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XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitári a e Ambient al

V-059 - ESTADO ATUAL E NECESSIDADE DE GERENCIAMENTO DAS


BACIAS HIDROGRÁFICAS DOS RIOS MEIA PONTE, CORUMBÁ E DOS
BOIS, ESTADO DE GOIÁS

Sílvio Costa Mattos(1)


Geólogo pela Universidade de Brasília (UnB). Pós-graduado em Políticas Públicas pela
Universidade Federal de Goiás (UFG). Conselheiro efetivo do CREA/GO.
FOTOGRAFIA
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RESUMO
As bacias hidrográficas dos rios Meia Ponte, Corumbá e dos Bois são as mais povoadas e onde se
desenvolvem com maior intensidade as atividades econômicas no Estado de Goiás, e por isso mesmo, são as
que mais vêem sofrendo degradação ambiental. Este texto visa apresentar a caracterização da situação atual e
mostrar a necessidade de gerenciamento integrado destas três importantes bacias hidrográficas do Estado de
Goiás.

PALAVRAS-CHAVE: Gerenciamento de Bacia, Degradação Ambiental, Rio Meia Ponte, Rio Corumbá, Rio
dos Bois.

INTRODUÇÃO
O Estado de Goiás não foge a regra geral do país, apresentando um estágio de degradação ambiental tão
intenso de seus recursos hídricos que o abastecimento público de diversas cidades – inclusive Goiânia, capital
do estado – já está sendo ameaçado, principalmente no período de estiagem.

Neste artigo são apresentadas considerações referentes às bacias hidrográficas dos rios Meia Ponte, Corumbá e
dos Bois, onde estão localizados os principais aglomerados urbanos de Goiás, parte do Distrito Federal e de
seu Entorno e onde se desenvolvem as principais atividades econômicas e se concentra a maior população do
Estado, originando por isso mesmo os principais problemas sócio-ambientais de Goiás.

O artigo tem como base o texto elaborado pelo autor para o Projeto de Zoneamento Ecológico-Econômico da
Microrregião Meia Ponte(AMARAL FILHO, et alli,1999).

Seu objetivo é a caracterização da situação atual e necessidade de gerenciamento integrado das três bacias
hidrográficas mais povoadas do Estado de Goiás, onde acontecem grandes problemas relacionados a
degradação dos recursos naturais e deterioração da qualidade de vida da população.

MATERIAIS E MÉTODOS
A caracterização da degradação ambiental e avaliação das questões sócio-ambientais e de saúde pública nas
bacias hidrográficas foram feitas através de pesquisa bibliográfica, interpretação de imagens de satélites do
INPE ,ampliadas para uma escala aproximada de 1:100.000, verificação “in loco”, através de cheque de
campo e entrevistas com as administrações locais e com segmentos organizados da população dos diversos
municípios.

BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARANAÍBA


As grandes bacias hidrográficas que cobrem o território goiano( SEMARH, 1998) são: bacia hidrográfica do
rio Araguaia, bacia hidrográfica do rio Paranaíba, bacia hidrográfica do rio Tocantins e uma pequena parcela
da bacia hidrográfica do rio São Francisco (Figura 1).

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Entretanto, serão tecidas considerações aqui apenas a respeito da bacia hidrográfica do rio Paranaíba, pois as
bacias hidrográficas objeto deste artigo –Meia Ponte, Corumbá e dos Bois – estão inseridas dentro desta bacia
hidrográfica maior.

As principais características climáticas da bacia hidrográfica do rio Paranaíba são:


• Precipitação pluviométrica anual variando entre 1200 e 1800mm;
• Período chuvoso entre os meses de novembro e março com período de precipitação mais intensa nos
meses de janeiro, fevereiro e março;
• Período da estiagem mais intensa nos meses de junho, julho e agosto, com a época da transição das
estações da seca e das chuvas nos meses de maio – quando cessam as chuvas e inicia-se a estiagem – e
setembro – quando caem as primeiras chuvas após o período da seca.

No período de verão é precipitado mais de 75% do total anual das chuvas, no inverno esta precipitação se
restringe a apenas 1,5% do total anual.

A bacia hidrográfica do rio Paranaíba drena uma área total de 220.195 km2. Deste total 67,89%, portanto, uma
área de 149.490,38 km2, está dentro de território goiano.

Este rio pode ser dividido em três segmentos principais: Alto Paranaíba, que vai das nascentes até o km 340;
Médio Paranaíba, que abrange o trecho entre o km 340 até a barragem de Cachoeira Dourada por 370 km e o
Baixo Paranaíba, que vai da barragem de Cachoeira Dourada até a foz no rio Paraná num percurso de 380 km.

Entre os principais afluentes do rio Paranaíba estão os rios Corumbá, Meia Ponte e dos Bois objetos principais
deste artigo.

Os principais impactos ambientais em relação ao rio Paranaíba estão associados a: inúmeras barragens feitas
ao longo de seu curso para produção de energia elétrica como Emborcação, Cachoeira Dourada, São Simão
etc.; a intensa atividade agrícola na sua bacia hidrográfica; presença de grandes aglomerados urbanos na área
de influência direta de seus afluentes, como, por exemplo, Goiânia e sua Região Metropolitana na esfera do rio
Meia Ponte, Distrito Federal e seu entorno na esfera do rio Corumbá e cidades do Sudoeste Goiano-- como
Rio Verde, Jataí,Acreúna e outras-- na esfera do rio dos Bois. Isto sem falar de inúmeras outras atividades
associadas agroindústria, mineração de areia para construção civil, mineração de argila para a indústria
cerâmica e etc.

RESULTADOS OBTIDOS
Bacia hidrográfica do Rio Meia Ponte
O rio Meia Ponte( figura 2) recebe dejetos de origem urbana e rural que causam grande degradação ambiental
e poluição de suas águas.

É inegável que a principal fonte de degradação ambiental e poluição das águas deste rio é a cidade de Goiânia.
Para este corpo d'água é canalizado 94% do esgoto coletado na Capital sem nenhum tratamento, além de
efluentes de laticínios, frigoríferos, fábricas de bebidas, curtumes e outros. Além da Capital, a bacia do rio
Meia Ponte abrange praticamente toda a Região Metropolitana de Goiânia ocasionando a descarga de dejetos
“in natura” de aproximadamente 2 milhões de pessoas. Situação agravada pelo fato da maioria destes
municípios não possuírem um sistema de coleta de lixo eficiente e nem tão pouco locais adequados para
destinação final dos resíduos.

Nesta Bacia estão concentrados inúmeros portos de areia e indústrias da cerâmica.

Em relação as atividades agrícolas o manejo inadequado do solo e a utilização intensiva de adubos e


defensivos potencializam, sobremaneira, a degradação ambiental na bacia, acelerando os processos erosivos e
deteriorando a qualidade das águas.

A bacia carece de estudos sistematizados em relação aos níveis de contaminação por defensivos agrícolas,
embora o problema exista, devendo tomar no futuro grande monta, pois a agricultura irrigada vem crescendo
sobremaneira nos últimos anos nesta região.

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A gravidade da situação é imensa , basta sentir o cheiro insuportável que exala do rio Meia Ponte em Goiânia
no período da seca e a ameaça, que se repete todo ano, de racionamento de água na Capital e outros
municípios circunvizinhos.

Atualmente o estado juntamente com a maioria dos municípios desta bacia, inclusive Goiânia, vem fazendo
gestões em relação ao gerenciamento integrado da bacia do rio Meia Ponte.

Bacia hidrográfica do Rio Corumbá


O rio Corumbá( figura 2) também recebe dejetos de origem urbana e rural que deterioram suas águas.

Os dejetos de origem urbana são provenientes de várias cidades situadas em sua bacia hidrográfica. Ela abarca
aproximadamente 20 municípios do Estado de Goiás, do Plano Piloto de Brasília e de quase todas as cidades
satélites do Distrito Federal, abrangendo uma população próxima de 3 milhões de habitantes (90% urbana).

A ausência quase total de esgotamento sanitário e tratamento, faz com que a grande parte dos dejetos de mais
de 2 milhões de pessoas sejam canalizados “in natura” para rede de drenagem da bacia do rio Corumbá.

A grande maioria destes municípios não possui, também, um sistema de coleta de lixo eficiente e nem tão
pouco locais adequados para destinação final do lixo.

Nas proximidades dos núcleos urbanos concentram ainda indústrias de produtos alimentícios(frigoríficos e
laticínios principalmente) e de aproveitamento de minerais não – metálicos, muitas vezes sem um sistema
adequado de tratamento de seus resíduos. As lavras de minerais industriais(areia, argila e brita) são bastantes
comuns nesta região.

Também aqui não existem estudos sistemáticos em relação aos níveis de contaminação por insumos agrícolas
más, é de se esperar que o problema exista, em escala crescente, já que os níveis de atividades na agricultura
tem crescido muito nos últimos anos na bacia.

Na esfera imediata do Distrito Federal e seu entorno, diversos tributários do rio Corumbá apresentam níveis de
poluição cada vez mais crescentes.

Assim, o rio São Bartolomeu recebe dejetos urbanos ao atravessar o Distrito Federal, sobretudo a partir do
Lago do Paranoá no seu curso superior. Este rio é depositário também de dejetos urbanos oriundos da Cidade
Ocidental através das águas do rio Saia Velha e de Luziânia através dos rios Palmital e Vermelho. Antes de
desaguar no rio Corumbá o rio São Bartolomeu recebe as águas do ribeirão Pamplona em cuja a bacia existem
intensas atividades agrícolas com fatais contaminações da rede de drenagem por defensivos agrícolas.

O rio Piracanjuba e alguns de seus afluentes sofrem intensa degradação ambiental sobretudo pela extração de
areia lavada para construção civil.

O rio Descoberto é depositário de grande poluição de origem urbana de cidades satélites do Distrito Federal,
da cidade de Santo Antônio Descoberto, além de sofrer degradação por atividades de exploração de areia.

O ribeirão Sta. Maria está bastante poluído por esgoto “in natura” e lixo oriundos do Gama e Novo Gama.

No seu baixo curso o rio Corumbá sofre a pressão da expansão urbana, atividades agroindustriais e exploração
de minerais para construção civil de municípios importantes de Goiás como Caldas Novas, Morrinhos ,
Piracanjuba e outros.

Assim, pode-se dizer que este importante manancial do Estado de Goiás vem sendo objeto de intensa
degradação ambiental.

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Bacia hidrográfica do rio dos Bois


O rio dos Bois (figura 2) é outro que recebe efluentes tanto de origem urbana quanto de origem rural
acarretando a deterioração da qualidade de suas águas.

Os dejetos de origem urbana são provenientes de várias cidades.

A bacia hidrográfica do rio dos Bois abrange terras pertencentes a municípios como Santa Helena, Rio Verde,
Acreúna, Jandaia, Indiara e outros.

São municípios representados por núcleos urbanos onde o sistema de esgotamento sanitário é deficiente e o
tratamento ausente, com os dejetos, a maioria das vezes, canalizados para rede de drenagem “in natura”.
Situação agravada pela coleta ineficiente e disposição inadequada do lixo.

Além dos dejetos provenientes dos núcleos urbanos podem ser somados os efluentes oriundos da agroindústria
e outros, que nem sempre têm sistemas de tratamento eficientes.

Também nesta Bacia a lavra de argila para indústria cerâmica, principalmente nas áreas de várzeas, é intensa.
O mesmo acontece em relação a lavra de areia lavada para construção civil em leito ativo das drenagens.

As atividades agroindustriais nesta região já causam grandes preocupações. No município de Rio Verde e
outros do sudoeste goiano-- situados nesta bacia-- é onde a agroindústria se revela mais dinâmica no Estado
de Goiás e para onde estão sendo direcionados grandes projetos como, por exemplo, o complexo de criação e
abate de aves e suínos da Perdigão e o complexo de industrialização de tomate da Gessy-Lever. Projetos que
se por um lado trazem todo um potencial de geração de emprego e renda, por outro embutem em si grande
potencialidade de degradação ambiental, principalmente se não forem bem equacionados.

A lavoura irrigada tem crescido sobremaneira dentro desta Bacia, já existindo áreas com grandes
concentrações de pivôs centrais como nas regiões de Rio Verde, Acreúna, e outras com sérios conflitos de uso
da água já eclodidos.

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CONCLUSÕES E OU RECOMENDAÇÕES
A principal conclusão dos trabalhos é que estas bacias estão sendo ocupadas de forma desordenada, com
grande degradação ambiental e deterioração da qualidade de vida da população com níveis cada vez maiores
de conflitos, sobretudo em relação ao uso da água.
Assim, é urgente que medidas de gerenciamento integrado das mesmas sejam implementadas, entendendo-se
gerenciamento dos recursos hídricos” como sendo um instrumento que orienta o Poder Público e a sociedade, a
longo prazo, na utilização e monitoramento dos recursos ambientais-naturais, econômicos e socioculturais, na área
de abrangência de uma bacia hidrográfica, de forma a promover o desenvolvimento sustentável” (LANNA, 1995).
O estado de Goiás já tem uma instituição encarregada para implantar e implementar o gerenciamento dos
recursos hídricos que é a Secretaria do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e Habitação-SEMARH, bem
como já constituiu o Conselho Estadual de Recursos Hídricos, entretanto muita coisa ainda precisa ser
implementada, a começar pela implantação de um Plano de Recursos Hídricos das Bacias Hidrográficas do
Estado. Bacias hidrográficas como as dos rios Meia Ponte, Corumbá e dos Bois,-- as mais intensamente
povoadas e degradadas, como vimos neste artigo,-- deverão ter prioridade para as intervenções.
É de extrema importância, que a exemplo de outros estados da Federação como São Paulo (GRANJA, ,2000),
o Estado de Goiás, além de implementar o Plano de Recursos Hídricos de suas bacias hidrográficas como um
todo, comece, o mais rapidamente possível, articular condições efetivas,-- juntamente com todos os
municípios e a sociedade civil envolvidos na questão,-- para criação dos Comitês e Agências de Bacias dos
rios Meia Ponte, Corumbá e dos Bois visando o gerenciamento integrado destas unidades territoriais.
Os levantamentos feitos neste trabalho mostram que algumas questões, dentro destas bacias hidrográficas
abordadas, têm que ser enfrentadas e não podem ser mais adiadas-- sob pena do abastecimento público de água
destas regiões se comprometer a curto prazo e equipamentos importantes como a Usina Hidrelétrica de
Corumbá, situada no rio homônimo, e outras comecem a sentir os efeitos do assoreamento dos corpos d’água.
Assim, além das medidas já propostas, algumas outras intervenções podem ser alinhadas como, por exemplo:
• assistência técnica, sobretudo, aos pequenos agricultores visando o adequado manejo do solo e
utilização correta de insumos para agricultura;
• fiscalização intensiva em relação as práticas agrícolas utilizadas nas bacias, principalmente dos grandes
projetos voltados para agroindústria;
• estudos para criação de novas unidades de conservação;
• maior rigor e fiscalização na outorga de água;
• incentivo a reservação de água através de represas;
• fiscalização e incentivo a implantação de sistemas de tratamento em laticínios, frigoríferos, curtumes etc;
• regularização e apoio a melhoria do nível tecnológico (operacional e de controle ambiental) das
atividades de extração de areia e argila para construção civil;
• incentivo a formulação de Planos Diretores e legislações de uso e parcelamento do solo urbano para
municípios com mais 20 mil habitantes;
• instalação de rede de esgoto nas áreas mais densamente povoadas e de coleta de lixo e destinação
eficiente nas áreas urbanizadas.

Estes são apenas alguns pontos, estudos mais detalhados apontarão para as intervenções que poderão minorar a
degradação dos recursos naturais e melhorar a qualidade de vida da população nestas importantes bacias
hidrográficas do estado de Goiás.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. AMARAL FILHO, Z.P; CARDOSO, A.S.; COSTA, H.F.; MATTOS, S.C.; PRADO, L.M. da S.
Zoneamento Ecológico-Econômico da Microrregião Meia Ponte. Secretaria do Meio Ambiente do
Recursos Hídricos e Habitação – SEMARH, Metais de Goiás, S/A – METAGO e Secretaria de Assuntos
Estratégicos da Presidência – SAE/PR, Goiânia, outubro de 1999.
2. GRANJA, S.I.B. Visão Intersetorial de Recursos Hídricos, Saneamento, Meio Ambiente e
Desenvolvimento Urbano: A experiência Paulista, In MUÑOZ, H. R. Interfaces da Gestão de Recursos
Hídricos, Desafios da lei de águas de 1997.2 ed. Brasília: Secretaria de Recursos Hídricos, 2000.
3. LANNA, E.L. Gerenciamento de bacia hidrográfica: Aspectos conceituais e metodológicos. Brasília.
IBAMA, 1995.
4. SEMARH. Diagnóstico Preliminar dos Recursos Hídricos do Estado de Goiás. Secretaria de Estado do
Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos: Goiânia, 1998.

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