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INQUÉRITO POLICIAL

3. Início (instrauração) do inquérito policial:


-> crimes de ação penal pública incondicionada (regra geral):
a) de ofício pelo delegado de polícia (art. 5º, I, do CPP)
-> portaria
-> delatio criminis (notícia-crime simples): informação ou comunicação
de crime levada ao conhecimento do delegado por qualquer pessoa do povo. Pode
ser oral ou escrita. Se a delatio criminis não for confiável o delegado deverá realizar
a verificação de procedência das informações – VPI (art. 5º, §3º, do CPP)
-> “denúncia” anônima (notícia-crime inqualificada) -> somente após
verificação da procedência das informações (STF, HC 106.152/MS)
b) por requisição do Juiz ou do MP (art. 5º, II, do CPP) -> obrigatório.
Alguns autores dizem que essa obrigatoriedade só ocorre se na requisição houver
elementos de informação suficientes para a instauração do inquérito. Também
seria possível ao delegado recusar a instauração do inquérito quando a requisição
for manifestamente ilegal ou causar mero contrangimento ilegal (ex.: crime
prescrito)
c) por requerimento do ofendido (vítima) (art. 5º, II, do CPP)
-> notitia criminis (notícia-crime qualificada) -> escrito
-> requisitos: 1) a narração do fato e as suas circunstâncias; 2) a
identificação do agressor ou de seus sinais característicos; 3) as razões de
convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração penal, ou os motivos da
impossibilidade de fazê-lo; e 4) a indicação das testemunhas, com suas profissões
e residências (art. 5º, §1º, do CPP).
-> não é obrigatório = cabe recurso ao chefe de polícia (art. 5º, §2º, do
CPP)
d) prisão em flagrante (art. 302 do CPP) -> auto de prisão em flagrante
(APF) já serve de instauração do inquérito

-> crime de ação penal pública condicionada à representação do ofendido


(art. 5º, II c/c §4º, do CPP)

-> crime de ação penal privada (art. 5º, §§ 1º e 5º do CPP): necessita de


requerimento expresso do ofendido

4. Desenvolvimento o inquérito policial: Atos investigatórios praticados no


inquérito policial:

-> preservação do local do crime (art. 6º, I, do CPP) -> até a chegada dos
peritos criminais. A ideia é preservar vestígios do crime (corpo de delito) (art. 169
do CPP). Existem dois fatores determinantes para o sucesso da investigação: 1)
início a partir do local do crime; 2) início imediato
Obs: trânsito

-> apreensão de objetos -> qualquer objeto. Passam a fazer parte do


inquérito policial (art. 11 do CPP). Se não for importante para a investigação ou
processo penal, o delegado poderá restituir o objeto ao dono/investigado (art.
118/120 do CPP)
Obs.: é preciso respeitar a inviolabilidade do domicílio (art. 5º, XI, da CF)
(art. 240 do CPP). A mera intuição do delegado não serve de base para a entrada
no domicilio sem ordem judicial (STJ, REsp 1.574.681/RS)

-> oitiva do ofendido (vítima) -> o ofendido é fonte de prova, e o


depoimento policial da vítima e meio de prova. O ofendido é obrigado a
comparecer para prestar depoimento, sob pena de condução coercitiva (art. 201,
§1º, do CPP)

-> oitiva do indiciado/investigado (interrogatório policial do investigado)


(art. 6º, V, do CPP). Prevalece o entendimento de que o interrogatório é meio de
defesa, e por isso não cabe condução coercitiva do investigado (ADPF 444). O
investigado tem direito ao silêncio, devendo ser informado pelo delegado de
polícia. Aplica-se subsidiariamente o art. 185 do CPP e o art. 5º, LXIII, da CF).
Não é obrigatória a nomeação de advogado para o investigado. Porém, caso ele já
tenha advogado, é direito do advogado acompanhar o interrogatório e fazer
perguntas (art. 7º, XXI, da Lei 8.906/94) (STF, Pet 7.612/DF)

-> reconhecimento de pessoas e coisas, e acareações -> art. 226 do CPP. É


válido o reconhecimento por fotografia (REsp 1.444.634/SP, AREsp
1.054.280/PE, HC 136.147/SP).
Obs.: o investigado não pode se recusar a se submeter ao reconhecimento
(não se aplica o princípio do nemo tenetur se detegere). É possível fazer a condução
coercitiva do investigado para reconhecimento (art. 260 do CPP).

-> identificação criminal, juntada de folha de antecedentes criminais e


averiguação da vida pregressa do indiciado (art. 6º, VIII e IX, do CPP)
-> identificação criminal (Lei 12.037/09) = em regra a pessoa que tem
identificação civil não será submetida à identificação criminal (art. 5º, LVIII, da
CF)
-> identificação criminal = impressão datiloscópica, registro
fotográfico, e colheita de material genético
-> hipóteses (art. 3º da Lei 12.037/09): a) quando o documento civil
apresentar rasura ou falsificação; b) quando o documento civil for insuficiente; c)
quando o investigado portar documentos diversos; d) quando a identificação
criminal for necessária para as investigações, mediante autorização judicial (nesse
caso, poderá ser coletado o material genético); e) quando constar registros
policiais com diversos nomes do acusado; f) quando o estado de conservação, lapso
temporal ou localidade da expedição do documento civil impedir a identificação
Obs.: o investigado não pode se recursar a se submeter à identificação
criminal (art. 260 do CPP), inclusive sendo possível a sua prisão preventiva
pelo tempo necessário à identificação (art. 313, §1º, do CPP)

-> determinação da realização de quaisquer perícias (art. 6º, VII, do CPP):


cabe ao delegado de polícia determinar a realização de qualquer exame pericial
relevante para as investigações, inclusive o exame de corpo de delito (art. 158 do
CPP)

-> informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem


alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados
dos filhos, indicado pela pessoa presa (art. 6º, X do CPP)

-> reconstituição dos fatos (art. 7º do CPP): reprodução simulada. Em razão


do nemo tenetur se detegere não é obrigatória a participação do investigado. Não se
admite a reconstituição nos seguintes casos: a) quando houver contrariedade à
moral pública; b) risco à ordem pública.

-> acesso a dados cadastrais de vítimas e suspeitos (art. 13-A do CPP): o


delegado de polícia pode obter de órgãos públicos ou empresas privadas
informações sobre qualificação pessoal, filiação (pais etc.) e endereço de vítimas e
suspeitos de determinados crimes.
-> não depende de autorização judicial
-> o órgão público ou a empresa privada tem que responder em 24h
-> crimes: a) sequestro ou cárcere privado; b) trabalho escravo; c)
extorsão mediante sequestro; d) extorsão qualificada pela restrição da liberdade
da vítima (sequestro relâmpago); e) tráfico de pessoas; f) envio de menor ao
exterior; g) organização criminosa (art. 15/17 da Lei 12.850/13).

-> requisição de informações sobre estação de rádio base (art. 13-B do CPP):
obter informações sobre a localização atual/imediata da vítima e do suspeito.
-> depende, em regra, de autorização judicial: o juiz tem 12h para
decidir sobre o requerimento do delegado. Se passar desse prazo sem decisão, o
delegado pode requisitar diretamente à operadora de telecomunicação (§4º do art.
13-B do CPP).
-> delito de tráfico de pessoas em curso.

Obs.: o desenvolvimento do inquérito policial não obedece a nenhum


procedimento específico previsto em lei. Logo, nem todos os atos estudados serão
praticados em todos os casos. O delegado de polícia tem discricionariedade para
decidir quais atos investigativos serão praticados em cada investigação.
-> o ofendido e o próprio investigado podem requerer a realização de atos
investigativos, cabendo ao delegado decidir se serão realizados ou não (art. 14 do
CPP). Não há previsão legal de recurso contra essa decisão.

5. Prazos do inquérito policial (art. 10 do CPP):

-> Regra geral:


-> investigado solto: 30 dias, prorrogáveis indefinidamente
-> investigado preso: 10 dias (inicialmente era improrrogável, porém
o art. 3º-B, §2º, do CPP prevê a possibilidade de prorrogação pelo juiz por até 15
dias). O esgotamento do prazo poderá acarretar o relaxamento da prisão.

-> Tráfico de dogras (Lei 11.343/06):


-> solto: 90 dias, prorrogáveis indefinidamente
-> preso: 30 dias, prorrogáveis por mais 30 dias.

-> Crimes federais (Lei 5.010/66):


-> solto: 30 dias, prorrogáveis indefinidamente
-> preso: 15 dias, prorrogáveis por mais 15 dias.

6. Indiciamento e conclusão do inquérito policial:

-> indiciamento: é ato privativo do delegado de polícia, fundamentado, pelo


qual é formalizada a suspeita de autoria do crime em relação a um investigado
(art. 2º, §6º, da Lei 12.830/13).
-> cadastramento do indiciado no banco de dados policial (folha de
antecedentes)
-> possibilidade de afastamento de servidor público indiciado por
crime de lavagem de capitais (art. 17-D da Lei 9.613/98)
-> não vincula o MP e nem o Juiz

-> conclusão: determinada pelo delegado de polícia, que deverá elaborar o


Relatório do inquérito (art. 10, §§1º e 2º, do CPP). Encaminha o inquérito relatado
ao MP.

Obs. 1: crime de ação penal privada: o inquérito é disponibilizado ao ofendido

Obs. 2: garantias do delegado de polícia (Lei 12.830/13): a) impossibilidade de


remoção do delegado para outra localidade, salvo em caso de despacho
fundamentado da autoridade superior; b) impossibilidade de avocação de inquérito
policial por autoridade superior, salvo nos casos previstos em lei.
Obs. 3: O MP poderá requisitar a realização de novas diligências investigativas,
se entender necessárias para o ajuizamento da ação penal (art. 16 do CPP).

7. Arquivamento do inquérito policial (art. 28 do CPP):

-> Antes da Lei 13.964/19 (ainda em vigor)

-> cabia ao Juiz determinar o arquivamento do inquérito policial,


mediante requerimento expresso do MP (promoção de arquivamento)
-> Se o Juiz não concordasse com o requerimento de arquivamento do
MP, cabia ao Juiz indeferir o arquivamento e remeter o inquérito ao Procurador-
Geral de Justiça
-> O Procurador-Geral de Justiça poderia tomar uma das três medidas:
a) arquivar o inquérito; b) oferecer a denúncia; c) designar outro promotor de
justiça para oferecer a denúncia

-> Depois da Lei 13.964/19 (suspensa)

-> cabe ao próprio promotor de justiça determinar o arquivamento


caso entenda insuficientes as provas para ajuizar a ação penal
-> o promotor deverá encaminhar o inquérito a um órgão de revisão
do próprio MP para homologação do arquivamento
-> o promotor deverá também comunicar o arquivamento ao ofendido
(vítima), que poderá realizar pedido de revisão para o órgão de revisão do MP (30
dias)

8. Desarquivamento do inquérito policial (art. 18 do CPP): o arquivamento


do inquérito policial não produz coisa julgada material. Por isso é possível realizar
o desarquivamento do inquérito em caso de surgimento de novas provas (Súmula
524 do STF).

Obs. Exceções ao desarquivamento (STF): não é possível realizar o


desarquivamento do inquérito nos seguintes casos: a) extinção da punibilidade; b)
se for reconhecida a atipicidade da conduta (há coisa julgada material)

9. Crimes submetidos ao Juizado Especial Criminal (Lei 9.099/95):

-> Crimes de menor potencial ofensivo (com pena máxima de até 2 anos)
-> Não cabe instaurar o inquérito policial: caberá ao delegado lavrar termo
circunstanciado de ocorrência (TCO) (art. 69 da Lei 9.099/95)
-> TCO é encaminhado imediatamente ao Juizado Especial Criminal (juiz),
juntamente com a vítima e o acusado.
-> Se não possível encaminhar imediatamente o acusado ao Juizado, o
delegado deverá tomar o compromisso

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