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UFES/Vitória – 23 a 25 de julho de 2012

ELABORAÇÃO DE MANUAL DE CLASSIFICAÇÃO VISUAL ESTRUTURAL


PARA A MADEIRA DE Pinus spp

THE MAKING OF A VISUAL STRUCTURAL GRADING MANUAL FOR Pinus spp


SAWN TIMBER

Jorge Daniel de Melo Moura1; Everaldo Pletz2


Luciana D. Gimenes3; Mariana G. Savino4; Emanuelle G. Recco5

RESUMO - A distância das áreas de floresta natural, a proteção legal das espécies tropicais, o
alto custo do frete e a expansão das áreas plantadas com florestas de espécies exóticas, têm
sido razões do incremento do seu uso. Até há pouco, a madeira de Pinus esteve relegada a
uma utilização menos nobre. Várias são as normas que especificam a qualidade da madeira
para utilização em estruturas embora no Brasil, a única que trata de coníferas não aborda a
especificidade estrutural. As informações sobre o assunto estão disponíveis, porém o acesso é
restrito, seja pela barreira do idioma ou pela complexidade do texto. O objetivo deste trabalho
é a criação de um material de fácil leitura e manipulação para ser utilizado amplamente e que
reúna os requisitos de normas para a classificação visual estrutural da madeira Pinus spp. O
método foi aplicado em 2 cargas de 2,0m3 de pranchas e de tábuas de Pinus spp, totalizando
4,0 m3. Após a validação do método, foi possível a elaboração de um manual em forma de
folder, abordando classificação de aspecto, admissão de defeitos, densidade, classes de
resistência etc. A principal contribuição é a transferência deste conhecimento para setores da
madeira serrada e moveleiro.

Palavras-chave: madeira serrada de Pinus spp, método para classificação estrutural, folder de
classificação.

ABSTRACT - The great distances between natural forest areas and end-user regions, the
legal protection of tropical species, the high cost of transportation and the expansion of
forested areas of exotic species, have been recent reasons for the increasing of the latter. The
pine wood has been relegated to less noble uses. International standards specifies standards of
wood quality, but in Brazil there are no visual classification established procedures that
subsidies users and marketers on the use of wood in structures. worldwide available
information access is restricted either by the language barrier or the texts complexity. The
objective is to present an easy-to-read and handle manual, widely accessible and also meeting
the requirements of codes of timber structures design. The methodology was tested in two
loads 2,0 m3 of planks and boards of Pinus spp, totaling 4,0m3. After procedure validation, it
was possible to prepare a manual covering grading aspects, definition of allowable defects,
density, strength classes, etc. The results have been disseminated with the help of SENAI
among the industries of lumber and furniture.

Keywords: Pinus spp sawn timber, visual structural grading method, grading manual.
1
Professor Associado - Depto de Arquitetura e Urbanismo – UEL, jordan@uel.br
2
Professor Associado - Depto de Estruturas – UEL, pletz2000@yahoo.com
3
Estagiária de Iniciação científica - Depto de Arquitetura e Urbanismo – UEL, lugimenes_@hotmail.com
4
Estagiária de Iniciação científica - Depto de Arquitetura e Urbanismo – UEL, marisavino@gmail.com
5
Arquiteta- Bolsista DTI 2 - Depto de Arquitetura e Urbanismo – UEL, emanuellegracarecco@yahoo.com.br
UFES/Vitória – 23 a 25 de julho de 2012
INTRODUÇÃO

A distância das áreas de floresta natural, a proteção legal das espécies tropicais, o alto
custo do frete e a expansão das áreas plantadas com florestas de espécies exóticas nas regiões
sul e sudeste do Brasil, tem sido razões do incremento do uso destas últimas. Hoje, apenas na
região sul se calcula como 750 mil ha de florestas de Pinus spp. No Paraná atualmente, são
1,5% do território do Estado plantado com florestas e há um esforço conjugado para se
aumentar este número, nos próximos dez anos, para 3%. Até pouco tempo, a madeira de Pinus
esteve relegada a uma utilização menos nobre, pasta de papel e fôrmas para concreto, por
exemplo. No entanto pelas razões enunciadas, esta madeira tende a substituir a madeira
tropical em aplicações construtivas e estruturais.
A utilização de Pinus de reflorestamento na indústria madeireira brasileira vem
aumentando nos últimos anos. Particularmente para a madeira serrada desse gênero, a
produção nacional de madeira serrada de Pinus atingiu 9,46 milhões de m³ em 2008. O
crescimento da produção no período de 1999 a 2008 foi de 40,6%, porém devido à crise
financeira mundial, em 2009 ocorreu um decréscimo de 2,1% (ABRAF, 2009). Diante dos
números que apontam uma crescente oferta e demanda por produtos de madeira serrada de
Pinus, é de se esperar que a indústria busque formas mais eficientes de garantir a qualidade
dos produtos por ela gerados, portanto a atividade de inspeção e classificação passa a ter
crescente importância no processo produtivo.
Entre 2008 e 2011, uma seqüência de projetos de apoio aos APLs do setor madeireiro e
moveleiro, de Arapongas e Telêmaco Borba e de municípios com baixo Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) do Sul e Sudoeste do Paraná foram idealizados e
desenvolvidos por docentes dos departamentos de Arquitetura e Urbanismo, de Estruturas e
de Construção Civil da UEL, em parceria com o SENAI-Arapongas, PR. Destes, destaca-se
um projeto de pesquisa - Procedimentos para o incremento da qualidade do mobiliário
fabricados à base de produtos de madeira para as indústrias dos APLs de Arapongas e
Francisco Beltrão, Paraná - e um projeto de extensão tecnológica empresarial - Melhoria da
qualidade da madeira para as micros e pequenas empresas moveleiras do Paraná. O objetivo
principal é desenvolver equipamentos e procedimentos que permitam agregar valor a madeira
serrada processada por pequenos produtores e ao mesmo tempo adicionem vantagens
competitivas aos responsáveis pela demanda deste insumo, como aumento de produtividade,
diminuição do tempo do ciclo de fabricação de produtos a base de madeira, redução de perdas
e menor comprometimento financeiro com estocagem de materiais.
Várias são as normas que especificam a qualidade da madeira para utilização em
estruturas embora no Brasil, a única que trata de coníferas não considera a especificidade
estrutural. Não existem no país normas de classificação visual estrutural que dão subsídios aos
usuários e comerciantes desta madeira objetivando o uso em estruturas. As normas de
classificação visual estrutural são internacionais. Embora as informações sobre o assunto
estejam disponíveis, o acesso a elas é restrito, seja pela barreira do idioma ou pela
complexidade do texto.
As normas de classificação visual estrutural são internacionais sendo que no Brasil, são
duas as normas que tratam da classificação do Pinus. Especificam a quantidade e tipologias de
defeitos aceitáveis por peça de madeira de coníferas de maneira geral. São elas a ABNT NBR
11700 (1991) (Madeira serrada de coníferas provenientes de reflorestamento, para uso geral -
classificação), e a ABNT NBR 12297 (1991) (Madeira serrada de coníferas provenientes de
reflorestamento, para uso geral – medição e quantificação de defeitos.
Nenhuma delas estabelece valores para utilização em estruturas. Assim para se obter
parâmetros de classes de resistência é necessário se recorrer a normas internacionais tais como
a D245-93 (ASTM, 2001) Standard Practice for Establishing Structural Grades and Related
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Allowable Properties for Visually Graded Lumber ou SPIB (1994): (Grading Rules for
Southern Pine Lumber Manual for Boards and 2”Dimension).
Estas normas propõem classes de resistência, de acordo com a quantificação e
dimensões dos defeitos das peças. A ABNT NBR 12297 e a ASTM D245-93 são as normas
que estabelecem como os defeitos devem ser medidos, enquanto a ABNT NBR 11700 e a
SPIB 1994 definem os valores aceitáveis de cada defeito para cada classe.
As normas diferem também na consideração dos defeitos. Em comum há os
empenamentos, com exceção da torção, que não é permitida em nenhuma classe pela ABNT
NBR11700, e permitida com valores baixos nas classes da norma americana. As rachaduras
são outro ponto em comum, assim como os nós de canto e de face, porém a norma americana
difere tanto no modo de medir como nos valores de classificação dos nós de face larga e face
estreita, enquanto a brasileira os classifica da mesma forma. O esmoado também é
considerado pelas duas, só não possui um padrão de medida estabelecido pela ASTM D245-
93. O mesmo acontece com o fendilhado, porém neste caso a ABNT NBR 12297 é que não
define um método de medição. Uma diferença importante de se mencionar é a consideração
da densidade pela norma americana. Ao colocar na norma o modo padrão de analisar a
densidade de uma peça, torna-se evidente a intenção de que se estabeleçam valores para essa
característica específica da madeira, que está diretamente relacionada às suas propriedades
mecânicas. O Quadro 1 relaciona os defeitos mencionados em cada norma.

Quadro 1 – defeitos considerados nas normas estudadas


NORMA NBR 11700 NBR 12297 ASTM D-245 SPIB 1994
DEFEITOS ENCURVAMENTO ENCURVAMENTO ENCURVAMENTO ENCURVAMENTO
ARQUEAMENTO ARQUEAMENTO ARQUEAMENTO ARQUEAMENTO
ENCANOAMENTO ENCANOAMENTO ENCANOAMENTO ENCANOAMENTO
ESMOADO ESMOADO ESMOADO
FURO DE INSETO INATIVO FURO DE INSETO INATIVO
RACHAS RACHAS RACHAS RACHAS
NÓ DE GRAVATA NÓ DE GRAVATA
GRUPO DE NÓS GRUPO DE NÓS NÓ NA FACE ESTREITA NÓ NA FACE ESTREITA
NÓ DE FACE NÓ DE FACE NÓ NA FACE LARGA NÓ NA FACE LARGA
NÓ DE QUINA NÓ DE QUINA NÓ DE CANTO NÓ DE CANTO
BOLSA DE RESINA BOLSA DE RESINA NÓ SOLTO / CAIDO
MEDULA MEDULA
MANCHAS
FENDILHADO FENDILHADO FENDILHADO
INCLINAÇÃO DAS FIBRAS INCLINAÇÃO DAS FIBRAS
TORÇÃO TORÇÃO
DENSIDADE

Carreira (2006), busca validar o método americano de Classificação Visual da madeira


através da comparação desta classificação com as propriedades mecânicas da mesma peça
para as espécies Pinus spp cultivadas no Brasil. A norma utilizada por Carreira é a ASTM
D245-93 (2001), aplicada pela agência SPIB – Southern Pine Inspection Bureau. Esta norma
estabelece critérios para a limitação dos defeitos em relação a um dado valor de resistência,
mas não define classificações, essa parte é determinada por agências especializadas para tal
função. Nos Estados Unidos hoje, existem sete agências de classificação de madeira serrada.
Utilizando os critérios das normas SPIB (SPIB, 1994 e SPIB, 1999), Carreira classificou, em
sua pesquisa, 900 pranchas de madeira das espécies Pinus taeda e Pinus elliottii de dimensões
3,5 cm  12,5 cm  260,0 cm. Após a classificação visual, foram realizados ensaios
mecânicos com as mesmas peças: testes de flexão estática em relação ao eixo de menor e de
maior inércia e teste de compressão paralela às fibras. A partir destes resultados, os valores da
classificação mecânica foram comparados aos da classificação visual, comprovando a
viabilidade desta norma para classificação de peças estruturais de espécies coníferas exóticas
cultivadas no Brasil. Ilustrando a necessidade de classificar a madeira de coníferas
provenientes de florestas plantadas e destinadas a aplicações estruturais, as classes Nº2-D e
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SS-ND apresentaram entre si valores equivalentes do MOE medido em relação ao eixo de
maior inércia. As quatro classes em estudo apresentaram diferenças significativas no MOR
medido em relação ao eixo de maior inércia. Observaram-se diferenças da ordem de 275%
nos valores característicos MOR entre os grupos SS e Nº2.
O objetivo deste trabalho é, a partir da análise de normas e trabalhos científicos,
propor um manual de classificação visual estrutural para a madeira de Pinus spp, de fácil
leitura, fácil manipulação e assimilável para o público que utiliza esta espécie lenhosa;
serrarias, comércio, indústrias e projetistas.

MATERIAIS E MÉTODOS

Num primeiro momento, se procedeu à análise de normas, brasileiras e americanas,


bem como a bibliografia científica com o objetivo de buscar elementos para elaborar uma
ferramenta de classificação visual estrutural aplicável à espécie Pinus spp cultivadas no
Brasil.
Com base nas informações da bibliografia, iniciou-se o processo para a construção do
instrumento capaz de reunir de forma simplificada todos os requisitos das normas em vigor,
brasileiras e americanas atrelando características físicas às propriedades mecânicas da
madeira serrada. A ferramenta deveria ser de fácil leitura e utilização pelos produtores,
usuários, comerciantes e projetistas.
Em seguida, passou-se à classificação de um lote de madeira de pranchas e tábuas
adquiridas para este fim. Esta se deu não somente para o conhecimento da classificação das
peças, mas também permitir à equipe a familiarização com os procedimentos.
Na seqüência se realizaram ensaios mecânicos de algumas peças classificadas
visualmente para se julgar a coerência entre os valores das propriedades mecânicas com a
classificação visual estrutural estabelecida
Finalmente foi elaborado um manual incorporando as informações para classificação
em um folder com 9 seções, contendo entre outras informações, uma tabela simplificada de
fácil manipulação. Este material deve ser disseminado através de workshops e treinamentos
como transferência do conhecimento aos setores da madeira serrada e moveleiro.

Classificação do lote

Após a análise da bibliografia passou-se a classificação de um lote 4,0 m3 de madeira


de Pinus adquirida para este fim sendo metade de pranchas com 5,0  30,0  300,0 cm e
metade de tábuas com 2,5  30,0  300,0 cm. A idéia subjacente era a de se conhecer
previamente a classificação das peças para poder validar os instrumentos propostos e ao
mesmo tempo treinar a equipe envolvida. A umidade do lote foi medida por meio de medidor
elétrico, modelo DUP 8805, Digisystem, e constatou-se que a média se encontrava em torno
de 12%. Portanto, não foi necessária a correção das dimensões em função da umidade.
A primeira etapa foi a conferência das dimensões segundo o padrão adotado: 300,0 cm
de comprimento, 5,0 cm de espessura e 30,0 cm de largura para pranchas, e para as tábuas
300,0 cm de comprimento, 2,5 de espessura e 30,0 cm de largura. Nas três medidas, tanto na
prancha quanto na tábua, foi considerada a tolerância de ± 2,0 cm no comprimento e na
largura e ± 0,5 cm na espessura.

Deformações
A classificação começou pela análise das deformações: encanoamento, arqueamento,
encurvamento, e torção (figura 1). Para a medição utilizaram-se régua e linha de nylon. De
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acordo com os desenhos ilustrados na norma brasileira, se procedeu à medição seguindo as
indicações mostradas na Figura 1.

(A) (B)

(C) (D)
Figura 1 - Medição de deformações de peças de madeira; (A) Encanoamento,
(B) Arqueamento, (C) Encurvamento e (D) Torção.

Em seguida se passou à medição do esmoado. Em cada prancha era anotado o número


de quinas comprometidas e dimensões de cada esmoado calculando-se a sua porcentagem em
área em relação à área total da peça. O passo seguinte foi o da verificação de presença de
rachaduras, número, comprimento e sua localidade na peça.
Outro parâmetro a ser mensurado é a inclinação da grã. Determina-se a medida da
hipotenusa e do cateto adjacente do triângulo formado pela grã e a aresta da peça em 100 mm
calculando-se assim a tangente do ângulo de inclinação das fibras como ilustrado na Figura 2.
A inclinação da grã é verificada nas quatro faces, sendo que se deve considerar a máxima
inclinação observada.

Figura 2 - Medida da Inclinação da grã. Fonte SPIB (1994).

É importante salientar que essa medida deve ser feita quando a grã inclinada não se
localiza nas imediações de um nó onde há um desvio localizado das fibras em seu entorno.
Depois desses parâmetros, que são os mais freqüentes nas peças, era verificada a
presença de bolsas de resina, podridão e furos de inseto ativo. Em caso de presença de
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podridão, a peça é rejeitada, uma vez que esse defeito não é admitido em nenhuma classe.
Todos esses parâmetros eram anotados numa planilha eletrônica.

Nós
Na seqüência, procedeu-se à medição e contagem dos nós. Para medi-los, com exceção
do nó de quina que deve ser medido de maneira diferente. Depois disso, todos os valores eram
somados. A soma não pode exceder ⅓ da largura da face em que se encontram os nós com o
risco de rejeição da peça. Em cada peça são medidos os três maiores nós posicionados
respectivamente, no centro da face larga, na borda da face larga e na face estreita (Figura 3).
Medem-se os dois diâmetros, e somente o maior deve ser considerado.

Figura 3 - Presença de nós em peça de madeira. Fonte SPIB (1994).

Densidade
A densidade da madeira traduz o vigor de crescimento da árvore. No caso das
coníferas, quanto mais acelerado for o crescimento, maior será a porcentagem de madeira de
verão (de baixa densidade) produzida, reduzindo a densidade do conjunto. É a característica
física mais bem relacionada às propriedades mecânicas da madeira, em particular, sua rigidez,
traduzida por sua vez, pelo MOE. Assim, quanto mais alta a densidade, maiores serão os
valores das propriedades mecânicas. Define-se densidade (ou massa específica aparente, no
caso da madeira) como sendo a relação entre a massa da amostra e seu respectivo volume. No
entanto no caso da madeira e em particular as coníferas, tanto mais densa será a madeira
quanto mais anéis de crescimento por unidade de comprimento a amostra apresentar em seção
transversal. Desta forma, o método norte-americano de classificação visual também define
três classes de densidade (dense, medium, coarse), conforme a quantidade de madeira de
inverno presente na peça de madeira, e o número de anéis de crescimento existentes em uma
extensão de 2,5 cm (1”) medidos na direção radial (Tabela 1 e Figura 4).

Tabela 1 Classes de densidade em função da quantidade de anéis por 2,5 cm


Classe Anéis/2,5cm Quantidade de madeira de inverno
Dense ≥6 > 1/3
≥4 > 1/2
Medium ≥4
Coarse <4
Fonte – Carreira (2006).
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Figura 4 - Medição da densidade em função da quantidade de anéis por 2,5 cm – a) com


presença de medula e b) sem presença de medula. Fonte SPIB (1994).

Com todos os parâmetros mensurados havia um conjunto de informações para cada


peça que a classificava.

Validação da Classificação Visual - ensaios mecânicos

Para validar a classificação da madeira, separaram-se sete vigas de seção transversal


5,0 cm  9,0 cm de seção transversal e com 300,0 cm de comprimento. Essas vigas foram
classificadas visualmente de acordo a metodologia descrita acima e deste grupo, foram
selecionadas as cinco mais bem classificadas.

Figura 5 - Cinco vigas selecionadas.

Essas cinco vigas foram submetidas a ensaios mecânicos descritos na ABNT NBR
7190 (1997) (Figura 5). Primeiramente o ensaio de flexão de três pontos no eixo de maior
inércia. O ensaio foi realizado com três ciclos de carregamento de 2,0 kN (50% da carga de
ruptura) e 0,40 kN (10% carga de ruptura). Finalmente as peças foram levadas à ruptura.
Os ensaios de compressão paralela foram realizados através de quatro corpos de prova
com dimensões 4,0 cm  4,0 cm x 12,0 cm, retirados de cada viga antes da execução do
ensaio de flexão. Os testes foram realizados de acordo com o anexo B da ABNT NBR 7190
(1997).
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Após todos os ensaios realizados, os resultados de resistência foram comparados entre
si e confrontados com o resultado da classificação visual. A análise dos dados permite
estabelecer uma relação coerente entre a classe visual e os resultados obtidos nos ensaios
mecânicos, confirmando as conclusões de Carreira (2006).

Elaboração do manual de classificação

Como conseqüência desta constatação, passou-se à elaboração de um manual de


compilação destas informações, inspirado no exemplo daquele proposto pelo CTBA (1986).
Essa ferramenta conteria a descrição de cada defeito e da forma de sua medição em uma
linguagem simples, utilizável por comerciantes, pessoal de serraria e da indústria da madeira.
Além disso, esse manual descreveria, para cada classe, uma lista dos defeitos permitidos e
limite quantitativo de cada um. Traria também uma fotografia da peça segundo cada classe,
como uma forma visual de reconhecimento do aspecto característico da classe
Levando em conta essas condições, iniciou-se a produção de imagens esquemáticas,
que deixassem claro para o usuário cada tipo de defeito. Para cada classe, foi colocada uma
imagem fotográfica da peça como exemplo visual da classificação.
Na elaboração do layout, se estabeleceu a hierarquia de informações a ser adotada.
Em primeiro lugar, aparecem as aplicações de cada classe. Na seqüência, se apresenta o
conceito de densidade e a forma de quantificá-la no caso da madeira em questão. Observe-se
que esta característica física é a principal que se relaciona diretamente com as propriedades
mecânicas e que peça não densa, segundo os limites normativos, não deve ser utilizada
estruturalmente. Na janela seguinte, se elaborou um quadro geral que relaciona os defeitos
admissíveis e valores máximos permitidos para cada classe, como uma visão global de todas
as classes. Finalmente, foram descritos todos os defeitos encontrados na madeira com a
terminologia adequada para o usuário não familiarizado com a linguagem.
As Figuras 7 e 8 apresentam o lay-out e aspecto final do manual.

Figura 7 - Capa do manual e classes estruturais.


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Figura 8 - Tabela geral de classificação, defeitos e a forma de medição.

Como resultado se tem uma ferramenta bastante clara e de fácil manipulação como se
havia pretendido. A disseminação está sendo feita com o auxílio do SENAI Arapongas com
boa aceitação geral do público alvo.

CONCLUSÕES

O trabalho desenvolvido refere-se à elaboração de manual de classificação visual


estrutural para a madeira de Pinus spp comercial brasileira
Nas etapas que constituíram o processo pode-se dizer que:
Não havia até o momento ferramenta nacional para a classificação visual estrutural da
madeira de Pinus no Brasil.
A bibliografia mostra que é possível, com as informações de normas brasileiras e
internacionais, bem como trabalhos científicos recentemente desenvolvidos, a realização de
ferramenta para facilitar os procedimentos de classificação visual estrutural para a espécie
Pinus cultivada no país.
A etapa de classificação prévia se constituiu importante passo para se construir uma
base de conhecimento do lote de madeira assim como para o treinamento da equipe envolvida
no projeto.
Os resultados dos ensaios mecânicos se mostraram coerentes com a classificação
visual realizada, confirmando informações da literatura e a pertinência do trabalho.
O manual de classificação tem se verificado uma boa ferramenta de classificação, uma
vez que incorpora os requisitos necessários à classificação visual estrutural das normas
consultadas, é de fácil leitura e compreensão, além de ter aspecto simples de ser manipulado.
Sua disseminação tem sido facilitada com o apoio do SENAI através de seu site e cursos de
curta duração.
Espera-se que esta seja uma contribuição significativa para agregar valor à madeira de
Pinus, aumentando seu leque de aplicações, contribuindo para o seu uso racional e dando
suporte aos usuários, no que diz respeito à tomada de decisões que digam respeito à qualidade
da madeira serrada.
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Tendo em vista o aumento da importância do eucalipto em termos de área plantada e
utilização, vislumbra-se a produção de material semelhante a este desenvolvido especialmente
para a espécie

AGRADECIMENTOS

Ao prof. Dr. Marcelo Rodrigo Carreira pelos seus inestimáveis conselhos e sugestões na
elaboração deste trabalho.
Ao Carlos Alberto Duarte e Luis Gustavo Patrocino pelo precioso apoio laboratorial.
Ao CNPq e À Fundação Araucária pelo apoio financeiro
Ao SENAI- Arapongas pela parceria e disseminação do trabalho

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 11700. Madeira serrada de


coníferas provenientes de reflorestamento, para uso geral – classificação. 1991, Rio de
Janeiro, 6p.

___________________ NBR 12297. Madeira serrada de coníferas provenientes de


reflorestamento, para uso geral: medição e quantificação de defeitos.6 p

____________________ NBR 7190-97. Projeto de estruturas de madeira- Rio de Janeiro,


1997. 107 p

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PRODUTORES DE FLORESTAS PLANTADAS.


Anuário estatístico da ABRAF 2009: ano base 2008. Brasília, DF, 2009. 120 p

CENTRE TECHNIQUE DU BOIS ET DE L’AMEUBLEUMENT – CTBA. Les résineux


français. Manuel de classement, 1986, 8 p.

ASTM - AMERICAN SOCIETY OF TESTING AND MATERIALS - D245-93. Standard


Practice for Establishing Structural Grades and Related Allowable Properties for Visually
Graded Lumber. West Conshohoken: ASTM, 1993

ASTM - AMERICAN SOCIETY OF TESTING AND MATERIALS - D1990-97. Standard


Practice for Establishing Allowable Properties for Visually Graded Dimension Lumber From
In-Grade Test of Full-Size Specimens. West Conshohoken: ASTM, 1997

SPIB - SOUTHERN PINE INSPECTION BUREAU.Standard grading rules for Southern


Pine lumber. Pensacola, 1994

CARREIRA, M. R. e Dias, A. A. Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 8, n.


34, p. 17-43, 2006

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