Você está na página 1de 2

Como nos tornamos racistas?

Eu acredito que muitos questionamentos e


cenários que são gerados pelo racismo no Brasil, podem ser esclarecidos através
dessa pergunta.

Para isso, é necessário entender o que é racismo estrutural e institucional e


como ele atua diretamente nos pensamentos e atitudes das pessoas sem que elas
tomem conhecimento do quanto estão sendo insensatas. Basicamente, o chamado
racismo estrutural e racismo institucional andam lado a lado. Estrutural refere-se ao
conjunto de práticas institucionais, (sistema de órgãos públicos, governamentais,
corporações empresariais, universidades, e ciclos sociais em geral) históricas, e
culturais dentro de uma sociedade que frequentemente põe um grupo social e étnico
em uma posição discriminatória, com o intuito de prejudicar e diminuir, o que por si só
constrói um privilégio pautado em motivos imaginários e sem fundamentos ao grupo
que promove essa desigualdade.

A partir dessa breve explicação, pode-se entender como o racismo institucional


está inserido no racismo estrutural. Para que isso fique mais claro, podemos falar
sobre uma menina que nasce negra e vive na primeira instituição que todos nós
somos apresentados: a família. Dentro dessa família a mãe pode ensinar a essa
menina que seu cabelo crespo não é bonito e aí alisar seu cabelo, o que parece uma
atitude simples e cotidiana, talvez uma simples vaidade, revela muito sobre como a
estrutura da sociedade brasileira foi pautada em uma cultura de que somente os
cabelos lisos são bonitos, logo, as mulheres negras precisam se enquadrar para
serem bonitas também… Esse exemplo simples, mostra a que mãe da menina foi
ensinada que a beleza negra natural, não é bonita, e que é necessário então um
embranquecimento de imagem através do alisamento, entende? Isso é a estrutura
social e suas influências racistas que abortam até mesmo a identidade e a
individualidade das pessoas, negando o autoconhecimento e auto apreciamento. Esse
pensamento enraizado se repete como um eco em looping dentro de escolas, na rua,
nas universidades, nas empresas, só que não só em relação a um “detalhe” como o
modo de usar o cabelo, mas no pré julgamento de inteligência, caráter, capacidade,
beleza, respeito, força, voz, honestidade.

Em contra partida a esse racismo velado (as vezes nem tão velado assim), a
luta pelo movimento negro antirracista vem de pouco a pouco obtendo sucesso em
alcançar voz, respeito, quebra de tabus e pensamentos, e espaço em lugares que a
tempos atrás não eram possíveis. Políticas de ações afirmativas, por exemplo, têm
sido o caminho pelo qual jovens negros que não tiveram a oportunidade de estudar em
escolas particulares, (que no Brasil oferecem um estudo de melhor qualidade) buscam
alcançar uma vaga nas universidades federais brasileiras sem que a concorrência seja
tão injusta, e assim obter sucesso social e financeiro através de suas carreias. Além
disso, essas ações afirmativas tem um importante papel para o jovem reconhecer a
sua representatividade através da autodeclaração. Afirmar essa identidade negra, seja
em um sistema de cotas, em um movimento de resistência, em valorizar sua cultura
ou, em diversas outras atitudes, são atos políticos que juntos reforçam a afirmação do
direito ao respeito, à igualdade, à cidadania, ao direito de viver, de andar por onde
quiser, escolher ser quem quiser. As correntes físicas foram quebradas com o fim da
escravidão, mas o fato é que ainda há muitas outras correntes a serem rompidas
dentro de mentes que lutam contra o óbvio.

Você também pode gostar