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ACÓRDÃO

VISTOS, relatados e discutidos os presentes autos de AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 5482916-


17.2020.8.09.0000, da Comarca de APARECIDA DE GOIÂNIA, interposta por SAMILA STEFFANY CARDOSO
DOS ANJOS.

ACORDAM os integrantes da Primeira Turma Julgadora da 1ª Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do
Estado de Goiás, por unanimidade, EM CONHECER DO AGRAVO DE INSTRUMENTO E DAR-LHE
PROVIMENTO, nos termos do voto do Relator.

VOTARAM, além do RELATOR, a Desª. AMÉLIA MARTINS DE ARAÚJO e a Desª. MARIA DAS GRAÇAS
CARNEIRO REQUI.

PRESIDIU o julgamento, o Desembargador ORLOFF NEVES ROCHA.

PRESENTE à sessão a Procuradora de Justiça, Dra. ELIETE SOUSA FONSECA SUAVINHA.

Custas de lei.

Goiânia, 15 de março de 2021.

REINALDO ALVES FERREIRA

Juiz de Direito Substituto em 2º Grau

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 5482916-17.2020.8.09.0000

COMARCA DE APARECIDA DE GOIÂNIA

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás


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AGRAVANTE: SAMILA STEFFANY CARDOSO DOS ANJOS

AGRAVADO: JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA CARDOSO

RELATOR: REINALDO ALVES FERREIRA

Juiz de Direito Substituto em 2º Grau

VOTO

Ratifico a admissibilidade do recurso.

O recurso objetiva a reforma da decisão que, considerando que o agravado comprovou a existência
de nova prole após a fixação dos alimentos à agravante, sua filha, e a diminuição dos seus rendimentos
provocados pela situação de desemprego, reduziu a verba alimentar originariamente arbitrada em 30% do
salário-mínimo para a quantia equivalente a 24% do salário-mínimo.

De início, importa destacar que a apreciação desta instância, em sede de agravo de instrumento,
deve se limitar ao exame do acerto ou desacerto do que restou decidido pelo juízo a quo, não podendo
extrapolar o seu âmbito para matéria estranha ao ato judicial guerreado, não sendo lícito à instância revisora
antecipar-se ao julgamento do mérito da demanda, sob pena de suprimir um grau de jurisdição.

Com efeito, os alimentos constituem obrigação de trato sucessivo, de forma que sobrevindo
mudança na situação financeira ou necessidade de quem supre ou de que recebe alimentos é possível a
revisão, a exoneração, a redução ou majoração do encargo (CC, art.1.699).1

Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, in Curso de Direito Civil, sobre o tema lecionam:

“Para a fixação do quantum alimentar, portanto, leva-se em conta a


proporcionalidade entre a necessidade do alimentando e a capacidade do alimentante,
evidenciando um verdadeiro trinômio norteador do arbitramento da pensão.

Ponderando, com prudência, as múltiplas necessidades do credor para ter uma


vida digna e a possibilidade da contribuição do devedor, deve o juiz chegar a um quantum
baseado na equidade. Por isso, não há – e nem poderia ser de outro modo – um percentual
fixou ou recomendável para a pensão alimentícia. Em cada caso, se obterá o valor
proporcional, considerando as condições particulares de cada pessoa.”2 Grifei.

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Também, não se pode ignorar a incidência dos princípios da proteção integral (conjunto amplo de
mecanismos jurídicos voltados à tutela da criança e adolescente) e do melhor interesse da criança e do
adolescente (os operadores do Direito devem sempre buscar, no caso concreto, a solução que proporcione o
maior benefício possível para a criação e adolescente) nas lides alimentares (CF/88, art. 227, ECA, arts. 1º e
3º).

Sendo assim, sob essas premissas normativas será analisada a pretensão recursal apresentada no
agravo de instrumento.

No caso, dentro do exame que é permitido neste momento, ao que parece, vislumbra-se a
aparência do direito invocado pela parte agravante, notadamente considerando que os documentos
trazidos pelo recorrido somados a alegação de nova prole, não são suficientes para evidenciarem, com
segurança, a real capacidade econômica do alimentante e a apontada redução de seus possíveis
rendimentos. (evento 01, do processo originário).

Outrossim, o perigo de dano encontra-se presente na redução abrupta e considerável dos alimento,
a priori, sem motivação idônea, o que certamente causará prejuízos ao sustento e manutenção das despesas
da recorrente, hoje com 10 (dez) anos de idade.

De resto, sabe-se que a existência de outra prole não é motivo suficiente para permitir a redução
alimentar, de imediato, necessitando de ampla cognição probatória para tanto. Observe-se julgado desta Corte
de Justiça:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO REVISIONAL DE ALIMENTOS. (…). A


CONSTITUIÇÃO DE NOVA PROLE É INSUFICIENTE A JUSTIFICAR A REDUÇÃO DA
PENSÃO ANTES DA FASE INSTRUTÓRIA. 1- O fato de o alimentante, ora agravante, ter
constituído nova família, por si só, não é suficiente para justificar a redução da pensão
alimentícia paga ao filho havido de união anterior, sobretudo se não resta verificada a
mudança para pior na situação econômica daquele. Omissis.”3 Grifei.

Portanto, não demonstrando o agravado de forma indubitável a propalada alteração econômico-


financeira, impõe-se o restabelecimento dos alimentos arbitrados primitivamente em favor da agravante. Eis
julgado desta 1ª Câmara Cível sobre o tema:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. (…). REDUÇÃO ALIMENTOS DEVIDOS À


FILHA MENOR. INCOMPORTABILIDADE. MANUTENÇÃO DO PERCENTUAL. (…). IV - O
critério de fixação do quantum da verba alimentícia é a conjugação dos pressupostos
inerentes a obrigação, quais sejam, necessidade, possibilidade e proporcionalidade, a
fim de permitir o necessário equilíbrio entre o valor pleiteado e o patrimônio disponível
da pessoa obrigada, ao teor do que dispõe o § 1º, do artigo 1.694, do Código Civil.

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Assim, inexistindo provas no sentido de que o alimentante não possui condições de
arcar com os alimentos provisórios fixados em favor de sua filha infante, o
desprovimento do recurso é medida que se impõe. RECURSO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO.”4 Grifei.

Destarte, pelos fundamentos apresentados e acolhendo o parecer ministerial, provejo o agravo de


instrumento para, reformando a decisão objurgada, restabelecer os alimentos devidos à agravante ao
percentual originariamente arbitrados – 30% do salário-mínimo.

É o voto.

Goiânia, 15 de março de 2021.

REINALDO ALVES FERREIRA

Juiz de Direito Substituto em 2º Grau

1. Art. 1.699. Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre, ou na de
quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou
majoração do encargo.

2. Ob. cit. vol. 6, 5ª ed., pp. 851 e 859.

3. AGI. 153571-48.2012.8.09.0000, Rel. Des. Walter Carlos Lemes, 3ª Câmara Cível, DJe 1122 de 13/08/2012.

4. AGI. 5251197-35.2019.8.09.0000, Rel. Roberto Horácio de Rezende, DJ de 10/10/2019.

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