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História da

Filosofia

História da Filosofia
Débora Barni de Campos

Aula 2
1
Uma nova ordem humana
Os primeiros filósofos
foram gregos e surgiram
no período arcaico, nas
colônias gregas. Outros
sábios que viveram na

Uma nova ordem humana


mesma época estavam
mais vinculados à religião
do que à filosofia.

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Alguns autores chamam de “milagre grego” a passagem da
mentalidade mítica para o pensamento crítico racional e
filosófico. Outros estudiosos criticam essa visão simplista e
afirmam que não se trata de um “milagre” de um povo, mas é
a culminação do processo gestado ao longo dos tempos.

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Fatos que ajudaram a alterar a
visão mítica predominante e
contribuíram pra o
surgimento do filósofo:

• Invenção da escrita e da
moeda;
• Lei escrita;
• Fundação da polis (cidade-
Estado).

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Invenção da escrita

Consciência mítica predomina em culturas de tradição oral,


quando ainda não há escrita. Mesmo após seu surgimento, a
escrita reserva-se aos privilegiados, aos sacerdotes e aos reis.

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Enquanto rituais religiosos
eram cheios de fórmulas
mágicas, os escritos
passaram a ser divulgados
em praça pública, sujeitos à
discussão e à crítica. Isso
não significa que a escrita
se tornasse acessível a
todos, já que a maioria da
população era de
analfabetos. O que está em
destaque é a
dessacralização da escrita,
seu desligamento do
sagrado. 6
A escrita gera nova idade mental porque a postura de quem
escreve é diferente daquela de quem apenas fala. Portanto, a
escrita surge como possibilidade maior de absorção, de uma
reflexão aprimorada que tenderá a modificar a própria
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estrutura do pensamento.
O surgimento da moeda

Na época da aristocracia rural, de riqueza baseada em terras e


rebanhos, a economia era pré-monetária. As relações sociais,
impregnadas de caráter sobrenatural, eram fortemente
marcadas pela posição social de pessoas consideradas
superiores, devido à origem divina de seus ancestrais.

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Entre os séculos VIII e VI a.C.,
deu-se o desenvolvimento
do comércio marítimo,
decorrente da expansão do
mundo grego.
O enriquecimento dos
comerciantes acelerou a
substituição dos valores
aristocráticos por valores da
nova classe em ascensão.

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A moeda, inventada na Lídia, apareceu na Grécia. O que
facilitou os negócios e impulsionou o comércio. Os produtos
que antes se restringiam ao seu valor de uso passaram a ter 10
valor de troca, isto é, transformaram-se em mercadoria.
A moeda representa uma convenção humana, noção abstrata
de valor que estabelece medida comum entre valores
diferentes. A invenção da moeda desempenha papel
revolucionário, por vincular-se ao nascimento do pensamento
racional crítico.

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A lei escrita

Legisladores como Drácon (séc.


VII a.C.), Sólon e Clístenes (séc.
VI a.C.) sinalizaram uma nova
era: a justiça, até então
dependente da interpretação

A lei escrita
da vontade divina ou da
arbitrariedade dos reis, tornou-
se codificada numa legislação
escrita. Regra comum a todos,
norma racional, sujeita à
discussão e à modificação, a lei
escrita passou a encarnar uma
dimensão propriamente 12
humana.
As reformas da legislação de
Clístenes fundaram a polis
sobre nova base: a antiga
organização tribal foi abolida e
estabeleceram-se relações
que não dependiam da
consaguinidade, mas eram
determinadas por uma
organização administrativa.
Essas modificações expressam
o ideal igualitário que
preparava a democracia
nascente, já que a unificação
do corpo social aboliu a 13
hierarquia fundada nos poder
aristocrático das famílias.
Cidadão da polis

A originalidade da polis é que ela estava centrada na ágora


(praça pública), espaço onde se debatiam os problemas de
interesse comum. Separavam-se na polis o domínio público e
o privado: isso significava que ao ideal de valor de sangue,
restrito a grupos privilegiados em função do nascimento ou
fortuna, se sobrepunha a justa distribuição dos direitos dos 14
cidadãos como representantes dos interesses da cidade.
Desse modo, era elaborado
o novo ideal de justiça, pelo
qual o cidadão tinha direito
ao poder. A noção de justiça
assumia caráter político e
não apenas moral, não dizia
mais respeito apenas ao
indivíduo e aos interesses da
tradição familiar, mas a sua
atuação perante a
comunidade.

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Expressar-se por meio do debate fez nascer a política, que
permite ao indivíduo tecer seu destino na praça pública. 16
A consolidação da democracia

Embora os regimes oligárquicos não tenham sido extirpados,


em muitas polis consolidaram-se os ideais democráticos. Entre
elas, Atenas.

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Os cidadãos livres, ricos ou
pobres, tinham acesso à
assembléia. Tratava-se da
democracia direta, em que
não eram escolhidos
representantes, mas cada
cidadão participava das
decisões de interesse
comum.

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A maior parte da
população ateniense se
achava excluída do
processo político, tais
como escravos e
estrangeiros (metecos),
mesmo que estes fossem
prósperos comerciantes.

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O que vale a pena enfatizar é a mutação do ideal político e
uma concepção inovadora de poder, a democracia. O hábito
da discussão pública, na ágora, estimulava o pensamento
racional, argumentativo, mais distanciado das tradições 20
míticas.
Os primeiros filósofos

Os primeiros filósofos
viveram por volta dos
séculos VII e VI a.C. e,
mais tarde foram
classificados como pré-
socráticos, quando a
divisão da filosofia
grega centralizou-se na
figura de Sócrates.

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Os escritos dos filósofos pré-socráticos desapareceram com
o tempo, e só nos restam alguns fragmentos ou referências
de filósofos posteriores. 22
Períodos da Filosofia Grega:
• Pré-socrático: ocupavam-se com questões cosmológicas,
iniciando a separação entre filosofia e o pensamento mítico.
• Socrático: ênfase nas questões antropológicas e maior
sistematização do pensamento.
• Pós-socrático: durante o helenismo, preponderou o
interesse pela física e ética. Sugiram as correntes filosóficas
do estoicismo, do hedonismo e do ceticismo.

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O princípio de todas as coisas

Os primeiros pensadores centraram a atenção na natureza e


elaboraram diversas concepções de cosmologia. Enquanto no
período mítico a cosmogonia relata o princípio como origem no
tempo (o nascimento dos deuses), as cosmologias dos pré-
socráticos procuram a racionalidade constitutiva do Universo. 24
Os pré-socráticos buscam o princípio (arkhé) de todas as
coisas. Buscar a arkhé é explicar qual é o elemento
constitutivo de todas as coisas.
Para Tales de Mileto, astrônomo, matemático e primeiro
filósofo, a arkhé é a água.

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De acordo com Pitágoras, filósofo e matemático, o número é a
essência de tudo; todo o cosmos é harmonia, porque é
ordenado pelos números.
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Para Anaximandro, o
fundamento dos seres é
uma matéria
indeterminada, ilimitada
(apeíron), que daria
origem a todos os seres
materiais.

27
Para Anaxímenes, é o ar, que pela rarefação e condensação faz
nascer e transformar todas as coisas.

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Para Parmênides o ser real é imóvel, imutável e o movimento
é uma ilusão, enquanto que para Heráclito tudo flui e tudo o
que é fixo é ilusão: “não nos banhamos duas vezes no mesmo
rio”. 29
• Anáxagoras sustentava que todas as coisas foras ordenadas
por um principio inteligente, uma Inteligência cósmica.

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Os quatro elementos, terra, água, ar e fogo constituem a
teoria de Empédocles.
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Os filósofos Leucipo e Demócrito são atomistas, por
considerarem o elemento primordial constituído por átomos,
partículas indivisíveis.

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Mito e filosofia: continuidade e
ruptura
Examinando os textos dos filósofos jônicos, o estudioso
Francis Mcdonald Cornford descobriu neles a mesma
estrutura de pensamento existente no relato mítico. Os
jônicos afirmavam que, de um estado inicial de indistinção,
separam-se pares opostos (quente e frio, seco e úmido), que
vão gerar os seres naturais (o céu de fogo, o ar frio, a terra
seca, o mar úmido).

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Para eles, a ordem do mundo deriva de forças opostas que se
equilibram reciprocamente. Para Cornford essa explicação
racional é similar aos relatos de Hesíodo na Teogonia, onde
Gaia gera sozinha por segregação, o Céu e o Mar; depois, da
união de Gaia com Urano resulta a geração dos deuses. 34
Existe uma ruptura entre mito e filosofia. Enquanto o mito é
uma narrativa cujo conteúdo não se questiona, a filosofia
problematiza e, portanto, convida à discussão. No mito a
inteligibilidade é dada, na filosofia ela é procurada. A filosofia
rejeita o sobrenatural, a interferência de agentes divinos na 35
explicação dos fenômenos.

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