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2 - FIGURAS DE CONSTRUÇÃO
1. Compare as duas maneiras de construir esta frase:
Nota-se que a primeira construção é mais concisa e elegante. Desvia-se da norma estritamente
gramatical para atingir um fim expressivo ou estilístico. Foi com esse intuito que assim redigiu
Jorge Amado.
A essas construções que se afastam das estruturas regulares ou comuns e que visam
transmitir à frase mais concisão, expressividade ou elegância, dá-se o nome de figuras de
construção ou de sintaxe.
1. Elipse
São comuns as elipses dos pronomes sujeitos, dos verbos e de palavras de ligação
(preposições e conjunções):
João estava com pressa. Preferiu não entrar. [elipse do sujeito ele]
"As quaresmas abriam a flor depois do carnaval, os ipês em junho." (Raquel de Queirós)
"Por que foi que a criatura se imolou? Um ato de protesto contra o governo? (Érico Veríssimo)
"E espero tenha sido a última." (Viana Moog) [elipse da conjunção que]
Podem ser consideradas casos de elipse chamadas frases nominais, organizadas sem verbo.
Exemplos:
"Bom rapaz, o verdureiro, cheio de atenções para com os fregueses." (C. Drummond de
Andrade)
"Em redor, tudo parado. Estatístico. No silêncio da madrugada, nem o piar de um pássaro, nem
o farfalhar de uma folha." (Lígia F. Teles)
Observação:
As frases nominais, de largo uso na literatura atual, são particularmente adequadas para a
descrição de cenas estatísticas, de ambientes parados, sem vida.
2. Pleonasmo
. É o emprego de palavras redundantes, com o fim de reforçar ou enfatizar a
expressão. Exemplos:
"Tenha pena de sua filha, perdoe-lhe pelo divino amor de Deus." (C. Castelo Branco)
Observação:
O pleonasmo, como figura de linguagem, visa a um efeito expressivo e deve obedecer ao bom
gosto. São condenáveis, por viciosos, pleonasmos como: descer para baixo, entrar para dentro,
subir para cima, a ilha fluvial do rio Araguaia, a monocultura exclusiva de uma planta, etc.
3. Polissíndeto
"Por que é a beleza vaga e tênue, falaz e vã e incauta e inquieta?" (Cabral do Nascimento)
4. Inversão
. Consiste em alterar a ordem normal dos termos ou orações com o fim de lhes dar
destaque:
"Justo ela diz que é, mas eu não acho não," (C. Drummond de Andrade)
"Por que brigavam no meu interior esses entes de sonho não sei." (G. Ramos)
Observação:
"Esses colonos que se viram desalojados do Congo, não digo propriamente nada contra eles,
mas não servem para nós." (Raquel de Queirós)
Observação:
O anacoluto, fato bastante comum na língua oral, deve ser usado, na expressão escrita, com
soberidade e consciência.
6. Silepse
. Ocorre esta figura quando efetuamos a concordância não com os termos expressos
mas com a idéia a eles associada em nossa mente.
a. de gênero:
"Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove." (Olavo Bilac)
"Nuvens baixas e grossas ocultavam Ilhéus, vista dali em mar grande e livre." (Adonias Filho)
"Se acha Ana Maria comprido, trate-me por Naná." (Ciro dos Anjos)
b. de número:
"O casal de patos nada disse, pois a voz das ipecas é só um sopro. Mas espadanaram,
rufaram e voaram embora." (Guimarães Rosa)
"Está cheio de gente aqui. Tire esse povaréu da minha casa. Que é que eles querem?" (Dalton
Trevisan)
"Minha amiga, flor tem vida muito curta, logo murcham, secam, viram húmus." (José Veiga)
c. de pessoa:
"Os que adoramos esse ideal, nela vamos buscar a chama incorruptível." (Rui Barbosa)
"Mas haverá para qualquer de nós, os que lutamos, alguma alternativa?" (Fernando Namora)
"Os que a procuram são inúmeros, pois todos sofremos de alguma coisa; esta ‘água insípida’
tem uma vastíssima órbita de ação." (Cecília Meireles)
7. Onomatopéia
"Pedrinho, sem mais palavras, deu rédea e, lept! Lept! Arrancou estrada afora." (Monteiro
Lobato)
"O longo vestido longo da velhíssima senhora frufulha no alto da escada." (C. Drummond de
Andrade)
Observação:
As onomatopéias, como nos três últimos exemplos, podem resultar da aliteração ( = repetição
de fonemas nas palavras de uma frase ou de um verso).
8. Repetição
"O surdo pede que repitam, que repitam a última frase." (Cecília Meireles)
"Ia-se pelos perfumistas, escolhia, escolhia, saía toda perfumada." (J. Geraldo Vieira)
"E o ronco das águas crescia, crescia, vinha pra dentro da casona." (Bernardo Élis)
"O mar foi ficando escuro, escuro, até que a última lâmpada se apagou." (Inácio de Loiola
Brandão)