbito da sua
competência e a via processual adequada ao seu exercício
Relação é com base no Princípio da Cooperação, pois não existe uma relação de natureza
hierárquica entre os Tribunais nacionais e o Tribunal de Justiça.
TJUE goza de competência obrigatória para dirimir conflitos no âmbito dos artigos 258º, 259º,
263º, 264º, 265º, 268º
➢ Excluem-se os litígios que opõem os particulares aos Estados-Membros, cuja sede
judicial própria são os próprios Tribunais nacionais.
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Monopólio estende-se aos litígios de caráter interinstitucional, que opõem uma instituição a
outra.
Isto leva a uma prioridade interpretativa do espírito dos Tratados em detrimento da letra –
visão reconstrutiva dos textos normativos, como manifestação de algum ativismo judicial.
Interpretação praeter legem, mas nunca contra legem
COMPETÊNCIA
Art. 19º TUE dá amplas competências de controlo jurisdicional ao TJUE.
Função Contenciosa: TJ está aberto aos litígios diretos resultantes de conflitos de interesses e
de direitos, cuja tutela é reclamada pelas partes no processo.
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TJ pode funcionar, dependendo da natureza dos litígios e dos atos de DUE a aplicar, como:
• Jurisdição Constitucional – vela pela inviolabilidade dos Tratados e proteção dos
Direitos Fundamentais (que é algo “materialmente constitucional”).
• Jurisdição Administrativa – tem poderes de controlo e condenação da autoridade
administrativa da UE, no âmbito do contencioso da Função Pública
• Jurisdição Internacional – tem poderes para apreciar litígios entre Estados-Membros,
que não perderam a sua qualidade de sujeitos de DIPúblico (art. 273º, 258º, 259º TFUE)
• Jurisdição Reguladora – responde aos tribunais nacionais quanto à interpretação e
validade do normativo da UE, velando por uma aplicação homogénea11
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Não visa uniformizar a jurisprudência nacional, apenas estabelece parâmetros ou critérios aferidores
do grau admissível de flutuação decisória por parte do tribunal nacional como órgão competente para
aplicar DUE.
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O âmbito do controlo jurisdicional foi alargado a domínios em que não estava previsto e
reforçado noutras matérias.
➢ Evolução foi inevitável dado o abandono do anterior sistema de pilares, acompanhado
pela extensão do método comunitário à regulação da generalidade das matérias de
competência da UE, incluindo a garantia do controlo jurisdicional.
o Art. 275º e 276º TFUE
ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO
TJ tem poderes de auto-organização e estabelece o seu Regulamento de Processo –
condicionado à aprovação do Conselho (art. 253º/§6 TFUE)
Tem uma organização administrativa com 3 principais funções: apoio ao trabalho dos membros
do TJ; secretariado judicial; apoio administrativo geral
2. Tribunal Geral
Dado ao incremento dos processos nos anos 80, a duração média dos mesmos foi aumentando,
o que era preocupante e levou à criação de um novo tribunal: Tribunal de Primeira Instância
• Surge com o AUE e oficialmente instalou-se a 11 de outubro de 1989, tendo proferido o
seu primeiro acórdão em fevereiro de 1990.
• Com o Tratado de Lisboa passa a Tribunal Geral e considera-se uma instância intermédia
da estrutura jurisdicional da UE, competente para julgar a generalidade dos litígios em
primeira instância e também os recursos instaurados das decisões proferidas pelos
Tribunais Especializados.
COMPOSIÇÃO
Art. 19º/2 TUE: pelo menos 1 juiz por cada Estado-Membro
➢ Pode ser alterado por revisão do ETJUE (art. 254º TFUE) através do processo legislativo
ordinário, o que dispensa acordo unânime dos Estados-Membros (art. 281º/§2 TFUE)
➢ Art. 48º ETJUE estabelece que desde 1 setembro de 2019 existirão 2 juízes por Estado-
Membro
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Divisão é conforme a complexidade do caso
• Plenário – 28 juízes – casos muito importantes e eleição do presidente
• Grande secção – 15 juízes
• Secção – de 5 ou 3 juízes
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Não existe a figura do AG, mas qualquer membro do Tribunal pode apresentar conclusões
fundamentadas – art. 49º ETJUE
COMPETÊNCIAS
Em primeira instância:
• Recurso de Anulação (art. 263º TFUE)
• Recurso por Omissão (art. 265º TFUE)
• Ações de Indemnização (art. 268º TFUE)
• Ações no âmbito da Função Pública da UE (art. 270º TFU + Regulamento 2015/2422 e
2016/1192 + art. 50º-A ETJUE)
• Ações no âmbito da cláusula compromissória (art. 272º TFUE)
Há exceções no art. 51º ETJUE
Exclui-se o contencioso do incumprimento (art. 258º TFUE) que se mantém na esfera do TJ.
Ainda não se inclui a competência de conhecer Questões Prejudiciais (que o Tratado prevê:
art. 256º/3 TFUE).
➢ MLD concorda: é bom que se mantenha intacto o monopólio do TJ como decisor de
questões prejudiciais pois uma eventual competência do TG poderia levar a possíveis
conflitos de competência; retirada de importância do TJ; não garantiria um alívio da
sobrecarga processual.
o Um modelo de partilha de competências entre TJ e TG sobre questões
prejudiciais envolveria custos negativos associados à complexidade processual
do seu funcionamento sem garantia de verdadeira compensação do lado da
eficácia da resposta jurisprudencial.
DECISÕES
Decisões do TG podem ser objeto de recurso para o TJ, limitando-se às questões de Direito
(art. 256º/1/§2 TFUE.
➢ Justifica-se pelo princípio do duplo grau de jurisdição e com a garantia da uniformidade
da jurisprudência.
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3. Tribunais Especializados
Através do processo legislativo ordinário, o Parlamento Europeu e o Conselho podem criar
Tribunais Especializados – art. 257º/§1 TFUE
Apesar do Tribunal da Função Pública ter sido extinto em setembro 2016, nada impede uma
reavalização e uma mudança de posição.
➢ Esta opção surgiu por motivos políticos (igualdade entre Estados-Membros no número
de juízes indicados para o TJ e TG) e não por razões orçamentais.
➢ Opção de terminar o Tribunal da Função Pública foi dos Estados-membros, de forma a
fortalecer o Tribunal Geral.
o MLD: há maior expetativa de coerência jurisprudencial se houver apenas 2
tribunais, nomeadamente sendo um deles Geral. Deixa de ser um processo tão
lento pois há uma celeridade potenciada por uma estrutura mais harmónica.
Aos tribunais especializados são aplicáveis as disposições dos Tratados e do Estatuto relativas
ao TJUE – sendo imperativo as regras do Título I (estatuto dos juízes e AG) e art. 64º ETJUE
(regime linguístico)
DIREITO PROCESSUAL DA UE
Rege a atuação da instituição Tribunal de Justiça da União Europeia
➢ Constitui um conjunto complexo e voluminoso de regras jurídicas, tanto para o TJ como
para o TG.
TRIBUNAL DE JUSTIÇA:
A. Fonte Primária – art. 13º e 19º TUE; 251º e ss. TFUE; ETJUE (Protocolo 3)
B. Fonte Derivada – Regulamento de Processo
C. Fonte Informal – Condições de utilização da e-Curia aplicáveis aos representantes das
partes.
TRIBUNAL GERAL:
A. Fonte Primária – art. 13º e 19º TUE; 251º e ss. (254º, 256º, 257º) TFUE; ETJUE (art 47º
e ss.)
B. Fonte Derivada – Regulamento de Processo
C. Fonte Informal – Condições de utilização da e-Curia aplicáveis aos representantes das
partes.
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Acórdãos são sempre fundamentados e mencionam os nomes dos juízes que participam na
deliberação (art. 36º ETJUE) – estes são decisões tomadas pelo TJUE em formação de
julgamento.
Despachos são proferidos pelo presidente ou vice-presidente (art. 131º/e RPTJUE) ou em
formação coletiva (art. 99º RPTJUE).
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Estrutura de base dualista: disposições processuais comuns (art. 43º a 92º) e disposições quanto a
procedimentos específicos (art. 93º e ss.)
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Em caso de violação de violação do prazo razoável pelo TG, pode instaurar-se ação de indemnização
junto do TG: Gascogne, C-40/12 P; Kendrion, C-50/12 P
Se quem violar for o TJ, cujas decisões são insuscetíveis de recurso, se houver lesão de direitos
fundamentais, o particular pode sempre fazer queixa ao TEDH, dado o triângulo judicial europeu (MLD).
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• Comportamento do interessado
• Comportamento das autoridades competentes.
Em especial,
Quanto ao Regime Linguístico
Art. 36º, 37º e 38º RPTJUE; art. 342º TFUE
Eventuais alterações exigem o acordo de todos os Estados-Membros – deliberação do Conselho
por unanimidade, art. 64º ETJUE
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Interpretação estrita do art. 19º ETJUE exclui a possibilidade de uma parte assegurar a sua
própria representação, com exceção do art. 47º/2 RPTJUE – confirmado pelo Caso Correia de
Matos, C-200/05 P
Intervenção
Art. 40º ETJUE
Pode haver pedidos de intervenção de partes acessórias – art. 130º/1 RPTJUE
Prazos Processuais
• No Tratado – insuscetíveis de prorrogação
• No ETJUE
• No RPTJUE – passíveis de prorrogação se tal for expressamente previsto (art. 76º/1)
Os fixados pelo próprio Tribunal, em aplicação do Regulamento, podem ser prorrogados, por
decisão do presidente (ou secretário, se delegado – art. 52º).
Prazos são calculados pelos critérios do art. 49º, 50º e 51º RPTJUE
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Exemplo do funcionamento descentralizado e cooperativo do contencioso da UE
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Notificação Eletrónica
Notificações processuais são feitas para o domicílio forense do destinatário – art. 48º RPTJUE
➢ e-Curia (após reforma 2016) tornou possível a apresentação e notificação por via
eletrónica.
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Caso Comet, 46/76
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Essa análise tem de ser caso a caso, tendo em conta a colocação das disposições em causa no conjunto
do processo, a tramitação deste e as suas particularidades nas instâncias nacionais – caso Peterbroeck, C-
312/93
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Depois do Tratado de Lisboa o TJUE dispõe de competência de decisão a título prejudicial sobre
todas as matérias abrangidas pelos Tratados, obrigatória e independentemente da aceitação
prévia ou seletiva, exceto a exceção do art. 24º TUE.
Até hoje o TJ mantém o monopólio de decisão sobre o reenvio prejudicial – decisor judicial
único sobre questões prejudiciais tem a finalidade de garantir a uniformidade na interpretação
e aplicação do DUE.
Esta figura tem uma relevância fundamental no contencioso da UE, afirmando a centralidade
atípica do TJ no sistema de justiça da UE19.
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Em 1951 e depois em 1957 não era expectável esta sua importância.
➢ Demonstra a dimensão pretoriana do DUE – law in action
o DUE é de fonte escrita e de fonte jurisprudencial, principalmente.
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A jurisprudência densificou as normas de DUE – há realidades inerentes à identidade do DUE que não
estão nos Tratados (como o Primado e outros princípios idiossincráticos da UE). Mesmo a Declaração 17
remete para a jurisprudência.
➢ Maior parte dos mecanismos do DUE foram construídos com base nas Questões Prejudiciais.
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E tudo isto é diferente do regime da Consulta do art. 93º CPTA.
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➢ MLD: não gosta da decisão, pois colide com a ideia basilar de cooperação dos
tribunais, num diálogo “juiz a juiz” – não pode haver diálogos forçados.
a) Tentativa de federalização ilegítima (com ativismo excessivo do TJUE).
b) No art. 267º temos um dever prudencial, devido ao objetivo de tutela
jurisdicional – se não for assim, TJUE funcionaliza os Tribunais Nacionais
(que têm igual dignidade) e desvirtua o diálogo.
c) Difícil fazer executar a sentença, pois Governo não pode dar ordens aos
Tribunais.
2. ESPECIFICIDADE FUNCIONAL
• Surge para dar resposta ao problema colocado pelo risco sério de divergência
jurisprudencial entre os tribunais dos Estados-Membros a propósito do significado e
validade das normas DUE
• Garante a uniformidade de jurisprudência relativa à interpretação e apreciação de
validade de atos, normativos ou não normativos, da UE
• Função Supletiva, derivada da praxis, de suprir as deficiências e lacunas de garantia do
direito e da tutela jurisdicional efetiva que resultam das limitações processuais das vias
contenciosas nos Tratados.
o Particular pode, por via do juiz nacional, obter o afastamento da norma interna
contrária, equivalente a ação por incumprimento (que não pode instaurar),
tenho um resultado direto e imediato de desaplicação da norma interna.
o Particular pode não impugnar diretamente o ato normativo e tal surgir por via
incidental (Unión de Pequeños Agricultores, C-50/00)
Mecanismo de Integração
➢ O Reenvio Prejudicial é a ferramenta multifunções da construção
pretoriana do tecido normativo do qual depende a própria existência da
União Europeia.
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MLD: expressão mais adequada é a da pertinência da questão – na generalidade, a questão é pertinente
pois TJUE adota um princípio de in dúbio pro questione
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• Questão surge por litígio forçado/forjado entre as partes no processo nacional (Foglia
c. Novello, 244/80)
• Questão coloca o TJ como instância consultiva, emitindo somente parecer sobre
questões hipotéticas (Robbards, 143/83; Kleiwort Benson, C-346/93)
• Questão carecia de justificação e informação suficiente sobre as circunstâncias de
facto e de direito (Wallonie, C-41/11)
• Questão refere-se à validade de norma nacional (CentroEuropa 7, C-380/05) – quando
a questão é colocada num litígio puramente interno e não há qualquer elemento de
conexão com a Ordem Jurídica eurocomunitária.
o Tem de ser apurado quanto à matéria de facto.
o Exceção que se aplica cada vez menos, pois o DUE tem se expandido muito e
atinge qualquer aspeto relevante da vida jurídica.
• Questão refere-se à interpretação de norma nacional (Krizan, C-416/10)
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Mais restrito quanto ao âmbito de aplicação do que a questão de interpretação
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TJ, na dúvida, aceita a questão colocada, mesmo que o autor da questão não corresponda, prima
facie, à qualificação de órgão jurisdicional.
➢ Crítica AG Ruiz-Jarabo Colomer (De Coster, C-17/00): jurisprudência excessivamente
flexível e carente de necessária coerência comporta um défice de segurança jurídica;
jurisprudência é casuística, muito elástica e pouco científica
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No caso Gauweiler, o Estado Português defendeu a inadmissibilidade de “ato preparatório ou
desprovido de efeitos jurídicos” – TJ contornou o problema e transformou questão de validade em
questão de interpretação.
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À luz do princípio da autonomia institucional e processual como expressão direta da identidade política
e constitucional de cada Estado-Membro (art. 4º/2 TUE).
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MLD: da letra do art. 267º TFUE extrai-se um 6 critério – ser um órgão jurisdicional de um
Estado-Membro
➢ Exclui os tribunais internacionais e tribunais de países terceiros
➢ Dior, C-337/95: TJ admitiu a questão colocada pelo Tribunal de Justiça do Benelux pois,
apesar de ser instância internacional, estava a decidir sobre direito da UE e as suas
decisões eram aplicáveis a 3 Estados-Membros, pelo que se justificaria uma
interpretação uniforme do DUE
25
Caso Syfait, C-53/03: TJ descartou a independência da Autoridade da Concorrência na Grécia, sujeita a
tutela por parte do Ministro do Desenvolvimento por serem insuficiente as garantias de independência
pessoal e funcional.
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No entanto, dado o primado do DUE e o efeito direto, as instâncias jurisdicionais, mesmo que
habilitadas a decidir segundo critérios de equidade, estando obrigadas a respeitar o DUE podem acionar
o mecanismo das questões prejudiciais (Commune d’Almelo, C-393/92).
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MLD: é um caso importante mas dele não se pode inferir o abandono definitivo da distinção entre
tribunais arbitrais necessários e voluntários.
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Mesmo os tribunais arbitrais que não possam colocar questões prejudiciais estão obrigados a
respeitar DUE e jurisprudência TJUE.
➢ MLD: a tendência, generalizada e excessiva, de “privatização” da justiça aponta para a
conveniência de um entendimento menos restritivo sobre a admissibilidade de
questões colocadas por tribunais arbitrais e reclama-se um mecanismo de escrutínio das
decisões arbitrais quando possa estar em causa a interpretação e aplicação uniforme de
normas eurocomunitárias.
JULGADOS DE PAZ
Fundamento no art. 209º/2 CRP e nada impede a sua classificação como órgão jurisdicional.
AUTORIDADES REGULADORAS
TJUE não tem sido favorável ao diálogo com as entidades administrativas independentes.
➢ O veredicto no caso Syfait, C-53/03, não legitima a certeza sobre ausência de
legitimidade das autoridades da concorrência – tudo depende da opção do legislador,
que pode configurar a entidade como tendo natureza puramente administrativa ou
também competente para funções jurisdicionais
TRIBUNAIS CONSTITUCIONAIS
O primeiro a colocar a questão foi o TC Belga, sendo seguidos por outros tribunais.
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Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
• Tribunais que decidem em última instância depende do caso concreto – teoria do litígio
concreto
Apesar do art. 267º TFUE não distinguir entre questões de interpretação e questões de validade,
o caso Foto-Frost (1987) declarou a obrigatoriedade de colocar a questão no caso do juiz
nacional pretender declarar a invalidade da norma eurocomunitária, havendo monopólio do
TJ para declarar a invalidade.
→ Os órgãos jurisdicionais nacionais carecem do poder para declarar inválidos os atos das
instituições da UE, porque tal prerrogativa, gerando divergência de jurisprudência, seria
de molde a comprometer a própria unidade da ordem jurídica da UE e prejudicar a
exigência fundamental da segurança jurídica.
→ Admite-se, no entanto, que quanto a medidas provisórias, o Tribunal do Estado-Membro
possa declarar a invalidade dos atos comunitários.
o O caso Zuckerfabrik (143/88 e C-92/89) e Atlanta (C-465/93) clarificou que para
decretar medidas de proteção cautelar baseadas na invalidade da norma
comunitária em causa pois a pronúncia sobre a invalidade que é temporária –
juiz nacional, depois de deferido o pedido de proteção cautelar que suspenda a
instância e coloque ao TJ a respetiva e necessária questão prejudicial da
invalidade.
26
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Gaston Schull, C-461/03: clarificou a relação entre a doutrina Foto-Frost e a doutrina CLIFIT. Um
órgão jurisdicional nacional cujas decisões não sejam suscetíveis de recurso não está obrigado a
colocar a questão se:
• Esta não for pertinente;
• Existe jurisprudência do TJUE que pretende seguir;
• A correta aplicação do direito não dá lugar a qualquer dúvida razoável.
Uma vez reconhecida a obrigação de reenvio, eventualmente violada pelo Tribunal Nacional, são
várias as possibilidades de recurso para os tribunais.
• Ação por incumprimento contra o Estado-Membro – abrange as decisões do próprio
TJUE e vincula todos os níveis de autoridade dos Estados-Membros, incluindo os seus
tribunais.
o Não pode ser desencadeado por particulares. Particulares podem é fazer queixa
à Comissão para esta desencadear.
o Comissão c. Itália, C-129/00: acusação da Comissão envolvia uma censura à
jurisdição suprema italiana que, obrigado a colocar a questão ao TJ, não o fez e
não corrigiu a sua orientação jurisprudencial, em violação do princípio do
primado.
o Uma das dificuldades tem a ver com o princípio da separação de poderes – o
Governo do Estado-Membro condenado, responsável pela execução do acórdão
do TJ, não poderia dar ordens à respetiva jurisdição suprema.
▪ Poderia alterar a legislação processual interna no sentido de explicitar
e enquadrar a obrigação de reenvio, mas uma tal ação legislativa não
serve de garantia suficiente para o acatamento da jurisprudência do TJ
sobre o alcance do dever de colocar questões prejudiciais no caso de
não existir uma atitude cooperante por parte do tribunal supremo.
• Ação de indemnização por responsabilidade do Estado-Membro – função
compensatória dos direitos dos particulares (Köbler, C-224/01).
o Tutela indemnizatória quanto aos direitos materialmente prejudicados pela
incorreta aplicação da legislação eurocomunitária, pois poderia evitar-se essa
incorreta aplicação se se tivesse colocado uma questão prejudicial
▪ Não há um direito ao reenvio, por parte dos particulares, mas admite-
se em nome da tutela jurisdicional efetiva uma dimensão subjetiva do
processo de questões prejudiciais, sob a forma de um interesse ou
expetativa processual.
o Lei 67/2007 – art. 13º enquadra as decisões arbitrárias de recusa de reenvio,
resultantes de uma aplicação abusiva da teoria do ato claro ou apreciação
manifestamente errónea dos pressupostos de facto.
▪ Problema é art. 13º/2 que condiciona a admissibilidade do pedido de
indemnização à “prévia revogação da decisão danosa pela jurisdição
competente” – isto é incompatível com DUE (Silva e Brito, C-160/14)
27
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
O despacho de reenvio do juiz nacional deve precisar o quadro factual e normativo do litígio
concreto com o adequado desenvolvimento para permitir ao TJ uma avaliação da
admissibilidade das questões e as suas implicações no litígio concreto e para o futuro, dado o
efeito de precedente atípico associado à autoridade do acórdão proferido a título prejudicial.
Compete ao juiz nacional determinar o momento para proceder ao reenvio e decide de acordo
com o conhecimento que tem da fase em que se encontra o litígio (Mecanarte, C-348/89).
Deve refletir a posição do juiz nacional sobre a pertinência da questão e os argumentos que
apontam no sentido de uma determinada resposta, bem como qual a posição das partes quanto
a isto.
28
Despacho de reenvio não admite recurso interno, com base no art. 630º/1 CPC, pois não traduz o
exercício de um poder discricionário do juiz.
28
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Efeitos do Acórdão
QUANTO À AUTORIDADE OU EFEITO DE PRECEDENTE ATÍPICO.
Acórdão sobre Interpretação
➢ Vinculativo para o caso concreto29
➢ Acórdão tem força obrigatória desde o dia da sua prolação (art. 91º RPTJUE)
TJ pode ser instado a esclarecer sobre dúvidas relacionadas com o conteúdo do acórdão
interpretativo: seja por ser pouco clara (Steen, C-132/93), ou porque o tribunal nacional pensa
que pode haver uma alteração devido a ser jurisprudência ultrapassada ou por circunstâncias
supervenientes (Roquette Frères, C- 94/00).
Na ausência de invalidade, tal não equivale a uma certificação de validade para o futuro – a
questão pode voltar ao TJ com base noutros argumentos de invalidade.
29
Se o litígio for, eventualmente, sujeito a recurso, o juiz de recurso está obrigado a decidir em sentido
que seja compatível com o veredicto do TJUE.
30
A única forma de “obrigar” o TJUE a reexaminar a resposta do acórdão é colocar outra questão
prejudicial.
31
MLD: há limites ao primado (art. 4º/2 TUE; 53º CDFUE; 8º/4 CRP)
32
Van Landschoot, 300/86
29
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
O órgão jurisdicional de reenvio e todos os tribunais em casos futuros estão obrigados a aplicar
a norma segundo a interpretação definida pelo TJ a qualquer situação da vida, mesmo que a
relação jurídica seja anterior à data da prolação do acórdão (Denkavit, 61/79).
• Efeito retroativo do acórdão interpretativo pode limitar a natureza definitiva de uma
decisão administrativa – deve haver um reexame da decisão administrativa (Kempter,
C-2/06).
• Dúvidas mantêm-se quando ao saber se a jurisprudência Kühne e Kempter se aplicam
às decisões transitadas em julgado.
• Defrenne, 43/75: razões imperiosas de defesa do interesse geral podem justificar uma
limitação ao princípio geral da retroatividade.
• TJUE (Brzezinski, C-313/05; Bressol, C-73/08) clarificou 2 critérios cuja verificação
condiciona a decisão sobre a limitação da retroatividade: a boa fé dos interessados; o
risco de perturbações graves.
33
Roquete Frères, C-228/92: mesmo que o TJ não diga expressamente, deve entender-se que a invalidade
não prejudica a situação daqueles que, à data do acórdão sobre a invalidade já instauraram recurso
judicial (devido à tutela jurisdicional efetiva).
30
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Quando o TJ decida que o ato declarado inválido continuará a produzir efeitos até à entrada em
vigor do ato que o deve substituir, tem de o dizer expressamente – modalidade de eficácia
prospetiva sob condição ou termo (Parlamento c. Conselho, C-21/94).
Primeira vez ocorreu no caso Mecanarte, C-348/89, sobre a aplicação de Direito Aduaneiro –
primeiro reenvio em 1989 após 3 anos da adesão.
MLD: é excessiva a crítica feita aos juízes portugueses a propósito do seu alegado absentismo
prejudicial ou sobre a suposta existência de falhas graves na interpretação e aplicação DUE.
Não existe qualquer procedimento contra Portugal com fundamento na atuação dos seus
tribunais.
Número de reenvios prejudiciais têm aumentado e tem havido sempre pertinência judicial da
maior parte dos reenvios realizados.
31
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Nº DO
DATA NOME Resumo
PROCESSO
16. um órgão jurisdicional nacional cujas decisões não sejam suscetíveis de
recurso judicial previsto no direito interno é obrigado a submeter, quando lhe
é colocada uma questão de direito comunitário, a cumprir o seu dever de
reenvio sempre que uma questão de direito comunitário nele seja suscitada, a
menos que conclua que a questão não é pertinente, que a disposição comunitária
Gaston em causa foi já objeto de interpretação por parte do Tribunal de Justiça
C-461/03 6.12.2005
Schull ou que a correta aplicação do direito comunitário se impõe com tal
evidência que não dá lugar a qualquer dúvida razoável.
36. Para o efeito, compete ao Tribunal de Justiça verificar, por um lado, que as
regras processuais previstas no referido artigo 48º/6 TUE, foram seguidas e, por
outro, que as alterações decididas só abrangem a terceira parte do TFUE, o que
implica que não dão origem a nenhuma alteração das disposições de outra parte
dos Tratados em que se funda a União e não aumentam as competências desta
última – tem competência para apreciar a decisão – TJUE é competente
porque está a analisar a validade de uma decisão do Conselho Europeu
(art. 267º/b); não olha para o conteúdo da decisão mas olha para o ato
jurídico em si
32
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
definitivo que em relação a ele esse ato reveste após expirarem os prazos de
recurso
8. Por força dos artigos 53.°, n.° 2, e 93.°, alínea a), do seu Regulamento de
Processo, se o Tribunal de Justiça for manifestamente incompetente para
conhecer de um pedido, pode, ouvido o advogado‑geral, proferir despacho
fundamentado, pondo assim termo à instância.
11. Todavia, importa recordar que, nos termos do artigo 51.°, n.° 1, da Carta,
as disposições desta têm por destinatários «os Estados‑Membros, apenas
quando apliquem o direito da União», e que, por força do artigo 6.°, n.° 1, TUE,
que atribui valor vinculativo à Carta, esta não cria nenhuma competência nova
para a União e não altera as competências desta.
Sindicato dos
12. Ora, não obstante as dúvidas expressas pelo órgão jurisdicional de reenvio
C-182/12 7.03.2013 Bancários do quanto à conformidade da Lei do Orçamento de Estado para 2011 com os
Norte princípios e os objetivos consagrados pelos Tratados, a decisão de reenvio não
contém nenhum elemento concreto que permita considerar que a referida lei se
destina a aplicar o direito da União.
34
C-102/14: Primeira vez que o TC Alemão colocou Questão
- ressalvou que a ultima palavra é do TC
- Itália argumentou que TJUE não deveria responder, pois a sua função não é pedagógica e as respostas
têm de ser vinculativas, portanto, isto não era verdadeira questão prejudicial (uma vez que não há
intenção de aplicar)
- TJUE reitera que deve sempre dar resposta e relembra que são respostas vinculativas.
- TC Alemão aplicou, sem problemas, a doutrina definida pelo TJUE
33
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
34
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
49. Daqui resulta que um tribunal como o visado no artigo 8.o do TBI não pode
ser considerado um «órgão jurisdicional de um dos Estados‑Membros», na
aceção do artigo 267.o TFUE e, não pode, assim, submeter um pedido de
decisão prejudicial ao Tribunal de Justiça.
A argumentação do Tribunal apela ao efeito útil do art. 267º - ele tem de ter efeito útil: “o efeito
útil do artigo 267.° TFUE seria diminuído se o juiz nacional estivesse impedido de dar,
imediatamente, ao direito da União uma aplicação conforme com a decisão ou com a
jurisprudência do Tribunal de Justiça” (Puligienica)
➢ Se se optou por uma aplicação desconcentrada do DUE através dos tribunais comuns
de cada Estado-membro, esses tribunais têm de ter mecanismos para aplicar o DUE.
35
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Conceção sistémica importante porque esta visão vai influenciar opções de interpretação –
estas vias devem funcionar como um todo e têm de ser completas no seu todo e permitir a
sindicabilidade de todas as questões
Recurso de Anulação
Ao contrário do Reenvio Prejudicial, a versão originária do art. 173º do Tratado de Roma,
dedicado ao Recurso de Anulação, sofreu várias e importantes alterações com os Tratados.
➢ As modificações permitiram uma extensão subjetiva e objetiva do controlo jurisdicional
da legalidade por via da anulação.
b) Prazo de Impugnação
Art. 263º/§6 TFUE – DOIS MESES a contar de um dos seguintes factos:
i. Publicação do Ato, se ato for sujeito a publicação no JOUE (art. 279º/1/§3 e 279º/2/§2
TFUE) – dois meses a partir da publicação, ou seja, a partir do fim do 14º dia subsequente
à data de publicação do ato no JOUE (art. 50º RPTJUE)
➢ Data da publicação se sujeito a publicação – prazo de 2 meses começa a contar
no 14º dia subsequente à publicação (art. 49º/50º RTJUE), a que acresce 10 dias
como prazo de dilação em função da distância (art. 50º/51º RTJUE)35
ii. Notificação ao Recorrente, na qualidade de seu destinatário (art. 297º/§3 TFUE)
➢ Data da publicação se sujeito a publicação – prazo de 2 meses começa a contar
no 14º dia subsequente à publicação (art. 49º/50º RTJUE), a que acresce 10 dias
como prazo de dilação em função da distância (art. 50º/51º RTJUE)
iii. Dia em que o recorrente tomou conhecimento do ato (critério supletivo)
➢ Data da publicação se sujeito a publicação – prazo de 2 meses começa a contar
no 14º dia subsequente à publicação (art. 49º/50º RTJUE), a que acresce 10 dias
como prazo de dilação em função da distância (art. 50º/51º RTJUE)
35
Hoje em dia é único para todos
36
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Prazo perentório e insuscetível de prorrogação por decisão do TJUE (art. 52º RPTJUE).
➢ Admite-se é situações de erro desculpável na interpretação dos pressupostos da
contagem do prazo (Pitsiorlas, C-193/01).
36
Destes atos excecionam-se os atos de PESC (art. 24º/4)
➢ A partir de Lisboa a exceção ficou limitada à PESC – o III Pilar ficou integrado.
Mas há exceção à exceção: art 40º TUE e art. 275º TFUE – positivação nos Tratados na sequência do caso
Kadi (pois há uma afetação dos direitos fundamentais de pessoas físicas).
➢ Antes do Tratado de Lisboa não havia possibilidade de impugnar a decisão aplicativa das sanções.
➢ MLD: Justifica-se exta exceção.
37
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
38
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Mesmo um ato, aparentemente destituído de suporte textual, indiciado pela mera operação
material de introdução de dados no sistema informático aplicável à gestão de limites
quantitativos de importação de produtos textêis pode ser objeto de impugnação (Portugal c.
Comissão, C-159/96)37.
➢ A recorribilidade do ato depende da sua aptidão para, por si, de modo auto-suficiente,
reconhecer e restringir direitos ou impor deveres – ato definitivo.
Os atos negativos também são recorríveis, salvo se o autor do ato beneficiar de uma
competência discricionária (Lütticke, 48/65).
Insuscetíveis de Recurso são os atos puramente internos, cujos efeitos se esgotam na esfera
interna da instituição/órgão/organismo que os adotou (Espanha c. Comissão, C-443/97).
d) Recorrentes38
37
Conteúdo do Ato: C-159/96, Portugal c. Comissão
Portugal avançou Recurso de Anulação contra a Comissão sobre um ato que não tinha suporte
físico/textual, traduzia-se meramente num ato material de manipulação dum sistema
informático, que levou a que o resultado fosse diferente (aumento da flexibilidade de importação
de produtos da China).
Comissão extravasava as suas competências de decisão com um ato de execução (art. 290º TFUE)
– havia um ato de execução porque o legislador (Conselho) tinha feito um regulamento que
atribuía à Comissão esses poderes de adotar atos de execução; discute-se se esse Regulamento
atribuiu à Comissão poderes para fazer o que fez.
TJUE vem dizer que Comissão tinha possibilidade de adotar o ato desde que não fosse
contra o Regulamento
TJUE aceitou que era ato, mesmo sendo mera operação material, era suscetível de Recurso de
Anulação. Mas não enquanto “prática” (vários atos), somente o “ato” (que é o que é possível
sindicar pelo art. 263º).
38
Ex: C-104/16 P
Deliberação do Conselho (art. 218º TFUE) de celebração de acordo internacional de comércio entre a UE
e Marrocos.
➢ Recurso de Anulação para o Tribunal Geral.
➢ Recurso do TG para o TJ.
Quem interpôs Recurso de Anulação foi a Frente Polisário (movimento de libertação nacional de Marrocos
– reconhecidos internacionalmente).
➢ Sujeito internacional infraestadual, terceiro à UE, vai ao TJUE impugnar um ato da UE – foi
celebrado pela UE para ser aplicado em todo o território de Marrocos, que engloba o território
da Frente Polisário.
“Derrota que foi uma vitória”: TJUE rejeita que eles tenham legitimidade para interpor Recurso de
Anulação pois o acordo foi celebrado com Marrocos e não se podia aplicar ao território da Frente Polisário.
➢ Portanto, perderam o recurso mas ganharam politicamente o reconhecimento do TJUE de
sujeitos de DIPúblico com território próprio. TJUE julga o caso recorrendo ao DIP.
39
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
MLD: com base no paralelismo entre legitimidade ativa e legitimidade passiva, determinante
para a jurisprudência do TJ relativamente ao estatuto processual do Parlamento Europeu,
parece-nos adequado e equilibrado, após o Tratado de Lisboa, aplicar o mesmo raciocínio
quando está em causa o direito de recurso do Provedor de Justiça Europeu41 e de outros órgãos
ou organismos da UE – interpretação extensiva art. 263º/§3 TFUE.
➢ Provedor não pode estar nos recorrentes ordinários pois está em causa a defesa de
prerrogativas institucionais e não a defesa de direitos e interesses subjetivos.
39
Expressão surgiu em Parlamento c. Conselho, C-70/88, 1990
40
Critério político – de salvaguardar as suas prerrogativas; só pode instaurar recursos na defesa das suas
competências em sentido mais amplo.
Ex: podem impugnar ato sobre o qual deviam ter sido ouvidos e não foram
41
MLD: o Provedor de Justiça Europeu, em virtude das suas competências (na defesa dos direitos
fundamentais, no caso de má administração do decisor da UE) deveria ser um Recorrente de Legitimidade
Condicionada. Particulares podem não ter legitimidade para chegar ao TJUE, mas podem fazer queixa ao
Provedor e o Provedor deveria poder, em substituição deles, desencadear um Recurso de Anulação.
➢ Princípio do paralelismo – atos do Provedor são suscetíveis de impugnação (os internos,
subjacentes ao exercício da provedoria de justiça – atos internos que afetam a provedoria de
justiça), portanto, se pode ser controlado, deveria poder desencadeado o Recurso de Anulação.
42
Onde se enquadram entidades territoriais autónomas (entidades infraestaduais) e associações
representativa de interesses comerciais, categorias profissionais ou outras.
40
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
A dupla exigência da afetação individual e direta aplica-se tanto aos recursos de atos individuais
dirigidos a outrem como aos recursos de atos dirigidos a todos, é em relação a estes últimos que
a fórmula literal do art. 263º TFUE, aliada a uma jurisprudência self-restraint, representa um
verdadeiro obstáculo à impugnação de atos normativos.
TJ aponta como critério determinante da análise do caráter geral de um ato o “âmbito geral e
abstrato do seu domínio de aplicação”, o que remete mais para o exame do regime jurídico
previsto e a respetiva fundamentação.
O critério de dissociação entre, por um lado, o âmbito geral do ato e, por outro lado, a sua
possível incidência individual que nasceu no domínio dos direitos antidumping, adquiriu um
estatuto de critério sistemático de apreciação pelo TJUE. A natureza normativa não exclui a
incidência individual.
AFETAÇÃO INDIVIDUAL
Plaumann: examina-se em primeiro lugar a segunda condição de admissibilidade pois sem esta
estar preenchida torna-se inútil procurar saber se atinge de forma direta – economia de esforço
processual
41
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
AFETAÇÃO DIRETA
A medida eurocomunitária em causa tem de produzir efeitos direitos na situação jurídica do
particular e não deixar qualquer poder de apreciação ao destinatário dessa medida
encarregado da sua implementação (decorre apenas da regulamentação comunitária, sem
aplicação de regras intermediárias – Front National, C-486/01 P)
➢ Demonstração que o ato em causa produz efeitos sem necessidade de medidas
subsequentes de aplicação ou, mesmo precisando dessas medidas, elas são adotadas
através de atos cuja competência é vinculada.
➢ Há previsibilidade da aplicação dos atos da UE e como os particulares vão ser afetados.
Dois critérios cumulativos: ato impugnado tem de projetar os seus efeitos na esfera jurídica do
demandante; efeitos resultam diretamente do ato, no sentido em que não são pressupostos
atos de execução ou no sentido em que a execução é realizada no quadro estrito de uma
competência vinculada.
42
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
➢ Ato jurídico auto-suficiente, que produz efeitos sem necessidade de ato subsequente
de execução ou desenvolvimento – ato tem de ser auto-exequível, capaz de produzir
efeitos que se concretizam na esfera jurídica dos recorrentes sob a forma de direitos.
➢ Se o ato jurídico em causa depender de medidas nacionais ou eurocomunitárias de
execução, no quadro de uma competência com margem de apreciação, nesse caso são
estas medida que devem ser contenciosamente visadas.
A alteração proposta pelo caso Jégo-Quéré seria codificada na nova redação do art. 263º TFUE
(já patente com a Constituição Europeia e surgindo definitivamente com o Tratado de Lisboa) –
admitem-se recurso contra atos regulamentares que lhe digam diretamente respeito e não
necessitem de medias de execução.
FUNDAMENTOS do Recurso
Os critérios de oportunidade não estão sujeitos a escrutínio e apontam-se 4 vícios que podem ser
alegados em sede de fundamentação do pedido de anulação.
Do ponto de vista dos poderes do TJUE não é indiferente a exata qualificação dos fundamentos
de direito, embora, potencialmente, os quatro se reconduzam a uma violação dos Tratados.
43
Ausência de definição clara o que é um ato regulamentar – Caso Inuit + C-643/15 e C-647/15 (acórdão
a propósito de um recurso de anulação da Eslováquia e Hungria quanto a decisão de Conselho sobre
deslocamento de refugiados – Tribunal julgou recurso improcedente)
TJUE entende que é categoria residual que abrange todos os atos que não tenham forma de ato legislativo
(do art. 289º). Decisão do Conselho será ato regulamentar pois apesar de ser inovatória não seguiu o
procedimento legislativo.
43
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Tem de se respeitar o princípio do contraditório e o TJUE não pode proceder ao controlo oficioso
dos fundamentos de direito sem dar oportunidade às partes para a apresentação de
observações (Comissão c. Irlanda, C-89/08 P).
Uma eventual atuação do órgão que adotou o ato recorrido, no sentido da sua regularização em
momento ulterior à data de aprovação, é irrelevante e não afeta o fundamento da declaração
de nulidade (ICI c. Comissão, T-37/91).
i) Incompetência
Externa/Absoluta – UE carece de poderes jurídicos de atuação sobre a matéria.
• Comissão c. França, 11/69: incompetência externa envolvia a inexistência jurídica do ato
• Comissão c. ICI, T-37/91: incompetência gira em torno da questão da base jurídica e do
problema de saber se existe no Tratado norma habilitadora ou se esta é suficiente para
legitimar a aprovação do ato impugnado com tal conteúdo
Omissão da referência a uma disposição expressa do Tratado não constitui um vício substancial
quando a base jurídica de um ato puder ser determinada com apoio noutros elementos do ato
(Comissão c. Conselho, C-370/07).
Uma fundamentação sumária pode ser considerada suficiente, num caso, e insuficiente noutro
caso.
Pode resultar de erro de direito, interpretação inapropriada da norma aplicável, uso de conceito
juridicamente incorreto e/ou erro sobre pressupostos de facto.
44
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
TJ seguiu conceção objetivista e haverá desvio de poder se o decisor exerceu os seus poderes
para prosseguir um fim diferente do previsto na norma de habilitação como fundamento dos
poderes que lhe são conferidos.
➢ Averiguam-se indícios objetivos, pertinentes e concordantes (Qualcomm, T-48/04)
Não basta demonstrar a existência de uma razão ilícita ou ilegítima de atuação – conceção do
TJUE importa provar que essa razão ilícita ou injustificada foi determinante na adoção daquele
ato.
➢ Existência de um fim ilícito e determinante, diferente do fim legal, não se presume.
O reconhecimento do desvio de poder implica uma censura grave à atuação do decisor da UE,
pelo que o TJUE se mostra particularmente meticuloso e exigente no seu escrutínio e eventual
reconhecimento.
Âmbito de Controlo
TJUE está limitado ao exercício de poderes de controlo sobre a legalidade do ato, ficando de
fora do seu controlo as questões tradicionalmente identificadas como oportunidade, mérito
e conveniência do ato.
Efeitos do Acórdão
Que recusa a declaração de nulidade
= improcedência do recurso
• Goza de autoridade de caso julgado, impedindo a renovação do pedido de anulação
(Cofradía de pescadores, T-415/03) – mas, este efeito erga omnes só opera em relação
aos vícios efetivamente apreciados pelo TJUE, pelo que não se pode confundir com uma
suposta declaração de validade ou convalidação do ato.
45
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Não compete ao TJUE identificar ou impor as medidas necessárias para execução do acórdão,
pois tal extravasaria o quadro típico do contencioso da legalidade (SELEX, T-155/04)45.
➢ Cabe à instituição/órgão/organismo que emana o ato declarado nulo a obrigação de
tomar essas medidas necessárias (art. 266º TFUE).
o Se não o fizer, pode justificar-se um recurso por omissão, constituindo a
violação da obrigação de tomar medidas uma fonte do dever de reparação dos
eventuais prejuízos causados.
o Essas medidas necearias têm de proteger adequadamente os interesses do
recorrente (Deloitte, T-195/05).
o Têm de ser tomadas em prazo razoável, o que depende do caso em concreto.
A Comissão, mesmo não sendo autora do ato, tem o dever de propor a revogação/alteração
do mesmo, no exercício das suas competências de reserva de iniciativa normativa.
44
Em princípio a consequência é sempre a nulidade, salvo se for a inexistência jurídica (TJUE raramente
admite mas a figura é cabível para ilegalidades tão graves que nem sequer garantem a aparência de lei –
têm de ser muito graves. Ex: órgão da UE decidiu sobre matérias que não estão manifestamente na sua
competência.
Consequência disto é que a inexistência jurídica não tem prazo e pode ser invocado a qualquer altura.
45
Mas numa ótica de boa administração da justiça pode fornecer indicações úteis sobre conclusões a
extrair para o futuro do seu veredicto de nulidade.
46
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Comissão c. Assidomän, C-310/97 P46: Não pode levar à anulação de um ato não sujeito à
apreciação do juiz comunitário e que estaria ferido da mesma ilegalidade.
➢ A autoridade de um fundamento de um acórdão de anulação não pode ser aplicada à
sorte de pessoas que não eram partes no processo e relativamente às quais o acórdão
não pode, portanto, ter decidido o que quer que seja.
TJUE já considerou que este recurso é uma “expressão de uma e mesma via de direito” que o
recurso de anulação.
➢ Via de direito é controlo da legalidade – seja por uma ação das instituições ou por uma
omissão.
o Esta afinidade é importante de ser estabelecida porque há repercussões no
plano prático na interpretação e aplicação desta base jurídica – é legítimo
aplicar os critérios do recurso de anulação ao interpretar uma situação lacunar
do recurso por omissão.
o Isto porque existe muita jurisprudência do recurso de anulação e pouca do
recurso por omissão.
Esta é uma via processual que tem por objeto a inércia ou inação do decisor normativo.
• Caso Chevalley (Acórdão 15/70): o recurso de anulação e o recurso por omissão são
expressão de uma e mesma vai de direito – há uma ligação funcional ao mesmo corpo,
comandado pela lógica do contencioso da ilegalidade.
• Caso Mediocurso, T-451/04: não há a mesma afinidade com a ação por incumprimento
– a ação por omissão não se destina a condenar de forma pública o incumprimento pelas
instituições da UE do seu dever de agir, mas força-las a adotar o ato pedido, tendo em
conta, nomeadamente, a sua obrigação de tomar medidas necessárias à execução das
decisões dos tribunais da UE.
o MLD: para o Juiz da União, o móbil da ação por incumprimento contra os
Estados-Membros é a condenação ao pelourinho, ao passo que no recurso por
omissão, estando em causa Instituições da UE, se pode facilmente evitar o
castigo associado à condenação, mesmo no caso de cumprimento tardio ou
inútil para o lesado.
Recorre-se ao TJUE para que este declare que a abstenção é contrária aos Tratados, na medida
em que a Instituição demandada não a tenha corrigido.
➢ Se a abstenção for reconhecida e declarada contrária ao DUE, o acórdão obrigado o
demandado condenado a tomar as medidas necessárias à eliminação da omissão (art.
266º TFUE).
Exigência de uma fase pré-contenciosa: não é fácil provar que existe omissão ilegal
46
Negou a pretensão de um terceiro, por via da obrigação de execução, vir a beneficiar de uma restituição
das multas pagas com fundamento em decisões não impugnadas, mas equivalentes à decisão declarada
nula em recurso instaurado por uma das empresas destinatárias.
47
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Omissão Relevante
O objeto deste recurso é a abstenção de pronúncia em violação dos Tratados
1. Abstenção ou omissão imputável às instituições/órgãos/organismos
2. Ilegalidade dessa abstenção
Escapa ao controlo do TJUE os casos em que não é possível provar a existência de um dever
de pronúncia.
➢ Caso paradigmático é o comportamento omissivo da Comissão, na sequência de uma
queixa por incumprimento apresentada pelo particular contra um Estado-Membro.
o Pode equacionar-se o direito de instaurar um recurso por omissão contra a
Comissão no caso de não responder nem fundamentar, mas, não assiste ao
queixoso o direito de impugnar a recusa da Comissão ou uma eventual resposta
de espera que corresponde a uma recusa implícita de instaurar a ação por
incumprimento.
o Não existe, neste caso, um dever de ação, porque a Comissão não está, por força
dos Tratados, obrigada a dar sequência contenciosa à queixa por
incumprimento47.
Existe sempre dever de pronúncia no caso de queixa apresentada por empresas com fundamento
em violação das regras da concorrência e sobre auxílios de Estado48.
A omissão objeto de recurso deve referir-se à não adoção de um ato que, se adotado, produziria
efeitos jurídicos ou teria, pelo menos, relevância jurídica.
47
Caso Star Fruit, 247/87
48
Nesta matéria, Rynair c. Comissão, T-442/07: Comissão, ao não tomar posição, incorreu em omissão na
aceção do art. 265º TFUE
48
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
O recurso por omissão pode ser instaurado contra as instituições da UE identificadas no art. 265º
TFUE e ainda, nas mesmas condições, contra órgãos e organismos da UE.
• Das 7 instituições da UE (art. 13º TUE), duas não estão entre as demandáveis – Tribunal
de Contas (carece de competência decisória), TJUE (é órgãos jurisdicional, incompatível
com este processo).
• Tratado de Lisboa deu nova redação e resolveu questão controvertida: prevê-se a
legitimidade passiva de órgãos e organismos da UE que se abstenham de pronunciar.
Recorrentes
PRIVILEGIADOS – Instituições e Estados-Membros: à luz do critério da correspondência
institucional entre legitimidade passiva e legitimidade ativa, que foi decisivo para desbravar uma
solução para o PE como autor do recurso de anulação, seria de considerar o reconhecimento,
pelo menos ao Provedor de Justiça Europeu, do direito de acusar de inércia ilegal as instituições,
órgãos e organismos da UE em casos de má administração (art. 228º/1 TFUE).
49
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Procedimento pré-contencioso
A. Convite a Agir
Art. 265º/§2 TFUE: responsável pela omissão ilegal deve ser previamente convidado a agir.
Convite terá de ser formulado pela mesma pessoa que mais tarde pode recorrer ao TJUE
(princípio da coincidência formal e material entre procedimento e processo).
• Não tem padrão específico de forma, mas tem de ser formulado de modo a não deixar
dúvidas que se trata de um pedido para esse efeito.
• CTRS, T-12/12: é recomendável a citação expressa da disposição do Tratado que serve
de fundamento.
Não há prazo, mas a margem temporal não é ilimitada desde o momento em que o interessado
tomou conhecimento da situação de alegada omissão e o momento em que dirige o convite.
Depende das circunstâncias do caso concreto: 18 meses é razoável (Países Baixos c. Comissão,
59/70) e 4 meses é razoável (Schlüsselverlag, C-170/02 P)
B. Reação ao Convite
O prazo para tomar posição é de 2 meses.
➢ Esgotado esse prazo, se a reação não for suscetível de interromper ou suprimir a
omissão, o autor do convite a agir terá dois meses para instaurar recurso por omissão.
Tomar posição é:
• Adotar o ato solicitado
• Tomar medidas, ainda que não sejam as desejadas e indicadas
• Recusar expressamente adotar o ato
→ Perante qualquer uma destas reações, o Recurso por Omissão fica, em princípio,
prejudicado.
Se não houver resposta em 2 meses49, não existe tomada de posição e o recurso por omissão
pode seguir para a fase contenciosa.
➢ Dar uma resposta de procrastinação (“estamos a analisar”) significa que não tomou
posição e o prazo continua a correr e justifica a passagem à fase pré-contenciosa).
o Quando isto acontece torna-se inviável o recurso por omissão.
o Havendo ato expresso de rejeição o particular tem de avançar pelo recurso de
anulação – há ato expresso, do ponto de vista formal. Interrompe o recurso de
omissão e só legitima o particular a utilizar o recurso de anulação.
49
Ou houver uma resposta de espera, justificando-se com a análise ou estudo do pedido.
50
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Se mais tarde houver uma tomada de posição, tal é suficiente para ditar a inadmissibilidade
do recurso, por inutilidade superveniente da lide.
➢ A omissão deixa de existir na data em que o autor da interpelação é notificado com a
tomada de posição pela instituição (Branco c. Comissão, T-194/97 e T-83/98) e o objeto
de recurso é dado como desaparecido (Asia Motor, T-28/90).
Fundamentos do Recurso
Art. 265º TFUE não identifica os fundamentos da ilegalidade.
➢ O princípio jurisprudencial do paralelismo entre os dois recursos, como expressão de
uma mesma via de direito, conduz-nos a uma aplicação mutatis mutandis dos vícios
indicados a propósito da anulação.
o De fora ficam as alegações de incompetência e violação de formalidades
essenciais, dada a sua incompatibilidade lógica com o objeto de recurso.
o A questão da competência pode ser discutida no processo, mas como meio de
defesa da instituição recorrida.
Efeitos limitados pois TJUE não pode indicar as medidas a adotar (Sumitomo, T-454/05) e o
acórdão não substitui, seja qual for a situação, o ato considerado em falta (Air One c. Comissão,
T-395/04).
➢ TJUE não pode dirigir injunções ao decisor da UE demandado ou, por qualquer outro
meio, substituir-se a este (Camar, T-79/96, T-260/97, T-117/98).
“Medidas necessárias” não significa que sejam as desejadas pelo particular – pode ser um
qualquer outro ato.
• Instituição dá execução ao acórdão simplesmente por adotar um ato. Que pode não ir
ao encontro dos interesses dos particulares.
• Nessa situação, o particular tem a oportunidade de passar para o recurso de anulação.
Limitação de poderes do TJUE não invalida o direito do recorrente acionar o art. 279º TFUE e,
nos termos do regime jurídico da proteção cautelar, solicitar ao juiz da UE que imponha à
instituição demandada a adoção de medidas pressupostas pela sua obrigação de agir na aceção
do Direito da União Europeia.
51
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Exceção de Ilegalidade
Art. 277º TFUE
➢ Alterado com o Tratado de Lisboa, que reflete a jurisprudência do TJUE sobre a noção
relevante de “regulamento” no âmbito do controlo incidental de ilegalidade, mas que,
por outro lado, obriga a uma reflexão sobre o sentido de certas exigências
jurisprudenciais, baseadas na redação anterior, como o caso das restrições impostas aos
Estados-Membros e às instituições quando invocam a exceção de ilegalidade.
Mecanismo processual que torna possível a invocação da ilegalidade, por via da exceção, a
título incidental, no quadro de uma via processual principal, junto do TJUE.
➢ Desde a década de 50 que a exceção de ilegalidade, nominada assim pela doutrina por
influência direta dos análogos nacionais (ex: art. 38º CPTA), representa expressão de um
princípio geral de DUE, invocável em todos os contenciosos relativos à aplicação da
norma comunitária (Simmenthal, 92/78; Alessandrini T-93/00)
Art. 277º não é direito autónomo mas tem relevância prática significativa, funcionando como
meio complementar/subsidiário de tutela nas situações em que não seria possível, por
exemplo, instaurar o recurso de anulação.
➢ Exceção de ilegalidade não está limitada à invocação pelos particulares, mas é em
relação a estes que o controlo incidental da ilegalidade funciona de modo útil e
alternativo.
52
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Legitimidade Ativa
Preceito refere “qualquer parte” mas TJUE decidiu distinguir entre “qualquer parte” que tem
legitimidade ativa e “qualquer parte” que não a tem – o critério seria o da função da exceção de
ilegalidade.
• O TJUE considera inadmissível a invocação da exceção de ilegalidade em relação aos
atos de alcance geral que, afetando de forma direta e individual o particular, poderiam
ter sido objeto de recurso (Teva Pharma, T-140/12). Ex: regulamentos anti-dumping
• A alteração do art. 263º/§4 TFUE, no sentido de flexibilizar os pressupostos do recurso
contra “atos regulamentares” pode conduzir a uma solução mais restritiva em sede de
admissibilidade da exceção de ilegalidade.
Seria uma não questão, dada a letra do art. 267º - qualquer parte num qualquer recurso
instaurado junto do TJUE no quadro das vias processuais definidas no TFUE.
➢ TJUE não faz aplicação literal e usa a interpretação sistemática e finalística (de ser meio
compensatório) – por isso chega à conclusão que um particular (C-239/99 + T-140/12)
não pode invocar a exceção de ilegalidade relativamente a um ato que poderia, em
tempo útil, ter impugnado; não poderiam utilizar este artigo para alargar prazo do art.
263º TFUE
➢ Tratado de Lisboa flexibilizou o leque do art. 263º, o que complica a alegação da exceção
de ilegalidade
Estados-Membros e Instituições
TEORIA LITERAL: sim, podem – não há razão para excluir os que são recorrentes privilegiados no
recurso de anulação e é vantajoso manter aberta a possibilidade de contestar um ato normativo
cuja ilegalidade, só depois de esgotado o prazo de anulação, se tronou um problema para os
destinatários.
TEORIA FUNCIONALISTA: não, não podem – eles teriam sempre o direito de impugnar o ato em
causa via art. 263º e não o fizeram.
• Atende à função compensatória – o art. 277º é uma arma de recurso para os
particulares, não é acessível àqueles que têm todo o arsenal na mão. Corrente não
prevaleceu.
o MLD: concorda que não tenha prevalecido, pois deve sempre fazer-se uma
interpretação extensiva para permitir o acesso à justiça. Estados-membros e
Instituições podem invocar a exceção de ilegalidade.
53
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Enquadramento Processual
Como não tem natureza processual autónoma, só pode ser deduzida pelas partes no âmbito de
um processo principal.
➢ TJUE admite a invocação oficiosa pelo próprio Juiz da União quando se trata de uma
ilegalidade de ordem pública (Societé des Fonderires Pont-à-Mousson, 14/59; Commom
Market Fertizielers, T-134/03 e T-135/05).
50
DLD Trading, T-146/01: A autonomia da ação de indemnização em relação às vias diretas de controlo
da legalidade, como característica específica da tutela indemnizatória depende, justamente, da invocação
da ilegalidade a título incidental.
54
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
V. CONTENCIOSO DO INCUMPRIMENTO
Art. 258º, 259º, 260º TFUE
51
Estado-Membro destinatário das decisões adotadas pelo Conselho com base no art. 126º pode
impugnar essas mesmas decisões ao abrigo do art. 263º TFUE
55
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
52
Introduzido com o Tratado de Amsterdão e depois aperfeiçoado.
Com a constatação de violação do art. 2º - que é necessário para a aplicação do art. 7º - por um Estado-
membro, que viola Direitos Fundamentais dá-se aso a existirem Sanções Políticas
➢ Sendo a mais grave a suspensão do direito de voto no Conselho
Para que hajam sanções políticas é preciso uma declaração do Conselho Europeu, que exige a
unanimidade.
➢ O que não funciona, pois há aliados do Estado infrator que vetam.
MLD: art. 7º TUE é uma entorse ao Estado de Direito pois não intervém o TJUE e o Estado-membro visado
não tem hipótese jurídica de se defender.
➢ O Estado-membro destinatário das sanções políticas não pode contestar a legalidade das
decisões do Conselho Europeu e do Conselho por razões de legalidade substantiva, mas pode
impugnar essas decisões por violação de requisitos procedimentais.
56
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Noção de Incumprimento
Conceito Operativo: sinónimo de não cumprimento, por um Estado-Membro, de qualquer uma
das obrigações que lhe incumbem por força dos tratados.
➢ Jurisprudência configura este incumprimento como tendo uma natureza abrangente e
objetiva.
Quanto a atos atípicos – pode haver sindicabilidade (França c. Reino Unido, 141/78; Comissão
c. Reino Unido, 32/79)
53
A não ser que os Estados-Membros atribuam competência ao TJUE nos termos do art. 273º TFUE
57
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
A invocabilidade contenciosa de norma dotada de efeito direto, por iniciativa dos particulares
junto dos tribunais nacionais, não paralisa ou limita a possível atuação contra o Estado-Membro
no quadro do incumprimento
VIOLAÇÃO POR AÇÃO: um Estado-Membro adota legislação contrária aos Tratados e normas
contantes de atos de direito derivado ou opta por adotar regime jurídico mais restritivo e menos
garantístico54.
VIOLAÇÃO POR OMISSÃO: censura do TJUE pode ter por objeto comportamentos omissivos
resultantes tanto da inércia legislativa como judicial, incluindo ainda as práticas administrativas
que consubstancial abstenção reiterada ou generalizada.
54
Wallonie, C-129/96: Estados-Membros devem abster-se de adotar disposições suscetíveis de
comprometer seriamente resultado prescrito por uma diretiva a ser transposta.
Um tal dever de abstenção é oponível em relação ao Estado-Membro mesmo que a legislação em causa
não vise, direta e expressamente, a transposição da diretiva em causa, mas com ela interfira (Mangold,
C-144/04).
55
O incumprimento pode ser declarado mesmo que as medidas tenham sido entretanto aprovadas –
veredicto de incumprimento mantém interesse processual e material para o efeito do apuramento de
eventual responsabilidade extracontratual do Estado-Membro em causa (Comissão c. Itália, C-442/06)
➢ MLD: concorda, mas aponta a falta de coerência do TJ, que não segue a mesma bitola para o
decisor da UE que regulariza a situação fora do prazo e na pendência da instância.
58
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Imputação do Incumprimento
O interlocutor da Comissão no procedimento administrativo pré-contencioso (o demandado
na fase contenciosa) é o Estado-Membro.
➢ O representante do Estado-Membro na fase pré-contenciosa e na fase contenciosa é,
por força do DIPúblico, aplicável no silêncio dos Tratados a este respeito, o Governo do
respetivo Estado-Membro.
o Isto apesar de muitas vezes a responsabilidade pela violação do DUE não
resultar diretamente de uma ação/omissão direta do Governo.
TJUE tem por base uma noção ampla de Estado, de inspiração jusinternacionalista, quanto a
quem imputa o incumprimento.
• MLD: única posição compatível com a exigência elementar da igualdade entre os
Estados-Membros perante os Tratados e o respeito pelo art. 4º/2 TUE.
o O princípio é sempre o mesmo, indiferente do grau concreto de autonomia que
beneficiam os órgãos de soberania e as entidades infraestaduais, ao Estado-
Membro cabe assegurar a plena eficácia das normas eurocomunitárias e, no
caso de falha, são as autoridades estaduais que respondem pelas consequências
(Haim, C-424/97).
TJ também já admitiu que pode haver imputação ao Estado-Membro mesmo nos casos em que
os particulares atuam com independência em relação ao Estado e aos demais poderes públicos.
• Caso Comissão c. França, C-265/95: “guerra dos morangos” em que estava em causa
entrave à livre circulação de mercadorias (vandalismo para protestar contra importação
de morangos espanhóis) – o Estado-Membro teria de agir e adotar as medidas
necessárias ao cumprimento das regras eurocomunitárias56
• MLD: pode um Estado-Membro ser condenado pelo caso da megafraude da Volkswagen
sobre a emissão de poluentes pelos veículos automóveis, pois houve violação das
normas comunitárias, por entidades privadas, mas em domínios nos quais as
autoridades nacionais estão investidas de poderes específicos de controlo e regulação.
56
Se, p.e., há um bloqueio de estradas, mas as forças policiais nada fazem para desbloquear e deixar
passar mercadorias de outro Estado-membro, o TJ pode atuar (livre circulação de mercadorias) – isto
aconteceu na chamada guerra dos morangos (C-265/90), em que a França foi condenada, por não ter
usado a força para desbloquear as estradas, fazendo com que os morangos espanhóis não conseguissem
passar e portanto não conseguissem chegar ao seu destino final
59
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Procedimento Pré-Contencioso
Caso de Comissão c. Estado-Membro
Fase administrativa que visa esclarecer dúvidas em torno do alegado incumprimento do Estado-
Membro ou para adotar medidas necessárias à reposição da legalidade.
➢ Fase preambular em que a admissibilidade e mesmo a procedência do recurso judicial
dependem da forma como forem observadas pela Comissão as exigências de
fundamentação e respeito pelo princípio da cooperação leal na fase procedimental.
Carta deve ser inequívoca, com citação expressa da base jurídica (art. 258º TFUE), respeitando
certas exigências:
1) delimitação clara da alegada situação de incumprimento;
2) enunciação completa do âmbito e teor da alegada situação de incumprimento,
circunscrevendo o objeto do litígio;
3) definição de prazo suficiente de resposta
B. PARECER FUNDAMENTADO
Comissão tem de adotar um parecer fundamentado contendo uma descrição detalhada da
acusação e dos fundamentos, de facto e de direito, do porquê de achar que um Estado-
Membro violou as suas obrigações de fonte eurocomunitária.
Ao Estado-Membro é dado um prazo para por em prática as medidas pressupostas pelo dever
de conformação com DUE.
60
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
61
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
O parecer fundamentado deve delimitar de modo preciso o objeto do litígio – é apenas a partir
de uma fase pré-contenciosa regular que o processo contraditório no TJUE permitirá a este
decidir se o Estado-Membro não cumpriu efetivamente as obrigações precisas, cuja violação
é invocada pela Comissão.
Outros requisitos que decorrem do adquirido jurisprudencial (página 261 e ss. MLD):
• Identidade ou coerência entre o parecer fundamentado e a petição
• Alteração da legislação nacional ou eurocomunitária não afeta a admissibilidade da ação
• Incumprimentos posteriores à extinção do prazo fixado no parecer fundamentado são
irrelevantes (data que interessa para apreciar a existência de incumprimento é no
momento da extinção do prazo fixado no parecer fundamentado e não no momento da
notificação ao Estado-Membro)
• Cumprimento posterior à extinção do prazo fixado no parecer fundamentado é
irrelevante
• A Comissão não tem prazo para instaurar a ação por incumprimento a contar do termo
do prazo fixado pelo parecer fundamentado
57
Formalidade essencial mas cujo teor não é determinante para o apuramento da existência de
incumprimento – mesmo que o parecer da Comissão conclua que não há incumprimento
62
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
A invocação da exceção de ilegalidade já foi admitida pelo TJUE como meio legítimo de defesa.
➢ Também já foi admitida a invocação por Estados-Membros de uma exceção por
inexistência jurídica do ato, em que faltava a base jurídica na ordem comunitária
(Comissão c. França, 6/69)58.
Há uma presunção de legalidade dos atos jurídicos da UE e eles são obrigatórios enquanto não
forem revogados ou declarados ilegais, pelo que o Estado-Membro está vinculado ao dever de
os aplicar na ordem jurídica interna, ainda que um tal comportamento envolva violação de
regras superiores do Tratado.
Podem haver causas de força maior que impedem o Estado-Membro de cumprir as suas
obrigações, tendo este conceito de ser entendido como um caso em que há circunstâncias
anormais e imprevisíveis, cujas consequências não poderiam ter sido evitadas, apesar de todas
as diligências desenvolvidas (Comissão c. Itália, C-334/08).
Do histórico jurisprudencial pode inferir que é praticamente impossível um Estado-Membro
fazer prova desta circunstância.
58
Este entendimento foi reforçado recentemente com o caso Comissão c. República Checa, C-37/11
63
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Saber qual o órgão interno ou qual a entidade estadual que deve adotar as medidas necessárias
é uma questão a resolver à luz da Constituição e das leis internas.
59
A experiência de funcionamento da segunda ação por incumprimento, decalcada sobre o formato
procedimental da primeira ação por incumprimento, demonstrou que eram necessários vários anos, após
a declaração de incumprimento, para obter a condenação do Estado-Membro relapso ao pagamento da
sanção pecuniária
60
Aumentaram muito os acórdãos que ficaram por executar – a partir dos 70
Chegou-se a uma conclusão que se estava a atingir limite patológico em que Ação por Incumprimento não
estava a funcionar e obrigava-se a avançar para uma segunda ação por incumprimento.
➢ Mas mais uma vez esse acórdão era declarativo e podia não haver medidas de execução.
o Com Maatricht avança-se para um mecanismo sancionatório – veio conferir eficácia ao
modelo de execução do acórdão
64
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Art. 260º/3 foi adicionado com o Tratado de Lisboa e dispensa a fase pré-contenciosa,
permitindo à Comissão que na ação proposta ao abrigo do art. 258º solicite ao Tribunal, a par
da declaração do incumprimento, a condenação do Estado demandado ao pagamento de
quantia fixa ou sanção pecuniária compulsória.
Art. 260º/2 foi decalcado da fase pré-contenciosa do art. 258º TFUE – simetria funcional entre
a fase pré-contenciosa da primeira ação por incumprimento da fase pré-contenciosa da segunda
ação por incumprimento, abreviada e reduzida à carta para cumprir.
➢ Não pode alterar o objeto do litígio.
➢ A Comissão é obrigada a especificar com clareza os pontos em que o Estado-Membro
não deu execução ao acórdão, sob pena do pedido ser inadmissível.
Estas sanções variam devido aos pressupostos de aplicação e devido a critérios variáveis de
quantificação econométrica – isso é feito através das Comunicações da Comissão (as primeiras
de 1996) e da jurisprudência do TJUE.
Art. 260º/2 TFUE estabelece que a Comissão propõe o montante da sanção pecuniária e é o
TJUE que decide.
• TJ tem ampla margem de decisão.
• TJUE aliás, tem usado da sua liberdade decisória e sobre o caráter alternativo da sanção
fixa e sanção variável pronunciou-se que, por apelo a uma interpretação teleológica e
funcionalista, poder-se-ia aplicar uma dupla sanção.
65
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Caso que deu origem a uma jurisprudência iterativa de aplicação cumulativa dos dois tipos de
sanções.
Sem prejuízo dos direitos processuais de ativação de uma fase pós-contenciosa, TG e TJ fixaram
uma jurisprudência que clarifica a delimitação de competências entre, por um lado, o próprio TJ,
titular exclusivo do poder de declaração do incumprimento e de determinação do seu âmbito e,
por outro lado, a Comissão à qual incumbe garantir a execução do acórdão condenatório.
→ Páginas 284 e 285 livro MLD
Sanção pecuniária foi introduzida com o Tratado de Maastricht e teve tanto significado que a
Ação por Incumprimento deixou de ser a mesma.
• Antes de 1992 era meramente uma ação declarativa – mas até aos anos 1980 o
incumprimento não era muito reiterado. Mas começou a haver uma altura em que o
incumprimento passou a ser mais evidenciado.
• A partir de 1992, os Estados aceitaram uma revisão para conferir efetividade à Ação de
por Incumprimento, conferindo um caráter mais executivo
o Comissão c. Portugal, C-292/11 P: sanção tem uma característica de executivo.
66
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
No art. 260º/3, introduzido pelo Tratado de Lisboa, permite a Comissão ao recorrer para o
TJUE pedir logo a condenação do Estado e a sanção – violação do dever de comunicação de
transposição de uma diretiva legislativa (incumprimento é considerado mais grave, pelo que
justifica uma ação mais expedita).
• Comissão não tem de ir ao mecanismo do art. 258º e usa o art. 260º/3 como dois em
um.
• Violação da comunicação dos deveres de transposição – transposição parcial ou
incorreta não permite utilizar este mecanismo e terá de utilizar-se o art. 258º.
• Mecanismo expedito que só se aplica à violação de um dever procedimental (dever de
comunicação das medidas) – entende-se assim devido ao princípio da Cooperação Leal
Sanções pecuniárias aplicáveis – art. 260º diz claramente que é quantia fixa OU sanção
pecuniária compulsória
➢ Comissão c. França, C-304/02 (paradigmático do ativismo judiciária): TJUE vem dizer
descaradamente que esse OU deve ser lido como um E
o TJUE confrontava-se com uma possibilidade de alternativa e desvaloriza a letra
do artigo fazendo uma interpretação teleológica: autores do Tratado, ao prever
2 tipos de sanções, fizeram-no porque estas visam objetivos claramente
diferentes.
▪ Quantia fixa pretende punir o Estado pelo incumprimento verificado.
▪ Sanção pecuniária compulsória pretende persuadir o Estado que está
em incumprimento a repor a legalidade do ato – é instrumento de
persuasão.
o Raciocínio do tribunal é que há sanção para o passado e para o futuro,
justificando-se, em alguns casos, que ele seja duplamente penalizado.
o Pode aplicar duplamente as duas sanções.
Comissão indica valor da sanção mas é TJUE que decide (ele não está vinculado ao que a
Comissão pede).
➢ Só no caso do art. 260º/3 é que TJUE está limitado ao que a Comissão propõe – no art.
260º/2 não há esse limite.
67
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
No seu formato e nos objetivos que os orientam, estes mecanismos replicam uma conhecida
estratégia do paradigma da justiça pós-estadual no sentido de favorecer a solução dos litígios
entre o Estado e os cidadãos fora dos tribunais:
• Centros SOLVIT – funciona desde 2002 e tem como objetivo conseguir, em 10 semanas,
uma resposta a um problema identificado pelos cidadãos e pelas empresas de violação
das regras do mercado interno pelas administrações nacionais.
Notícia sobre multa ao Estado Português por incumprimento dos horários dos aeroportos
(https://www.dn.pt/pais/interior/bruxelas-pede-multa-pesada-para-portugal-devido-a-slots-nos-aeroportos-10147961.html)
• MLD: Não é que prazo de inexecução seja muito longo. Dois anos não é assim muito mas
Comissão considerou que sim devido ao impacte económico no setor
• Comissão instaurou uma segunda ação por incumprimento onde pede uma dupla
sanção (multa + sanção pecuniária compulsória)
• TJUE, vendo que Estado Português aprovou ontem a legislação, pode fazer uma de duas
(nunca há superveniência da lide):
o Decidir não aplicar a multa – porque já foi dado cumprimento ao primeiro
acórdão.
o Decidir aplicar a multa – porque o incumprimento já aconteceu e multa visa
sancionar o passado de incumprimento.
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Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
A UE pode celebrar contratos de direito privado e de direito público com pessoas físicas e/ou
coletivas que tenham residência no território dos Estados-Membros ou não.
O direito aplicável ao contrato e o foro competente para arguir o litígio é escolhido pelas partes.
• O TJUE só pode ser a instância do litígio se a sua jurisdição for reconhecida, de modo
expresso, no contrato.
o Da articulação do art. 272º e 274º TFUE resulta que a o TJUE apenas dispõe de
competência de julgamento da ação de indemnização por responsabilidade
contratual da União se o contrato o prever, sob a forma de cláusula
compromissória. A UE deve ser uma das entidades que celebram o contrato61.
▪ A viabilidade jurídica da cláusula compromissória não depende da sua
conformidade com disposições de direito nacional (Feilhauer, C-
209/90) mas tem de observar certos requisitos de forma e exigências
de fundo.
• O direito aplicável é escolhido pelas partes pelo que poderá o TJUE apreciar a questão à
luz do direito nacional identificado. Em caso de dúvida, prevalece a aplicação do direito
nacional salvo se esta aplicação prejudicar o alcance e a eficácia do DUE (Flemmer, C-
80/99)
Pela via da ação de indemnização a UE (e automaticamente BCE) pode ser demandada por
qualquer pessoa que solicite a reparação devida por prejuízos resultantes de ato ou omissão
imputáveis à União.
➢ Qualquer sistema judicial tem de garantir, a par do controlo da legalidade, a tutela
indemnizatória de direitos e interesses lesados.
Art. 340º TFUE remete para os princípios gerais comuns aos direitos dos Estados-Membros –
são difíceis de identificar pelo que o TJUE aproveitou para definir uma conceção própria sobre a
responsabilidade da UE, centrada na consideração da especificidade funcional desta união de
Estados Soberanos.
61
O que exclui os contratos de concursos públicos celebrados no quadro do financiamento oriundo dos
fundos comunitários.
69
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
62
TJUE tem orientação restritiva sobre a eventual relevância destes deveres de fiscalização como fonte
geradora de responsabilidade (Cato, C-55/90; Vendedurías de Armadores Reunidos, T-61/01).
63
Tem de haver esgotamento das vias processuais adequadas junto dos tribunais nacionais – exigência
prévia de admissibilidade da ação de indemnização contra a UE, junto do TJUE.
70
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Requisitos de Admissibilidade
A. Tribunal Competente
Art. 256º TFUE: Tribunal Geral, mesmo que ação de indemnização seja instaurada por Estado-
Membro ou Instituição (art. 51º ETJUE).
➢ Pode haver recurso para o Tribunal de Justiça (art. 56º ETJUE) mas há limitações quanto
aos factos do processo, que ficam encerrados junto do TG (art. 256º/1/§2 TFUE e art.
58º ETJUE).
B. Legitimidade Ativa
Qualquer pessoa, física ou coletiva, de direito privado ou de direito público, interno ou
internacional, tem o direito de, com fundamento no art. 340º TFUE, instaurar uma ação de
indemnização contra a UE e o BCE.
C. Legitimidade Passiva
A questão de saber contra quem deve ser instaurada a ação de indemnização suscita vários
dúvidas que se reconduzem a: i) Imputação do Prejuízo; ii) Representação da UE
i) IMPUTAÇÃO DO PREJUÍZO
Atos das Instituições: expressão “instituição” abarca também órgãos e organismos
comunitários.
71
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Atos dos Agentes das instituições no exercício das suas funções: responsabilidade da UE só
pode ser acionada em situações em que as ações possam constituir o prolongamento necessário
das missões confiadas às instituições (Sayag, 9/69)
➢ MLD: ideia subjacente é bizarra porque exclui do âmbito da UE todos os atos e omissões
dos seus agentes que, por natureza, não possam ser executados pelas instituições, como
conduzir um automóvel.
Delegação de Poderes: UE pode ser responsabilizada pelos danos causados pela entidade que
atua, no quadro da delegação de poderes, em substituição da instituição titular da competência
72
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
ii) REPRESENTAÇÃO DA UE
Ação de indemnização visa a União, dotada de personalidade jurídica, e não a instituição, que,
no caso concreto, estará alegadamente, na origem do prejuízo.
• Representação da UE em juízo cabe à instituição que causou o prejuízo, podendo ser
uma representação partilhada.
O acionante deve instaurar a ação de indemnização contra a UE, com a especificação de qual ou
quais as instituições/órgãos/organismos da UE causadores do prejuízo e que assumem, no
processo, a função de representação da União.
➢ TJUE não é formalista e uma petição contra a Comissão e Conselho, quando deveria ter
a UE como demandada, não é, só por isso, inadmissível, desde que não afete os direitos
de defesa (Bühring, T-246/93).
D. Prazo de Prescrição
Ação de indemnização contra a União Europeia prescreve no prazo de 5 anos64 a contar da
ocorrência do facto que lhe tenha dado origem – art. 46º ETJUE.
➢ Esse prazo não começa a correr se for instaurado recurso de anulação ou omissão, que
tenha por objeto o facto gerador do prejuízo (Giordano, 11/72).
Se o prejuízo resulta de ato ilegal, o prazo de prescrição só começa a contar da data de cessação
de vigência, por revogação, declaração de ilegalidade ou qualquer outro tipo de ato interruptivo
(Steffens, T-222/97).
A apreciação subjetiva da realidade do dano pelo demandante não pode ser tomada em
consideração na determinação do ponto de partida do prazo de prescrição (Fratelli Rossi, C-
136/01; Comissão c. Cantina Sociale, C-51/05).
➢ O prazo começa a contar a partir do momento em que o prejuízo sofrido pela vítima se
concretizou efetivamente.
Ao contrário dos prazos processuais, cuja violação é examinada oficiosamente pelo TJUE, a
questão da inadmissibilidade da ação com fundamento no esgotamento do prazo de prescrição
tem de ser suscitada pelo interessado processual.
Fundamentos da Responsabilidade
Doutrina jurisprudencial inspirada pelos princípios gerais comuns aos direitos dos Estados-
Membros, designadamente pela teoria civilista relativa aos pressupostos da responsabilidade
aquiliana.
➢ Há desvios tendo em conta a especificidade da UE – não se exige a verificação da culpa.
64
Prazo mínimo – em caso algum pode ser inferior a 5 anos (Kampffmeyer, 1966).
73
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Verificação cumulativa das exigências quanto a 3 tipos de requisitos (Giordano, C-611/12 P):
1º. ILEGALIDADE do comportamento imputado à instituição da União
a. Ilegalidade do Ato Normativo – tem de haver uma violação suficientemente
caracterizada de uma norma superior de direito que proteja os particulares
(Zuckerfabrik, 5/71)
• Ato normativo: depende da natureza ou conteúdo do ato, tendo de
conter escolhas de política económica (não interpretada literalmente e
entendida como “escolhas de política” – implicam escolhas entre
soluções diferentes)
• Três elementos da ilegalidade qualificada/suficientemente
caracterizada:
1. Violação suficientemente caracterizada – violação grave e
manifesta (Amylum, 1977). Nos casos em que a instituição tem
margem de apreciação reduzida ou inexistente, a simples
infração ao direito comunitário pode bastar para provar a
existência de uma violação suficientemente caracterizada
(Bergaderm, C-352/98 p).
2. Norma violada é regra superior de direito – violação de uma
regra de direito (desenvolvimento com Bergaderm); uma regra
jurídica que confira direitos aos particulares (onde nessa função
garantidora reside a sua superioridade no quadro do DUE)
3. Violação de norma que visa proteger os particulares/conferir
direitos aos particulares – o particular que sofreu um prejuízo
só pode obter uma reparação se for bem sucedido na
demostração que pertence precisamente ao grupo que a norma
jurídica violada pretende proteger65.
65
Inspiração da Lei Fundamental Alemã (art. 34º)
74
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Força executiva (art. 280º e 299º TFUE) que é regulada pelas normas de processo civil do Estado
em cujo território a UE foi demandada.
➢ Art. 1º Protocolo relativo aos privilégios e imunidades da União Europeia – bens e
haveres da UE não podem ser objeto de qualquer medida coerciva sem autorização do
TJUE
Acórdão de improcedência tem autoridade relativa de caso julgado, mas, este não é oponível a
terceiros.
Em 2017 o TJUE predispôs-se a ultrapassar a acusação de que tem dois pesos e duas medidas
face à apreciação da responsabilidade extracontratual da UE e quanto à responsabilidade dos
Estamos-Membros.
66
Se esse acordo falhar cabe sempre ao juiz da UE a determinação do montante de indemnização.
75
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Tribunal entende que Provedor de Justiça pode ser admitido para efeitos do art. 340º, mesmo
não sendo uma instituição (C-234/02 P) – Tribunal alarga legitimidade passiva face àquilo que
decorre expressamente da letra do artigo.
Verifica que houve violação do dever de diligência e concedeu à cidadã uma indemnização por
danos morais – a quebra de confiança no Provedor de Justiça é indemnizável.
Provedor de Justiça considerou que TG cometeu erros de apreciação e recorreu para o TJ.
O acórdão do TJ, em sede de recurso, primeiro começa por considerar que TG cometeu um
erro de direito – considerar como suficiente uma violação simples do dever de diligência, pois
exige-se uma violação “suficientemente caracterizada”
➢ Quis manter como atual uma fórmula que vem desde o Acórdão Zuckerfabrik, dos anos
70 – só há lugar a indemnização se houver uma “violação suficientemente caracterizada
de uma regra superior de direito que protege os particulares”.
➢ TJ vem dizer que Provedor tem poder de apreciação (se abre ou não inquérito e quando
deve dá-lo por terminado) com margem de discricionariedade – o que se deve sindicar é
se não houve uma violação desse poder de apreciação por violação suficientemente
caracterizada.
TJ anula acórdão do TG, por ele não ter verificado se houve essa violação grave e manifesta.
➢ TJ considerou que tinha todos os elementos de prova para julgar o caso: e chegou à
mesma conclusão que TG e reconheceu indemnização
o No entanto não foi pela mesma fundamentação apresentada pelo TG – houve a
verificação da violação suficientemente caracterizada e tal estava presente
nesse caso.
Sociedade recorre para o TG para impugnar a Decisão do Conselho de congelamento dos bens
– TG dá razão por falta de provas.
➢ TG dá indemnização de 50 mil €, pedida pela sociedade.
o Todos ficam insatisfeitos – Sociedade diz que é pouco, Conselho diz que TG
andou mal
o Ambos recorrem para o TJ
76
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
TJ considerou que a declaração de nulidade não é suficiente como forma de reparação do que
a sociedade sofreu – ela agora poder aceder aos capitais não é suficiente para compensar não
ter podido aceder durante 3 anos.
➢ Mas TJ não acede à sociedade quando ela pede reparação pelos danos materiais – tem
de ser efetivo e sociedade não fez prova da ocorrência desses prejuízos reais e efetivos
que tinham uma relação direta com a decisão de congelamento dos bens.
➢ Mantém a decisão do TG
Recusa por parte do Conselho o acesso aos documentos que dariam à sociedade a
fundamentação dessa medida – aí houve uma violação suficientemente caracterizada que
permite essa responsabilidade extracontratual.
MLD: Os pressupostos continuam a ser restritivos – nem todos os danos são indemnizáveis.
➢ Mas dentro desse contexto o TJUE demonstra maior abertura para o exercício ao direito
a uma indemnização.
Cabe às Ordens Jurídicas internas regulamentar as modalidades processuais das ações judiciais
destinadas a assegurar a plena proteção do direito à reparação – princípio da autonomia
institucional (limitada pelo critério da equivalência e da efetividade67)
67
Traghetti, C-173/03: legislação italiana foi considerada excessivamente restritiva, logo contrária ao
dever de indemnizar. A obrigação de reparar os prejuízos causados aos particulares não pode ficar
subordinada a condições extraídas do conceito de culpa que ultrapassem o pressuposto pela violação
suficientemente caracterizada do DUE.
77
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
68
Que foi impulsionada pela condenação do Estado português no TJUE, pela definição de um regime
jurídico-processual de ativação da responsabilidade do Estado por violação do DUE
69
O caso Bergaderm (C-352/98 P) vem concluir, de modo coerente, que o dever de reparação por parte
da UE também se impõe quando satisfeitas as 3 condições de verificação de que depende a
responsabilidade dos Estados-Membros.
➢ Convergência entre o regime jurídico aplicável à responsabilidade da UE e dos Estados-Membros
o que leva a que a interpretação e aplicação dos regimes nacionais sobre a responsabilidade, por
um tribunal nacional, é necessariamente orientada por um dever de interpretação conforme a
jurisprudência do TJUE (tanto a proferida ao abrigo de questões prejudiciais como as decisões de
pedidos de indemnização).
70
Köbler (C-224/01): essa violação da regra comunitária pode ser por decisão imputável a juiz nacional
➢ Tomásová (C-168/15): responsabilidade do Estado por exercício da função jurisdicional depende
da violação perpetrada por um tribunal nacional que decide em última instância
78
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Em 2008 (Acórdão C-70/06), o Estado português volta a ser condenado pois a Lei 67/2007 não
garantia a execução do primeiro acórdão condenatório.
➢ Altera-se esta lei, acrescentando o art. 7º
o MLD: positivação sob a forma de remissão genérica para o regime jurídico
eurocomunitário da responsabilidade do Estado por violação do DUE é
redundante.
▪ Haveria remissão cruzada (regime nacional remete para o DUE e DUE
remete para os nacionais, na medida que o seu regime assenta nos
princípios gerais comuns aos direitos dos Estados-Membros).
MLD: quase todas as omissões e incongruências que a doutrina tem apontado à Lei 67/2007
podem ser supridas pela via, mais ou menos criativa, da interpretação conforme ao DUE, tal
como resulta da jurisprudências contante do TJUE.
Apenas pode haver dúvidas quanto:
• Art. 15º (Responsabilidade no exercício da função legislativa) – falta referência à
omissão, mas, na jurisprudência do TJUE sobre a noção relevante de incumprimento não
há uma distinção entre o incumprimento que se traduz em ação e o que se traduz em
omissão (Comissão c. Itália, 31/69).
→ Páginas 339-342 livro MLD
71
Estando em causa a transposição de uma diretiva (Diretiva 89/665 – Diretiva Recursos) sobre aplicação
de processos de recurso em matéria de adjudicação de contratos de direito público e obras de
fornecimento, que definia uma responsabilidade objetica.
79
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
80
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Art. 278º TFUE: reconhece-se o poder para determinar a suspensão da execução (ou eficácia)
do ato impugnado.
➢ A interpretação deste artigo é no sentido de limitar a competência de proteção cautelar
por parte do TJUE à suspensão de medidas tomadas pelo decisor eurocomunitário.
Art. 279º TFUE: alarga a competência judicial de proteção cautelar a um conjunto de medidas
não tipificadas, definidas pela sua dupla natureza de “provisórias” e “necessárias”.
➢ Ampla margem de apreciação do juiz da União no que respeita às circunstâncias do caso
concreto e à escolha da medida que melhor se adeque à salvaguarda do interesse
jurídico invocado pelo requerente, com respeito pelos limites e pressupostos da tutela
cautelar72.
72
Não podem é ter efeito automático de substituição do titular da competência normativa ou
administrativa, devido à separação de poderes
81
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Requisitos Processuais
A. O Pedido
O pedido é apresentado em requerimento separado (art. 160º/4 RPTJUE) na mesma altura em
que dá entrada a petição ou em momento posterior ao início do processo principal.
Este pedido, apesar de ser formulado em separado e tramitado em processo autónomo, pode
ser prejudicado pela manifesta falta de admissibilidade do pedido principal.
Ex: impugnação de uma decisão da comissão que notifica o interessado da recusa de instaurar
ação por incumprimento dada a natureza insindicável do ato (Schulz c. Comissão, C-97/94).
73
Factortame e Atlanta: TJUE não é competente para decidir sobre medidas cautelares no quadro do art.
267º TFUE mas não está impedido de definir o âmbito dos deveres do juiz nacional como garante
subsidiário da tutela provisóra.
82
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
MLD: o juízo prévio de admissibilidade do pedido no litígio principal não deixa de interferir
com a decisão sobre o pedido de medidas provisórias.
➢ Embora limitadamente, de modo a evitar um julgamento antecipado do mérito da
causa, o juiz das medidas cautelares é obrigado a analisar o pedido e a fundamentação
do recurso principal, através de uma análise perfunctória e que consiga apurar o
fumus boni juris.
B. Requerentes
A suspensão da execução do ato só pode ser requerida pelo demandante que impugnou o ato
perante o TJUE.
À parte requerente cabe provar que prossegue um objetivo específico com o pedido de
medidas provisórias: o interesse processual em agir.
Ex: esse interesse pode traduzir-se na relação entre a medida solicitada e o objetivo de evitar
que os seus direitos e interesses sejam lesados de forma grave e irreparável (Denfil, 310/85 R).
Na ausência de efeito útil, o pedido deve ser liminarmente indeferido, porquanto a medida de
suspensão de execução do ato e qualquer outra providência se revelariam inúteis na
modificação da situação jurídica do requerente.
83
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
C. Destinatários
Art. 160º/5 RPTJUE: o pedido de medidas provisórias tem de ser notificado à “outra parte”
Em virtude do caráter acessório, a medida solicitada deve visar a parte oponente no processos
principal.
Requisitos Substantivos
O TJUE exerce a sua competência de juiz de medidas cautelares no quadro de uma teoria clássica
sobre a confluência necessária e cumulativa de 3 requisitos de decisão74:
74
MLD: juiz das medidas provisória pode atuar com margem amplíssima de apreciação, podendo valorizar
de forma diferente cada uma das condições.
➢ Comissão c. Atlantic, C-149/95 P(R): o juiz das medidas provisórias dispõe de um vasto poder de
apreciação e é livre de determinar, relativamente às especificidades do caso concreto, o modo
como essas diferentes condições devem considerar-se verificadas, bem como a ordem dessa
análise, uma vez que nenhuma norma de direito comunitário lhe impõe um esquema de análise
preestabelecido para apreciar a necessidade de decidir provisoriamente.
➢ O requisito que tem prevalecido é o do Periculum in Mora
75
Não tem de ser comprovado com grau de certeza absoluta – basta que seja previsível em grau
suficiente (Prayon-Ruppel, T-73/98 R).
84
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Prejuízo que resulta da divulgação de informação confidencial ou que envolve, por outra forma,
a violação de direitos fundamentais: páginas 372-374 livro MLD
3. Ponderação de interesses
Decretamento da medida provisória solicitada fica dependente do caráter prevalecente do
interesse invocado pelo requerente e também do dano superior e agravado que, com elevada
probabilidade, resultará da ausência de diligência cautelar.
A ponderação sobre a relevância relativa dos interesses das partes em litígio só faz sentido se
forem dados como verificados os requisitos relativos ao fumus boni iuris e à urgência.
➢ Mas não é análise totalmente autónoma, porque o juiz das medidas provisórias já foi
obrigado a propósito da natureza grave e irreparável do prejuízo, a sopear a importância
dos direitos e interesses suscetíveis de lesão.
85
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
A decisão sobre medidas cautelares não vigora para além da data do acórdão sobre o mérito
da causa, o que tem inegável relevo prático na situação de processos pendentes no Tribunal
Geral.
Uma rejeição de um pedido de medidas provisórias não inibe a parte que o tenha deduzido de
submeter novo pedido, baseado em factos novos (art. 164º RPTJUE).
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Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Pode justificar um desvio à doutrina Foto-Frost, permitindo ao tribunal nacional, por razões de
urgência, o decretamento da medida provisória baseada na suposta invalidade do ato
comunitário, desde que suspenda a instância nacional e coloque a questão prejudicial de
validade ao TJ (Zuckerfabrik).
Despacho proferido em 17 dias (sublinha bem a urgência das medida cautelares) no âmbito de
uma Ação por Incumprimento, pela Comissão no âmbito do art. 258º TFUE.
• O que está em causa não é o processo do art. 7º TUE (mecanismo político).
• A Comissão assume que são realidades diferentes e vem é aumentar a pressão sobre a
Polónia.
Enquanto no art. 7º é a violação do Estado de Direito no geral, o art. 258º está a ser utilizado
para concretizações de violações do Estado de Direito.
➢ Este art. 258º não era considerado como suscetível de ser utilizado para situações tão
graves – Comissão entendia que devia ser utilizado para situações específicas.
Em outubro há alteração da perspetiva da Comissão, por antever o bloqueio à luz do art. 7º,
decidindo utilizar o mecanismo do art. 258º TFUE.
➢ Mas neste caso a acusação tem de ser muito específica: o que está em causa é a lei
sobre o tribunal supremo da Polónia (reforma do Supremo de forma a aumentar a
possibilidade de o Executivo exercer influência sobre o Tribunal)
Comissão entra com uma Ação por Incumprimento e ao mesmo tempo pede Proteção Cautelar,
que se concretiza na suspensão da lei.
Art. 279º
87
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Avaliação de medidas provisórias pelo TJUE tem em conta: fumus boni iuris + periculum in mora
Aparência de bom direito
Urgência, devido a causar prejuízos irreparáveis
88
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
O modelo de recurso das decisões do TG para o TJ foi inspirado pelo regime do chamado
recurso de cassação.
➢ TJ não pode conhecer da matéria ou mérito das pretensões processuais, limitando-se a
sua apreciação aos erros de direito cometidos pelo tribunal recorrido.
o Mas, o TJ pode, se o litígio estiver em condições de ser julgado, decidir
definitivamente sobre o litígio concreto (art. 61º ETJUE).
Objeto do Recurso
Art. 256º TFUE + 58º ETJUE: limitado às questões de direito, tendo como pedido a anulação (total
ou parcial) da decisão recorrida do TG (art. 169º/1 RPTJUE)
89
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
O recurso pode ser interposto por qualquer das partes que tenha sito total ou parcialmente
vencida na decisão tomada pelo TG (art. 56º/§2 ETJUE).
Fundamentos do Recurso
Art. 169º/2 RPTJUE
• A legislação processual codificou em 2012 a orientação paulatinamente definida pelo TJ
em relação à obrigação precisa de fundamentação, sob a forma de uma clara
identificação dos pontos controvertidos da decisão do TG posta em causa.
o Segundo jurisprudência constante do TJ, um recurso de decisão do TG não pode
limitar-se a reproduzir os fundamentos e os argumentos já apresentados no
tribunal de primeira instância, sem adiantar argumentos destinados a provar
que este teria cometido um erro de direito (Abello c. Comissão, C-30/96 P).
o Não têm necessariamente de ser argumentos novos, mas tem de haver uma
avaliação crítica da decisão tomada pelo TG, o que corresponde a um estádio
superior de desenvolvimento da argumentação jurídica em causa.
90
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Se o recurso for julgado procedente, o TJ anula a decisão do TG (art. 61º ETJUE) em parte ou
no seu todo (art. 169º/1 RPTJUE).
Ao TJ cabe, no caso de se decidir pela anulação da decisão recorrida, definir o futuro do processo
entre duas opções possíveis:
1. Julgar definitivamente o litígio, se estiver em condições para isso
2. Remeter o processo ao TG para julgamento (art. 61º/1 ETJUE).
MLD: atendendo ao art. 170º/2 RPTJUE não é descabido assumir que a regra é a do julgamento
do litigio pelo próprio TJ, com inegáveis vantagens em função do objetivo de celeridade, mas
com eventual prejuízo para o recorrente, impedido de exercer plenamente os seus direitos de
defesa como seria o caso se os autos fossem remetidos para o TG.
➢ Entre 1997 e 2012 a taxa de avocação foi de 73% - preferência do TJ pela opção da auto-
decisão.
91
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
CEDH e TEDH
No âmbito da CEDH não há sistema de precedente – até que ponto estão os Estados vinculados
a seguir a jurisprudência do TEDH fora dos processos a que lhes dá origem?
TEDH não é tribunal de recurso – não há uma revisão das sentenças proferidas a nível nacional.
Não há uma anulação desses atos.
Ao nível do TEDH vai só haver uma compensação.
➢ Rui Guerra da Fonseca: cada vez mais se recorre ao TEDH como instância e de recurso e
não como confirmação.
Protocolo 16 não foi assinado nem ratificado por Portugal – permite aos tribunais superiores
das Altas Partes Contratantes solicitar ao TEDH pareceres consultivos sobre questões de
princípio relativas à interpretação ou aplicação dos direitos e liberdades consagrados na CEDH
ou seus Protocolos.
CEDH e UE
CEDH foi o primeiro catálogo de Direitos Fundamentais/do Homem/Humanos no espaço da
Europa.
Caso Stauder termina o Agnosticismo Valorativo do TJUE e passa a considerar que os Direitos
Fundamentais da CEDH fazem parte dos valores dos Estados-membros como princípios gerais
de Direito.
A partir de 1975 há uma receção expressa da CEDH na jurisprudência do TJUE
Adesão à CEDH
Antes não havia norma – TJUE não permitia a adesão por não haver norma
92
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
o TJUE é muito cioso da sua jurisprudência e não se quer ver numa estrutura em
que não esteja ele no topo.
A adesão é necessária?
É algo que é mais simbólico do que para proteção jurídica.
• Já há proteção jurídica pois a CEDH faz parte integrante da ordem jurídica da UE (art.
6º/3 TUE).
• Disposições da CEDH podem prevalecer se derem proteção mais alta: art. 53º CDFUE
• Triângulo Judicial Europeu: Tribunais Nacionais + TJUE + TEDH
o Não é relação clássica e é atípica – mas o projeto europeu não é de todo típico.
o Tribunais relacionam-se de tal forma que é residual a possibilidade de haver
conflitos entre o TJUE e TEDH. Há uma espécie de reverência mútua em que se
respeitam.
93
Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
BREXIT
VICISSITUDES DO BREXIT EM TERMOS JUDICIÁRIOS
Nos tribunais internos do Reino Unido e da Irlanda tem-se debatido o Brexit e as suas
consequências.
➢ Têm vindo a juízo sob forma de ação popular.
Também há grupos de cidadão que chegam ao Tribunal Geral impugnando este processo de
saída do Reino Unido.
T-458/17 – acórdão TG
Cidadãos ingleses fora do Reino Unido pediam a declaração de nulidade da Decisão do Conselho
de maio de 2017 nos termos do art. 50º TUE.
• Considerou que os particulares não tinham legitimidade ativa.
• Considerou que foi uma decisão política (com base no art. 50º) e intermédia, pelo que
não pode ser sindicado.
o É um ato intermédio que não produz efeitos jurídicos e só provoca
consequências procedimentais.
A 13 de fevereiro de 2018, o supremo tribunal da Irlanda do Norte enviou ao TJUE uma questão
prejudicial acerca da aplicação da legislação comunitária aos cidadãos europeus que se
encontrem no território.
Governo do Reino Unido fixou-se somente numa posição – não discutiram a interpretação do
art. 50º pois esta questão não cabe no âmbito do art. 267º. É uma falsa questão prejudicial pois
não se prende com um litígio concreto entre particulares.
➢ Conselho e Comissão acompanham esta posição mas apresentam também argumentos
face à interpretação do art. 50º.
o Tese do Reino Unido, acompanhada pela Comissão é a seguinte: estamos a usar
o art. 267º para pedir ao TJUE um parecer consultivo. Ele pode ser consultado,
mas pelo art. 218º e não pelo art. 267º.
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Sebenta CUE – 2018/2019 DNB
Mas agora vêm dizer que não se pode interpretar art. 50º à luz do DIP, devido às especificidades
dos tratados e de ser lex specialis.
➢ Também há questões políticas envolvidas.
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