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Efectivamente,
deparamo-nos com uma reflexão sobre os termos gerais da identidade nos primeiros
capítulos do romance. O primeiro, intitulado “As pessoas põem nomes a todas as coisas
autónomo, este capítulo incide sobre a questão do nome, de como a linguagem é capaz
de nomear a realidade e quais as consequências que este facto acarreta quer para o
indivíduo quer para a sociedade, ambos nomeados e nomeadores: “Das duas uma: ou as
pessoas se fazem ao nome que lhes puseram no baptismo, ou ele tem de seu o bastante
para marcar a cada um.” (Nome de Guerra, cap. I, p. 9)1. Podemos então depreender
nossa Natureza, cabe a cada um construir uma relação com o seu nome, atribuindo-lhe
que uma procura de resposta para o enigma do ser leva à negação do “eu” como um
todo. Pessoa vê-se confrontado com a sua pluralidade, com os seus diferentes “eus”,
sem saber quem é nem se realmente existe. Como diria Álvaro de Campos,
“Mas a verdade é que o facto de alguém ser Joana ou Manuel já é mais do que ser
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Note-se que as indicações de página relativas a Nome de Guerra se referem à seguinte edição: José de
Almada Negreiros, Nome de Guerra, Lisboa, Assírio e Alvim, 2004
apenas homem ou mulher. Ser homem ou mulher é apenas a natureza; chamar-se João
Manuela é Pereira, então, à natureza e à vida junte-se-lhes ainda por cima a existência e
mais entre dois estados – ignorância/ experiência, sendo que o termo ignorante não
com a realidade pode constituir apenas uma ilusão, uma vez que só se toma consciência
o que a vista pode alcançar, ao passo que a cidade é confusão e impedimento da visão,
estando, por isso, associada ao processo de pensar, que o poeta recusa. Também
Bernardo Soares nasceu na província, tendo vindo para Lisboa ainda criança. A cidade
tem grande relevância na sua obra, mas acaba por lhe provocar algum fechamento de
cidade. A sua angústia prende-se, também ela, com questões de identidade e existência:
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A partir desta referência o romance Nome de Guerra será abreviado para NG.