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O regime de bens tem por finalidade regulamentar as relações patrimoniais entre os cônjuges
quanto ao domínio e a administração de ambos ou de cada um sobre os bens trazidos ao casamento e
os adquiridos durante a união conjugal.
A escolha do regime de bens é feita antes do casamento, por meio de pacto antenupcial, que
deve ser realizado por escritura pública e anexado aos documentos necessários para o processo de
habilitação, conforme previsto no artigo 1.640, parágrafo único, do CC/02. Caso não haja pacto
antenupcial, o regime que deve constar no registro de casamento é o legal (comunhão parcial de bens).
E conforme dispõe o artigo 1.639 do CC/02, é lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento,
estipular, quanto aos seus bens, o que lhes aprouver.
ATENÇÃO: A eficácia do pacto antenupcial realizado por menor, fica condicionada à aprovação de
seu representante legal, salvo nas hipóteses de regime de separação obrigatória ou legal de bens. Além
disso, é nula a convenção ou cláusula dela que contrarie disposição absoluta de lei.
Ressalta-se que a eficácia do regime de bens escolhido ou estruturado depende de dois fatores:
a) a validade do pacto antenupcial; b) a celebração do casamento, uma vez que o regime escolhido
começa a vigorar a partir da data em que foi celebrado o matrimônio (art. 1.639, § 1º, CC/02).
Além disso, os cônjuges podem, após o casamento, alterar o regime de bens, salvo se tratar-
se de separação obrigatória de bens. Contudo, para isso é necessário o cumprimento de três requisitos
cumulativos: a) autorização judicial; b) motivação relevante; c) ressalva dos direitos de terceiros; não
sendo necessária a lavratura de pacto antenupcial para a modificação. A previsão consta no artigo
1.639, parágrafo 2º, do CC/02.
O pedido deve ser feito por ambos os cônjuges, pois a recusa de qualquer um deles impedirá
o deferimento. Com o pedido, o juiz determinará a publicação de edital (para garantir publicidade
perante terceiros) e decidirá depois do prazo de 30 dias deste; e após o trânsito em julgado da decisão,
esta será averbada nos registros civil, de imóveis e, se algum cônjuge for empresário, no registro de
empresas mercantis, sendo que a alteração produzirá efeitos entre as partes somente a partir da decisão
judicial.
Art. 1.687. Estipulada a separação de bens, estes permanecerão sob a administração exclusiva
de cada um dos cônjuges, que os poderá livremente alienar ou gravar de ônus real.
A primeira hipótese de vedação diz respeito à alienação ou ao gravame de ônus real de bens
imóveis (por exemplo hipoteca). A autorização ou outorga conjugal é necessária ainda que os bens
imóveis sejam particulares do cônjuge, nos regimes de comunhão parcial e universal, podendo ser
dispensada, em pacto antenupcial, no regime de participação final nos aquestos (art. 1.656, CC/02).
Podem os cônjuges, submetidos ao regime de comunhão parcial ou comunhão universal,
celebrar contratos de compra e venda de bens entre si, desde que excluídos da comunhão (art. 499,
CC/02). No mesmo sentido, o empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal,
qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou
gravá-los de ônus real (art. 978, CC/02).
A segunda hipótese é para ajuizar ou responder ações judiciais que envolvam os bens imóveis
comuns ou particulares dos cônjuges. Não pode o cônjuge isoladamente, ser Autor ou Réu de uma
Ação judicial.
A terceira hipótese é concernente à prestação de fiança ou aval. É nula a fiança dada por um
dos cônjuges sem a outorga do outro, para garantia fidejussória de qualquer contrato. A nulidade
alcança toda a garantia, não se limitando apenas à meação do cônjuge (Súmula 332/STJ): “A fiança
prestada sem autorização de cada um dos cônjuges implica a ineficácia total da garantia”.
A quarta hipótese impõe a outorga do outro cônjuge para a doação de bens comuns, sejam
móveis ou imóveis, inclusive os de pequeno valor. Por consequência, pode o cônjuge, sem
autorização do outro, doar seus bens particulares que mantenha com os comuns nos regimes de
comunhão parcial, universal e de participação final nos aquestos. A menção aos bens “que possam
integrar futura meação”, que consta no inciso IV do artigo 1.647 do CC/02, diz respeito ao regime de
participação de final nos aquestos. Ressalta-se, contudo, que fica excluída, em qualquer regime, a
necessidade de autorização conjugal para a doação remuneratória.
Abre-se exceção à regra da outorga conjugal para as doações de bens comuns, que não sejam
remuneratórias. São consideradas válidas as doações que algum dos pais faça a filho, por ocasião de
seu casamento ou para estabelecer algum negócio próprio (artigo 1.647, § único, CC/02: “são válidas
as doações nupciais feitas aos filhos quando casarem ou estabelecerem economia separada”). Não se
trata de bens particulares, mas de bens comuns. Assim, constando no contrato ou escritura de doação
essa motivação, não haverá necessidade de outorga conjugal.
ATENÇÃO: Cabe ao juiz, nos casos do artigo 1.647, CC/02, suprir a outorga, quando um dos
cônjuges a denegue sem motivo justo, ou lhe seja impossível concedê-la.
Conforme previsão do artigo 1.642 do CC/02, qualquer que seja o regime de bens, tanto o
marido quanto a mulher podem livremente: I- praticar todos os atos de disposição e de administração
necessários ao desempenho de sua profissão, com as limitações estabelecidas no inciso I do artigo
1.647; II- administrar os bens próprios; III- desobrigar ou reivindicar os imóveis que tenham sido
gravados ou alienados sem o seu consentimento ou sem suprimento judicial; IV- demandar a rescisão
dos contratos de fiança e doação, ou a invalidação do aval, realizados pelo outro cônjuge com infração
do disposto nos incisos III e IV do artigo 1.647; V- reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis,
doados ou transferidos pelo outro cônjuge ao concubino, desde que provado que os bens não foram
adquiridos pelo esforço comum destes, se o casal estiver separado de fato por mais de cinco anos; VI
– praticar todos os atos que não lhes forem vedados expressamente.
ATENÇÃO: As ações fundadas nos incisos III, IV e V do artigo 1.642 do CC/02 competem ao
cônjuge prejudicado e a seus herdeiros. E o terceiro prejudicado com sentença favorável ao Autor nos
casos dos incisos III e IV do 1.642 do CC/02 terá direito regressivo contra o cônjuge que realizou o
negócio jurídico ou seus herdeiros (no limite da herança).
Além disso, o artigo 1.643 do CC/02, traz mais duas situações que independem de autorização
do cônjuge: I- comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica; II- obter, por
empréstimo, as quantias que a aquisição dessas coisas possa exigir.
Destaca-se que mesmo sendo praticado por apenas um dos cônjuges, a responsabilidade pelas
dívidas contraídas para a garantia da economia doméstica é solidária entre os cônjuges.
Segundo previsão do artigo 1.651 do CC/02, quando um dos cônjuges não puder exercer a
administração dos bens que lhe incumbe, segundo o regime de bens, caberá ao outro: I- gerir os bens
comuns e do consorte; II- alienar os bens móveis comuns; III- alienar os bens imóveis comuns e os
bens móveis ou imóveis do consorte, mediante autorização judicial.
O cônjuge que estiver na posse dos bens particulares do outro será para com este e seus
herdeiros responsável como usufrutuário se o rendimento for comum; como procurador se tiver
mandato expresso ou tácito para os administrar; ou como depositário se não for usufrutuário nem
administrador (artigo 1.652 CC/02).
O cônjuge usufrutuário tem o dever de indenizar o nu-proprietário quando descumprir
qualquer dos deveres que lhe são impostos, particularmente: a) deixar de comunicar lesão ou risco de
lesão à coisa ou à posse; b) destruir a coisa; c) deixar de efetuar as despesas ordinárias de conservação;
d) mudar o destino do usufruto; e) exceder no uso da coisa; f) não entregar a coisa, cessado o usufruto.
Em virtude de o usufrutuário deter a posse da coisa, tem o dever de indenizar os danos a terceiros
ocorridos no interior do imóvel, ou a partir deste, ou pelo uso da coisa.
Obriga-se, também, o cônjuge mandatário a indenizar todos os prejuízos que causar ao
cônjuge mandante, em razão e durante a execução do mandato. Outro dever do mandatário é o de
prestação de contas, ao mandante, dos valores recebidos ou aplicados na execução do mandato,
quando este se concluir, ou lhe seja exigido. Está dispensado o mandatário de prestar constas se o
contrato de mandato ou a procuração expressamente assim estipular, ou no mandato em causa própria.
Com relação ao depositário, o Código Civil estabelece que ele responde perante o depositante
pelos prejuízos que deu causa no descumprimento do dever de guarda.
Além disso, é possível cogitar-se da regra do abuso do direito (artigo 187, CC/02) para
responsabilizar o cônjuge responsável pela má gestão dos bens comuns e particulares. Trata-se de um
direito exercido de modo abusivo e em desconformidade com a finalidade esperada, ou seja, quando
o cônjuge administrador realiza os atos de gestão dos bens comuns ou particulares do consorte para
além da proteção do patrimônio familiar e dos interesses da família.
A Lei de Introdução, em seu artigo 7º, parágrafo 4º, estabelece que o regime de bens, legal ou
convencional, obedece à lei do país em que os nubentes tiverem domicílio, e, se este for diverso, à do
primeiro domicílio conjugal.
Pode o estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, mediante expressa anuência de seu
cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização, a adoção do regime de
comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros, sendo inclusa esta adoção ao
competente registro. Esse pedido implica alteração do regime que tinha sido escolhido ou
determinado em lei, em seu país de origem.
Nesse regime, a separação de bens é uma opção do casal. São eles que livremente escolhem a
separação dos patrimônios. Assim, os bens de cada cônjuge, independentemente de sua origem ou da
data de sua aquisição, como regra, compõem patrimônios particulares e separados, com respectivos
ativos e passivos.
As regras dos artigos 1.687 e 1.688 do Código Civil são aplicáveis tanto à separação legal ou
obrigatória, quanto à separação convencional, e possuem três dimensões principais: a) a
administração exclusiva de cada cônjuge sobre seus próprios bens, sem autorização do outro; b) a
liberdade de alienação dos bens próprios, sem autorização do outro, bem como do destino do
resultado; c) a responsabilidade de cada um sobre as dívidas e obrigações que contrair, pois a
separação patrimonial não alcança a manutenção da família que, em princípio, deve ser suportada por
ambos os cônjuges. Não exige a lei que os encargos sejam divididos igualitariamente, mas na
proporção dos rendimentos de cada qual.
Ressalta-se, também, que é compatível com esse regime a eventualidade de condomínio dos
cônjuges sobre determinados bens, que tenham sido adquiridos com a participação efetiva de ambos,
nos limites e proporções correspondentes, ou em decorrência de doações ou legados conjuntos. Essa
circunstância, dado o seu caráter de excepcionalidade, não desfigura o regime, pois os bens assim
adquiridos submetem-se à incidência das regras do condomínio voluntário.
Outro aspecto que precisa ser destacado, é o teor da Súmula 377 do Supremo Tribunal Federal,
que estabelece que no regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância
do casamento. Mas isso é válido apenas para o regime de separação legal, não se aplicando para a
separação convencional de bens.