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SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO

SERVIÇO SOCIAL

O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO

CONTAGEM
2014
SÔNIA MAR GEAN ASSIS DUARTE

O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como
requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel
em Serviço Social.

Contagem
2014
Dedico este trabalho a Deus e
a todos que contribuíram
direta ou indiretamente para
minha formação acadêmica.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus que em todo momento me fortaleceu e me


sustentou para que eu pudesse concluir mais esta etapa na minha vida. Obrigada
Senhor!

Ao meu esposo Luiz Carlos que acreditou neste meu sonho e


mesmo em situações adversas, não me deixou desanimar, sempre orando por mim.
Obrigada amor!

Aos meus filhos Débora e Marcelo que torceram por mim e se


mostravam orgulhosos a cada etapa conquistada e também meu genro Weverton e
minha nora Ana Flávia. Obrigada, amo vocês!

Às minhas irmãs Maria Helena e Maria José que me incentivaram


nesta caminhada me apoiando em todo tempo. Amo vocês!

Ao meu cunhado Jorge que com todo desprendimento me ajudou no


início desta caminhada. Deus o abençoe!

À minha sobrinha Ana Paula que de certa forma contribuiu para eu


continuar na caminhada. A tia te ama!

À minha neta Anabela que mesmo recém-chegada na família,


inundou meu coração de alegria me dando forças prá continuar. A vovó te ama!

À amiga e irmã em Cristo Eni que me orientou nos primeiros


momentos de escolha deste curso, com sua larga experiência na Secretaria de
Desenvolvimento.

À minha Tutora Bruna, que desde o início me incentivou e me ajudou


para que eu pudesse prosseguir até o final.

Aos amigos Desirré, Doralice, Elenice, Geraldo, Mary e Wenderson


que fizeram parte do nosso “grupo”. Alegrias e angústias que foram divididas nestes
anos alicerçaram um sentimento de respeito e amizade que jamais esquecerei.
“Já tenho conhecido que não há cousa melhor para
eles do que alegrarem-se e fazerem bem na sua vida; e
também que todo homem coma e beba, e goze do bem
de todo seu trabalho: isto é dom de Deus”.

Ecles. 3.12,13

.
DUARTE, Sônia Mar Gean Assis. O Processo de Envelhecimento. 52 folhas.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Serviço Social) – Centro de
Ciências Empresariais e Sociais Aplicadas, Universidade Norte do Paraná, Cidade,
Ano 2014.

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo abordar o processo de envelhecimento no Brasil,


como um fenômeno da atualidade e como se dá este processo dentro da realidade
social em que vivemos. Tem uma proposta de discutir como procede as Políticas
Públicas voltadas para os idosos e analisar o cotidiano destes na família, saúde e
lazer. O estudo foi realizado através de bibliografias que se faz referência ao
assunto e políticas públicas específicas neste contexto, considerando as diretrizes
da Constituição Federal, Política Nacional do Idoso, Política Previdenciária e
Estatuto do Idoso.

Palavras-chave: Idoso, Envelhecimento e Políticas Públicas.

ABSTRACT
This work aims to address the aging process in Brazil, as a phenomenon of our time
and how this process takes place within the social reality in which we live. Have a
proposal to discuss how to proceed Public Policies targeting the elderly and analyze
these in everyday family, health and leisure. The study was conducted using
bibliographic reference is made to the subject and specific public policies in this
context, considering the guidelines of the Federal Constitution, the National Policy for
the Elderly, Pension Policy and the Elderly.

Key-words: Elderly, Aging and Public Policy


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABQV Associação Brasileira de Qualidade de Vida


AD Assistência Domiciliar
AVC Acidente Vascular Cerebral
BPC Benefício de Prestação Continuada
CDL Câmara dos Dirigentes Lojistas
CNAS Conselho Nacional de Assistência Social
CRAS Centro de Referência de Assistência Social
IBGE Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística
LOAS Lei Orgânica de Assistência Social
NOB Norma Operacional Básica
OMS Organização Mundial da Saúde
ONU Organização das Nações Unidas
PIB Produto Interno Bruto
PNAD Política Nacional por Amostra de Domicílio
PNI Política Nacional do Idoso
PNSI Política Nacional Da Saúde do Idoso
PNSPI Política Nacional da Saúde da Pessoa Idosa
SESC Serviço Social do Comércio
SCFV Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos
SUAS Sistema Único de Assistência Social
SUS Sistema Único da Saúde
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 09

CAPÍTULO I: O ENVELHECIMENTO NO BRASIL ................................................. 14


1.1 O IDOSO NA CONSTITUIÇÃO ......................................................................... 17
1.2 O ENVELHECIMENTO NO CONTEXTO SOCIAL ............................................ 18

CAPÍTULO II: A QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO ............................................. 23


2.1 A RESPONSABILIDADE DO CUIDAR FAMILIAR COM O IDOSO .................. 27
2.2 O DIREITO DE ACESSAR O LAZER NA TERCEIRA IDADE .......................... 32
2.3 EDUCAÇÃO NA VELHICE ................................................................................ 35

CAPÍTULO III: O ATENDIMENTO DO IDOSO NA ÁREA DA SAÚDE .................. 36

CAPÍTULO IV: O DIREITO DO IDOSO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS .................. 40

CONCLUSÃO .......................................................................................................... 46
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INTRODUÇÃO

O aumento da população idosa no Brasil trouxe uma nova


concepção de velhice. Anos atrás era vista como pessoa fraca e improdutiva. Uma
pessoa sem sonhos e sem expectativa de viver. Mas com o desenvolvimento social
que este propiciou, promoveram algumas mudanças na vida deste contingente.
Neste trabalho foram realizadas pesquisas bibliográficas com
conteúdos específicos sobre os interesses da pessoa idosa, expondo de maneira
mais ampla de como as políticas públicas têm avançado para enfrentar esta
realidade que tende a crescer a cada dia, pois já é muito perceptível o aumento da
população idosa, tornando-se um fenômeno de grande proporção na sociedade
contemporânea. Considera-se idoso a pessoa a partir de 60 anos conforme a
Organização Mundial da Saúde – OMS.
A escolha deste tema se deu a partir do meu primeiro estágio
realizado em um “Lar para Idosos”. Com atividades de lazer como jogos, vídeos,
festa da família e roda de conversa, trouxe um estreitamento na relação que
propiciou uma abordagem mais direta e individual. Esta experiência demonstrou que
realmente a pessoa tem como preparar uma velhice mais saudável em alguns
aspectos, dependendo das suas escolhas de acordo com o contexto em que ela
está inserida.
No âmbito coletivo foi possível detectar os problemas de maneira
peculiar dos idosos como um grupo, e, perceber a lacuna que o Estado tem deixado
por falta de uma política que reconheça realmente as necessidades dos idosos no
contexto do amparo legal. Em muitas situações foi percebido como o assistente
social através de uma intervenção específica, pode provocar uma mudança que
propicie uma qualidade de vida. O simples fato de ouvir ou uma informação pode
criar opções de escolha. Muito além disso, o assistente social tem acesso a
instrumentos preciosos para intervir de maneira preventiva.
O envelhecimento de uma população tem vários reflexos na vida
social. Provoca mudanças ligadas ao financeiro, a previdência social, mercado de
trabalho, saúde e assistência médica, e propriedades bem como a composição
familiar. Não dá para separar o crescimento populacional de idosos com os desafios
que a sociedade contemporânea está vivendo. É um processo natural para todo ser
humano, do recém-nascido ao ancião. É involuntário, ou seja, não depende da
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vontade do individuo e também irreversível. Nem com todo o avanço da medicina


pode reverter este processo. Estima-se que 30 milhões de pessoas entrarão para
esta estatística, o equivalente a 15% da população. A diminuição da taxa de
mortalidade aponta para esta realidade. Este fato se deu, de certa forma, a partir da
transformação da sociedade em busca de melhores condições de vida, na esfera da
saúde, lazer e trabalho, refletindo, portanto, no âmbito familiar e social. Isto aponta
uma nova concepção do processo de envelhecimento incorporado socialmente.
O sucesso da longevidade está relacionado com o avanço da
medicina que tem permitido profissionais da saúde conseguir um diagnóstico
precoce no tratamento de algumas doenças crônicas, comuns em idosos, tentando
intervir neste cenário de invalidez e dependência. Exames mais específicos e certos
procedimentos médicos têm ajudado a mudar esta realidade da saúde para este
contingente e que consequentemente, tais procedimentos ajudam a reduzir os
gastos públicos, trazendo uma nova realidade. Com isto, vêem proporcionando a
estas pessoas um novo estilo de vida e garantindo a longevidade.
Outro fator que tem contribuído para uma melhor performance no
processo de envelhecimento são os meios de comunicação. Esta ferramenta
preciosa tem alcançado milhões de pessoas em todo país e levado informações de
prevenção em diversas áreas.
A inserção na sociedade para este público esbarra nas mais
variadas questões sociais. Percebe-se a falta de pessoas preparadas para lidar com
eles, de proporcionar momentos de afeto, lazer ou um mínimo de atenção que todo
ser humano merece. Nas condições físicas que muitas vezes os impedem de
usufruir de atividades prazerosas por falta de infra-estrutura, condição financeira e
debilitação que, se tratadas a tempo e dignamente poderia ser evitada.
Os grupos de convivência para idosos oferecidos nos equipamentos
têm oferecido um espaço de integração deste contingente na sociedade. É
importante ressaltar que todo ser humano necessita de estímulo para superar
momentos difíceis, e nem sempre na família este idoso é respeitado.
Com o estudo deste trabalho trouxe uma visão mais ampla da
realidade social em que vivemos. Conceitos, valores, representação social, projetos
políticos envolvendo a pessoa idosa, abriu um leque de possibilidades para
intervenções mais precisas por parte dos profissionais da assistência social
necessitando “apenas” de uma boa vontade política.
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O presente trabalho foi dividido em quatro capítulos:


No capítulo I será abordado o envelhecimento no Brasil, uma nova
realidade do país: um envelhecimento sem precedente na sua história. Como o país
tem se estruturado ao perceber o novo perfil do idoso que vem lutando para ser
reconhecido como cidadão de direitos. Com esta busca em prol deste
reconhecimento, será feita uma análise da Constituição Federal de 1988 em
seguida, que foi efetivada para dar suporte a este indivíduo considerado frágil até a
década de 70. . A consolidação de leis através da Constituição Federal trouxe uma
expectativa numa nova percepção do que seja pessoa idosa na sociedade como
sujeito de direito.
À proporção que vem tomando a longevidade no país, fez com que
outros projetos e leis fossem criados, refletindo diretamente no contexto social. E
sobre isto iremos abordar em seguida, o conceito que a sociedade tem do idoso e
como o Estado o tem servido dentro das diretrizes até então promulgadas. Serão
abordados outros fatores de caráter sociais que contribuíram para a melhoria das
condições socioeconômica dos idosos.
No capítulo II será analisada a qualidade de vida do idoso. Por este
tema ter um conceito amplo, consideraremos o bem-estar como um dos conceitos
de qualidade de vida, sendo feito uma explanação de alguns fatores que a
promovem. Como são oferecidos os Grupos de Convivência para pessoa idosa,
seus benefícios, interação social entre eles e os espaços públicos. Veremos o lazer
como direito resguardado no Estatuto do Idoso. Outros fatores também estarão
relacionados como a prevenção de doenças e estilos de vida que podem determinar
a saúde numa idade mais avançada. Em seqüência será analisado a
responsabilidade do cuidar do idoso dentro da família, uma tarefa complexa por
depender do tipo de cuidado que demanda cada idoso. Como que este cuidador
familiar tem prestado este papel e em que condições físicas e emocionais têm
vivido. O idoso que vive em família sente-se mais seguro. Quando o idoso adoece, é
sempre mais lenta a sua recuperação, necessitando de mais tempo de atenção e
cuidados, mas mesmo neste contexto, nem sempre os familiares estão disponíveis
para cuidar devido à correria nos dias atuais, pois, hoje a mulher também trabalha
fora para ajudar ou sustentar sozinha toda a família. Afinal, a estrutura familiar vem
mudando vertiginosamente.
Será analisado em seguida o direito do lazer na terceira idade,
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assinalando as condições físicas dos idosos que dificultam o acesso às atividades


como também a falta de infraestrutura para viabilizar, ressaltando também as
condições financeiras. Relacionaremos o lazer ativo e passivo, onde cada idoso
pode optar de acordo com sua condição e disposição.
Abordaremos também a educação na velhice. A mudança de
comportamento deste contingente tem propiciado uma nova compreensão de que
para adquirir conhecimento não tem idade. E como está sendo oferecido este
espaço para a terceira idade, haja vista que a sociedade ainda traz um preconceito
contra o idoso, dificultando a interação das gerações.
No capítulo III abordaremos o idoso na saúde. Como tem sido este
atendimento numa área tão delicada, pois uma das características mais forte na
velhice é a vulnerabilidade na saúde. Como estão sendo implantados os serviços
públicos nesta área, uma vez que a população idosa está sempre buscando
atendimento no setor público e privado, tanto na área da saúde física como na
saúde mental. Algumas regalias importantes foram conquistadas através do Estatuto
do Idoso, como: no âmbito da família, planos de saúde, medicamentos, internações
hospitalares, dentre outros.
No capítulo IV será avaliada a efetividade das Políticas Públicas
voltadas para esta faixa etária. A contextualização destas políticas, criadas com um
objetivo único: fazer valer o direito do idoso a nível nacional, sem preconceito de
raça, cor, idade e condição social, pois muitos projetos e leis ficam apenas no papel,
deixando esta população excluída pelo próprio sistema social. A criação de leis
considerando as especificidades de cada grupo de idosos, garantida pela Rede
SUS, com profissionais capacitados para prestar este atendimento, assegurado pela
Política Nacional do Idoso (PNI) sob a Lei nº 8.852/94.
A proporção que o envelhecimento no Brasil vem tomando, tem
causado um impacto na sociedade de certa forma positivo, uma vez que a leva a
uma reflexão de como estão sendo elaboradas as leis que amparam a pessoa idosa
e sua efetividade. De como se dá os esforços governamentais para o cumprimento
destas leis através das políticas públicas a que se propõe. O Estatuto do Idoso é
uma ferramenta que propõe mudança social para este contingente, desde que a
sociedade engaje neste processo, humanizando as relações do idoso no segmento
de viver e envelhecer.
Por fim as considerações finais com alguns apontamentos para
13

reflexão quanto à intervenção em nível de Governo e do profissional de assistência


social. Lembrando que o profissional do serviço social deve ter uma percepção
estratégica para determinar a conjuntura para a gestão das políticas públicas. Um
olhar crítico que lhe é peculiar dentro da profissão, propicia instrumentos efetivos e
operativos de caráter técnico, que irá propor uma intervenção mais objetiva de
acordo com demanda em questão. A organização e a estrutura administrativa
promovem uma qualidade do processo de atendimento aos usuários.
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CAPÍTULO I: O ENVELHECIMENTO NO BRASIL

Antes de fazer uma discussão sobre este tema é preciso fazer uma
distinção entre envelhecimento e velhice. O envelhecimento é um processo natural
que todos ser humano entra a partir do momento em que nasce. É impossível viver
sem estar incluído neste processo, pois faz parte da vida. É um processo evolutivo e
por isso está sempre em movimento de transformação até chegar ao ápice, ou seja,
na velhice que é o estado ou uma condição de se ter alcançado uma idade
avançada ou ter muitos anos de vida. A velhice é uma conseqüência ou resultado do
processo de envelhecer.
Na percepção de NERI (2001) “[...] a velhice é a última fase do ciclo
vital e é delimitada por eventos de natureza múltipla, incluindo, por exemplo, perdas
psicomotoras, afastamento social, restrição em papéis sociais e especializações
cognitivas” (Neri 2001, p.69 apud Silva 2009. p.17). A velhice também faz parte da
vida, mas não é um privilégio para todo ser humano. Pode-se dizer que todos
entram no processo de envelhecimento, mas nem todos chegam a serem velhos de
fato.
No contexto social, considerando as mudanças nas áreas da
economia, política e cultura, a velhice também sofre mudanças de acordo com estes
fatores. De acordo com BEAUVOIR (1990) “a velhice não poderia ser compreendida
senão em sua totalidade; ela não é somente um fato biológico, mas também um fato
cultural” Beauvoir (1990, p.20). Baseado nesta citação pode-se dizer que a velhice
pode ser construída pelo próprio sujeito através das suas experiências de vida.
Nas palavras de GOLDMAN, (2000, p.16) “A evidência da velhice
pode ser atribuída às mudanças demográficas que indicam o envelhecimento da
população, processo já consolidado nos países do chamado Primeiro Mundo e
prenunciado no Brasil”.
Com este aumento populacional de idosos, há muito não se pode
mais dizer que o Brasil é um país jovem. De acordo com a Organização Mundial da
Saúde (OMS) quando este crescimento atinge 7% de pessoas de 60 anos em
diante, caracteriza uma população envelhecida. Nosso país já ultrapassou esta
marca e a cada ano este processo acelera, alcançando porcentagens mais altas em
tempos menores.
Com esta nova realidade, o país começou a se estruturar para
15

atender as demandas deste novo grupo de pessoas, que já mobilizava a sociedade


para novos desafios em todas as áreas, conforme a citação de SILVA (2005. V.8):

“Não pode e nem deve se resumir a uma mera análise demográfica, mas,
sobretudo incluir os aspectos sócios econômicos e culturais de um povo, a
fim de que possa perceber de forma mais nítida as conseqüências,
mudanças, desafios e perspectivas que esse processo traz consigo e quais
as medidas e as políticas sociais que devem ser adotadas diante desse
novo fenômeno, que se apresenta à sociedade brasileira”. SILVA (2005).

Um fator relevante à análise do avanço populacional de idoso são os


movimentos migratórios. Em regiões consideradas de grande população idosa pode
ser percebida pelo contexto histórico da região, a migração de jovens para grandes
cidades em busca de trabalho, ficando somente os mais velhos. Esta é uma
realidade na região nordeste onde a migração teve um papel importante sobre a
história de “migração no Brasil” desde o império.
As indústrias instaladas na região sudeste promoveram uma atração
de milhares de pessoas principalmente para São Paulo no século XX. Nos últimos
anos tem acontecido um declínio desta migração, quando o desemprego tem
assolado esta região. As políticas públicas desenvolveram mecanismos para atrair
estes migrantes para o Centro-oeste. De acordo com dados da Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2008, 30% da população desta região são de
origem nordestina e de outras regiões do Brasil.
Estes fluxos migratórios causam impactos profundos na sociedade,
pois as pressões na área habitacional, transporte e tudo mais que é básico para a
sobrevivência sofre alterações, que implicam a sociedade e as políticas públicas
setoriais. Importante ressaltar que a atração migratória depende do momento ou
contexto em que está a região ou estado.
De acordo com IBGE o número de idosos no Brasil dobrou nos
últimos 20 anos. Até 2025 o Brasil será o sexto país do mundo com maior número
de idosos com uma soma de 30 milhões, o que equivale a 15% da população.
Segundo dados do IBGE o aumento desta população comparado entre 2009 e 2011,
houve um aumento de 7,6%, representando mais de 1,8 milhões de pessoas. Em
2009 esta população somava 21,7 milhões, ou seja, dois anos após somam 23,5
milhões de idosos no Brasil.
Pesquisa do IBGE aponta que São Paulo, Minas Gerais e Rio de
Janeiro são os Estados mais populosos nesta faixa etária. São assim distribuídos:
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São Paulo (5,4 milhões); Minas Gerais (2,6 milhões); Rio de Janeiro (2,4 milhões).
Enquanto que estes três Estados da região Sudeste abrigam quase a metade desta
população, no Norte do país aponta um declínio, onde 57,6% da população têm
menos de 30 anos.
A velocidade do envelhecimento no Brasil é um fenômeno social,
fazendo contraste com outros países como na Europa, que para dobrar a proporção
de idosos, levou 100 anos. Com o tempo a favor e outros fatores típicos de países
desenvolvidos, foi possível construir uma sociedade inclusiva com uma infraestrutura
propícia para este segmento, o que no Brasil é quase inviável diante da velocidade
em que esta população tem aumentado.
Por muito tempo a política no país se calou diante desta realidade.
Com isto favoreceu o desconhecimento dos direitos da pessoa idosa, embora que
nos últimos 30 anos, a ampliação dos seus direitos e a proteção social está sendo
estruturada para atendê-los, conquistando leis, decretos e medidas através das
instituições governamentais, estabelecendo assim seus direitos.
O envelhecimento e o desenvolvimento não devem ser visto de
forma antagônica. Apesar de desenvolvimento ter um conceito de produtividade,
progressão, o envelhecimento é também um desenvolvimento por fazer parte do
processo da vida.
Ver a velhice como uma fase normal da vida sem o rótulo negativo
de improdutividade, dentre outros, pode mudar o conceito errôneo que a sociedade
traz do idoso, pois este ainda tem sofrido preconceitos nesta sociedade que ainda
não percebeu a sua importância. Quando há crescimento populacional, significa que
alguns fatores importantes estão acontecendo, como a queda da mortalidade infantil,
a prevenção de doenças frequentemente fatal num passado não muito distante,
dentre elas a tuberculose, poliomielite, sarampo, gastrointerite e pneumopatias na
infância. Uma melhor nutrição e condições habitacionais também são fatores que
tem favorecido a longevidade.
Ainda assim, a imagem da velhice ainda é considerada ruim. Ela
representa uma negação de valores que foram cultuados na sociedade na era
industrial, promovendo uma desvalorização do ser. Segundo Costa (1998) a velhice
tinha outro valor, o ser humano acumulava papéis sociais e continuava sendo
valorizado e respeitado quando este envelhecia.
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1.1 O IDOSO NA CONSTITUIÇÃO

Até pouco tempo atrás a velhice não era encarada como questão
social. Ramos (1999) aborda muito bem este assunto na sua publicação “A velhice
na Constituição”, quando aponta que esta questão não era relevante. Não havia
nenhuma preocupação com esta população.
O direito a uma velhice digna só foi efetivada com a Constituição
Federal de 1988, envolvendo a Previdência Social, a Assistência Social e a Saúde.
A partir daí princípios de cidadania e dignidade ao idoso foi respeitado como direito.
A velhice começou a ser tratada como problema social assegurando sua proteção
para além da assistência previdenciária. De acordo com a Constituição Federal o
idoso é digno de todo privilégio que esta lhe assegura e a sociedade deve identificar
este direito. Para SANTIN (2005, p.77) a Constituição de 1988 foi o divisor de águas
na história do país e acrescenta:

“[...] representa um grande marco nas lutas pelos direitos fundamentais no


Brasil, já que a sociedade civil estava amordaçada há mais de vinte anos,
por forte autoritarismo (característico da ditadura militar). Acaba-se com o
regime autoritário, declarando o regime democrático como normalidade
legítima da convivência nacional. O resultado desses anos de arbítrio
extravasa-se na Constituição, cuja elaboração, pela primeira vez, a
sociedade civil participou ativamente”. Santini (2005, p.76-77 apud Santini
2008, P. 148).

A promulgação da Lei Orgânica de Assistência – LOAS em 7 de


dezembro de 1993 foi um grande avanço da seguridade social como proteção não
contributiva. Foi uma conquista social. Um suporte para as classes mais vulneráveis
da sociedade. Outra conquista importante foi a Aposentadoria Proporcional, por
Idade e Pensão por morte para viúva e viúvo.
Até 1970, o idoso era visto como indivíduo frágil, que não tinha
condições físicas, biológicas e nem psicológicas para estar ativo dentro de um
contexto social. Era descriminado e isolado. A partir desta data começou um
movimento em prol da dignidade do idoso. O crescimento desta população já
começava a ser contemplada pela sociedade de maneira significativa, já contava
com 350 milhões, comparando com 200 milhões em 1950 de acordo com Rodrigues
18

(UFG). Este movimento se deu até seus direitos chegarem aos moldes da
Constituição de 1988.

“O sentido de proteção (protectione, do latim) supõe, antes de tudo, tomar a


defesa de algo, impedir sua destruição, sua alteração. A idéia de proteção
contém um caráter preservacionista – não da precariedade, mas da vida -
supõe apoio, socorro, amparo. Esse sentido preservacionista é que exige
tanto a noção de segurança social como de direitos sociais”. Sposati (2009,
p. 21).

Na Constituição valeu-se o reconhecimento da pessoa idosa como


portadora de assistência social em tudo que esta abrange. Todos os benefícios a ele
segurados, reconhecendo assim que todos são iguais perante a lei, sem nenhum
tipo de descriminação, principalmente aqueles que estão fora do perfil de
contribuinte, reconhecendo que este fato, ou seja, sua contribuição se deu no
decorrer da sua vida em idade propícia para tal. É, portanto, direito do cidadão e
dever do Estado, devendo ser prestada a quem dela necessitar, independentemente
de contribuição conforme o Art. 203 da nossa Constituição.

1.2 O ENVELHECIMENTO NO CONTEXTO SOCIAL

O envelhecimento é um processo biológico de todo ser humano. Não


se tem dados suficientes para apontar com exatidão quando a velhice passou a ser
contextualizada socialmente.
O idoso sempre fez parte da história, inserido nos mais variados
contextos que viveu e vive a humanidade. Assumiu vários papéis como o patriarca
que era o principal na família e respeitado por todos. O idoso sábio que tinha o
poder sobre os filhos e a esposa.
Numa sociedade conservadora, os homens idosos mantinham-se
ativos, ocupando lugares de poder do país. Antes mesmo da Revolução Industrial e
mesmo após, ocorreram mudanças drásticas, desvalorizando os idosos mais
pobres, estendendo este estigma para o século XX.
A produção industrial, tão valorizada pela sociedade, percebia na
força dos mais jovens, resultados imediatos que vinham de encontro às expectativas
de riquezas e não reconhecia na pessoa idosa estrutura física para esta função.
Com papéis cada vez menos importantes, provocando a queda do seu poder
econômico o lança para a margem social, sem dar nenhuma importância à sua
19

experiência anteriormente tão valorizada. A respeito deste abandono, BALDESSIN


afirma:

“[...] O fenômeno da velhice é um verdadeiro problema, um desafio que nos


está sendo imposto. Alguns vêem esta situação como um problema que
deve ser solucionado teoricamente, com medidas assistências e
econômicas. Outros vêem nela oportunidade de constatar que o mito da
sociedade industrial foi capaz de abandonar, desprestigiar, institucionalizar,
reduzir à pobreza e à falta de função social de milhões de velhos” (apud
Donato, 2002. P. 454).

Por mais que se faça uma reavaliação do idoso hoje na sociedade,


ainda sim, o próprio significado diz o que se pensa de idoso, que quer dizer com
muitos anos de vida e velho é relacionado a este, da mesma forma, enquanto que
esta palavra é usada para referenciar coisas antigas, antiquadas ou usadas. Isto é
explicado muito bem nas palavras de VIEIRA, (2003):

“Se no início do século XX a velhice era exposta na mídia de forma


inadequada, ao longo do século, ela foi tornando-se invisível, embora as
instituições geriátricas tenham se multiplicado. Para que a sociedade tivesse
atenção com seus membros idosos, eles eram expostos como pessoas que
precisavam de ajuda, largados à própria sorte. Como esta era uma imagem
inadequada do que era o indivíduo que envelhecia e do que ele necessitava,
parece que a discrepância de atitudes ante a ele fez com que “esse ser com
o qual não sabíamos o que fazer” caísse na obscuridade dos grupos
supostamente minoritários. O que hoje em dia não procede, tal o expressivo
número de idosos na população”. (Vieira, 2003).

A “velhice” no sentido literal faz uma entrojeção no idoso que se


permite viver de acordo com esta condição, promovendo para muitos um sinal de fim
da vida, rompimentos de laços afetivos, ocasionando angústia e não aceitação da
própria idade.
A Lei 10.741/2003 do Estatuto do Idoso define o idoso aquele que
tem por base 60 anos. “Art. 1º É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular
os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta)
anos”. Embora haja controvérsia de idades como na Constituição Federal esteja à
partir de 65 anos, no nosso código penal seja 70 (setenta) anos, o Estatuto do Idoso
e a Organização Mundial de Saúde - OMS mencionam 60 anos o fato é que seu
direito deve ser assistido e respeitado.

“Entre todas as definições existentes, a que melhor satisfaz é aquela que


conceitua o envelhecimento como um processo dinâmico e progressivo, no
qual há modificações morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas,
20

que determinam perda progressiva da capacidade de adaptação do


indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior
incidência de processos patológicos, que terminam por levá-lo à morte”.
Papaléo-Netto e Borgonovi (1996).

O envelhecimento parte do princípio quando o indivíduo entra num


processo de decadência das capacidades física e biológicas.

“Um processo multidimensional, ou seja, resulta da interação de fatores


biológicos, psicoemocionais e socioculturais. Executando a razão biológica
que tem caráter processual e universal, os demais fatores são composições
individuais e sociais, resultado de visões e oportunidades que cada
sociedade contribui para os seus idosos”. Salgado (2007).

De acordo com a fala de Salgado acima, as variações de idosos na


sociedade são relativas a alguns fatores que podem contribuir ou não para um
envelhecimento ativo. Podendo estar relacionado com o meio ambiente, a estrutura
familiar, as condições financeiras, ou seja, de como este idoso está inserido na
sociedade. A diferença da natureza humana se dá pelo histórico de vida, ou seja,
momento social em que o sujeito esteve inserido, provocando diferentes aspectos de
envelhecimento. Importante ressaltar que as ações naturais que ocorrem na vida
como a viuvez, casamento dos filhos, desgaste na relação conjugal dentre outros,
provocam reações emocionais que irão refletir na velhice, num contexto de
percepção histórica do indivíduo, ou seja, do idoso.
O processo de envelhecimento passa pela forma física, de pensar,
agir, de sentir e tudo mais que possa se identificar com um ser complexo, na
dimensão psicológica, biológica, espiritual e social. Para Ballstaedt (1997), o
envelhecimento é um processo programado geneticamente e gradual, causando
transformações orgânicas, funcional e também estrutural.
O aumento exorbitante da população idosa está relacionado além de
fatores como da saúde e outros, com o número de filhos que as famílias estão
optando. Conforme dados do IBGE, 44% das mulheres em idade reprodutiva têm
menos de dois filhos. Outro fator significativo é a queda da taxa de mortalidade
infantil, aumentando consideravelmente a expectativa de vida ao nascer.

“O certo é que este aumento acentuado do número de idosos,


particularmente nos países em desenvolvimento, entre os quais situa-se o
nosso, trouxe, como era esperado, conseqüências dramáticas para a
sociedade. Há necessidade de se buscar as causas determinantes das
atuais condições de saúde e de vida dos idosos e de se conhecer múltiplas
facetas que envolvem o processo de envelhecimento, para que o desafio
21

seja enfrentado por meio de planejamento adequado”. Papaléo e Ponte


(1996, p.3).

É preciso velhos na sociedade. Os anos a mais que o idoso vive não


faz uma referência de anos piores ou sem valor. A existência do ser humano reflete
no que ela é independente da idade ou condição social. É um ser que se faz interno
com o espírito e a alma e não do estereótipo.
A velhice é hoje um problema social no aspecto governamental
fazendo parte da agenda política do Governo. E as perspectivas é que o número
deste contingente continue crescendo. Os benefícios previdenciários contam cada
vez menos com pessoas ativas para a contribuição ou manutenção da previdência,
uma vez que cai a taxa de mortalidade e diminui a taxa de fecundidade.
O processo de envelhecimento tem acontecido num contexto de
desigualdade social. Se por um lado há uma grande concentração de renda por
outro a pobreza alcança um índice muito alto. Em grupos de baixa renda a
expectativa de vida é bem menor se comparado ao de renda média, aponta e
economia social, portanto, as classes sociais mais elevadas tende a ter
consideravelmente um prolongamento da vida. Este fator está relacionado ao
acesso de tratamento mais oneroso que a classe baixa não consegue prover.
O jovem pobre de hoje será provavelmente o idoso pobre de
amanhã. A pobreza na velhice retrata esta desigualdade social. Muitos trabalharam
a vida toda, foram independentes, contribuintes e pagantes dos impostos, mas na
velhice sua condição financeira é desfavorável. Se não fosse a desigualdade em que
este está inserido, isto não aconteceria, levando em conta o óbvio que, quanto mais
se trabalha, mais condições vão se criando para ter uma velhice mais tranqüila,
cercado de mecanismos que deveriam dar o suporte necessário em um momento da
vida que não se consegue mais produzir.
Antes da sociedade capitalista o homem era visto como um todo,
sem uma classificação definida como criança, jovem, adulto e velho. Mas o idoso foi
sendo excluído aos poucos, deixado à margem a partir da percepção de que era
necessário melhorar as condições físicas e biológicas da população, para se obter
maior produtividade nas indústrias, obtendo assim, mais riquezas.
Na verdade, o que se percebe é que o homem em seu momento de
produtividade não era respeitado como uma pessoa merecedora de certas atenções
na saúde, pois quando esta envelhecia, era colocada de lado, não servia mais para
22

o trabalho porque não tinha mais condições de produzir, ou seja, estes direitos não
passavam de retóricas. A longevidade não deve ser o mais importante, mas a
qualidade de vida, respeito e acesso aos benefícios por direito e cidadania.
Os idosos sempre foram excluídos da sociedade. São remetidos
para um tempo que já passou e que no presente não tem mais nada a acrescentar,
são desvalorizados pela sociedade, vivem com seus medos, falta de assistência,
amparo e preconceito. Tornam-se símbolos de uma decadência, vivendo uma etapa
final da vida. Fato que ainda não está afastado da sociedade contemporânea.

“Na sociedade do progresso, é cada vez mais evidente o stress existente na


população. O corre-corre do quotidiano faz com que as pessoas se
desgastem mais rapidamente e não parem para pensar. É notório, que cada
vez mais existe menos tempo para o cuidado pessoal e para os outros.
Numa época em que os idosos estão em maioria, principalmente no nosso
país, é de salientar que os nossos “olhos” se voltem mais para essa
população” (Teixeira, 2006, p. 01)

Considerada como uma degradação, uma decadência, a velhice leva


o idoso a um total abandono, onde a solidão impera como se fosse uma punição por
ser velho. Esta idéia está inserida na nossa sociedade herdada de nossos
antepassados. A invenção social da velhice resultou em duas perdas significantes
para o idoso: não é mais agente produtivo e nem o núcleo da família.
É um momento em que as relações sociais ficam abaladas. O papel
social onde desempenhava a sua atividade independente sai de cena, dando lugar
para novos papéis: dependência familiar, dependência financeira e saúde
fragilizada. Rompem-se os vínculos mediante a incapacidade de manter-se ativo, e
torna-se um encargo para a família e a sociedade, vindo então, a solidão até o final
da sua vida.
Existe outra realidade no Brasil que não aparece nas estatísticas no
sentido de mudar a concepção de velhice, são os valores das aposentadorias muito
baixos. Este problema implica diretamente no idoso que precisa usar seu único
recurso, em muitos casos, para suprir as necessidades da família, assumindo
novamente o papel de provedor, expondo-o a uma situação de vulnerabilidade
social. Desempenhando um papel socioeconômico dentro do lar, quando este
recurso poderia ser usado para melhorar a tão sonhada qualidade de vida em todos
os seus aspectos nesta faixa etária. Portanto, há uma necessidade de mudar este
conceito errôneo que todo idoso é totalmente dependente da sua família. Havendo
23

esta conscientização a sociedade teria mais solidariedade para com as pessoas


idosas.
De acordo com a Revista Histedbr. (2007), o resgate da dignidade
do idoso deve ser um conjunto de ações que possibilite sua inserção na sociedade,
contribuindo para a melhoria da qualidade de vida. Outro fator também abordado na
mesma bibliografia é a condição deste idoso na sociedade da qual muito contribuiu
para construir e hoje não pode usufruir dos benefícios que tem por direito, por lhes
serem negados, dependendo da visão e dos estereótipos que esta atribui ao idoso.
O aumento da população de homens idosos não cresce na mesma
proporção de mulheres. Elas estão muito além dos homens na faixa etária
correspondente. Estão vivendo mais e em condições mais favoráveis devidos a
alguns fatores que tem contribuído para isto: A cobertura previdenciária e a
tecnologia têm facilitado a qualidade de vida dessas mulheres. Nos últimos 30 anos
o final da vida ativa e a viuvez era um cenário que automaticamente conduzia ao
estado de solidão e pobreza.
Há de perceber também que para isso, levam-se em conta os
cuidados que a mulher tem com a saúde. Normalmente ela se preocupa mais com a
alimentação e faz consultas periódicas a médicos. Vive mais para o lar e filhos.
Enquanto que os homens estão mais expostos a perigos como enfatiza Chaimowicz,
(2006):

“[...] Isso se deve a comportamentos do homem e da mulher: mulheres


freqüentam mais os centros de saúde, homens estão mais expostos a
acidentes de trabalho e te trânsito e somando à prevalência de alcoolismo,
drogas e tabagismo – vícios que afetam também as mulheres, mas em
menor proporção”. (Chamoiwicz, 2006, apud LIMA, 2009, p 276).

CAPÍTULO II: A QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO

O conceito de qualidade de vida depende de como o indivíduo está


inserido neste contexto. As várias fases vividas durante a vida pode expressar o que
seja esta “qualidade” para o sujeito. Uma pessoa que desde a juventude cultiva
hábitos saudáveis, respeitando os limites do corpo tanto físico como orgânico e
mental, tem grande probabilidade de chegar a uma velhice mais saudável. Portanto,
apesar de ser de difícil interpretação, a qualidade de vida está ligada ao estilo de
24

vida que lhe traga bem-estar, levando em conta também controles médicos
periódicos.
Os fatores físico, mental e social são essenciais para promoverem o
bem-estar, salienta o médico Ricardo de Marchi (2000), presidente da Associação
Brasileira de Qualidade de Vida – ABQV e enumera seis eixos para esta busca:
= Saúde física: exercícios físicos e alimentação adequada, etc.
= Saúde social: boa relação com a família e amigos; participação na comunidade e
capacidade para novos relacionamentos.
= Saúde profissional: satisfação com o trabalho e situação financeira; significação do
trabalho, etc.
= Saúde intelectual: oportunidade de criar e acesso a leitura, etc.
= Saúde espiritual: tolerância com a diferença e o exercício espiritual.
= Saúde emocional: satisfação consigo mesmo; comunicação e elogio; relaxamento
sem uso de drogas, etc.
Nota-se que qualidade de vida está ligada a todos os aspectos da
vida: familiar, pessoa, social e profissional.
Percebe-se que o lazer tem uma capacidade de alterar a qualidade
de vida do idoso de forma direta ou indireta, através das variadas formas que se
apresenta. A prevenção de doenças como a hipertensão, depressão e diabetes
trazem como conseqüência o aumento da expectativa de vida, além de predispor
para outras atividades.
Para o idoso, a longevidade qualitativa é um processo que implica
alguns elementos determinantes. As modificações biológicas, físicas e psíquicas
podem comprometer uma velhice saudável, por isso o processo de envelhecimento
difere de pessoa para pessoa, de classe social para classe social, etc. O estilo de
vida, a maneira de viver, hábitos, valores pessoais e os valores da sociedade,
história de vida, etc., provocam reações diferentes, implicando diretamente na
qualidade de vida na velhice, embora alguns destes pudessem ser modificados.
Para PASCHOAL (2006) alguns são imutáveis: “Alguns determinantes são imutáveis
como raça, sexo, ambiente social e familiar, onde nasce, enquanto outros são
amplamente modificáveis, como hábitos e estilos de vida, maneira de encarar a vida
e o meio ambiente” (PASCHOAL, 2006, p.331).
Neste contexto a genética está na lista dos fatores determinantes
imutáveis. A estimativa é que pessoas de família longevas são propensas a viverem
25

mais.
Envelhecer bem, além de observar os aspectos acima citados, é
também uma escolha. Afinal, no que diz respeito à genética, não adianta se firmar
neste fator e não atentar para os determinantes mutáveis, ou seja, a qualidade de
vida pode ser planejada, sabendo de antemão que as mudanças que ocorrem no
corpo e mente são inevitáveis.
Há uma preocupação com a qualidade de vida na velhice nos
últimos 30 anos, mas o preconceito e estigmas negativos com os idosos que foram
cultivados culturalmente, são conceitos ainda impregnados na sociedade e com isto,
a vulnerabilidade e a segregação deste segmento etário, provoca dificuldade de
interação em todas as áreas, sabendo-se que as interações sociais, mudança de
ambiente e experiência fora da rotina proporcionam satisfação e prazer, sendo uma
das formas de promover a qualidade de vida.

“[...] Delegar ao idoso o estado de velhice é um processo muito grande, é


negar o seu próprio envelhecimento. Os jovens e adultos poderiam começar
a cuidar da sua própria velhice durante o decorrer do seu processo orgânico
e começar a vivê-la, visualizando um futuro onde o idoso será mais efetivo
socialmente e exercendo suas funções sem sofrer discriminação, e com isto
poderá ser um cidadão com melhor qualidade de vida”. (Kachar, 2001, p.47
apud Schaefer, 2009. P.20).

É necessário buscar esta compreensão para não se expor a riscos


considerando que a fragilidade é uma das características neste estágio da vida
como aponta NERI (1993, p.11): “a satisfação na velhice dependeria da capacidade
de manter ou restaurar o bem-estar subjetivo justamente numa época da vida em
que a pessoa está mais exposta e riscos e crises de natureza biológica, psicológica
e social”.
Ainda nos dias atuais, a insatisfação por parte dos idosos é uma
triste realidade. Uma pesquisa realizada em outubro de 2014 (Qualidade de vida dos
idosos) aponta números negativos quanto à qualidade de vida dos idosos. Nesta, foi
usada 4 critérios para avaliação: segurança financeira, saúde, capacidade pessoal e
o ambiente o qual o idoso vive. Estes dados revelaram que o Brasil deixa muito a
desejar com relação à qualidade de vida para este contingente. De acordo com o
resultado da pesquisa acrescentou o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas
(CDL) Uberlândia, Celso Vilela: “São pessoas que merecem respeito, merecem viver
com dignidade e a responsabilidade deve ser ainda redobrada para dar-lhes
26

qualidade de vida. Segundo agentes da pesquisa, o numero levantado adverte que


somente o crescimento econômico não é suficiente para o bem-estar dos idosos e
que é necessário promover políticas peculiares voltadas para atendê-los. Isso sem
dúvida é um fato visível”.
A qualidade de vida não pode ser vista como um único conceito. A
condição estável de bens materiais constitui para muitos esta qualidade. Um
exemplo foi na segunda guerra mundial quando esta palavra era utilizada para
expressar quando na aquisição de casa, carro e alguns eletrodomésticos como
televisão e rádio. As viagens e aplicações também faziam parte desta lista. Mas logo
que o Produto Interno Bruto (PIB) começou a fazer referências econômicas
comparando a qualidade de vida com a renda per capita e taxa de desemprego,
mudou o conceito mediante o poder econômico da população de acordo com o
resultado alcançado.
A sociedade está sempre em desenvolvimento, mudando o perfil
periodicamente de acordo com o avanço tecnológico, medicina, política e a
demografia, com isto, abrange também o desenvolvimento social que envolve a
educação, saúde, trabalho e lazer, dentre outros. Diante de tais mudanças na
sociedade, o indivíduo constrói sua própria concepção de qualidade de vida, a partir
da sua percepção, emoção e experiência que estas lhe trazem, fazendo uma leitura
dentro da sua realidade.
As perdas no curso da vida também fazem parte da realidade que se
potencializa no tempo da velhice. Neste momento sempre há uma reflexão da vida
vivida, onde elas, as perdas, podem representar além dos entes queridos, os
sonhos, como coloca VIORST (1998):

“[...] perdemos, não só pela morte, mas também por abandonar e ser
abandonado, por mudar e deixar coisas para trás e seguir nosso caminho. E
nessas perdas incluem não apenas separações e partidas do que amamos,
mas também a perda consciente ou inconsciente de sonhos românticos,
expectativas impossíveis, ilusões de liberdade e poder, ilusões de
esperança – e a perda de nosso próprio eu jovem, o eu que se julgava para
sempre imune às rugas, invulnerável e imortal”. Viorst, 1998, P. 13-14 apud
Yokoyama, Carvalho, Vizzotto, 2006, P 63).

Tais emoções citadas acima podem levar alguns idosos a um quadro


de ansiedade e tristeza. Outros preferem substituir este sentimento por novos
relacionamentos em atividades fora do contexto familiar. Considerando tal
27

necessidade e a busca deste idoso, o Serviço de Convivência e Fortalecimento de


Vínculos (SCFV) que é “serviço realizado em grupos, organizado a partir de
percurso de modo a garantir aquisições progressivas aos seus usuários, de acordo
com o seu ciclo de vida, a fim de complementar o trabalho social com famílias e
prevenir a ocorrência de situações de risco social”, de acordo com a Tipificação
Nacional de Serviços Socioassistenciais (Resolução CNSA nº 109/209).
O SCFV direcionado para os idosos tem como proposta O Serviço
de Proteção Básica que traz como foco o desenvolvimento de atividades que
contribuam no processo de envelhecimento saudável, no desenvolvimento da
autonomia e da sociedade, no fortalecimento dos vínculos familiares, do convívio
comunitário e na prevenção de situações de risco social. Tal intervenção deve ser
caracterizada de acordo com seus interesses e demandas, devendo abranger a
valorização de experiências vividas, cultura e lazer, com interações que
proporcionem e promovam condições de escolhas, assegurando convivência social
capacitando-o para novos projetos de vida e proporcionando a autoestima. Um dos
espaços ofertados para esta atividade são os equipamentos de Centro de
Referência de Assistência Social (CRAS).
As atividades sociais em grupos de convivência oferecidos para os
idosos são de grande importância, por patrocinar experiências que resgatam a
participação e utilidade deste idoso na sociedade, reconstruindo uma nova imagem,
agora menos árdua do estigma do preconceito, prevenindo o isolamento e a
exclusão.
No contexto de novos idosos no Brasil, eles têm buscado uma nova
forma de viver a velhice, rompendo com velhos costumes peculiares, deixando o
estigma de ser um momento de reclusão, estão se permitindo aproveitar a vida de
várias formas. O mercado brasileiro tem se despertado para este movimento,
oferecendo produtos de beleza, roupas e acessórios, promovendo a sua autoestima
e aquecendo o comércio nestes setores. As agências de viagens têm investido neste
segmento, quando os próprios idosos se organizam em grupos para viajarem.

2.1 A RESPONSABILIDADE DO CUIDAR FAMILIAR COM O IDOSO

No seio da família é o lugar de encontrar proteção e segurança para


as pessoas de todas as idades. No que se refere aos idosos não pode ser diferente.
28

Conforme NERI E SOMMERHALDER (2002, p.16) “em todo o mundo, a família é a


principal fonte de apoio e de cuidado a idosos. Ao proporcionar cuidados por
intermédio de alguns de seus membros, cumpre normas socioculturais fundamentais
à continuidade da sociedade”.
Conforme o Estatuto do Idoso, Art. 37 “O idoso tem direito a moradia
digna, no seio da família natural ou substituta, ou desacompanhado de seus
familiares, quando assim o desejar, ou ainda, em instituição pública ou privada”.
A convivência familiar é direito do idoso. De acordo com o Estatuto,
é obrigação da família. Bom seria para o idoso que este acolhimento familiar não
necessitasse de leis que o garantisse e sim, um momento de demonstração de amor
e carinho. Isto é explicado por BOTH (1999): “as famílias não sabem ao certo o que
fazer com a vida que se estende por anos, nem os mais velhos o que fazer de si
mesmos, Isso faz surgirem dificuldade em construir-se expressivamente o
envelhecimento”. Both (1999, p.14 apud Santini; Borowski. p. 147).
Em muitas famílias este momento causa transtornos e muitos têm se
negado a prestar estes cuidados, omitindo e negligenciando. Numa família com
vários filhos poderia se organizar para não sobrecarregar nenhum dos filhos. Seria
um processo tranqüilo também para o idoso, que em muitos casos se sentem como
um peso para a família. Mas esta responsabilidade quase sempre sobra somente
para um filho, ou pelo menos a maior responsabilidade. Este filho às vezes deixa o
trabalho comprometendo a parte financeira, relacionamentos sociais e se casado,
pode contribuir para crise no casamento.

“[...] As filhas e filhos como cuidadores: Quando os cuidadores são a filha ou


o filho da pessoa cuidada, existe um vínculo natural entre ambos que pode
favorecer a disposição para o cuidado. Na maioria dos casos, representa
um forte impacto emocional dar-se conta de que o pai, a mãe ou ambos já
não podem cuidar de si mesmos, quando até há pouco eram totalmente
independentes. Além disso, os filhos geralmente sentem-se apanhados de
surpresa e receiam que as novas responsabilidades possam prejudicar seus
planos para o futuro”. Born (2008, p. 61 apud Machado 2009. P.61).

A necessidade de escolher quem vai cuidar do idoso pode favorecer


e muito esta tarefa, pois ela envolve tempo, espaço físico, responsabilidade e
capacidade. Envolve também os laços afetivos e a personalidade de quem vai
cuidar. Neste momento há uma inversão de papéis no aspecto familiar, quando
aquele que sempre cuidou e protegia fica agora sob os cuidados dos mais jovens.
29

Estes, por não terem experiências com situações de tamanha responsabilidade,


tornam este processo ainda mais difícil, se estes cuidados, necessitam de
tratamentos mais onerosos que mexem com as finanças da família e esta não tem
recurso, ou mesmo, dificuldade em ter acessibilidade nos serviços de saúde pública.
O idoso dependente quase sempre tem que deixar a sua casa para
morar com a pessoa responsável por esta tarefa. Isto pode gerar sentimentos
variados de acordo com o relacionamento afetivo e respeito entre os dois. O
cuidador pode ver neste momento uma oportunidade de retribuir os cuidados
recebidos por parte do idoso e a sensação de sentir-se útil.
Embora muitos idosos tornem-se intolerantes e às vezes com falas
agressivas, assim mesmo a tarefa de cuidar passa pelo sentimento de obrigação
como um cumprimento do papel social a que este tem dedicado. Principalmente
quando a pessoa responsável por cuidar é a mulher, apesar de homens e mulheres
perante a lei serem iguais, mas, para cuidar de dependentes a cultura do Brasil
aponta uma tendência para o lado feminino, o que leva muitas vezes uma
sobrecarga de trabalho para as mulheres, conforme relata BORN (2008):

“[...] A esposa ou esposo como cuidador: Quando o marido tem problemas


de saúde e necessita de ajuda para as suas atividades da vida diária,
geralmente o cuidador principal é a mulher. Em muitas famílias brasileiras,
devido a fatores culturais, verifica-se que nem sempre o marido é capaz de
ser o cuidador, quando a mulher necessita de ajuda” Born (2008, p. 61 apud
Machado 2009. P.61)

Em famílias compostas por filhos e filhas, é comum as filhas


assumirem o papel de cuidadoras. Os filhos contribuem de outra forma, como:
deslocar o idoso para outros ambientes, cuidar da parte financeira e outros. A
maneira natural de a mulher lidar com esta tarefa é perfeitamente descrita por
PERRACINI (2012) quando fala que, os homens incluem as tarefas domésticas
como fazendo parte do cuidar dos idosos, enquanto que as mulheres colocam este
cuidado como rotina das atividades domésticas, ou seja, a mulher não faz separação
das suas obrigações de casa, para ela as duas tarefas estão no mesmo contexto.
O papel de mulher cuidadora, é uma característica muito forte na
sociedade e esbarra no contexto em que estamos vivendo, pois a mulher
contemporânea está cada vez mais inserida no mercado de trabalho, como também
a busca pela melhoria do nível de escolaridade, impulsionando-a a sair em busca de
trabalho, o que dificulta diante do fenômeno do envelhecimento populacional.
30

Outra característica neste processo no âmbito familiar são os netos


e bisnetos que vivem sob a custódia dos avôs. Se em tempos atrás era raro o
convívio com os avôs, hoje as crianças estão tendo uma convivência não só com
eles como também com os bisavôs que estão cada vez mais novos. Esta interação
promove uma convivência de gerações que valorizam a família como um lugar de
respeito e dignidade.
Segundo dados do IBGE, referentes ao ano de 2002, seis milhões
de idosos são responsáveis por filhos e outros parentes como netos e bisnetos
financeiramente e/ou como cuidadores deste familiar, negando a idéia de que esta
fase é de inutilidade. Sendo assim, este idoso representa um papel fundamental no
contexto familiar. Com relação a esta transferência de apoio, aborda Camarano
(1999).

“[...] existe uma importante transferência de apoio dos idosos para os filhos
e que, além disso, apresenta uma tendência de crescimento no país. Por
diversos motivos, as novas gerações não estão dando conta de prover as
próprias necessidades e isso configura previsões mais complexas sobre o
cuidado com idosos dependentes que aquelas sugeridas pelos conceitos
habituais, segundo os quais é natural que os idosos tornem-se crianças de
novo e dependam unilateralmente dos filhos. (Camarano, 1999, et tal, apud
Sommerhalder, Neri. 2012. P. 17).

O familiar que cuida do seu idoso é o cuidador informal. Não tem


formação específica, mas presta esse serviço com responsabilidade e nem se dá
conta da importância do seu papel social. Ele se vê muitas vezes apenas com uma
pessoa executando uma tarefa de assistência ao idoso como uma relação familiar. O
reconhecimento deste trabalho por parte das instituições pode proporcionar uma
ação mais efetiva, por certo, um amparo facilitador aos cuidados no dia a dia, com
instrumentos e materiais de acordo com a demanda deste idoso. Este apoio é
fundamental para a organização familiar, proporcionando ao idoso um cuidado com
mais segurança e qualidade. O cuidado informal funciona com dois princípios: o
solidário e o recíproco. O solidário é de pessoas próximas do idoso sendo da família
ou não. O recíproco é o cuidado dos filhos para os pais.
Por não ser uma tarefa fácil, o cuidado com o cuidador é de suma
importância neste processo. Portanto, para resguardar a saúde deste que nem
sempre é uma pessoa jovem e sim os mais velhos, seja cuidando do seu cônjuge,
irmãos ou dos pais, é quase idoso cuidando de idoso.
31

A responsabilidade do cuidar passa também por fases ou períodos


que podem causar stress no cuidador, pelo cansaço físico e a sobrecarga das
atividades no lar. Outros fatores associados a isto é quando o sentimento de
impotência no ato de cuidar interfere no cumprimento deste papel. Isto pode
acontecer quando a doença se agrava, mudando os procedimentos e
medicamentos, redobrando este cuidado vindo, portanto, a necessidade de refazer a
rotina propiciando um medo de não conseguir realizar um cuidado mais minucioso,
pois a experiência do dia a dia proporciona uma prática segura que favorece o
desempenho desta tarefa. Nestes momentos de stress podem acontecer conflitos
familiares acarretando desequilíbrio emocional. Este assunto é retratado por
KARSCH (2003):

“[...] tanto no Brasil como em outros países, verificam que os cuidadores


principais sofrem um estresse bastante sério, devido a, pelo menos. Quatro
causas: as práticas de cuidar, em que o trabalho físico é requerido por 24
horas; os comportamentos, quando os idosos apresentam comportamentos
perigosos e/ou agressivos; a s relações interpessoais, quando os cuidados,
e o esforço exigem, desgastam a relação afetiva existente entre idoso e
cuidador; e as conseqüências na vida social, quando as perdas ocasionadas
pelo ritmo de cuidados prejudicam, de modo insuportável, as já poucas
relações do cuidador com seus amigos e sua participação em qualquer
atividade de lazer” Karsh (2003, p. 107 apud Machado, 2009. P. 70).

Quando ocorre a morte do idoso, o nível de depressão, devido ao


desempenho do cuidado, aumenta. Estudos apontam que este nível depende do tipo
de cuidado prestado.
No Brasil ainda não há um estudo voltado para analisar o perfil do
cuidador. Pouca importância tem dado a este sujeito como colaborador e também
como tem sido feito este cuidado, pois depende da característica da doença e da
sua complexidade. Esta necessidade parte com um propósito de avaliar os diversos
contextos sociais conhecendo a realidade em que este cuidador está inserido, para
elaboração de políticas de saúde diferenciadas para cada região oferecendo
treinamentos específicos. Pesquisas nacionais dão conta de que a grande maioria
de cuidadores não recebe ajuda por isso a importância destes apoios domiciliares.
Nestes treinamentos, as informações sobre a doença que está
sendo enfrentado, como lidar em caso de agravo ou emergência, ajuda o cuidador a
tomar decisões mais precisas e com mais segurança.
Uma realidade em todas as sociedades é que o tratamento do idoso
32

pela família depende do status. Quanto maior os bens mais chance de ser bem
tratado. E como a perda de posses é uma tendência na velhice, este processo pode
conduzir este idoso ao caminho da institucionalização, ou abandono e muitas vezes
aos maus tratos pela própria família. Em contrapartida, se o idoso ainda é produtivo,
ou seja, tem condições de cuidar dos netos, envolver com alguma tarefa de casa,
tem mais chance de receber ajuda dos familiares.
No Estatuto do Idoso é bem clara a importância que se deve ao
idoso e sua respectiva família, quando faz colocação quanto às famílias não
poderem abandonar seus idosos em hospitais ou casas de saúde sob pena de
condenação de 6 meses a 3 anos de prisão além de multa. Mas, a violência contra o
idoso nem sempre é palpável, a vista de todos, ela muitas vezes é sutil, vem pouco
a pouco quando este idoso é colocado de lado pela própria família, onde se sente
só, embora cercado de pessoas.
O idoso nem sempre precisa de ajuda fisicamente. Ele, muitas vezes
precisa apenas de informações que o levem a desenvolver maior autonomia para
tomar decisões que vai lhe trazer bem-estar. Conforme BALTES (1996 apud NERI
2012, p.21), a autonomia se difere da independência. Nesta, o idoso consegue
realizar atividades do cotidiano, como a higiene pessoal e outras; na autonomia ele
tem condições de raciocínio para fazer opções. O simples fato de lhe fazer
companhia evita que este entre no processo de solidão, agravando várias áreas da
saúde, inclusive a mental. Um fator simples e importante que pode ajudar este idoso
é deixá-lo fazer algumas tarefas fora de casa, como fazer compras, pagar contas,
etc.
As doenças em idosos que mais acarretam ônus físicos às famílias
são as demências, pelo fato de apresentarem incapacidades físicas e cognitivas
irreversíveis na maioria das vezes. Há uma estimativa que 11 milhões de pessoas
no mundo são acometidas da doença de Alzheimer, com uma projeção de dobrar
este número até 2025 de acordo com o IBGE. Cuidar de idoso com déficit cognitivo
ou disfunção comportamental, os cuidadores têm mais probabilidade de entrar em
processo depressivo.

2.2 O DIREITO DE ACESSAR O LAZER NA TERCEIRA IDADE

Lazer ou tempo livre está relacionado ao descanso. São momentos


33

em que uma pessoa desfruta de algo prazeroso sem compromisso com seus
deveres. Atividades, ou simplesmente deitar numa cama para descansar é
considerado também um lazer. Este tempo livre está associado normalmente à
aquelas pessoas que tem atividade cotidiana. É comum as pessoas terem este
tempo nos finais de semana, quando não tem o compromisso de trabalho e nem de
escola.
Na terceira idade este tempo é bem maior, pois este idoso passa a
maior parte do tempo em casa e muitas vezes ficam ociosos por estar vivendo esta
nova fase da vida. A ociosidade provoca sensação de inutilidade e improdutividade.
Estes sentimentos trazem conseqüências maléficas para a saúde deste idoso, que
fragilizado fisicamente e emocionalmente, acarretam sérias enfermidades.
É importante despertar no idoso uma motivação para o lazer. Muitos
se recolhem e não desenvolvem nenhuma atividade devido a fatores emocionais,
financeiros e por não terem companhia. Atividades como parte do cotidiano destes
idosos podem afastá-los do isolamento e levá-los a se divertirem como uma forma
de desenvolvimento pessoal e social.
Mas o lazer não está relacionado apenas no aspecto ativo quando
as pessoas buscam interação com outros em espaços específicos para isto. Embora
este traga mais benefício para a saúde, o lazer pode ser também passivo, quando
se usa o tempo livre para atividades simples como ouvir música, ver televisão e
leitura, são passa-tempos que não necessitam de esforço físico, indicados para as
pessoas com dificuldade em se locomoverem, já que o acesso que este idoso tem
são os Veículos Públicos sem estrutura para este tipo de passageiro, dificultando
ainda mais o acesso ao lazer.
Outras barreiras impossibilitam o acesso deste idoso ao lazer,
podemos citar as finanças e o tempo.
As condições financeiras do idoso não lhe permitem ter lazer quando
a aposentadoria é seu único recurso financeiro, emperrando este acesso. Os gastos
com os remédios e atendimentos médicos são responsáveis por consumir quase
toda a sua renda ou totalmente. Mesmo o Estatuto do Idoso assegurando descontos
para os acima de 60 anos, muitos ainda são excluídos por falta de dinheiro.
Há uma compreensão distorcida de que quando o idoso aposenta é
uma conquista para tempo de descanso. Isto não acontece de modo geral. Muitos
idosos neste momento deparam com a triste realidade da queda de sua renda e
34

buscam alternativas para complementarem o salário com trabalho informal como


vendedores ambulantes, serviços braçais, dentre outros dos mais variados, não
dispondo de tempo livre.
No Estatuto do Idoso é garantido o direito da pessoa idosa quando
declara no capítulo V. Da Educação, Cultura, Esporte e Lazer:
Art. 20 – O idoso tem direito a educação, cultura, esporte e lazer,
diversões, espetáculos, produtos e serviços que respeitem sua peculiar condição de
idade...
Art. 23 – A participação dos idosos em atividades culturais e de lazer
será proporcionada mediante descontos de pelo menos 50% (cinqüenta por cento)
nos ingressos...
Como vimos neste texto, algumas barreiras ainda impossibilitam o
cumprimento desta lei.
Há um desafio das políticas públicas em oferecer espaços
adequados para esta faixa etária, preservando sua autonomia e independência onde
ele possa participar das atividades que contribua para seu bem-estar, uma vez que a
satisfação está relacionada com a capacidade física, emocional, interação social e
psicológica.
Mas, ainda assim, as atividades físicas estão sendo introduzidas
nas praças e nos equipamentos paulatinamente. A dança e jogos são promovidos
em alguns centros de referência e já fazem parte da vida de muitos idosos, que
buscam nestas atividades uma maneira saudável e prazerosa de viver a velhice.
O lazer é abordado como direito do idoso conforme o capítulo 20 do
Estatuto do Idoso Lei nº 10741/03. As opções de lazer devem ser colocadas para
que o idoso possa optar. A escolha pessoal conduz para uma prática com mais
afinidade, uma vez que ele já começa idealizar aquela atividade como um momento
de relaxamento e diversão. É importante compreender que o tempo livre não precisa
necessariamente ser preenchido com alguma atividade. Deve ser levando em conta
a peculiaridade de cada um. Salgado (1982) define que:

[...] O tempo livre seria, exatamente, o tempo que resta para ser utilizado em
razão de quaisquer interesses, menos daqueles aos quais o indivíduo, por
sua função social, tem a obrigatoriedade de atender. No tempo livre pode se
situar o tempo de lazer, desde que as atividades assumidas estejam
orientadas por uma escolha pessoas. Dessa forma, o verdadeiro lazer é
aquele que é produzido segundo interesses do indivíduo, resultado de
repouso, diversão, crescimento do relacionamento social, é realizado no seu
35

tempo livre, descomprometido de outros compromissos. (Salgado, 1982b,


p.61 apud Teixeira, 2007, p. 174).

2.3 A EDUCAÇÃO NA VELHICE

“A educação ocupa papel fundamental na formação crítica do idoso,


para que tenha condições de manter-se ativo e consciente a sua própria
velhice. Nesta mesma perspectiva, é também através da ação pedagógica
que se oportuniza uma maior inserção social, além da formação do idoso
enquanto um ator social, que mobilizado em rede terá possibilidade de
articulação e passará a exigir mais respeito e dignidade, e um compromisso
sociopolítico a propósito dos seus direitos”. Oliveira; Scortegagna; Oliveira.
[2010?] P. 18

O envelhecimento ativo tem proporcionado mudanças significativas


na área da educação.
As Universidades eram espaços preparados para receberem jovens,
embora sempre fossem para todos. Com a inserção da terceira idade neste espaço,
as atividades educacionais para os idosos começaram a se reestruturarem.
Passaram por um período de experiência e busca agora, de acordo com as
diretrizes da educação nacional, consolidar estes programas ampliando seus
objetivos para esta demanda. A partir daí foram criadas as Universidades Abertas
para a Terceira Idade.
A maioria dos programas educacionais para a terceira idade usa o
método Francês tradicional. Este método é voltado para a reinserção social do idoso
e é eclético, ou seja, dispõe de cursos regulares ou organizados de acordo com seu
perfil. Um exemplo deste programa foi a Universidade Estadual de Ponta Grossa
que implementou a Universidade para a Terceira Idade, para pessoas acima de 50
anos que sejam alfabetizadas. Uma universidade com um objetivo de disponibilizar
para o idoso, conhecimentos nas variadas dimensões humanas e sociais. Através de
várias disciplinas são abordados temas relevantes na área da educação, ciência,
direito, e outros de acordo com a escolha do idoso.
Com esta reinserção, o otimismo desenvolve uma sensação de bem-
estar, de produtividade, além de proporcionar a interação das gerações. A
reciprocidade no aprendizado de aluno e professor é uma característica positiva
neste processo, pois, as expectativas e ansiedades são divididas amenizando os
desafios enfrentados pela condição que a sociedade tem imposto sobre os idosos.
Em geral o perfil dos idosos que freqüentam as Universidades
36

Abertas são aqueles que já se aposentaram e não tem mais a responsabilidade de


criar filhos.
Este movimento tem estimulado uma grande camada desta
população para um envelhecimento ativo. Os conteúdos desenvolvidos com a
intenção de estimular a reflexão, autonomia, consciência crítica, novos valores
dentre outros, protagonizam a valorização da vida na velhice. De acordo com
Oliveira (2011):

“Tão fundamental quanto à cidadania é o direito pela educação, pois não se


alcançará a cidadania sem que haja conhecimento pleno deste direito. Logo,
pensar a educação para a terceira idade, é pensar mais que uma ocupação
para o idoso, é permitir uma ação intensiva e intencional para que este
sujeito se perceba, entenda seu entorno social, político e econômico, como
também não seja ludibriado ou tenha seus direitos negligenciados. Oliveira
(2011, p.90).

CAPÍTULO III: O ATENDIMENTO DO IDOSO NA ÁREA DA SAÚDE

O envelhecimento está associado não na idade cronológica, mas


sim, quando o organismo não consegue responder as atividades do cotidiano,
abrangendo nas áreas fundamentais como na alimentação, limitação de movimentos
e o intelecto, dentre outros. Com o crescimento do número de pessoas idosas, faz-
se necessário que o Estado assuma financiamentos para prestar serviços com mais
responsabilidade principalmente na área da saúde para esta população.
É certo que os atendimentos nas redes públicas são direitos do
cidadão independente da idade, mas, a busca destes serviços é bem maior por
pessoas idosas e é também mais dispendioso. Muitos tratamentos são para o resto
da vida. As doenças crônico-degenerativas é um exemplo clássico destes
tratamentos. As internações são mais freqüentes, onerando as despesas
hospitalares. Num processo muitas vezes degenerativo e crônico, são necessários
equipamentos e medicamentos mais caros sem falar nos recursos humanos
capacitados. Devem-se levar em conta as condições financeiras do idoso. Muitos
medicamentos são caros e não são encontrados nos postos de saúde, dificultando o
tratamento e levando a conseqüências irreversíveis. Ressalta Neri (2007, p.57):

“As condições econômicas dos idosos, refletem-se na saúde e no seu


acesso aos serviços de saúde. As pessoas pobres e de baixa renda, entre
37

elas particularmente os idosos, têm piores indicadores de saúde e de


capacidade funcional. O que complica sua condição é o fato de os idosos
terem menos acesso aos serviços de saúde”. Neri (2007).

Um conjunto de ações nos serviços públicos de saúde tem de certa


forma, reduzido o número de mortes por algumas doenças. Se estes serviços
atuassem no fator determinante, a redução seria mais expressiva.
Segundo o Instituto de Geografia e Estatística – IBGE, 80% da
população idosa apresenta pelo menos uma doença crônica e 33% apresenta três
ou mais agravos crônico-degenerativos de longa duração, limitações funcionais e
necessitam de tratamento pautado na reabilitação.
De acordo com Papaléo Netto, Carvalho Filho & Salles (2005):

O corpo humano é uma máquina perfeita, mas como toda máquina que é
utilizada constantemente, após um certo tempo de uso, começa apresentar
alterações. A partir dos 40 anos, a estatura começa a se reduzir em torno de
um centímetro por década – isso se deve à redução dos arcos plantares, ao
aumento da curvatura da coluna vertebral, à redução do volume dos discos
intervertebrais, o que, por sua vez, ocorre porque o volume de água do
corpo diminui através de perda intracelular. Constatam-se, também,
reduções do número de células nos órgãos, o que leva à perda de massa,
principalmente em fígado e rins. (Carvalho Filho & Papaléo Netto, 2005).

Mas estas alterações acima citado não acontecem de uma hora para
outra, é um processo lento que vão acarretando vários sintomas, muitas vezes
deixando seqüelas, promovendo assim, complicadores para outros males.
O nível de internação nesta faixa etária é muito grande. Um fator
agravante é que em um quadro de internação, dificilmente a recuperação é total
após a alta hospitalar. Devido à fragilidade pela idade, pode acarretar falência de
alguma capacidade funcional. Isto gera um processo contínuo na vida deste idoso.
Em várias regiões do país, está sendo implantada a assistência
domiciliar (AD). É um programa que cabe perfeitamente no contexto acima. As
internações de longa duração podem acarretar maiores despesas para os hospitais,
como também coloca este idoso numa situação de vulnerabilidade, correndo risco
de contrair novas doenças. Este tipo de Assistência pode ser para os casos onde a
recuperação é prolongada ou não há perspectiva de recuperação do paciente idoso
como também em procedimentos não tão complexos que podem ser realizados após
orientação de um profissional. Os mais simples são os cuidados com a higiene
íntima, banho, alimentação; na lista dos mais complexos está a diálise peritoneal,
38

curativos, cuidados com as escaras, nutrição parenteral, etc. Entende-se que esta
pessoa já fragilizada se sente mais confortável em seu próprio meio, junto da família
onde há uma atenção maior, podendo evitar desgaste emocional e psicológico,
agravando ainda mais a quadro já instalado.
É necessário que seja observado certos aspectos para o
acolhimento domiciliar, como: residência em condições favoráveis, familiares ou
pessoas comprometidas e responsáveis para prestar este serviço. O suporte deste
tipo de assistência passa pelo atendimento em casa com profissionais como
também para a família. A esta é oferecida a participação de grupos de orientação
para o cuidado do paciente. O crescimento deste atendimento é recente no Brasil.
O gasto com os idosos mais saudáveis é consideravelmente menor.
Sabe-se que os tratamentos de saúde dos idosos em geral oneram e muito os
custos da assistência à saúde. Muitas vezes o aumento não é tanto pelos
procedimentos dado às pessoas nesta faixa etária, mas sim pelo número de vezes
que se buscam estes atendimentos.
Um grande desrespeito com os idosos são na demora para as
consultas, tanto para dar continuidade no tratamento como dar início a ele. O tempo
é um agravante na idade avançada quando se tem doenças que necessitam de
intervenções cirúrgicas ou exames mais específicos, pois além da demora da
consulta tem também um longo caminho até chegar a completar os exames para
retornar ao médico.
A identificação precoce de uma determinada enfermidade pode
resultar em uma maior possibilidade de sobrevida. Os Programas de Prevenção
ajudam no controle de doenças mais comuns que são a Insuficiência Cardíaca, o
Acidente Vascular Cerebral (AVC) e a Hipertensão, embora a desnutrição tem
aumentado o número de mortalidade nesta faixa etária. Para isto, bom seria se
todos os programas de saúde pudessem contar efetivamente com uma equipe de
multiprofissionais, embora muitos já estejam, com médicos, enfermeiros, assistentes
sociais, geriatras, fisioterapeutas, fonodiólogos e psicólogos, dentre outros. A
avaliação direcionada agiliza uma intervenção mais rápida, propiciando um
tratamento mais preciso.
Uma melhoria na qualidade do atendimento poderia diminuir
consideravelmente as idas aos hospitais e centros de saúde.
A tecnologia médica vem avançando. Mesmo assim, muitas vezes a
39

falta de conhecimento médico na área da geriatria, é um fator que tem dificultado um


tratamento específico. Reubem et tal (2003) ressalta que alguns métodos de
avaliação da qualidade da atenção ao idoso têm sido imperfeitos ao longo das
últimas décadas.
A falência de capacidade funcional mencionado acima, muitas vezes
se dá pelo fato de atendimentos precários no sentido profissional e estrutural.
Podendo acarretar maiores males, ficando este idoso a mercê da sorte.
Campanhas de vacinação têm contribuído para a diminuição de
infecções que durante muito tempo vitimava pessoas mais debilitadas. Com isto,
abaixou consideravelmente o número de mortes prematuras, favorecendo maior
tempo de vida.
Homens usam mais a rede SUS a partir de 54 anos. A população
masculina não freqüenta postos de saúde e não fazem consultas médicas periódicas
para um tratamento preventivo, como é costume das mulheres, que fazem consultas
e exames de prevenção a várias doenças como citado anteriormente. Com isto,
numa idade mais avançada, o número de internações masculinas na rede SUS é
maior. As internações pelo SUS são maiores nas mulheres somente em idades mais
avançadas, uma vez que elas vivem mais que os homens.
A Organização Mundial da Saúde – OMS fez um estudo revelando
que embora as mulheres tenham uma esperança de vida maior que a dos homens, a
proporção de anos vividos com doença também é maior. Vivendo mais, tem maior
chance de contrair mais doenças. Este grupo de mulheres necessita de intervenções
sociais mais direcionadas. Considerando suas condições específicas para
proporcionar resultados que lhe atendam, num momento que normalmente ela já
não tem seu companheiro para auxiliá-la.
A estrutura para o atendimento e tratamento de pessoas idosas
ainda são grandes desafios tanto para os cofres públicos como para as políticas
sociais no âmbito de profissionais preparados e espaços físicos com equipamentos
adequados. Neste processo, com uma demanda muito grande da população idosa,
resulta num complicador onde o tempo é um dos principais inimigos.
As enfermidades sem limitações, ou seja, quando o idoso consegue
se locomover, promove uma melhor qualidade de vida, enquanto que nas doenças
que leva o paciente às limitações, tornando-o dependente e mais vulnerável, fragiliza
e compromete sua qualidade de vida.
40

A saúde do idoso não é só da parte física. Ela também está


relacionada na área da mente. Ribeiro (2013) aborda em seu artigo a saúde mental
do idoso, ressaltando que as funções cerebrais vão diminuindo com o passar do
tempo. O cérebro durante todo o curso da vida é estimulado a aprender e organizar-
se através das habilidades como a memória, o raciocínio e pensamentos. Um
indivíduo, independente de sua idade que não tenha nenhuma doença mental, tem
esta capacidade natural. Portanto, ginástica cerebral direcionada é estimulada com
atividades a que venha potencializar a capacidade cognitiva através de ferramentas
pedagógicas. Estes exercícios são de graus diferenciados para que por meio de
“novidades”, alcance uma evolução satisfatória. Uma contribuição importante neste
artigo é sobre o cuidado com a saúde mental independente da idade, já que a vida é
um processo.
O envelhecimento por si só, traz perdas, podendo gerar crises
psicológicas afetando também a saúde física. Neste momento o apoio da família
pode muito ajudar este idoso, com compreensão e carinho, evitando assim, que
chegue ao nível de stress e consequentemente à depressão. Uma ferramenta que
pode auxiliar esta família é buscar atividades ocupacionais para o idoso de acordo
com o seu interesse.
Os principais pontos na área da saúde que consta no Estatuto do
Idoso aprovado em setembro de 2003, são o atendimento preferencial no Sistema
Único de Saúde; a distribuição de medicamentos de uso contínuo; quando internado
tem o direito de ter um acompanhante o tempo que for necessário e o não reajuste
das mensalidades dos planos de saúde. Estes artigos fazem toda diferença na área
financeira, na sobrevida, no direito a assistência familiar que o idoso tem e no
reconhecimento de pessoa digna e portadora de direitos e cidadania.

CAPÍTULO IV: O DIREITO DO IDOSO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS

“Um novo cenário para a velhice poderá ser construído levando-se em conta
duas atitudes fundamentais: cultivar uma cultura da tolerância, onde o
respeito às diferenças seja o valor fundamental, e considerar o ser humano
como prioridade absoluta, independente de sua faixa etária, na efetivação
de políticas públicas que busquem garantir a inclusão social para todos.
Bruno (2003).

As Políticas Públicas no contexto dos idosos são ações


41

governamentais que criam condições e definem estratégias para garantir os direitos


fundamentais que supram as carências da população idosa.
A Política Nacional do Idoso, a Política Nacional da Saúde da
Pessoa Idosa e o Estatuto do Idoso, são dispositivos legais que tem como proposta
nortear ações sociais e da saúde, garantindo os direitos e proteção dos idosos
através do Estado. Mas a parcela de responsabilidade pode ser dividida com o
próprio idoso, profissionais da saúde e a sociedade em geral.
O Estado por meio das Políticas Públicas legitima as formas de ser e
estar das pessoas. No contexto social do envelhecimento, uma realidade que tem
tomado grandes proporções, a Política Nacional da Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI)
entrou em vigor em 2006.
A contextualização que compõe a PNSPI auxilia a constituição de
um sujeito de possibilidades, levando em conta que seu processo de construção é
constante. A problematização da PNSPI potencializa o trabalho no sentido de auxílio
para o conhecimento do idoso e sua saúde na velhice. Na Geriatria são
compreendidos aspectos curativos e atenção preventiva na saúde. De acordo com
MOTTA, (2004, P.82-83), a Gerontologia é uma:

“[...] disciplina multi e interdisciplinar cujo objetivo é o estudo das pessoas


idosas, as características da velhice, o processo de conhecimento e de seus
determinantes biopsicossociais, capaz de fornecer uma atenção holística
integral”. MOTTA (2004).

Em 1990 foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS) para garantir a


saúde do homem, como direito fundamental e dever do Estado. Na lei não traz
distinção de idade, portanto, ao idoso lhe é assegurado este direito.
Em 1992, Princípios e Diretrizes foram estabelecidos na Assembléia
Geral promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), como princípios
específicos à pessoa idosa. Estas diretrizes promoviam a inserção social, política,
econômica e cultural, contribuindo com a sua qualidade de vida. Sendo esta
assembléia de nível mundial, o Brasil sancionou em 7 de dezembro de 1993 Lei nº
8.742 a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), assegurando importantes
benefícios para os idosos como o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Este
benefício assegura ao deficiente e ao idoso acima de 65 anos um salário mínimo
mensal, mediante comprovação de não ter meios para promover a própria
manutenção e nem sua família para provê-la. O que não garante uma qualidade de
42

vida, pois se assim fosse, todo idoso não passaria por tantas dificuldades. Mais uma
prova de que as políticas públicas precisam estar atentas às suas necessidades.
Até então, não havia nenhuma política nacional específica para as
pessoas com mais de 60 anos, quando em l994 foi criado a Política Nacional do
Idoso (PNI), que tem como objetivo garantir no âmbito constitucional a qualidade de
vida através de políticas voltadas para os idosos com efetividade, formulada na Lei
nº 8.842, sendo regulamentada pelo Decreto nº 1.948 de 3 de julho de 1996. Visa a
integração do idoso nas áreas da educação, saúde, lazer, previdência e trabalho e
judiciária a nível nacional. Nos seis capítulos e 22 artigos desta lei são destacados
os direitos à cidadania; respeito; não descriminação; informações sobre o
envelhecimento; participação; capacitação; atualização; cultura; esporte; lazer,
saúde; educação; previdência; trabalho; habilitação e assistência social.
Com demandas específicas na área da saúde para pessoas acima
de 60 anos, foi aprovada a Política Nacional de Saúde do Idoso (PNSI) em 1999,
que tem como objetivo além de promover o envelhecimento saudável, a manutenção
e a melhoria da capacidade funcional, prevenção de doenças, recuperação e
reabilitação do idoso, permitindo a reinserção de suas funções de forma
independente.
O Estatuto do Idoso foi aprovado em setembro de 2003 após
transitar sete anos no Congresso. Ampliou os direitos do cidadão com idade acima
de 60 anos proteção à vida e a saúde. Bem mais abrangente que a PNI, instituiu
duras penas para quem desrespeitar as leis referentes ao direito dos idosos. (Lei nº
10.741, Art. 4º de 1º de outubro de 2003). Com isto, o Estado deve priorizar um
atendimento digno aos idosos através das suas próprias políticas públicas, pois
através destas, o Estado tem o dever de proteger os idosos e promover um
envelhecimento ativo, assistido e saudável, assegurado nos art. 8º e 9º do Estatuto.
No Estatuto do Idoso foi implementadas leis que asseguram de
forma específica na Rede SUS:
= Atenção Especializada: Atenção integral à saúde, garantido o acesso universal e
igualitário aos serviços de prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde.
Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, Artigo 15, Parágrafo 1º.
= Idosos com deficiência: A pessoa idosa com deficiência ou alguma limitação física
ou mental tem direito a atendimento especializado nos estabelecimentos do SUS.
Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, Artigo 15, Parágrafo 40.
43

= Atendimento domiciliar: Aos maiores de 60 anos, inclusive aqueles abrigados e


acolhidos por instituições públicas, filantrópicas ou sem fins lucrativos, têm direito a
atendimento domiciliar pelo SUS para procedimentos médicos, de enfermagem, de
fisioterapia, psicólogos e de assistência social. Lei 10.741, de 1º de outubro de 2003.
Artigo 15, Parágrafo 1º, Inciso IV.
= Vacinação: Toda pessoa idosa tem direito a receber do SUS as vacinas
necessárias à prevenção de doenças. Portaria nº 1.498 MS/GM, de 19 de julho de
2013.
= Participação em planos/seguros de vida: É proibido aos planos de saúde
descriminar maiores de 60 anos, cobrando deles valores diferenciados em razão da
idade. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, Artigo 15, Parágrafo 3º; Lei nº 9.656,
de 03 e outubro de 1998, Artigo 14.
O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) foi criado em 15 de
julho de 2005 pela Resolução nº 130 do Conselho Nacional de Assistência Social
(CNAS) que aprova a Norma Operacional Básica da Assistência Social –
NOB/SUAS. Tem como proposta consolidar a rede de atendimento
socioassistencial, garantindo a proteção básica e especial, de complexidade média e
alta à família em toda sua esfera. População que vive em situação de
vulnerabilidade, com riscos, moradores de rua, habitação e reabilitação de
deficientes à vida comunitária e sua integração no mercado de trabalho.
Em 03 de janeiro de 2012, foi publicada a nova versão da
NOB/SUAS, representando uma nova estrutura do SUAS com maior qualidade na
administração em serviços socioassistenciais.
Segundo a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais
(Resolução CNAS nº 109/2009), o Serviço de Convivência e Fortalecimento de
Vínculos para idosos é um Serviço de Proteção Básica, que visa desenvolver
atividades que tragam contribuição para um envelhecimento saudável, fortalecendo
os vínculos familiares e sociais. De certa forma, é uma importante ferramenta de
prevenção às situações de risco, uma vez que este idoso integrado aos mais
variados tipos de atividades passa a desenvolver sua autonomia e sociabilidade
através de experiências no âmbito da cultura, esportiva, lazer, e, portanto, a
valorização da vida.
As demandas dos idosos tem sido um desafio para as políticas
públicas, uma vez que outros programas precisarão ser implantados para este
44

segmento populacional e/ou os recursos de outros deverão ser destinados para tal,
já que a maior parte dos recursos vai para as aposentadorias.
A necessidade de geração de recursos e de uma infraestrutura que
venha proporcionar ao idoso uma velhice mais digna e mais ativa, é uma das
questões sociais mais evidentes dentro deste cenário de envelhecimento
populacional.
Uma ação nacional através do Programa Ministério da Saúde “Brasil
Saudável” tem como finalidade promover um envelhecimento mais saudável criando
políticas públicas nesta área em todas as etapas da vida. Esta ação envolve práticas
de exercícios físicos de maneira sistemática, alimentação saudável, e redução do
consumo de tabaco.
A Secretaria de Vigilância reproduziu o documento “Envelhecimento
Saudável – Uma Política de Saúde” através da Organização Mundial de Saúde –
OMS com o objetivo de informar e mobilizar a sociedade sobre a importância da
saúde na velhice.
Devido aos desafios que o processo de envelhecimento tem
evidenciado por doenças em condições crônicas não transmissíveis, e as previníveis
e passíveis de controle, foi reafirmada a necessidade de um enfrentamento para
esta finalidade, considerando o Pacto pela Saúde e suas Diretrizes Operacionais
para consolidação do SUS através da PNSPI como se lê abaixo:
“A prática de cuidados às pessoas idosas exige abordagem global,
interdisciplinar e multidimensional, que leve em conta a grande interação entre os
fatores físicos, psicológicos e sociais que influenciam a saúde dos idosos e a
importância do ambiente no qual está inserido. A abordagem também precisa ser
flexível e adaptável às necessidades de uma clientela específica. A identificação e o
reconhecimento da rede de suporte social e de suas necessidades também fazem
parte da avaliação sistemática, objetivando prevenir e detectar precocemente o
cansaço das pessoas que cuidam. As intervenções devem ser feitas e orientadas
com vistas à promoção da autonomia e independência da pessoa idosa,
estimulando-a para o autocuidado. Grupos de auto-ajuda entre as pessoas que
cuidam devem ser estimulados”. (PNSPI).
Os desafios nesta conquista passa pela necessidade de equipes de
multiprofissionais e interdisciplinares qualificados com capacitação de conhecimento
em envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Este direito está assegurado na Lei nº
45

8.842/94 (PNI) que propõe a inclusão de Geriatria e Gerontologia nos currículos dos
cursos superiores da área da saúde, para atender às demandas desta faixa etária.
Um dos fatores fundamentais nesta capacitação é trazer um olhar
deste profissional voltado para a realidade desse grupo de pessoas tão excluídas
dentro das suas especificidades, criando uma possibilidade de uma intervenção
mais consciente e efetiva.
As pressões da sociedade civil contribuíram para o movimento das
políticas públicas voltadas para a questão do envelhecimento populacional há
décadas atrás. Duas iniciativas movimentaram este setor. A primeira foi em 1961
quando foi criada a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, que tinha como
objetivo “estimular iniciativas e obras sociais de amparo a velhice e cooperar com
outras organizações interessadas com atividades educacionais, assistenciais e de
pesquisas relacionadas com a Geriatria e Gerontologia”. A segunda foi iniciativa do
Serviço Social do Comércio (SESC) que provocou uma política voltada para o
amparo dos idosos, através de um movimento solidário entre os comerciantes de
uma determinada cidade em favor do idoso desamparado.
Com uma ação sistemática as políticas públicas devem chegar a um
nível de desenvolvimento de ações mais comprometidas com a assistência social
para os idosos.
46

CONCLUSÃO

Existe uma necessidade real de resgatar os direitos dos idosos,


uma vez que sempre foram excluídos e vivendo à margem da sociedade como se
nunca tivessem participado dela. Embora com seus direitos garantidos pela
Constituição de 1988, ainda há muito que se fazer em prol da sua efetividade. Se
analisarmos o Estatuto Do Idoso veremos que se fossem cumpridas as leis nelas
contidas, a realidade dos idosos no país seria bem diferente. Há de se analisar
também a rede de proteção do idoso, levando em conta suas particularidades para a
concretização dos seus direitos com Políticas Públicas específicas, com novos
métodos de intervenção, novos modelos de assistência.
Diante das desigualdades sociais tão evidentes no nosso país,
dificultam os idosos acessarem serviços de saúde e lazer, fatores tão importantes na
promoção da qualidade de vida. Um dos maiores desafios está na área da saúde. O
Brasil não tem uma infraestrutura para suprir tal demanda. As variações de doenças
que acomete os idosos estão relacionadas ao perfil destes. Muitos vivem bem
apenas com controle médico e alguns medicamentos, outros convivem com doenças
crônicas que somatizam levando-o a uma vida sem qualidade. Muito além de fazer
parte de uma estatística de longevidade, é preciso proporcionar qualidade de vida
para este segmento.
As ações de prevenção são fundamentais para amenizar o quadro
do avanço de doenças em número exorbitante, mesmo levando em conta o
crescimento da população idosa, tem de se pensar que a tendência é o crescimento
deste contingente e a saúde não tem avançado na mesma proporção, para conter o
avanço das enfermidades, provocando um colapso no futuro.
Ainda na aérea da saúde o Atendimento Domiciliar no primeiro
momento apresenta ser um benefício para ambos os lados, ou seja, o paciente tem
o conforto da sua casa e os hospitais diminuem seus gastos. Olhando de outra
forma, o paciente poderia sofrer pressões pelos planos de saúde para optarem por
este atendimento. Seria mais um desrespeito quanto aos direitos da pessoa idosa.
Diante do crescimento populacional de idosos, os setores
públicos e privados precisam atentar-se para uma política que ofereça uma
assistência familiar proporcionando um apoio que esta precisa, pois a mudança que
a sociedade tem vivido nos últimos tempos tem afetado diretamente a família. A
47

saúde de quem cuida também deve ser preservada, visto ser uma tarefa que
necessita de condicionamento físico e emocional todos os dias. Daí a necessidade
deste suporte físico e emocional como também alternativas de descanso. Um
grande número de pessoas tem sofrido em silêncio no cumprimento de um papel de
suma importância, para a família e a sociedade sem ser notado. Esta assistência
seria um bom começo para evitar ruptura e desgaste nos relacionamentos
familiares. Embora algumas cidades como São Paulo já tenham programas de
iniciativas públicas formais ao atendimento às famílias dos idosos, ainda é um
número bem pequeno da população.
Há uma necessidade de programas de governo mais específicos na
área da geriatria. Muitos programas do governo têm incluído de certa forma os
idosos na sua prestação de serviços e as Políticas Públicas vem buscando
mecanismo para esta inserção, mas não de maneira efetiva, pois a falta de
especialidade nesta área tem demonstrado que o idoso ainda é deixado de lado. O
governo não interessa muito por este contingente, talvez pelo alto custo nos cofres
públicos e também a preparação de profissionais que necessitariam buscar um
incentivo do governo para aprimorar, no contexto científico, esta proposta. Se
houvessem mais políticas públicas de qualidade direcionada para a atenção à saúde
do idoso, poderia diminuir os gastos com internações hospitalares que tanto oneram
o SUS.
A cada ano o aumento desta população cresce vertiginosamente. É
preciso uma redefinição de prioridades nas políticas públicas levando em
consideração o envelhecimento populacional.
A falta de sensibilidade por parte dos governantes a nível Federal,
Estadual e Municipal com as pessoas que fizeram parte do desenvolvimento do
país, expõe ainda mais os idosos a uma exclusão sem limites, visto que o valor dos
benefícios tem chegado a uma perda na faixa de 50% do valor. O desrespeito com
este grupo de pessoas é o reflexo de uma sociedade capitalista. O homem é
valorizado pelo que produz no momento. A recomposição do valor correspondente
ao número de salários mínimos tramita morosamente no Senado Federal (PL
4434/08).
O olhar da sociedade para o envelhecimento é num contexto
pragmático, ou seja, não cabe uma nova conjuntura para novos conceitos. Mas a
própria velhice contemporânea tem apontado o caminho para mudanças em todas
48

as dimensões sociais.
É surpreendente o país atingir índice tão alto de crescimento deste
grupo de pessoas, onde as condições de vida da maior parte da população são
cercadas de tantas privações. Ao nascer, sobreviver e chegar até a velhice é um
tempo muito longo. Um caminho que possivelmente foi construído de saberes,
experiências boas ou ruins, mas, que produziu uma história de vida, que se
canalizada, seria uma grande contribuição para uma sociedade mais humana para
todos.
As necessidades em atender as demandas deste contingente são
reais, criando instrumentos de proteção social que venha de fato ao de encontro
desta proposta e criar mecanismos para contemplar as expectativas, para que a
sociedade respeite os idosos nas suas características específicas, buscando uma
harmonia entre as gerações
Não tem como separar a velhice do contexto social. Para que a
sociedade perceba a importância do idoso é necessária uma ação governamental
com objetivo de reconstruir a imagem desta população mais positiva e valorizada.
Isto independe das suas limitações tão peculiares, permitindo que eles possam
desfrutar de uma convivência saudável, aonde sejam promovida a qualidade de vida
com uma participação mais ativa em comunidade, sem que a idade ou qualquer
outro fator que queira remetê-lo para uma imagem distorcida enquanto ser humano,
estigmatizado e excluído encontre espaço.
Embora haja um movimento político brasileiro para prestar um
serviço mais efetivo a esta classe, ainda não é possível sentir este efeito diante da
demanda social que cresce a cada dia. Outro fator relevante diante do retrato das
políticas públicas do país, que tanto deixam a desejar na sua efetividade, é a
cobertura assistencial na área da saúde para um número considerável de idosos.
Uma realidade emergente deste crescimento já que em breve os custos com a
aposentadoria pode ser um complicador para um envelhecimento saudável.

“Os velhos se dividem muito facilmente em quatro categorias: os poucos


que governam o mundo – bem mais poderosos do que os sábio; os poucos
que estão próximos do vovô ideal e do velho sábio; os muitos que vão se
fazendo cada vez mais azedos, irritadiços e intolerantes e, enfim, os que
vão parando e se fazendo apáticos e indiferentes”. Gaiarsa (1986, p. 42).
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