O documento descreve as teorias éticas de Immanuel Kant e Stuart Mill. Kant defendia uma ética deontológica baseada no dever e na razão, enquanto Mill defendia uma ética consequencialista e utilitarista focada na maximização da felicidade. O documento também discute as visões destes filósofos sobre direitos das mulheres e o tratamento de animais.
O documento descreve as teorias éticas de Immanuel Kant e Stuart Mill. Kant defendia uma ética deontológica baseada no dever e na razão, enquanto Mill defendia uma ética consequencialista e utilitarista focada na maximização da felicidade. O documento também discute as visões destes filósofos sobre direitos das mulheres e o tratamento de animais.
O documento descreve as teorias éticas de Immanuel Kant e Stuart Mill. Kant defendia uma ética deontológica baseada no dever e na razão, enquanto Mill defendia uma ética consequencialista e utilitarista focada na maximização da felicidade. O documento também discute as visões destes filósofos sobre direitos das mulheres e o tratamento de animais.
Kant foi um filósofo alemão considerado até aos dias de hoje o maior pensador de todos os tempos por muitos. Cresceu muito ligado à religião e formou-se em ciências, talvez por isso o seu enorme interesse em salvar a metafísica tradicional, isto é, a disciplina da Filosofia que se ocupa de entender a natureza do ser, assim como da própria realidade, estabelecendo-se uma relação entre a mente e a matéria, baseando-se, assim, no trabalho de Aristóteles.
Ética deontológica/absolutista de Kant
● Uma teoria deontológica/absolutista consiste num conjunto de princípios ou leis estabelecidas que permitem distinguir o certo do errado, sendo que não são consideradas as consequências de uma ação na determinação do valor ético da mesma. ● Kant distingue as ações em... ○ «por dever» (a ação é unicamente motivada pelo puro respeito à lei moral) ○ «conforme ao dever» (cumpre o que é considerado correto, no entanto essa ação persegue um interesse particular, um desejo ou uma inclinação) ○ «contrárias ao dever» (ações que contrariam absolutamente a moralidade, como roubar, difamar e matar). ● Para Kant as ações de boa vontade (têm valor intrínseco) são aquelas que ocorrem «por dever», sendo por isso moralmente corretas. ● O dever baseia-se na Razão, uma vez que toda a moralidade é racional fundamental, dando origem a um imperativo categórico. ● Kant distingue os imperativos (princípios/formulações que expressam a noção do Dever) em… ○ Imperativo hipotético: A ação é boa porque a partir dela podemos atingir um certo fim desejado pelo sujeito, ou seja, uma ação que se rege por conformidade ao dever, sendo por isso imoral. Estas ações são condicionais, particulares e contingentes. Está por isso associado às éticas materiais de moral heterónoma (imposta por algo exterior que foge à racionalidade). ○ Imperativo categórico ou da moralidade: A ação é boa quando é realizada de acordo com a lei moral, ou seja, que se rege por dever. É considerado universal, necessário e incondicional. Está associada à lei moral, dado o seu caráter formal e à autonomia de vontade. ● À luz de Kant, o imperativo categórico é o único critério válido que devemos seguir para decidir se um ato é ou não moralmente permissível. Para tal deverá apresentar uma formulação universal aplicada em todas as situações. ● Desta forma e considerando uma única lei, a lei suprema da moralidade, Kant formulou de três formas o imperativo categórico: 1. “Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.” - qualquer pessoa deve apenas agir segundo máximas, leis que sejam universais e necessárias a todos os agentes, pois só assim é que essas mesmas ações são válidas e morais. 2. “Age como se a máxima da tua ação se devesse tornar, pela tua vontade, em lei universal da natureza.” - 3. “Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como um fim e nunca como um meio.” - Kant considera que o Homem como ser moral, tem um valor intrínseco de dignidade, pelo que é errado utilizar as pessoas como meio para atingir os fins, mas sim como fins, isto porque as pessoas são racionais e livres, isto é, possuem racionalidade e liberdade, daí terem de ser respeitadas. Exemplos: Kant não aceita o suícidio, porque estaríamos a permitir a toda a espécie humana que o fizesse, o que é contrário ao sentido da vida, que devemos preservar o Homem acima de tudo. Também estaríamos a utilizar o nosso corpo (algo exterior à razão) como um meio para atingir outro fim, o alcance da paz interior. ● Retributivismo kantiano: O retributivismo é uma teoria sobre a punição de crimes em que Kant pensa que qualquer crime deve ser retribuído da mesma forma, o que, por exemplo, em casos de homicídio Kant era a favor da pena de morte dos crimonosos, visto que o criminoso agiu com base naquilo que ele achava ser para si a lei universal, que neste caso seria causar o sofrimento de alguém. Assim, o criminoso deve ser julgado conforme a lei que ele considera ser universal, correta e válida. ● Posições sobre os animais: Kant considera que como os animais não-humanos não têm a capacidade da racionalidade, então estes não precisam de ser respeitados nem existe qualquer dever do Homem para com eles.
Objeções à teoria de Kant
● Conflito de deveres: Por vezes é inevitável termos de escolher entre dois deveres, isto é, às vezes uma obrigação moral pode implicar não cumprir uma outra obrigação. ● Idiotas bem intencionados: Segundo Kant, os idiotas bem intencionados são desculpados ou são punidos com retributivismo. O pensamento de Kant dá demasiada importância à intenção, desconsiderando as consequências dessas mesmas ações. A intenção do agente até pode ser boa, no entanto as suas consequências são ignoradas. ● Vazia de emoções: Emoções como o remorso, a simpatia e a compaixão têm uma papel indiscutível no que diz respeito à moralidade, porque é possível que em certas situações as pessoas ajam de acordo com a lei por razões que podem estar ligadas a outras inclinações, no entanto as emoções são ignoradas na teoria de Kant. ● Consequências ignoradas: O cumprimento incondicional de obrigações morais pode originar consequências que deviam ser tidas em consideração. ● Além das pessoas: Kant considera os recém-nascidos e os deficientes mentais profundos incapazes de racionalidade, não merecendo respeito pelo que seria errado utilizá-los como simples meios. Stuart Mill (1806-1873) Stuart Mill foi um filósofo, político e economista inglês, foi um dos pensadores liberais mais influentes do século XIX (época da Revolução Industrial). Desde de cedo que foi educado com as ideias de Jeremy Bentham (1748-1832), fundador do utilitarismo, de tal forma que aos 15 anos passou a defender essa mesma teoria. O seu casamento com Harriet Taylor, assim como o contraste entre a sua vida na corte e a dos pobres industriais influenciaram o seu trabalho de vida, como a luta pelo direito das mulheres.
Ética teleológica/consequencialista de Mill
● Uma teoria teleológica/consequencialista consiste num conjunto de princípios ou leis estabelecidas que permitem distinguir o certo do errado através das consequências resultantes das ações. ● Esta teoria segue-se pelo princípio da utilidade ou da maior felicidade (“Devemos fazer aquilo que, previsivelmente, produza os maiores benefícios possíveis para todos os que serão afetados pela nossa ação.”), ou seja, o correto é maximizar a felicidade (prazer) e minimizar a infelicidade (dor). ● O utilitarismo assenta em quatro ideias principais… ○ Consequencialismo: as ações são baseadas nas suas consequências ○ Hedonismo: defende que se deve fazer aquilo que provoque maior prazer numa maior quantidade pessoas ○ Imparcialidade: uma vez que a felicidade global é tida em conta, deverá ser tida em conta com igual importância a felicidade de cada indivíduo independente das suas características como género e etnia, porque todos são igualmente importantes ○ Naturalismo: baseia-se em sentimentos reais (dor e prazer) e não em teorias como Kant no imperativo categórico ● Como forma de maximizar a felicidade estabeleceu-se uma hierarquização dos prazeres tanto qualitativamente como quantitativamente… ○ Critério qualitativo ■ Superiores: Prazeres intelectuais e morais, apenas comuns no ser humano, por exemplo o conhecimento, a beleza, a liberdade, … ■ Inferiores: Prazeres físicos, comuns a todos os animais, por exemplo a fome, o sono, o sexo, … ○ Critério quantitativo: Quanto mais intensos e duradouros forem os prazeres, maior é a felicidade gerada. ● Esta teoria é material por depender de fatores externos à ação em si, assim como é particular por depender da ética de cada um (princípios morais de cada um). ● Luta pelos direitos das mulheres: ○ Stuart Mill defende que tal como aos homens foi dada a oportunidade de escolherem as suas funções no seio da sociedade, então o mesmo deveria ser aplicado às mulheres, uma vez que a estas lhes foi negada essa escolha. ○ Stuart Mill argumenta que a opressão a que as mulheres estão sujeitas são puramente fundadas nas convicções da sociedade, confessando a satisfação de perceber que as sociedades modernas evoluíram permitindo o desenvolvimento intelectual, socioeconómico e político das mulheres. ○ Stuart Mill alega que no caso das mulheres terem liberdade e igualdade de escolha, seriam capazes de se opor perante o casamento e se afirmarem socialmente perante os seus maridos. Desta forma as mulheres teriam o direito de escolher os seus esposos, de se divorciarem, permanecendo com os seus bens e de se voltarem a casar, desde que seja reflexo da união sincera entre os cônjuges. ○ Stuart Mill expõe também que as mulheres têm direito à educação, com o objetivo de aumentar as suas capacidades intelectuais. Desta forma as mulheres teriam as mesmas capacidades que os homens para poderem trabalhar/ exercer quaisquer funções. ○ Por fim, no último capítulo do seu livro, Stuart Mill expõe os benefícios da igualdade de género, tais como : justiça igual para ambos os sexos, aumento de pessoas a contribuir para o processo evolutivo da humanidade e maior influência feminina sobre os homens. (Todos estes argumentos conduziram para um aumento da felicidade das mulheres.) ● No utilitarismo tem se em conta que a felicidade não é própria apenas do agente, mas de todos os envolvidos, incluindo os animais-não humanos. Estes devem ser respeitados pelo que também têm o direito de serem felizes tal como os humanos. No utilitarismo o especismo (domínio da raça humana sobre todas as outras) não é aceite. ● O objetivo desta moral resume-se à realização de cada ser humano no mundo.
Objeções à teoria de Mill
● Quantificação da felicidade e redução dos sentimentos: Nem todo o ser humano apresenta o mesmo sentimento de prazer com as mesmas ações, pelo que os prazeres não devem ser hierarquizados. Para além, de que a felicidade em si é mais abrangente do que o prazer, porque existem emoções que vão muito mais além do conceito de prazer, como é caso do amor. Sendo que alguns sentimentos negativos (dor) não podem ser completamente ignorados quando permitem ao Homem evoluir interiormente. ● Falta de respeito para com os direitos humanos: Tendo por base a felicidade do maior número de pessoas, esta teoria acaba por apoiar grandes injustiças, pois não tem em conta a diferença e a individualidade dos seres humanos, como acontece na «objeção do bode expiatório». ● Perda da integridade pessoal: Certas ações a favor da maximização da felicidade podem ir contra a integridade pessoal, pondo em causa o tipo de pessoa que devemos ser (por exemplo: matar um terrorista para salvar um país, torna-te num assassino). ● Imprevisão das consequências: Torna-se impossível antever todas as consequências possíveis de uma ação. ● «Máquina de experiências»: Perda de autonomia e liberdade na decisão de algo que promove a maximização da felicidade individual e/ou geral, sendo a liberdade um valor superior à felicidade.