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NATAL
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NATAL
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DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
À minha sempre adorável e amável orientadora, Dra. Márcia Maria Gurgel Ribeiro,
pelos ensinamentos, pela leitura cuidadosa do texto e pelas sugestões durante o
processo vivido.
Aos educandos do Módulo III da turma de Célia. São eles: Adelino, Ana Cristina,
Antônio, Aparecida do Norte, Andréia, Aparecida Pereira, Celi, Claudete, Cirlene,
6
À professora Dra. Tânia Maria de Melo Moura, pelo aprendizado sobre Educação de
Pessoas Jovens e Adultas, possibilitado por meio de sua participação no processo
da construção desta tese.
À Dra. Maria Iza Pinto de Amorim Leite. Para mim, exemplo de pessoa e de
profissional. Meus agradecimentos pelas indicações de leitura para a presente tese
e pela contribuição nesse processo.
À Dra. Maria Estela Costa Holanda Campelo, pela contribuição ao nosso trabalho de
tese ao longo de nossa formação no Programa de Pós-Graduação em Educação da
UFRN.
Ao colega e amigo Sandro Cordeiro, pela amizade construída e pelos diálogos sobre
nossas pesquisas.
À minha mais recente família, pelo encontro: José da Cruz Silva, Gilmaria Silva de
Souza, Tiago Tainner Souza Silva, Tainnan Cross Souza Silva, Junimar Souza Silva
e Brisa Allen Sousa Silva (in memorian).
À minha sempre amiga, presença de todas as horas, Josimara Santos Miranda, por
sua torcida, mesmo distante, para que eu alcançasse novos voos.
À minha amiga Ana Patrícia Dias, pelo apoio na indicação de bibliografias para a
apreensão de conceitos da tese e pela acolhida sempre.
7
A Maria Helena Weschenfelder e Irene Skorupski Saraiva, pelo que aprendi sobre
alfabetização de pessoas jovens e adultas nas experiências e estudos realizados
nos municípios de Tucano (BA) e Passo Fundo (RS).
A Sandra Márcia Campos Pereira, minha amiga de todas as horas. Obrigado por me
incentivar com palavras simples e, ao mesmo tempo, profundas e sinceras.
A Jussara Midlej, pelas orações e pela força impulsionadora, mesmo distante, nesse
processo.
A Marcelo Ribeiro Santos, meu compadre e amigo, pela torcida e pelo apoio para
que tudo ocorresse bem.
A Wanessa Cristina Prado, amiga e presença fraterna em minha vida. Com ela,
tenho me tornado uma pessoa e um profissional melhor.
A Elizabeth Maria de Melo Wolpert, pelo acolhimento, pelo carinho e pela presença
amiga com que me recebeu em Lisboa, Portugal, no primeiro semestre de 2009.
A Josimar Araújo dos Santos, pelos diálogos e pelas palavras de incentivo nessa
caminhada.
A dona Carminha, seu Ildo, Joaquim, Rafael, Messias e Edmundo, por sempre me
acolherem em seu lar e pelas orações constantes que fazem para mim.
Aos meus afilhados, Thaís, Clara, Reinaldo e Glenda. Eles me mostram a cada dia
que a vida pode ser sempre melhor e diferente.
LISTA DE QUADROS
Quadros Páginas
Quadro 1: Classificação dos saberes docentes 30
Quadro 2: Dados gerais sobre os partícipes 45
Quadro 3: Codificação das Notas de Campo referentes às atividades
desenvolvidas 185
Quadro 4: Codificação de entrevista coletiva, de diálogos sobre a
entrevista, de observações da prática, de sessões de estudo e de
sessões reflexivas coletivas 186
Quadro 5: Ações reflexivas propostas para as sessões intrapessoais 182
Quadro 6: Sistematização das sessões reflexivas coletivas 53
Quadro 7: Síntese das principais conclusões do Tornar-se professor 91
na EJA
Quadro 8: Saberes orientadores da EJA na EMSL nos anos iniciais do 111
ensino fundamental
Quadro 9: Sistematização da rede temática 115
Quadro 10: Saberes necessários para a docência na EJA 161
12
RESUMO
ABSTRACT
The present thesis, entitled Knowledge for teaching: reflecting over the Youth and
Adult Education, mainly considered common aspects concerning teachers’
knowledge and youth and adult education. It aimed to analyze, in partnership with its
participants, the knowledge which is requested for teaching youth and adults. It
focused on the following question: What teaching knowledge is necessary for the
professionals who work during the first grades of elementary school with the youth
and adults? The research took place in a school named Escola Municipal São Lucas,
located in the city of Vitória da Conquista, state of Bahia, having as reference the
discourses of four participants involved in the experience of research-formation. The
collaborative approach, based on qualitative principles, was the adopted theorical-
methodological way, considering four actions: describing, informing, confronting and
reconstructing. Collective interviews, study and reflection sessions, literacy practice
observations, documental analysis and notes regarding field work were procedures
adopted throughout the research. In order to analyze and organize data, we were
supported by the discourse analysis, by Bakhtin (1997), specifically about the
discussions around the ideas of theme and signification, which are concepts related
to processual and dialectical analysis. The results and conclusions of the research
make it possible to affirm that pedagogical practices, professional experiences,
dialogues with other individuals and knowledge acquired at the university and at
other learning environments are the participants’ main knowledge sources. When it
comes to the local educational politics, it is observed contradiction between the
participants’ desires regarding the school pedagogical routines and the proposals of
the local government in relation to education. From our point of view, the knowledge
identified and analyzed in this thesis demands the development of a diligent,
technical, scientific and politically planned formative process (initial and continued),
which requires fundamental public investments to recreate the educational politics
and, consequently, the pedagogical experiences within the schools, contributing to
the Youth and Adult Education professionalization process.
RESUMEN
SUMÁRIO
1
O primeiro grau no Brasil é denominado de ensino fundamental, conforme Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional, Lei n. 9394/96 (BRASIL, 1996).
19
muita tristeza. Em maio de 1997, ficamos sabendo de sua existência por meio de
uma turma de Pedagogia que o homenageava, em função de sua morte. Até aquele
momento, não sabíamos o que era Pedagogia do Oprimido, nem Educação como
Prática da Liberdade, duas de suas principais obras. Não conhecíamos sua história,
suas marcas registradas no Brasil e no mundo. Depois desse dia, passamos a ler e
a compreender suas contribuições para o campo da EJA, transformando-nos em
leitores permanentes de seu pensamento. Ele se tornou, em nosso trabalho de
mestrado, uma referência extremamente marcante para a compreensão das práticas
pedagógicas analisadas.
O nosso envolvimento com estudos durante o curso de Pedagogia, nas três
disciplinas referidas, e o trabalho de coordenação municipal no PAS possibilitaram a
definição do objeto de pesquisa para desenvolvimento no mestrado em Educação,
no período de 2001 a 2003, no Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade de Passo Fundo (UPF), no estado do Rio Grande do Sul. Nesse
período, buscamos compreender o processo educacional vivenciado no contexto do
município de Tucano, partindo de nossas práticas pedagógicas em suas múltiplas
relações estabelecidas com diferentes sujeitos na experiência em EJA (SANTOS,
2003). Esse trabalho de pesquisa sistematizou e analisou uma experiência
pedagógica desenvolvida no referido município, evidenciando as possibilidades e os
limites enfrentados no movimento concreto de ressignificação de um Programa de
Alfabetização, o PAS, em uma política de educação municipal. Priorizamos nessa
pesquisa discussões sobre: a) o processo de alfabetização em sala de aula; b) a
formação continuada desenvolvida com o grupo de alfabetizadores; c) a metodologia
adotada na experiência; e d) uma leitura crítica da nossa própria prática na condição
de coordenador municipal. Realizamos uma análise, possibilitando um conhecimento
intra e interpessoal (IBIAPINA, 2008), um conhecimento acerca de nós mesmos
(SOUZA, 2006), buscando aprender com a própria história (FREIRE; GUIMARÃES,
2000).
Tanto na pesquisa de mestrado quanto nas observações realizadas, na
condição de coordenador municipal do PAS, em Tucano, no período de 1998 a
2000, inquietavam-nos práticas pedagógico-curriculares desenvolvidas em uma
perspectiva contrária ao que acreditávamos. Encontrávamos, algumas vezes,
25
4
Essa experiência foi coordenada pela Dra. Maria Iza Pinto de Amorim Leite e pelo Ms. José Jackson
Reis dos Santos, autor desta tese (LEITE; SANTOS, 2006).
5
No segundo e no quarto capítulos deste trabalho, tratamos da EJA e de suas especificidades na
rede municipal de ensino de Vitória da Conquista, razão pela qual não fizemos essa discussão na
introdução desta tese.
26
QUADRO 1
Classificação dos saberes docentes
AUTORES TIPOLOGIAS DOS SABERES DOCENTES
1. Saberes da formação profissional (saberes das ciências da
educação e da ideologia pedagógica).
2. Saberes disciplinares (saberes de cada disciplina, campo
Tardif (2005) e/ou área de conhecimento).
3. Saberes curriculares (saberes oriundos dos discursos, dos
métodos, dos conteúdos e dos objetivos educacionais).
4. Saberes experienciais (saberes que emergem da
experiência e são validados por ela).
1. Saberes disciplinares (a matéria).
2. Saberes curriculares (o programa).
3. Saberes das ciências da educação (várias facetas do ofício
Gauthier et al. (2006) de ensinar ou da educação de um modo geral).
4. Saberes da tradição pedagógica (o uso).
5. Saberes experienciais (a jurisprudência)
6. Saberes da ação pedagógica (jurisprudência pública
validada).
1. O conhecimento do conteúdo.
2. O conhecimento pedagógico geral.
3. O conhecimento do currículo.
Shulman (1987; 1986) 4. O conhecimento pedagógico do conteúdo.
5. O conhecimento da aprendizagem e suas características.
6. O conhecimento do contexto educacional.
7. O conhecimento dos fins, propósitos e valores educacionais
e sua base filosófica e histórica.
1. Não há docência sem discência (rigorosidade metódica;
pesquisa; respeito aos saberes dos educandos; criticidade;
estética e ética; corporeificação das palavras pelo exemplo;
risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de
discriminação; reflexão crítica sobre a prática; reconhecimento
e assunção da identidade cultural).
Freire (1996) 2. Ensinar não é transferir conhecimento (consciência do
inacabamento; reconhecimento de ser condicionado; respeito à
autonomia do ser do educando; bom senso; humildade,
tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores;
apreensão da realidade; alegria e esperança; convicção de
que a mudança é possível; curiosidade).
3. Ensinar é uma especificidade humana (segurança,
competência profissional e generosidade; comprometimento;
compreender que a educação é uma forma de intervenção no
mundo; liberdade e autoridade; tomada de consciência de
decisões; saber escutar; reconhecer que a educação é
ideológica; disponibilidade para o diálogo; querer bem aos
educandos).
Fonte: Tardif (2005); Gauthier et al. (2006); Shulman (1987; 1986); Freire (1996).
6
Esclarecemos que não é nossa intenção aprofundar a temática da pesquisa-ação como abordagem
teórico-metodológica, mas apenas situar que a pesquisa colaborativa, opção teórico-metodológica
adotada neste estudo, é um desdobramento dela. Para um maior aprofundamento do tema,
recomendamos Franco (2005), Barbier (2002), Grabauska e Bastos (2001), Ibiapina e Ferreira (2005),
entre outros.
37
Essa segunda condição parte das práticas dos partícipes, por isso mesmo
referenda-se na realidade concreta na qual estão inseridas as pessoas, tomando
como objeto de tematização permanente suas experiências pedagógicas, no sentido
de analisar limites, possibilidades e contradições presentes nas próprias práticas.
Nas palavras de Ibiapina (2008, p. 18), “[...] o processo reflexivo exige mergulho
tanto no conhecimento teórico quanto no mundo da experiência, para que se possa
desvelar a que interesses servem as ações sociais e como elas reproduzem práticas
ideológicas [...]”.
39
8
a) Descrever: o que eu fiz?; b) Informar: o que essa descrição significa?; c) Confrontar: como eu
cheguei a ser desse jeito?; d) Reconstruir: como eu posso agir diferentemente? (tradução nossa).
42
9
Preservando o anonimato da instituição, ao longo deste trabalho, não identificaremos a escola onde
realizamos o estudo, sendo esta designada Escola Municipal São Lucas, em homenagem à primeira
escola na qual estudamos.
10
Neste trabalho, não explicitamos, por questões éticas, os nomes verdadeiros dos partícipes.
Chamamos os partícipes de Reinaldo, Glenda, Clara e Thaís, homenageando nossos quatro
afilhados. Não apresentamos, pela mesma razão, descrição detalhada da instituição e do contexto da
sala de aula que comprometam esse princípio.
45
Thaís. O outro partícipe é o autor desta tese, aqui chamado de Reinaldo. A seguir,
apresentamos o Quadro 2 com dados gerais sobre os partícipes11.
QUADRO 2
Dados gerais sobre os partícipes
ATUAÇÃO
TEMPO DE TEMPO DE PROFISSIONAL
NOME FORMAÇÃO TRABALHO NA TRABALHO NO NO PERÍODO
EJA MAGISTÉRIO DA PESQUISA
Formada em
magistério Professora no
Clara (ensino médio), Módulo III
Pedagoga e Dez anos Vinte e dois (correspondente
estudante de anos à terceira série
pós-graduação do ensino
(Especialização fundamental)
em Educação
Inclusiva)
Formada em
magistério Coordenadora
Glenda (ensino médio) e Dois anos Onze anos pedagógica da
estudante de EJA na EMSL
Psicologia
Formado em
magistério
(ensino médio),
Pedagogo, Seis anos Dez anos Pesquisador
Reinaldo Mestre em
Educação e
doutorando em
Educação
Formada em
magistério
Thaís (ensino médio) e Quatro anos Vinte e dois Vice-diretora da
estudante de anos EMSL
Pedagogia
Fonte: Pesquisa do autor, 2008.
11
No terceiro capítulo, apresentamos características mais específicas sobre cada um dos partícipes;
por essa razão, não trataremos desse conteúdo neste espaço do trabalho.
46
12
Os anos iniciais do ensino fundamental na EJA, também chamados de Segmento I, organizam-se,
na rede municipal de ensino de Vitória da Conquista, em quatro módulos: Módulo I (correspondente à
1ª série), Módulo II (correspondente à 2ª série), Módulo III (correspondente à 3ª série) e Módulo IV
(correspondente à 4ª série).
48
13
Sobre o processo de construção da rede temática com seu Plano de Ação, tratamos no quinto
capítulo desta tese.
49
De acordo com Lüdke e André (1986, p. 34), “[...] a entrevista permite [...]
esclarecimentos e adaptações que a tornam sobremaneira eficaz na observação das
informações desejadas”. No sentido que estamos atribuindo à entrevista, esta
possibilitou maior flexibilidade pelo fato de, em diálogo com os partícipes, termos
autonomia para acrescentar questionamentos, ampliar o diálogo, redirecionar as
possibilidades de apreensão e compreensão do objeto de estudo.
Para Kramer (2003, p. 74-75), na entrevista coletiva:
conforme Ibiapina (2008, p. 89), “[...] se constitui na observação realizada por meio
de processos cíclicos e sistemáticos de reflexão na e sobre a ação”.
As observações realizadas pelo pesquisador no contexto da sala de aula da
partícipe Clara tiveram como objetivo identificar saberes necessários para a
docência na EJA durante a dinâmica cotidiana da sala de aula com jovens e adultos.
Antes de realizar as observações, dialogamos com a educadora sobre os objetivos
desse procedimento, o que tornou mais tranquila nossa entrada no contexto da sala
de aula. As observações foram realizadas das 19h30min às 21h30min, nos meses
de agosto e setembro de 2008, totalizando 20 horas. Paramos de realizar as
observações na medida em que fomos percebendo uma certa repetição nas ações
pedagógicas da educadora, o que nos possibilitou entender como acontecem as
práticas alfabetizadoras em sala de aula. A escolha dessa sala ocorreu pelo fato de
Clara ser a única, entre os quatro partícipes, a estar ministrando aula no período em
que realizamos a pesquisa.
Na medida em que acompanhamos a experiência pedagógica de Clara,
realizamos um processo de sistematização dos dados por meio de Notas de Campo
(NC) (Apêndice B), constituindo, assim, “[...] o relato escrito daquilo que o
investigador ouve, vê, experiencia e pensa no decurso da recolha e reflectindo sobre
os dados de um estudo qualitativo”. (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 150). As NC foram
compreendidas como um recurso capaz de registrar impressões, falas e significados,
produzidos e explicitados durante a pesquisa. (MINAYO, 1994). Registramos, nesse
contexto, regularidades, contradições, práticas, saberes, entre outros, inerentes à
dinâmica da sala de aula observada.
As NC são recursos que possibilitam o desenvolvimento, em um primeiro
momento, de uma reflexão intrapsicológica (VYGOTSKY, 2007), pois o sujeito da
pesquisa dedica-se a descrever e a tecer comentários sobre o que vem observando
e experienciando no campo empírico, constituindo uma relação individual com o
objeto de estudo; em um segundo momento, no grupo de pertença, as notas
transformam-se em um recurso para leitura e socialização pública da prática
sistematizada, passando a ser um momento interpsicológico (VYGOTSKY, 2007),
desenvolvido com o grupo.
51
pensar sobre nós mesmos como sujeitos críticos imersos em um processo educativo
coletivo.
No percurso da nossa tese, nas sessões coletivas de diálogo, desenvolvemos
momentos como:
Estudo de textos para aprofundamento teórico;
Construção coletiva de rede temática da EMSL para o ano de 2008;
Leitura e análise da proposta de EJA da rede municipal de ensino;
Leitura e análise de ideias apresentadas na entrevista coletiva;
Leitura e análise de notas de campo, especificamente sobre as
observações de práticas alfabetizadoras;
Leitura e análise das sessões de estudo e das sessões reflexivas coletivas;
Leitura da análise da tese em construção.
Nessas sessões, por meio da reflexividade crítica (DOMINGO, 2003),
construímos uma maior interação entre nós, por meio de um diálogo profundo,
aberto e crítico sobre o objeto de estudo da presente tese. As sessões coletivas de
diálogo foram momentos em que ouvíamos melhor uns aos outros; momentos de
escuta, de falas e de compreensão de sentidos em torno dos saberes para a
docência na EJA. As sessões significaram ainda tempos e espaços de ampliação da
autonomia profissional docente; contextos de trabalho pedagógico mais apurado em
torno das práticas alfabetizadoras, reflexionando o pensamento, de maneira
distanciada, sobre o que observávamos, o que ouvíamos, o que experienciávamos e
o que produzíamos na condição de grupo.
As sessões de estudo, primeira modalidade das sessões coletivas de
diálogo, foram realizadas com o objetivo de estudar sobre temas como: a) pesquisa
colaborativa e seus princípios; b) organização curricular da EJA na rede municipal
de ensino; e c) saberes docentes. A centralidade das sessões de estudo foi a
realização de leitura e a análise de textos de autores que abordavam temáticas de
interesse do grupo, significando, desse modo, um momento essencialmente
formativo, possibilitando a ressignificação de conceitos e dos sentidos atribuídos às
práticas desenvolvidas pelos partícipes.
As sessões reflexivas coletivas, segunda modalidade das sessões
coletivas de diálogo, utilzada nesta tese para refletir as práticas, orientam-se por
53
QUADRO 6
Sistematização das sessões reflexivas coletivas
motivações para esses saberes e que saberes seriam esses? Você teve
aprender a ensinar; acesso ao Paulo Freire antes ou depois da sua prática? E
formação você participou de algum curso de formação da SMED? E
continuada; dessas suas várias experiências, Clara, você localizaria
avaliação. alguns saberes que você considera necessários para atuar
na alfabetização com jovens e adultos? Com base no que
vocês acabaram de falar, eu queria que vocês
conceituassem alfabetização. Esse conceito de
alfabetização que você está dizendo não ultrapassaria
aquela compreensão que você acabou de falar antes?
Thaís, como é que você entende essa questão da
alfabetização? Você reproduzia, de certa forma, na prática,
aquilo que você aprendeu na escola do magistério? Em
que módulo vocês poderiam dizer que uma pessoa está
alfabetizada? Pela proposta da SMED, essa concepção de
alfabetização que vocês estão apresentando estaria
coerente ou teria um limite que o Reaja consideraria que
alguém estaria alfabetizado? Glenda, pela proposta da
SMED, como é que você vê a concepção de alfabetização
que vocês acabaram de falar? O educando pode chegar
ao quarto módulo, de fato, sem nenhum conhecimento?
Clara, você poderia falar sobre a sua concepção de
alfabetização novamente? Você está me dizendo o
seguinte: aprendeu a ler e a escrever a pessoa está
alfabetizada? Você considera negativo esse modo de não
impedir o educando de frequentar o módulo subsequente?
Então, o educando acompanha a professora e não o
módulo? Isso se refere ao sentido de vínculo afetivo com o
educador?
Clara: Glenda, em suas leituras, o que você acredita,
voltado ao nosso trabalho, que esteja sendo positivo ou
negativo também? E sobre essa questão da
alfabetização?.
Reinaldo: O que vocês entendem sobre docência? Como
vocês se tornaram professoras? No caso da EJA, o que é
docência? Poderíamos dizer que há uma inversão também
na lógica do adulto estudante? Ele precisa se identificar,
criar um vínculo, uma relação de afetividade com o
professor? Ou seja, ele também tem que se identificar com
Quarta sessão Docência; tornar-se esse tipo de trabalho? Quando vocês falam sobre as
reflexiva coletiva professor na EJA; características desse grupo, quais características seriam
docência como essas? Clara, você pensa o quê sobre docência? Ser mais
doação. do que professor, isso significa o quê? Depois de reler as
próprias ideias que vocês colocaram sobre docência, o que
é que vocês diriam de docência? Manteriam essa mesma
compreensão que vocês tiveram no momento inicial,
quando começamos a pesquisa? Por que é que algumas
de vocês riram quando eu li? O que é que esse riso
significou? Thaís, para você, quando perguntamos o que
é docência, qual é o conceito de docência que você
afirmou? Isso de ser assistencialista não estaria um pouco
nessa concepção? Como é que você, Clara, diria
diferentemente disso aqui que você afirma que a docência
é um ato de doação? Você conseguiria transformar essa
ideia de doação para um outro sentido?
Clara: E você, Reinaldo, o que diria?
Diálogo sobre o
Quinta sessão conteúdo das Reinaldo: Vocês identificariam alguns saberes da prática
reflexiva coletiva observações alfabetizadora de Clara? Que saberes são esses
realizadas na sala presentes nas descrições das práticas observadas?
de aula de Clara.
Fonte: Pesquisa do autor, 2008.
55
14
Até o ano de 2008, eram três profissionais os responsáveis pela coordenação da EJA, na rede
municipal de ensino de Vitória da Conquista (BAHIA, 2007a).
58
pedagógica da rede municipal, tendo como referência o contexto das escolas locais
e seus desafios, buscando apontar, coletivamente, outros caminhos para qualificar
as ações pedagógicas na EJA.
A experiência em EJA, ensino fundamental, na rede municipal de ensino da
cidade de Vitória da Conquista, foi aprovada com o nome Programa Repensando a
Educação de Adolescentes, Jovens e Adultos (Reaja)15. O Programa Reaja, como é
mais conhecido, foi aprovado no ano de 1997, visando atender, no campo e na
cidade, as pessoas com necessidade de continuidade de estudos ou que tivessem
interesse em começar seu processo de alfabetização. Um dos objetivos do Reaja
era diminuir os índices de analfabetismo do município de Vitória da Conquista16. O
Reaja substituiu a experiência anterior nessa modalidade, centrada em classes de
alfabetização para adolescentes, o chamado terceiro turno. “O terceiro turno se
configurou na rede pública municipal, até 1997, como um horário alternativo, das
17:00h às 20:30h, com o objetivo de atender aos adolescentes que, por motivo de
trabalho, não podiam estudar no diurno”. (BAHIA, 2007a, p. 16).
Em 1997, conforme discurso presente em documentos oficiais, a
Administração Municipal assumiu a EJA como compromisso político, fazendo parte
do planejamento global da SMED, na tentativa de não implementar campanhas de
alfabetização, mas de garantir uma política educacional para jovens e adultos.
(BAHIA, 1999a).
Além do compromisso político, apresentado como uma das justificativas para
a criação do Programa Reaja, aparece a exigência legal, constituindo-se em
obrigação do poder público, em nível municipal, estadual e nacional. Podemos dizer,
nesse sentido, que o Reaja é resultado também do que já estava expresso na
15
Em dezembro de 2008, tivemos conhecimento, na EMSL, que a SMED substituiu a denominação
“Programa Reaja” pela expressão “Educação de Jovens e Adultos – EJA”. Documentos analisados
para a presente tese, referentes à EJA em Vitória da Conquista, já apresentam a expressão
Educação de Jovens e Adultos. Exemplos desses documentos são: a) Proposta pedagógica –
Educação de Jovens e Adultos (BAHIA, 2007a); b) Princípios pedagógicos e metodológicos:
educação de jovens e adultos (BAHIA, 2007b); c) Roteiros didáticos: educação de jovens e adultos –
segmento I. (BAHIA, 2006).
16
Conforme dados do IBGE, Vitória da Conquista, em 2005, possuía 19,78% de analfabetismo,
considerando-se a população de 15 anos ou mais de idade. No site da Prefeitura de Vitória da
Conquista, em julho de 2009, há informação de que “[...] o índice de alfabetização de jovens, adultos
e idosos em Vitória da Conquista está em torno de 82% [...]”, considerando-se a população de 15
anos ou mais de idade, significando que 18% da população não sabe ler e escrever. (VITÓRIA DA
CONQUISTA, 2009).
59
TABELA 1
Matrícula no Programa Reaja – 1997 a 2008
17 18
ANO Segmento I Segmento II
1997 988 -
1998 3.672 -
1999 4.515 -
2000 6.733 -
2001 5.727 -
2002 6.371 -
2003 5.650 -
2004 4.649 -
2005 4.628 -
2006 3.407 535
2007 3.090 3.300
2008 2.105 3.153
Fonte: Vitória da Conquista, 2008b.
17
O Segmento I, na EJA, refere-se aos quatro primeiros anos do ensino fundamental.
18
O Segmento II, na EJA, refere-se aos quatro últimos anos do ensino fundamental.
19
O ProJovem Urbano foi criado pela Medida Provisória 411, de 28 de dezembro de 2007, no âmbito
da Política Nacional de Juventude, localizado na Secretaria-Geral da Presidência da República, sob
responsabilidade da Secretaria Nacional de Juventude, buscando atender jovens na faixa etária de 18
a 29 anos que não sabem ler ou escrever ou, ainda, que não concluíram o ensino fundamental.
Conforme orientações oficiais, o Programa busca articular: a) a elevação da escolaridade, buscando
alcançar a conclusão do ensino fundamental; b) qualificação profissional com certificação de
formação inicial; c) participação cidadã com a promoção de experiência de atuação social na
comunidade. Há uma prioridade no Programa para articular educação e trabalho, o qual é entendido
como princípio educativo, por meio de atividades de escolarização, profissionalizantes e cidadãs
(comunitárias) (CORDÃO, 2008, p. 3).
60
De acordo com Flickinger (2002, p. 150-151), “a leitura dialética, por sua vez,
torna possível revelar [...] o lado avesso do que se vê explicitamente enfocado,
tematizando, assim, o não tematizável dentro de uma mesma leitura”. Essa
abordagem teórica e metodológica possibilita analisar contradições, conflitos e
tensões que se estabelecem no interior do processo investigativo sem perder a
dimensão de totalidade na qual se encontra o objeto de estudo. Esse sentido de
movimento, inerente ao pensamento e ao fazer dialético, perpassa a análise por nós
desenvolvida. Os discursos dos partícipes apresentados ao longo da tese
representam momentos do processo construído e vivido. Nossa tentativa, ao utilizar
essa abordagem, é de captar a complexidade do real, suas contradições, suas
(ir)regularidades, permanências e mudanças.
No primeiro momento da organização dos dados, fizemos uma leitura geral de
todo o material empírico produzido em diferentes momentos da pesquisa:
a) observações diretas na escola e na sala de aula; b) entrevista coletiva; c) sessões
coletivas de diálogo (incluindo sessões de estudo e de reflexão). Interessou-nos,
nesse contexto, adentrar, de maneira geral, no material construído junto com os
partícipes, identificando o que estava escrito (ditos e não ditos) nos diversos
discursos dos sujeitos.
Em um segundo momento, lemos todo o material empírico e localizamos
temas e suas respectivas significações, apreendendo os sentidos produzidos
contextualmente pelos partícipes envolvidos na pesquisa. Na medida em que líamos
o material empírico, indicávamos também possibilidades de estudo de teóricos que
poderiam contribuir com a compreensão e a análise dos dados.
Nosso recorte para definição dos temas foi, essencialmente, semântico,
buscando apreender os significados atribuídos pelos partícipes, de acordo com o
tema da enunciação. Desse modo, os discursos apresentados ao longo da tese
situam-se no âmbito das significações, as quais são atravessadas por seus sentidos
construídos na interação entre locutor e receptor, por meio de uma atitude ativa e
responsiva dos partícipes (BAKHTIN, 1997).
Na etapa de organização e de análise dos dados, estabelecemos diálogos
permanentes entre os partícipes, repensando sempre nossas compreensões sobre o
que íamos construindo. Com base nesses diálogos, fomos incluindo observações e
66
reelaborando ideias acerca do objeto de estudo. Nosso olhar esteve sempre atento
ao fato de não enquadrar demais a experiência de pesquisa, evitando, assim, que
esta perdesse sua dimensão processual.
Diante do exposto, passamos, no próximo capítulo, à análise dos dados,
apresentando os protagonistas dessa experiência. Para isso, analisamos
conjuntamente o processo pelo qual nos tornamos professores na EJA como forma
de entender o contexto de construção dos saberes docentes.
67
coletiva, apontando questões sobre nós mesmos. Esse foi mais um dos momentos
ricos em conhecimentos vividos no percurso investigativo-formativo da pesquisa
colaborativa, uma experiência dialogal, construindo um conhecimento sobre si, de si
mesmo em relação com o outro, com seus olhares, gestos, dizeres, risos, silêncios,
escutas, exigindo de nós “[...] atitudes de escuta, de silêncio, de suspensão de juízo,
de opiniões pré-concebidas e de verdades absolutas” (SOUZA, 2006, p. 93).
3.1.2 Percepção de si
sinceramente, não sei como elas me veem. Prefiro que elas falem”. (EC-P03, 18 jun.
2008).
Thaís percebe, em suas reflexões, a dificuldade de responder a essa
pergunta, mas afirma seu posicionamento em torno da ideia de comprometimento
com a escola, com a instituição na qual atua.
Glenda: Como falei no início, só fiz o magistério. […] foi mais uma
orientação da minha tia, porque “magistério é um curso bom, é
melhor que contabilidade” (ela dizia). Na época, a gente tinha
contabilidade, científico ou magistério. Era melhor magistério até
porque, para mulher, magistério é melhor do que contabilidade,
científico (acreditava-se). Eu fiz mais por orientação e não por
vocação. Não me arrependo de ter feito magistério, mas [risos].
Quando você faz, você aprende, mesmo quando não faz por
vocação, por interesse. Quando você passa a atuar, acaba
aprendendo a gostar do curso, da área, mesmo que não fosse isso
que eu quisesse para o resto da minha vida, mesmo que eu não
quisesse permanecer nessa área. Mas eu gosto, procuro fazer da
melhor forma. Os cursos (de formação) que fiz só se limitaram a isso.
(EC-P01, 16 jun. 2008).
são estabelecidos à experiência”, pois “A arte de narrar, como uma descrição de si,
instaura-se num processo metanarrativo porque expressa o que ficou na sua
memória”. Esse exercício, formativo no seu fazer e no seu pensar, instaura um
processo de reflexividade de si, no sentido de compreensão mais aprofundada sobre
os percursos realizados no magistério. De outro modo, possibilita, na interação
dialógica, ultrapassar compreensões equivocadas em torno da educação e de seus
limites e possibilidades, pois é um processo feito com o outro, entendido como
presença dialogante (BAKHTIN, 1997), e não simplesmente para o outro ou sobre o
outro. Percebemos, assim, que, embora tenham enfrentado dificuldades para
tornarem-se professores, os partícipes, ora influenciados pela família, ora tendo feito
suas próprias escolhas, vão se descobrindo e construindo seu percurso profissional
nas interações sociais.
Thaís: […] E a minha experiência com EJA ela se deu por conta de
quando eu fiz vestibular, aí eu passei no vestibular, na instituição X,
para o curso de Pedagogia. Eu trabalhava sempre nos turnos
matutino e vespertino. Como minha opção foi pela manhã, eu tive
que mudar de turno – fui para o noturno. A princípio, foi por falta de
opção mesmo, seria a solução no momento […]. (EC-P01, 16 jun.
2008).
Clara busca ampliar sua carga horária (de 20 para 40 horas semanais) e, ao
mesmo tempo, organizar seus tempos pedagógicos com as questões familiares.
Assumindo responsabilidades em casa, que envolvem os filhos e outras atividades,
a partícipe desdobra-se para dar conta de suas atribuições de professora.
79
Como dissemos, Thaís considera a prática como fonte principal: “eu fui
mesmo me destrinchando na prática” e, ao lado disso, acrescenta os diálogos
estabelecidos com os colegas de profissão, buscando esclarecer dúvidas e solicitar
sugestões sobre o processo de alfabetização. Nos estudos realizados por Tardif
(2000; 2005), esse autor utiliza-se do termo saberes da experiência para dizer que
os professores, no seu cotidiano, têm uma tendência de validar e de legitimar suas
práticas, baseando-se mais nos anos de experiência profissional que possuem e
menos nos outros saberes (da formação profissional, disciplinares e curriculares)
81
pelos quais passaram no período de formação inicial. Para Tardif (2005, p. 49), os
saberes experienciais são construídos no cotidiano da prática profissional,
constituindo-se em uma “cultura docente em ação”.
A experiência de trabalho docente, para Tardif e Lessard (2007), tem um
sentido de hierarquização e de mobilização de saberes em situação profissional,
porém sem significar a desvalorização dos demais saberes (da formação
profissional, dos disciplinares e dos curriculares). Compreendemos, assim, que, na
atuação profissional, os docentes mobilizam esquemas, habitus, saber-fazer, saber-
ser e conhecimentos. Nesse sentido, dependendo das circunstâncias contextuais,
das surpresas que o cotidiano da ação docente apresenta, os docentes mobilizam,
na interação do trabalho, saberes necessários ao agir profissional competente. Na
abordagem de Tardif e Lessard (2007), a experiência do trabalho exige do
profissional o seu envolvimento em uma perspectiva integral. É o sujeito em uma
dimensão de inteireza, diria Freire (1996), com seus conhecimentos, mas também
com toda a sua história de vida, com suas certezas e incertezas dos processos de
escolarização vivenciados (TARDIF; LESSARD, 2007; FREIRE, 1996; PINHEIRO,
2007).
Thaís e Reinaldo reconhecem, ainda, a relevância de conhecimentos
adquiridos no âmbito do curso de Pedagogia no contexto da formação profissional
em nível de graduação. Os conhecimentos apreendidos na formação profissional
são validados, especialmente no discurso de Reinaldo. Glenda, por sua vez,
destaca ações formativos da SMED como referência e fonte de conhecimento para o
trabalho em sala de aula:
Percebemos, assim, uma defesa enfática da docência como doação: “eu não
tiro a palavra doação em momento nenhum”, afirma Clara. Essa colaboradora, como
já explicitamos anteriormente, traz a prática, a experiência profissional, como uma
das fontes principais de aquisição de saberes, o que também se revela ao discutir a
concepção de docência. Há uma perspectiva espontânea (VYGOTSKY, 2007) para
expressar o conceito de docência, fruto de suas relações sociais e culturais, e
menos de um conhecimento especializado sobre o termo. Perpassa esse discurso
um sentido de fé, “[...] indicando que a dimensão religiosa pertence aos atributos do
conceito clássico de docência” (IBIAPINA, 2008, p. 43).
Nas partícipes Thaís, Clara e Glenda, identificamos diferentes perspectivas
quanto ao conceito de docência. De um lado, é visto como prática sacerdotal e
assistencial, e menos profissionalizante, o que distancia a prática docente da
categoria de profissional, reportando-se ao período em que a atividade do ensino
estava sob a jurisprudência da Igreja (do século XII até meados do século XVIII),
afirma Ibiapina (2008); de outro, docência é procura, busca, relação respeitosa e
prazerosa entre educadores e educandos. A busca a que se refere Clara diz
respeito a um processo individual do professor, conforme identificamos no fragmento
citado. Não há um entendimento e aprofundamento de docência como campo
específico de formação e profissionalização docente. O conceito de docência, como
“[...] atividade especializada que necessita do domínio de conhecimentos, da
90
QUADRO 7
Síntese das principais conclusões do “Tornar-se professor na EJA”
Glenda: Eu acho que pela proposta seria uma coisa lógica: você
está no módulo I, então ele tem que estar decodificando e nem
sempre isso acontece. Não quer dizer que ele está no Módulo I, que
ele vai passar por esse processo, que vai acompanhar, porque ele
pode chegar ao quarto módulo sem nenhum conhecimento. Isso
pode porque não tem retenção. O aluno é automaticamente
aprovado.
Thaís: É o que eu falei: não é só, mas também, ele também precisa
dominar a leitura e a escrita, codificar e decodificar. Se ele não
conseguir codificar e decodificar, vai ser aprovado assim mesmo?
Glenda: Vai.
Thaís: E a proposta permite. Permite não, obriga, praticamente.
Glenda: Permite e aprova.
Thaís: É uma crítica que eu faria à proposta. Se o aluno não tem
condições de ser avançado, se não tem o domínio da leitura e da
escrita, ele não poderia ser avançado. Ele teria que permanecer,
mesmo que não permanecesse naquele nível, porque a gente sabe
que a diferença de nível de aluno é geral. A gente não tem uma sala
homogênea, os conhecimentos são vários. Agora, se o aluno não
domina a leitura e a escrita, eu acho que ele não deve ser avançado,
não.
Clara: E os próprios módulos não impedem que eles perpassem ano
a ano, mesmo que não esteja alfabetizado [...]. Eu não sei. Segundo
a SMED, segundo os estudos que eles colocam, para eles é positivo,
porque faz com que o aluno continue caminhando de maneira
positiva, processual. Mas o próprio aluno, às vezes, quer retornar.
Aconteceu conosco este ano com uma estudante. Ela falou:
professora eu não estou enquadrada na turma, eu vou voltar para o
módulo I. Eu não impedi porque é questão de ela entender. Se ela
percebeu que realmente não estava rendendo, ela entendeu que
precisava recuar e foi em busca. Ela estava se sentindo bem no
primeiro módulo? É uma pergunta que deve ser feita para ela.
Reinaldo: Eu acredito que a história do avanço é positiva. O que eu
acredito é o seguinte: no cotidiano, a gente não tem a estrutura ideal
para implementar a proposta, porque, por exemplo, penso que o
aluno poderia continuar no módulo seguinte, sem ser retido no
anterior, mas ele teria que ter um acompanhamento individualizado
com outro profissional, porque não necessariamente o professor
daquela turma seria responsável por ele. Ou ainda: a depender da
comunidade, poderia criar outras turmas para acompanhá-los
individualmente, mesmo com aqueles estudantes que têm maiores
dificuldades no processo de aprender a ler e a escrever. Nesse caso,
a progressão automática se legitimaria como algo dentro da própria
avaliação, porque avaliação é processo. Se é processo, seria esse
movimento; a gente não reteria os estudantes. Há casos, por
exemplo, na sala de Clara, especiais, que ela por si só não daria
conta de acompanhar esses estudantes. Precisaria de outro
profissional junto com ela na própria escola para atender as outras
turmas.
Clara: O que eu vejo de avanço é o aproveitamento dos
conhecimentos que ele já tem. Há alunos que têm possibilidade de
ser avançado e ele tem que aguardar cem dias. Se ele tem o
96
20
A codificação de todas as sessões reflexivas coletivas encontra-se no Apêndice C.
97
Essa é uma formação que não cessa no [...] ato de organizar, sistematizar
conhecimentos a serem construídos em conjunto com educandos(as) ou
seja, não pode significar meramente a organização didático-pedagógica de
saberes. [... precisamos constituir processos de formação continuada
investigando, analisando, compreendendo o que, como, por que, para quê,
a favor de quem, contra quem estamos fazendo, pensando, construindo o
quefazer pedagógico. Esta prática requer, assim, a tessitura de novos fios e
redes teórico-metodológicos, de novos olhares crítico-reflexivos acerca do
que produzimos no contexto concreto de vivência da práxis pedagógica.
21
Representa a articulação entre matéria e didática pela qual se chega a uma compreensão de como
determinados temas e problemas organizam-se, representam-se e adaptam-se aos diversos
interesses e capacidades dos alunos [...] (tradução nossa).
107
Glenda: E também eu acho que deveria ter um livro, uma coisa para
auxiliar o professor, porque fica muito limitado ali, tudo o que você
108
turnos diferentes daqueles em que vão à escola. Nesse contexto, o livro didático
pode transformar-se num material fundamental para potencializar momentos, em
casa ou na escola, de leitura para os educandos.
fazem, para quê fazem) e o que pensam sobre o que fazem, qualificando desse
modo o processo formativo em desenvolvimento.
Ao planejar a prática docente, os partícipes afirmam que são necessários
alguns saberes, quais sejam: a) o conhecimento da realidade; b) o conhecimento
dos educandos e de seus saberes cultural e socialmente construídos; c) o domínio
dos conteúdos das diferentes áreas de conhecimento; d) a preparação das aulas;
e) a permanente atualização profissional. Ao planejar, destacam os partícipes, é
necessário ainda a definição de estratégias pedagógicas e da ressignificação do
planejamento em ação, considerando-se as imprevisibilidades da prática
pedagógica. Nessa perspectiva, os colaboradores “[...] revelam [...] que os
conhecimentos necessários à ação pedagógica envolvem não só os significados
epistêmicos dos conceitos nas áreas diferentes do currículo, mas, os procedimentos
e métodos construídos no processo de ensino” (RIBEIRO, 2005, p. 8). Destacam-se
nesse contexto a capacidade dos colaboradores de construir diferentes
metodologias e estratégias para contribuir com a alfabetização dos jovens e adultos.
Como estratégias mediadoras da prática pedagógica em sala de aula, os
partícipes solicitam a construção de um livro para a EJA, considerando as
especificidades da experiência na rede municipal de ensino ou, ainda, a adoção de
materiais de leitura já produzidos e possíveis de serem adaptados à realidade da
escola. No âmbito dos materiais didático-pedagógicos, os colaboradores
evidenciam, ainda, a necessidade de outros materiais e recursos capazes de
estimular os educandos no desenvolvimento de práticas de leitura e de escrita.
Exemplo disso é a necessidade de uma biblioteca na instituição. O Quadro 8 a
seguir explicita uma síntese dos saberes orientadores da EJA no contexto da
experiência investigada.
111
QUADRO 8
Saberes orientadores da EJA na EMSL
Diferentes Pareceres
Avaliação Avanço Permanência concepções descritivos ---------
Escola como Práticas
Formação espaço alfabetizadoras Ações formativas Tempos Atualização
continuada privilegiado de como objeto de isoladas insuficientes de profissional
formação estudo formação permanente
permanente
QUADRO 9
Sistematização da rede temática
FALAS SUBTEMAS ASPECTOS ASPECTOS
DECORRENTES MEDIADORES
Textos informativos em
Falta iluminação, Iluminação. sala.
pavimentação e Pavimentação. Palestras.
segurança. Aspectos sociais: Bairro. Entrevistas.
Aumento de fluxo de Comunidade. Segurança. Mapeamento da
transporte coletivo. Lazer. realidade do bairro.
Falta área de lazer. Saneamento Produção de cartazes,
Ausência de caixas básico. livros, paródias e
eletrônicos. poesias.
Confecção de
maquetes.
Ampliação do Qualidade no
número de atendimento. Palestras.
funcionários do posto Prevenção de Texto informativo.
de saúde para se ter doenças. Exibição de filmes.
também um melhor Saúde. Sexualidade. Pesquisas.
atendimento. Assistência médica. Debates.
Produções diversas.
Lugar onde se
encontra apoio,
amor, carinho, enfim, Valores. Palestras.
é a base da Afetividade. Produção de textos.
construção de cada Família. Religião. Dramatizações.
cidadão. Conflitos.
Religião é um
suporte na criação
dos filhos.
Lugar onde se
deveria ter
orientação sexual,
mas não se tem.
Fonte: Pesquisa do autor, 2008.
116
Expressões numéricas
Porcentagem do cotidiano e problemas
Subtração com uso do dinheirinho
Como comprar em época festiva?
Nós no Universo
Nós no Sistema Solar/Terra
Onde nos situamos – mapa mundi
O planeta Terra – texto
Geografia da região Nordeste – extraído do filme de Lampião
Desenho e representação da região Nordeste
Representando espaços – mapa e legenda
Nosso mapa – direcionando e limitando
Paisagem natural e modificada
Santa Catarina – relevo em desastre
Relevo de Vitória da Conquista
22
Base de conhecimento (tradução nossa).
123
sabem o que sabem sobre como ensinam (SHULMAN, 1987). Para esse autor, a
base de conhecimento do professor não é definitiva, conclusiva ou final. O autor diz
ainda que estudiosos e profissionais especializados são capazes de pensar, definir e
desenvolver princípios e orientações educativas, visando um ensino com qualidade,
pois o “teaching is, essentially, a learned profession23” (SHULMAN, 1987, p. 9).
Ao tratar do conhecimento do conteúdo, uma das bases de conhecimento
para o profissional atuar, Shulman (1987) refere-se à formação científica necessária
para todo profissional. No contexto da nossa tese, são os conhecimentos dos
diversos campos do saber definidos pelas instituições de ensino para a formação de
professores da educação básica. Como exemplo, citamos as seguintes áreas:
linguagens e códigos; ciências da natureza e exata; ciências humanas e sociais.
Conforme Veiga (2004, p. 52), o conhecimento do conteúdo volta-se à “preparação
científica do professor, relativamente à área específica que vai leccionar”.
Shulman (1987) afirma que não podemos ensinar o que não temos domínio, o
que não sabemos. Essa máxima é defendida pelo autor para mostrar a necessidade
de que os profissionais do ensino precisam dominar o conteúdo da matéria, da
disciplina ou do campo/área de conhecimento no qual atuam, bem como a natureza
histórica e filosófica dos referidos campos de estudo. A esse respeito, Shulman
(1987, p. 9) declara: “This knowledge rests on two foundations: the accumulated
literature and studies in the content areas, and the historical and philosophical
scholarship on the nature of knowledge in those fields of study24”.
No Diário Escolar de Clara, destacam-se atividades didático-pedagógicos,
tais como: a) produção de texto coletivamente; b) exposição e análise de filmes;
c) realização de palestras sobre temas de interesse da comunidade (Segurança e
Saúde, Estatuto do Idoso, Política Municipal, por exemplo); d) uso de exemplos do
cotidiano de vida dos educandos; e) uso de livros e textos informativos; f) realização
de atividades de confraternização (Dia das Mães, Festas Juninas, Dia dos
Namorados).
23
Ensino é, essencialmente, uma profissão aprendida (tradução nossa).
24
Esse conhecimento sustenta-se em dois fundamentos: a literatura acumulada e estudos em áreas
de conteúdo, e os saberes históricos e filosóficos sobre a natureza do conhecimento nas áreas de
estudo (tradução nossa).
124
Glenda: Porque de um tema você cria uma rede; dentro dessa rede,
você vai trabalhar com vários temas e surgem vários temas. (CETG,
1º out. 2008).
Diante desse diálogo sobre diferenças entre tema gerador e rede temática,
observamos, sobretudo, que ambos são complementares, um “amarra” o outro, um
possibilita a articulação com o outro. Entretanto, fica evidente que a construção da
rede depende da definição da fala significativa (ou falas significativas) que será
representativa face a todas as outras falas para tornar-se o tema gerador, “o centro
de tudo”, como afirmou Clara. Nossa conversa formativa e investigativa prosseguiu
com a proposta do grupo de construir outra rede temática, tendo como referência os
dados da rede anterior. O discurso a seguir mostra os primeiros momentos em que
Reinaldo provoca o grupo para pensar sobre o que eles fizeram, ou seja, pensar a
própria prática após realizada:
Glenda: Eu acho que a gente pode dizer que alfabetização vai além
da decodificação de letras, de número. É algo bem mais amplo. É
quando a pessoa consegue ter uma visão de tudo ao seu redor, uma
interpretação. É quando ele consegue interpretar tudo ao seu redor,
não só as letras, não só o decodificar. Enfim, fazer essa
interpretação. (SCRAlfa01, 21 out. 2008).
Clara: Nesse caso, a gente trabalha com a base legal, que tem
também a questão dos conteúdos programáticos para determinadas
séries ou módulos. A gente tenta seguir uma linha, pois a gente
também não pode trabalhar aleatoriamente. Existem esses
subtemas. No caso, o que eu trabalhei em sala de aula: separação
de sílabas. Por que separar sílabas? Porque no momento da sua
escrita você pode precisar, muitas vezes, separar uma palavra que
chegou ao final da linha e você tem que mudar de linha. Não sei se
você pegou alguma aula? Por que vai separar as sílabas? Porque
naquele momento você não pode separar a palavra de qualquer
forma no papel, no seu registro, porque aquele registro vai ficar para
a vida toda. Separação silábica já deveria ser um conteúdo
específico de língua portuguesa e está no cotidiano. As outras áreas
estão carregadas de subconteúdos. Todas as áreas têm. No caso, o
saber contar, a sequência numérica já é um saber matemático.
Ciências: conhecer o interior do corpo humano, mesmo que seja uma
área específica, a fecundação, por exemplo, já é um saber que está
introduzido na área geral de Ciências. História, por exemplo, a
História de Vitória da Conquista. Nós estudamos outro dia e foi ótimo.
Quando nós colocamos a questão do número de habitantes, ouvimos
dos educandos: “Ah, não, esse número de habitantes? Tem mais.
Não é só isso, não. Conquista está maior do que [...]”. Aí começa:
“Conquista é muito maior do que Ilhéus. Conquista é maior do que tal
lugar. Se tal lugar tem tal número, por que Conquista está nessa
ainda?” Isso também são conteúdos. O mapa, conhecer o mapa,
conhecer os limites são subconteúdos. (SCRAlfa02, 17 nov. 2008).
Thaís: […] há alunos que, se não escrever, para eles, isso não é
aula. Eles querem aprender coisas que não aprendem em casa. Não
querem brincar, por exemplo. (EC-P02, 17 jun. 2008).
Thaís: Dentre esses saberes que eu acho que são necessários para
a Educação de Jovens e Adultos, vejo essa questão de relacionar a
realidade do aluno e o conteúdo a ser trabalhado. Procurar relacionar
porque senão o aluno acaba estando na escola e vendo a escola
como algo à parte da sua vida. Eu acho que o essencial, uma das
148
Thaís: O objetivo que a gente atinge com o aluno vai também para o
lado pessoal; o relacionamento também é muito enriquecedor […].
(EC-P02, 17 jun. 2008).
Thaís: Na rua, no dia a dia, não há lugar para isso. As amizades que
se criam, amigas mesmo, de frequentar minha casa, de frequentar a
casa dela, que foram construídas em sala de aula. Ela como aluna e
eu como professora. Até hoje ficou esse vínculo. Nós nos tornamos
amigas de frequentar a casa, de saber de problema uma da outra,
por conta dessa interação em sala de aula. Há aluno que não quer
ser avançado por conta do professor. Não que tenha aversão ao
outro, mas o apego ao professor atual é muito grande. Eu acredito
que é emocional porque, às vezes, a gente percebe uma
insegurança muito grande no adulto. Muitas vezes, ele tem
insegurança, a autoestima dele está baixa. Ele fica com medo de ir
estudar com outro professor e aquele professor não conseguir
corresponder à sua expectativa tal qual o atual. Talvez a questão de
amizade, do afeto, da conversa. Talvez ele fique um pouco com
medo de acontecer isso. Ele também não acredita muito em si. A
credibilidade em si é pouca. (SCRD, 17 dez. 2008).
querem que o neto seja nosso aluno, que venha para nossas mãos,
porque sabe que está deixando com alguém, nas mãos de alguém
que é humano. (SCRD, 17 dez. 2008).
Nenhuma prática é isenta de teoria. Não há teoria sem prática, nem prática
sem teoria (VÁZQUEZ, 1977). Entendemos a prática como um campo de
materialização e, ao mesmo tempo, de ressignificação de saberes, dialeticamente
pensados e vivenciados, visto que, como diz Freire (1982, p. 82), “[...] a consciência
crítica não se constitui através de um trabalho intelectualista, mas na práxis – ação e
reflexão”.
A práxis, que assegura uma relação teoria-prática de forma dialética, sendo
por isso contraditória, pressupõe uma relação dialogante e crítica entre os sujeitos,
possibilitando momentos em que tomemos consciência da realidade, identifiquemos
os condicionamentos a que estamos submetidos e seus determinantes para que, de
maneira objetiva, possamos atuar e transformar o cotidiano, a realidade e a nós
mesmos, assumindo a dialogicidade como princípio orientador.
A práxis, coforme diz Kosik (1976, p. 222),
QUADRO 10
Saberes necessários para a docência na EJA
Organização e
desenvolvimento da rede Alfabetização Processo de ensino-
temática aprendizagem
• Elaboração e aplicação de
questionário, objetivando • Características do
diagnosticar a realidade • Especificidade da aprender das diferentes
dos educandos. alfabetização. fases do
• Sistematização de todas as desenvolvimento.
falas significativas e • Conceituações de
definição do tema gerador. alfabetização e • Elementos da(s) cultura(s)
letramento. escolar(es).
• Definição de subtemas e
de aspectos decorrentes. • Aquisição e • Articulação entre saberes
• Definição de aspectos desenvolvimento da da vida e saberes
mediadores. língua (oral e escrita). escolares.
• Organização do
planejamento didático- • Implicações para o • Relações socioafetivas.
pedagógico. processo de
• Domínio de saberes das alfabetização.
diferentes áreas de • Cotidiano da sala de aula.
conhecimento.
• Domínio de saberes
didático-pedagógicos.
• Formação política.
• Práticas multidisciplinares e
interdisciplinares.
• Interesses e necessidades
dos educandos.
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2003. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade
Federal da Bahia, Salvador, 2003.
VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Filosofia da práxis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
VIEIRA PINTO, Álvaro. Sete lições sobre educação de adultos. 10. ed. São Paulo:
Cortez, 1997.
180
ZASSO, Silvana Maria Bellé; DIAS, Cleuza Maria Sobral; PEREIRA, Fernanda da
Silva. A formação da professora na vivência de um processo de alfabetização
de mulheres. 17p. 2001. Disponível em: <forumeja.org.br/gt18/?q=node/20>.
Acesso em: 23 mar. 2009.
ANEXO
182
QUADRO 5
AÇÕES PERGUNTAS
1. Qual o contexto da aula?
2. Que tipo de aluno e qual a sua procedência?
3. Quantos alunos?
4. Qual o assunto trabalhado?
5. Por que considera esse tema interessante?
DESCREVER 6. Quais objetivos?
7. Quais as atividades desenvolvidas?
8. Como organizou a turma?
9. Por que organizou a turma dessa forma?
10. Como organizou e conduziu a aula?
11. Quais as formas de participação dos alunos?
12. O que motivou a escolha desse assunto?
1. A aula atingiu os objetivos?
2. O que fez para atingir os objetivos?
3. Por que acha que conseguiu atingi-los?
4. Quais os tipos de conhecimentos trabalhados?
5. Por que fez opção por esses conhecimentos?
6. Quais as dificuldades que você encontra para estimular o aluno a aprender?
INFORMAR 7. A que atribui essa dificuldade?
8. Que relação existe entre a prática e o conteúdo conceitual?
9. Como sistematiza essas discussões?
10. Que relação faz entre o tema e as atividades escolhidas?
11. Que relação faz entre a sua prática e os conceitos que internalizou?
12. Como você acha que suas escolhas teóricas afetam a sua prática?
1. Como você acha que chegou a construir o seu perfil docente?
2. De que maneira considera que o conhecimento trabalhado contribui para que o
aluno possa utilizá-lo na sua profissão?
3. Qual a importância desse conhecimento para transformar a realidade do aluno?
4. O que você acha que limita as suas práticas?
5. Que conceitos serviram de base para a construção de sua prática?
CONFRONTAR 6. Em que teoria se fundamenta para romper com essas dificuldades?
7. Qual a função social de suas ações?
8. Que tipo de aluno está sendo formado?
9. Qual a função das escolhas feitas para a formação do aluno?
10. Que conceitos serviram de base para a construção de suas práticas?
11. Que conexão há entre os conceitos construídos e as minhas práticas?
12. Qual a relação existente entre esses conceitos e minha formação?
1. O que você mudaria na sua aula?
2. O que faria diferente no sentido de motivar o aluno para aprender?
3. O que você faria para ampliar o pensamento crítico-reflexivo do aluno?
4. Que outras estratégias usaria para refletir sobre o que fez no decorrer da aula?
5. Que proposta faria para melhorar o processo reflexivo e mudar a prática docente
de outras aulas?
6. Que proposta faz para melhorar o seu percurso de desenvolvimento profissional?
7. Qual a relação que você faz entre o seu trabalho atual e o realizado antes das
RECONSTRUIR sessões?
8. O que você acha que ainda precisa melhorar no atual estágio de seu
desenvolvimento profissional?
9. O que pode fazer para alcançar essa mudança?
10. Que proposta você tem para fazer melhorar também o desenvolvimento
profissional de seu aluno?
11. O que pode fazer na sua prática para atingir essa mudança?
12. O que você mudaria no macro contexto em que atua?
Fonte: Ibiapina (2008, p. 83).
183
APÊNDICES
184
Apêndice A
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Dados gerais
• Formação (em nível médio e superior).
• Tempo de docência na EJA (desde que começou a trabalhar com essa
modalidade).
• Tempo de docência no magistério em geral.
• Participou de alguma qualificação em EJA nos últimos três anos? Se sim,
quantas e qual a temática?
Dados conceituais
• Falem um pouco dos processos de escolarização pelos quais passaram.
• Como vocês se tornaram professores? O que influenciou suas escolhas na
carreira?
• Alguém marcou essas escolhas?
• Como vocês se tornaram professores de EJA?
• O que vocês consideram importante aprender para atuar na EJA?
• Como vocês ensinam em sala de aula?
• Que dificuldades pedagógicas vocês enfrentam no dia a dia?
• Como vocês entendem a docência?
• E a docência na EJA: qual a compreensão de vocês?
• Como vocês se percebem na condição de docentes?
• Como vocês consideram que os outros professores percebem cada um de vocês
na condição de docentes?
• Quando falamos a expressão “saberes docentes”, o que vocês entendem sobre
tal ideia?
• Saberes docentes: quais saberes vocês consideram que são necessários para
atuar na EJA?
• O que vocês gostariam de estudar nos encontros que realizaremos? Esses
estudos podem estar relacionados às necessidades que vocês têm, em termos de
formação, que gostariam de aprofundar.
185
Apêndice B
QUADRO 3
Codificação das Notas de Campo (NC) referentes às atividades desenvolvidas
ATIVIDADES CODIFICAÇÃO/DATA
Diálogos com representantes da SMED NC 01, 28 jan. 2008
Diálogos com o diretor da escola-campo de pesquisa NC 02, 29 jan. 2008
Diálogo com todas as professoras da EJA da escola-campo de NC 03, 11 mar. 2008
pesquisa
Estudo sobre o sentido de uma pesquisa colaborativa e seus NC 04, 19 maio. 2008
princípios
Continuidade do estudo anterior NC 05, 20 maio 2008
Estudo sobre tema gerador NC 06, 21 maio 2008
Entrevista coletiva – Parte I NC 07, 16 jun. 2008
Entrevista coletiva – Parte II NC 08, 17 jun. 2008
Entrevista coletiva – Parte III NC 09, 18 jun. 2008
Diálogo sobre conteúdo da entrevista coletiva NC 10, 08 jul. 2008
Diálogo sobre conteúdo da entrevista coletiva NC 11, 10 jul. 2008
Observação da prática de Clara NC 12, 12 ago. 2008
Observação da prática de Clara NC 13, 13 ago. 2008
Observação da prática de Clara NC 14, 19 ago. 2008
Observação da prática de Clara NC 15, 20 ago. 2008
Observação da prática de Clara NC 16, 29 ago. 2008
Observação da prática de Clara NC 17, 08 set. 2008
Observação da prática de Clara NC 18, 09 set. 2008
Observação da prática de Clara NC 19, 15 set. 2008
Observação da prática de Clara NC 20, 16 set. 2008
Observação da prática de Clara NC 21, 30 set. 2008
Continuidade de estudos sobre o tema gerador NC 22, 1º out. 2008
Estudo sobre saberes para a docência – Parte I NC 23, 13 out. 2008
Estudo sobre saberes para a docência – Parte II NC 24, 14 out. 2008
Sessão reflexiva coletiva sobre alfabetização –Parte I NC 25, 21 out. 2008
Estudo sobre a proposta de EJA na rede municipal de ensino NC 26, 24 out. 2008
Sessão reflexiva coletiva sobre alfabetização – Parte II NC 27, 17 nov. 2008
Sessão refelxiva coletiva sobre saberes NC 28, 18 nov. 2008
Sessão reflexiva coletiva sobre saberes da EJA na rede municipal NC 29, 11 dez. 2008
Sessão reflexiva coletiva sobre docência NC 30, 17 dez. 2008
Sessão reflexiva coletiva sobre observações da prática NC 31, 22 dez. 2008
Fonte: Pesquisa do autor, 2008.
186
Apêndice C
QUADRO 4
Codificação de entrevista coletiva, de diálogos sobre a entrevista, de observações
da prática, de sessões de estudo e de sessões reflexivas coletivas
ATIVIDADES CODIFICAÇÃO/DATA
Estudo sobre tema gerador ETG, 21 maio 2008
Entrevista coletiva – Parte I EC-P01, 16 jun. 2008
Entrevista coletiva – Parte II EC-P02, 17 jun. 2008
Entrevista coletiva – Parte III EC-P03, 18 jun. 2008
Diálogo sobre conteúdo da entrevista coletiva DCEC-01, 08 jul. 2008
Diálogo sobre conteúdo da entrevista coletiva DCEC-02, 10 jul. 2008
Observação da prática de Clara OPC01, 12 ago. 2008
Observação da prática de Clara OPC02, 13 ago. 2008
Observação da prática de Clara OPC03, 19 ago. 2008
Observação da prática de Clara OPC04, 20 ago. 2008
Observação da prática de Clara OPC05, 29 ago. 2008
Observação da prática de Clara OPC06, 08 set. 2008
Observação da prática de Clara OPC07, 09 set. 2008
Observação da prática de Clara OPC08, 15 set. 2008
Observação da prática de Clara OPC09, 16 set. 2008
Observação da prática de Clara OPC10, 30 set. 2008
Continuidade de estudo sobre o tema gerador CETG, 1º out. 2008
Estudo sobre saberes para a docência – Parte I ESD01, 13 out. 2008
Estudo sobre saberes para a docência – Parte II ESD02, 14 out. 2008
SCRAlfa01, 21 out.
Sessão coletiva reflexiva sobre alfabetização – Parte I 2008
Estudo sobre a proposta de EJA da rede municipal de ensino EPPR, 24 out. 2008
SCRAlfa02, 17 nov.
Sessão coletiva reflexiva sobre alfabetização – Parte II 2008
Sessão coletiva reflexiva sobre saberes SCRS, 18 nov. 2008
SCRSPR, 11 dez.
Sessão coletiva reflexiva sobre saberes da EJA na rede municipal 2008
Sessão coletiva reflexiva sobre docência SCRD, 17 dez. 2008
Sessão coletiva reflexiva sobre observações da prática SCROP, 22 dez. 2008
Fonte: Pesquisa do autor, 2008.
187
Apêndice D
TERMO DE ADESÃO
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Assinatura
Testemunhas:
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Assinatura:_______________________
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Apêndice E
TERMO DE AUTORIZAÇÃO
Assinatura: ______________________________________