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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas


Departamento de História

AVALIAÇÃO - BRASIL I

Questão 1) A partir das décadas de 80/90, a historiografia sobre o período colonial


luso-brasileiro sofreu significativas alterações teóricas e metodológicas. Explique quais
foram as grandes diferenças entre esta historiografia e a chamada “tradicional”:

O positivismo do século XIX contribuiu para que as narrativas historiográficas fossem


contadas a partir da visão burguesa e liberal das coisas. A profissionalização da história
“chegou” na década de 80 e 90 com os cursos de pós-graduação. Com novas maneiras de
produzir historiografia, passando agora a mostrar outros sujeitos históricos de sua realidade.
A influência do marxismo colaborou muito nessa elaboração das novas formas de conceituar
a História. A historiografia tida como tradicional era preparada para ser consumida pelas
elites de poder que, assim como a história para Heródoto, que visava contar as histórias dos
“grandes homens”.
A perspectiva elitista e européia não tinha interesse em mostrar a ótica dos homens livres -
por exemplo - sua preocupação era a de mostrar a tríade: colonizador, escravos e indígenas,
onde seu papel era de protagonista conquistador, utilizando-se de concepções nacionalistas
para sua afirmação enquanto único sujeito histórico e de sua dominação sob os indígenas e
africanos escravizados. A historiografia produzida sob esses preceitos consolidou a falta de
produções historiográficas sobre os povos tidos como periféricos pela história, como
mulheres e negros.
A produção historiográfica das décadas de 80 e 90 - diga-se de passagem - foi muito
influenciada pela corrente de marxista, que buscava o esclarecimento dos fatos. Autores
brasileiros como Caio Prado Jr. (1907-1990), João Fragoso (1958-) e Manolo Florentino
(1958-) são alguns dos autores classificados como referência nas produções historiográficas,
que fogem as que são ditas “tradicionais”. A produção após a década 80, era voltada para a
produção de uma história crítica, introduzindo sujeitos históricos, tornando agentes
conscientes de sua própria história, e completamente capazes de reproduzi-las. Esse
eurocentrismo na historiografia é “apenas” mais da dominação histórica européia, para além
do período de colonização, pois ela é um monólogo.
Por fim, a produção historiográfica das décadas de 80 e 90 é uma grande contribuição
anticolonial, que nos permite sair dessa construção conceitual historiográfica sob a
perspectiva do sujeito universal (homem branco), para que houvesse uma abertura das
estruturas que anulam as narrativas subalternas e que exigem um “projeto de decolonização
epistemológica” OLIVEIRA, (2019).
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OLIVEIRA, Maria da Glória de. “A história disciplinada e seus outros: reflexões sobre as
(in)utilidades de uma categoria”. In: AVILA, Arthur Lima; NICOLAZZI, Fernando; TURIN,
Rodrigo (orgs.). A História (in)disciplinada: teoria, ensino e difusão do conhecimento
histórico. Vitória: Editora Milfontes, 2019.
https://docs.google.com/presentation/d/1Ag9sOWBbkGGzwARH4HwEGXYwNMPlKVqZ/
edit
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Questão 4) A escravidão, de indígenas e de negros, marcou a sociedade brasileira e até os


dias atuais, pode-se perceber suas permanências no cotidiano. Com base na discussão
historiográfica sobre o que é considerada uma sociedade escravista, identifique as
principais características da escravidão indígena e da negra levando em consideração os
conceitos e ideias discutidos e apresentados por diferentes autores trabalhados ao longo do
curso.

A sociedade brasileira é intrinsecamente marcada pela escravidão de negros e indígenas. Ao


longo do progresso da historiografia brasileira, isto é, ao longo dos séculos XX e XXI,
diversos estudos buscaram compreender e retratar os processos escravistas que ocorreram na
América portuguesa com diferentes perspectivas, desde os fatores e condições econômicas,
até análises que têm como enfoque a sociedade colonial.
Primeiramente, para falarmos sobre escravidão indígenas, é preciso observar o contexto do
comço do processo de colonização portuguesa na América. O trabalho compulsório indigena
foi utilizado para suprir as demandas econômicas do recém formado colonato, num momento
onde o uso do trabalho compulsório africano era demasiadamente caro. Tais demandas
envolviam desde as necessidades agrícolas das vilas locais até as missões de exploração do
sertão, como aborda John Manuel Monteiro em Negros da terra: índios e bandeirantes nas
origens de São Paulo.
O processo de escravização de indígenas se dava de diferentes formas, como afirma Luiz
Felipe Alencastro em O Trato dos Viventes. Formação do Brasil no Atlântico Sul. Utilizando
os conceitos de Resgates, Descimentos e Guerras Justas ou Cativeiros. Esses mecanismos de
apresamento de indígenas contribuíram para o adentramento do território recém descoberto.
Com o avanço da colonização a mão de obra indigena foi substituída pela mão de obra
africana, impactando diretamente a sociedade colonial e a contemporânea. Para entender este
fenômeno é necessário observar os mecanismos utilizados no processo da escravidão, como,
por exemplo, a despersonalização e a dessocialização, conceitos também presentes da obra de
Alencastro. Para concretizar o processo da escravização foi necessário transformar o ser
humano em mercadoria e afastá-lo de sua comunidade.
Portanto, podemos apontar como as principais características de uma sociedade marcada
profundamente pela escravidão: a miscigenaçao, o latifundio, a baixa circulação de capital, a
forte presença da religião ( usada como instrumento de domínio, controle e justificativa para
a escravidão)

MONTEIRO, John Manuel.” Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São
Paulo”. São Paulo: Companhia das letras, 1994

ALENCASTRO, Luiz Felipe. “O Trato dos Viventes. Formação do Brasil no Atlântico Sul”
São Paulo: Cia. das Letras, 2000,
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