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Difusão Científica

INTRODUÇÃO À BIOMECÂNICA DO ESPORTE


CONSIDERAÇÕES SOBRE MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO
A. C. AMADIO 1

RESUMO em função das características específicas


do Sistema Biológico.
Através de análise da literatura específica, Métodos e princípios biomecânicos deter­
discute-se o domínio da área de atuação da minam a objetividade da técnica dos movi­
Biomecânica do Esporte, a interdisciplina- mentos, suas causas e necessidades de inter­
ridade de Ciências Esportivas para a investi­ pretações. Na direção de movimentos espor­
gação do movimento e padronização concei­ tivos, por exemplo, o comportamento de
tuai, quanto à composição, classificação e sobrecargas articulares, suas causa e compre­
metas na investigação. Quanto aos métodos ensão ou a efetividade dos processos m oto­
de medidas, discutem-se os principais pro­ res de aprendizagem são áreas de estreita
cessos e suas características, visando a com­ ligação com funções mecânicas para o
plexa investigação para a análise do movi­ diagnóstico esportivo.
mento esportivo. A Biomecânica do Esporte pesquisa, por­
tanto, o corpo humano e o movimento es­
GENERALIDADES portivo, baseado nas leis e métodos mecâ­
nicos, com a inclusão de conhecimentos
Biomecânica é uma disciplina, entre as anatômicos e fisiológicos (BAUMANN,
ciências naturais, que se ocupa com análises 19 8 0(3)).
físicas de sistemas biológicos, conseqüente­ Através da Figura 1, podemos analisar a
mente análises físicas dos movimentos do interdependência de áreas do conhecimen­
corpo humano. Estes movimentos são estu­ to da Biomecânica com as demais ciências
dados através de leis e padrões mecânicos, que pertencem ao seu campo de estudos.

Figura 1: Composição das áreas de


Biomecânica do Esporte

/ - Professor A ssistente de A tletism o do


Departam ento Técnico Desportivo da Escola de Educação Física da Universida­
de de São Paulo

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Considerando o movimento como o Podemos, em acordo com HOCHMUTH,
ponto central dos estudos em Educação 1981 (7), HAY, 1978 (6), BÀUMLER,
Física e Esportes, analisamos suas causas SCHNEIDER, 1981 (4), MARHOLD, 1976
e efeito produzidos em relação à Biomecâni- (8) e DONSKOI, 1975 (5), classificar de
ca e demais áreas de estudos, que compõem forma esquemática a Biomecânica em:
esta multidisciplinar interdependência, no Biomecânica Interna e Biomecânica Externa,
esclarecimento e exploração do movimento sabendo-se que esta divisão se dá, segundo as
esportivo. determinações quantitativas e qualitativas
das forças que agem sobre o corpo e da inte­
MIYASHITA, 1976 (9), considera que
ração do corpo com o meio ambiente, onde
através do movimento converte-se a energia
o movimento transcorre.
química acumulada e produzida pelo sistema
Conseqüentemente, através das forças
biológico humano em energia mecânica. O
internas (forças musculares, forças articula-
total de energia química acumulada no
res, etc.) e das forças externas (força da gra­
corpo é expressa como potencial físico; por
vidade, força reação do solo, etc.), procura-
outro lado, a energia mecânica é expressa
se a interpretação dos parâmetros cinemáti*
como rendimento físico.
cos e dinâmicos que compõem as bases da
Fisiologia do Exercício e Biomecânica análise do movimento. A medição destes pa­
estudam a interação e dependência entre mo­ râmetros pode dar-se por processos mecâ­
vimento com potencial físico e rendimento nico, eletrônico e/ou ótico, através de
físico, respectivamente. Desta forma, para a tecnologia e instrumentação corresponden­
investigação da movimentação esportiva, tes, como também objetiva a sistematiza-
deve-se procurar uma melhor interação entre ção do rendimento esportivo.
Biomecânica e Fisiologia do Exercício, Segundo DONSKOI, 1975 (5), o pro­
de forma a esclarecer aspectos interdisci- pósito da Biomecância de análise do mo­
plinares destas ciências fundamentais, para a vimento deve ser interpretado na descri­
análise do movimento. ção da técnica mais eficiente, considerando-
Na Figura 2 mostramos, de forma es­ se as leis mecânicas do movimento bem
quemática, este relacionamento de ciên- como as propriedades do aparelho locomo-
cias e causas de movimento esportivo. tor.
Figura 2: Interpretação de interdependências e
causas do movimento esportivo (seg. Miyashita, 1980)

MOVIMENTO

V
i V
TREINAMENTO
Potencial físico Rendimento físico
ESPORTIVO

FISIOLOGIA
DO EXERCÍCIO

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BARHAM, 1982 (2), define as diferenças b) abstração e indução sobre os resultados
conceituais e campos de ação, tanto para en­ obtidos, c) aplicação de leis e teorias físi­
sino como investigação, entre Biomecânica e cas, d) estudo no domínio de validade e
Cinesiologia Mecânica. Não trataremos no relevância prática dos resultados.
presente trabalho da problemática termino­ As pesquisas em Biomecânica do Esporte
lógica conceituai, apenas apresentamos a di­ ainda são carentes de estandartizações me­
visão de áreas no domínio de conhecimentos todológicas, bem como são incompletos os
da Cinesiologia, segundo BARHAM. No pre­ modelos utilizados para a formação de
sente caso, o termo Cinesiologia é usado teorias com explicação causai do movimen­
como sinônimo de Biomecânica. Ainda, to esportivo. Desta forma fica restrita a
segundo o autor, a Cinesiologia divide-se possibilidade de comparações entre resulta­
em: a) Cinesiologia Mecânica — investiga­ dos de diversos autores e ainda corremos
ções das funções espaço-tempo, bem como riscos de aplicação de modelos mecânico-
causas de mudança de movimento — força; matemáticos não adaptados às caracterís­
b) Cinesiologia Fisiológica — investigações ticas do esporte em estudo.
das variáveis biológicas e bioquímicas do
Entretanto, o acelerado desenvolvimento
movimento humano; c) Cinesiologia Psico­
da tecnologia eletrônica, que observamos
lógica — investigações das variáveis do
em nossos dias, oferece sempre novas possi­
comportamento e mecanismo neurológico
bilidades e procedimentos na elaboração e
do movimento humano.
operação dos dados, instruções estas que
se tornam cada vez mais utilizadas na Bio­
MÉTODOS DE MEDIDAS
mecânica para a análise do movimento es­
portivo.
Devemos observar inicialmente que da
metodologia científica em Ciências Naturais, Os inúmeros métodos de medidas em
os procedimentos, que estabelecem a seqüên­ Biomecânica podem ser classificados de
cia lógica num projeto de investigação em acordo com as metas de investigação,
Biomecânica do Esporte, podem resumida­ cuja composição é apresentada, segundo
mente ser assim enunciados: a) observação BALLREICH, BAUMANN, 1983 (1), na
e experimentação do fenômeno estudado, figura 3.
Figura 3: Composição das metas de investigação do diagnóstico
do rendimento em biomecânica (seg. Ballreich, Baumann, 1983)

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WINTER, 1979 (10), discute os seguin­ permitida ao erro do processo, discutindo-
tes aspectos como os mais importantes, se desta forma a validade da medida.
quanto às exigências nos processos de me­ Os processos de medição em Biomecâ-
dição: a) autonomia de reação da mensura- nica podem ser divididos, segundo os prin­
ção - o processo de medição não deve in­
cípios da medição, em: a) processos de
fluenciar o comportamento do objetivo
medição ótica, b) processos de medição
a ser medido, ou seja, não deve causar alte­
mecânica, c) processos de medição eletrô­
rações no decurso do movimento, b) pre­
nica. Esquematizamos a partir dos dados
cisão de medidas — considerada função
do tipo de medida e cada colocação de pro­ de BAUMANN, 1980 (3), na figura 4,
esses processos.
blema. O controle é dado pela limitação

Figura 4: Classificação dos processos de medidas em


Biomecânica (seg. Baumann, 1980)

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Devemos ainda considerar que para a to. Evidentemente a sincronização entre
análise do movimento esportivo em in­ vários procedimentos numa “Complexa
vestigação biomecânica faz-se necessária Investigação” implica soluções de impulsos,
a aplicação simultânea de diversos m éto­ marcas e registros de sinais sincronizadores
dos de medidas. A este procedimento dos vários procedimentos.
HOCHMUTH, 1981 (7), chamou de “Com­ Em análise complexa dç> movimento, os
plexa Investigação” Por exemplo, a com­ procedimentos mais comumente combina­
binação do registro em filme e registro da dos são: a) Cinemáticos - espaço, tempo e
força — reação do solo são dois procedi­ indicadores derivados; b) Dinamométricos
mentos muito comumente sincronizados — forças de reação periférica; c) Eletromio-
em investigações esportivas. gráficos — coordenação de potencial de ação
Desta forma, os resultados apresentam muscular; d) Somatométricos — centro de
mais informações, possibilidades de contro­ gravidade, momentos de inércia de segmen­
le e interpretações do decurso do movimen­ tos corporais.

BIBLIOGRAF1A

BALLREICH, R. & BAUMANN, W. - Biomechanische leistungsdiagnostik, Berlim, Bartels & Wernitz,


1983.
BARHAM, J. N. - Mechanische kinesiologie. Stuttgart, Georg Thieme Verlag, 1982.
BAUMANN, W. - Biomechanik - Messmethoden, manuskript. Institut für Biomechanik. Köln, DSHS,
1980.
BAUMLER, G. & SCHNEIDER, K. - Sportmechanik. BLV. München. V e r g e s e lls c h a f t , 1981.
DONSKOI, D. D. - Grundlagen der biomechanik. Berlin, Sportverlag, 1975.
HAY, J. G. - Biomechanics o f sports techniques. Englewood Cliffs, Prentice-Hall, 1978.
HOCHMUTH, G. - Biomechanick sportlicher bewegungen. Berlin, Sportverlag, 1981.
MARHOLD, G. - Einführung in die biomechanischen intersuchungsmethoden. Leipzig, Deutsche
Hochschule für Körperkultur, 1976.
MIYASHITA, M. - Biomcchanics o f sports from the viewpoint o f methodological advances. In: KOMI,
P. V. (ed). Biomechanics VB, Baltimore, 1976. pp. 1 5 1 -1 5 7 .
WINTER, D. - Biomechanics o f human m ovem ent. New York, Wiley, 1979.

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