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Lei da Censura: O congresso quer calar a voz das redes sociais.

O Projeto de Lei 2630/2020, conhecido como Lei da Censura, foi proposto pelo senador
sergipano Alessandro Vieira (Cidadania/SE) com a justificativa de combater a propagação de
“Fake News” e visa regulamentar o uso da internet por todos nós, cidadãos brasileiros. Sim! O
senador quer te dizer como você deve usar seu WhatsApp e o que você pode compartilhar
nele. Com a suposta justificativa de promover transparência, responsabilidade e combater
abusos (?) no uso das plataformas, a lei também prevê regras extremamente burocráticas que
devem ser cumpridas pelos provedores dos serviços.

Apesar do nome bonito – Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na


Internet – dado pelo senador, a iniciativa é uma das mais autoritárias já vistas na história
recente da nossa república quando se trata de atacar a liberdade de expressão e comunicação.
Nem o governo petista da Dilma conseguiu, com o Marco Civil da Internet, ir tão longe num
projeto audacioso de cerceamento da liberdade de expressão no mundo digital e restrição do
poder de comunicação conseguido por cidadãos comuns com as mídias sociais.

Em várias entrevistas o senador tem falado muito em empoderamento do usuário. Só que o


seu projeto faz justamente o contrário do que prega. O cidadão vai ficar dependente de regras
absurdas, criadas pelo Estado, para poder compartilhar e divulgar uma informação ou uma
opinião pessoal.

A Seção IV do PL2630 coloca uma série de restrições e burocracias para o uso de aplicativos de
troca de mensagens por parte de cidadãos comuns e pessoas jurídicas. A proposta torna
restrições já adotadas pelo WhatsApp, como o número limite para encaminhamento de
mensagens e limitação no número de pessoas por grupo, padrão para aplicativos
concorrentes, num claro prejuízo a estes e num benefício ao aplicativo pertencente ao
Facebook, que já adota essas práticas.

Além destas regras, outras mais absurdas são propostas. Ainda na seção IV, o parágrafo
primeiro do Artigo 13 estabelece que o limite de apenas 1 pessoa ou grupo por vez para
encaminhamento de mensagens em período eleitoral ou de emergência – como este no qual
estamos devido ao vírus chinês. Repito: Isso não será aplicado apenas ao WhatsApp, mas ao
Telegram e qualquer outro aplicativo de troca de mensagens concorrente.

O senador, que diz querer “empoderar” o usuário, “esquece” que os aplicativos de mensagens
são uma das formas pelas quais prestadores de serviços, comerciantes e vendedores têm
divulgado seus serviços de delivery neste período de pandemia. Caso esse projeto abominável
seja aprovado, além de perderem renda com seus negócios fechados, agora terão maior
dificuldade para usar o principal meio pelo qual podem divulgar seu trabalho. Empresas com
poucos funcionários serão especialmente prejudicadas, já que terão que colocar alguém para
ficar de forma dedicada cuidando da publicidade dos serviços nos aplicativos de
encaminhamento de mensagens.

Além desse prejuízo ao trabalho de pequenos comerciantes e empresários, temos o prejuízo à


liberdade de comunicação e circulação das informações. Será que o senador acharia sensato
uma proposta que limitasse o alcance da Globo a apenas 1 milhão de brasileiros por
programa? Se isso lhe parece absurdo, o mesmo deve ser para a limitação do alcance de um
vídeo gravado por um cidadão comum que faz uma denúncia de compra de voto em período
eleitoral.
O senador disse em debate no canal do Instituto Brasil 200 que vai propor uma alteração no
projeto que permita o disparo em massa, desde que seja feito por órgãos oficiais do governo.
Ou seja, num momento como esse de pandemia, poderíamos ser bombardeados por governos
estaduais e prefeituras com mensagens com o lema “Fique em casa”, mas não poderíamos
receber a mensagem encaminhada por um médico ou jornalista denunciando as mentiras
proferidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o coronavírus ou defendendo o
Isolamento Vertical ante a loucura promovida por governadores de trancar todo mundo em
casa e prender cidadãos que vão à praia. Querem transformar o WhatsApp numa máquina de
propaganda de ações e ideias do governo, nada diferente do que acontece na China
comunista.

O cunho autoritário e persecutório fica ainda mais evidente no projeto quando este trata, no
Artigo 23, da publicidade irrestrita de dados de patrocínio realizados para se obter maior
alcance na divulgação de temas políticos e sociais. Uma clara intimidação à pessoas que
financiam a divulgação de ideias e informações.

Qual empresário vai topar impulsionar uma publicação crítica a um determinado político
sabendo que seus dados serão tornados públicos e ele poderá sofrer represálias, em especial
num estado como o nosso no qual as elites políticas são muito influentes, inclusive no
judiciário?

Para além de absurdos como o citado acima, o projeto quer acabar com contas inautênticas e
perfis considerados suspeitos de praticar desinformação. Quem acompanha as redes sociais,
certamente já se deparou com perfis de denúncias ou mesmo memes que satirizam, criticam
políticos e situações da política nacional e local. Perfis como “Isentões”, “Ódio do bem”, “Let's
Dex”, “Corrupção Brasileira Memes”, “Leitadas do Loen” são exemplos de contas não
identificadas, cujos donos usam pseudônimos. Sabemos que muitas das pessoas que se
utilizam desse tipo de perfil preferem não expor seus posicionamentos ideológicos nas redes
sociais devido ao medo de perderem empregos ou de sofrerem represálias em seu meio social.
Uma preocupação legítima! Além disso, o anonimato é usado a fim de possibilitar uma
comunicação mais aberta sobre temas considerados constrangedores pelos usuários. Grupos
de apoio a dependentes químicos, violência doméstica ou a vítimas de abuso sexual, por
exemplo, muitas vezes utilizam esse tipo de mecanismo. Com a aprovação do projeto do
senador Alessandro, todos estes grupos e perfis simplesmente serão censurados.

Na prática, perfis como os citados acima já não são permitidos na maior parte das redes sociais
devido as políticas de uso das empresas. O que o projeto pretende é dar mais legitimidade as
ações das plataformas e tornar a remoção de conteúdo e contas ainda mais frequente. E ainda
existe uma emenda ao projeto do Senador Kajuru (PRP/Goiás) que obriga o uso de CPF para
utilização de qualquer tipo de rede social, inclusive aplicativo de troca de mensagens. Se
aprovada a emenda, milhões de brasileiros com problemas cadastrais não poderão mais ter
acesso às plataformas de mídias sociais.

Agora, imagine a seguinte situação: Você presencia um assalto no seu bairro, tira uma foto
escondido e compartilha junto a um texto relatando o fato numa rede social. De repente,
aparece uma notificação em seu celular de que a mensagem que você compartilhou é falsa e
esta é sinalizada como tal e excluída. A plataforma (WhatsApp, Twitter, Instagram, etc)
disponibiliza um link para que possa recorrer e será dado um prazo de 3 meses para que
consiga provar que o fato narrado é real. Enquanto a verificação da informação não é feita,
você passará pelo constrangimento de ser exposto na plataforma como um propagador de
“Fake News”.

Esse é o projeto cujo objetivo, segundo Alessandro Vieira, é lhe proteger e empoderar!

Além de abrir a possibilidade para que uma situação surreal como a narrada no parágrafo
acima aconteça, a Seção III do projeto – que trata das formas de combate a desinformação –
determina a checagem por agências independentes do conteúdo publicado nas redes sociais.
Tais agências já existem, mas não a obrigação da checagem de tudo que é publicado. É um
volume gigantesco de dados a serem checados e os aspectos que determinam o que é ou não
desinformação, Fake News, notícia falsa, não são objetivos e, na prática, não haverá maneira
de se aplicar uma regra de forma segura de modo que não ocorram inúmeras injustiças.

Definição a veracidade da informação ou sua falsidade não é uma tarefa simples. Verdades
aceitas pela comunidade científica são teorias falseáveis que só são consideradas verdadeiras
até serem derrubadas por outra verdade científica. Dessa forma, existem informações que são
aceitas majoritariamente pela comunidade científica, assim como existem informações que
deixam de ser após certo período de tempo. Com isso, de acordo com o PL, a verdade estaria
condicionada à quantidade de apoio científico? Como seriam tratadas as teorias minoritárias?
Qual tratamento seria conferido às informações baseadas em modelos matemáticos, a
exemplo dos atualmente usados na medição da taxa de transmissão do coronavírus, que,
dependendo das variáveis e da calibragem utilizadas têm resultados variáveis?

As agências de checagem de fatos, em geral, tem um viés ideológico esquerdista. A maioria


delas é financiada por organizações comprometidas com pautas progressistas, a exemplo da
Open Society Fundation do bilionário George Soros. Como esperar uma checagem honesta de
uma matéria contrária ao aborto por parte de uma agência que seja financiada por um
abortista?

Sabemos que as maiores e mais populares redes sociais – Twitter, Facebook, Instagram e
YouTube – têm suas predileções ideológicas mais à esquerda e que quem tem um
posicionamento ideológico conservador, antiprogressista ou que desafia o Politicamente
Correto (fascismo cultural) é costumeiramente censurado. De páginas no Facebook a vídeos no
YouTube, não faltam exemplos de conteúdos tirados do ar por expressarem e informarem
posicionamentos e ideias contrárias às que são consideradas como senso comum. E, diante do
que foi apresentado, o projeto autoritário de Alessandro Vieira potencializa ainda mais a
atitude persecutória por parte dessas plataformas, junto às agências de checagem de fatos.

Nas palavras do próprio senador em entrevista à rádio Jovem Pan:

“Em uma democracia, em última instância quem decide o que é verdade ou não é o Judiciário.
Isso não é retirado por nenhum projeto.”

Alexandre de Moraes, ministro do STF, mentiu esta semana sobre a divulgação dos autos do
inquérito das “Fake News” instaurado pela corte. É nessa “justiça” que devemos confiar para
dizer o que é ou não verdade?

Segue sua fala:

“Não existe nenhum tipo de risco de ter uma atitude de censura. O que a gente quer garantir é
que o cidadão saiba com quem ele está interagindo, que ele tenha o direito de se manifestar
naquilo que é opinião, de ser responsabilizado caso essa opinião seja falsa, criminosa,
desinformativa, mas dentro de um processo transparente, democrática, com o usuário
empoderado.”

Opinião falsa? Opinião é opinião! Não pode ser classificada como “falsa” e punida.

O senador Alessandro quer enganar quem com essa proposta? Nós não elegemos babás para
nos dizer o que é notícia e opinião falsa ou para determinar quantos compartilhamentos
devemos fazer em nossas redes sociais! Infelizmente, o senador que elegemos como
esperança para renovação da política sergipana torna-se a cada dia mais parecido com seu
opositor Rogério Carvalho (PT), e com as figuras que ele já criticou durante seu curto tempo de
mandato, tais como Rodrigo Maia (Presidente da Câmara) e Davi Alcolumbre (Presidente do
Senado). E é com estas figuras que ele articula a aprovação deste projeto.

Além de censurar as opiniões fora do senso comum, entre os reais objetivos da proposta do
senador está a retomada do controle da informação por parte da grande mídia esquerdista –
que perdeu poder com o surgimento das redes sociais; por parte de políticos autoritários como
ele; e por organizações – com a ONU – que querem ditar como devemos viver nossas vidas.
Também há uma tentativa de dificultar a formação de redes de voluntárias, como a que
possibilitou a eleição de Bolsonaro e que hoje é taxada de “gabinete do ódio”, como forma de
deslegitimar o apoio popular recebido pelo presidente.

Foram as redes sociais que permitiram e deram poder ao cidadão comum de influenciar,
comunicar, dar opiniões e distribuir informações, chegando a ter um alcance maior que
grandes veículos de informação e políticos. Deve ser humilhante para um Senador da
República, para um jornal da grande mídia ou uma emissora de TV, ter menos relevância,
engajamento e influência no Twitter do que um perfil chamado “Leitadas do Loen”. Só pode
ser este o motivo para um projeto tão sórdido, que fere o direito à liberdade de expressão e
informação, ser apresentado e receber apoio de todo o establishment político e midiático. É
uma guerra pelo controle da informação!

Não tem porque regular aquilo que não precisa ser regulado. O PL2630, assim como qualquer
outro projeto que vise regulamentar o uso da internet não deveria existir no Congresso. Já que
existe, deve ser combatido, exposto suas reais intenções e derrotado! Essa aberração não
pode ser aprovada, mesmo com as alterações que virão a ser feitas para maquiar ainda mais as
reais intenções da proposta. Estamos diante de uma nova armadilha contra a democracia e a
liberdade de expressão.

DEIXEM A INTERNET LIVRE!

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