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I- INTRODUÇÃO
1
Teoria geraJ do conflito de leis, A. Coelho Branco F' editor, RJ, 1964, p. 8.
2 Les Antinomies endroit, inLes antinomies en droit, CHPerelman, Bruxelles, 1965.
3
Enciclopédia saraiva de direito, Coord. Prof. Limongi França, 7 v. pp. 09/1 O.
(*)Promotor de Justiça no Distrito Federal, Professor do Centro de Ensino Unificado do Distrito Federal
(entidade de ensino superior), mestrarulo em Direito e Estado pela Universidade de Brasaia.
4
Introdução ao estudo do direito, Iécnica, decisão, dominação, 2a ed. ALias, SP, 1994, p. 206. Asdefmições,
citações e classificações são extraídas dessa obra, que é a que melhor aprecia o tema.
5
Tércio Sampaio Júnior, Inrrodução, cit. p. 208.
6
Teoria do ordenamento juridico, trad. Cláudio de Acco e Maria CelesJe C. J. Santos, 4' ed., Edunb, BsB,
1994,p.88.
7
Introdução, cit. p. 211.
• Les antinomiesen droit social, in Les antinomiesen droit, CH. Perelman, Bruxelles, 1%5, p. 39.
• Les antinomies en droit intemcional public, in Les antinomies en droit, cit, p. 285.
10
Apud W. Malgaud, Les antinomies en droil, a propos de l'étude de Gavazzi, in Les antinomies en droit,
cit pp. 7/8.
11
Apud. Paul Roubiers. Les antinomies en droit, in Les antinomies en droit, cit. p. 21.
12
Apud. Paul Roublers. Les antinomies en droit, in Les antinomies en droit, cit. p. 2l.
lli- CLASSIFICAÇÃO
18
op. cit, p. 91.
19
Lucien Sélance, exemples d' antinomies et essai de classement, in L' antinomie en droit, cit., p. 64.
20
Raymond Vander Elst, Antinomies en droil internacional privé, cit., p.l40.
21
op. cit. p. 88.
22 Hermenêutica e aplicação do direito, 16"- ed., Forense, RJ, 1996, p. 356.
I Critério Cronológico
O critério cronológico é aquele regido pela máxima "lex posterior derogat
priori", ou seja, a lei posterior, no que for incompatível com a lei anterior, revoga
(ab-roga ou derroga) as disposições desta, respeitando-se, obviamente, as situações
jurídicas que se regeram pela lei anterior quando da sua vigência, por uma questão de
segurança jurídica, que a própria Constituição Federal protege, no seu art. 5", inciso
XXXVI.
A intensificação das relações sociais, a alteração na concepção de valores, o
aparecimento de condutas e relações jurídicas diversas são o que impulsiona a ne-
cessidade de o legislador produzir modificações nos comandos normativos, sem,
contudo, promover a violação do passado.2J
No direito brasileiro, há norma expressa dispondo a respeito do critério, verbis:
~•art. 2°. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor
até que outra a modifique ou revogue.
§ 1". A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o
declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule in-
teiramente a matéria de que trata a lei anterior" (Lei 4657, de
04.10.42)
O critério cronológico só pode ser aplicado se as leis (anterior e posterior)
integrarem o mesmo escalão ou hierarquía, em que a lei nova prepondera sobre a lei
Portalis, apreciando a segurança jurídica, já bem assentou: 'o homem que não ocupa senão um ponto
1W tempo e no espaço seri(l o mais infeliz dos seres, se não se pudesse julgar seguro nem sequer quanto
precedente. Contudo, o mero fat.o de ser precedente uma lei não significa que a que
antecedeu fora revogada, pois o legislador pode ter editado a nova com o fito de
completá-la ou preencher-lhe as lacunas. Ambas podem conviver, caso a antinomia
não seja do tipo total-total. Inclusive uma lei especial anterior pode, perfeitamente,
conforme o caso, prevalecer sobre uma lei geral posterior, hipótese em que não será
aplicado o critério cronológico.
Esse mecanismo é também aplicável nas hipóteses de conflitos de normas, no
sistema do Direito Costumeiro, embora seja mais trabalhoso identificar qual dos
costumes é mais vetusto.
Hipótese há, ainda, em que, embora as normas jurídicas sejam de hierarquia
distinta, resolve- se a antinomia pelo critério cronológico, v.g.: o advento de
inconstitucionalidade superveniente, em que a norma constitucional sucede a lei or-
dinária (pré-constitucional), com disposições diversas e antinômicas.
No caso aventado, a jurisprudência pátria cristalizou-se no sentido de que para
que o tribunal deixe de aplicar a norma infra-constitucional que precedeu a Carta
Magna, por lhe ser contrária, prescindindo de declará-la inconstitucional, eis que
incidiu o fenômeno da revogação. Como bem ponderam Gomes Canotilho e Vital
Moreira, "'um tribunal não poder certamente aplicar uma norma de direito pré-cons-
titucional contrária à Constituição, pois ela deixou de vigorar, mas só a pode consi-
derar revogada ou caducada depois de a ter considerado contrãria à Constituição24 •
Em virtude da revogação, afasta-se a necessidade de declaração de
inconstitucionalidade da lei infra-constitucional, pelo controle concentrado, que se
fulcra no critério hierárquico e maneja-se o critério cronológico para a solução do
conflito.
2 Critério da Hierarguia
.
' .j·
Regido pelo brocardo "Lex superior derogat legi inferior!', consiste em dar
supremacia e prevalência às normas de escalonamento superior em detrimento das
normas inferiores, no caso de embate entre elas, independentemente da ordem cro-
nológica. Logo, as normas superiores na hierarquia podem revogar a,s inferiores, mas
o inverso não é susceptível de ocorrer.
à sua vida passada. Por essa parte de sua exütécia jd não carregou todo o peso de seu destino? O
passado p<Jde deixar dissabores mas põe renno a todas as incertews. Na ordem da natureza s6 o futuro
é incerto e esta própria incerteza é suavizada pela esperança, afie/ companheira de nossa fraqueza. Seria
tlgravar a rriste condição dct hwnanidade, querer mudar, wravés do sistema da legislaçilo, o sistema da
nazure-:.a. procurando para o tempo que já se foi, fazer reviver as nossas dores sem nos re.~zituir as nossas
esperanças." Apud. Vicenle Raó, O direiJO e a vida dos direitos, I v., RT. SP, 1991 . p. 323.
24 Fundamentos da constituição. Coimbra Editora, Coimbra, 1972., p. 254.
3- Critério da Especialidade
25
"Significa que a Constituição se coloca no vértice do sistema juridko do país, a que confe re
VC!lidade, e que todos os poderes estatais são leg!timos na medida em que ela os reconheça e na
proporção por e la distribuídos. É, enfim, a lei suprema do Estado, pois é nela que se encontram a
própria estruturação deste e a organiação de seus órgllos: é nela que ·se acham as normas fundamentais
dn Estado, e só nisso se notará sua superioridade em relação às demais nonnas jurídicas" (José Afonso
da Silva, Direito Constitucional, Malh~iros, SP, 1992, p. 47)
26
Na hipótese de infringência à Constituição Federal, eis que, quando se tratar de Constituição
Estadual, a competência é dos tribunais estaduais correspondentes (art. 125, § 2°, CF)
Identifica-se na parêmia que diz: " lex specialis derogat generali". Nesse caso,
a lei especial derroga ou ab-roga uma lei geral naquilo em que forem incompatíveis.
A norma especial congrega, além dos elementos insertos na geral, alguns ou-
tros que lhe garantem essa distinção, que são os chamados elementos especializantes.
O destacamento de uma norma especial justifica-se como decorrência lógica
da efetividade do princípio da isonomia, no sentido de se imprimir o mesmo trata-
mento aos que possuírem situações semelhantes, ou seja, tratar com igualdade os
iguais e distintamente os desiguais na medida de suas desigualdades.
Em regra, a lei geral nova não revoga a especial e vice-versa "[ex post'··
generalis non derogat speciali"; "legi speciali per generalem non abroga:,,..-·· ,
que vai determinar a vigência de ambas, o de uma delas ou de parte delas é a coerên-
cia, a compatibilidade de disposições normativas. Logo, na norma especial pode,
perfeitamente, versar sobre matéria já disciplinada em lei geral e com ela conviver
validamente se não conflitar com esta e vice-versa.
A abrogação implícita ou virtual de uma lei especial por uma lei geral se dará,
porém, quando os princípios esteiadores da lei especial forem antinômicos aos que
dão ânimo à nova lei ou quando se verificar a incompatibilidade da mens legis do
objeto, do espírito, ou do fim da novel instrumento jurídico, como ensina a doutri-
na27.
A legislação brasileira agasalha o critério em tela, de forma límpida, no art.
2°, § 2° da Lei 4657, de 04.10.42.
Na lição de Rubens Limongi França, citado por Maria Helena Diniz28 , encon-
tram-se reunidas as regras de Unger com referência à aplicação do critério em análi-
se, a saber: ~·
"a) se um instituto for integralmente abolido, com ~i"e desaparecerão as
exceções;
b) se uma lei é revogada e aquilo que constitui sua antítese for elevado à nor-
ma em vigor, desaparecem por si as exceções anteriores, pois esflls passam a ser
casos aos quais a nova norma se aplica;
c) se uma nova lei se declara como absoluta e é aplicável a todos os casos, as
exceções da velha normas serão tidas como abolidas;
d) se uma lei nova não se anuncia absoluta, infere-se que, com a norma ab-
rogada, foram abolidos os seus corolários, mas não as exceções;
e) se uma lei, p.ex., alterar as formalidades extrínsecas do testamento, não
27
Eduardo Espínola e Eduardo Espínola Filho, A lei de introdução ao cód igo civil brasileiro
comentada, IV, atual. Silva Pacheco, Renovar. SP. 1995, pp. 66/67.
28 Lei de introdução ao código civil brasileiro interpretada.
V Insuficiência de Critérios
ordinária especial pudesse alterar uma norma constitucional anterior, embora na práti-
ca, por vezes isso se dê, tendo em vista o princípio de justiça que impõe: suum cuique
tribuere. Destarte. há de se analisar caso a caso, para decidir qual dos critérios a ser
utilizado, pois só o fato na sua concretude suscitará a escolha correta. Fica, contudo,
claro que a preterição do critério hierárquico pelo critério da especialidade só é possível
quando as circunstâncias impuserem a eqüidade.
Resta ressaltar, por fim, que se nenhum dos critérios ou métodos for passível
de aplicação, as antinomias hão de ser desatadas pelo fator justiça.
VII-CONCLUSÃO
Após esse 1igeiro sobrevôo sobre o tema das antinomias, alcança-se a conclu-
são de que embora elas se lastreiem em todo e qualquer sistema jurídico, hão de ser
extraídas para garantir a coerência, que é a saúde do sistema, pois por mais conflitos
que as normas possam apresentar, esses não afetam a estabilidade do ordenamento
jurídico, em razão da aplicação dos métodos de solução.
Na hipótese de incompatibilidade ou inexistência de princípios, vale-se do
recurso supremo, ou seja, a justiça, como sabiamente enunciou Norberto Bobbio:
..Sans dou te, en ce cas extrême manque d'un critêre pour resoudre
le conflit descri teres le cri tere descri teres est le príncipe suprême
de lajustice. C'est ainsi que la reponse du juriste se rattache a la
réponse de 1'homme, de la rue, de laquelle naus sommes partis et
d'aprês laquelle entre deux régles incompatibles, c'est la plus
juste qu 'il fault choisir"
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