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ASHLEE MALLORY
Este livro é um trabalho de ficção. Nomes, personagens, lugares e
incidentes são produtos da imaginação do autor ou são usados
ficticiamente. Qualquer semelhança com eventos reais, locais ou
pessoas, vivas ou mortas, é mera coincidência.
Capítulo Onze
Para Shawn, Lily e Harrison, meu fã-clube mais dedicado.
Capítulo Um
Putz. Estava quente como o Hades aqui.
Ela amaldiçoou sua pressa em correr porta afora esta manhã sem fazer
sua leitura usual na frente do espelho de corpo inteiro. Se ela tivesse, ela
teria notado a etiqueta branca ondulando como uma bandeira em sua
cintura e percebido que sua nova blusa de seda estava do
avesso. Infelizmente, não foi até que ela chegou e estava correndo em
direção ao escritório de Tim que ela notou o leve mau funcionamento do
guarda-roupa.
Na época, a melhor solução tinha sido tirar dez segundos para vestir a
jaqueta sobressalente que ela mantinha atrás da porta do escritório.
Kate deu uma olhada rápida pelo canto dos olhos para o outro
participante da conferência de última hora de hoje. Nicole Bancroft, a mais
recente adição à divisão de contencioso de Strauss e Fletcher, não parecia
estar tendo nenhum problema com a temperatura da sala, se o esmalte liso
e sem brilho de sua pele de porcelana transparente fosse qualquer
indicação. Seu cabelo preto e brilhante estava preso em um coque elegante
que Kate não pôde deixar de invejar. Ela resistiu ao impulso de dar um
tapinha no próprio cabelo ruivo e crespo, que já escapava dos limites da
presilha.
― Embora eles pensem que você fez um ótimo trabalho até agora, Kate,
― Tim continuou, seus olhos azuis frios e perspicazes, ― eles querem ter
certeza de que vamos bater forte no outro lado e pediu mais mão-de-
obra. Decidi que Nicole seria uma excelente segunda cadeira. ― O
estômago de Kate apertou. Claro, ela entendeu. Ela era uma jogadora de
equipe; ela poderia trabalhar com outro advogado.
Oh, querido Deus de tudo o que é bom e santo, por favor, diga que não
é o que eu penso que é.
Original.
Por que esse idiota ainda não foi? A luz mudou há cinco segundos.
Kate sufocou um grito de frustração e, pela sexta vez desde que saiu de
seu escritório, apertou a rediscagem em seu fone de ouvido Bluetooth. Não
vá para o correio de voz. Não vá para o correio de voz, ela orou.
Dois meses antes, Payton ficou noiva de alguém cujo fundo fiduciário
milagrosamente excedia o dela. Desde então, havia um planejamento
massivo, não apenas para o casamento, mas para a próxima festa de
noivado. Afinal, Payton era uma Vaughn, como diria sua mãe.
Isso também deixou Kate com não apenas uma, mas duas festas para as
quais ela precisava encontrar um par.
― Antes das oito? Isso é um recorde. Espere um minuto, você não está
ouvindo aquela música deprimente de Bonnie Raitt de novo, está? ― Kate
fez uma pausa no mesmo momento em que o conhecido refrão de fazer
alguém amar você quando essa pessoa não amava foi transmitida em voz
alta pelos alto-falantes. Tarde demais para desligar agora.
― Pode ser.
― Achei que tinha jogado aquele CD fora há um ano. ― Ela tinha, mas
essa era a beleza de tudo ser digital. Kate só teve que recomprá-lo e
adicioná-lo à lista de reprodução de separação que ela criou meses
atrás. Por momentos como este.
― Você deveria ir para casa e tomar uma garrafa de vinho. Eu viria, mas
estou alguns minutos atrasado para o meu encontro com o bufê da festa de
noivado. Supostamente para finalizar o menu. Mas te ligo mais tarde?
A camionete parou por um momento e ela fez uma oração rápida para
que ele virasse à direita ou fosse reto. Contanto que ele saísse do caminho
dela.
Até que ela percebeu que o cara tinha diminuído a velocidade. Muito.
Oh. Senhor. E se esse cara fosse um de seus novos vizinhos? Embora ela
tenha se mudado há quase um mês, com suas noites de trabalho, ela não
conheceu ninguém, exceto sua vizinha, Glenda, uma viúva amigável que
trouxe uma fornada de biscoitos no dia seguinte a Kate mudou-se.
Ele passou pela casa dela, pela casa de Glenda e pela próxima casa...
Ela engoliu em seco com alguma dificuldade. Ele certamente era algo
para se olhar.
Então esse era a nova vizinha de sua tia. A advogada que Glenda vinha
tentando convencê-lo a se encontrar desde que ela se mudou. Sua tia
estava delirando se ela pensasse por um momento que os dois eram
remotamente compatíveis. O Audi dela custou mais do que toda a sua
renda no ano passado. Ele cometeu o erro de pensar que seria o suficiente
para uma mulher como aquela. E isso só lhe rendeu dor de cabeça quando
ela partiu, alegando que ele não tinha ambição suficiente para o gosto dela.
Ainda assim, seria melhor ele se apresentar ou sua tia nunca o deixaria
ouvir o fim de tudo.
A porta dela se abriu quando ele se aproximou, mas ela estava curvada
para a frente, sem perceber sua chegada. Pelo que ele poderia dizer, ela
estava procurando por algo perto de seus pés. Provavelmente o celular a
dez centímetros de seu pé direito. Tão focada em sua busca, ele não quis
interromper.
Glenda dissera que ela era bonita, mas essa era apenas metade da
história.
― Dificilmente.
A porta de tela da casa de sua tia se abriu e uma cabeça loira familiar
apareceu.
― Em carne.
Para uma mulher com pouco menos de setenta anos, Glenda Sorensen
movia-se com notável rapidez ao descer os degraus e o caminho íngreme
que corria paralelo ao de sua nova vizinha.
― Você chegou mais cedo do que eu esperava, mas com certeza estou
feliz em vê-lo, ― ela disse e passou os braços em volta dele em um abraço,
então deu um passo para trás.
― Sim, bem, eu tinha algumas coisas que pensei que poderia trabalhar
em casa. ― Kate baixou o olhar e ergueu a bolsa. Ele avistou um laptop e
várias pastas de arquivos aparecendo no topo. ― Falando nisso, eu devo ir.
― Por que você não se junta a nós para jantar esta noite, Kate? Fiz
lasanha e tem mais do que suficiente. Até fiz strudel de maçã para a
sobremesa. ― Ele teve que dar a sua tia um A pelo esforço em sua tentativa
óbvia de casamenteira. Era como uma conspiração entre ela e o resto das
mulheres de sua família para vê-lo namorar novamente.
― Isso soa delicioso ― , disse Kate. ― Mas eu almocei tarde e acho que
não poderia comer mais nada. Obrigada por oferecer. ― Ela teve o cuidado
de manter o olhar longe dele, mas ele não pôde deixar de notar o leve rosa
em torno de suas pálpebras que, pelo menos com suas duas irmãs,
geralmente era causado por lágrimas. Talvez ela tivesse um coração, afinal.
― Outra hora então, querida. Ah, por falar nisso. Cerca de dez minutos
depois que você saiu esta manhã, um cara em uma camionete anunciando
uma carpintaria apareceu. Você estava procurando alguém para fazer
algum trabalho em sua casa?
Glenda não esperou por uma resposta, mas colocou a mão no braço de
Dominic, e ele reprimiu um gemido, sabendo o que estava por vir.
― Se você estiver, você não deve procurar mais longe do que este
homem diante de você. Sua família dirige uma empresa de construção, a
maioria grandes projetos comerciais, mas Dominic sempre teve um olho
para a restauração. Ele faz um trabalho maravilhoso. Aposto que ele
provavelmente poderia lhe dar uma cotação razoável.
Antes que Glenda pudesse fazer mais interrupções, Kate se virou e subiu
a calçada. Suas pernas longas superaram rapidamente a distância e ele não
pôde deixar de apreciar as curvas generosas que até mesmo sua saia preta
chata não conseguia esconder.
Glenda estava dizendo algo sobre o tempo até o jantar estar pronto, e
ele acenou com a cabeça enquanto continuava a assistir a saída de Kate. Ela
enfiou no bolso um cartão de visita espremido no batente da porta e girou
a chave na porta. Do nada, um gato malhado laranja subiu os degraus da
varanda e se enrolou em seus pés. Ela levou um momento para separar os
calcanhares do felino e os dois desapareceram dentro.
Mentalmente, ele desejou-lhe boa sorte e seguiu sua tia para dentro.
Capítulo Dois
― Ei, Kate.
Ao ouvir a voz familiar, o peito de Kate se apertou. Ela olhou para a hora
e parou para escrever no bloco de notas amarelo na frente dela, ganhando
alguns segundos extras para tentar se recompor. Ela puxou algumas
respirações lentas em seus pulmões.
Michael estava sorrindo carinhosamente para ela. Kate sabia o que ele
estava pensando. Ela sempre foi um pouco linha-dura quando se tratava de
rastrear horas faturáveis, não se sentindo confortável em arredondar para
dois décimos de hora quando uma ligação poderia estar mais perto de um
décimo. Mas ela estava bem ciente de que para a pessoa média que
trabalhava mais de quarenta horas apenas para colocar comida na mesa,
uma hora de seu tempo faturável poderia custar tanto quanto sua renda
semanal. Não que dinheiro fosse um problema para qualquer cliente de
Strauss e Fletcher, mas para Kate, velhos hábitos eram difíceis de morrer e
ela insistia em ser meticulosa.
― Pelo que entendi, Nicole disse que o gato pode estar fora de questão
sobre nosso recente... desenvolvimento.
Ele poderia dizer isso. Ela beliscou o interior da mão, desejando não
rasgar. Michael, felizmente, não pareceu notar sua angústia.
― Eu queria vir ver você pessoalmente. Certificar de que você está bem
com tudo.
― Eu?
― Por que eu não estaria bem? Estou feliz por você. Mesmo.
Sua assistente, Trish, chegou à porta com um bloco de notas nas mãos,
pronta para a reunião. Ela congelou quando viu Michael, e seu rosto se
contraiu em uma careta. Dando um breve e simpático sorriso a Kate, ela
saiu correndo.
― Oh? Então você está saindo com alguém? Eu não tinha percebido.
Porcaria. Tinha soado assim. Como isso aconteceu? Mas ela tinha
certeza, como Hades, não iria voltar atrás e parecer uma mentirosa, ou pior
- como se ela fosse solteira e ainda ansiando por ele.
Certa de que seu rosto estava tão vermelho quanto seu cabelo, ela
sorriu largamente para esconder sua mortificação. Ela pode muito bem ir
com isso, fazer parecer vergonha ao falar sobre seu cara. Ela olhou para as
mãos torcidas no colo, incapaz de encontrar o olhar dele. Ela nunca foi boa
em mentir para ele.
― Bom para você. Bom para você, ― ele disse, talvez um pouco super
exuberantemente.
Ela só esperava que o horror que sentia não fosse registrado em seu
rosto, enquanto ela sorria tanto que suas bochechas doíam.
― Estou feliz que as coisas estejam indo tão bem para você, Kate. Você
merece isso.
Ela olhou para aqueles olhos castanhos familiares, lembrando como ela
uma vez pensou que o futuro era deles. Juntos.
― Obrigada pelo seu tempo. Tenho mais algumas pessoas com quem
estou falando e então entrarei em contato. ― Kate seguiu o cara até a
varanda da frente. Ela observou seu passo lento enquanto ele caminhava
pesadamente em direção à caminhonete estacionada na garagem. Com
uma careta marcada, ele conseguiu entrar na cabine e fechar a porta.
Boa viagem.
Com o ar um pouco cortante, ela esfregou as mãos nos braços e olhou
ao redor. Calmo, pacífico e pintado com cores vivas e vibrantes de outono,
graças às folhas dos grandes plátanos centenários que ladeavam as ruas.
Ela o abriu, apesar de já saber o que dizia, tendo visto uma cópia
algumas semanas atrás. Mas isso era oficial. Apenas mais algumas semanas
até a festa de Payton, onde ela estaria cercada por várias famílias ricas e
prestigiosas - incluindo a de Michael - no clube de campo mais exclusivo da
cidade. A mãe de Payton não quis ouvir nada menos.
― Vocês dois são parentes? Posso ter que fazer um seguro de risco
extra para estacionar aqui. ― Ela ficou de pé de um salto e começou a juntar
as cartas, sem se preocupar em olhar para cima antes de responder.
Kate espiou pelo canto da janela da sala pela quarta vez na última hora,
prendendo a respiração.
Durante a última hora mais ou menos, Kate havia confirmado que havia,
de fato, uma lei municipal que obrigava os proprietários de casas a manter
as calçadas desobstruídas. Mas tendo crescido morando em uma série de
trailers, depois em um pequeno apartamento com sua avó e, mais tarde,
em um apartamento que alugou metade de um duplex depois de se formar
na faculdade de direito, ela nunca teve qualquer experiência com as
obrigações de casa propriedade.
Kate tentou descobrir suas opções. Se ela pudesse adiar isso para
amanhã, ela o faria. Mas o domingo não era uma possibilidade, e o resto
da semana não foi bom, qualquer um, não com seu horário de trabalho.
Com que diligência a cidade faria cumprir esta regra? Ela se atreveria a
arriscar uma citação? Do jeito que o sol estava diminuindo, ela imaginou
que só tinha mais uma hora de boa luz para terminar a tarefa. Ela teria que
arriscar.
Na verdade, isso pode não ser tão ruim. É meio tranquilo aqui.
Ela poderia fazer isso. Quão difícil pode ser? Ela se abaixou e pegou uma
braçada de folhas e com a outra mão bateu com os dentes do ancinho sobre
as folhas e começou o lento processo de colocá-las na lixeira. Kate estava
no final da primeira pilha quando uma estranha sensação de cócegas em
seu pulso direito chamou sua atenção.
Ela olhou para baixo a tempo de ver uma aranha de pernas marrons
rastejando por sua manga.
Uma risada sufocada disse a Kate que sua vizinha não tinha chegado
sozinha. Ela correu os dedos pelos cabelos, procurando freneticamente
pela besta, mas tentou manter o nível de voz, mesmo apesar das batidas
frenéticas de seu coração.
Não adianta. Onde diabos foi isso? Espere. Era outra cócegas em seu
pescoço? Merdaa!
― Eu não vejo nada, querida. Aqui agora. Você nem mesmo tem luvas
para suas pobres mãos. Dom, porque você não pega suas luvas de trabalho
e cuida delas para Kate.
Kate realmente queria se opor. Ela queria ser capaz de recusar a ajuda
dele, apenas - outro olhar para as folhas a assegurou de que não havia
nenhuma maneira na terra verde de Deus de ela chegar perto daquelas
pilhas de novo. Em vez disso, ela observou Dominic se abaixar e pegar uma
braçada de folhas, de costas para elas.
― Por que você não entra por alguns minutos enquanto Dom
termina? Tenho um pouco de água para o chá e um prato de biscoitos de
manteiga fresca que fiz esta tarde. ― O olhar de Kate, no entanto, estava
na figura à sua frente, cujo jeans tinha caído perigosamente para revelar
uma pequena extensão de pele bronzeada sob sua camisa de flanela
xadrez. Curvado, com seu peso suportado por seus quadris, Kate não pôde
deixar de notar a tensão de sua calça jeans enquanto se esticava sobre as
coxas e as costas. Ele se levantou facilmente e jogou metade da pilha de
folhas na lata e se virou para encontrar os olhos dela. Isso mesmo. Glenda
fez uma pergunta a ela. Algo sobre chá...
― Obrigada pela oferta, mas estou bem. Nada que um banho longo e
quente não pudesse curar.
Com essa declaração, Dominic abriu um sorriso largo e fácil, e um brilho
travesso apareceu em seus olhos enquanto a observava. Oh, ótimo. Agora
ele provavelmente a estava imaginando nua.
― Você pode tomar um banho depois. Você vem comigo agora e vamos
tomar um chá. Não aceitarei nenhum argumento. Tivemos tão poucas
oportunidades de nos visitar, agora parece um momento tão bom quanto
qualquer outro.
Ela agarrou Kate com firmeza pelos ombros e a conduziu até a calçada,
e Kate, percebendo que a decisão já estava tomada por
ela, silenciosamente a seguiu. Talvez se ela se apressasse, ela poderia
entrar e sair antes de Dominic terminar.
Capítulo Três
Ele assentiu e foi até a pia da cozinha para se lavar. ― Eu puxei a lata de
lixo para cima da garagem e deixei ao lado da lixeira. Seu ancinho está no
galpão nos fundos. Definitivamente já viu dias melhores. ― Ele pegou uma
toalha de papel e olhou para Kate.
Ela parou, suas bochechas ficando mais rosadas a cada segundo. Mas
ela não desviou o olhar, ainda encontrando seu olhar.
― Bem... obrigada.
― Como eu disse, não se preocupe. Todos nós temos algo de que temos
medo. Se houvesse uma cobra lá fora, você provavelmente teria ouvido
alguns gritos infantis seguidos por algumas palavras bem escolhidas de
mim.
― Ela é uma doce senhora. Desde que meu tio morreu, meu irmão e eu
tentamos vir aqui sempre que podemos. Dar uma mão. Essas casas velhas
sempre parecem ter alguma coisa ou outra acontecendo, como eu imagino
que você descobrirá em breve. ― Pela maneira como ela se encolheu, ele
teve a sensação de que ela provavelmente já estava.
Ela olhou para ele, inicialmente perplexa, e então ele viu o amanhecer
compreensivo.
― Tudo bem ― , disse ela lentamente. ― Acho que não faria mal
receber outro orçamento. ― Ele sorriu. ― Eu posso na segunda-feira à
noite.
― Quarta-feira então.
― São apenas sete e meia, querida. Oh. Você vai sair? ― A surpresa de
sua tia não poderia ter sido mais evidente e ele trabalhou para manter o
rosto sério.
― Não essa noite. ― Se ela estava rosa antes, seu rosto ficou roxo
profundo agora, enquanto ela olhava para todos os lados, menos para
ele. ― Foi uma longa semana. Tudo que eu quero é relaxar em um bom
banho quente.
― Eu entendo querida. Mas não pense que não percebi, a não ser
trabalhar mais de quinze horas por dia, você nunca sai e não faz nada
divertido. Você só é jovem uma vez. Deus sabe em que problemas Danny e
eu costumávamos nos meter quando tínhamos sua idade. Nunca
poderíamos ter nossos próprios filhos, sabe, por isso estávamos
determinados a sermos crianças, vivendo cada momento ao máximo.
― Glenda desviou o olhar com um sorriso afetuoso nos lábios e um pouco
de névoa nos olhos.
― Exceto para aqueles fins de semana quando meus pais laçaram você
para cuidar de nós quatro, se você se lembra, ― Dominic brincou. ― No
domingo à noite, acho que vocês dois estavam contando suas bênçãos por
não terem filhos. ― Glenda deu uma risadinha. ― Tão exaustivo quanto
vocês quatro foram, eu amei cada minuto do nosso tempo com todos
vocês. Ambos fizemos.
― Tio Dominic!
― Olá, meninas. O que sua avó está preparando para o jantar dela?
― Dios mío. Você vai me deixar cair, ― ela gritou e ele a colocou no
chão. ― Não é como se você não tivesse me visto no domingo passado.
Seu sotaque era fraco, algo que mais de quarenta anos nos Estados
Unidos havia suavizado ao longo dos anos, mas não conseguia apagar. Elena
Marguerite Eschaban Sorensen era tão bela e jovem aos 57 anos quando
aparecia nas fotos de seu casamento. Dominic podia ver como alguém
como o estoico Petter Sorensen de pele clara se apaixonou por uma mulher
tão calorosa e viva, com olhos escuros travessos. Quatro filhos depois, eles
ainda estavam muito apaixonados, algo que todos os seus filhos olhavam
com orgulho e possivelmente com um pouco de inveja.
Era exatamente o tipo de amor que ele procurava.
― Farei o que puder, mas tentarei o meu melhor. ― Embora seu pai
tivesse se recuperado do ataque cardíaco que quase o tirou de sua família
três anos antes, o problema cardíaco que causou o ataque - cardiomiopatia
dilatada - ainda o atormentava. Seus médicos esperavam que o marca-
passo que ele receberia em mais algumas semanas melhorasse sua saúde.
Dez minutos depois, Dominic apareceu para jantar - sem seu pai. Ele
balançou a cabeça para o rosto expectante de sua mãe. Ela tentou sorrir,
mas ele percebeu que ela estava preocupada.
Dominic e sua família fizeram o possível ao longo dos anos para aliviar
o estresse do velho. Ele até saiu da Universidade de Washington, onde
vinha trabalhando para se formar em arquitetura, para ajudar a cobrir o
trabalho de seu pai no negócio de construção da família. Tinha sido a coisa
certa a fazer na época - mesmo que sua então namorada, Melinda, não
tivesse concordado - e ele não se arrependia. Se isso ajudou no nível de
estresse de seu pai e no tributo em seu coração, valeu a pena. A família
vinha primeiro.
Ele só esperava que seu pai entendesse que agora que as coisas
estavam tomando um rumo positivo, Dominic estava pronto para voltar
para sua própria vida. Realizar seus próprios sonhos. E ele esperava que seu
pai não se machucasse muito.
― Ei, eu quero sentar com todo mundo ― , lamentou Paul quando viu
os adultos tomarem seus lugares ao redor da mesa e perceber que ele e
suas irmãs deveriam sentar-se no bar.
Paul pegou seu prato e foi até a mesa, quase se envaidecendo. A mãe
de Dominic alisou seu cabelo escuro quando ele se sentou ao lado dela, o
orgulho brilhando em seus olhos.
― Escute sua tia. Ela vai te mostrar como deixar o cabelo crescer no
peito, ― Dominic brincou, ganhando uma cotovelada na barriga, mesmo
quando os olhos azuis de Benny brilharam.
― Entendo? Sério? ― Paul gorjeou, seu olhar já fixo no peito de sua tia,
que em sua camiseta excessivamente grande parecia tão informe como um
saco de batata.
― Você não vai encontrar nada lá, ― Cruz entrou na conversa e Dominic
riu enquanto Paul olhou para os adultos, verdadeiramente perplexo.
Dom trocou olhares com seus irmãos. Ele sabia que, além da dor de
cabeça de sua irmã, ela estava tentando ao máximo manter sua família à
tona, lutando com todas as dívidas que seu ex havia assumido, mas não
estava em lugar nenhum para ajudar a pagá-las. Ela precisava de ajuda -
ajuda jurídica - e isso ia custar caro para ela. Por um minuto, ele considerou
a possibilidade de falar com a nova vizinha mal-humorada de sua tia,
mesmo que para conseguir uma indicação de um advogado de divórcio
confiável, mas rejeitou o pensamento imediatamente. Porque, por mais
orgulhosa que fosse, Daisy não aceitaria nenhuma ajuda financeira
deles. Ela queria descobrir sozinha.
Ele balançou sua cabeça. Havia mais de um coração que precisava ser
consertado nesta família.
Capítulo Quatro
Mas... ele parecia bem. Seu cabelo longo era ondulado e, pelo brilho
nele, parecia molhado, como se ele tivesse acabado de sair do
chuveiro. Como se planejado, o vento escolheu aquele momento para
chutar e soprar uma mecha de seu cabelo na testa.
Senhor, ajude-a.
― Não sei por onde você quer começar ― , disse ela, depois que eles
ofereceram a saudação preliminar, e fechou a porta atrás dele. ― Esta, é
claro, é a grande sala. Você pode ver que não há realmente muito a ser feito
aqui. Antes de abandonarem o navio, os proprietários anteriores
terminaram esta e a sala de jantar. Ah, e a escada. ― Ela olhou com
admiração para o belo trabalho que alguém tinha feito para restaurar a
velha escada curva e os pisos de madeira em tons de bordô à sua beleza
original. Foi amor à primeira vista quando ela entrou.
Não que a sala fosse um desastre ou um flashback dos anos 1970, com
eletrodomésticos em tons de verde abacate ou qualquer coisa. Na verdade,
os proprietários anteriores haviam começado de forma justa na copa que
dava para seu quintal. Mas eles começaram a desmontar os armários,
deixando metade no chão e a outra metade pendurada fora da frente
quando saíram. Eles também retiraram cerca de um terço do hediondo
papel de parede de flores azuis das paredes, deixando o resto para o novo
proprietário resolver. Pelo menos a cozinha ainda estava utilizável, mesmo
que o forno fosse de cerca de 1977 e a geladeira velha não fosse muito mais
recente.
Dominic viu que o cara estava claramente tentando enganar Kate por
tudo que ela valia, enquanto fazia as estimativas excessivamente altas. Ser
uma mulher solteira com pouco conhecimento de qualquer coisa
relacionada a reforma da casa provavelmente a tornava um alvo para
predadores como esse. Ele balançou sua cabeça.
Ele sorriu, nem um pouco ofendido com a pergunta dela. Ele teria ficado
preocupado se ela não tivesse perguntado.
― Tenho ajudado meu pai com seu negócio de construção desde que
eu tinha doze anos. Como disse Glenda, a Sorensen Construction se
concentra principalmente em projetos comerciais, mas há os bicos que são
contratados na entressafra que, ao longo dos anos, me deram experiência
na residencial. Você poderia dizer que desenvolvi um interesse especial na
reforma e restauração de casas. Este não é meu primeiro trabalho
freelancer, eu prometo. Posso conseguir os números de alguns de meus
clientes anteriores.
― Lidaremos com isso. ― Ele sorriu, o lado direito de seu lábio curvado
um pouco mais alto que o outro, algo que ele havia dito tinha um certo
encanto nisso. ― Por que não começamos no sábado de manhã? Pego você
às oito?
Tim não estava aqui para discutir os planos do fim de semana, mesmo
que fosse sexta-feira. Mas ela jogaria junto.
― Vou comprar algumas coisas para a casa, e então provavelmente vou
dedicar algumas horas ao caso McKenna.
― Você está solteira, sem filhos e, pelo que tenho visto, sem vínculos
visíveis com qualquer organização externa, o que no passado, quando o
tema de torná-la parceira foi abordado, tem sido um ponto de
discussão. Até agora.
Antes que ela pudesse comentar sobre a verdade ou ficção desse último
boato, Tim continuou: ― Acho que são ótimas notícias. Você não está
ficando mais jovem e, na verdade, sua falta de companhia masculina foi
notada e comentada. ― Na verdade, ele riu e Kate teve uma imagem dos
oito advogados entupidos que constituíam os sócios seniores, sentados ao
redor do conselho da conferência tentando determinar sua sexualidade.
― E agora com este caso McKenna, você terá aquele impulso extra para
levá-la ao topo. Você sabe, Mark McKenna e sua família são clientes desde
que esta empresa foi criada. Você faria bem em trazer o seu
melhor jogo. De qualquer forma, só queria compartilhar as boas novas com
você. ― Tim se levantou. ― Bem, estou ansioso para conhecer o cara. Ele
virá para o retiro de outono com você, certo?
Fazia quatorze meses. Não admira que ela estivesse agindo como uma
lunática movida por hormônios.
Kate esperava que seu próprio traje parecesse igualmente casual e feito
em conjunto - mesmo que ela tivesse passado a maior parte da manhã
agonizando por causa desse visual “fácil” de Levi's desbotado e curvilíneo e
uma camiseta branca simples. Ela completou com sua nova jaqueta de
couro marrom que acentuava sua cintura estreita. Provavelmente a única
coisa estreita sobre ela.
Dominic virou a cabeça para ela, e ela mal teve tempo de desviar o olhar
de seu traseiro. Ela fingiu estar olhando para o carrinho.
― Por que eu preciso de tudo isso de novo? Achei que você já tivesse
feito isso antes. Você já não deveria ter?
Ela deu de ombros e tomou o último gole de seu venti latte que eles
compraram na Starbucks. Eles se mudaram para o próximo corredor.
Oh senhor.
Michael. E ele não estava sozinho. Seu nêmesis estava colado ao seu
lado, parecendo chique e esguio em jeans skinny escuros que Kate duvidava
que ela pudesse passar um braço, muito menos uma perna. Para uma
manhã de sábado, o cabelo de Nicole ainda parecia excepcionalmente
sedoso e luxuoso. Como poderia Kate não odiá-la só por esse motivo?
Ah. Agora ela podia ver por que ele estava inquieto. Kate e Michael
escolheram aquele tom particular de azul juntos. Michael teve a cortesia de
evitar seus olhos.
Seu pulso parecia dobrar enquanto ela tentava descobrir como lidar
com isso sem que tudo explodisse em seu rosto. Vamos para o simples
primeiro.
Mais ou menos como a primeira vez que Kate tentou interagir com
ela. Nas primeiras semanas de Nicole em Strauss, Kate procurou encontrar
alguns interesses comuns. Francamente, não havia muitas advogadas nas
fileiras do escritório de advocacia, e ela pensou que ambos precisariam de
um amigo extra. Mas Nicole rejeitou seus pedidos e mal desviou o olhar da
tela do telefone para dizer olá. Não muito depois, Kate ouviu os rumores
ligando Nicole e Michael como um casal, e ela desistiu do esforço todos
juntos.
Porcaria.
― Isso mesmo ―, disse Michael, sem entender a dica. ― Ouvi dizer que
você mergulhou na compra de uma casa. Sabe, se você está procurando
ajuda profissional, tenho alguns contatos dos meus pais que posso lhe
enviar. ― Kate não pôde deixar de notar que a postura rígida de Nicole ficou
mensurável, mesmo que seu olhar não tenha deixado a tela do telefone.
Foi o que foi dito nas entrelinhas que a estava causando um pequeno
ataque de ansiedade.
Michael deu uma última olhada para ela e sorriu. Mas não parecia que
o sorriso encontrou seus olhos.
Dominic assentiu e olhou para ela com atenção. Ela se preparou para a
próxima rodada de perguntas que ele inevitavelmente faria.
― Ok, você está indo bem, apenas segure firme e ele entrará
facilmente. Eu prometo.
― Isso você fez. Agora desça e ajude-me com estas cortinas. Qual delas
vai na frente de novo? ― Kate desceu alegremente os dois degraus do novo
banquinho que comprou naquela manhã, com as bochechas coradas e os
olhos brilhando. Ela tinha apenas perfurado os postes para as novas hastes
da cortina na parede acima das janelas da sala da frente, mas pela aparência
dela, você pensaria que ela tinha inventado uma cura para o câncer.
― É complicado.
― Para ser honesta, eu não tinha pensado nisso até que meu chefe fez
questão de me dizer como minha chance de parceria estava ligada a
convencer os sócios seniores de que a felicidade conjugal estava no
horizonte. ― Ela estudou suas unhas.
― Estou feliz por poder ajudar. Mas, para dizer a verdade, pela
aparência desse Michael, não vejo porque você sentiu a necessidade de
inventar um namorado. Ele é meio idiota.
Sua risada foi profunda e cheia, sua cabeça caindo para trás para revelar
uma extensão de pele pálida e lisa. Ela deveria fazer isso mais.
― Tenho que atender ―, disse ele com certa relutância antes de ir para
a cozinha.
― Eu estou bem. Mas olhe, eu tenho que ir. Estou no meio de algo.
― Ok. Mas seja legal com Becca. E, por favor, não a contente com
nenhuma história do colégio ou antes. O retorno pode ser uma merda.
― Ei, eu sou sempre legal. Além disso, as mulheres adoram ouvir como
o sério e sempre estoico Cruz escreveu uma vez um bilhete de amor para
sua professora da sexta série. Elas comem tudo isso.
― Sim, estou preocupado. Falo com você mais tarde, ― ele disse e
desligou antes que seu irmão pudesse dizer mais alguma coisa. Não apenas
para evitar outro sermão sobre não deixar uma mulher marcá-lo pelo resto
da vida, mas porque uma ideia o atingiu. Era tão ridículo se ele dissesse isso
em voz alta enquanto passava por sua cabeça?
Dominic voltou para a outra sala, onde Kate estava sentada no sofá,
olhando um dos livros de conserto que eles pegaram.
― Por que você faria isso por mim? Espere. Isso não é uma coisa de
proposição, certo? Você não está tentando dormir comigo nem
nada. Porque eu posso te dizer agora, eu não estou disposto a me prostituir
por...
― Nós nos oferecemos para pagar um advogado, mas ela não aceita
qualquer ajuda financeira. Mas empresas como a sua não prestam serviço
jurídico gratuito ocasionalmente?
Ele acenou com a cabeça, a ideia soando mais e mais plausível a cada
minuto.
― O problema com Daisy é que ela nunca aceitaria se soubesse que eu
procurei você, pedi ajuda ou dei qualquer tipo de compensação para ajudá-
la. Mesmo apenas fingir ser seu namorado. Mas se você é minha nova
namorada totalmente dedicada, que menciona que você faz esse tipo de
coisa regularmente e se oferece para pegar o caso dela pro bono - algo que
você faria para a sua empresa de qualquer maneira - ela pode comprá-lo,
se não outra razão que não para o bem das crianças. Claro, nem é preciso
dizer, precisamos bater forte naquele bastardo. Você está bem, certo?
― ele acrescentou, quase como um desafio.
― Não sei. ― Ela ficou. ― Eu tenho que pensar sobre isso. Quer dizer,
se fizermos isso, fingir que somos um casal, vou me arriscar muito. Uma
palavra errada e todos saberão que menti. E eu definitivamente poderia dar
um beijo de despedida nessa parceria.
― OK. Demora alguns dias. Pense nisso e depois me avise. Nós dois
podemos vencer aqui, Kate. ― Ela olhou para ele, sua expressão
pensativa. ― OK. Vou pensar sobre isso. ― Ele sorriu. ― Bom. Estarei aqui
na segunda à noite para começar a trabalhar nos banheiros. Deixe-me saber
então.
Havia outro bônus aqui que ele não havia pensado em voz alta. Passar
Kate por sua namorada poderia ter a vantagem adicional de tirar seu irmão
e todos os outros de suas costas sobre encontrar um novo relacionamento.
Ele apenas teria que ser cuidadoso. Lembrar-se de que isso não era
real. Porque quando a coisa toda acabasse e cada um tivesse o que queria,
ela simplesmente iria deixá-lo. Para alguém melhor. Elas sempre faziam.
Kate tomou um gole de seu Shiraz e esperou pela reação de sua amiga
ao seu dilema atual. As luzes no bar onde Payton a arrastou estavam fracas
e a música baixa o suficiente para permitir que os ocupantes conversassem
- apenas. Mas com pouca luz ou não, com seu longo e brilhante cabelo loiro
morango, covinhas e um sorriso que encantava a todos, Payton
brilhava. Especialmente quando a risada dela preencheu o espaço ao redor
deles, atraindo mais alguns olhares em sua direção.
― Como você pode saber disso? ― Kate fez uma pausa, no meio de
uma bebida. Ela se absteve especificamente de transmitir qualquer
descrição física.
― Nós duas sabemos porque ele terminou com você. ― sim. Ela
sabia. Michael não estava disposto a enfrentar sua família por ela. Ele
tomou a decisão de deixá-la ir ao invés de suportar sua decepção e
julgamento.
Ele a deixou ir.
O barman as interrompeu.
― Não. Acho que vamos tentar uma dose de Patrón Silver e dois rum
com Coca. ― Payton lançou um olhar que a alertou para não discutir.
― Eu quero que você se divirta. Vou chamar um táxi, se for o caso. Mas,
por enquanto, tente relaxar. ― Payton se virou no banco do bar, seu
cabelo balançando atrás dela, e estudou a multidão até que suas bebidas
chegassem. ― Agora, quanto à sua pergunta, eu digo vá em frente. O que
diabos você tem a perder?
Uma hora depois, ousada por outra dose de tequila, ela pegou o
telefone e discou o número de Dominic.
― Estou dentro.
Capítulo Seis
Kate entrara em contato com o hotel, mas era prática padrão que as
imagens de videovigilância fossem eliminadas após 90 dias. No entanto, ela
se manteve firme e eles admitiram que a TI poderia ser capaz de extrair algo
de uma unidade de rede. Ela ainda estava esperando uma resposta.
Ela e Dominic tinham muito o que discutir se eles iriam usar seu ardil.
Ela pegou suas anotações e foi direto para a porta. Ela poderia estar em
casa em trinta minutos. Ela se conteve enquanto corria pelo corredor,
dizendo a si mesma que a excitação e o nervosismo que ela estava sentindo
deviam ser por causa do planejamento que ela e Dominic tinham pela
frente, se queriam que sua farsa fosse um sucesso. Nada mais.
Mas não faria mal escovar uma rápida camada de esmalte em seus
lábios. Afinal, ela precisava hidratar. E se a cor e o brilho aumentaram o
cansaço que podia ser evidente em seu rosto, foi mera coincidência.
Seus dedos roçaram a superfície brilhante e fria das novas torneiras que
ela selecionou no sábado passado. Chique. Ela girou a maçaneta e
esperou. Normalmente, a água demorava um bom minuto para ficar
morna, mas em dez segundos já estava quente. Ela sorriu e ergueu os
olhos.
Ela percebeu que ele ainda esperava por uma resposta. Certo.
― Eu penso que sim. Reduzi para três tons de amarelo para a cozinha e
dois azuis diferentes para o banho.
― Vamos fazer isso ―, disse ela sem hesitar. Por um momento, ela se
preocupou por ter respondido muito rápido. ― Quer dizer, estou com
muita fome e pizza parece ótimo. Deixe-me colocar um jeans primeiro.
Eles debateram todo o caminho até a garagem qual carro eles estavam
levando, e Dominic acabou vitorioso, mas só depois de apontar que eles
poderiam encontrar mais coisas do que esperavam e sua caminhonete
poderia conter mais do que seu sedan.
― Até agora, acho que gosto mais do terceiro. ― Ela tomou um gole
de vinho. ― O primeiro, sob as luzes, parece mais verde limão do que
amanteigado. ― Ele assentiu. ― Felizmente você tem algum tempo para
tomar a decisão final. Provavelmente vai levar uma boa semana para limpar
o banheiro e colocar as novas paredes e ladrilhos no lugar, talvez mais, já
que terei um fim de semana de folga para aquele seu retiro. Em seguida,
vem a tinta. Vou fazer a cozinha por último, o que deve acontecer bem com
a chegada dos armários que encomendamos. A essa altura, você pode ter
mudado de ideia várias vezes.
― Soa bem. ― Ela se voltou para a ilha para completar sua taça de
vinho. ― E agora que o papo-furado acabou, acho que é um bom momento
para discutir nosso outro pequeno acordo.
― É seguro dizer que você não mudou de ideia desde que me ligou no
sábado? ― ele perguntou. Algo que ele provavelmente deveria ter
verificado duas vezes antes de mencioná-lo no jantar de domingo à noite
com sua família. Sua mãe praticamente chorou ao saber que ele estava
saindo com alguém de novo, o que lhe deu um toque de culpa. Mas
qualquer alegria, não importa quão curta seja, valeria a pena. E manter sua
família longe de sua maldita volta.
― Estou 100 por cento a bordo. Quase consigo ver meu novo cabeçalho
agora. Kate Matthews. Parceiro júnior.
― Então me fale sobre este retiro. O que eu preciso saber?
― OK. Contanto que você não tente violar meu código moral.
Isso deu a ele uma imagem que ele não estava pronto para
abandonar. Kate abaixo dele. Ele embaixo dela. Provavelmente não é uma
coisa boa a se considerar agora. Ele tossiu.
― Você vai ficar bem. Eles ficarão tão felizes em me ver trazendo
alguém para casa, que esquecerão de tudo. Taxidermista, vidente,
assassino em série... Eu prometo que eles não vão se importar. ― Ela ainda
estava muito quieta.
― Eu só queria dar uma olhada e ver como as coisas estão indo ―, disse
Glenda. Só que ele não foi enganado. Ele apostava que a chegada dela tinha
algo a ver com um telefonema de sua mãe enquanto as duas mulheres
tentavam descobrir quem era a mulher misteriosa.
Glenda atravessou a sala e foi até a janela, onde deslizou os dedos pelo
tecido sedoso das novas cortinas de Kate. ― Estas são adoráveis. Você
provavelmente está aliviado por ter privacidade extra. Estou tão feliz que
você decidiu seguir meu conselho e ir com Dominic. Ele certamente é uma
maravilha. Na verdade, ele é parte do motivo pelo qual estou aqui. Minha
máquina de lavar louça está quebrada novamente. Você acha que poderia
dar uma olhada por mim?
― Oh, por favor. Não me deixe interromper vocês dois. Sem pressa.
― O tom de sua tia disse a ambos que ela estava insinuando mais do que
apenas seus serviços de empreiteiro. ― Eu sabia que vocês dois seriam uma
grande equipe. Na verdade, sua mãe mencionou que você estava saindo
com uma pessoa especial esses dias. Eu estava me perguntando se eu
poderia saber quem era a mulher de sorte...
Ele revirou os olhos com sua sutileza. Dominic sabia que não demoraria
muito para ela descobrir, mas ele tinha que lhe dar crédito, porque não
esperava que ela fosse tão ousada.
― Você está me matando aqui. Mas se Kate está bem com isso ― ele
olhou para ela, vendo o olhar confuso em seu rosto enquanto observava a
velha senhora em ação ― então eu não vejo o mal. Kate e eu estamos
namorando. Você está feliz?
― Por que eu não estaria feliz? Eu sabia que vi faíscas entre vocês dois
desde o primeiro momento em que se conheceram. Estou feliz que você
reconheceu a atração inegável e não a deixou escorregar entre seus dedos.
― Até mais, Kate. ― Ele percebeu que sua tia havia parado no último
degrau e os estava observando agora. Bem, já que eles tinham um papel a
desempenhar... e com Kate ainda olhando para ele, ele se inclinou para
colocar um beijo simples e casto naqueles lábios macios. Ela piscou, mas
não se afastou, mas ele notou que seus olhos se estreitaram em sua
ousadia.
Ele piscou, incapaz de parar o sorriso lento que se espalhou por seu
rosto quando ele deu um passo para trás. ― Boa noite, Kate. Vejo você
amanhã. ― Ele podia sentir o olhar dela ainda sobre ele enquanto cruzava
a calçada e subia os degraus de Glenda. Mas quando ele se virou, a porta
dela estava fechada.
― Então o que é tudo isso sobre você e alguma mulher misteriosa? Por
que você nunca a mencionou antes?
― Não, pegue sua licença então, mas também não se esconda aqui. É
hora de você começar a se concentrar em colocar as coisas em
ordem. Vamos em frente com sua vida. Você não precisa mais sacrificar
seus sonhos, ficaríamos bem. Você sabe que seu coração não está nisso.
Por muito tempo, foi Melinda. Ela o esmagou quando o deixou. Ela não
estava interessada em ser a esposa de um empreiteiro geral. Ou um
carpinteiro, como ela o chamava. Ela queria mais. Ele não tinha percebido
o quanto ela tinha apostado que ele conseguiria sua licença de arquitetura
para terminar o filme. Quando ele disse a ela que teria que pagar uma
fiança para ajudar nos negócios da família depois que seu pai teve o ataque
cardíaco, ela o avisou que não seria o suficiente para ela. E ela quis dizer
isso. Ele tinha ouvido falar que ela se casou com um banqueiro alguns anos
atrás.
Ele esteve escondido aqui desde então, por cerca de três anos. Estava
tudo bem por um tempo, recuperando-se do rompimento com Melinda e
preocupado com seu pai e os negócios. Era a coisa certa a se fazer. No
momento. Mas agora…
Cruz tinha o negócio das coisas sob controle. Na verdade, ele fez um
grande nome para a Sorensen Construction nos últimos dois anos. E
Dominic estava ansioso para sair por conta própria novamente. Mergulhar
em seus próprios projetos, seus próprios planos para reformar e projetar
casas, novas e antigas. Tornando cada uma especial.
Kate. Ela o intrigou. Ela não era o que ele esperava, e ele ansiava por
descobrir mais do que a fazia pulsar.
Algo que ele teria que se lembrar muitas vezes durante o próximo
mês. Ele já tinha se apaixonado pela mulher errada antes. Ele não iria
repetir aquele erro novamente.
De sua posição, espiando por trás das dobras de suas novas cortinas,
Kate olhou para os carros estacionados em frente à casa de Glenda e sua
garagem. A risada ecoou no ar noturno. Na estimativa de Kate, havia cerca
de duas dúzias de pessoas lá dentro. Nenhum de quem ela conhecia.
Ela estivera observando a casa nos últimos dez minutos, sem saber se
estava aliviada por Dominic estar atrasado e por ter merecido um
adiamento ou frustrada por estar apenas prolongando o inevitável. Mas,
verdade seja dita, eles não pareciam tão ruins. Na verdade, eles pareciam
muito bons. Amigáveis. Com os pés no chão. Ao contrário dos convidados
das festas que ela e Michael costumavam frequentar. E as pessoas nos
eventos do Vaughns que Payton havia arrastado até. Eles tinham visto
através dela. Sabia que ela não era um deles.
Razão pela qual ela odiava esse tipo de coisa.
Porcaria. Ela realmente não queria ir lá sozinha, mas se sua avó havia
lhe ensinado alguma coisa, ser pontual era a regra de etiqueta mais
importante. Na verdade, sua avó gostava de compartilhar muitas de suas
próprias regras pessoais. Sua favorita sendo aquela “oportunidade bate
apenas uma vez, enquanto a tentação se apoiava na campainha”. Um
ditado estranho que não significou muito para Kate antes.
Ele não era nada além de tentação. E ela se lembraria de que isso nada
mais era do que um acordo de negócios. Ela não queria se envolver
novamente em algo que não poderia ter futuro, apenas uma dor de cabeça
inevitável, já que Dominic não parecia o tipo de cara que se deixava
envolver por uma mulher. Ele era o tipo de cara que passa a noite e vai
embora.
E se ele não fosse? Bem, mesmo que pudesse se comprometer, não era
provável que apreciasse uma mulher que trabalhasse mais de sessenta
horas por semana e escolhesse horas faturáveis no escritório em vez de um
filme atrasado com ele. É por isso que estar com Michael era tão... perfeito.
Embora ela deva lavar as mãos por uns bons sessenta segundos depois
de manusear a comida do gato. Pode haver uma mulher grávida lá ou algo
assim. Ou era a ninhada do gatinho?
Batidas rápidas em sua porta traseira quebraram o silêncio de sua
cozinha e quase a fez pular da pele. Ela se inclinou para trás até que ela
pudesse ver um rosto espiando através dos painéis de vidro da porta.
― Claro que não, ― ela disse, tentando soar indignada, mas ela não
conseguiu encontrar o olhar dele. ― Tenho toda a intenção de ir, por isso
estou aqui e não no escritório.
Uma mulher de cabelo escuro e rabo de cavalo que tinha mais ou menos
a idade de Kate apareceu atrás de Dominic. Sua figura estava obscurecida
por roupas de hospital que deviam ser três vezes maiores. Mas o que
realmente se destacou para Kate foram os grandes olhos azuis brilhantes
da mulher com longos cílios escuros pelos quais Kate teria matado. Olhos
da mesma tonalidade que os de Dominic.
― Pensei em vir ver o que estava acontecendo. Você deve ser Kate. Eu
sou Benny. ― Ela passou por Dominic e entrou na cozinha. ― Irmã de
Dominic.
― A menos que vocês queiram que Glenda ligue para o 911, devemos
ir ― disse Dominic.
Dominic segurou a porta dos fundos para elas, seus olhos nela enquanto
ela passava. Ele não estava sorrindo agora. Ele claramente não gostava que
sua irmã contasse sua história.
Kate ficou sem jeito por um segundo até que Benny agarrou seu braço
e a arrastou até uma mesa com comida.
Havia uma variedade de pratos para tentá-la, mas Kate não estava com
fome. Ainda assim, a pedido de Benny, ela fez algumas amostragens de
alguns itens e, sem muita escolha, encontrou-se acomodada em uma
cadeira entre Benny e um cara alto, moreno e taciturno que, se sorrisse,
pareceria um sósia morto de Dominic. Exceto pelos olhos castanhos
aveludados do cara. Dominic trouxe uma taça de vinho branco para ela
enquanto Benny a apresentava.
― Minha outra filha, Daisy, está na mesa das crianças. ― Ah. Essa era
a Daisy de coração partido. Outra beleza, com cabelos longos e negros e
olhos castanhos escuros. Esta família tinha definitivamente acertado o
prêmio da qualidade genética.
― É por isso que seu último namorado parecia ter acabado de se formar
no ensino médio, Benny? ― Dominic brincou. ― Eu me preocupei algumas
vezes que ele pudesse precisar da permissão de sua mãe para ficar fora
após o toque de recolher.
― Bem, você conhece o ditado, é mais fácil ensinar velhos truques a um
cachorro novo do que a um cachorro velho... como você. ― Elena falou
acima das risadas e provocações, obviamente acostumada com as
brincadeiras. ― Cruz, você terá que dar uma mão a Kate e Dominic. Isso não
parece algo que Kate possa ou deva enfrentar sozinha. E a sua família,
Kate? Eles estão por perto para ajudar? ― Kate olhou para os rostos da
família de Dominic e seu coração doeu por um momento. Além de sua avó,
ela nunca soube realmente o que significava ter uma família. Até
agora. Felizmente, antes que ela pudesse responder, Dominic interrompeu.
― Mamãe, deixe Kate comer. Não vamos sobrecarregá-la com sua
inquisição. Dê a ela pelo menos até a sobremesa.
― Não tão rápido. Você tem jardim de infância até o meio-dia. ― Paul
soltou um grito de protesto. ― Mas suponho que depois você poderia vir
junto ―, acrescentou Daisy, aparentemente sem vontade de lutar.
Paul correu pela sala, balançando o braço e dizendo: ― Sim, sim, sim ―
Benny balançou a cabeça. ― Não vamos dar mais açúcar a esse garoto. ―
Kate riu junto com todos os outros. Mas silenciosamente, ela se lembrou de
que seu lugar aqui hoje, com essas pessoas, não era real.
Portanto, pare de se perguntar como seria se esta fosse sua família. Ou
se Dominic fosse algo mais do que um parceiro de negócios.
― Ele amava tanto aquela coisa que passou um verão inteiro nela ―
Cruz estava dizendo. ― Teremos que mostrar as fotos algum dia. Deve
haver meia dúzia. ― Kate olhou para Dominic, o humor iluminando seus
olhos. ― Quem diria que você gostava de usar maiôs femininos. Cor de
rosa? Com cerejas?
Kate olhou para seu próprio relógio, surpresa em seu rosto. ― Não
tinha percebido que era tão tarde. Mas você está certo, eu deveria ir.
― Bom. Também gostei muito deles. ― Ela ficou quieta por outro
momento. ― Eles são muito especiais.
― Eles estão bem. Você foi muito bem lá. Embora você não tenha que
fingir rir das piadas de Cruz. Ele será insuportável de agora em diante. Bem,
mais insuportável.
― Oh meu Deus, eu amo seu irmão, ― ela falou, e por um momento ele
sentiu uma pontada de ciúme. ― Ele é hilário.
― Certo. Quando for às minhas custas. ― Ela riu e o som foi direto para
seu intestino. ― Vou ter que dar uma olhada em uma daquelas fotos de
você de maiô. Acho que não acredito muito. ― Ele balançou a cabeça,
jurando a si mesmo fazer Cruz pagar. Melhor mudar de assunto. - Daisy até
parecia ter gostado de você no final da noite. Este foi um bom quebra-gelo
para o jantar de domingo.
― A noite está tão quieta. Pacífica. Você quer sentar aqui por um
minuto comigo? ― ele perguntou, com medo de que, uma vez que ela
entrasse, fechasse a porta para ele e a noite acabasse.
― Oh. Não. Você entendeu mal. Ela ainda está viva, é só que... bem, ela
não é mais ela mesma. ― Kate respirou fundo e exalou lentamente. ―
Alguns anos atrás, ela foi diagnosticada com demência. Aconteceu tão
rápido, o que acho um alívio, em comparação com algumas outras histórias
que ouço em que as pessoas, suas mentes, lenta e dolorosamente se
degradam. No espaço de um ano, minha avó se perdeu para mim. Ela está
em uma casa, é claro. Eu vou vê-la todos os domingos. Passo o dia com ela,
às vezes jogando cartas ou assistindo a um filme antigo de Fred Astaire. ―
Ela sorriu e olhou para ele, mas ele podia ver o brilho extra em seus olhos,
o fio de uma lágrima no canto.
Seu coração doeu por ela, e ele não conseguiu se controlar estendendo
a mão, enxugando a lágrima com o polegar. Ela não recuou, apenas olhou
para ele. ― Sinto muito, Kate. ― Palavras simples que não pareciam
suficientes para expressar a profundidade de seus sentimentos naquele
momento.
― Todos nós temos uma história triste em algum lugar, certo? Estou
realmente feliz por ainda a ter. Ela é uma mulher incrível.
― Assim como outra pessoa que eu conheço. ― Ele queria beijá-la. Não.
Ele ansiava por beijá-la. Não um beijo para mostrar ou para provocar. Um
beijo de verdade. Mas ele ainda podia sentir a umidade de suas lágrimas
entre o polegar e o indicador. Este não era o momento certo.
Espere. Ele balançou sua cabeça. O que ele estava pensando? Não
havia qualquer momento para beijos reais. Não era disso que se tratava.
Ela não estava olhando para ele agora, mas de volta para a casa de
Glenda. ― Tendo conhecido sua irmã, estou feliz que estamos fazendo
isso. Eu quero ajudá-la. ― Ela ficou de pé. ― Obrigada por esta noite. E por
me ouvir. ― Ele se levantou e a acompanhou até a porta, o gato enrolando
em suas pernas novamente. Desta vez ela não hesitou ao empurrar a chave
na fechadura e abrir a porta.
Ele quase desejou que alguém os estivesse observando para que ele
pudesse plantar um nela. Mas a vista de Glenda's estaria obstruída agora,
então isso não funcionaria bem.
Com relutância, ele observou enquanto ela acenou boa noite e entrou.
Capítulo Oito
― Tenho certeza de que Oscar vai se virar até Glenda passar por aqui.
― Dominic a olhou de esguelha. ― Ele é um gato. Ele vai ficar bem. Você
nunca o deixou sozinho durante a noite antes?
― Bem, tenho certeza de que Glenda vai estragá-lo muito, então você
não tem nada com que se preocupar. ― Ele olhou para o céu. ― Parece
que aquela tempestade que eles prometeram está finalmente chegando.
Que bom que fiz as malas para a neve.
― Sério? ― Pela expressão em seu rosto, ele poderia dizer que ela
estava falando sério, o que era muito triste. ― Uau, Michael com certeza
era... aventureiro.
― Vou ter que acreditar na sua palavra. Quanto a mim, de jeito nenhum
vou ficar sentado enfurnado naquela suíte, não importa o quão legal seja,
por três dias. Ok, apague isso. Eu não ficaria enfurnado em alguma suíte em
um computador por três dias. Talvez fazendo outras atividades. ― Suas
bochechas estavam definitivamente ficando rosadas, mas ela não se virou
para olhar para ele. Cara, Michael era um idiota. ― De qualquer forma, se
vamos fazer essa pequena charada, acho que vai te fazer bem se realmente
sairmos da sala de vez em quando. Um pouco de diversão.
― Pode ser. Veremos. ― Pelo tom dela, ela poderia muito bem ter
dito, claro, quando o inferno congelar. ― Então, qual é o plano mesmo?
― ele perguntou.
― Coquetéis das sete às nove e depois estamos livres até amanhã. Tem
uma coisa pela manhã, deve ser algum psicólogo ou algo assim que vai dar
dicas às pessoas sobre como administrar o estresse e manter uma vida
equilibrada ou alguma merda assim. Eu estava pensando em uma maneira
de pular isso. ― Ele sorriu. Claro que ela estava. ― Então nada até o jantar
e um orador convidado às sete. ― Ele acenou com a cabeça e olhou a tempo
de ver o primeiro floco de neve pousar em seu pára-brisa.
― Merda. ― Ela olhou para ele. ― Nem pense em dizer 'eu avisei' ou
vou tocar minha música da Broadway. Tenho um CD do Gershwin apenas
esperando que eu toque o play. ― Ele apenas riu e ergueu as mãos
enquanto mais neve começava a cair. Ele esperava que Kate tivesse algo
mais quente do que aquela jaqueta leve com ela neste fim de semana,
porque ele sabia de algo que ela não sabia. Ele podia ser realmente
persistente quando queria, e sua missão seria tirar Kate de sua zona de
conforto, e de seu quarto e tentar algo novo. Algo que ele teria que admitir
estava em falta em sua vida nos últimos anos.
Se divertir.
Kate apenas acenou com a cabeça e concordou com todos os outros. Ela
não era muito boa nessas coisas de conversa fiada e não podia deixar de se
perguntar sobre o que todos teriam para conversar se não estivesse
nevando.
Ela olhou para o bar onde Dominic estava fazendo o pedido, algo em
retrospecto que eles deveriam ter feito imediatamente. Ela realmente
poderia usar aquela bebida.
Quase ao seu destino, ela avistou Tim e dois outros parceiros sentados
em uma alcova em frente ao assento para onde ela e Dominic estavam
indo. Eles devem ter estado lá o tempo todo.
Vendo sua chegada, Tim ficou de pé.
― Kate. É bom ver que você conseguiu chegar antes da tempestade. Jon
e Martin aqui também conseguiram, mas parece que alguns outros sócios
seniores podem não entrar até de manhã. ― Ele balançou a cabeça em
desgosto. ― Californianos. Eles vêem um floco de neve e estão prontos
para chamar a Guarda Nacional. Você deve ser o namorado de Kate ― ,
disse ele.
― Estou pensando que, com toda essa energia, posso convencer Kate a
ir para as encostas depois do almoço ―, disse Dominic.
Ela estava prestes a dizer que ele estava seriamente iludido se pensava
que a estava tirando da neve, quanto mais de esquis, quando ele passou o
braço em volta da cintura dela. Tornando quase impossível para Kate
respirar. Ou pensar em qualquer coisa além do calor de seu braço. Da
pressão de sua mão em seu quadril. Sua longa extensão de corpo
musculoso pressionado contra o lado dela. Ela conseguiu esconder o
arrepio que a percorreu, não de frio, mas de calor líquido.
Dominic a puxou ao lado dele, ainda sem desistir de seu domínio sobre
ela, e ela conseguiu manter os pés debaixo dela. ― Muito bem ―, ela
conseguiu dizer. ― Mas eu acho que você pode me soltar agora. Você fez o
seu ponto.
― O que você quer fazer? Ir até lá e dizer olá para o casalzinho feliz?
― Ele parou em frente à mesa de canapés. Colocando o copo na mesa, ele
finalmente tirou a mão da cintura dela e pegou um prato. ― Ou vamos
empilhar nossos pratos com comida e subir para ver se há algo bom na
HBO?
Kate olhou para trás para Dominic, que tinha empilhado seu prato com
salsichas de coquetel, camarão ao coco e sanduíches de salada de frango. ―
Acho que conseguimos o que viemos aqui esta noite ―, disse ela. ― Mas,
em vez da HBO, tenho outra atividade em mente. ― O prato que Dominic
estava segurando escorregou para o lado e ele teria perdido todo o
conteúdo se ela não tivesse estendido a mão para salvá-lo. Ela riu, sentindo-
se um pouco poderosa com a reação que ganhou. ― Eu estava falando
sobre Scrabble1. Eu vi no centro de entretenimento na sala.
― Mas você estava saindo com uma nota tão alta esta noite. Por que
você gostaria de voltar e jogar um jogo que tenho certeza de que vou
chicotear sua bunda?
Normalmente, ouvir alguém usar esse tipo de carinho ridículo faria seus
olhos revirarem. Vindo apenas de Dominic, ela descobriu que as palavras
tinham um significado mais doce.
― Vamos colocar seu dinheiro onde está sua boca. ― Suas sobrancelhas
se curvaram. ― Oh? Você está dizendo que quer uma aposta?
1
Scrabble (mais conhecido no Brasil com o nome de Palavras cruzadas) é um jogo de tabuleiro
em que dois a quatro jogadores procuram marcar pontos formando palavras interligadas, usando
pedras com letras num quadro dividido em 225 casas (15 x 15).
Dominic se recostou no sofá, as pernas esparramadas à sua frente no
chão. Ele esperou enquanto Kate continuava a estudar o tabuleiro e então
olhou de volta para seus ladrilhos.
― É claro. E isso deixa nossa pontuação em... 217 a 163. Acredito que
estou na liderança. Sua vez.
Quando ela voltou, ela se jogou no chão, de barriga desta vez. Droga.
Deste ângulo, era impossível não olhar para a lacuna tentadora em seu
suéter que era exibida. Com o rosto apoiado nas mãos, ela estava
estudando suas cartas novamente e não podia saber onde seu olhar lascivo
estava vagando.
― Sabe, estou meio cansada. Por que não chamamos isso de empate.
Uma eternidade depois, ela deixou cair sua próxima palavra. Dezessete
pontos. E então recolheu as últimas letras. Era realmente cruel mantê-la
em tal suspense. Ele deveria apenas tirá-la de seu sofrimento e chamá-la de
boa.
― Eu não te disse? ― Ela sorriu docemente para ele, mas ele podia ver
a determinação em seus olhos. ― Melhor de três. ― Ela realmente não
gostava de perder. Bem, nem ele.
― Não acredito que você está me obrigando a fazer isso ―, disse Kate
na tarde seguinte, tentando conter o pânico crescente em sua voz.
Essa coisa era mesmo segura? Ela agarrou a lateral da cadeira enquanto
o teleférico os arremessava para o céu. A outrora pitoresca encosta da
montanha que ela estava apreciando apenas esta manhã tinha passado de
bela a traiçoeira no espaço de um minuto.
Ela amaldiçoou sua sorte. Ela estava tão certa de que iria ganhar na
noite anterior com aquelas peças na mão e aquela pontuação dupla que
estupidamente concordou em ir esquiar se perdesse. Algo que ela não tinha
intenção de fazer, porque ela iria chutar seu traseiro.
― Não acredito que você nunca esquiou antes. Você vive em um estado
onde metade das placas de veículos se gabam de ter a maior neve do
mundo.
Ele riu. ― Vou me certificar de que você não saia voando de nenhum
penhasco. Eu prometo.
Uma hora. Ela só tinha que sobreviver por uma hora. Então eles
poderiam voltar para o quarto, onde ele prometeu deixá-la sem
interrupções enquanto ela se banhava na enorme banheira de seu
banheiro.
― Kate. Kate. ― Era Dominic, ela percebeu. E parecia que ele estava
tentando não rir. Outro cara apareceu ao lado dele e pelo emblema no
paletó, ele deve ser funcionário do resort. ― Você vai precisar deixar
ir. Vamos. Eu vou pegar você. ― Kate olhou em volta e notou dezenas de
olhos nela. Todo o maldito elevador foi interrompido enquanto todos
esperavam que ela levantasse a bunda do assento. Mortificada, Kate tomou
a decisão de que nada poderia ser pior do que isso e se deixou escorregar
do assento e cair na neve pulverulenta abaixo.
― OK. Vamos trabalhar nisso, ― Dominic disse e ofereceu sua mão para
ajudá-la a se levantar.
Kate olhou para baixo assim que o vento aumentou, soprando a neve
em pó ao redor como uma pequena nevasca, quase tornando impossível
ver qualquer coisa. Exceto pelo que parecia ser uma queda brusca para o
vale abaixo deles. Do jeito que Dominic estava apontando, ela deveria ir
naquela direção.
E então ela fez tudo de novo. Ela estava fazendo isso, ela estava
realmente esquiando.
Espere…
Merda. Ela estava indo rápido demais. Seus braços balançaram e seus
esquis escorregaram perigosamente rápido na superfície da neve.
Dominic caminhou até ela, sem parecer nem um pouco alarmado por
ela quase ter morrido. Ele estava realmente sorrindo. ― Você está
entendendo. Sem problemas. Vamos. Vamos tentar de novo.― De
novo? Ele estava louco?
― Oi, pessoal ―, ela disse e tentou sorrir. Ela limpou alguns pedaços de
neve grudados em seu cabelo.
Kate olhou para Nicole, que ainda conseguia parecer bonita e chique
com calças justas brancas para neve e uma parca azul gelo. Kate estava
usando uma calça de neve preta grande demais e uma parca desgrenhada
que haviam encontrado à venda na loja de presentes do resort que a fazia
se sentir mais como o abominável homem das neves do que como um
coelho de esqui.
― Você sempre insistiu que não sabia esquiar. Não importava o quanto
eu bajulasse, ― ele continuou, conseguindo realmente soar ofendido.
Michael olhou inquieto de volta para Kate. Na verdade, parecia que ele
queria ficar e se certificar de que ela descia em segurança, e ela não podia
ignorar a onda de excitação que sentiu com a perspectiva de que ele ainda
se importava. E pode realmente ficar com ciúme.
― Ela está certa, ― ela finalmente disse e deu a ele um grande
sorriso. ― Dominic e eu podemos administrar. Na verdade, antes que você
perceba, estarei pronta para esquiar nos diamantes ou nas colinas negras
ou como você os chama, ― ela acrescentou com falsa bravata.
Dominic disse algo baixinho que soou muito como “idiota” antes de se
virar para ela. O que meio que a surpreendeu. Normalmente as pessoas,
homens e mulheres, eram atraídas por Michael. Ele poderia ser engraçado
e pessoal. Mas ela não estava enganada, Dominic tinha uma antipatia
definitiva por ele. Era ridículo como isso a deixava tonta.
― Na verdade não, ― Ela suspirou. ― mas não parece que tenho muita
escolha. ― E com determinação de aço, ela inclinou seu corpo para frente
e deslizou para a curva. Ela avançou cerca de cinco metros mais antes de
cair de bunda. De novo.
Ele ouviu Kate desligar a água e um minuto depois ouviu seu gemido
alto.
― Kate? Você está bem? ― Uma longa pausa. ― Não. Estou sofrendo
em lugares que nem sabia que eram possíveis. ― Droga. Isso colocou uma
imagem interessante em sua mente. Ele ligou a televisão e começou a
mudar de estação, ciente do barulho da água vindo de trás da porta.
― Ei, meu negócio era fazer você esquiar por uma hora. Foi você quem
insistiu em esquiar mais dois. Vamos. Admita. Você se divertiu. ― Ela
murmurou algo que ele não conseguiu ouvir, mas não soou muito favorável.
― Comemos por volta das seis, mas geralmente todo mundo chega uma
hora antes. Ajuda na preparação. ― Outro gemido escapou de seus
lábios. Ela o estava matando. ― Há algo que eu possa fazer por você? Uma
taça de vinho, um pouco de ibuprofeno? Sabe, eu realmente faço uma
massagem assassina nas costas. Posso deixar você mais confortável.
― Não são minhas costas que estão doendo. ― Pelo número de vezes
que ela caiu de bunda, ele podia imaginar onde estavam as verdadeiras
dores. ― Eu sou flexível. Tenho certeza de que posso massagear seus
músculos doloridos... onde quer que estejam. ― Desta vez ele a ouviu rir. ―
Boa tentativa. Já tomei um pouco de ibuprofeno. Só espero que eles
funcionem antes do jantar. Ou você pode estar me empurrando lá em uma
cadeira de rodas. ― Ele desistiu da distração e desligou a televisão. Ele
cruzou as pernas na frente dele, apoiando-as na mesa de centro.
― Tim parecia bom o suficiente. É ele quem toma a decisão sobre a sua
promoção?
― Não, mas é ele quem faz a recomendação aos sócios seniores. Tem
que haver um consenso para que eu seja votado, que é o que eles farão na
reunião trimestral. E com a sua presença neste fim de semana como minha
cara-metade significativa, eu acertando os próximos depoimentos e,
esperançosamente, fazendo com que o caso McKenna seja arquivado em
julgamento sumário, Tim acha que vou ser escolhida. Estou apostando
nisso. ― Ele se lembrou do conselho de Tim na noite anterior, de que Kate
verificaria seu cliente. ― É este o caso em que você deveria segurar a mão?
― Vou tentar não me ofender com isso. Como é improvável que não
ganhe, não estou preocupada com a promoção. O advogado desta mulher
é horrível. Um praticante de família medíocre, ele está fora de seu
ambiente em um julgamento completo como este. É quase criminoso que
ele seja tão incompetente. ― Mais assobios vieram da outra sala e, em
seguida, o som distinto do plugue sendo puxado e a água drenando. Ele
teve uma imagem dela de pé, a água escorrendo por seus quadris, e mais
abaixo...
Ele deu um pulo. ― Vou fazer um café. Quer algum?
― Certo, sim.
Droga, seus dedos coçaram para puxá-la para ele e saborear aqueles
lábios carnudos e rosados. Prová-los realmente. Nenhum beijo casto
rápido. Mas é má ideia. Nesse quarto? Com ela sozinha? Não terminaria
com apenas um beijo. E isso era muito perigoso para os dois.
― Cruz quer que eu vá, mas eu não sei. Suponho que sim, mas estarei
adiando o que quero fazer ainda mais. Benny está tentando me encontrar
com um web designer, fazer meu próprio negócio decolar. Com o senso de
negócios de Cruz, ele poderia me ajudar a lançá-lo também. Estou apenas
me concentrando na cirurgia de papai primeiro, e depois veremos. E quanto
a você? Você sempre quis ser advogada? ― Ela sorriu e olhou para sua
xícara. ― Na verdade, quando eu era criança, costumava assistir Judge
Judy todas as tardes. Ela era dura como unhas e corajosa e eu nunca perdi
um show. Não conte a ninguém, mas eu sempre quis ser ela. Sentada
naquele pódio em uma longa túnica preta esvoaçante, batendo o martelo
para baixo enquanto mandava nas pessoas. Não aceitando merda de
ninguém. Só descobri mais tarde que, para ser juiz, era preciso primeiro ser
advogado. Portanto, concentrei-me na faculdade de direito. ― Não
aceitando merda de ninguém? Como quem? Mas ele não pressionou. ―
Uma juíza? Fiquei impressionado. ― Ele sorriu. ― Mas agora que você
mencionou, eu pude ver. Você seria ótima.
― Como você saberia? ― ela perguntou e olhou para ele. Seus olhos
eram suaves e brilhantes, sua pele estava completamente corada. Ela foi
iluminada por dentro enquanto falava sobre realizar seu sonho. Ele alguma
vez pareceu tão otimista?
― Porque você tem um toque suave. Mesmo que você mesmo não
saiba. Mas se seu objetivo é se tornar uma juíza, por que você está
estressada com esta promoção?
― Suponho que não. ― Ele tomou um grande gole de seu café, mal
sentindo o gosto da bebida fermentada de nozes. O comentário dela sobre
dinheiro bateu perto demais quando ele se lembrou de como isso tinha sido
importante para sua ex também. Mais importante do que ele.
Juíza Kate. Cabelo amarrado atrás dela, aquele manto preto comprido
e esvoaçante. Sem nada por baixo. Mais ou menos como agora.
Kate estava linda esta noite e a hora que ela gastou dando os toques
finais valeu a pena. Entrar no salão de baile com cada homem se virando
para olhar para ela o encheu de sentimentos contrastantes. Orgulho que
esta criatura estava lá com ele, e o desejo de socar cada cara jogando
sorrisos lascivos em seu caminho.
O rangido do colchão no outro quarto disse a ele que Kate ainda estava
acordada. Ele quase podia imaginá-la agora. Provavelmente em uma
camisola de seda, talvez um número com uma longa fenda na coxa. Seus
seios fartos eram pesados e pressionados contra o tecido. Aquele cabelo
vermelho caindo em cascata sobre os travesseiros sob ela, seu corpo macio
e esperando por seu toque.
Ele apertou ainda mais os olhos. Não confiando em si mesmo para olhar
para ver o que ela estava vestindo, se é que havia alguma coisa. ― Seja meu
convidado.
Ela deveria estar cansada, e Deus sabia que ela estava exausta quando
eles voltaram ao quarto depois de esquiar mais cedo. Mas entre então e
agora, ela se sentiu energizada. Ela riu alto quando uma imagem anterior
veio a ela. ― Ainda estou me lembrando daquele olhar no rosto de Michael
quando você me levou para a pista de dança antes mesmo de a dança ter
começado e me rodopiar. Ele nunca gostou muito de dançar. ― Sem
mencionar as emoções vertiginosas que ela experimentou quando Dominic
a segurou tão habilmente, sua mão na dele enquanto ele a girava. Foi como
um sonho. Por um minuto ela se esqueceu de todos os outros naquela sala,
exceto ela e Dominic.
Até que ela viu Michael sentado ali, com a boca aberta.
― Acho que foi você quem deixou a impressão. Quem sabia o quão
poderosa a atração do ciúme poderia ser, ― ela meditou.
― Isso faz parte da sua meta aqui? ― ele perguntou. ― Para deixar o
Michael com ciúmes?
Concentre-se, Kate.
― Isso é justo. ― Ele demorou mais um momento e ela olhou para ver
que ele ainda a estava estudando, e ela desejou que seu rosto não estivesse
tão obscurecido pelas sombras. Ela queria saber o que ele estava
pensando. ― O que aconteceu entre vocês dois, de qualquer maneira? Se
você não se importa que eu pergunte. ― Ah. Ela tinha se perguntado se ele
algum dia iria perguntar isso a ela. Pegando a garrafa de água, ela se
aproximou e sentou-se na poltrona reclinável ao lado do sofá. Ela enfiou os
pés embaixo do corpo, certificando-se de que não estava olhando para ele.
― Eu trabalhava como associada na Strauss há pouco mais de um ano
quando Michael entrou para a empresa. Aquele primeiro ano foi...
difícil. Tentando provar a todos que eu pertencia e que poderia lidar com
tudo que eles me deram e mais um pouco. Às vezes era solitário. ― Para
dizer o mínimo, já que ela não sentia a mesma camaradagem com os outros
associados, que pareciam ter pertencido às mesmas irmandades e
fraternidades. Ela sempre se sentia estranha quando as conversas se
voltavam para o fabuloso local que haviam estado nas férias. ― De
qualquer forma, com o vencimento do meu empréstimo estudantil e o
aluguel a pagar junto com o declínio da saúde da minha avó, eu não queria
assumir nenhuma dívida nova no início e ainda estava dirigindo o velho
ferrão da avó. Um Oldsmobile Cutlass verde, por volta de 1988.
Esses peitorais.
― Então, além desse suposto encanto que ainda estou esperando para
ver, o que mais fez você se apaixonar pelo santo Michael? ― Dominic
parecia irritado? Talvez todo esse compartilhamento não tenha sido uma
boa ideia. O quanto isso revelou sobre ela, bem como seu relacionamento
com Michael? Ela pensou em como colocar suas próximas palavras. ―
Michael cuidou de mim imediatamente. Ajudou-me a descarregar meu
carro velho e conseguir o aluguel do meu primeiro carro novo. Ele até me
ajudou a me encaixar na Strauss, me procurando para almoçar e tomar um
café, me apresentando a vários advogados da firma que eu ainda não tinha
ousado abordar. As coisas eram apenas... mais fáceis com Michael. ― Mais
fácil do que nunca em sua vida. Ele pagou por suas noites extravagantes,
comprou presentes requintados, planejou férias luxuosas e a fez se sentir
melhor consigo mesma.
― Kate. ― Ele esperou até que ela erguesse o olhar para encontrar o
dele. Tão sério. Mas quente. ― Você não precisa de um cara para te dar
auto-estima. Para fazer você se sentir especial. Você vale todas as pessoas
que conheci neste fim de semana e mais algumas. Definitivamente mais do
que aquela garota idiota da Nicole.
Ele levantou a outra mão para tocar sua bochecha. Foi quase elétrico e
ela começou. E de repente ela percebeu onde eles estavam. O que eles
eram. Seu atual estado de nudez. Sua boca ficou seca quando ela pensou
em abaixar a cabeça, puxando-a em sua direção e beijando aqueles lábios
que a tentavam desde que ela o conheceu.
― Aposto que você diz isso para todas as garotas, ― ela disse, tentando
fingir que não foi afetada por suas palavras, por seu toque, por sua
proximidade, mas sua voz estava trêmula. ― Mas é gentil da sua parte dizer
isso. E tudo o que você fez por mim neste fim de semana. Eu realmente
devo a você. ― Ele ficou em silêncio enquanto ela cruzava o espaço, mas
quando ela fez uma pausa antes de entrar no quarto, ele disse suavemente:
― Boa noite, Kate. ― Quase parecia uma promessa. Não é uma boa noite.
Dominic olhou para cima e chamou sua atenção. Ela viu uma suavidade
em suas profundezas e tentou ignorar a pressão desconfortável que crescia
em seu peito. Nenhum deles mencionou o que quase se passou na noite
anterior quando ele a tocou e disse as coisas mais bonitas que ela já tinha
ouvido. Ela quase se perguntou se ela tinha imaginado tudo. Talvez tenha
sonhado. Mas não havia como ela imaginar o calor de tê-lo segurando suas
mãos, de confortá-la. Fazendo-a querer se livrar do robe e envolver seu
corpo ao redor daquele calor delicioso dele.
A voz quente e rica de Fred Astaire chamou sua atenção de volta para a
tela, onde ele estava cantando sobre a dança de rosto colado com o de
olhos brilhantes Ginger Rogers. Cartola, a favorita da avó. Kate tinha
perdido as contas de quantas vezes elas assistiram isso juntas,
especialmente no ano passado. Havia algo familiar e reconfortante para a
vovó sobre o filme que ela não se cansava.
Kate, porém, ficou imaginando como esse homem lindo e sexy poderia
sentar-se ali como se não houvesse outro lugar que gostaria de estar.
Michael tinha ido com ela para visitar sua avó menos de um punhado
de vezes em todos os anos juntos. Mesmo antes de os problemas de saúde
de sua avó obrigarem Kate a fazer a difícil escolha de se estabelecer aqui.
― Você sabe ― disse sua avó, sem tirar os olhos da tela, ― para cada
movimento que Fred Astaire fazia, Ginger Rogers tinha que igualar. Para
trás. E de salto. ― Kate sorriu e acenou com a cabeça, tendo ouvido essa
declaração todas as vezes que assistiam a um filme estrelado pela dupla.
― Ela faz, não é? Sabe, meu coração se partiu quando Fred Astaire
começou a dançar em seus filmes sem Ginger ao seu lado. Ninguém gostava
muito dela. Mesmo aquela adorável menina Audrey nunca foi páreo para
Ginger. Porque os homens não sabem uma coisa boa quando a têm, está
além de mim.
Com uma voz suave, para não ser ouvido, ele disse: ― Posso ver o
quanto você a ama, Kate. E mesmo que ela nem sempre saiba quem você
é, ela pode sentir o seu amor também. ― Droga. Por que ele teve que dizer
algo assim? Seus olhos estavam quentes e ela lutou contra as lágrimas que
ameaçavam. ― Eu gosto de pensar assim. É por isso que venho aqui todas
as semanas. Ela precisa ser lembrada de que tem pessoas que a amam. Eu
só queria poder vir mais aqui. É difícil, porém, com trabalho.
― Tenho certeza que ela entende. Pelo que posso dizer sobre esta
mulher nesta foto, ela ficaria orgulhosa de você e de todas as suas
realizações.
― Você tem que parar de ser tão doce. Você está arruinando todos os
seus melhores momentos de namorado em um público vazio. ― Ela sorriu,
mas manteve sua atenção na foto, não confiando em olhar para ele,
embora soubesse que ele ainda a observava. Com medo de que, se ela
olhasse muito fundo naqueles olhos, ela pudesse começar a acreditar que
essa coisa entre eles era real.
― Verdade. Acho que posso usar isso como material mais tarde. Apenas
tente fingir que está ouvindo pela primeira vez.
Ela estava tão perto dele que parecia natural quando ele estendeu a
mão para afastar o cabelo de seu rosto. Acariciou sua bochecha novamente
por um momento. Como ele tinha feito na noite passada. Ela não pôde
evitar apertar o rosto em sua mão, apenas por aquele momento. Para sentir
sua respiração contra sua pele.
― Não sei sobre você, mas estou morrendo de vontade de ver se Fred
vai pegar a garota. Se importa se assistirmos mais um pouco? Ainda temos
mais algumas horas até que precisemos estar com meus pais, de qualquer
maneira. ― Ela olhou para ele com alguma suspeita. Ele sorriu, preguiçoso
e confiante, mas não brincando. Ela conseguiu sorrir de volta. ― Já que não
quero que você me pergunte como o filme termina, acho que podemos ficar
por aqui. Ela vai ficar fora por horas de qualquer maneira.
― Mas você tem que me prometer uma coisa. Sem cantar a música. ―
Ela tentou parecer ofendida ao deslizar para o sofá ao lado dele. ― Eu não
cantei nenhuma vez.
― Você tem falado cada palavra desde que o filme começou. Não tente
esconder. ― Ela reprimiu um sorriso. ― Espere até chegarmos ao carro. Eu
tenho a trilha sonora.
Ele piscou para ela, e ela sabia que ele estava tentando dizer a ela que
tudo ficaria bem.
― Muitos anos de prática. Agora vai. Você não vai melhorar a menos
que continue tentando. ― Kate se virou e viu Elena e Benny olhando para
ela com sorrisos ocultos. ― Não se preocupe, ― Benny assegurou a ela. ―
Você vai perceber que estou resignada a cortar, porque mesmo depois de
todos esses anos, o meu parece que foi feito por uma criança de cinco anos.
Daisy virou a tortilha. ― Tudo bem. Deixe seu cartão e vou considerá-
la. ― Kate olhou para cima e viu Benny e Elena sorrindo para ela
novamente. Constrangida com seus olhares de gratidão, ela devolveu um
sorriso nervoso.
Elas pensaram que ela era a namorada de Dominic. Estava aqui para
conhecer sua família porque ela o amava e se importava com ele.
Elas ainda seriam tão calorosas e gratas se soubessem que ela e Dominic
estavam mentindo para todos eles?
Dominic encontrou as crianças jogando Wii Sports. Pelo que ele poderia
dizer ao ver a tela, Paul estava batendo em sua irmã mais velha
(praticamente falando) e jogando-a na água abaixo, fazendo as duas
garotas terem acessos de riso. Não demorou muito para convencê-lo a
tentar, e quinze minutos depois, um controle remoto em uma mão e um
nunchuk na outra, ele estava boxeando sua sobrinha de sete anos.
Um som vindo de trás chamou sua atenção. Ele se virou para ver Kate
encostada na parede na parte inferior da escada, tentando sem sucesso
controlar sua alegria.
― Ei, isso é mais difícil do que parece ―, disse ele, enxugando a testa. ―
Quer tentar?
As crianças aplaudiram e Kate jogou a cabeça para trás e riu. O som era
lindo, assim como seu rosto quando ele olhou para ver suas bochechas
brilhando com o exercício, os olhos brilhando.
Antes que ele pudesse questionar o bom senso de suas ações, ele
deslizou as mãos em volta da cintura dela e puxou-a contra ele. Ainda sem
fôlego pelo jogo, o peito dela subia e descia pesadamente contra o dele e
era difícil não apreciar a protuberância de seus seios amortecidos contra
ele. Mas em vez de mostrar raiva ou desconforto com a exibição, ela parecia
derreter ainda mais contra ele. E sorriu.
― Você sabe como os meninos podem ficar, Natalie ― disse Kate, ainda
olhando para ele. ― Eles não gostam de ser espancados por uma garota.
Em dez segundos, Paul estava jogando seu peso contra ela, tentando
fazer cócegas em sua barriga. ― Ajudem-me, meninas. ― Foi todo o
incentivo de que suas sobrinhas precisavam antes de empurrar contra eles
também, e todos eles caíram de costas no sofá, Dominic embaixo de Kate,
mas segurando-a contra ele, tentando lutar contra os dedinhos das garotas
que tentavam ficar sob seu pescoço e braços.
― Ei, seus mocassins lá embaixo. ― Não foi difícil distinguir a voz de
Benny das outras. ― O jantar está pronto, então traga essas bundas aqui
agora, ou Cruz vai comer todas as tortilhas. ― As crianças gritaram
enquanto se amontoavam e corriam para as escadas, tentando não ser as
últimas.
Sua mão se esticou e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha dela
que estava fazendo cócegas em sua bochecha. Seu queixo parecia tremer
enquanto ela prendia a respiração.
Com a palma da mão, ele segurou a parte de trás de sua cabeça e trouxe
sua boca até a dele. Ele esteve se perguntando qual era o gosto dela mais
vezes do que ele poderia contar, e enquanto seus lábios brincavam com os
dela, testando-a para ter certeza de que ela não se oporia, ele se lembrou
de mel. Ele não sabia o que esperar quando aprofundou o beijo, resistência
talvez, ou nojo, mas a sensação inebriante dela abrindo a boca para ele,
permitindo que ele rodasse sua língua com a sua e provasse
completamente sua doçura, quase o matou. Como quando ela subiu mais
alto em seu colo e inclinou a cabeça para desfrutar plenamente do beijo.
Confiando nele.
― Ei, vocês dois. Se vocês não estiverem aqui em dez segundos, vão
sentar na mesa das crianças ― Benny gritou novamente. ― Não consigo
segurar os ratos do tapete por muito mais tempo. ― Com grande
relutância, Dominic se afastou e viu quando os olhos de Kate se abriram,
olhando para ele, sonhadora e lânguida. Os lábios dela estavam inchados e
imploravam para ele roubar mais um gosto, mas o som de pés correndo e
cadeiras raspando o lembrou que ele estaria testando o destino. Os sons
pareciam infiltrar-se na consciência de Kate também, pois ela enrubesceu e
praticamente saltou para longe de seu colo.
― É melhor irmos lá. ― Ela pressionou as mãos para baixo, alisando o
suéter preto macio sobre sua figura curvilínea, então repetiu a ação com o
cabelo.
Ele se levantou e estendeu a mão para alisar uma mecha de cabelo que
estava espetada no topo de sua cabeça. ― Sim. É melhor irmos. ― Ele
deveria estar se lembrando porque aquele beijo foi uma má ideia. Que não
poderia ir a lugar nenhum e poderia até mesmo correr o risco de as coisas
se tornarem estranhas. Mas ele não se importou.
E Dominic, tão forte e firme debaixo dela, seus ombros quando ela o
agarrou com mais força, seu peito contra o qual ela se pressionou. A maciez
de seu cabelo que seus dedos encontraram quando ela o puxou para ela
enquanto ela se entregava ao calor inebriante de seu beijo.
Mesmo agora, seu olhar caiu para os lábios, e ela quase os abriu, como
se ele estivesse lá agora. Sua barriga rodou de desejo novamente.
O que era muito louco.
Ela e Dominic não iriam acontecer. Eles não poderiam acontecer. Isso
provou isso. Porque agora que ele a beijou, realmente a beijou, ela não
conseguia pensar em mais nada.
Melhor evitar olhar diretamente para ele pelo resto da noite se ela
quisesse manter qualquer aparência de sua sanidade. Em vez disso, ela se
recostou e ouviu a conversa ao seu redor.
As crianças eram as mais barulhentas e ela ficou feliz em ver que sua
timidez inicial havia diminuído enquanto conversavam animadamente um
com o outro e com Dominic e Cruz, que apareceram enquanto ela estava lá
embaixo. Eles estavam claramente tentando impressionar seus tios.
Mas mesmo que ele não falasse muito, ela podia ver o amor nos olhos
do velho Sorensen enquanto ele olhava ao redor da mesa para sua
família. Ele claramente estava gostando de ter sua família cercando-os com
sua energia e amor. E ela estava se divertindo. Enquanto a refeição
progredia e Benny e Cruz começaram a provocar Dominic novamente, ela
viu os olhos de seu pai brilharem de diversão, um leve sorriso em seus
lábios. Quando ele a pegou olhando para ele, ela ficou mais do que surpresa
quando ele deu uma piscadela rápida. Kate corou um pouco com a atenção
dele. Ela definitivamente podia ver de onde Dominic tirou seu charme.
Kate riu. ― Você sabe que nunca faço uma aposta que não posso ganhar
e, com meu histórico, não achei que pudesse perder.
― Já estou gostando mais dele. ― Payton mexeu seu chá com o canudo
e tomou um gole. ― E você já ouviu alguma palavra sobre se o seu pequeno
estratagema teve sucesso com os poderes constituídos ou, mais
importante, com Michael?
Era difícil não notar o olhar de saudade que Payton deu ao sanduíche
antes de espetar um tomate com o garfo. ― Então, parece que seu plano já
é um sucesso. Mas você está sendo muito vaga. Eu preciso de detalhes
aqui. Sobre a reação de Michael, sobre a família de Dominic, tudo. ― Nos
detalhes explícitos que Payton passou a apreciar, Kate deu a ela um detalhe
do fim de semana, tomando um momento para decidir se deveria dar os
detalhes do beijo, mas então ela percebeu que sua necessidade da opinião
de sua amiga superava qualquer provocação inevitável.
― É por isso que sou uma advogada tão boa. Mas realmente... o que
havia para dizer? Nós simplesmente nos empolgamos com o momento.
― Kate timidamente levou a bebida à boca. ― Não que eu esteja dizendo
que não foi um beijo muito bom, porque foi, mas é improvável que se
repita.
― Não tenho certeza. Eu estava tão focada neste retiro que nem pensei
muito à frente, mas posso perguntar a ele. E não me dê aquele olhar fingido
de indignação, porque sei que você está tentando esquecer essa maldita
coisa sozinha.
Payton revirou os olhos. ― Só não deixe minha mãe ouvir você dizer
isso. Este casamento e a festa assumiram o controle da vida dela - e da
minha. Eu já disse que ela comprou meu vestido de noivado um tamanho
pequeno demais para me forçar a perder cinco quilos? ― Kate riu. ― Eu me
perguntei o que havia com a salada inteira para o almoço, já que você
normalmente só come uma se eles trouxerem como acompanhamento do
seu pedido. Achei que não estava com muita fome.
― Estou praticamente morrendo de fome. ― O que parecia nada mais
longe do que a verdade com sua pele lisa e brilhante e cabelo loiro morango
saudável que ainda agora brilhava à luz do sol que fluía de sua
janela. Depois, havia aquelas covinhas adoráveis. Kate a odiaria se ela não
fosse sua melhor amiga.
E um certo alguém.
Ladrilhos rosa quebrados espalhados pelo chão junto com mais poeira
e detritos do que ela pensava ser possível. Mas não foi isso que chamou sua
atenção. Foi a visão de seu bíceps forte e protuberante enquanto ele
esmagava uma seção da parede com a marreta, muitas vezes parando para
puxar a parede de gesso com as duas mãos, que fez seu pulso disparar. E as
gotas de suor escorrendo pelo pescoço e pela camiseta preta que ele
usava. Quem diria que o suor poderia ser tão sexy?
― Quanto tempo você vai ficar aí me olhando? Eu avisei que não seria
bonito. ― Isso era uma questão de opinião.
― Eu não posso acreditar que você nunca tentou isso, ― Dominic disse
e deu outra mordida em seu sanduíche desleixado, apreciando a mistura de
doce com salgado e picante.
2
Subsalicilato de bismuto, também conhecido como Pepto-Bismol, é um medicamento de
ação antiácida para tratar afecções e desconfortos temporários do estômago e do trato
gastrointestinal, como a diarreia, indigestão, azia e náusea.
vez experimentaria isso de novo antes que essa coisa acabasse. Ele
definitivamente esperava que sim, mesmo sabendo que era uma má ideia.
― Isso foi o que eu pensei. ― Ele devorou outra mordida, ciente de que
Kate ainda o observava. Algo que ela tem feito muito desde que chegou em
casa, embora ela desviasse o olhar ou fingisse estar olhando para outro
lugar quando ele tentasse pegá-la. Mas não era tão frequente quanto ele
olhava furtivamente para ela, apenas menos óbvio.
Ele culpou o maldito rabo de cavalo e a forma como seu longo cabelo
ruivo balançou quando ela virou a cabeça. A maneira como seus lábios se
separaram quando ela olhou para ele, como se ela estivesse se lembrando
daquele beijo incrível da outra noite. Ou a maneira como ela corou sem
motivo aparente, fazendo-o se perguntar o que ela poderia estar pensando.
Mas ele sabia que uma pequena parte disso era que ele gostava de olhar
para ela. Para preencher a dor que sentia desde que se separaram na noite
de domingo.
― Isso mesmo, fui assediada pelo seu fã-clube quando fui tomar um
café na sala de descanso. Eles até colocaram uma foto sua na geladeira em
homenagem.
― Boa transição. Posso ver totalmente como essas duas coisas estariam
relacionadas. Espere. Você é sua dama de honra. Você já não é obrigada a
ir para esta coisa?
― Sim. Acredite em mim, não estou ansiosa por isso mais do que
você. Na verdade, você provavelmente vai se divertir mais. ― Ela
estremeceu.
Foi a mesma reação que ela deu ao ouvir o convite para jantar na casa
de Glenda e depois na casa de seus pais. Ele teve que perguntar. ― Então o
que aconteceu? Quero dizer, ninguém gosta de ir a festas onde não
conhece ninguém, mas você parece ter uma tolerância especialmente baixa
para essas coisas do que eu diria que é normal.
― Não. Parece certo. ― Ela sorriu suavemente e fez uma pausa, como
se estivesse lembrando de algo antes de continuar. ― A antipatia da Sra.
Vaughn derivava mais do fato de eu ser o caso de caridade. Payton deveria
estar saindo com outras crianças ricas que tinham pais bem-sucedidos e
boas conexões das quais a Sra. Vaughn poderia se gabar. Eu estava na - ―
ela baixou a voz ― bolsa de estudos ― A raiva torceu seu intestino com a
possibilidade de que alguém pudesse fazer Kate sentir que ela não era boa
o suficiente. Especialmente uma Kate mais jovem e impressionável, cuja
vida tinha sido muito difícil. ― Soa como uma vadia. Espero que você não
tenha levado a opinião dela a sério. ― Ela encolheu os ombros. ― É mais
fácil agora, mas quando eu tinha doze anos, nem tanto. Você deveria ter
visto o olhar que ela me deu na primeira vez que Payton me convidou para
ir patinar com ela. ― Ela riu, mas foi uma risada curta e seca que ele
percebeu que custou a ela. ― Minha avó estava na Previdência Social e,
com todas as taxas escolares, livros e uniformes que minha bolsa de estudos
não cobria, estávamos apenas sobrevivendo. Dinheiro sobrando não era
um luxo que tínhamos. Então, em vez de entregar o dinheiro pela minha
admissão, vovó correu para a janela do Lexus preto brilhante da Sra.
Vaughn e entregou a ela um cupom compre-um-leve-outro. Você deveria
ter visto o horror no rosto de Emily Vaughn. Um lenço de papel usado teria
sido menos abominável. ― Kate fez uma pausa com a memória, um sorriso
triste torcendo seus lábios. ― Ela tem me dado o mesmo olhar desde então.
― Uma coisa era certa, as coisas ficariam realmente interessantes quando
ele encontrasse essa vadia sem coração. Mas, por enquanto, ele fingiu que
as palavras de Kate não haviam rasgado seu coração. ― Mas Payton não se
importou, ― ele a cutucou enquanto ela parava para olhar pela janela um
segundo a mais.
Ela sorriu. ― Não. Payton não se importou. Ela não é como sua
mãe. Adorava vir para a festa do pijama, só para fugir. Acampávamos em
uma barraca no quintal e ficávamos acordadas até tarde, comendo Red
Vines e lendo uma para a outra romances contrabandeados que encontrei
no armário da vovó. Tive sorte quando a conheci. ― Ele imaginou uma Kate
mais jovem e desajeitada, com longas tranças vermelhas como na foto de
sua avó. Arteira. Engraçada. Sem dúvida sarcástica. Mas com um coração
de ouro.
Isso não aconteceria nesta festa se ele pudesse evitar. Se ele deixasse
Kate com uma coisa, seria que ela realmente valia mais do que todos eles. E
que a menina com as sardas e o sorriso largo ainda estava lá dentro. Pronta
para encontrar a felicidade. Uma felicidade destemida.
Mas em vez disso, ele disse apenas: ― Eu diria que vocês duas tiveram
sorte.
Ele tinha que ter certeza de que a Sorensen Construction - e seu pai -
ficariam bem antes de pular do navio.
― O que Kate pensa sobre tudo isso? ― Dominic olhou para cima para
encontrar Cruz olhando para ele. ― Sobre o quê?
― Não banque o idiota. Sobre o seu futuro, se você vai ficar aqui, abrir
seu novo negócio, voltar para a escola... Presumo que você leve ela a sério,
considerando que já faz anos desde que você trouxe alguém para conhecer
a família.
― Não vejo por que eles têm que descobrir. As pessoas se separam o
tempo todo. Quando chegar a hora certa, nós nos separaremos
amigavelmente e seguiremos em frente.
― Você está delirando. ― Desta vez, Cruz abriu um sorriso, seus olhos
mais simpáticos.
E se isso significava que ele teria que passar um pouco mais de tempo
com a bela Kate, então que fosse. Era um fardo que ele estava mais do que
feliz em carregar.
Capítulo Doze
― Obrigada, Kate. ― Daisy assentiu, seus olhos ainda tão tristes quanto
quando Kate a conheceu, mas parecia haver um novo brilho em suas
profundezas castanhas. Esperança, talvez. Ela estava vestida com um lindo
vestido envolvente e saltos altos, seu cabelo preto longo e esvoaçante. Uma
coisa era certa, uma vez que a irmã de Dominic estivesse pronta para
começar a namorar, Kate não podia imaginar que teria que esperar muito
para que algum cara de sorte aparecesse. Ela era linda.
― Bom. Por que honestamente? Estou de luto por ele. Acordando esta
manhã, acho que tive meu primeiro gosto de raiva. ― Desta vez, Kate viu
um olhar mais firme e determinado em seus olhos. ― Mas, realmente, não
posso dizer o quanto estou grata por sua ajuda. É quase fortuito que você
tenha entrado em nossas vidas agora. Eu sei que não vi Dominic tão feliz,
tão relaxado há algum tempo. Você é boa para ele. Eu posso dizer. ― Kate
baixou os olhos, inquieta com a culpa lançando uma sombra sobre
ela. Quando ela e Dominic conversaram sobre este plano, ela não tinha
pensado em nada além de fazer todos acreditarem que eram um casal
comprometido. Ela não tinha pensado em como se sentiria tendo que olhar
essas pessoas amáveis e amigáveis nos olhos e continuar a perpetrar uma
mentira. Como eles se sentiriam se descobrissem que era tudo uma farsa. E
como ela se apegaria a todos eles. Desejando que eles fossem sua família.
Daisy se levantou, sem perceber as emoções conflitantes de Kate. ― É
melhor eu ir andando. Tenho que pegar Paul no jardim de infância e deixar
mais alguns currículos. Veremos você no hospital na sexta-feira? ― Kate
procurou em sua memória o que Daisy estava se referindo. ― Ainda não
tenho certeza da minha programação… ―, disse ela, esperando que a
resposta fosse satisfatória. ― Eu espero que você possa, mesmo por um
minuto. Tenho certeza de que Dominic minimizou a coisa toda, mas aposto
que ele adoraria se você parasse para mostrar seu apoio. Eu sei que mamãe
provavelmente também gostaria. Ela vai ficar tão destruída, você deveria
tê-la visto naqueles dias em que era tocar e ir embora com papai. Eles são
tudo um para o outro. ― A cirurgia do pai de Dominic. Ela tinha ouvido
alguma menção sobre isso, mas ela não percebeu que era nesta sexta-
feira. Ela nunca perguntou. Outra onda de culpa a atingiu. Mesmo se
Dominic não tivesse mencionado isso, que tipo de namorada, para não falar
de amiga, ela seria se não tentasse fazer isso? ― Estou conduzindo um
depoimento bem grande que está programado para quinta-feira e
possivelmente sexta-feira também. Vou tentar o meu melhor para fugir.
― Bem, espero que possamos ver você. ― Daisy acenou e foi até a
porta. Uma figura masculina apareceu na porta, e eles se contornaram
enquanto ela saía.
― Bom dia, Kate. ― Michael deu alguns passos, com as mãos nos
bolsos. ― Reunião com um novo cliente?
Ela inclinou a cabeça para o lado. O que foi isso? Ele não tinha parado
para pegar um café para ela desde que eram um casal. ― Está tudo bem
com você, Michael? ― Por um momento, ela se perguntou se havia algum
problema no paraíso com Nicole, mas depois descartou isso. Ela tinha visto
Nicole brevemente esta manhã, alisando e mostrando aquela pedra como
se fosse o Santo Graal ou algo assim. Presunçosa em sua confiança de que
havia conquistado o cara. ― Não. Eu estava percebendo que nunca mais
teríamos a chance de realmente conversar. Você sabe, como
costumávamos? ― Ele balançou alguns trocados nos bolsos. ― Como está
o progresso em sua casa? É estranho pensar em você neste novo lugar, um
lugar que eu nunca vi. Com um cara que não sou eu. ― Ela se recostou na
cadeira e saboreou o momento. Porque ela tinha quase certeza de que o
que estava ouvindo era ciúme.
― Ah, não. Isso. Bem, eu realmente não tenho tempo para assumir esse
tipo de projeto agora. Então Dominic e você, parece muito sério. Mas o que
você realmente sabe sobre esse cara? Quero dizer, eu sei que não é meu
lugar para interferir, mas mesmo no breve tempo que eu o conheci, eu só
recebo essa vibração de novidade...
― Você está certo. Você não tem o direito de interferir em minha vida
pessoal. E porque você acabou de conhecer Dominic, é exatamente por isso
que você não tem ideia do que está falando. Mas a questão é discutível,
Michael. Não estou discutindo quem eu estou ou não estou saindo com
você. ― Ela conseguiu dizer isso com calma, embora, enquanto falava, as
brasas de sua raiva estivessem sendo alimentadas. Ele não tinha o direito
de dizer nada sobre a vida dela. Ele tinha deixado ela, e não o
contrário. Mas ela não queria uma discussão hoje, ela não tinha tempo nem
energia. ― Tenho muito trabalho aqui. Se isso é tudo...
― Só não deixe esse cara distrair você. Eu ouvi a conversa e parece que
você impressionou todas as pessoas certas até agora, e se você jogar suas
cartas direito, você pode ser a próxima sócia júnior desta empresa.
Mas agora, era como se parte desse amor e adoração tivessem sido
substituídos por raiva justificada e, para ser honesta,
desgosto. Repugnância por ele não ter sido forte o suficiente para defendê-
la. Era como se o véu tivesse sido rasgado e ela pudesse ver Michael como
ele era. Humano, cheio de defeitos, claro, mas também fraco e,
francamente, egoísta e arrogante.
Ela balançou a cabeça. Era uma perda de tempo. Não era como se ele
estivesse batendo em sua porta, de qualquer maneira. Na verdade.
Louco.
E ela precisava de alguém tão racional e prático quanto ela. Alguém que
não a faria querer coisas como uma grande família, o amor e a luxúria que
a consumiam e que estar com ele exigiria.
― A primeira coisa que você quer fazer antes de tentar isso ―, disse
Dominic mais tarde naquela noite, enquanto Kate bebia chá de seu poleiro
em um banquinho no canto da cozinha, parecendo sexy como o inferno,
mesmo que seu sorriso lhe dissesse que ela estava apenas brincando ele,
― é garantir que o disjuntor principal esteja desligado. Você não quer saber
como é ter um raio de eletricidade passando por seu corpo. ― Ele estava
no degrau mais alto do banquinho com fios entrelaçados entre os dedos. A
ideia era mostrar a ela como instalar uma nova luminária. Embora ele
tivesse que admitir que poderia estar se exibindo, só um pouco.
― Você sabe que estou apenas brincando com você aqui. Como se eu
alguma vez tentasse fazer algo assim sozinha.
― Você não viu nada ainda. Este é um trabalho pesado. Espere até ver
a criação final.
― Ok, Dr. Frankenstein. Então, por que você não fez isso? Já saiu
sozinho? ― Ele deu a ela um olhar cauteloso. ― Você tem falado com meu
irmão? ― Ele balançou sua cabeça. ― Eu só queria esperar a hora certa. As
coisas com meu pai podem ser... complicadas.
Ela olhou para sua xícara de chá agora vazia. ― Sim, claro. Obrigada.
― Ele tirou a tampa e entregou a ela, fez o mesmo com outra e deu um
gole, encostando-se na geladeira.
― Não é que ele não vá entender. ― Ele fez uma pausa e caminhou até
a ilha da cozinha, ficando em frente a ela e encontrando seu olhar. ― Nos
últimos anos, tendo-me de volta a bordo, ele tem sido tão feliz. Não tenho
certeza de como ele vai reagir ao saber que estou saindo novamente. ― Ela
se inclinou para frente e colocou a mão em seu braço. Um toque simples,
para oferecer conforto, mas seu braço coçava onde ela o tocava. Gostando
muito. ― Pelo que vi de seus pais, os dois realmente amam vocês. Seu pai
pode ficar desapontado a princípio, mas tenho certeza de que ele só quer
sua felicidade. Com o tempo, tenho certeza que ele ficará feliz por você.
― Sim. Bem, mesmo assim, acho que vou esperar até que ele se
recupere antes de fazer a bola rolar. Quando eu sei que ele pode lidar com
isso. ― Ela assentiu e tomou um gole medido de sua cerveja. ― Eu me
encontrei com Daisy, ― ela disse, felizmente mudando o tópico da
discussão. Ele sorriu. ― Eu sei. E ela te amou. Mamãe disse que ela parece
mais rejuvenescida. Pronta para abraçar a próxima fase de sua vida. E tudo
graças a você.
― Calma aí, como eu disse a ela, não sabemos como o marido vai reagir
à petição dela ou qual será o ponto de vista dele em tudo isso. Pode ficar
feio e longo, com alguns contratempos ao longo do caminho.
Ela olhou para ele com surpresa, e ele percebeu que ela estava prestes
a protestar. Então ela fechou a boca e deu um suspiro. ― É que eu não
esperava gostar de Daisy e do resto de sua família como eu gosto. Me faz
sentir péssima a maneira como mentimos para eles. Eles pensam que
somos um casal e estão abrindo os braços para mim somente com base
nisso.
― Você não está se dando crédito suficiente. Eles gostam de você. Não
apenas porque você é minha namorada ― Droga. Isso parecia muito
bom. Ele parou e se reagrupou. ― Bem, fingindo ser, mas porque você é
genuinamente atenciosa, legal e engraçada. Acredite em mim, tive algumas
namoradas que trouxe para casa no passado, e eles não estenderam o
tapete de boas-vindas como fizeram com você. ― Na verdade, com poucas
exceções, eles as odiavam. Acima de tudo, Melinda. Em retrospecto, ele
podia ver que eles tinham um bom motivo.
― Claro que você está. ― Ele sorriu, estendeu a mão e pegou a cerveja
quase cheia que ela havia deixado no balcão e deu um gole enquanto ela
enxaguava o copo. Ela se virou, enxugando as mãos em uma toalha antes
de largá-la no balcão. ― De qualquer forma, Daisy me perguntou se eu
poderia passar no hospital. Para te dar apoio. Tive que pensar rápido, já que
não sabia que a cirurgia do seu pai seria nesta sexta-feira, mas acho que ela
não percebeu. Por que você não me contou sobre isso?
― Não foi intencional. Eu só não achei que fosse algo com que você
precisava se preocupar. ― Ele também não queria sobrecarregá-la com
seus problemas familiares. Deus sabia que Melinda odiava fazer qualquer
coisa relacionada à família. Não parecia justo pedir a Kate, sua namorada
falsa, para fazer o que alguns poderiam ver como uma tarefa desagradável.
Talvez Cruz tivesse descoberto algo. Talvez ele estivesse ficando mais
apegado a Kate do que originalmente imaginou. Ele empurrou o
pensamento para o fundo de sua mente. Cruz o estava deixando
paranóico. Era isso mesmo.
Ava Herrera, uma mulher de quarenta e poucos anos, era muito bonita,
não se engane. Ela estava vestida para a corte com um terno conservador,
mas estilosa, com um lenço brilhante amarrado no pescoço que combinava
com a mancha vermelho-cereja em seus lábios, o que acentuava ainda mais
seus lindos olhos castanhos.
Kate teria apostado que o cabelo castanho escuro da Sra. Herrera, cheio
e penteado, daria até mesmo à Srta. Texas uma corrida por seu dinheiro. Ela
era uma mulher que conhecia sua atração e, Kate não tinha dúvidas, tirou
vantagem disso.
Kate tentou acalmar a voz irritante que vinha surgindo durante toda a
manhã durante o depoimento, sempre que Kate pensava em algo
sarcástico, algo para ajudar a ver essa mulher como a bandida. É sempre
mais fácil quando ela tinha que fazer as perguntas difíceis, especialmente
quando é esta mulher, olhos expressivos olharam para ela, úmidos com a
umidade e com um olhar que disse Kate, como mulher, tinha de alguma
forma traído ela.
― E o que você fez depois que o Sr. McKenna fez este avanço?
― Eu estava em choque. Esta foi a primeira vez que ele levou seu flerte
além da insinuação sexual descarada para algo mais... físico. ― A mulher
continuou a detalhar o que aconteceu naquele dia específico e mais tarde,
quando eles fizeram uma viagem de negócios juntos e seu chefe realmente
a atacou. Às vezes, ela tinha um colapso e seu advogado lhe entregava um
lenço de papel e eles esperavam até que a mulher pudesse se
recompor. Mas ela permaneceu consistente o tempo todo, para desgosto
de Kate. E credível.
― Não.
― Além do fato de que ela olhou para mim durante todo o processo
como se eu fosse algum tipo de maquinadora mentirosa? Alguns dias
depois, quando estava entregando alguns relatórios no escritório de Mark,
ouvi ela e Mark falando sobre mim. Eu o ouvi claramente dizendo a ela que
isso é o que acontece quando eles aceitam um lixo como eu para preencher
uma cota. ― A voz da Sra. Herrera quebrou nesta última parte. Foi como
se alguém tivesse golpeado Kate no estômago.
Lixo.
Ela apertou o aperto em sua caneta. Ela não conseguia explicar, mas as
palavras atingiram algo nela. Ela estava mais do que aliviada por estar na
hora do almoço e foi direto para o escritório, tentando respirar fundo e se
acalmar. Ela podia ouvir Nicole seguindo atrás dela. É claro. Elas tinham que
discutir as informações de que dispunham até agora e ter certeza de que
estavam no lugar certo. E discutir pontos que eles poderiam separar, para
fazer a Sra. Herrera voltar atrás. Era sujo. E necessário, mesmo que Kate se
sentisse enjoada com a perspectiva. Mas foi isso que ela fez. E quanto mais
cedo ela colocasse sua cabeça no jogo, mais cedo ela poderia encerrar isso.
Dominic tomou um gole do café morno que Benny havia trazido para
ele e o resto de seu pequeno grupo sentado na sala de
espera. Fazia algumas horas e, pelo que o médico havia explicado, ainda
poderia demorar mais uma hora.
― Você está falando sério? ― Ele poderia dizer uma coisa sobre sua
irmã, ela certamente era direta. ― Kate e eu... estamos meio complicados
agora. ― Benny olhou para ele, esperando que ele continuasse, e ele
suspirou. ― Eu realmente não quero falar sobre isso agora, Ben. Podemos
guardar para mais tarde?
― OK. Mas eu queria que você soubesse. Eu gosto dela. Todos nós
gostamos. Ela não é nada como Melinda. ― Benny esperou cerca de vinte
segundos e começou novamente. ― Mas o que é tão complicado? ―
Dominic reprimiu um suspiro e estava prestes a dizer à irmã que ela
precisava aprender a definição de “não” quando viu uma ruiva familiar com
uma saia azul-marinho até os joelhos, blazer combinando e sapatos de salto
matadores caminhando em sua direção. E todos os outros pensamentos,
exceto um, deixaram sua mente.
Ela chegou.
Ele e Benny se juntaram a elas, e ele podia sentir que todos olhavam
para ele e Kate. Ele falou primeiro. ― Você veio. Correu tudo bem com o
depoimento? ― Ela encolheu os ombros. ― Correu tudo bem. ― Mas ele
podia ver algo em seus olhos, e as sombras escuras embaixo lhe disseram
que havia mais na história. Ele teria que perseguir isso mais tarde.
― Sua mãe me disse que seu pai ainda está em cirurgia. Como você está
indo? ― Dominic olhou para os rostos curiosos e sorriu. ― Estou bem. Eu
preciso mexer um pouco minhas pernas. Quer se juntar a mim? ― Ele
esperou até saber que eles estavam fora do alcance da voz para
perguntar. ― Você parece abatida. Você não precisava vir, sabe. ― Ela
parecia ofendida. ― Claro que sim. Já passamos por isso. Eu me importo
com sua família, assim como me importo com você. ― As palavras fizeram
seu coração bater um pouco irregularmente, mesmo quando ela
acrescentou apressadamente: ― Quer dizer, acho que nas últimas semanas
nos tornamos... amigos.
― Ok, então já que nós dois podemos concordar que nos tornamos
amigos, talvez você possa me dizer o que você está tão chateada? Não me
diga que você está bem. Eu posso ver que você está lutando.
― Sim, tudo bem. Este caso parece estar exigindo muito de mim. Me
deixando desconfiada de todo o processo. Estou acostumada a desligar
minhas emoções quando questiono testemunhas. A empatia não tem
espaço para depoimento ou tribunal. Mas algo sobre essa mulher... ― Ela
fez uma pausa e tentou forçar um sorriso. ― Provavelmente vou me sentir
melhor um pouco mais tarde. Depois de processar tudo, comer algo.
Ela parecia ter o peso do mundo sobre seus ombros. Jantar juntos pode
ser exatamente o que ambos precisavam.
Seus pés pareciam voar pela varanda até a porta. Largando suas coisas
dentro da porta, ela parou e ouviu por ele. Ouvindo os barulhos vindos da
cozinha, ela se dirigiu naquela direção.
Ele olhou para cima então, e ela teve que recuperar o fôlego com a
promessa em seus olhos quando ele a viu e seu sorriso lento habitual
encheu seu rosto. Como uma promessa de diversão e aventura e muitas
risadas, e sexo rasgando roupas, alucinante, fazendo-ela-implorar por
isso. Ela deixou escapar o fôlego, tentando acalmar o coração batendo
rapidamente.
― Uau. Você tem estado ocupado. E eu acho que isso responde à minha
pergunta. Certamente vamos pedir pizza. Então está tudo bem com o seu
pai?
― Ele está se saindo muito bem. Eles acham que ele provavelmente
será liberado no domingo, então isso o fez se sentir muito melhor.
― Tão rápido? Isso parece loucura. Você sabe o que isso significa,
certo? Em breve seu pai estará finalmente no caminho para uma boa saúde
e você pode abordar o assunto de sair por conta própria.
Na época em que a vovó era saudável, Kate costumava sair com tudo
para fazer o grande banquete - mesmo que fossem apenas as duas. Um
peru que lhes dava sobras para a semana seguinte, tortas, recheios,
pãezinhos caseiros da Parker House e a caçarola especial de batata-doce da
sua avó. Fazia cerca de... quatro anos desde que elas fizeram isso? Ela
realmente sentia falta disso.
― O jantar será por volta das seis. Eu sei o quanto sua avó significa para
você, e ela é bem-vinda para vir também. Posso ajudá-la a pegá-la, se
quiser. ― Ele disse isso com tanta facilidade, tão pronto para ajudar a tornar
o Dia de Ação de Graças completo para ela. Ela sorriu e balançou a cabeça,
humilhada por sua consideração. ― Obrigada, e haveria um tempo em que
ela teria adorado o convite. Agora, porém, ela se sente mais confortável e
relaxada em seu quarto, com as coisas que são mais familiares ao seu redor.
― Mas ela poderia ir, e Deus a ajudasse, ela realmente queria. E isso pode
ser o maior choque de todos. Sua escolha de ir a um evento familiar.
Kate não tinha certeza do tipo de trabalho que imaginou ser feito no
sábado, com Dominic chegando bem cedo, pronto para começar o próximo
projeto. Mesmo com as portas francesas fechadas enquanto ela trabalhava
na mesa de jantar, sua atenção continuava vacilando cada vez que ouvia o
som constante de suas botas de trabalho subindo ou descendo as
escadas. E ela ergueu os olhos da mesa, antecipando a possibilidade de vê-
lo passar pelas portas francesas, dando aquele sorriso bobo que revirou seu
estômago.
Foco, Kate.
Ela olhou para as palavras à sua frente, mas sua mente estava no som
constante de passos chegando do lado de fora da sala de jantar novamente.
Toque, toque.
Ela olhou para cima para ver Dominic esperando do outro lado das
portas de vidro. Esse homem era uma tentação maldita.
― Estou indo para o lixão. Quer fazer uma pausa? Podemos parar e
comer alguma coisa.
― Como o quê?
Ela olhou para o trabalho espalhado ao seu redor. Ela supôs que já tinha
feito mais do que o suficiente por agora. Sempre havia mais tarde. Quem
não gostaria de passar a tarde no lixão da cidade? Pelo menos seria um
lugar improvável para ela de repente perder o controle de seus hormônios
e atacá-lo.
― Sabe, não foi tão ruim quanto pensei que seria. Eu tinha imaginado
hectares de lixo podre e o cheiro pútrido de lixo. E você sabe, meu apetite
ainda está intacto.
Isso era bom. Mas sonolenta como estava, ela manteve sua atenção na
paisagem, especialmente quando Dominic saiu da estrada principal e eles
subiram uma estrada menor que serpenteava cada vez mais alto no
cânion. Pelo menos a estrada parecia ter sido pavimentada recentemente.
― Preparada? ― Ela olhou para ele como se ele fosse louco. ― Para
quê? ― Ele sorriu e pegou a sacola de comida chinesa e um cobertor grosso
do assento e desligou o motor. Ele a estava levando seriamente a um
piquenique no meio de uma chuva torrencial? ― Você vai ver. Vamos.
― Confie em mim. ― Putz. Ela olhou para fora novamente quando ele
empurrou a porta e correu para abrir a dela para ela. Relutantemente, ela
puxou o casaco pela cabeça e o seguiu. O solo estava lamacento e eles
seguiram por um caminho estreito e entraram no que parecia ser uma
verdadeira floresta.
Não era assim que ela imaginou que esse dia seria. Uma visita ao
lixão. Caminhando pela floresta para um piquenique durante uma chuva
forte e fria.
Eles chegaram a uma pequena clareira e ela olhou mais adiante. Aquilo
era uma cabana? Sem outra escolha a não ser segui-lo, ela continuou, o
casaco acima de sua cabeça já ensopado e pingando nela. Sem a proteção
da floresta, o vento os atingiu com força e ela estremeceu.
Uau.
Na verdade, era uma casa, não uma cabana como ela havia pensado
originalmente. Uma casa enorme que se espalhava por uma boa parte da
propriedade. Uma ampla varanda enrolada na frente e na lateral da casa
desaparecia nos fundos. O exterior da casa era uma mistura de pedra
natural e madeira tratada e manchada com um rico chocolate, o que
provavelmente foi o motivo de ela subestimar seu tamanho. Parecia se
misturar com o ambiente circundante.
― Minha casa ― Ela ergueu os olhos para o beiral baixo que cobria e
protegia a ampla varanda, quase abraçando-a e mantendo-a seca e
protegida. Havia um carrilhão de vento pendurado à sua esquerda. Isso não
era o que ela esperava.
― Eu disse que havia muito trabalho ― disse Dominic atrás dela. Ele
estava parado em uma ilha tirando as caixas e recipientes de comida
chinesa da sacola. Armários vazios estavam atrás dele e ela viu uma pia
básica e uma pequena geladeira no canto. Ela ergueu uma sobrancelha. ―
Vejo que você puxou todos os obstáculos para os eletrodomésticos.
― Eles estarão juntos quando eu estiver mais perto. Mas esta geladeira
tem bebidas, sobras, tudo que eu preciso quando estiver aqui trabalhando.
― Ela olhou para trás, para a extensão aberta de janelas e espaço. A lareira
de pedra. E embora o piso ainda fosse de compensado, as paredes apenas
drywall, nenhum eletrodoméstico ou luminárias além da luz forte da
lâmpada de trabalho no canto, era... de tirar o fôlego. ― É lindo,
Dominic. Eu não posso acreditar que você está empreendendo algo assim
por conta própria.
― Agora você está sendo modesto. Este lugar é incrível. Você vai ter
que me dar um grande tour quando terminarmos de comer. ― Ela se
recostou e se virou para ver Dominic junto à lareira. Em um momento, um
incêndio ganhou vida.
― Lareira a gás, ― ele disse, como se tivesse que dar uma explicação.
― O que você vai fazer com a área lá em cima? ― disse ela, inquieta
com o tema atual e querendo mudar de curso. ― É meio aberto para um
quarto. A menos que você goste de toda essa coisa de falta de privacidade.
― Vou ter que ir lá com mais frequência. ― Ela deve ter mordido uma
pimenta, porque de repente estava tossindo, com os olhos
lacrimejando. Dominic deu um pulo e foi até a pequena geladeira e pegou
uma garrafa de água. Ela aceitou com gratidão e tomou goles gigantes. Ele
voltou para a cozinha e olhou para a geladeira enquanto sua tosse
diminuía.
― Ideal um para o outro? Que diabos isso significa? ― Desta vez, ele
não conseguiu esconder a raiva de sua voz. ― Você ama alguém ou não.
― Ele disse que ainda me amava. Estava apaixonado por mim, mas não
daríamos certo no final. Isso foi há pouco mais de um ano. Então Nicole
começou na empresa e o resto é história.
― Tudo bem ―, disse ele, sem pestanejar por sua óbvia mudança de
assunto.
Ela estava certa. Ela tinha uma vista incrível. Mesmo vazia e inacabada,
Kate podia imaginar como seria algum dia. E por um momento, ela se
permitiu imaginar como seria estar na cama neste quarto. Nus e com a pele
quente e bronzeada de Dominic pressionada contra a dela, desfrutando de
um momento pós-coito enquanto observavam o pôr do sol - ou nascer do
sol ou chuva ou neve - do lado de fora das janelas.
― Quase me casei. Uma vez. ― Ela não esperava ouvir isso, e ela não
conseguiu esconder a surpresa de seu tom. ― Você está brincando
comigo. Você? ― E então a surpresa se transformou em outra emoção, uma
que pareceu deixá-la um pouco enjoada.
Bem, claro. Isso não deve ser uma grande surpresa. Como ela já havia
descoberto nas últimas semanas, ele era um pacote e tanto, e não era como
se ele tivesse vivido como um monge por todos esses anos. Então, esse
momento insano de ciúme foi absolutamente ridículo.
― Bem, como eu disse, foi há muito tempo. Não vou negar que isso
quase me quebrou uma vez, mas com o tempo, superei isso e percebi como
a coisa toda foi difícil. Ela me fez um favor.
― Mesmo sem um diploma, você realizou muito. ― Ela foi até a janela
e olhou para fora. Com seu rosto de perfil, ele estudou a curva suave de seu
pescoço, a plenitude de seus lábios enquanto ela considerava suas
próximas palavras. ― Você acha que algum dia vai voltar para a escola e
trabalhar para conseguir sua licença? ― Sua raiva aumentou, o que era
injusto, ele sabia. Mas voltar para a escola foi um ponto de discórdia para
Melinda, ele não pôde deixar de se sentir cansado ao ouvir a pergunta. ―
Cruz acha que eu deveria. Para continuar com minha vida. Ele acha que
desisti disso por causa dos sentimentos feridos de Melinda. Jogando o bebê
fora com a água do banho, por assim dizer, mas não é assim. Adoro os
trabalhos freelance que assumi, incluindo o seu. E com Benny nas minhas
costas sobre este site, Sorensen Restoration, ela quer chamá-lo, posso não
puxar tanto quanto se tivesse uma licença de arquitetura, mas pode ser o
suficiente para mim. Isto me faz feliz. ― E assim foi. Ela suspirou
melancolicamente. ― Seria bom ter essa liberdade. Para fazer o que te
deixa feliz sem se preocupar com o risco financeiro ou perda. ― O alívio o
inundou quando começou a entender porque ela perguntou. Então ele
pensou no que ela disse. Sendo feliz. Ter liberdade. Foi uma declaração
curiosa de alguém que parecia ter todos os motivos para ser feliz. Com a
atenção ainda do lado de fora, ela observou um pássaro mergulhar em um
galho para se proteger.
Incapaz de resistir, ele deu alguns passos em direção a ela até ficar atrás
dela, sua respiração tão perto de seu pescoço que ela teve que sentir. Sinta
sua proximidade. Com certeza, ele viu arrepios em sua pele, e ela
estremeceu. Ele queria estender a mão, envolver os braços ao redor
dela. Dizer que ela merecia ser feliz. Confortá-la, mas ele manteve as mãos
fechadas ao lado do corpo.
Sua voz estava cheia de emoção quando ele finalmente falou. ― Faça o
que fizer, Kate, certifique-se de nunca se contentar com ninguém que não
mostra você em cada respiração, cada palavra, cada toque que ele ama e
adora todos os dias de sua vida. ― Ela se virou então, seus olhos cinzentos
e escuros como o céu lá fora, mas havia um desejo intenso em suas
profundezas, e ele sabia que dar o próximo passo poderia ser perigoso para
sua amizade, mas bem naquele momento, ele não se importou.
Ele precisava sentir aqueles lábios sob os seus novamente. Sentir ela
ceder à pressão de sua própria boca, como naquela noite na casa de seus
pais. Quando era difícil perder o calor e a atração que queimava como fogo.
Quando o olhar dela caiu para sua boca, ele estava perdido.
Ela olhou para aqueles olhos azuis brilhantes que continham uma
promessa que ela quase teve medo de pedir. Em seguida, ela o estudou
com a mesma intensidade, e desejou estender a mão e tocar a curva forte
de sua mandíbula, já salpicada de cabelos eriçados, apenas para ver como
era. Para sentir as linhas finas ao redor dos olhos e da boca que ela olhou
em seguida. Linhas que lhe diziam que Dominic sorriu mais vezes em sua
vida do que franziu a testa.
Ela esperou que ele se afastasse, para quebrar o momento, mas ele não
se moveu. Seu olhar caiu para sua boca, e ela prendeu a respiração, de
repente apavorada e também alegre com a perspectiva de que ele pudesse
beijá-la novamente. Então ele deu um passo quase impossivelmente mais
perto dela e ela não conseguia mais respirar enquanto seu coração batia
forte no peito. Ela tentou estabilizar as batidas que martelavam
ruidosamente em seus ouvidos.
Então pareceu bater nela. A bola estava do seu lado. Ela precisava
decidir o que queria, ele estava lhe dando uma escolha aqui. Mais fácil do
que qualquer palavra, ela o deixou saber o que ela queria enquanto erguia
os lábios nos dele e respirava seu cheiro almiscarado e intoxicante. A
pressão foi mais forte desta vez quando seus lábios se tocaram, e a barba
por fazer em torno de seu queixo se eriçou contra sua pele. A leve picada
foi compensada pela pressão formigante crescendo ao sul de sua
barriga. Suas mãos agarraram seus ombros, tão firmes e quentes. Seu
cheiro a rodeou, e ela o levou mais longe em sua boca, sentindo sua língua,
seu calor.
Mas... era como se uma grande luz piscando estivesse saindo de sua
cabeça. Uma família? Crianças? Ela tinha outros objetivos, outras coisas
que sempre quis realizar. Uma parceria para ganhar e, eventualmente, um
cargo de juiz. A grande casa cheia de crianças e um cachorro e um gato, eles
não estavam em nenhum lugar em seu horizonte.
― O que é que foi isso? ― ela sussurrou. Suas mãos foram para a boca,
ainda formigando.
― Eu sei que foi um beijo, mas... Não. Não pode acontecer. Isso não
pode acontecer. ― Ele não pareceu ofendido ou alarmado com a reação
dela, mais divertido quando se encostou na janela. ― Poderia
acontecer. Vamos ser sinceros. Nós dois queremos isso.
― Mas seria um erro. Você e eu? ― Ela pressionou as palmas das mãos
nas laterais da calça jeans, tentando organizar seus
pensamentos. Argumente com ele. Ajude-o a ver que, racionalmente, essa
foi uma ideia muito ruim. ― Nós somos tão... diferentes. Depois de tudo o
que conversamos, nossos relacionamentos anteriores, seguir em frente
seria continuar com os erros do nosso passado. ― Sua voz havia
aumentado algumas oitavas, soando tão em pânico quanto ela se sentia. ―
Se misturar com quem não tem os mesmos objetivos. Não quer as mesmas
coisas. Seria um erro.
― Não estou pedindo que se case comigo, Kate, mas desde que você
abriu a porta do carro naquele dia, parecendo tão fofa e teimosa, eu queria
puxar aquele seu cabelo ruivo do coque na nuca e espalhar sobre os
ombros. Sentir seu calor em minhas mãos. E tendo te conhecido e já lhe
provado, posso dizer com certeza que só te quero mais. Eu quero ver, tocar
e amar cada parte de você. O que há de tão errado nisso? ― Kate não podia
negar o estremecimento de antecipação que a percorreu ao pensar nos
lábios macios de Dominic, aquela boca quente, nela. ― Eu só, eu
simplesmente não sou o tipo que faz sexo casual. Quero saber se estou em
um relacionamento com alguém que pode ir a algum lugar porque somos
compatíveis. Quer as mesmas coisas. ― Sua mão se estendeu para tocar
seu queixo, seu polegar deslizando ao longo da borda, e ela não podia negar
a destruição que o leve toque estava causando a ela. ― Acho você
entendeu errado, Kate. Queremos as mesmas coisas. Nós dois nos
queremos e isso, por enquanto, é bom o suficiente para mim. ― Ela olhou
em seus olhos azuis, tão abertos e calorosos. Seria tão fácil ceder às
emoções que ele estava provocando.
Não.
Não. Ela balançou a cabeça enfaticamente. Ela não podia fazer isso. Ela
não podia brincar com fogo assim, não com suas emoções. Não com o
dele. Não quando ela sabia que nada poderia resultar disso. Ela tinha que
ser racional.
― Acho que vou encerrar o dia. Eu só tenho algumas coisas que preciso
agarrar e estarei fora de sua vista, ― ele disse e empurrou a porta da
caminhonete.
― Boa noite, Kate, ― ele disse e acenou com a cabeça, seu rosto agora
envolto em sombras enquanto ela estava na varanda.
Em vez disso, antes que pudesse mudar de ideia, ela fechou a porta
atrás dele e encostou-se nela para se apoiar. O som da porta da
caminhonete abrindo e fechando com força causou uma dor profunda em
sua barriga. O que ela precisava era de um banho longo e quente. Isso era
seguro. A porta bateu nas costas dela, e esperança e terror cresceram em
seu coração.
Estável.
Droga. As fantasias que ele teve sobre este sofá... eles provavelmente
passaram por cerca de metade delas. Ele sorriu. Ainda havia mais
alguns. Ele olhou para a mulher adormecida na dobra de seu braço.
Pacífica. Bonita. Ele supôs que poderia deixá-la dormir um pouco mais.
E, claro, havia o fato de que ele não era Michael. Não podia oferecer a
ela as mesmas coisas que sua alteza real, mas nada disso importou quando
ela olhou para ele como ela fez, e ele inalou seu perfume, viu seus lábios se
abrirem, querendo que ele os beijasse. Ele só queria estar com ela.
E agora eles estariam de volta à estaca zero. Exceto… Ele não estava
convencido de que não havia algo entre eles. Kate o desejou tanto quanto
ele a desejou. Ele ainda a queria.
― Você está acordado. ― Ela olhou para baixo para ver como estava
pressionada contra o lado dele e então olhou furtivamente ao redor da sala,
provavelmente procurando por algo para se cobrir. Seus olhos se
arregalaram quando ela olhou para fora, surpresa com a promessa de sol
neste dia frio de outono após a chuva de ontem, ou com o fato de que eles
fizeram o que fizeram com as cortinas abertas.
― Nah. Não a vi. ― Ele não achou que seria um bom momento para
mencionar que Glenda acordava cedo, provavelmente duas horas atrás, seu
jornal matinal, que ele notou estar ausente em sua porta, provavelmente
espalhado na mesa da cozinha enquanto ela bebia caneca de chá.
Ela assentiu. ― Bom. Pelo que ela sabe, você chegou cedo para começar
a trabalhar no banheiro.
― OK.
― Isso mesmo. Meu pai vai ter alta hoje. ― Sua sobrancelha franziu e
ele podia ver o estresse em seus olhos. ― Eu gostaria de poder ir com você,
mas a audiência temporária de Daisy para apoio e custódia é amanhã à
tarde, e o depoimento de Mark começa na terça-feira, então vou ficar
atolada. Mas diga a eles que mal posso esperar pelo Dia de Ação de Graças.
― Vou dizer a eles que você estará lá com os sinos. ― Ela se levantou,
a modéstia assumindo novamente enquanto puxava a camiseta para baixo
sobre os quadris. ― Acho que é melhor eu entrar no chuveiro e ir andando.
― Imagens inundaram sua mente de como ela parecia sob aquela camiseta
justa, os sons que ela fez quando ele a acariciou, a linha de pintas em sua
barriga que ele traçou com os dedos e depois a língua antes de puxar com
este cabelo em frustração e prazer... ― Sim ―, ele murmurou, pegando seu
café da mesa. ― Seria melhor.
Razão pela qual hoje ela tinha menos de duas horas de sono pela frente
e uma semana do inferno pela frente. Mais particularmente tendo que
olhar nos olhos da Sra. Herrera enquanto ela se sentava para ler os
depoimentos de Mark McKenna na terça-feira, vendo sua raiva, mágoa e
necessidade de justiça, embora Kate soubesse que as coisas não estavam
parecendo tão boas para ela neste momento.
Vendo o rosto presunçoso de Mark porque ele sabia a mesma coisa.
Havia quatro mensagens de voz esperando por ela quando ela chegou
ao escritório. Incluindo uma mensagem do advogado de Ava Herrera
dizendo que ele havia recentemente obtido algumas evidências detectáveis
que ele teria caído mais tarde naquele dia.
― Certamente, Sra. Matthews. Vou enviar por FedEx para você hoje. ―
Kate desligou o telefone e olhou para a conta. Ela pegou o telefone
novamente. ― Ei, Trish. Você se lembra de ter visto um vídeo, acho que
talvez um pen drive ou DVD, que chegou do Radisson recentemente? Foi
para o caso McKenna.
― Eu amo ―, disse Kate e riu quando Jessica sorriu para ela com
simpatia. Jessica havia trabalhado com Tim na Strauss & Fletcher anos antes
de Kate chegar. Na verdade, tanto Jéssica quanto Tim estavam concorrendo
à mesma posição. Tim acabou recebendo a promoção e um ano depois,
Jessica Lund deixou Strauss para se juntar à Price Bennett, agora rebatizada
de Price Bennett & Lund. Jessica e Tim não se davam bem, Kate havia
percebido ao longo dos anos. ― Não fique assim. Tim pode ser um defensor
dos detalhes e talvez um pouco microgerenciador, mas aprendi muito. Na
verdade, ele recentemente me recomendou como sócia júnior. ― O sorriso
de Jessica tornou-se especulativo. ― Não estou surpresa. Você merece
isso. Se eu não pensasse assim, não teria tentado tanto fazer você
abandonar o navio nos últimos dois anos. Já era hora de eles valorizarem o
que tinham em você.
― OK. Acho que entendo ― disse Tim com sua voz firme de sempre. ―
Por que vocês não verificam se vocês podem encontrar mais documentos
sobre esta reclamação e enviá-los para nós o mais rápido possível. A menos
que vocês se sintam diferentes, estou confiante em seguir em frente
conforme o planejado. Quanto mais cedo isso for feito, mais cedo
poderemos fazer uma moção para julgamento sumário e obter sua rejeição.
― Tim fez uma pausa enquanto os dois homens na outra linha
concordavam. Era difícil não notar a maneira como o olhar de Tim pousou
em Kate nessa última parte. Quanto mais cedo isso for resolvido,
melhor. Chega de atrasos e documentos surpresa de última hora.
― Acho que ele não está nos contando tudo ―, disse Kate quando a
ligação foi desligada. ― Tenho um mau pressentimento sobre continuar
com isso quando não sabemos o que vai acontecer.
― Acho que isso é mais do que isso, e não acho que Mark esteja sendo
sincero conosco aqui, e se ele não pode ser sincero conosco, então...
― Vamos, Kate. Na maioria das vezes, você sabe que nossos clientes
não sabem o que é a verdade, o que apresentar, na esperança de que, se
esquecerem de algo, todos os outros também o façam. É por isso que
realmente não estimulamos sua memória com muito cuidado. Pelo que vi
deste caso, Mark e a empresa não fizeram nada que não pudesse ser
recuperado. Se você tem a cabeça no lugar e consegue se concentrar no
que realmente importa, isso é. ― Ela se irritou com seu tom. ― Estou
pensando com bastante clareza, Tim. Não acho que Mark seja o melhor cara
para apostarmos.
― Você diz que está focada no que realmente importa? ― Tim esticou
os dedos diante da boca e fez uma pausa, quase melodramaticamente. ―
Que tal esse caso pro bono em que você passou a tarde? A tarde em que
você deveria estar preparando o depoimento com Nicole. Você pode
realmente me dizer que suas prioridades estão onde deveriam estar,
Kate? Você sabe, depois de se tornar uma sócia, se for feita sócia, você
precisará descobrir onde seu tempo e recursos são mais bem empregados
para o bem da empresa. E horas de tempo faturável perdido em uma
batalha confusa pela custódia não é um deles.
― Não estou dizendo nada, Kate. Esteja ciente de que tudo o que você
fizer, e não fizer, será considerado na reunião trimestral. E a coisa mais
importante que você pode fazer é certificar-se de que esse assunto
McKenna seja acertado. Sem erros. Sem pontas soltas. ― Por um
momento, Kate se lembrou do vídeo perdido e um pensamento alarmante
ocorreu a ela. Tim sabia disso e de evidências ocultas intencionalmente? Ele
queria ganhar o caso, custasse o que custasse. Ela considerou abordar isso,
mas percebeu que seria estúpido. Até que ela realmente soubesse o que
estava naquele vídeo, possivelmente nada, então ela não poderia fazer tal
acusação, mas o pensamento permaneceu.
― Já que seus armários podem entrar em breve, achei que seria uma
boa ideia terminar isso antes de começar a refazer o piso de cima. ― Ele se
virou para olhá-la, notando a tensão em sua testa e ombros, o aperto em
seus lábios. ― Ei. Tudo certo?
― Pode haver outros, mas é este que vai decidir a minha promoção a
sócia agora. Algo em que venho trabalhando desde o primeiro dia em
Strauss ― acrescentou ela, erguendo o queixo quase teimosamente.
― Sinto muito, Kate. Pelo que vale a pena, acho que sua cautela é
apropriada nas circunstâncias, e se eles não podem avaliar suas
preocupações, então são eles que cometem o erro, mas você também
precisa se perguntar o que vai acontecer se descobrir que Tim está se
apegando a essas evidências. Você pode trabalhar em um lugar que tenta
enterrar a verdade? ― Uma pergunta mais apropriada poderia ser... ela iria
querer? Uma pergunta que ele não tinha certeza se queria uma resposta.
Ela tirou as mãos das dele. ― Sinto muito, Dominic. Estou meio cansada
esta noite. Se não se importa, acho que vou tomar um banho e dormir um
pouco. Tenho um longo dia pela frente. ― Ele se levantou, sabendo quando
seria dispensado. ― Claro, Kate. Compreendo, mas estou aqui se você
precisar de alguém para conversar. ― Dominic voltou para a cozinha para
terminar e limpar. Ele tentou parecer afetado, otimista, até. Mas o que ele
sentiu foi frustração e decepção. Que Kate não conseguia ver o que tinha
pela frente, todas as oportunidades. Oportunidades que também podem
incluir... ele.
Mas o que ele poderia oferecer a ela? Em alguns aspectos, ele e Kate
eram mais parecidos do que ela imaginava. Nenhum deles tinha um nome
ilustre, contas bancárias pesadas e fundos fiduciários, ou as conexões
sociais que Michael tinha ou que Melinda queria. Ambos sabiam o que era
não ser o suficiente.
A diferença entre eles, porém, era que ele não se importava com essas
coisas. Mas estava começando a se dar conta de que, para Kate, significava
muito. E talvez essa fosse a maior verdade de todas. Ele nunca poderia ser
Michael. Ele não podia dar a ela as coisas que Michael podia. As coisas que
ela parecia querer.
Ela deixou isso claro quando mandou uma mensagem para ele ontem
para dizer que trabalharia até tarde nas próximas noites e se ela não o visse
antes disso, ela o veria no Dia de Ação de Graças.
Bem, ela poderia esconder tudo o que quisesse, por enquanto. Mas ele
a veria amanhã, dia de ação de graças, e ele a lembraria de como eles
poderiam ser bons. Como ela ficava feliz quando estava com ele. Como ele
estava feliz com ela.
Mas ela estava certa. Ele precisava seguir alguns dos conselhos que
estava dando tão livremente e fazer algumas escolhas difíceis por conta
própria. Ele planejou esperar até depois do Dia de Ação de Graças para dar
a notícia a seu pai, mas ele estava apenas adiando a discussão inevitável, e
ele não faria mais isso. Era hora de abraçar a vida. Assumir esses riscos.
Já era tempo.
Foi um pouco chocante ver seu pai sentado à mesa da cozinha com Cruz
quando ele chegou na casa de seus pais pouco depois das sete. Ele havia se
acostumado tanto a vê-lo deitado na cama quando a mãe de Dominic não
estava reclamando dele para que se juntasse a todos para o jantar, que se
esqueceu de como poderia ser reconfortante vê-lo com boa saúde. Seu
roupão de banho foi aposentado definitivamente.
Ele olhou para cima agora e sorriu ao ver seu filho. ― Dominic. É bom
te ver. ― Dominic compartilhou um olhar incrédulo com seu irmão, que deu
um leve aceno de cabeça em garantia. ― Pai. Você parece bem. ― E ele
estava. A palidez cinza usual que obscurecia seu rosto nos últimos anos se
foi, assim como o medo em seus olhos quando olhava para sua
família. Como se ele fosse perdê-los a qualquer momento. ― Como se
sente? ― Petter Sorensen acenou com a cabeça, seus olhos azuis livres de
medo agora. ― Como um novo homem. E feliz em ver meus dois filhos
fazendo visitas inesperadas. ― Dominic olhou para os papéis na frente dos
homens e o laptop do Cruz aberto na frente de seu pai. ― Sim. O que está
acontecendo aqui?
Kate olhou para o relógio ao chegar aos degraus da frente da casa dos
pais de Dominic e deu um suspiro de alívio. Dez minutos de sobra.
Mesmo que isso a deixasse com uma sensação de mal estar na boca do
estômago.
Por que o advogado da Sra. Herrera tinha que ser tão incompetente? Ele
nem mesmo havia resistido muito. Se tivesse sido Jessica quem se sentou à
sua frente naquela mesa, Kate poderia ter se sentido um pouco melhor
sabendo que Ava Herrera estava recebendo a melhor representação a que
tinha direito.
― Que bom que você pôde vir ― ela disse suavemente e se afastou, um
sorriso radiante no rosto enquanto olhava para Kate e assentia. Batendo no
ombro de Kate, Elena voltou ao fogão.
― Eu não quero mais jogar isso. Que tal Maçãs com Maçãs? ― Natalie
perguntou. ― Kate pode estar no meu time.
Seu corpo estava alguns graus mais quente que o dela, como ela se
lembrava, e seu cheiro almiscarado com uma pitada de especiarias a
cercou. Seu hálito era quente em seu pescoço quando ele se inclinou e deu
um beijo que quase tirou suas pernas debaixo dela.
Agora ela se lembrava por que havia evitado ficar sozinha com ele nos
últimos dias. Mesmo agora, sua resistência a ele estava derretendo.
― Ei, ― ela finalmente conseguiu retornar, mas sua voz parecia
entupida de emoção. Ela notou a taça de vinho tinto que ele estendeu para
ela, e ela a pegou, tomando cuidado para evitar a ponta dos dedos.
― Você poderia nos poupar toda a dor de sua crítica, Ben, se apenas
esculpisse todo ano.
― E perder a diversão de mostrar vocês dois ano que vem? Não em sua
vida. Além disso, você está sempre se gabando de como você é bom com
as mãos, vamos ver o que você pode fazer. ― Dominic olhou para sua
irmã. ― Você percebe que acabou de passar por mim. ― A sala ficou em
silêncio por um momento. Então Daisy deu uma risadinha, seguida por
Elena, e todos se juntaram. E pela primeira vez, no curto espaço de tempo
desde que a conheceu, Kate teve o privilégio de ver Benny fechar os olhos
em mortificação, completamente sem palavras.
Pelo que ela poderia dizer, Dominic, Benny e Paul estavam chutando as
bundas de Cruz e Daisy. Mas, apesar da perda, Daisy estava rindo e jogando
para trás as farpas que a penduravam. Kate nunca tinha visto Daisy tão
alegre e feliz no pouco tempo que a conhecia e tinha a suspeita de que era
em grande parte devido ao cheque que chegara na noite de quarta-feira,
bem como ao fato de ter realmente liquidado o banco.
De acordo com Daisy, que roubou Kate depois do jantar para dar a
notícia, Leo o deixou pessoalmente e até levou as crianças ao McDonald's
para tomar sorvete. Foi alguma coisa. E apesar da merda que Tim tinha
falado sobre pegar o caso, o sorriso no rosto de Daisy fez tudo valer a
pena. Kate nunca desejaria o contrário.
Por um momento, Dominic olhou para trás, para Kate, e ela teve um
ímpeto quando ele sorriu. Ela estava completamente sob seu feitiço.
― Por falar nisso, ― Daisy anunciou, ― acho que devemos chamar isso
de jogo. ― Paul se opôs imediatamente, mas parou quando Daisy
mencionou o fato de que as empanadas estavam prontas, então correu com
suas irmãs para a porta.
O ar frio que os saudou estava ainda mais frio do que durante o jogo e
ela estremeceu ao se sentar no degrau de cimento frio até que Dominic os
envolveu com o cobertor. Seu corpo era como uma lâmpada de calor, e ela
se inclinou em direção a ele, apesar de tudo.
― Minha cozinha?
― E você? Agora que a cirurgia foi feita e seu pai parece estar no
caminho para uma boa saúde, você está pronto para tomar uma decisão?
― Ele tomou um gole e pousou o copo. ― Eu já fiz. ― Ele puxou o celular
do bolso de trás e o segurou na frente dele. ― Vocês todos estavam certos,
é claro. Sobre ele querer apenas o melhor para mim. E ajudou o fato de Cruz
já estar conversando com meu pai quando eu cheguei, mostrando a ele um
novo plano de negócios que ele traçou para o que ele imagina para a
construção Sorensen. Meu próprio plano de sair por conta própria parecia
ser algo que papai já havia aceitado. Na verdade, ele me perguntou por que
demorei tanto. ― Ele riu, e parecia tão feliz, como se o peso do mundo
estivesse fora de seus ombros, ela se juntou a ele.
― Aqui. ― Ele estendeu o celular para ela. ― Eu quero que você veja
uma coisa. ― Ela pegou o telefone nas mãos e olhou para baixo. Na tela
havia um fundo cinza e uma foto em preto e branco com a fachada de uma
casa velha. As palavras “Restauração Sorensen” ― em negrito cruzavam a
parte superior.
― Você fez isso? Você realmente criou uma página da web? ― Era linda
também, quando ela tocou a tela e foi trazida para um portfólio de algumas
casas mais antigas e o trabalho que ele já havia feito.
Uma onda de náusea varreu Kate. Ela tinha suas suspeitas e dúvidas
antes, mas agora não havia como negar o que ela sabia ser verdade. Ele
tinha feito isso, o bastardo. E se seu ataque não tivesse sido ruim o
suficiente, ele se certificou de levar não apenas a dignidade da mulher, mas
também sua renda e seu emprego. Ela parou o vídeo.
Agora ela tinha que enfrentar outra realização. Porque agora que ela
tinha visto o que estava no vídeo, não havia dúvida em sua mente que a
primeira cópia não tinha desaparecido misteriosamente. Alguém o
escondera deliberadamente.
Seria fácil colocar a culpa em Nicole, uma mulher de quem Kate tinha
poucas dúvidas de que se rebaixaria o suficiente para esconder evidências
se isso significasse progredir. Mas havia duas coisas erradas com essa
teoria. Nicole não tinha nada a ganhar em escondê-lo, já que era o pescoço
de Kate - ou melhor, uma promoção - em jogo e, de fato, esconder isso
poderia realmente beneficiar Kate. O outro problema era que Nicole não
tinha acesso ao seu e-mail.
Ela conhecia apenas uma pessoa, além de Trish, que estava examinando
qualquer correspondência que chegasse sobre o assunto McKenna.
Tim.
Não era difícil ver porque ele tentaria suprimi-lo. Basta olhar para a
filmagem e sua defesa seria lançada para fora d'água. Mark mentiu sobre o
que aconteceu, e não seria um exagero para ninguém acreditar em tudo o
que Ava Herrera alegou ter acontecido também.
― Ei, Kate. Achei que você poderia estar hoje. ― Oh droga. Agora
não. O que ele está fazendo aqui? Ela nem mesmo levantou a cabeça. ― Ei,
Michael. Agora não é realmente um bom momento... ― Mas ele não saiu
e, em vez disso, deu alguns passos para dentro até chegar ao outro lado de
sua mesa e se empoleirar na esquina ao lado dela. Ela arriscou uma espiada
por trás dos dedos para encontrá-lo meio sorrindo para ela. ― Vamos,
Kate. Este sou eu. O que está acontecendo? ― Ela esfregou a testa
novamente para tentar aliviar a pressão dolorida. ― Honestamente? Eu
realmente não sei mais. Mas, para começar, há esse maldito caso McKenna.
― Ele assentiu. ― Nicole mencionou que você parecia estar... lutando com
as coisas ultimamente, mas eu ouvi que você acertou em cheio no
depoimento.
― Eu fiz. ― Sim. Não poderia culpá-la lá. Ela tinha feito um trabalho
impecável em fazer Mark McKenna parecer um verdadeiro santo. Ela
deveria ganhar algum prêmio ou algo assim.
― O que eu acho é que Tim queria ter certeza de que essa filmagem
não caísse nas mãos do outro lado, e ele a enterrou.
― Bem, claro que não. É nosso trabalho proteger nosso cliente. Você
não pode levar essas coisas para o lado pessoal, Kate. ― Parecia que
Michael também não estava acima de esconder evidências de que eles
deveriam fornecer as regras de evidências.
Michael estendeu a mão e puxou uma mecha de cabelo para trás de seu
rosto, mas em vez de quebrar o contato, seus dedos traçaram uma leve
carícia em sua mandíbula, pescoço, e pararam na gola de sua camisa.
Só que agora que ele estava dizendo isso, parecia monótono. Seu
coração não estava saltando ou disparado como quando estava com
Dominic. Como isso foi possível?
Ela tinha amado este homem. Queria casar com ele, passar para sempre
com ele.
― Bem, posso ver que você tem muito em que pensar, então vou deixá-
la ir. ― Ele começou a se virar, parando como se lembrasse de algo. ― Só
para avisá-la, estarei perdendo a cabeça nos próximos dias, resolvendo as
coisas na Sorensen e, ao mesmo tempo, fazendo meu próprio negócio
decolar. Provavelmente não estarei por perto até a próxima quarta-feira,
quando os armários chegarem. Como eu disse, com algumas mãos extras,
farei um trabalho rápido e posso terminar e tirar do seu caminho no final
da semana.
― Oh, bem, claro. Eu não posso esperar para ver esses armários,
finalmente. ― Ela vacilou. O que aconteceu? ― Te vejo na festa de Payton
no próximo sábado, certo? ― Sua voz parecia desesperada até para ela. Ele
passou a mão pelo cabelo, e ela pôde ver o arrependimento em seus
olhos. Ela sentiu sua retirada, mas não conseguiu impedir. ― Sim, bem,
parece meio sem sentido, você não acha? Eu estava me passando por seu
namorado para ajudá-la a conseguir essa parceria, mas a partir de sexta-
feira, você saberá a decisão sobre isso. E manter a pretensão de Michael
parece meio... contra intuitivo. Ele quer você de volta. E me manter por
perto seria, bem como uma terceira roda. E eu realmente não sou de usar
aqueles ternos, então, se para você não fizer diferença, eu passo. ― Por
que ela estava tendo tanta dificuldade para recuperar o fôlego? Ela estava
inspirando, mas parecia que ela não estava recebendo ar em seus
pulmões. Ela se sentiu tonta e estendeu a mão para se firmar na mesa.
Mas ela não podia dizer isso. Estava claro que ele já estava com vontade
de sair. Eles se divertiram, mas agora que Daisy tinha as coisas indo na
direção certa e Kate tinha sua parceria quase garantida, eles não
precisavam um do outro.
E, tecnicamente, ele estava certo. Ela não precisava que ele viesse no
sábado para manter o fingimento. Tudo estaria acabado então, de qualquer
maneira que os dados caíssem.
Michael estava certo. Ele sempre foi o que Kate queria. O que ela
precisava para colocar a peça final no quebra-cabeça da vida que ela
construiu para si mesma.
Quem era ele para ficar em seu caminho, para lançar uma chave em
suas maquinações? Ela deixou claro que tudo o que eles compartilharam foi
um erro.
Ele lutou por uma mulher uma vez antes, colocou seu coração para ela,
apenas para tê-la se afastando dele e de tudo que ele poderia oferecer a
ela por causa do que ele não era. Ele não poderia cometer o mesmo
erro. Ele não iria.
Então ele fez o que tinha que fazer e foi embora primeiro.
― Vamos ser honestos aqui por um minuto, Michael. Você não está
arrependido. E a única razão pela qual você não está inconsciente e no chão
agora é porque eu não quero fazer isso com Kate, mas vamos ser
claros. Kate é a melhor mulher com quem qualquer um de nós jamais
poderia esperar estar. E por alguma razão, ela parece ainda estar ligada a
você, mas se a qualquer momento ela me der motivos para acreditar que
poderia ser feliz comigo, estarei na sua cara tão rápido que você não saberá
o que o atingiu.
A satisfação de ver sua cabeça cair para trás e ele tropeçar no chão
durou pouco quando Dominic entrou no elevador e desceu para o saguão.
Kate entrou em sua casa na sexta à noite, seu corpo parecia tão pesado
quanto seu coração. Estava escuro, vazio e silencioso. Oscar havia
escapulido no minuto em que ela abriu a porta, então era apenas ela. E ela
não sabia se já se sentiu tão sozinha em toda a sua vida.
Algo como ela poderia ter tido com Dominic. Mas ela perdeu sua
chance, se é que alguma vez a teve em primeiro lugar. E ela teve que vê-lo
ir embora.
A única coisa da qual ela tinha certeza, porém, era que de alguma forma
tudo havia mudado. O que ela queria havia mudado.
E pode ser tarde demais para ela fazer qualquer coisa a respeito.
Capítulo Dezoito
Ele olhou para Daisy, que já estava de volta ao seu jeito mandão,
ordenando aos filhos que dessem pelo menos mais duas mordidas antes de
serem dispensados e até repreendendo o pai por não comer o suficiente
para manter as forças. Como ela receberia a notícia de que ele se ofereceu
para fingir que estava namorando Kate para que pudesse obter serviços
jurídicos gratuitos em seu nome?
E ele se sentou lá e aceitou a raiva deles. Porque não estava nem perto
da raiva que sentia de si mesmo.
Não. Mas pelo jeito idiota que ele teve na sexta. Ele tinha sido um
covarde. Com muito medo de dizer a ela como ele realmente se
sentia. Nem tentou jogar o chapéu no ringue, mas puxou-o
inteiramente. Praticamente felicitou-a por reconquistar Michael e deu-lhe
sua bênção.
Ele deveria ter ido à frente. Dito a ela para esquecer Michael.
― Sim, eu não tenho dúvidas de que você fez. Nicole? Acho que você
tem o suficiente para começar a escrever esse memorando. Espero
entregá-lo ao cliente amanhã.
― Sem problemas.
― Bom. Estou ansioso para lê-lo. Mas tenho outras notícias que
gostaria de discutir com Kate. Você não se importaria de nos desculpar, não
é, Nicole? ― Nicole manteve o rosto virado, e Kate não tinha ideia do que
poderia estar passando por sua cabeça quando ela saiu. Verdade seja dita,
a mulher parecia quase tão distraída quanto Kate. E provavelmente por um
bom motivo. Kate sentiu uma pontada de pena da mulher que ela odiava e
odiava nos últimos meses. Claro, ela era arrogante e hostil, e tudo que Kate
sempre quis ser. Mas ela sabia o que era sentir alguém escapando e se
sentir incapaz de impedir. É realmente uma merda.
Foi a última coisa que ela esperava ouvir hoje, e ela piscou algumas
vezes, tentando processar esta notícia surpreendente.
Ela ia ser uma parceira. Era tão bom quanto o dela.
Mas por alguma razão, ela não conseguia fazer isso. Seria suicídio para
seu trabalho e sua carreira, e ela sabia disso. Em vez disso, ela estendeu a
mão e aceitou a mão estendida. ― Obrigada, Tim ―, ela conseguiu dizer. ―
Por seu incentivo ao longo dos anos e por sua crença em mim. ― E alguns
minutos depois ela estava de volta ao escritório, nem mesmo se lembrando
de como tinha chegado lá. Ela olhou ao redor de seu escritório novamente,
para os diplomas em suas paredes. Os pequenos tesouros caros que ela
pegou em cada marco ao longo do caminho até onde estava. E em vez de
se sentir vitoriosa, ela ainda tinha aquela sensação de vazio. Como se ela
ainda estivesse faltando alguma coisa.
E se ela enterrasse essa evidência, assim como ela sabia que Tim iria
querer e esperar que ela fizesse, ela arriscaria perder outra coisa. Ela
própria. Seus valores. Sua integridade moral.
Agora, mais do que qualquer coisa, Kate gostaria de ter alguém com
quem pudesse conversar sobre isso, alguém que pudesse entender seu
dilema e o que ela estava passando. Alguém que pudesse compartilhar sua
preocupação, sua excitação, sua incerteza.
O que ele esperava? Depois do que tinha visto na semana passada, ele
apostou que Kate e Michael já tinham feito as pazes e iriam pintar a cidade
de vermelho depois que ela soubesse sobre sua promoção. Porque eles
seriam idiotas se não entregassem a ela.
Inferno. Ela estava melhor. Ele vinha dizendo desde o início que Michael
era o tipo exato que ele imaginou para Kate. E ele tinha sido estúpido ao
pensar por um minuto que ela poderia ter sentido por ele algo mais do que
um amigo, um corte neste plano que eles bolaram. Mas nada mais.
Eram quase onze e meia. Meia hora antes do anúncio formal de que ela
e outro associado haviam sido promovidos a sócios júnior. Mas em vez de
comemorar, Kate se sentou em sua mesa, sua cadeira virou para olhar para
o vale do Lago Salgado. Pensando em seu almoço de ontem com Jessica
Lund.
E desta vez, Kate realmente ouviu enquanto Jessica expunha tudo o que
a pequena empresa focada no funcionário poderia fornecer a Kate.
Nunca antes a oferta foi tão tentadora. Ter o poder de recusar um caso
se os fatos, e o cliente, não fossem cintilantes ou suportáveis parecia o
paraíso. Deus sabia que ela teria abandonado o caso McKenna há muito
tempo se tivesse a capacidade de dizer não - e a promoção dependia de seu
sucesso.
E agora que era dela... e agora? Continuar em seu ritmo frenético até
que em dez ou vinte anos ela possa ter aquele cargo de juiz e o respeito que
pode ou não vir com ele?
Mas o que mais ela teria? Alguém com quem compartilhar e se alegrar
com suas realizações? Para se alegrar com todos os marcos? Ou ela
provavelmente estaria sozinha?
― Não. Nós não tínhamos. Mas há algo que precisamos discutir e não
posso adiar mais. ― Ele acenou para ela entrar. Sente-se. ― Ela ficou
surpresa com a certeza serena que tomou conta dela enquanto caminhava
pelo tapete e se sentava. Cruzando as mãos sobre o pacote, ela
começou. ― Não sei se você se lembra de ter mencionado que entrei em
contato com o Radisson para obter uma cópia do vídeo de vigilância da
época em que Mark McKenna e Ava Herrera fizeram aquela viagem de
negócios. ― Tim assentiu, seu rosto sem qualquer emoção reveladora. Ela
continuou. ― O engraçado é que recebemos uma conta na semana passada
por algumas imagens de segurança que eles recuperaram e enviaram para
nós. Mas eu nunca recebi. Você recebeu por engano? ― Por um breve
momento, Tim hesitou e seus olhos voaram dela para a porta. Quando ele
voltou seu olhar para ela, firme novamente, ela sabia a verdade.
― Ele a ajudou, certo. Mas apenas pelo que poderia ganhar, não por
qualquer afeto pessoal, como ela havia acreditado. Se os depoimentos de
McKenna tivessem sido de outra forma, ela teria sido pendurada para secar
sem escrúpulos. E se ela produzisse este DVD para o outro lado, ela não
estaria apenas se despedindo de sua parceria, ela estaria fora da porta em
um piscar de olhos.
― Kate. ― Desta vez, sua voz subiu várias oitavas e Tim meio que se
levantou em seu assento. ― Espere. Você precisa entender o que está
prestes a fazer. Esta é uma decisão da qual você não pode voltar.
― Eu sei, Tim. E eu não faria de outra maneira. Minha demissão estará
em sua mesa no final do dia. ― Ver a expressão em seu rosto enquanto ela
saía do escritório não tinha preço. Ela só queria estar por perto para ver a
casa de Mark McKenna cair quando as histórias que ele inventou
desabassem.
Com o coração mais leve, ela chegou ao escritório e fechou a porta. Ela
tinha um telefonema a fazer e uma carta de demissão a escrever.
― Eu faria se achasse que você tinha alguma ideia do que está fazendo,
― Dominic brincou. Ele tinha que colocar sua cabeça no jogo, entretanto, e
ele não podia continuar permitindo que os pensamentos sobre Kate e a
última vez que eles estiveram aqui juntos inundassem sua mente. Era inútil.
Quando Cruz ligou para ele esta manhã para ver se ele precisava de
ajuda, Dominic considerou recusar. Saber que essa oferta de última hora
provavelmente tinha algo a ver com seu anúncio no jantar no domingo
passado.
Levou alguns dias, mas parecia que sua família havia aceitado o que ele
tinha feito - se o número crescente de mensagens de voz em seu telefone
fosse uma indicação. Até Daisy ligou e depois de três mensagens de voz em
que gritou com ele por se intrometer em sua vida e mentir, ela se acalmou
o suficiente na quarta para dizer que amava e apreciava o que ele tinha feito
por ela, mas se ele a enganasse novamente, a vez em que ela raspou a
cabeça dele no colégio na noite anterior às fotos da aula seria uma
brincadeira de criança. Ela até mencionou encontrar um emprego como
padeiro em um café do bairro em ascensão, que lhe deu a flexibilidade de
que precisava com as crianças e o prazer de ser paga por fazer algo que
amava.
Mas ele teria que se juntar à terra dos vivos eventualmente, e hoje
parecia um momento tão bom quanto qualquer outro. Dominic precisava
de alguém para conversar. Já era tempo.
Especialmente quando ele pensou sobre a noite que ele uma vez tinha
imaginado para eles esta noite. Comemorando sua promoção e dançando
com a mulher mais bonita da sala naquela festa de noivado.
― Não me diga. Você está pensando em uma certa ruiva. Se você ainda
está tão obcecado por ela, por que não pega o telefone e diz a ela tudo o
que precisa para que ela possa perdoar qualquer coisa estúpida que você
fez e vocês podem fazer as pazes e seguir em frente?
― Vamos. Você sabe a razão de estarmos fazendo tudo isso. Para Daisy,
e para que Kate pudesse obter sua promoção.
― Sim, mas isso ainda não respondeu minha pergunta. Como você se
sente em relação a Kate? Você ama ela? ― Dominic não teve que pensar
muito, porque sabia muito bem a resposta. ― Sem dúvida. Ela é a única
para mim.
― E em todo esse tempo que você tem passado tempo com ela, você já
disse a ela como se sente? ― Dominic não respondeu, apenas deu um gole
em sua cerveja e olhou para as árvores à frente. ― Vou interpretar esse
silêncio como a sua admissão de não dizer a ela como se sentiu. Alguma
razão para você não ter feito isso?
― Você já olhou para este lugar? Não se venda mal, amigo. Mais
importante ainda, não venda Kate. Diga a ela o que você realmente sente
por ela, sem barreiras, e dê a ela a chance de fazer uma escolha. Você acha
que Michael é o homem que ela sempre quis e talvez, antes de conhecê-lo,
isso fosse verdade. Assim como antes de conhecer Kate, você pensava que
Melinda era quem você queria. Mas as coisas mudam. E pelo brilho que vi
nos olhos dela sempre que ela olhava para você ou tocava em você, aposto
que ela também ama você. Você só precisa fazer com que ela veja. ― O
atingiu com força, ouvir Cruz explicando assim. Porque ele estava certo. Ele
desistiu porque pensou que estava dando a Kate o que ela queria.
Ele precisava ser honesto com Kate. Dizer a ela antes que seja tarde
demais.
Porque até que ele ouvisse as palavras de sua boca, ouvisse ela dizer
que escolheu Michael ou simplesmente o negou, ele nunca iria seguir em
frente.
Ele devia a ambos essa chance. Porque ele amava aquela mulher e
poderia fazê-la mais feliz do que um milhão de Michaels, e ele não iria
apenas dizer isso a ela, mas provar isso todos os dias.
Ela ainda estava sentada lá, olhando desanimada para o copo, quando
a voz de Michael a fez pular. ― Olá Kate.
― Oi, ― ela disse e mal olhou para cima. Mas o olho roxo em torno de
seu olho esquerdo imediatamente chamou sua atenção. ― O que
aconteceu com o seu rosto?
― Você pode me dizer para onde está se mudando? Qual grande firma
te pegou? Mackenzie? Jacob Snell?
― Na verdade, eu decidi reduzir o tamanho. Vou trabalhar na empresa
de Jessica Lund. Especializada em direitos do trabalhador. ― Suas
sobrancelhas franziram. ― Isso é bastante rebaixamento. Não creio que
tenham mais de dez advogados na equipe. O que de repente fez você
decidir mudar de curso?
― Eu não acho que nós somos feitos um para o outro, afinal. Estou aqui
sozinho, não estou? Igual a você. ― Ele sorriu e se inclinou para frente.
― Lamento ouvir sobre você e Nicole. Mesmo. Achei que vocês eram
perfeitos um para o outro. ― Ele encolheu os ombros. ― As prioridades
dela eram todas distorcidas. E ela sempre reclamava de você e da
interferência de meus pais. Cansei disso. ― Michael estava fugindo de
outro relacionamento. Por que isso não a surpreendeu? Mas, em vez de
qualquer tipo de satisfação, ela só sentia tristeza.
― Olha, Michael. Eu quero ser franca com você. Eu percebi muito nos
últimos dias, e uma dessas coisas é que... Eu não estou mais apaixonada por
você.
― Kate, pare. Eu sei que você está magoada e chateada por causa de
como eu ― Ela ergueu a mão. ― Fiquei magoada e chateada, mas estou
falando de um lugar de absoluta honestidade. E tudo que eu quero para
você agora é... felicidade. Seja com Nicole ou outra pessoa, mas você deve
saber, um relacionamento, qualquer relacionamento, vai ser difícil. Nem
sempre serão rosas, e você não pode continuar fugindo quando as coisas
ficam difíceis. Antes de estragar tudo com Nicole, você deve ter certeza de
que não está cometendo um grande erro. Quer as prioridades dela sejam
distorcidas ou o que quer que seja, o que importa é como vocês se sentem
um pelo outro. Quer, quando você chega em casa no final do dia, é o rosto
dela que você quer ver esperando por você do outro lado da porta. Seu
sorriso, seu toque que será a última coisa que você experimentará quando
adormecer. É isso que importa. ― O que ela sentia por Dominic. Michael se
recostou, piscando. ― Uau. Isso é interessante. ― E ela sabia com absoluta
certeza naquele ponto que ela quis dizer tudo o que ela disse. Ela não sentia
mais nenhum vínculo com Michael. Ela só queria estar com uma pessoa e
fazer do futuro dela o futuro dela. Agora.
Havia uma pessoa que ela precisava ver. Alguém a quem ela tinha uma
nova proposta a fazer. Seus dedos voaram através das teclas de seu celular
enquanto ela se dirigia para o banheiro luxuoso do clube, onde ela poderia
ter um pouco de privacidade.
Meia hora depois, suas ligações ainda estavam indo para o correio de
voz e suas mensagens não eram lidas.
Oh. Deus.
Ela deveria ter pelo menos esperado para dizer a ele cara a cara. E se
ele não se sentisse da mesma maneira? E se ele nunca tivesse chegado
perto de se sentir assim? Afinal, eles fizeram amor e ele aceitou o pedido
dela para permanecer profissional sem qualquer discussão. Talvez ela
tivesse sido apenas mais um entalhe em seu cinto de ferramentas antes de
passar para a próxima cliente atraente.
Ela não sabia quanto tempo ficou sentada assim antes de perceber que
não estava sozinha. A mão de Payton estava em seu braço. ― Você está
bem, Kate? ― Kate olhou nos olhos carinhosos de sua amiga, cheios de
amor e simpatia. ― Ele não está respondendo. Acho que esperei muito
para dizer a ele como me sentia. ― Payton deu um tapinha nas costas dela,
nem mesmo precisando perguntar a quem ela estava se referindo, ciente
do que havia acontecido nas últimas semanas. ― Faz apenas uma
semana. Ele possivelmente não poderia ter já seguido em frente. Você é
difícil de esquecer. Eu deveria saber, sou sua melhor amiga desde que
tínhamos 12 anos. ― Kate tentou conter as lágrimas, mas elas
escorregaram por sua bochecha. ― Ele não está atendendo minhas
ligações. E acabei de deixar uma mensagem dizendo que o amo ― ela olhou
para o celular ― dez minutos atrás. E ele não respondeu. ― Payton a puxou
e a abraçou com força. ― Você tem que ter fé. Tudo vai funcionar para
você, apenas observe. Você é uma pessoa muito sensata para se apaixonar
por alguém que não é inteligente o suficiente para amá-la de volta. ― Kate
recuou e aceitou o lenço de papel que sua amiga lhe entregou. Ela
soluçou. ― Sim? E quanto a Michael, então?
― Oh, vamos lá, nós dois sabemos que você realmente não ama
Michael. Não quando o amor tem deixado você toda com olhos de lua nas
últimas semanas. Na verdade, tenho um pouco de inveja de você. ― Kate
parou enquanto segurava o lenço de papel contra os olhos. Ela nunca
perguntou abertamente se Payton estava apaixonada por seu noivo, mas
ela sempre teve algumas dúvidas. Mas Payton, com toda a sua simpatia e
exuberância aberta, não era do tipo que compartilhava tudo quando se
tratava de assuntos do coração. Mais suavemente, Kate perguntou: ― Você
não está apaixonada por Brad? ― Por um momento, Kate pensou ter visto
algo melancólico nos olhos de sua amiga, mas então desapareceu e Payton
riu. ― É claro. Ele é o cara perfeito para mim, basta perguntar à minha
mãe. Você não se preocupa comigo. Estou tentando ser simpática e
fazendo um trabalho terrível. Vamos. Vamos tomar muito champanhe e
dançar para o desespero de minha mãe. ― Kate sorriu e pegou a mão
estendida de Payton. Ela teve sorte de tê-la. E quanto a Dominic... ela pelo
menos colocaria para fora. Ele, e ela, finalmente souberam o que ela sentia
por ele.
Sem arrependimentos.
Kate tinha uma coisa a seu favor. Ela não tinha o peso autoritário de
uma mãe como Emily Vaughn em seu ombro. E de agora em diante, ela
deixaria as flechas e farpas usuais que a velha corvo jogava em seu deslize.
Ela não se importava mais com o que a mulher pensava dela, porque
sabia que a única pessoa que poderia torná-la má era ela mesma. E fazer as
escolhas erradas todos esses anos realmente a fez se sentir mal.
Ela só queria ter percebido tudo isso antes. Antes de ela perder
Dominic.
Ele deslizou para o assento, sem esperar por uma resposta, o que,
francamente, ela estava tendo dificuldade em formar. Seus dedos foram
para a gola de sua camisa branca e uma gravata borboleta elegante,
puxando-a para longe de sua garganta. Ele estava vestindo o temido terno
completo. Por ela. E parecendo muito bem nele também. Ele se inclinou
para frente, sua respiração fazendo cócegas em sua orelha. ― Você está
lindo. ― De alguma forma, ela encontrou sua voz. ― O que você está
fazendo aqui? E por que você não atende minhas ligações?
― Por que você está completamente apaixonada por mim e não por
que está mentalmente tomando notas para entrar com uma ordem de
restrição contra mim, certo? ― ele brincou.
― Não aposte nisso. ― Seus dedos tocaram seu queixo e inclinou sua
cabeça em direção a ele. Um segundo depois, ele roçou os lábios nos dela,
e ela não se importou se estava cercada por uma centena de pessoas
diferentes que poderiam estar olhando escandalosamente para eles,
balançando a cabeça em desaprovação.
― Eu não poderia te dizer. Quando eu disse a ele que não o amava hoje
à noite, não me preocupei em perguntar quais eram seus planos. ― Seu
rosto relaxou e sorriu novamente. ― Mesmo? Lamento ter perdido.
Senhor, como ela o amava. E ela mal podia esperar para que sua vida
começasse.
Epílogo
― Eu te avisei, ― Dominic disse e riu quando Kate lançou a ele um olhar
que disse a ele que seu aviso não foi apreciado antes de ela retomar a busca
por seu sutiã.
Era manhã de Natal. Depois de uma noite na casa de seus pais para o
jantar de véspera de Natal, uma noite posterior onde eles compareceram à
missa da meia-noite e uma noite ainda mais tarde de libertinagem, Kate
pretendia dormir até o meio-dia, acordando apenas para mostrar o homem
em sua vida o quanto ela o amava e adorava antes de irem para o brunch
na Glenda à uma.
Mas pelo som de vozes no saguão abaixo, seus planos seriam alterados.
Ela viu a alça de seu sutiã preto rendado sob a cama e se abaixou para
agarrá-lo. Mas a mão de Dominic a deteve.
― Nem pense nisso, amigo,― ela disse, embora por um momento ela
considerou a possibilidade. ― Além disso, pelo que parece, toda a sua
família está lá embaixo e eles estão nos esperando.
― Acredite em mim, se você conhece minha mãe, ela estaria aqui nos
dando dicas se pensasse que poderia ganhar um novo neto no próximo ano.
― Ele tirou o cabelo dela do pescoço e deu um beijo, enviando arrepios ao
longo de seus braços. Dominic estava tornando quase impossível para ela
lembrar por que precisava de roupas.
O som de talheres caindo no andar de baixo disse a ela que eles tinham
chegado à cozinha, pelo menos, e provavelmente não estavam subindo as
escadas. Ele abaixou a cabeça e chupou o ponto vulnerável abaixo de sua
orelha direita que ele conhecia muito bem.
Isso era doentio. Isso foi depravado. Céus, o que eles pensariam dela se
soubessem o que estão aqui contemplando neste exato minuto? Como se
soubesse que sua determinação estava enfraquecendo, ele deu outro beijo
na base de seu pescoço.
Paul e suas irmãs jogavam cartas na mesa da sala de jantar dela, que
alguém havia carregado e colocado sob a luz da manhã nas janelas da
frente. A pequena árvore de Natal que ela e Dominic haviam comprado dois
dias atrás já estava acesa e, se ela não estava enganada, tinha mais alguns
pacotes aparecendo por baixo do que ela se lembrava de ter visto na noite
anterior.
A mãe de Dominic veio da cozinha com uma bandeja que Kate não
reconheceu e segurando uma jarra do que parecia ser Bloody Mary. Foi
difícil não sorrir diante de todo esse amor e aceitação.
― Feliz Navidad! Feliz Natal! Você vai ter que me perdoar ―, disse a
mulher radiante enquanto Benny e Daisy a seguiam com mais bandejas
cheias de pratos e talheres e uma caçarola que cheirava a manteiga, canela
e açúcar mascavo. Celestial. ― Mas pensamos que seria uma nova tradição
maravilhosa se realizássemos o café da manhã em família aqui, com vocês
dois.
Ashlee mora no grande Vale do Lago Salgado em Utah com seu amor,
dois filhos fabulosos e um cachorro e um gato que competem igualmente
por sua atenção. Às vezes, sentada em seu computador enquanto ela está
tentando trabalhar. E embora cercada por montanhas pitorescas e belas
paisagens, ela é praticamente alérgica à luz solar direta, ao ar livre e a tudo
que envolva comunhão com a natureza. Dê a ela um livro, uma abundância
de café e um local sombreado (fechado) com uma vista e ela ficará feliz.