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Ensaio sobre o conceito de “Princípios

Jurídicos”
Do conceito aos elementos constitutivos

Franklin dos Santos C. Miguel

Universidade Metodista de Angola


Direito
Conteúdo
Ensaio sobre os Princípios Jurídicos .........................Erro! Marcador não definido.
Introdução....................................................................................................................... 1
Noções Fundamentais ................................................................................................... 2
Diferentes Conceitos de Princípios ............................................................................. 3
Conceito: ..................................................................................................................... 5
Conclusão........................................................................................................................ 6

Introdução

do mesmo, pois, parece que todos de


C onfrontado com a necessidade
maneira implícita compreendem a
ideia geral do que seria um princípio
de me depreender a respeito do e, talvez pelo seu caracter transversal
conceito de “Princípio”, (do latim e profundo, dito, fundamental a
Principium, “origem, causa próxima, própria consciência geral dos
início”, de primus “o que vem doutrinadores parece um bocado
antes”, do grego Prin, de mesmo apática quanto ao conceito, como que
significado), seguido pela palavra por respeito do mesmo, pois, as
“Jurídico”, (do latim Juridicus, profundas raízes a que um principio
relacionado com a justiça), para pode estar apegado dentro de um
resultar na busca pelo conceito de sistema jurídico, justamente por
Princípio Jurídico, fui surpreendido estarem além da Lei fundamental de
ao encontrar uma inobservância de qualquer Estado, são quase que
um conceito contratualizado do indetermináveis.
mesmo, mas uma multiplicidade de
Ainda assim, investido da
tentativas todas elas demasiado
irreverência juvenil e, com todo
abstratas e, que a meu ver pouco
intrepidismo a que os novos
foram eficazes na tarefa de definir
iniciados da comunidade acadêmica
com exatidão o que seria um
jurídica mundial têm direito, o
princípio.
presente ensaio, visa apresentar um
De facto, não é uma questão conceito final para aquilo que seria
idiossincrásica como as demais que um princípio Jurídico, não distante
normalmente acompanham a dos demais, do ponto de vista da
doutrina, não há posições afirmando premissa geral utilizada para
uma coisa ao passo que outras conceituar o mesmo, mas global no
afirmam coisa diferente, o que há é seu culminar.
uma despreocupação com o conceito
Noções Fundamentais

Se formos olhar para os deles fazem resultar o sistema


princípios numa perspetiva jurídico em geral.
histórica, constataremos que os
Do entendimento que um
princípios passaram por três fases
princípio seja o fundamento, a base,
essenciais: jus naturalismo,
o começo, tem-se a ideia de ponto de
positivismo e “pós-positivismo”
partida para formulação de normas.
(Fazoli, 2007).
Mas se do princípio resulta a norma
Primeiro porque antes eles diretamente, o fio lógico usado para
não tinham força normativa nem a definição de um princípio jurídico
eficácia, mas eram entendidos como seria aquele pelo qual o conceito de
emanantes da ordem Moral ou princípio passaria por uma fonte, o
Política, mas já no século XVI com o que figura como verdadeiro uma vez
surgimento do Jus naturalismo se que os princípios fundamentais do
depreende existência de valores direito1, são fontes involuntárias do
inerentes ao ser humano que deviam direito como diz (Justos, 2019). Mas
ter um caracter superior e que não além de fontes, os princípios têm
teriam como derivada o direito outras características comuns às
positivo, no século XX no lumiar do fontes voluntários, propriamente a
positivismo jurídico os princípios Lei, como é o caso da normatividade,
eram entendidos como aqueles que acaba lhe conferindo uma
constantes explicitamente na lei, mas necessidade da observância e
o fascismo e nazismo provaram que verificação concreta do escrupuloso
o critério da legalidade para cumprimento ou da sua observância.
determinação dos princípios era Por mais relapso que pareça essa
falho, pois muitas atrocidades foram abordagem, o verdadeiro sentido
cometidas com o subterfúgio de estar lógico é: qualquer conceito de
agindo ao abrigo da lei, atualmente princípio que se tente enredar deve
estamos nesta fase pós-positivista, obedecer tais critérios, sob pena de
onde os princípios têm um dever ser preterido por defeito na
reconhecimento supralegal e, que sua compleição.

1 Ou Princípios Jurídicos
Diferentes Conceitos de Princípios

Dentre as várias definições que se pode ter de princípio2 podemos


ressaltar algumas: lógica, pragmatismo e pensamento

O professor Celso Antônio Bandeira de Mello3, citado por (Fazoli, 2007) define:
“Princípio [...] é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce
dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o
espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência exatamente por
definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe
dá sentido harmônico”.

Para o Professor Miguel Reale princípios: são enunciações normativas de valor


genérico que condicionam e orientam a compreensão do ordenamento jurídico a apliação
e integração ou mesmo para a elaboração de novas normas.

O professor Gomes Canotilho em vários momentos da sua obra aborda


sobre esta questão, em um deles afirma que: “São normas Compatíveis com vários
graus de concretização, conforme os condicionalismos fáticos e jurídicos”.4 São ainda,
segundo o mesmo autor citado por (Corrêa, 2018): fundamentos de regras, por
estarem na base ou constituírem a ratio de regras jurídicas.

Um último conceito que vamos apresentar é de (Corrêa, 2018), que


consideramos dos mais sedimentados que encontramos é:
“Princípio é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro
alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-
lhes o espírito e servindo de critério para a sua exata compreensão e inteligência,
exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, ao que lhe confere
a tônica e lhe dá sentido harmônico”.

2 Deixando implícito que em teoria qualquer operador ou estudante de direito pode construir
um conceito com base nas premissas gerais que são indissociáveis
3 Celso Antônio Bandeira de Mello (1935 – Atualmente), é um jurista e professor Universitário

brasileiro, da Pontífica Universidade Católica de São Paulo, considerado um dos maiores


Administrativistas do Brasil. O Conceito aqui enunciado foi apresentado em seu Manual, Curso
de Direito Administrativo, vide página 747-48.
4 Advindo da Obra Direito Constitucional e Teoria da Constituição, pag.1125
surgindo para densificar os

O s doutrinadores
princípios fundantes, dito de outro
modo, se da Constitucionalidade
deve-se verificar a conformidade
apresentam diversas construções com a constituição e, os diferentes
para além destas aqui apresentadas corpos normativos fora dela que a
cada uma nos seus moldes devidos, concretizam são constituição em
mas o mais comum é que deixem de sentido material e, para igualmente
fora aspetos essenciais, se por um verificar a sua conformidade decorre
lado abordam a natureza dos o princípio da legalidade.
princípios enquanto fonte de direito
Por outro lado, não debruça
declinam a sua dimensão normativa
de maneira alguma sobre a
e vice-versa, além de que os
possibilidade que um mesmo
conceitos normalmente
principio pode ser abordado de
apresentados espelham muito pouco
várias maneiras em diferentes
o caracter transversal do direito, no
facetas, querendo no final sempre
sentido que os princípios em si eles
dizer a mesma coisa, como é o caso
formam um sistema típico pela
da legalidade em geral Vs a
maneira que se correlacionam, eles
Legalidade no direito penal.
podem no padrão não ter uma
relação hierárquica, mas deles é De facto, não é uma tarefa fácil
possível inferir tal relação quando se tentar englobar todos esses traços na
verifica a situação concreta onde o construção da identidade do que
princípio é abordado. seria “princípio jurídico”, afinal os
princípios são o Universo no seu
Por exemplo: os princípios
aspeto mais geral, são o direito na
fundantes Vs os Princípios
forma pura, matéria prima para
fundamentais de uma determinada
construção das normas e, é uma
ordem constitucional. Os primeiros
tarefa hercúlea tentar colocar isso
são de concreto, o radical do sistema
numa caixa, num termo acabado.
jurídico que os adote ao passo que os
Mas disso não seria tirado proveito,
segundos subentendem-se como
se também não tentássemos aqui,
subprincípios na medida que vão
empreender o nosso conceito:
Conceito:

Os Princípios “São o remanescente jurídico de qualquer direito positivado,


trata-se do fundamento essencial e limitador de todo direito vivo e, que faz dele resultar
um conjunto de normas que compõem os diferentes regimes jurídicos sobre matéria, os
subprincípios que os compõem concretizando a sua dimensão de justiça, formando o
prisma de sistema jurídico, aplicado paralela e complementarmente a outros princípios,
ocupando uma supraposição na pirâmide das leis e, com a plena capacidade de extinguir
os efeitos das normas jurídicas que deles resultam”.

Deste conceito pode se extrair 4 elementos:

1º Elemento Imanente: O primeiro elemento que é possível destacar do conceito


é o que lhe confere o carácter de fonte do direito, pois dos princípios resultam
normas, as normas se correlacionam e formas regimes jurídicos, logo igualmente
os princípios contribuem para a noção de sistematicidade no direito.

2º Elemento Normativo: O elemento normativo ou a dimensão de justiça dos


princípios tem que ver com a necessidade da observância do seu cumprimento
escrupuloso, bem como a sua existência formal nos diplomas legais e o caracter
interpretativo e generalizado que têm quando figuram no princípio de um
regime jurídico.

3º Elemento Transversal: O elemento transversal é complexo e com duas facetas,


uma que tem que ver com a própria transversalidade do conteúdo de direito, no
sentido que um mesmo principio é abordado em vários ramos, não acredito que
haja um principio que seja de um ramo e só5; outra que permite que os princípios
sejam interpretados e organizados de maneira a que se auxiliem ou conectam-se.

4º Elemento Finalístico: O elemento finalístico não deve ser abordado no sentido


do fim pelo qual os princípios existem (teleologia), justamente porque eles não
são criados, mas observados ou na natureza ou como decorrência de algum facto
social. Este elemento é no sentido que os princípios são o limite padrão de
qualquer norma que resulte deles ou de outro princípio, assim uma das causas
primarias para que o efeito de uma norma deixe de ser verificado é a violação do
princípio pelo qual ela resulta.

5 Ainda que haja do ponto de vista formal, o direito é vivo e acaba sempre por haver mesclas.
Conclusão
Assim sendo entendemos aqui, que este seja um conceito mais acabado de
Princípio Jurídico, digno de ser contratualizado e refletido em outras dimensões
de pensamento. Não perdendo a teor de humildade cientifica admitimos ainda
que tal como ensina o psicólogo Carl G. Jung, por mais concordante que seja o
nosso conceito com os factos, a maneira exata com que me debruço sobre ele é
apenas o meu próprio ponto de vista de como as coisas são, daí que estejamos
abertos a todo tipo de críticas e correções.

Referências
Corrêa, A. d. (2018). Princípios Fundamentais de Direito Civil: Uso Inadequado da
terminologia. Universidade Autonoma de Lisboa.

Fazoli, C. E. (2007). Princípios Jurídicos. Revista UNIARA, 13-26.

Justos, A. S. (2019). Introdução ao Estudo do Direito. Coimbra Editora.

De Mello, C. A. Bandeira, (2000) Curso de Direito Administrativo, Malheiros


Editora.

Canotilho, J.J. Gomes, Direito Constitucional e teoria da Constituição, Coimbra


Editora.

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