Você está na página 1de 48

Geologia

Sistema - definição e tipos


Um sistema é um conjunto de componentes organizados em interação numa porção limitada.
Segundo características físicas, trocas de matéria e/ou de energia com a vizinhança (espaço que
rodeia um sistema sem-lhe pertencer) os sistemas classificam-se em:
● Sistema aberto: Há trocas de matéria e de energia com o meio.
● Sistema fechado: Há trocas de energia com o meio.
● Sistema isolado: Não há trocas nem de energia nem de matéria com o meio.

Sistema Terra
- A Terra é um sistema aberto quase fechado, visto que as trocas de matéria com o meio
envolvente são pouco significativas.
- No que diz respeito à energia, a Terra recebe energia do Sol (fonte primária), assim como irradia
calor (armazenado desde a sua formação), energia solar (refletida), energia da desintegração de
isótopos radioativos e calor da Biosfera (calor proveniente dos seres vivos).
- No que diz respeito à matéria, a Terra recebe matéria da queda de meteoritos ou de poeiras
cósmicas e deixa escapar um pouco de hidrogénio e de hélio (de baixas densidades) para o
espaço.
- As consequências de a Terra ser um sistema quase fechado são as seguintes: recursos limitados, a
poluição acumula-se e, ainda, qualquer alteração num dos subsistemas afeta diretamente os outros.

Subsistemas terrestres
O sistema Terra é um conjunto de 4 subsistemas abertos em interação (ou seja, que realizam trocas
tanto de matéria como de energia) e que se encontram em equilíbrio dinâmico. Atualmente, este
equilíbrio é perturbado, principalmente, pela ação do Homem. Os subsistemas são os seguintes:
● Geosfera - corresponde à parte sólida da Terra que se apresenta como um suporte à vida e
fonte de recursos para o Homem.
● Atmosfera - corresponde à camada gasosa (composta 78% por nitrogénio/azoto e 21% por
oxigénio) que envolve a Terra, protegendo-a de corpos estranhos e da radiação ultravioleta,
assim como regula a temperatura do planeta; a Atmosfera está dividida em 5 camadas:
troposfera (ar que respiramos), estratosfera (camada de ozono), mesosfera (desintegração de
meteoritos), termosfera (auroras boreais) e exosfera.
● Hidrosfera - corresponde à água do planeta que é essencial à vida e que ocupa-se da
manutenção da temperatura, sendo que esta substância circula por todos os subsistemas através
do ciclo da água; os oceanos são os maiores reservatórios de água contendo 97% da água total do
planeta; ao conjunto de todas as estruturas geladas da Terra (glaciares, calotes polares, …)
designa-se por criosfera.
● Biosfera - corresponde aos seres vivos, tal como aos seus respetivos habitats.

1
Tipos de rochas
As rochas podem classificar-se em rochas sedimentares, rochas magmáticas e rochas
metamórficas consoante o seu processo de formação. As rochas são importantes no âmbito do
estudo da Terra, uma vez que constituem importantes arquivos, nos quais se encontram registadas as
modificações geológicas, geográficas e biológicas que ocorreram ao longo da história da Terra.

Rochas sedimentares
- Têm origem na superfície ou perto dela (condições de baixa pressão e temperatura).
- As rochas sedimentares formam 5% da crosta terrestre, mas ocupam 75% da superfície terrestre.
- A formação destas rochas passa pelas seguintes etapas:
● Sedimentogénese (alteração da rocha-mãe na obtenção de sedimentos)
○ Meteorização - processos de alteração e desagregação devido à exposição aos agentes da
geodinâmica externa, como o vento, a água, a gravidade e os seres vivos.
■ Meteorização química - transformação química dos minerais existentes em novas
substâncias, devido à sua reestruturação.
■ Meteorização mecânica/física - fragmentação e desagregação das rochas em pedaços
cada vez mais pequenos.
○ Erosão - separação e remoção dos detritos da rocha-mãe pelos agentes erosivos.
○ Transporte - transporte dos materiais resultantes, sendo que a calibragem e o
arredondamento dos sedimentos estão relacionados com a duração do transporte e com o
seu agente transportador.
Vento baços, angulosos e bem calibrados

Rios angulosos, arredondados, argilosos e mal calibrados

Mares brilhantes, lavados (ausência de argila), redondos e mal calibrados

Glaciar mal calibrados e estriados

○ Sedimentação - deposição dos sedimentos em camadas (estratos) em condições propícias,


sendo que esta deposição resulta em camadas horizontais não deformadas quando em
ambiente imerso/submerso/aquático (o que acontece na maioria das vezes, mas também
acontece deposição em meio emerso/terrestre).

● Diagénese (agregação dos sedimentos numa rocha consolidada)


○ Compactação - compressão dos sedimentos.
○ Desidratação - evaporação da água que existe entre os sedimentos.
○ Cimentação - formação de um cimento natural a partir das substâncias em suspensão ou
dissolvidas na água que agrega os sedimentos numa rocha consolidada.
- As rochas sedimentares classificam-se em:
● Detríticas ou Clásticas (formam-se dos detritos das outras rochas)
○ Consolidada (sofre diagénese) - Arenito, Argilito e Conglomerado
○ Não consolidada (não sofre diagénese) - Areia, Argila e Balastros
● Quimiogénica (resulta da precipitação química de sais) - Calcário, Sal-gema e Gesso

2
● Biogénica ou Organogénica (tem origem a partir de restos de seres vivos) - Carvão, Petróleo
e Calcário conquífero
- Devido ao seu tipo de formação é possível encontrar em rochas sedimentares fósseis.

Rochas magmáticas
- Têm origem a grandes profundidades (condições de alta pressão e temperatura) a partir da
consolidação do magma com mistura de minerais fundidos.
- As rochas magmáticas são as mais abundantes da crosta terrestre.
- As rochas magmáticas classificam-se em:
● Intrusivas ou Plutónicas - Peridotito, Gabro, Diorito e Granito
○ O magma consolida-se em profundidade.
○ O arrefecimento é lento permitindo, desta forma, um bom desenvolvimento de cristais e de
minerais, tornando-os bem visíveis a olho nu (textura fanerítica).

● Extrusivas ou Vulcânicas - Basalto, Andesito e Riolito


○ O magma consolida-se à superfície ou perto dela.
○ O arrefecimento é rápido, pelo que as rochas ou apresentam cristais e minerais unicamente
visíveis ao microscópio (textura afanítica) ou não apresentam cristais (textura vítrea).
- As rochas magmáticas podem, ainda, ser classificadas como melanocratas (ricas em minerais
máficos, ou seja, minerais escuros, como é o caso do basalto e do gabro), leucocratas (ricas em
minerais félsicos, ou seja, minerais claros, como é o caso do riolito e do granito) ou mesocratas
(apresentam quantidades semelhantes de minerais máficos e félsicos, como é o caso do andesito e
do diorito).

Rochas metamórficas
- Formam-se a partir da transformação de rochas pré-existentes (sejam estas sedimentares,
magmáticas ou metamórficas) que se deslocam para zonas profundas, sofrendo um aumento de
pressão e de temperatura (sem sofrerem total fusão) que provocam a recristalização e
metamorfismo dessas mesmas rochas.
- Existem dois processos que podem estar na origem destas rochas:
● Metamorfismo de contacto - Corneana, Mármore e Quartzito
○ Rocha que em contacto com uma intrusão magmática (altas temperaturas) recristaliza.
○ Não apresentam foliação.

● Metamorfismo regional - Xisto, Gnaisse e Ardósia


○ Estas rochas estão associadas a zonas de convergência de placas, a zonas de formação de
arcos vulcânicos e a fenómenos orogénicos (edificação de cadeias montanhosas).
○ Apresentam textura foliada (alinhamento e orientação dos minerais em planos paralelos
entre si, devido à pressão).
- Certos minerais só se formam em determinados valores de pressão e temperatura, por isso são
importantes na determinação no tipo de metamorfismo de formação da rocha em estudo, por

3
exemplo a andalusite é característico do metamorfismo de contacto e a distena é característica do
metamorfismo regional. Designamos esses minerais de minerais índice.

Ciclo das rochas / Ciclo litológico


O ciclo das rochas é um conjunto de transformações do material rochoso das quais as rochas são
geradas, alteradas e destruídas por processos que ocorrem no interior e na superfície da Terra.

O ciclo das rochas é a prova de que o planeta Terra possui uma dinâmica própria e que está em
constantes modificações.
O ciclo das rochas é influenciado pelos agentes da geodinâmica interna (por exemplo, o sistema
tectónico) e pelos agentes da geodinâmica externa (tal como o ciclo da água/sistema hidrológico).

Datação relativa
A datação relativa dos estratos consiste na determinação pouco rigorosa de uma formação geológica
tendo em comparação outras formações. A ordenação dos fenómenos geológicos é feita com base
nos seguintes princípios da estratigrafia:
● Lei de Stenon
○ Princípio da horizontalidade - Os sedimentos depositam-se em camadas horizontais ou
próximas da horizontalidade devido à gravidade.
○ Princípio da sobreposição dos estratos - Senão houver qualquer alteração ou deformação
nas posições de uma sequência de estratos, então uma camada é mais recente que a de
baixo, mas mais antiga que a de cima.
● Princípio da identidade paleontológica - Um fóssil de uma camada é data do mesmo
período geológico da camada onde se encontra.
● Princípio da continuidade lateral - Um estrato tem praticamente a mesma idade em toda a
sua extensão, mesmo que em regiões diferentes.

4
● Princípio da interseção - Qualquer interseção que intersete vários estratos formou-se mais
recentemente que os mesmos.
● Princípio da inclusão - Os xenólitos (fragmentos de rocha arrancados da rocha-mãe)
incorporados num estrato são mais antigos do que o estrato.
A datação relativa aplica-se às rochas sedimentares, essencialmente.
Tanto os fósseis de fácies (fósseis de uma pequena área de distribuição geográfica, por isso relatam
a história de uma determinada região, ou seja, são de caráter paleogeográfico) como, especialmente,
os fósseis de idade (fósseis de espécies que viveram num curto espaço de tempo, mas de uma
grande dispersão geográfica, pelo que se verifica que existem numa pequena distribuição
estratigráfica) são utilizados na datação relativa de rochas.

Datação absoluta / radiométrica


A datação absoluta/radiométrica baseia-se na desintegração de isótopos radioativos naturais. Os
isótopos iniciais designados de isótopos-pai (P) devido à sua instabilidade vão ao longo do tempo
desintegrando-se dando origem a isótopos de menor radioatividade, os isótopos-filhos (F).
O tempo necessário para que a massa inicial do isótopo-pai (P) reduza para metade em isótopo-filho
(F) é chamada de semivida, o que nos permite medir a idade de uma rocha.
Quantidade de isótopo-pai (P) Quantidade de isótopo-filho (F) Semividas

100 % 0% 0

50 % 50 % 1

25 % 75 % 2

… até a quantidade de isótopo-pai ser 0 % e a quantidade de isótopo-filho ser de 100 %

Escala do tempo geológico

*Fósseis de idade: Trilobites (Paleozóico) e Amonites (Mesozóico)

5
Princípios do raciocínio geológico
Existem modelos explicativos e teorias que interpretam os processos geológicos responsáveis pela
evolução da Terra:
● Catastrofismo - George Cuvier defendia que as grandes alterações, tanto geológicas como
biológicas, que ocorrem na Terra têm a sua origem em grandes catástrofes pontuais (seguidas
de extinções em massa).
● Uniformitarismo - James Hutton afirmou que as alterações sofridas pela Terra ao longo da
sua história foram resultado dos mesmos fenómenos que a alteram no presente (princípio do
atualismo), isto porque as leis naturais são constantes/cíclicas no espaço e no tempo. Para
além disso, estes processos são lentos e graduais tal como na atualidade (princípio do
gradualismo).
● Neocatastrofismo - Esta teoria concilia os dois princípios anteriores, sendo que assenta
essencialmente no uniformitarismo. A Terra altera-se em processos lentos e cíclicos (visto que
aconteceram no passado, repetindo-se no presente), mas havendo em certos momentos
grandes catástrofes pontuais.

Mobilismo geológico
No início do século XX surgiram questões relacionadas com a mobilidade da superfície terrestre. O
estudo da mobilidade da Terra intensificou-se após a publicação da Teoria da Deriva Continental de
Alfred Wegener, em 1913. Esta teoria tem como base 4 argumentos:
● Argumento paleontológico - Existência dos mesmos fósseis (de idade), com igual idade, em
partes distantes do globo.
● Argumento morfológico - Correspondência entre as formas dos atuais continentes (como um
puzzle).
● Argumento litológico - Existência de rochas e estratos iguais que datam do mesmo período
geológico em continentes atualmente separados.
● Argumento paleoclimático - Existência de vestígios de climas semelhantes em zonas
atualmente distantes.
Este geólogo afirmou ainda que os continentes já teriam estado unidos num único supercontinente,
a Pangeia, rodeada por um enorme e único oceano, a Pantalassa. Este continente foi-se
fragmentando até surgirem os atuais continentes, assim como os atuais oceanos.
No entanto, devido à incapacidade de Wegener de explicar o agente responsável pela movimentação
dos continentes esta teoria não foi aceite na altura.

Teoria da Tectónica de Placas


Esta é a teoria atual que tendo em conta os argumentos de Wegener, confirma/explica a mobilidade
dos continentes. A teoria afirma que a superfície terrestre (litosfera) está dividida em placas que
suportam os continentes e os oceanos. Estas placas movimentam-se sobre a astenosfera (zona com
comportamento plástico) através da ação das correntes de convecção. As placas separam-se umas
das outras por falhas e é nos seus limites que as forças tectónicas são mais evidentes.

6
Limites de placas
Esquema Limite Caráter Exemplo

Transformante Conservativo
(as placas movem-se (não há nem destruição nem criação Falha de Santo André
lateralmente) de nova crusta)

Destrutivo
(ocorre subducção da placa mais Dorsal Médio-Atlântica
Convergente densa, isto é, em zonas de fossas
(as placas colidem) oceânicas, onde há destruição dessa Vale do Rifte Africano
placa, sendo que por vezes há
formação de montanhas)

Construtivo
(situam-se em dorsais oceânicas Cordilheira dos Andes
Divergente divididas ao meio por um rifte onde
(as placas afastam-se) há ascensão de magma que Cordilheira dos Himalaias
solidifica criando nova crosta
litosférica que leva à expansão dos Ilhas Aleutas
fundos oceânicos)

*Uma vez que há destruição e criação de crosta é mantido um equilíbrio dinâmico, caso contrário o raio da Terra
aumentaria o que não acontece visto que esse equilíbrio mantém-se.

Métodos diretos de estudo do interior da Terra


Os métodos diretos permitem estudar diretamente o interior da Terra, através da ocorrência de
fenómenos naturais e de algumas técnicas. No entanto, estes métodos são limitados pela
temperatura e pela pressão, por isso só foi ainda possível estudar diretamente cerca de 12 km de
profundidade.
● Sondagens: Furos verticais na crosta, obtendo-se colunas de rochas (carotes) com muitos
anos de história.
● Explorações minerais: Recolha de rochas até 4 km de profundidade, podendo nós estudá-las
posteriormente.
● Vulcanismo: Os vulcões expelem materiais oriundos de grandes profundidades, sendo assim
possível obter informações sobre os materiais que constituem o interior da Terra. Os xenólitos
são exemplos desses materiais.
● Estudo da superfície visível: Afloramento de rochas e outros materiais formados a grandes
profundidades. Estes afloram devido à erosão e aos movimentos tectónicos da litosfera.

Métodos indiretos de estudo do interior da Terra


● Planetologia e astrogeologia: Estudo dos meteoritos, criação de hipóteses de formação do
sistema solar (incluindo a Terra) e recolha de material em viagens espaciais.
● Gravimetria: Determinação da aceleração gravítica da Terra, tendo em conta as variações ao
longo da superfície, as designadas anomalias gravimétricas que podem ser positivas (rochas de

7
maior densidade, como as rochas magmáticas) ou negativas (rochas pouco densas, como o
sal-gema). Mede-se com gravímetros.
● Geomagnetismo: Explica a existência de um campo magnético que ao longo dos anos já se
alterou - polaridade normal/anomalia positiva (polo norte magnético próximo do polo norte
geográfico) como é o caso da polaridade atual, e polaridade inversa/anomalia negativa (polo
norte magnético próximo do polo sul geográfico). Este estudo é possível, pois o magma basáltico
que sai do rifte é rico em minerais ferromagnesianos que ao cristalizarem e ao atingirem o ponto
de Curie, magnetizam e incorporam a
orientação do campo magnético da época de
formação. Este processo repete-se para os
dois lados do rifte, explicando assim o
movimento das placas. Os fundos oceânicos
apresentam zonas de polaridade normal
(rochas cujos cristais incorporam uma
sobreposição do campo atual sob o campo do
passado) e zonas de polaridade inversas
(rochas cujos cristais incorporam apenas a
orientação do campo do passado -
paleomagnetismo).
● Sismologia: Interpretação do comportamento das ondas sísmicas registadas e medidas num
sismógrafo e analisadas num sismograma, sendo que este estudo permitiu inferir que a
constituição da Terra não é homogénea, visto que as ondas P e S não chegam ao mesmo tempo
aos diferentes lugares da Terra.
● Geotermismo: Estudo da temperatura do interior da Terra.
○ Fluxo térmico - Calor libertado para o exterior, sendo maior junto aos riftes e menor quanto
maior a distância ao rifte.
○ Grau geotérmico - Distância necessária aprofundar desde a superfície terrestre para que a
temperatura aumenta 1ºC, sendo que este valor aumenta com o aumento da profundidade.
○ Gradiente geotérmico - Variação de temperatura por cada 1 km de profundidade, sendo que
este valor diminui com o aumento da profundidade.

Tipos de vulcanismo

8
Aparelho vulcânico
- Cratera: Abertura da chaminé por onde são expelidos os materiais vulcânicos.
- Chaminé vulcânica: Canal que liga a câmara magmática com o exterior.
- Câmara magmática: Local no interior da Terra onde ocorre acumulação de magma.
- Cone vulcânico: Estrutura de forma cónica que resulta da acumulação de materiais vulcânicos
em redor da cratera.
- Chaminé, cone e cratera secundários/adventícios: Formados devido à pressão exercida pelo
magma na chaminé principal durante a sua subida.
*Quando ocorrem fortes erupções estas causam o esvaziamento da câmara magmática, levando o teto a abater
afundando o aparelho vulcânico que forma uma depressão, designada de caldeira.

Tipos de atividade vulcânica


● Erupção explosiva
○ As lavas são viscosas, devido à riqueza em sílica (+ de 65%-70% de SiO2), ácidas, muito
quentes e com grande teor de gases.
○ Dada a sua viscosidade, estas lavas não originam escoadas, acabando por solidificar na
chaminé, originando materiais longos e pontiagudos designados de agulhas, ou solidifica no
interior da cratera, dando origem a domas/cúpulas, materiais de forma arredondada.
○ Devido à acumulação de gases comprimidos na câmara magmática, estas erupções tornam-se
violentas, resultando em grandes explosões.
○ Durante estas erupções são projetados fragmentos que acumulam-se na cratera, originando
cones altos e estreitos. Estes fragmentos são designados genericamente por piroclastos que
podem ser:
■ Piroclastos de queda - Materiais sólidos que têm diferentes nomes consoante as suas
dimensões (cinzas < lapilli < bombas < blocos).
■ Piroclastos de fluxo (nuvens ardentes) - Fragmentos envolvidos em gases, a elevadas
temperaturas, que se deslocam junto ao solo.

● Erupção efusiva
○ As lavas são pouco viscosas/fluídas, devido à pobreza en sílica (- de 50% de SiO2), básicas,
bastante quentes e pouco teor de gases.
○ Devido à sua fluidez, a libertação destas lavas é rápida, formando escoadas de lava que dão
origem a cones baixos e largos (vulcões em escudo). As escoadas podem ser:
■ Mantos de lava - A lava cobre grandes áreas de terreno plano.
■ Correntes de lava - Rios de lava causados pelo declive acentuado do cone.
○ Estas escoadas de lava quando solidificam podem assumir várias formas:
■ Lavas encordoadas (pahoehoe) - Lavas muito fluidas e lisas que se fazem parecer com
cordas sobrepostas.
■ Lavas escoriáceas (aa) - Lavas menos fluidas, dando origem a superfícies irregulares,
ásperas e porosas.
■ Lavas em almofada (pillow lava) - Originam-se em erupções submarinas, tendo assim um
arrefecimento (na água) muito rápido, formando massas arredondadas.

9
● Erupção mista
○ Está associada a lavas intermédias (viscosidade intermédia; teor em gases médio;
temperaturas variáveis).
○ Caracteriza-se pela alternância de erupções explosivas e efusivas.
○ Caso haja entrada de água no aparelho vulcânico há uma maior vaporização (causado pelas
altas temperaturas), contribuindo para fases explosivas.
○ Esta alternância de atividade vulcânica leva à formação de camadas alternadas de lava
solidificada e de piroclastos, originando, assim, estratovulcões/vulcões compósitos.

Vulcanismo & Tectónica de Placas


● Limites divergentes: Vulcanismo fissural e/ou efusivo - Dorsais médio-oceânicas.
● Limites convergentes: Vulcanismo explosivo ou misto - Anel de Fogo do Pacífico.
● Vulcões intraplacas: Devido à instabilidade da camada D’’ leva à libertação de uma pluma
térmica que atravessa o manto penetrando a litosfera, originando um ponto quente de libertação
de magma, ou seja, há criação de um vulcão ativo (hot spot). Mas como a placa oceânica se
move continuamente sobre o ponto quente leva ao afastamento e extinção do vulcão ativo, e à
origem de novos vulcões ativos sobre o ponto quente, formando-se um alinhamento de vulcões -
Arquipélago do Hawaii.

Riscos e medidas de previsão de erupções


● Riscos: Destruição de estruturas edificadas; incêndios; soterramento de estruturas edificadas;
destruição de campos de cultivo agrícola; problemas respiratórios e oculares; acidentes de
aviação; contaminação de águas e do ar; ocorrência de sismos; etc.
● Previsão de erupções:Interpretação de dados sismológicos; monitorização da qualidade da água
subterrânea das regiões vulcânicas; monitorização de anomalias gravimétricas resultantes de
movimentação de magma; monitorização dos gases das fumarolas; etc.

Sismos

10
Teoria do Ressalto Elástico
Segundo a teoria do ressalto elástico, as rochas são sujeitas a forças contínuas, o que leva à sua
deformação. Quando atingem o seu limite de elasticidade dá-se a rutura da massa rochosa,
havendo o deslizamento brusco (ressalto) de um bloco rochoso relativamente ao outro. Quando da
rutura há libertação de energia acumulada sob a forma de ondas elásticas e calor.

Propagação das ondas sísmicas


● Hipocentro/Foco: Local no interior da Terra onde ocorre a libertação de energia. Conforme a
profundidade do foco classificamos os sismos em superficiais (<70 km), intermédios (70-300
km) e profundos (>300 km).
● Epicentro: Local à superfície da Terra,
situado na vertical do hipocentro.
● Frentes de onda: Superfícies esféricas
definidas pelo conjunto de pontos que se
encontram na mesma fase do movimento.
● Raios sísmicos: Direções de propagação da
onda perpendiculares à frente de onda.
*Um tsunami é originado por um epicentro no oceano
que liberta energia fornecida à água, gerando ondas
gigantes que se movem depressa.

Ondas sísmicas

11
Tipos de falhas em sismos tectónicos
Tipo de Tipo de forças Limite tectónico Orientação do Esquema
falha associadas associado deslocamento dos blocos

Falha normal Forças Limite divergente Descida do teto face à


distensivas superfície/ao muro.

Falha inversa Forças Limite convergente Subida do teto face à


compressivas superfície/ao muro.

Falha de Forças de Limites transformantes Movimento lateral e


desligamento cisalhamento paralelo dos blocos.

Localização dos sismos


- Sismos interplaca (95%): Limites das placas litosféricas.
- Sismos intraplaca (5%): Falhas ativas na placa (por exemplo, em zonas de hot spot).

Registo de um sismo
O sismógrafo é o aparelho que regista a chegada das ondas sísmicas sob a forma de sismogramas
que permitem determinar a distância epicentral (distância entre uma estação sismográfica e o
epicentro de um sismo, sendo que como as ondas P e S apresentam diferentes velocidades, então
quanto maior for o atraso de chegadas dessas ondas, maior é a distância ao epicentro) e a
magnitude do sismo. Para um mesmo sismo, ao traçarmos, num mapa, a distância epicentral de
diferentes estações sismográficas consegue-se a localização aproximada onde ocorreu o sismo.

Intensidade de um sismo
● A intensidade de um sismo é subjetiva, visto que parte daquilo que cada um sentiu (esta
avaliação é feita através de inquéritos às populações e na observação direta dos estragos).
● A escala utilizada é a escala de Mercalli Modificada, uma escala fechada de natureza
qualitativa, constando de 12 graus (I - XII) que traduzem a destruição.

12
● A partir do registo de diferentes graus de cada região é possível traçar isossistas, isto é, linhas
curvas que unem áreas de igual intensidade sísmica, separando assim as áreas onde se verificam
diferentes graus de intensidade.
● A intensidade de um sismo tende a diminuir com a distância ao epicentro.
*Nota: A irregularidade das isossistas deve-se à natureza dos materiais rochosos atravessados serem diferentes, logo as
ondas sísmicas não se propagam da mesma maneira com diferentes materiais. + Como no mar não existem edificações
nem pessoas a viver não é possível determinar a intensidade sísmica, daí não serem representadas isossistas ou então
representadas a tracejado num mapa de isossistas.

Magnitude de um sismo
● A magnitude de um sismo é objetiva, uma vez que é calculada matematicamente, estando
associada à quantidade de energia libertada no hipocentro do sismo.
● Usa-se a escala de Richter, uma escala aberta/ilimitada de natureza quantitativa, constando
de 10 graus (1-10), atualmente, para traduzir a magnitude do sismo.
*Nota: O aumento de um grau nesta escala corresponde a cerca de trinta vezes mais energia libertada.

Sismicidade no mundo Sismicidade em Portugal


Cintura mediterrânico-asiática Arquipélago dos Açores
Zonas de dorsais oceânicas Península de Setúbal
Anel de Fogo do Pacífico Área metropolitana de Lisboa
Região do Algarve

Danos e medidas de minimização de danos dos sismos

*Nota: Não é possível prever com exatidão a ocorrência de um sismo.

13
Descontinuidades internas
● Descontinuidade de Mohorovicic ou Moho
A descontinuidade de Moho representa a fronteira entre a crosta e o manto (a 35-70 km de
profundidade). Algumas das ondas P e S quando mergulham mais profundamente e atingem esta
superfície, experimentam um aumento da velocidade associado à mudança da natureza dos
materiais.
● Descontinuidade de Gutenberg
A descontinuidade de Gutenberg representa a fronteira entre o manto e o núcleo externo (a
2883 km de profundidade). A partir daqui as ondas S deixam de se propagar e a velocidade
das ondas P desce drasticamente, devido à mudança de estado físico (o manto é sólido e o
núcleo externo é líquido, ou seja, há uma diminuição da rigidez) e aumento da densidade.
Gutenberg observou que para cada sismo existe uma zona de sombra sísmica, isto é, onde não
são recebidas ondas sísmicas, devido ao estado físico dos materiais do núcleo externo. Entre os
103º e os 143º de latitude do epicentro não são registadas ondas P que refratam voltando a ser
detetadas após os 143º, enquanto que as ondas S deixam de se propagar a partir dos 103º de
latitude do epicentro.
● Descontinuidade de Lehmann
A descontinuidade de Lehmann representa a fronteira entre o núcleo externo e o núcleo
interno (a 5150 km de profundidade). A velocidade das ondas P aumenta, devido à diferença
de estados físicos (o núcleo externo é líquido e o núcleo interno é sólido - aumento da rigidez).
*Nota: A velocidade das ondas sísmicas aumenta com a rigidez e diminui com a densidade (varia com o estado físico).

Caracterização do interior da Terra


● Pressão: A pressão aumenta com a profundidade, tornando os materiais mais densos e subindo o
ponto de fusão dos mesmos. A variação de pressão por quilómetro de profundidade é designada
de gradiente geobárico.
● Temperatura: Aumenta com a profundidade tal como a pressão, sendo que em certas regiões as
condições de pressão e temperatura combinam-se fundindo o material, parcial ou totalmente.
● Densidade: A densidade tende a aumentar com a profundidade, sendo os materiais menos
densos que constituem a crosta, enquanto que os materiais mais densos estão no núcleo (12 e 13
de densidade).
● Velocidade das ondas sísmicas: As variações na velocidade das ondas sísmicas permite
estabelecer zonas de descontinuidades onde existem materiais com diferentes propriedades. Esta
grandeza varia com a profundidade, e aumenta com a rigidez e diminui com a densidade dos
materiais.
● Composição dos meteoritos: Admitimos que os meteoritos foram originados de corpos
diferenciados, mas que apresentam correspondência com zonas estruturais da Terra. Por
exemplo, assume-se que os sideritos1 têm uma composição idêntica à do núcleo terrestre.

1
Os sideritos são meteoritos constituídos, essencialmente, por ligas de ferro e níquel (tal como ao núcleo da Terra). São bastante
raros, apresentando-se como 6% dos meteoritos de queda. Apresentam uma densidade bastante elevada (até 7,5).

14
Os dados geofísicos, matemáticos, experiências laboratoriais e a astrogeologia permitiram avaliar
a densidade, temperatura, pressão, velocidade das ondas sísmicas e a composição dos meteoritos
que estão na base da construção dos modelos geofísico e geoquímico da Terra.

Modelo Geoquímico
● Este modelo admite que a Terra está dividida em 3 camadas:
crusta/crosta, manto e núcleo.
● As camadas estão separadas por descontinuidades:
○ Descontinuidade de Mohorovicic: Crosta - Manto
○ Descontinuidade de Gutenberg: Manto - Núcleo externo
○ Descontinuidade de Lehmann: Núcleo externo - Núcleo interno
● Crusta:
○ Crusta oceânica (basalto; 5-10 km de profundidade; silicatos e
magnésio)
○ Crusta continental (granitos e rochas metamórficas; 35-70 km de
profundidade; silicatos e alumínio)
● O manto é essencialmente constituído por peridotito2 (manto
superior) e perovskite3 (manto inferior).
● A zona de transição é uma parte do manto, localizada entre o manto
inferior e superior, com cerca de 250 km de espessura. Esta zona apresenta uma constituição
bastante semelhante à do manto superior.

Modelo Físico
● Este modelo admite que a Terra está dividida em 4 zonas: litosfera,
astenosfera, mesosfera e endosfera.
● A litosfera é constituída por materiais sólidos que apresentam um
comportamento frágil e quebradiço.
● A astenosfera é composta por materiais sólidos, mas com
comportamento plástico, isto é moldável.
*Importância da Astenosfera
- Representa a zona com comportamento plástico na qual existem
correntes de convecção que seriam responsáveis pela movimentação
das placas litosféricas rígidas, explicando, assim, a Teoria da
Tectónica das Placas.
- Será uma fonte de magma basáltico que resulta da fusão parcial de
peridotito que se subir através da litosfera explicaria alguns
fenómenos de vulcanismo.

2
Os peridotitos são rochas magmáticas vulcânicas/extrusivas, essencialmente, ricas em piroxenas e olivinas, ou seja, de magma
ultrabásico, segundo a série de Bowen. Constituídos por minerais máficos. Densidade bastante alta.
3
A perovskite é um mineral rico em óxido de cálcio e titânio (CaTiO3) associado a rochas metamórficas e a intrusões magmáticas
basálticas.

15
Camada D’’
● A camada D’’ corresponde à zona de separação entre o manto e o núcleo, e tem espessura
variável (100-200 km).
● É na camada D’’ que o núcleo externo transfere o seu calor para o manto, facto através do qual
alguns investigadores admitem que a camada D’’ é a fonte das plumas térmicas, isto é, matéria
menos viscosa e pouco densa que é libertada do manto e que ascende como uma coluna de calor
que penetra a litosfera, originando um ponto quente/hot spot.
● As partes frias desta camada, provavelmente, corresponderão às profundidades onde as placas
litosféricas mergulham nas zonas de subducção.

16
Biologia
● Biologia: Campo da ciência que tem como objeto de estudo todas as formas de vida e de todos
os ecossistemas onde se integram/habitam.
● Biosfera: Subsistema da Terra que suporta todos os seres vivos, os seus ambientes e as relações
estabelecidas entre eles. Situa-se entre 11 km de profundidade e 9 km de altitude.
● Biodiversidade: Compreende a quantidade e variedade de seres vivos.
○ Diversidade genética: Dentro e entre populações da mesma espécie existe uma variedade
genética.
○ Diversidade de espécies: Variedade entre espécies em diferentes habitats da Terra.
○ Diversidade ecológica: Diversidade de comunidades presentes nos diferentes ecossistemas.

Organização Biológica
01. Átomo - unidade básica da matéria, por exemplo o nitrogénio (N) e o oxigénio (O)
02. Molécula - grandes conjuntos de átomos, por exemplo o H2O e o CO2
03. Célula - unidade básica da vida, por exemplo uma célula nervosa e uma célula procariótica
04. Tecido - conjuntos de muitas células, por exemplo o tecido muscular e o tecido ósseo
05. Órgão - conjunto de muitos tecidos, por exemplo o coração e os pulmões
06. Sistema de órgãos - conjunto de órgãos, por exemplo o sistema digestivo
07. Organismo - cada espécie apresenta um organismo diferente, por exemplo um animal
08. População - organismos da mesma espécie que vivem num certo lugar
09. Comunidade - populações que vivem no mesmo lugar numa certa área
10. Ecossistema - comunidade + ambiente + relações estabelecidas
11. Biosfera - abrange todos os ecossistemas da Terra
*Componente biótica: seres vivos e as relações entre eles / Componente abiótica: fatores do meio

Relações tróficas num ecossistema


Os seres vivos de um ecossistema estabelecem relações tróficas (alimentares) que envolvem
transferências de matéria e energia, quer entre os seres vivos quer entre os seres vivos e o meio. As
cadeias alimentares inter-relacionam-se, originando as teias alimentares ou redes tróficas.

17
*Nota: Ao longo da cadeia alimentar ocorre transferência de energia de forma unidirecional, sendo que cada nível
trófico recebe 10% da energia do nível trófico anterior. Quanto à matéria, os produtores transformam matéria mineral
em orgânica que é consumida e transferida pelos consumidores até chegar aos decompositores que a transformam de
novo em mineral, devolvida ao meio para voltar ao ciclo de matéria.

Relações bióticas
Os fatores bióticos são todas as interações que os seres vivos realizam entre si, mantendo o
equilíbrio dos ecossistemas. As interações entre seres vivos da mesma espécie são designadas de
interações intraespecíficas, enquanto que as interações entre seres vivos de espécies distintas são
designadas de interações interespecíficas.
● Interações intraespecíficas
○ Cooperação (+ / +): Os seres vivos contribuem para o benefício do grupo, que tanto pode
ser uma sociedade (os indivíduos organizados hierarquicamente com divisão de tarefas)
como uma colónia (os indivíduos não vivem em hierarquia ajudam-se mutuamente).
Exemplo: família de elefantes
○ Competição (- / -): Os seres vivos competem por benefício pessoal (seja por alimento, por
acasalamento ou por reprodução) e não pelo bem comum do grupo, acabando os dois por
saírem prejudicados.
Exemplo: dois leões
○ Canibalismo (+ / -): Um ser vivo mata outro para se alimentar desse mesmo ser.
Exemplo: dois ursos

● Interações interespecíficas
○ Cooperação (+ / +): É uma relação facultativa em que ambos os seres vivos intervenientes
saem beneficiados
Exemplo: crocodilo e pássaro-palito
○ Mutualismo (+ / +): É uma relação facultativa e/ou temporária (ou seja, sobrevivem de
forma independente) em que ambos os seres são beneficiados.
Exemplo: abelha e flor (polinização)
○ Simbiose (+ / +): É uma relação obrigatória/permanente (ou seja, sem esta os seres
morrem) na qual todos os seres são beneficiados
Exemplo: algas e fungos = líquen
○ Competição (- / -): Os seres competem pelo mesmo recurso (alimento, luz, …) pelo que
ambos os seres saem desfavorecidos.
Exemplo: abutres e hienas
○ Predação (+ / -): Um dos seres vivos é beneficiado (predador), enquanto que o outro é
prejudicado (presa). Isto é, o predador mata a presa para se alimentar dela.
Exemplo: leão e zebra
○ Herbivorismo (+ / -): Um ser vivo herbívoro come uma parte ou totalmente uma planta
que sai desta relação prejudicada.
Exemplo: coelho e erva
○ Parasitismo (+ / -): O parasita beneficia-se ao alimentar-se do hospedeiro que é
prejudicado nesta relação. Pode ser endoparasitismo (se o parasita reside no interior do

18
organismo do hospedeiro) como pode ser ectoparasitismo (se o parasita reside no exterior
do corpo do hospedeiro).
Exemplo: pulga e cão (ectoparasitismo) ; ténia e porco (endoparasitismo)
○ Amensalismo (- / 0): Um dos intervenientes é prejudicado (amensal) e outro não é
beneficiado nem afetado (inibidor).
Exemplo: planta e elefante
○ Comensalismo (+ / 0): Um dos seres vivos é beneficiado (comensal) e outro nem é
beneficiado nem prejudicado (inibidor).
Exemplo: rémora e tubarão

Célula, unidade básica da vida


Robert Hooke inventou o 1º microscópio ótico, instrumento ótico que obtém imagens ampliadas
de substâncias extremamentes pequenas, o que permitiu a observação de células, sendo que alguns
dos seus constituintes apenas são visíveis a microscópio eletrónico (de maior ampliação).
O estudo do organismo dos diversos seres vivos levou à criação, na atualidade, da teoria celular:
- A célula é a unidade básica de estrutura e função dos seres vivos.
- Todas as células têm origem em células pré-existentes.
- A célula é a unidade de reprodução, de desenvolvimento e de hereditariedade dos seres vivos.
Do ponto de vista morfológico, existem dois grupos de células, com características distintas entre si,
as células procarióticas (seres unicelulares do reino Monera) são as mais simples, enquanto que as
células eucarióticas (seres unicelulares e pluricelulares dos reinos Fungi, Plantae, Animalia e
Protista) são as mais complexas.

Célula procariótica vs Célula eucariótica


As células procarióticas distinguem-se das células eucarióticas por serem bastante simples, por não
terem núcleo individualizado com membrana nuclear (o seu material genético encontra-se
espalhado no citoplasma, sem qualquer organização) e pela ausência de organelos membranares
(apenas têm ribossomas) no seu citoplasma.

Célula procariótica

19
Célula eucariótica animal

*Nota: A forma desta célula depende da função que desempenha.

Célula eucariótica vegetal

*Nota: A única parte de uma planta que não possui cloroplastos é a sua raiz.
**Nota: Esta célula tende a apresentar uma forma poliédrica.

Constituintes básicos de uma célula


● Água (H2O) - 74%
○ É uma molécula polar que se liga a outras moléculas de água por pontes de hidrogénio,
formando assim uma forte rede de moléculas.
○ Tem como funções vitais:

20
■ Essencial nas reações de hidrólise;
■ Solvente universal, intervindo em diversas reações químicas;
■ Transporte de materiais nutritivos necessários às células e de produtos de excreção;
■ Regulação térmica (por exemplo, através do suor).
● Compostos orgânicos / Biomoléculas - 25%
○ São moléculas constituídas, essencialmente, de hidrogénio (H), de carbono (C) e de oxigénio
(O), podendo também intervir átomos de nitrogénio (N), de fósforo (P) e de enxofre (S).
○ Os 25% de biomoléculas nas células correspondem a…
■ 16% de prótidos
■ 5% de ácidos nucleicos
■ 3% de lípidos
■ 1% de glícidos/hidratos de carbono
○ As biomoléculas são, geralmente, cadeias enormes formadas por unidades mais pequenas
designadas de monómeros (molécula pequena que se liga covalentemente a outras para
formar polímeros) que ligados entre si formam os polímeros (cadeia enorme e complexa
formada de monómeros ligados entre si).
○ Aquando da junção de monómeros na formação de polímeros com libertação de uma
molécula de água designa-se de reação de síntese/de polimerização/de condensação.
○ Aquando da desagregação dos monómeros de um polímeros com consumo de moléculas de
água designa-se de reação de hidrólise/de despolimerização.
● Outras substâncias (como sais minerais) - 1%

Hidratos de carbono / Glícidos / Glúcidos


● Compostos ternários de fórmula geral CnH2nOn.
● São os primeiros compostos a serem queimados pelo organismo.
● Os seus monómeros são designados de monossacarídeos (oses).
● Os hidratos de carbono podem ser classificados em monossacarídeos (unidade base),
oligossacarídeos (conjunto de dois a dez monossacarídeos ligados entre si através de ligações
glicosídicas) e polissacarídeos (cadeias lineares ou ramificados de muitos monossacarídeos).

Monossacarídeos
● Classificam-se conforme o número de átomos de carbono que tenham - trioses (3 carbonos),
tetroses (4 carbonos), pentoses (5 carbonos), hexoses (6 carbonos), etc.
● Os monossacarídeos mais importantes são:
○ Hexoses - Glicose (principal fonte de energia das células), frutose (conhecida como o
açúcar da fruta) e galactose.
○ Pentoses - Ribose e desoxirribose (tem menos um átomo de oxigénio que a ribose).

Oligossacarídeos
● Classificam-se conforme o número de monossacarídeos que o constituem - dissacarídeos (2
monossacarídeos), trissacarídeos (3 monossacarídeos), etc.

21
● Formam-se entre ligações glicosídicas entre dois grupos hidróxilo.
● Os dissacarídeos mais importantes são:
○ Maltose (glicose + glicose)
○ Sacarose (glicose + frutose) - conhecida como açúcar “normal”
○ Lactose (glicose + galactose) - conhecida como açúcar do leite

Polissacarídeos
● Os polissacarídeos mais importantes são:
○ Celulose - reguladora intestinal + componente estrutural da parede celular das células
eucarióticas vegetais
○ Amido - reserva energética das plantas
○ Gicogénio - reserva energética dos animais

- na quebra de ligações liberta-se energia


Energética - alguns são reservas energéticas, como o amido, o
glicogénio e a laminaria
Funções dos
glícidos - a celulose e a quitina são exemplos de glúcidos que
Estrutural
constituem células de alguns seres

Reserva - açúcares de reserva, como a glicose

Lípidos
● Os lípidos são formados basicamente por átomos de carbono, hidrogénio e oxigénio, mas
contendo, geralmente, átomos de nitrogénio ou de enxofre ou de fósforo.
● São os segundos a serem queimados no organismo.
● Os seus monómeros são compostos por glicerol + ácidos gordos.
● Os lípidos podem-se classificar conforme as suas propriedades químicas: nos mais simples
encontramos os triglicerídeos/gorduras e nos mais complexos os fosfolípidos.

22
Energética - as gorduras são uma importante fonte de energia

- o colesterol e os fosfolípidos são exemplos de lípidos


Estrutural que fazem parte da constituição das membranas
Funções dos celulares
lípidos
Protetora e - as ceras compõem a pele, os pêlos e as penas
impermeabilidade

Vitamínica e - vitaminas A, D, E e K são constituídas por lípidos


hormonal - estrogénio e testosterona têm composição lipídica

Prótidos
● Compostos quaternários formados de carbono, hidrogénio, oxigénio e nitrogénio.
● Os seus monómeros são designados de aminoácidos.
● Dentro dos prótidos podemos encontrar os aminoácidos (unidade base), os péptidos (conjunto de
dois ou mais aminoácidos que se ligam através de uma ligação peptídica, isto é, uma ligação
entre o grupo amina de um aminoácido e o grupo carboxilo de outro aminoácido) e as proteínas
(cadeias complexas de muitos aminoácidos ligadas entre si).
● Existem 20 aminoácidos essenciais à célula.

Aminoácidos

Todos os aminoácidos são constituídos por um grupo


amina e por um grupo carboxilo, assim como por um
radical variável específico de cada aminoácido.

Péptidos
● Classificam-se conforme o número de aminoácidos por que são constituidos - dipéptidos (2
aminoácidos), tripéptidos (3 aminoácidos), oligopéptidos (2-20 aminoácidos) e polipéptidos
(+ de 20 aminoácidos).

Proteínas
● As proteínas podem apresentar diferentes estruturas:
○ Estrutura Primária - cadeia simples

23
○ Estrutura Secundária
∝-hélice (das proteínas fibrosas) β-pregueada (como a seda aracnídea)

○ Estrutura Terciária ○ Estrutura Quaternária


(como a hemoglobina)

● Desnaturação: Perda da função biológica da proteína por quebra de ligações de hidrogénio


devido a alterações das condições ambientais, como o pH e a temperatura, sendo irreversível.

Enzimática algumas proteínas são biocatalisadores, como a sacarase

Estrutural constitui todos os constituintes celulares

Transporte transporte de iões e moléculas, como a hemoglobina


Funções dos
prótidos Motora proteínas presentes nos músculos, como a actina e a miosina

Hormonal a insulina e a adrenalina são exemplos de proteínas hormonais

Imunológica os anticorpos têm constituição proteica

Reserva alimentar a albumina do ovo é um exemplo de proteína

Ácidos nucleicos
● Os monómeros dos ácidos nucleicos são designados de nucleótidos.
● Os seus polímeros, DNA/ADN e RNA/ARN, são macromoléculas formadas por nucleótidos
ligados entre si através de ligações fosfodiéster (grupo fosfato de um liga-se à pentose do outro).

Nucleótidos
● base azotada (anel duplo: guanina e adenina / anel simples: citosina, timina ou uracilo)
● pentose (ribose ou desoxirribose)
● grupo fosfato (torna a molécula ácida)

24
Ácidos nucleicos - DNA (Ácido desoxirribonucleico)
● O DNA apresenta como pentose a desoxirribose.
● As bases azotadas do DNA são adenina, timina, guanina e citosina.
● O DNA é formado por 2 cadeias polinucleotídicas unidas por pontes de
hidrogénio entre as bases azotadas (adenina - timina ; guanina -
citosina), formando cadeias que se enrolam em dupla hélice.
● O DNA é uma biomolécula envolvida no suporte da informação
genética, visto que as sequências nucleotídicas do DNA correspondem
aos genes que definem as características biológicas do ser vivo.
*Nota: As características biológicas do DNA são únicas em cada pessoa.

Ácidos nucleicos - RNA (Ácido ribonucleico)


● O RNA apresenta como pentose a ribose.
● As bases azotadas do RNA são adenina, uracilo, guanina e citosina.
● O RNA é formado por uma única cadeia polinucleotídica simples,
formada pela união dos nucleótidos ligados entre si pelo grupo fosfato de
um com a ribose do outro.
● O RNA é uma biomolécula envolvida, essencialmente, na cópia e
transferência de informação genética.

Genética detêm e transmitem a informação genética, intervindo na


Funções dos atividade celular
ácidos nucleicos
Síntese proteica uma vez que tanto o DNA como RNA têm em parte composição
proteica são utilizados na síntese proteica

Sais minerais
● Os sais minerais são basicamente iões inorgânicos essenciais ao normal crescimento,
funcionamento e reprodução dos organismos. É por isso que apesar da sua pouca abundância nos
seres vivos, são muito importantes.

intervêm na formação da componente óssea e dos dentes, por


Estrutural
exemplo o cálcio (Ca), o sódio (Na) e o potássio (K)

Funções sais regulação de processos vitais, como o sódio (Na) e o potássio


Reguladora
minerais (K) no funcionamento das células nervosas

atuam no crescimento e desenvolvimento de componentes do


Plástica/Construtiva
organismo, como o ferro (Fe) e o iodo (I)

25
Seres heterotróficos vs Seres autotróficos
● Seres heterotróficos: Estes seres produzem o seu alimento a partir de matéria orgânica já
existente no meio ambiente (heterotrofia).
● Seres autotróficos: Estes seres produzem matéria orgânica, da qual se alimentam, a partir de
matéria inorgânica por processos de fotossíntese ou de quimiossíntese (autotrofia).
○ Seres fotoautotróficos: Produzem o seu próprio alimento utilizando a luz do Sol como
fonte de energia. Ex: algas, plantas, cianobactérias
○ Seres quimioautotróficos: Produzem o seu próprio alimento utilizando a energia química
da oxidação de substâncias. Ex: bactérias nitrificantes ou sulfurosas ou ferrosas

Modelo de Davson e Danielli (1935 / 1954)


Em 1885 foi descoberta que a célula possui uma membrana celular/membrana plasmática
responsável por delimitar o meio intracelular do meio extracelular, assim como é responsável por
controlar a mobilização de substâncias para dentro e para fora da célula.
Em 1935, Davson e Danielli apresentaram um modelo que admitia que…
● A membrana plasmática era composta por uma bicamada fosfolipídica em que as
extremidades hidrofílicas (cabeças polares) estariam viradas tanto para o meio extracelular
como para o meio intracelular, enquanto que as extremidades hidrofóbicas (caudas apolares)
estariam viradas para o meio da camada.
● As camadas hidrofílicas, na superfície interna e na superfície externa, estariam ligadas a uma
camada contínua de proteínas.

No entanto, esta proposta não explicava a passagem de substâncias polares nem de iões. Desta
forma, em 1954, Davson e Danielli acrescentaram novos dados ao modelo antes apresentado: a
bicamada fosfolipídica era interrompida por poros (também eles revestido continuamente por
proteínas) através dos quais passariam os iões e as moléculas polares, como os aminoácidos e a
água ; as substâncias apolares pelo contrário atravessariam diretamente a bicamada de fosfolípidos.

Modelo do mosaico fluído(1972), de Singer e Nicholson


Mais estudos sobre a membrana celular levaram à conclusão que era impossível haver uma
camada contínua de proteínas, isto porque verificou-se que…
- quando se sujeitavam as membranas a uma ação enzimática, a camada fosfolipídica era mais
facilmente danificada do que as proteínas;
- algumas proteínas se destacavam da membrana com facilidade, enquanto outras dificilmente
conseguiam ser removidas;

26
- as proteínas da membrana apresentam regiões hidrofílicas e hidrofóbicas, pelo que, se a camada
fosse contínua as regiões hidrofóbicas teriam de contactar com água.
Singer e Nicholson propuseram, então, em 1972, o modelo do mosaico fluído, modelo atualmente
aceite que explica a estrutura e as características da membrana plasmática. O modelo admitia que…
● A membrana plasmática era composta por
uma bicamada fosfolipídica em que as
extremidades hidrofílicas (cabeças polares)
estariam viradas tanto para o meio extracelular
como para o meio intracelular, enquanto que as
extremidades hidrofóbicas (caudas apolares)
estariam viradas para o meio da camada.
● A membrana celular é também constituída
por proteínas intrínsecas/integradas (atravessam
parcialmente ou totalmente a bicamada
fosfolípidica) e por proteínas extrínsecas/periféricas (não atravessam a bicamada de
fosfolípidos, encontrando-se ou na superfície interna ou na superfície externa), sendo que as
proteínas apresentam mobilidade.
● Na superfície externa existem moléculas de glícidos associadas a moléculas de lípidos ou a
moléculas de proteínas, formando, respetivamente, glicolípidos e glicoproteínas que têm
como função o reconhecimento de substâncias.
● É possível, ainda, que haja colesterol no meio, tornando a membrana mais rígida.
● Para além disso, a membrana celular possui permeabilidade seletiva, isto é, a membrana tem
a capacidade de facilitar, impedir e dificultar a passagem de certas substâncias.

Transportes transmembranares
Movimento Energia Transporte Caracterização

- O movimento da água ocorre do


menos concentrado (meio hipotónico e
de menor pressão osmótica) para o de
maior concentração (meio hipertónico
e de maior pressão osmótica).
- Se os meios forem isotónicos (têm de
igual concentração), então o fluxo de
água que sai é igual ao fluxo de água
que entra.
- Se entra muita água (meio hipotónico)
Transporte não Transporte passivo Osmose para dentro de uma célula eucariótica
mediado (não há dispêndio de (água) animal, esta fica túrgida, podendo
(não há auxílio de energia) sofrer lise celular (o volume tão grande
proteínas da membrana) do conteúdo celular que a membrana
rebenta, destruindo a célula).
- Se entra muita água (meio hipotónico)
para dentro de uma célula eucariótica
vegetal, esta fica túrgida, sofrendo
apenas aumento do volume celular (a
parede celular feita de celulose impede
a lise nestas).

27
- Se há saída de água (meio hipertónico)
da célula, então a célula sofre
plasmólise, ficando plasmolisada (a
célula enruga devido à retração do
vacúolo/perda de volume celular).

- O movimento ocorre a favor do


gradiente de concentração (do meio
Difusão simples hipertónico para o meio hipotónico).
(moléculas apolares e - Quanto maior for a diferença de
gases) concentração entre os meios, maior é a
velocidade do transporte, sendo estes
fatores diretamente proporcionais.

- O movimento ocorre a favor do


gradiente de concentração (do meio
hipertónico para o meio hipotónico).
- O transporte ocorre por intervenção de
permeases (proteínas transportadoras):
Difusão facilitada a substância liga-se à permease; depois
(aminoácidos, a forma da permease altera-se para
vitaminas e moléculas permitir o transporte da substância pela
Transporte mediado polares, como a membrana; a permease volta à sua
(há auxílio de proteínas glicose) forma inicial.
da membrana) - A velocidade do transporte aumenta
com a diferença de concentração entre
os meios e é constante quando todas as
permeases estiverem ocupadas.

- O movimento ocorre contra o


Transporte ativo gradiente de concentração (do meio
(iões: Na+, Cl-, K+) hipotónico para o meio hipertónico).
- No transporte existe intervenção de
ATPases (proteínas transportadoras).

A endocitose pode-se classificar em…


- Fagocitose: A célula emite
pseudópodes, isto é, prolongamentos
Endocitose da célula que envolvem as substâncias,
(macromoléculas, dando origem a uma vesícula
bactérias, gotículas de fagocítica/fagossoma no interior do
Transporte em Transporte ativo lípidos) citoplasma.
quantidade (há dispêndio de - Pinocitose: Através de invaginações
(mobilização de energia) da membrana as moléculas dissolvidas
macromoléculas) em fluido extracelular são captadas
pela célula, formando uma vesícula
pinocítica.

Ocorre expulsão das substâncias para o


Exocitose exterior da célula através de um
(resíduos da digestão processo inverso à endocitose, isto é:
intracelular e produtos vesículas de secreção no interior da
elaborados por células célula movem-se para a membrana,
glandulares) fundindo com a mesma, sendo libertados
os produtos para o meio extracelular.

*1ª nota: A pressão osmótica corresponde à pressão necessária para contrabalançar a tendência da água se mover, da
região onde há maior quantidade de moléculas de água para a região onde há menor quantidade de moléculas de água.

28
*2ª nota: Durante o movimento de água para dentro da célula, existe uma pressão de turgescência (pressão exercida
pelo conteúdo celular sobre a parede celular) e uma pressão de parede (pressão em sentido contrário que condiciona a
quantidade de água que penetra na célula impedindo o seu rebentamento).
*3ª nota: A osmose também pode ser feita por transporte mediado, através de aquaporinas (proteínas responsáveis pelo
movimento de água para dentro e fora da célula).
*4ª nota: Na difusão facilitada os iões e as moléculas neutras tendem a atravessar a membrana por canais.

Sistema nervoso & Neurónio


A coordenação de toda a atividade do corpo humano é da responsabilidade do sistema nervoso. O
sistema nervoso subdivide-se em dois sistemas:
● Sistema nervoso central (SNC): É constituído pelo encéfalo (composto pelo cérebro, pelo
cerebelo e pelo bolbo raquidiano), protegido pelo crânio, e pela medula espinhal, protegida
pela coluna vertebral (sendo esta composta por muitas vértebras). O encéfalo na sua atividade
envolve o pensamento, a memória e a vida afetiva, enquanto que a medula espinhal é
responsável pela maioria dos atos reflexos (são involuntários).
● Sistema nervoso periférico (SNP): é constituído pelos nervos e pelos gânglios.

As células do sistema nervoso são designadas de neurónios, e têm a seguinte constituição:


- Corpo celular (Parte central da célula, contém o núcleo
do neurónio, assim como grande parte do seu
citoplasma com organelos.)
- Dendrites (Prolongamentos citoplasmáticos finos e
ramificados que recebem os impulsos nervosos de um
outro neurónio ou do próprio meio.)
- Axónio (Prolongamento celular responsável pela
condução do impulso para o exterior do corpo celular.)
- Telodendro/Arborização terminal (Prolongamentos
do axónio responsáveis pela transmissão do impulso
nervoso a outro neurónio ou a outro tipo de célula.)
- Células de Schwann (Células que envolvem o axónio.)
- Bainha de mielina (Substância lipídica/gordurosa,
secretada pelas células de Schwann, que envolve o
axónio, isolando-o e permitindo uma transmissão
nervosa mais rápida ao longo do axónio.)
- Nódulos de Ranvier (Interrupções na bainha de
mielina, onde o impulso nervoso é regenerado.)
- Fibra nervosa (Axónio + Bainha de mielina)
- Nervo (Fibra nervosa envolvida por um tecido
conjuntivo, isto é, camadas de células que unem, protegem e sustentam os nervos.)
Conforme a função específica desempenhada conseguimos encontrar 3 tipos de neurónios:
● Neurónios sensitivos: Recebem a informação dos recetores sensoriais e transportam-na para
o sistema nervoso central.

29
● Neurónios de associação / Interneurónios: Localizam-se no encéfalo e na espinal medula
(ou seja, no sistema nervoso central) e estabelecem a ligação entre os neurónios sensitivos e
os neurónios motores.
● Neurónios motores: Transportam a informação desde o sistema nervoso central até aos
órgãos efetores (músculos e glândulas).
A função do neurónio é receber, transmitir e responder às mensagens que lhe são enviadas,
sendo que estas mensagens (de origem eletroquímica) são designadas de impulsos nervosos ou
influxos nervosos.
*Nota: A metade direita do nosso corpo é coordenada pela metade esquerda do nosso cérebro, enquanto que a metade
esquerda do nosso corpo é coordenada pela metade direita do nosso cérebro.

Impulso nervoso
No interior do neurónio, o impulso parte das dendrites para o corpo celular, em seguida passa para o
axónio e, por último, atinge as telodendrites/arborização terminal. Quando a passagem do impulso
nervoso é entre neurónios, o impulso parte da célula emissora para a célula recetora.
A transmissão do impulso nervoso ocorre em três fases que se repetem ao longo do axónio a partir
do corpo celular, sendo essas fases as seguintes:
● Potencial de repouso (cerca de -70 mV): Quando em repouso (o impulso nervoso não está a
ser transmitido) há uma diferença de concentração de Na+ e Cl- (maior quantidade no meio
extracelular) e K+ (maior quantidade no meio intracelular) dentro e fora da célula. Através das
bombas de sódio e das bombas de potássio, por transporte ativo (gasto de ATP), os iões Na+
passam para o meio extracelular enquanto que os iões K+ para o meio intracelular,
contrariando a difusão passiva destes iões. O neurónio tende a perder mais cargas positivas,
acumulando carga negativa, porque há mais canais de K+ abertos do que de Na+, o que resulta
em maior saída de iões K+ do que entrada de Na+, para além de que a bomba de sódio
transporta 3 Na+ por 2 K+, pelo que a quantidade de potássio que sai da célula supera a
quantidade de sódio que entra.
● Potencial de ação (cerca de +35 mV): Quando os neurónios são estimulados (o impulso
nervoso propaga-se) dá-se a abertura dos canais de sódio o que leva à entrada rápida de iões
Na+, por difusão facilitada, para o interior do axónio. Ocorre inversão da polaridade da
membrana, com o meio intracelular agora mais positivo, (este processo designa-se de
despolarização) até se atingir o pico do potencial de ação. Após atingir este pico, os canais de
K+ (dependentes da voltagem - limiar da ação) abrem-se, enquanto que os canais de sódio
fecham, verificando-se uma queda do potencial de membrana até ao valor de repouso (este
processo designa-se de repolarização). Estas inversões da polaridade propagam-se ao longo
do axónio, na forma de impulso nervoso.
● Sinapse: Quando o impulso nervoso atinge as extremidades do neurónio pré-sináptico, não
lhe é possível passar diretamente para o neurónio seguinte, devido à fenda sináptica (espaço
que separa dois neurónios), pelo que a mensagem elétrica é convertida em mensagem química
(neurotransmissores). Formam-se vesículas, contendo os neurotransmissores, que fundem-se
com a membrana do axónio, sendo libertados, por exocitose, para a fenda sináptica. Os
neurotransmissores, ligam-se a recetores da membrana do neurónio pós-sináptico. Esta
ligação provoca a sua ativação e a abertura dos canais de sódio, iniciando-se assim uma
despolarização, que permite conduzir o impulso nervoso nessa célula.

30
*1ª nota: Nos neurónios com mielina, a condução do impulso nervoso é feita aos saltos, de nódulo em nódulo
(condução saltatória), propagando-se muito mais rapidamente do que nos neurónios que não possuem mielina.
*2ª nota: A sinapse pode ser química (descrito acima) ou elétrica. A sinapse elétrica é rara e simples, acontecendo
quando os neurónios encontram-se em contacto, permitindo a transmissão do impulso nervoso de forma igual.

Obtenção de matéria pelos seres heterotróficos


● Ingestão: Entrada dos alimentos no organismo.
● Digestão: Transformação de grandes moléculas em moléculas mais simples, através de reações
de hidrólise e da ação de enzimas.
○ Digestão intracelular
○ Digestão extracelular intracorporal
○ Digestão extracelular extracorporal
● Absorção: Passagem dos produtos digeridos para o sangue, para a linfa ou para o interior da
célula.

Digestão intracelular
Este tipo de digestão é característica de seres eucariontes unicelulares, como a paramécia, a hidra, a
planária e a amiba. Este tipo de digestão ocorre no interior das célula através do seguinte processo:
- No retículo endoplasmático rugoso são sintetizadas proteínas enzimáticas não funcionais que
são transportadas para o Complexo de Golgi ou por vesículas de transporte ou por canais do
retículo endoplasmático.
- Já no Complexo de Golgi as proteínas enzimáticas (designadas de hidrolíticas) sofrem maturação
que as torna funcionais.
- As proteínas são transferidas para lisossomas que se fundem com vesículas endocíticas, dando
origem a vacúolos digestivos onde ocorre a digestão intracelular.
- As substâncias digeridas, após transporem a membrana do vacúolo digestivo por um dos
transportes transmembranares, sofrem absorção no citosol. Já os resíduos da digestão sofrem
exocitose, ou seja, são expulsos para o meio extracelular.
*Nota: A digestão intracelular pode ser de heterofagia (digestão de vesículas endocíticas) ou de autofagia (digestão de
organelos citoplasmáticos).

31
Digestão extracelular extracorporal
Este tipo de digestão é característica dos fungos, como é o caso dos cogumelos. Este tipo de
digestão ocorre no exterior do organismo através do seguinte processo:
- O fungo elabora enzimas digestivas que são libertadas no substrato terrestre por ação de hifas
(filamentos do talo do fungo).
- Ocorre, então, digestão extracorporal na qual as enzimas simplificam as moléculas complexas do
meio, resultando em glicose e aminoácidos, geralmente.
- Essas substâncias são absorvidas pelas hifas para os fungos para a sua alimentação.

Digestão extracelular intracorporal


Este tipo de digestão é característico da maioria dos animais, isto é, de seres heterotróficos e
pluricelulares, sendo que este tipo de digestão ocorre no interior do organismo destes seres, em
órgãos especializados e não exatamente nas células. Os animais podem ter um sistema digestivo
constituído por uma simples e única cavidade gastrovascular ou por um tubo digestivo composto
por vários órgãos especializados. No caso da hidra e da planária, visto que estas possuem uma única
cavidade que funciona como boca e ânus dizemos que possuem um tubo digestivo incompleto. Já
nos animais mais complexos, como a minhoca e o ser humano, possuem duas aberturas distintas, a
boca e o anûs, pelo que têm um tubo digestivo completo.

Sistema Ser vivo Características Vantagens


digestivo

A digestão extracelular ocorre na cavidade


gastrovascular na qual são lançadas enzimas Na planária, a cavidade gastrovascular é
digestivas que transformam os alimentos em ramificada, havendo uma maior área de
Sistema Hidra partículas mais simples. Estas partículas digestão e de absorção, permitindo uma
digestivo + parcialmente digeridas são fagocitadas para distribuição mais eficaz dos nutrientes por
incompleto Planária células o que constitui a digestão dentro de todas as células. Além disso, possui uma
vacúolos digestivos (digestão intracelular), faringe que se projeta para fora, facilitando
ocorrendo posteriormente absorção por parte das a ingestão e digestão dos alimentos.
restantes células do organismo através de
processos de difusão.

Os alimentos são ingeridos na boca, passando - Eficaz aproveitamento dos


pela faringe através de mecanismos de sucção A minhoca alimentos, visto que estes
causados pela contração dos músculos da parede possui uma deslocam-se num único
da faringe, chegando ao esófago. Em seguida, o prega no sentido, permitindo que a
alimento é acumulado e humificado no papo até intestino, o digestão e a absorção
passar para a moela onde é triturado. O alimento tiflossole, sejam sequenciais ao longo
já decomposto em partículas mais simples seguem que do tubo digestivo.
Minhoca para o intestino onde por ação de enzimas aumenta a - Existência de vários órgãos
digestivas o alimento é digerido, sofrendo área de onde ocorre digestão
absorção das substâncias mais simples. Os absorção mecânica e diferentes
resíduos são eliminados para o exterior pelo ânus. dos digestões químicas (devido
nutrientes. à ação de diferentes
enzimas/sucos).
Sistema Em todos os seres vertebrados, existem órgãos - É possível armazenar
digestivo especializados em cada etapa do processo maior quantidade de
completo Homem digestivo… alimentos.
- Boca: Os alimentos sofrem mastigação e ação
- Eficiente eliminação dos
da saliva levando à formação do bolo alimentar.
resíduos não digeridos
O bolo alimentar através de movimentos
pelo ânus.
peristálticos desce pelo esófago até ao

32
estômago.
- Estômago: O bolo alimentar passa a quimo,
devido aos movimentos peristálticos e à ação de
enzimas específicas provenientes do suco
gástrico.
- Duodeno: Devido aos movimentos peristálticos
e à ação de sucos digestivos (suco
intestinal/entérico ; suco pancreático ; bílis) o
quimo transforma-se em quilo
- Vilosidades intestinais: Após a digestão, dá-se
início à absorção no jejuno-íleo, sendo que as
paredes deste são formadas por pregas/válvulas
coniventes que possuem vilosidades intestinais
que possuem microvilosidades, aumentando a
superfície de absorção do intestino, facilitando
assim a absorção dos nutrientes por difusão ou
transporte ativo para o sangue ou para a linfa.
- Intestino grosso: No cólon ascendente ocorre
absorção de água e de alguns sais minerais. Já
no cólon descendente há a formação de fezes
(sólidas devido à absorção anterior), isto é,
substâncias não digeridas nem absorvidas.
- Reto: Ocorre aqui a acumulação de fezes que
são posteriormente eliminadas pelo ânus para o
meio externo.

*1ª nota: A digestão divide-se em digestão mecânica (todos os processos em que por ação de forças e movimentos, os
alimentos são divididos em partículas mais pequenas, como é o caso da mastigação e dos movimentos peristálticos) e
em digestão química (todos os processos sujeitos à ação de enzimas que transformam polímeros em monómeros).
*2ª nota: Existem diversas enzimas, presentes na saliva, no suco gástrico, no suco intestinal/entérico e no suco
pancreático, que atuam ao longo da digestão: amilase (amido → maltose) ; pepsina (proteínas → polipéptidos) ; lipase
(lípidos → ácidos gordos e glicerol) ; protéase (proteínas/polipéptidos → polipéptidos/aminoácidos) ; maltase (maltose
→ glicose + glicose) ; lactase (lactose → glicose + galactose) e sacarase (sacarose → glicose + frutose).

Fotossíntese
● Este processo ocorre exclusivamente nos seres que possuem pigmentos fotossintéticos
(clorofilas e carotenoides, essencialmente) que absorvem a radiação luminosa para realizar a
fotossíntese, e refletindo alguma.
● Os pigmentos fotossintéticos estão presentes, por exemplo, nos cloroplastos que são organelos
que estão presentes nas células eucarióticas vegetais.
● Os cloroplastos são constituídos 2 membranas (uma interna e uma externa), tilacoides (estruturas
em forma de disco), granum (empilhamento de tilacoides), estromas (espaço líquido entre
granum) e pigmentos fotossintéticos (na membrana dos tilacoides).
● Os pigmentos fotossintéticos absorvem certos comprimentos de onda: as clorofilas (clorofila a +
clorofila b) absorvem as radiações das faixas azul-violeta e vermelho-alaranjado e refletem o
verde (daí que a maioria das plantas apresenta folhas verdes, porque é a radiação refletida e
observada) ; os carotenoides (caroteno + xantofila) absorvem radiações azul-violeta e refletem o
vermelho-alaranjado.
● A fotossíntese ocorre em duas etapas: a fase fotoquímica seguida da fase química.

33
Fotossíntese - fase fotoquímica
● Esta fase depende totalmente da luz, ocorrendo, essencialmente, durante o dia.
● Ocorre na membrana dos tilacoides, onde se encontram os pigmentos.
● Esta fase envolve as seguintes etapas:
○ Fotólise/Oxidação da água: Na presença de luz, as moléculas de água dissociam-se,
libertando oxigénio, hidrogénio (que será utilizado noutras etapas) e eletrões (a água é o dador
primário de eletrões) - 2 H2O → O2 + 4 H+ + 4 e-
○ Oxidação dos pigmentos fotossintéticos: Quando os pigmentos fotossintéticos absorvem
energia luminosa, estes ficam excitados e libertam eletrões que são transferidos para uma
cadeia transportadora de eletrões, ficando oxidada.
○ Fosforilação de ADP: Ao longo da cadeia transportadora de eletrões ocorrem reações de
oxidação-redução, havendo libertação de energia que é utilizada na fosforilação do ADP em
ATP - ADP + P + energia → ATP + H 2O
○ Redução do NADP+: Os protões provenientes da fotólise da água, juntamente com eletrões
provenientes das reações de oxidação-redução da fosforilação do ADP são fundamentais para
reduzir uma molécula de NADP+ em NADPH2. - NADP+ + 2 H+ + 2 e- → NADPH2
*1ª nota: ATP (adenosina trifosfato) é a fonte direta de energia das células. Quando o ATP é hidrolisado dá origem a
ADP (adenosina difosfato) e a um átomo de fósforo inativo, assim como liberta energia.
*2ª nota: NADPH2 é o último aceitador e transportador de eletrões.

Fotossíntese - fase química


● Esta fase ao contrário da fase química não necessita de luz para ocorrer, no entanto depende
completamente da ocorrência da fase fotoquímica.
● Ocorre no estroma dos cloroplastos.
● Após a fixação do CO2 inicia-se o ciclo de Calvin:
○ 1ª fase: Ocorre fixação de CO2 nas moléculas de
ribulose difosfato (RuDP), dando origem ao ácido
fosfoglicérico (PGA).
○ 2ª fase: Ocorre a desfosforilação de ATP e
oxidação da molécula de NADPH2, transformando-se o
ácido fosfoglicérico (PGA) em fosfogliceraldeído
(PGAL) , sendo parte deste utilizado na síntese de
produtos orgânicos como glicose, lípidos e
aminoácidos.
○ 3ª fase: Algumas moléculas de
fosfogliceraldeído (PGAL) regeneram a ribulose
monofosfato (RuMP) que associado à desfosforilação
de ATP, resulta em ribulose difosfato (RuDP), sendo
possível o ciclo recomeçar.

34
Fatores que influenciam a fotossíntese

Quimiossíntese
● Este processo ocorre em bactérias sulfurosas que habitam fontes termais e bactérias nitrificantes
que habitam no solo terrestre.
● Não utiliza luz nem pigmentos fotossintéticos.
● Este processo envolve as seguintes fases:
○ Há oxidação de compostos inorgânicos que podem envolver enxofre (S), ferro (Fe) ou
azoto/nitrogénio (N), servindo de fonte de energia e de dador inicial de e-/H+, permitindo-se a
formação de moléculas de ATP e de NADPH 2.
○ Há formação de matéria orgânica através do ciclo de Calvin.
Exemplo: 12 H2S + 6 CO2 → C6H12O6 + 6 S2 + 6 H2O

Transporte de matéria nas plantas


A história evolutiva das plantas está relacionada com as algas verdes multicelulares, seres ancestrais
aquáticos. Estes seres por habitarem em ambiente aquático tinham uma maior facilidade no acesso a
substâncias dissolvidas na água necessárias à sua sobrevivência. Desta forma, a adaptação ao meio
terrestre, um ambiente com alguma dificuldade no acesso à água e por isso mais seco, foi algo
bastante interessante e importante para a sobrevivência dos seres fotossintéticos. As plantas foram,
gradualmente, mudando a sua estrutura física, de forma a conseguirem sobreviver no meio terrestre,
originando-se, assim, dois grupos de plantas: as plantas não vasculares ou avasculares (que não
apresentam tecidos especializados no transporte de substâncias, assegurando a sua sobrevivência
por movimentos transmembranares, por exemplo, os musgos) e as plantas vasculares (que
apresentam tecidos condutores que realizam a translocação da águas e dos minerais no interior da
planta, por exemplo, os fetos e as plantas com sementes).
As plantas vasculares possuem dois tipos de tecidos condutores especializados no transporte de
substâncias, o xilema e o floema.
Xilema Floema

Os vasos xilémicos são constituídos por Os tubos crivosos (separados por placas crivosas) são
células mortas e lenhificadas, especializadas no constituídos por células vivas e por células de
transporte da seiva bruta ou xilémica (água e sais companhia, especializadas no transporte da seiva
minerais absorvidos ao nível da epiderme da raiz elaborada ou floémica (água e compostos orgânicos,
da planta, especialmente através dos pelos produzidos nas folhas durante a fotossíntese) que efetua
um fluxo bidirecional, desde os locais de produção para

35
radiculares) que efetua um fluxo unidirecional os locais de consumo como desdes os locais de reserva
desde a raiz até às folhas. para os locais de consumo.

Em ambos os vasos condutores há existência de parênquima, isto é, um tecido vegetal que constitui a parte
interna dos órgãos da planta (raiz, caule e folhas), sendo formados por células vivas que possuem parede
celular celulósica. O parênquima localiza-se entre a epiderme e os tecidos condutores (floema e xilema),
podendo desempenhar inúmeras funções: parênquima clorofilino que intervém na fotossíntese, visto que
possui cloroplastos; parênquima de reserva, como é o caso do parênquima aquífero (armazenamento de
água), do parênquima amilífero (armazenamento de amido) e do parênquima aerênquima (armazenamento
de ar); entre outros. Este tecido é essencial ao bom funcionamento do órgão onde se encontra.

Ao movimento da seiva xilémica e da seiva floémica, no interior da planta, através dos vasos de
xilema e de floema, respetivamente, dá-se o nome de translocação. Este movimento ocorre tanto na
raiz como no caule e nas folhas da planta, sendo que os vasos condutores associam-se em feixes
com diferentes posições consoante o órgão da planta onde se localizam.

Raiz Caule Folha

- os feixes condutores - os feixes são duplos e - os feixes condutores são duplos e


localizam-se no cilindro colaterais, estando colaterais
central da raiz dispostos em coroa circular - o xilema está orientado para a
- os feixes são simples e - o xilema está orientado página superior e o floema para a
alternos para o interior e o floema página inferior
para o exterior

Constituição de uma folha


Uma folha possui na sua face externa (tanto
superior como inferior) uma camada de células
vivas que formam a epiderme. Na sua estrutura
interna (entre as duas faces externas), a folha é
composta por tecido clorofilino/mesófilo que é
constituído por células vivas, uma parede celular
fina, vacúolos desenvolvidos e muitos cloroplastos
(permitindo uma enorme taxa de fotossíntese). O
mesófilo mais junto à página inferior possui

36
lacunas o que permite o armazenamento de ar necessário à respiração da planta. O mesófilo é ainda
atravessado pelas nervuras da folha, isto é, por tecidos vasculares, o xilema e o floema. Na
epiderme, a folha possui ainda estomas, isto é, estruturas constituídas por duas células
oclusivas/células-guarda que delimitam uma abertura, o ostíolo, que permite as trocas gasosas
entre o meio exterior e o meio interior (mais exatamente entre a câmara estomática). Na epiderme
apenas as células-guarda é que possuem cloroplastos, sendo que as restantes células epidérmicas são
responsáveis pela impermeabilidade da folha, devido à existência de cutina nas suas cutículas.

Absorção radicular
A formação da seiva bruta acontece ao nível da raiz, onde a água entra para dentro da planta por
movimentos de osmose, enquanto que os sais minerais/iões entram por difusão simples ou por
transporte ativo. Os pelos radiculares (extensões epidérmicas da raiz de uma planta) são,
particularmente, importantes, pois aumentam a área da raiz que está em contacto com o solo,
permitindo uma maior absorção de substâncias do solo que entram para dentro da raiz e atingem os
vasos xilémicos, formando a seiva xilémica.

Transporte no xilema
Ao longo dos anos têm sido apresentadas diversas teorias para o movimento do xilema, sendo
importantes, essencialmente, as seguintes hipóteses:
● Hipótese da pressão radicular
○ Segundo esta teoria, devido à contínua acumulação de iões nas células da raiz por
movimentos de transporte ativo há um aumento da concentração de soluto ao nível da raiz,
levando à entrada de água por osmose. A entrada de água cria uma elevada pressão de
turgescência que obriga a água a movimentar-se nos vasos xilémicos em sentido
ascendente desde a raiz até às folhas da planta.
○ Se a pressão radicular for muito elevada, o movimento água pelos vasos xilémicos pode ser
comprovado por fenómenos como a gutação (libertação de água sob a forma de gotículas
ao nível das folhas) e a exsudação caulinar (podas tardias, verificando a saída de água
pelas zonas de corte).
○ No entanto, esta hipótese não se conseguia aplicar a algumas árvores de grande porte e a
plantas que não apresentam pressão radicular, como é o caso de algumas coníferas (grupo
de árvores ao qual o pinheiro pertence).

● Hipótese da tensão-coesão-adesão
○ A água presente nas células do mesófilo é libertada para o exterior, por mecanismos de
transpiração (associada à abertura dos ostíolos dos estomas), originando-se uma pressão
negativa, isto porque aumenta a concentração de soluto nestas células, assim como a
pressão osmótica. Esta pressão obriga o movimento da água, por osmose, do xilema (meio
hipotónico) para as células do mesófilo (meio hipertónico), pelo que as células do xilema
passam a sofrer uma tensão pela falta de água.
○ Devido à polaridade das moléculas de água, criam-se forças de coesão que as mantêm
unidas umas às outras. As moléculas de água têm também forte afinidade com outras
substâncias existentes nas paredes dos vasos xilémicos o que vai potenciar a adesão (entre

37
a água e o xilema) e formar uma coluna contínua de água. Estes fenómenos potenciam o
movimento da água desde a raiz (maior potencial hídrico, devido à absorção radicular) até
às folhas (menor potencial hídrico), isto é, em sentido ascendente.
○ A ascensão da água conduz a um défice de água nas células do xilema da raiz, favorecendo
a entrada de água do meio exterior para o meio interior por mecanismos de osmose ao
nível da raiz (absorção radicular).
*Nota: Quanto maior for a rapidez da transpiração, maior será a velocidade da coluna de água até às folhas.

Estomas
As células estomáticas têm a capacidade de controlar a quantidade de gases que entra e sai,
pois tanto podem abrir como fechar, respetivamente. Os estomas estão sempre muito húmidos
devido à movimentação de água desde a raiz, o que significa que estas células encontram-se
túrgidas. No entanto, existem fatores que podem variar a turgescência dos estomas e
consequentemente a abertura e o fecho dos ostíolos:
● Luz: A existência de luz provoca a ocorrência de fotossíntese, pelo que o ostíolo vai abrir
para permitir as trocas gasosas necessárias para a fotossíntese acontecer, assim como para
admitir algumas das substâncias produzidas, como a água.
● Concentração de CO2 e pH: Quanto maior é a concentração de dióxido de carbono, menor é
o pH (ácido) do meio intracelular pelo que há saída de água e o fecho dos estomas.
● Humidade do ar e do solo: Quanto maior for a humidade do ar ou do solo, menor é a
quantidade de água libertada por transpiração, pelo que os estomas abrem, admitindo mais
água, ficando túrgidos.
● Vento: Se o vento for fraco ou moderado transportam facilmente partículas, como a água, e
por isso os estomas abrem. Caso o vento seja forte acontece o contrário, os estomas fecham
devido à perda de água.
● Temperatura: Quanto maior é a temperatura, maior é a taxa de transpiração, pelo que ocorre
o fecho dos estomas, de forma a evitar grandes perdas de água.

Transporte no floema
Ao longo dos anos foram realizadas experiências para perceber melhor o sentido da translocação da
seiva floémica, assim como a composição química da mesma. Eis alguns dados:
- Quando efetuadas incisões anelares, contendo tecido floémico, no caule de uma planta
verifica-se um intumescimento na parte superior do corte devido à acumulação de seiva bruta,
pelo que é possível concluir que a seiva circula dos órgãos produtores (folhas) para os órgãos de
reserva e de consumo (caule, folhas, flores, frutos).
- A utilização de afídeos ou de pulgões, seres que se alimentam do floema, foi possível perceber
a composição química da seiva bruta: essencialmente sacarose (açúcar), estando presentes em
menores quantidades alguns nucleótidos, aminoácidos, hormonas, iões minerais, etc.
- O uso de marcadores radioativos em solutos do floema permitiu estudar a velocidade da
translocação da seiva bruta, assim como o fluxo bidirecional do floema (consoante a localização
dos órgãos de consumo ou de reserva face aos órgãos de produção, as folhas).

38
No século XX, o fisiologista alemão, Ernest Münch elaborou uma hipótese que até aos dias de hoje
explica a translocação da seiva floémica, a hipótese do fluxo de massa:
- As moléculas de glicose produzidas nos órgãos fotossintéticos agrupam-se formando moléculas
de sacarose que passam desses órgãos para as células do floema por mecanismos de transporte
ativo, sendo que podem passar intermediariamente por células de companhia.
- A concentração de soluto aumenta no floema, devido à entrada
da sacarose, aumentando a pressão osmótica que é superior à das
células envolventes (incluindo o xilema). Desta forma, verifica-se
entrada de água, por osmose, do vaso xilémico para os tubos
crivosos, aumentando a pressão de turgescência.
- A pressão de turgescência é responsável pelo movimento da
seiva elaborada de tubo crivoso para tubo crivoso através das
placas crivosas, por movimentos de difusão simples ou de difusão
facilitada, no sentido da menor pressão osmótica.
- A sacarose sai do vaso floémico por transporte ativo para
chegar aos locais de consumo ou de reserva, sendo convertida
novamente em glicose. Quando isto acontece também a água sai,
por osmose, sai para as células envolventes, visto que há uma
diminuição da pressão osmótica.

Transporte de matéria nos animais


Nos animais mais simples (hidra, planária, esponja, coral) devido ao reduzido número de camadas
celulares, todas as células estão muito próximas da cavidade gastrovascular ou do meio externo,
pelo que as substâncias movimentam-se diretamente entre o meio intracelular e extracelular, não
apresentando sistema circulatório. Já nos animais mais evoluídos as distâncias entre as zonas de
consumo e/ou de reserva de substâncias e as zonas de digestão dos alimentos são grandes, por isso é
necessária a existência de um sistema circulatório para fazer a difusão dessas mesmas substâncias
pelo organismo. O sistema circulatório compreende sempre um fluido circulante (responsável pelo
transporte das substâncias), a linfa e o sangue, e um órgão, o coração, que o impulsiona para todos
os tecidos do organismo. Uma vez que existem dois fluidos circulantes, referimo-nos à circulação
do sangue por sistema cardiovascular e à circulação da linfa por sistema linfático.

Sistema circulatório
● Sistema circulatório aberto: O sangue - que neste caso não se distingue do fluido intersticial
pelo que essa mistura é designada de hemolinfa por alguns biólogos - abandona os vasos e passa
para espaços, as lacunas, banhando diretamente as células. Este sistema circulatório é
característico dos insetos (ex: gafanhoto), dos moluscos e dos artrópodes.
● Sistema circulatório fechado: Todo o percurso do sangue se faz dentro de vasos, não havendo
qualquer mistura entre os dois fluidos circulantes. É característico dos animais vertebrados.
Em regra, a eficiência do transporte de materiais às células é maior no sistema circulatório fechado
do que o sistema circulatório aberto, visto que o sangue flui muito mais rapidamente no sistema
fechado, assegurando níveis mais elevados de taxas metabólicas.

39
Sistema cardiovascular dos seres vertebrados
Tipo de circulação Esquema Características Eficiência metabólica

- O coração apresenta apenas 2 Após a passagem pelos


cavidades: uma aurícula e um capilares branquiais o
ventrículo. sangue segue para os
- A aurícula recebe e impulsiona restantes órgãos e tecidos
Simples sangue venoso para o com baixa velocidade e
O sangue efetua apenas ventrículo. pressão, pelo que a chegada
um único trajeto, - O ventrículo envia o sangue de nutrientes e de oxigénio e
passando uma única vez para as brânquias, onde a remoção de resíduos são
pelo coração na forma ocorrem as trocas gasosas, pouco eficientes. São seres
de sangue venoso. sendo que o sangue passa a poiquilotérmicos
arterial. (temperatura corporal varia
com a temperatura do meio)
- A partir dos capilares
branquiais o sangue segue com
baixa pressão e velocidade
para os restantes órgãos e
tecidos.
Peixes

Dupla Incompleta - O coração apresenta 3 O sangue, bombeado


O sangue percorre dois cavidades: duas aurículas e um diretamente do coração para
trajetos distintos: ventrículo. os capilares dos diferentes
- circulação pulmonar: - A aurícula direita recebe o órgãos, chega com uma
o sangue venoso sai do sangue venoso e a aurícula maior velocidade e pressão o
coração através da esquerda recebe o sangue que permite uma eficaz troca
arterial. de materiais ao nível das
artéria pulmonar para
- O ventrículo recebe tanto células. No entanto, devido à
os pulmões onde é mistura parcial de sangue
oxigenado, sangue arterial como sangue
venoso, ocorrendo mistura venoso com sangue arterial,
regressando ao possui a desvantagem de que
parcial, devido à inexistência
coração pelas veias a concentração de oxigénio
de um septo ou devido à
pulmonares; existência de um septo parcial. no sangue arterial é afetada.
- circulação sistémica: Desta forma, a temperatura
- A circulação pulmonar e a
o sangue arterial sai do destes seres varia com a
circulação sistémica dependem
coração pela artéria temperatura do ambiente
uma da outra, devido à mistura
aorta, dirigindo-se a (seres poiquilotérmicos).
Anfíbios e Répteis parcial de sangues.
todas as partes do
corpo, regressando Completa - O coração apresenta 4 Esta circulação garante um
pelas veias cavas como cavidades: duas aurículas e grande aporte de oxigénio
sangue venoso. dois ventrículos. para as células do
- No lado direito do coração organismo, o que permite
circula apenas sangue venoso taxas metabólicas elevadas
e no lado esquerdo circula capazes de produzir
apenas sangue arterial. quantidades enormes de
- A circulação pulmonar e a energia que se reflete na
circulação sistémica são maior capacidade de
independentes, visto que não produção de calor,
há mistura de sangue, devido à permitindo manter a
existência de um septo temperatura corporal
interventricular total. constante (seres
homeotérmicos).

Mamíferos e Aves

40
Morfologia do coração

● O coração, o órgão propulsor do sangue, situa-se na cavidade torácica entre os pulmões e


deslocado, ligeiramente, para a esquerda.
● O coração é constituído por…
○ Quatro cavidades:
■ Aurículas direita e esquerda: Recebem o sangue vindo das veias (veias cavas superior e
inferior do lado direito e veias pulmonares do lado esquerdo).
■ Ventrículos direito e esquerdo: Libertam o sangue pelas artérias (artérias pulmonar do
lado direito e artéria aorta do lado esquerdo). Nos mamíferos e nas aves encontram-se
separados pelo septo interventricular impedindo a mistura de sangues.
○ Válvulas auriculoventriculares (tricúspide, no lado direito, e bicúspide/mitral, no lado
esquerdo): Regulam a passagem do sangue das aurículas para os ventrículos.
○ Válvulas sigmóides/semilunares: Regulam a passagem do sangue dos ventrículos para as
artérias.
○ Miocárdio: Músculo responsável pelos movimentos de contração e relaxamento cardíaco.
Como as contrações são menores nas aurículas do que nos ventrículos (isto porque o sangue
que sai das aurículas é apenas “empurrado” para os ventrículos, enquanto que o sangue dos
ventrículos é impulsionado para todo o corpo). A espessura do miocárdio é maior nos
ventrículos, sendo maior no ventrículo esquerdo (de onde o sangue sai para a circulação
sistémica) do que no ventrículo direito (de onde o sangue sai para a circulação pulmonar). Os
movimentos do miocárdio são assegurados pela irrigação de sangue pelas artérias coronárias
(ramificações da artéria aorta).
○ Pericárdio: Membrana que reveste o miocárdio.

Vasos sanguíneos e sangue


● Vasos sanguíneos
○ Artérias: São formadas por várias camadas de células, tendo por isso paredes resistentes,
elásticas e espessas, sendo que é por aí que o sangue do coração é transportado para todo o
corpo, pelo que podemos concluir que existe uma enorme pressão nesses vasos.

41
○ Arteríolas: São ramificações mais pequenas das artérias, transportando igualmente o sangue
do coração para todo o corpo.
○ Veias: São vasos de grande calibre com paredes delgadas formadas por várias camadas de
células e válvulas venosas que impedem o retrocesso do sangue devido à baixa pressão do
sangue, sendo nestes vasos que o sangue do corpo regressa ao coração.
○ Vénulas: São ramificações mais pequenas das veias que transportam o sangue do corpo de
volta para o coração.
○ Capilares sanguíneos: São vasos de pequeno calibre que possuem apenas uma camada de
células, permitindo as trocas de gases e nutrientes entre o sangue e os tecidos do corpo.

● Tipos de sangue
○ Sangue arterial: sangue rico em O2 e pobre em CO2
○ Sangue venoso: sangue rico em CO2 e pobre em O2

● Constituição do sangue
○ Plasma (55%): Líquido composto por água e no qual se encontram em suspensão (49,5%),
proteínas (3,3% a 4,4%) e outras substâncias transportadas.
○ Elementos figurados (45%) - produzidos na medula óssea:
■ Hemácias ou eritrócitos ou glóbulos vermelhos – Células anucleadas responsáveis pelo
transporte de dióxido de carbono e oxigénio.
■ Leucócitos ou glóbulos brancos – Células nucleadas responsáveis pela defesa do
organismo, através da destruição de microorganismos e células cancerosas.
■ Plaquetas ou trombócitos – Células responsáveis pela coagulação em situações de
rompimento do tecido dos vasos sanguíneos).

Ciclo cardíaco
● Diástole (período de relaxamento geral) - 0,4 segundos
○ as válvulas semilunares fecham e o miocárdio relaxa
○ as válvulas auriculoventriculares estão abertas devido à baixa pressão nas aurículas
○ há entrada de sangue nas aurículas (através das veias) e, parcialmente, nos ventrículos
● Sístole auricular (período de contração das aurículas) - 0,1 segundos
○ as válvulas semilunares estão fechadas, enquanto que as válvulas auriculoventriculares
mantêm-se abertas
○ devido ao aumento da pressão as aurículas contraem impulsionando o sangue todo para os
ventrículos
○ aumento da pressão sanguínea nos ventrículos
● Sístole ventricular (período contração dos ventrículos) - 0,3 segundos
○ as válvulas auriculoventriculares fecham e as válvulas semilunares abrem
○ dá-se a saída do sangue dos ventrículos por contração para as artérias
(recomeça o ciclo cardíaco)

42
Linfa
● A linfa é constituída por glóbulos brancos e plasma com substâncias dissolvidas.
● A linfa pode ser…
○ Linfa intersticial: Quando o sangue atinge os capilares arteriais a pressão sanguínea é
elevada forçando a passagem de plasma com pequenas substâncias dissolvidas e de leucócitos
(por diapedese) para o espaço intersticial, isto é, o espaço existente entre as células. Fornece
oxigénio e nutrientes às células, enquanto que recebem das células produtos resultantes do seu
metabolismo (como dióxido de carbono). A parte da linfa que contém os produtos de
excreção das células volta ao sangue ao nível dos capilares venosos, enquanto que o excesso
de linfa intersticial é recolhida em capilares linfáticos, formando a linfa circulante.
○ Linfa circulante: A linfa circulante é a linfa que circula pelo sistema linfático. O sistema
linfático é constituído pela linfa, pelos vasos linfáticos (que transportam a linfa), pelos
gânglios linfáticos (removem da linfa resíduos celulares e microrganismos e produzem
anticorpos) e pelos órgãos linfóides (timo; baço; amígdalas). A linfa é importante, porque
recolhe os produtos tóxicos do metabolismo celular, defende o organismo de corpos estranhos
(através dos leucócitos) e absorve nutrientes (como ácidos gordos e vitaminas ao nível do
intestino aquando da digestão) que distribui pelas células.

Metabolismo celular
O metabolismo celular designa o conjunto de reações químicas, essenciais à vida, que ocorrem ao
nível da célula que envolvem transferências de energia sob a forma de ATP. As reações do
metabolismo celular podem ser…
- Anabolismo: Reações químicas associadas à síntese de moléculas complexas a partir de
moléculas mais simples, havendo consumo de energia (reações endoenergéticas).
Ex: síntese de proteínas ; ciclo de Calvin
- Catabolismo: Reações químicas associadas à degradação de moléculas complexas em
moléculas mais simples, havendo libertação de energia (reações exoenergéticas).
Ex: respiração anaeróbia/fermentação ; respiração aeróbia

Fermentação / Respiração anaeróbia


● Este processo catabólico permite às células obterem energia a partir de compostos orgânicos na
ausência de oxigénio.
● Os seres que realizam respiração anaeróbia, podem ser classificados em…
○ Seres anaeróbios facultativos: Realizam fermentação como respiração aeróbia como fonte
de obtenção de energia. - Ex: fungos (como, leveduras)
○ Seres anaeróbios obrigatórios: Realizam fermentação como fonte exclusiva/única de
obtenção de energia. - Ex: bactérias láticas
● A fermentação alcoólica (produto final - etanol/álcool etílico) e a fermentação lática (produto
final - ácido lático/latato) são dois processos distintos de obtenção de energia por anaerobiose.
*1ª nota: Existe também fermentação acética (p.f - ácido acético) e fermentação butírica (p.f. - ácido butírico).
*2ª nota: Durante estes processos de respiração celular verificam-se reações de oxidação (perda de eletrões), de redução
(recebimento de eletrões), de carboxilação (recebimento átomos de carbono na forma de CO2), de descarboxilação

43
(perda de átomos de carbono na forma de CO2), de fosforilação (ADP passa a ATP), de desfosforilação (ATP passa a
ADP), de hidrogenação (recebimento de iões H+) e de desidrogenação (perda de iões H+).

Anaerobiose: fermentação alcoólica


(Este processo ocorre no hialoplasma da célula.)
● Glicólise: Conjunto de reações que degradam uma
molécula de glicose em duas moléculas de ácido
pirúvico/piruvato. Durante a fase de ativação (isto é,
tornar instável a molécula) ocorre consumo de 2 ATP.
Durante a fase de rendimento (isto é, fase em que se
degrada a molécula) ocorre produção de 4 ATP e
redução de 2 NAD+ em 2 NADH.
● Descarboxilação do piruvato: Conjunto de reações
nas quais as duas moléculas de piruvato libertam CO2,
havendo perda de átomos de carbono. O piruvato passa
a acetaldeído.
● Redução do acetaldeído: Conjunto de reações em
que as duas moléculas de acetaldeído são reduzidas, isto
é, recebem eletrões que são cedidos pelas moléculas de
NADH que oxidam passando a NAD+. As moléculas de
acetaldeído passam a etanol, CH3CH2OH.
RENDIMENTO ENERGÉTICO: 2 moléculas de ATP
*Nota: Este processo é utilizado para produzir vinho e cerveja (bebidas alcoólicas), e de pão através de leveduras.

Anaerobiose: fermentação lática


(Este processo ocorre no hialoplasma da célula.)
● Glicólise: Conjunto de reações que degradam uma
molécula de glicose em duas moléculas de ácido
pirúvico/piruvato. Durante a fase de ativação (isto é,
tornar instável a molécula) ocorre consumo de 2 ATP.
Durante a fase de rendimento (isto é, fase em que se
degrada a molécula) ocorre produção de 4 ATP e
redução de 2 NAD+ em 2 NADH.
● Redução do piruvato: Conjunto de reações em que
as duas moléculas de ácido pirúvico são reduzidas, isto
é, recebem eletrões que são cedidos pelas moléculas de
NADH que oxidam passando a NAD+. As moléculas de
piruvato passam a ácido lático, CH3CHCOOH.
RENDIMENTO ENERGÉTICO: 2 moléculas de ATP

*Nota: Este processo é utilizado para produzir produtos lácteos fermentados ( iogurtes; queijos) através de bactérias.

44
Respiração aeróbica
C6H12O6 (glicose) + 6 O2 (oxigénio) → 6 H2O (água) + 6 CO2 (dióxido de carbono) + 36-38 ATP (energia)

Com a evolução da célula surgiu uma necessidade de


esta estrutura consumir mais energia para os seus
processos de sobrevivência. Desta forma, surgiram
nas células eucarióticas organelos designados de
mitocôndrias capazes de produzir quantidades
enormes de energia (ATP) a partir da oxidação
completa de moléculas de glicose (ao contrário da
fermentação) aquando da presença de oxigénio. A
este processo dá-se o nome de respiração aeróbia.
● Glicólise (no hialoplasma): Conjunto de reações que degradam uma molécula de glicose em
duas moléculas de ácido pirúvico/piruvato. Durante a fase de ativação (isto é, tornar instável a
molécula) ocorre consumo de 2 ATP. Durante a fase de rendimento (isto é, fase em que se
degrada a molécula) ocorre produção de 4 ATP e redução de 2 NAD+ em 2 NADH.
● Formação de acetil CoA (na matriz mitocondrial): Quando as moléculas de ácido pirúvico
entram na mitocôndria são oxidadas, pela ação de NAD+ que se reduz a NADH, e
descarboxiladas (libertam-se 2 CO2), formando-se um composto intermédio com dois átomos de
carbono designada de acetil-coenzima A.
● Ciclo de Krebs (na matriz mitocondrial): As duas
moléculas de acetil-coenzima A combinam-se
individualmente com uma molécula de ácido
oxaloacético, originando ácido cítrico dando início a um
conjunto de reações sequenciadas e cíclicas. O ácido
cítrico sofre descarboxilação (liberta-se CO2) e
oxidações (sendo que os eletrões libertados são
captados pelos transportadores de eletrões, FAD e
NAD+ que ficam reduzidos). No final do ciclo obtêm-se
6 NADH ; 2 FDH2 ; 2 ATP e 4 CO 2.
● Cadeia transportadora de eletrões (nas cristas
mitocondriais): Nas cristas mitocondriais, a cadeia
transportadora de eletrões é constituída por proteínas
transportadoras que sofrem reações de oxirredução por
parte dos eletrões transportados pelas moléculas de
NADH e de FDH2. Forma-se um fluxo de eletrões nas
proteínas até estas partículas serem aceites pelo seu
aceitador final, o oxigénio. À medida que os eletrões
passam de transportador em transportador há
libertação de energia que é utilizada para bombear protões (H+) para o espaço intermembranar.
Cria-se um gradiente de protões entre o espaço intermembranar e a matriz que força a sua saída
para a matriz, através de ATPsíntases, o que permite fosforilar ADP em 32-34 ATP (fosforilação
oxidativa). Os protões são aceites também pelo oxigénio, resultando em moléculas de água.
RENDIMENTO ENERGÉTICO: 36-38 moléculas de ATP

45
*1ª nota: Nos organismos procariontes, a respiração aeróbica ocorre no citoplasma e em invaginações da membrana.
*2ª nota: O balanço energético depende dos transportadores de NADH citoplasmáticos para o interior da mitocôndria.

Trocas gasosas nas plantas


As trocas gasosas evidenciadas pelas plantas são a transpiração (perda de vapor de água), a
fotossíntese (entrada de CO2 com produção e libertação de O2 para o meio) e a respiração aeróbia
(entrada de O2 e saída de CO2). Estas trocas através dos estomas (ou de lentículas) os quais fecham
e abrem consoante os fatores explicados no tópico «Estomas» da página 36 deste resumo.

Trocas gasosas nos animais


O intercâmbio de gases, nos animais, entre o meio externo e o organismo realiza-se ao nível das
superfícies respiratórias que variam de acordo com o animal, sendo que as trocas podem ser por…
- Difusão direta: A troca de gases é feita diretamente entre as células e a superfície respiratória.
Ex: Insetos
- Difusão indireta: A troca de gases é intermediada pelo sangue, pelo que as trocas entre as
células e a superfície respiratória através do sangue no qual os gases estão dissolvidos. Assim
sendo a dupla troca de gases que se verifica-se ao nível das superfícies respiratórias é designada
de hematose. Ex: Peixes, anfíbios, aves, mamíferos e minhoca (anelídeo)
Apesar de haver uma diversidade de superfícies respiratórias, existem características que aumentam
a eficácia das trocas gasosas que aí ocorrem:
- São superfícies húmidas (permite dissolução dos gases) o que favorece a difusão dos gases.
- São superfícies finas, constituídas, em regra, por uma única camada de células epiteliais, o que
favorece a difusão dos gases.
- Possuem uma grande área de contacto entre o meio externo e a superfície respiratória.
- São superfícies bastante irrigadas/vascularizadas o que aumenta a rapidez das trocas entre as
células e a superfície respiratória através do movimento do sangue.

Difusão Superfície respiratória Classe Características

Insetos como o gafanhoto possuem aberturas na sua superfície, os


espiráculos, através das quais entram e saem os gases. Os gases
circulam por um conjunto de canais, as traqueias, que se ramificam
Direta Sistema de traqueias Insetos em canais mais finos, as traquíolas, transportando assim os gases
(ex: diretamente para as células. O facto de não haver intervenção do
gafanhoto) sangue, há uma rápida difusão de O2 e consequentemente uma
elevada taxa metabólica. Mais, as perdas de água por
evapotranspiração são reduzidas, visto que as traqueias são internas.

As trocas gasosas são feitas através da superfície corporal por


difusão indireta. O tegumento é bastante vascularizado pelo que o
sangue recebe o O2 do meio e liberta CO2 vindo das células, ou seja,
Tegumento - pele Minhoca passa de venoso a arterial durante a respiração. O sangue arterial,
(hematose cutânea) carregado em oxigénio, é transportado a todas as células.
Possuem glândulas produtoras de muco que mantém a pele
humedecida, sendo que para isto também contribui o habitat húmido
(como a terra/o solo) característico destes animais.

46
As brânquias são órgãos respiratórios que existem na maioria dos
seres aquáticos, com localização diferente de espécie para espécie.
Geralmente, nos peixes as brânquias representam extensões da
superfície corporal protegidas por uma placa óssea, o opérculo, que
permite a comunicação com o meio através da fenda opercular.
Cada câmara branquial / cavidade opercular possui 4 brânquias
Peixes constituídas individualmente por muitos filamentos branquiais
Brânquias suportados por uma estrutura óssea, o arco branquial. Além disso,
Moluscos
(hematose branquial) cada filamento é composto por muitas lamelas fortemente irrigadas.
Crustáceos O fluxo da água (entra pela boca e sai pela fenda opercular) e o
fluxo do sangue ocorrem em sentidos contrários, no entanto este
Indireta mecanismo de contracorrente torna a hematose mais eficaz. Isto
porque, apesar da água ter pouco oxigénio dissolvido, apresenta uma
concentração mais elevada de oxigénio do que o sangue o que
assegura um coeficiente de difusão elevado de oxigénio a
hemoglobina do sangue.

Os gases entram e saem do organismo através das vias


respiratórias (fossas nasais, cavidade oral, faringe, laringe,
Pulmões traqueia, brônquios e bronquíolos) onde os gases são filtrados
(hematose pulmonar) retirar-lhes as impurezas, humedecidos e aquecidos (as vias
respiratórias são extremamente irrigadas pelo sangue). A hematose
ocorre nos pulmões (situados na caixa torácica em cada um dos
lados do coração). A hematose dá-se entre os alvéolos pulmonares
(pequenas câmaras esféricas constituídas por uma camada de células
e irrigadas por uma densa rede de capilares sanguíneos que
Mamíferos constituem os sacos alveolares dentro dos pulmões) e o sangue.
(ex: Homem) Quando ocorre a contração do diafragma e dos músculos intercostais
dá-se o aumento do volume da caixa torácica pelo que o ar entra
para os pulmões (inspiração). Os alvéolos pulmonares apresentam
elevada pressão parcial de O2 e baixa pressão parcial de CO2, pelo
que por difusão, o O2 difunde-se dos alvéolos pulmonares para os
capilares sanguíneos, enquanto que o CO2 passa dos capilares
sanguíneos para os alvéolos pulmonares, sendo expirado para fora
do organismo. Neste processo (circulação pulmonar) o sangue passa
de venoso a arterial que circula por todo o organismo (circulação
sistémica) banhando as células com O2.

Aves As aves possuem sacos aéreos (posteriores e anteriores),


localizados por todo o corpo, que constituem reservas de ar e um
sistema de tubos que se ramificam nos parabrônquios (estruturas
muito finas bastante irrigadas por capilares sanguíneos nos quais o
sangue circula em sentido oposto ao do ar). Na inspiração, o ar
passa para os sacos posteriores, passando para os parabrônquios
(onde ocorre a hematose) na expiração. Na 2ª inspiração o ar passa
para os sacos anteriores, sendo expulso do organismo na 2ª
expiração. Estas estruturas tornam o corpo mais leve, facilitando a
locomoção das aves. Estas trocas são muito eficazes.

Répteis (O processo é semelhante ao dos mamíferos, no entanto possuem


pulmões menos desenvolvidos.)

Em estado larvar (isto é, precoce/imaturo) os anfíbios adaptam-se


ao meio aquático, possuindo brânquias, realizando hematose
Tegumento & Pulmões
branquial tal como os peixes. Já em adultos perdem as brânquias,
& Brânquias
Anfíbios realizando hematose pulmonar (através de pulmões pouco
(hematose cutânea,
desenvolvidos) que é complementada pela realização de hematose
pulmonar e branquial)
cutânea (a pele é húmida graças ao habitat em que habitam e ao
muco produzido no tegumento vascularizado).

47
*1ª nota: A maioria dos artrópodes (seres que apresentam simetria bilateral, sendo o seu corpo segmentado e têm um
exoesqueleto quitinoso e resistente, que lhes confere proteção - insetos, crustáceos, aracnídeos, quilópodes e
diplópodes) realiza respiração traqueal, exceto os crustáceos que realizam hematose branquial, tal como os peixes.
*2ª nota: Quanto mais quente for a água ou mais profunda se encontrar, menor é quantidade de oxigénio.
*3ª nota: O ar que permanece sempre nos alvéolos é designado de ar residual.

48

Você também pode gostar