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Destaques
• O desmatamento em 2016 foi o mais alto desde nou; nos estados do Amazonas, Acre e Roraima, o
2008, atingindo praticamente 8.000 km2 com au- predomínio aconteceu em assentamentos; em Ron-
mento de 28,7% em relação a 2015; dônia prevaleceu o desmatamento em unidades de
conservação, seguido bem de perto pela categoria
• O desmatamento aumentou nos estados de de assentamentos; ainda há em torno de 25% de
Amazonas (54%), Acre (47%) e Pará (41%); em nú- desmatamentos em áreas sem identificação nos es-
meros absolutos, os estados que mais desmataram tados de Mato Grosso e Maranhão;
foram Pará (3.025 km2); Mato Grosso (1.508 km2) e
Rondônia (1.394 km2), compreendendo juntos 75% • Os polígonos de desmatamento que predomina-
de todo desmatamento registrado em 2016; ram em 2016 continuam sendo aqueles de até 30
hectares, perfazendo uma área de 60% dos desma-
• Houve pouca variação no desmatamento nos úl- tamentos totais (o “puxadinho” continua);
timos anos por categoria fundiária. Ele aconteceu
prioritariamente em terras privadas (35,4%), segui- • Nos assentamentos, 87% dos polígonos desma-
das por assentamentos (28,6%) e terras públicas não tados têm até 10 hectares. Desses, 68% da área res-
destinadas mais áreas sem informação cadastral ponde a polígonos maiores de 6 ha. Polígonos entre
(24%). As unidades de conservação (UCs) tiveram 6 a 10 ha costumam exigir maquinário, o que não
uma contribuição expressiva de 11,8%, ressaltando sugere o padrão típico de desmatamento realizado
que as APAs (aqui também computadas e com gran- pela agricultura familiar, que varia de 1 a 3 ha e feito
de participação no percentual) são uma categoria prioritariamente com mão-de-obra familiar.
mais flexível de UC, dominada principalmente por
entes privados. • Dos dez municípios que mais desmataram em
2016, cinco estão localizados no Pará, dois no Ama-
• De 2015 para 2016, as categorias fundiárias que zonas, dois em Rondônia e um em Mato Grosso; to-
mais apresentaram aumento foram APAs (36%), dos apareceram no ranking de “dez mais” nos últi-
áreas sem identificação cadastral (17%) e assenta- mos quatro anos.
mentos (16%);
1. Introdução
O desmatamento na Amazônia Legal reduziu mais de (figura 1; figura 2). Essas e outras medidas assumi-
70% desde 2004, quando alcançou o segundo pico das desde então ajudaram a reduzir o desmatamen-
mais alto da história do monitoramento do bioma to na região.
(27.772 km2). Naquele ano, o governo federal criou
vários dispositivos para controlar o problema, entre O bom resultado levou o Brasil em 2012 a propor
eles a lista de municípios críticos (Nepstad et al. 2014) uma meta de 80% de redução da derrubada em rela-
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ção à média registrada entre 1996 e 2005 baixa registrada nos últimos 20 anos na Amazô-
(19.615 km2) em seu Plano Nacional de Mudan- nia (4.571 km2), mas após esse ano tivemos su-
ças Climáticas (PNMC). Na prática, o país terá de cessivos aumentos e pequenos recuos.
chegar em 2020 com aproximadamente 3.925
km² de desmatamento anual, um caminho na di- Tal dinâmica já indicava que “a gordura” fora
reção do anseio da sociedade em zerar o desma- queimada e que o esforço de redução para taxas
tamento na Amazônia, compreendendo um im- ainda menores, como estabelecido no PNMC
portante passo para a estabilização climática, sem (Política Nacional de Mudanças Climáticas), seria
comprometer o desenvolvimento econômico e maior e mais desafiador. Nos últimos dois anos,
social da região. , as taxas registradas pelo INPE aumentaram, che-
gando em 2016 a 7.989 km2, a maior desde
Contudo, de 2009 a 2015 o desmatamento man- 2008. Isso significa que desmatou-se o equi-
teve-se estagnado em um patamar médio de valente a 128 campos de futebol do Maracanã
6.080 km2. Em 2012 ainda obteve-se a taxa mais por hora em 2016.
Figura 1: mapa da Amazônia Legal com desmatamentos acumulados até 2015 (em vermelho) e registra-
dos em 2016 (em preto). Elaboração: IPAM; fonte dos dados: Prodes/INPE.
Mesmo dentro de um contexto de crise política e tadas e mais apoio para quem mantém seu ativo
econômica que o Brasil vive nos últimos dois florestal, bem como mais participação do mer-
anos, para se alcançar a meta estabelecida e man- cado e do sistema bancário no controle do des-
ter a queda na taxa de desmatamento, há de se matamento. Outro aspecto muito importante se
ter um esforço feito por toda sociedade, com uma refere à governança ambiental ligada ao desma-
nova estruturação das ações de comando e con- tamento e a implementação do Código Florestal,
trole, criação de uma agenda positiva de incenti- e, nesse sentido, o envolvimento dos municípios
vos à eficiência da produção em áreas já desma- no processo deve voltar a ser fortalecido.
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Nesse trabalho, procuramos dissecar aspectos feição de maior para a de menor prioridade res-
importantes relacionados ao desmatamento em pectivamente.
2016, identificando o desmatamento por catego-
ria fundiária, tamanho de polígonos e quantidade Realizamos a quantificação do desmatamento a
de remanescente, particularizando-o em cada um partir do polígono de incremento anual publicado
dos nove estados da Amazônia Legal. pelo Projeto de Monitoramento do Desmata-
mento na Amazônia Legal por Satélite, ou
1.1.Metodologia PRODES (INPE, 2016). Para a análise, o polígono
foi reprojetado do datum original para WGS
Para a avaliação utilizamos a base fundiária dos 1984 com referência espacial sinusoidal e em
estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Ron- seguida rasterizado na resolução de 100 x 100
dônia e Roraima, e parte do Mato Grosso, Mara- metros. Toda a quantificação do desmatamento
nhão e Tocantins. Essa base foi construída a par- por classe fundiária, estados e municípios foi rea-
tir da sobreposição por priorização hierárquica lizada a partir da tabulação da área de desmata-
das feições de terras indígenas (ISA/2016), uni- mento por feição escolhida, utilizando o pro-
dades de conservação (ISA/2016), assentamentos grama ArcGIS (ESRI). O polígono do desmata-
(INCRA/2015), áreas privadas CAR (SICAR 2016), mento de 2016 apresentou, contabilizando o re-
APA (ISA/2015), Terra Legal (Serfal), SIGEF e ter- síduo, área total de 6.886 km2, 1.106 km2 a me-
ras públicas (Serviço Florestal Brasileiro/2014), da nos do que o valor comunicado pelo INPE1.
1. A taxa anual divulgada pelo INPE em geral difere do dado de desmatamento bruto resultado da somatória dos polígonos
disponibilizados pelo instituto. Isso ocorre pois o INPE, quando converte os dados de desmatamento bruto para a taxa, leva em
consideração as áreas cobertas por nuvens que podem vir a ter desmatamento, mas que não foram observadas (mais detalhes
em www.inpe.gov.br).
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De modo geral, ao longo dos últimos quatro anos blicas estaduais e federais que estão sem desti-
houve uma variação pequena na contribuição do nação e ainda não foram oficialmente reconheci-
desmatamento por categoria fundiária (figura 3). das como tal (i.e. cadastradas no Terra Legal).
Em 2016, seguindo a tendência dos últimos qua-
tro anos, predominou o desmatamento em áreas As demais categorias são compostas por áreas
privadas, com 35% do total desmatado no ano. protegidas (terras indígenas e unidades de con-
Assentamentos vêm em seguida, com 28%. servação), que apresentam um desmatamento de
pouco mais de 8%. Dentre elas, as terras indíge-
Áreas públicas continuaram a contribuir com nas representam a categoria que historicamente
13% do desmatamento, enquanto que áreas sem apresenta a menor taxa, não chegando a 2%.
identificação responderam com cerca de 10% do
desmatamento total. Essas áreas sem identifica- Nesse trabalho, as APAs (Áreas de Proteção Ambi-
ção não se enquadram em nenhuma das catego- ental) foram segregadas das demais unidades de con-
rias anteriores: a hipótese é que sejam áreas pri- servação, pois é uma categoria de uso sustentável
vadas que ainda não têm informação cadastral mais flexível, de gestão privada, que mostrou incre-
formal (i.e. CAR, SERFAL, SIGEF) e/ou áreas pú- mento substancial de desmatamento (figura 4).
2. Em 20 de dezembro de 2016, o governo federal reduziu a área da Flona Jamanxim de 1.301.120 hectares para 557.580 ha.
A maior parte (438 mil ha) foi incorporada ao Parque Nacional do Rio Novo, enquanto o restante foi somado a 230 mil hectares
para compor a nova APA do Jamanxim.
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2.2. Tamanho dos polígonos por categoria A predominância desse tamanho de desmata-
fundiária mento na categoria de terra privada (que con-
centra 35% do desmatamento total) indica a ma-
Nos últimos anos, têm predominado na Amazônia nutenção da tendência do “puxadinho”, denomi-
Legal o desmatamento de pequenos polígonos de nação usada para caracterizar uma pequena área
até 30 hectares – a exceção aconteceu em 2015, desmatada contígua a uma propriedade.
quando o somatório dos polígonos acima de 30
ha correspondeu à metade do desmatamento to- Os “puxadinhos” são possivelmente uma estraté-
tal naquele ano. gia utilizada por médios e grandes proprietários
de terra para driblar a fiscalização. Isso porque a
Em 2016, a contribuição dos desmatamentos de prioridade de fiscalização normalmente é dada
até 30 ha voltou a aumentar e respondeu por aos grandes desmatamentos, e o CAR ainda tem
57% do cômputo geral (figura 5a). Eles acontece- sido pouco utilizado como uma ferramenta de
ram principalmente nas terras privadas e nos as- fiscalização de baixo custo (i.e. envio de multas
sentamentos (figura 5b). pelo correio).
Figura 5b: Classificação do tamanho dos polígonos dentro de cada categoria fundiária.
Amazonas, Acre e Pará tiveram o maior aumento a maior área desmatada foi registrada nos esta-
de taxa de desmatamento entre 2015 e 2016, dos do Pará, Mato Grosso e Rondônia, que juntos
respectivamente (figura 6). Em termos absolutos, respondem a 75% do total desmatado em 2016.
3.1 Categoria fundiária por estados áreas públicas não destinadas. Em Mato Grosso e
Maranhão, 25% dos desmatamentos ocorreram
As terras privadas deram a maior contribuição ao em áreas sem informação cadastral, como men-
desmatamento em cinco dos 9 estados da Ama- cionado anteriormente.
zônia Legal: Amapá, Mato Grosso, Tocantins, Pa-
rá e Maranhão (figura 7). Em três estados, Rorai- Rondônia foi o único estado onde o desmatamen-
ma, Acre e Amazonas, predominaram os desma- to em unidades de conservação (26,8%) foi cam-
tamentos nos assentamentos. peão, sendo que quase todo aconteceu dentro da
categoria de uso sustentável, como em RESEX
Em Roraima, 35% do desmatamento ocorreu em (figura 8).
Dentre os dez municípios que mais desmataram capital, Porto Velho, e Nova Mamoré; em Mato
em números absolutos, cinco se situam no Pará: Grosso, em Colniza (figura 9), município que há
Altamira, São Felix do Xingu, Novo Repartimento, pelo menos quatro anos aparece no alto do ran-
Portel e Novo Progresso. No Amazonas foram king estadual.
Lábrea e Apuí, ambos localizados no sul do es-
tado, região que tem apresentado elevados índi- Nos últimos anos, esses dez municípios têm se
ces de desmatamento nos últimos anos. mantido consistentemente na lista dos que mais
desmatam na Amazônia, considerando a área ab-
Em Rondônia, predominou o desmatamento na soluta (tabela 1).
4. Considerações finais
O desmatamento não mudou o perfil em relação a privados que fazem a coisa certa é fundamental.
categoria fundiária e tamanho de polígono nos Alguns exemplos de estímulo positivo são a me-
últimos anos, indicando uma dificuldade de indu- lhoria e a facilitação do acesso a crédito, com
ção da redução dos patamares dos últimos anos. mais linhas para ampliar o uso de áreas abertas e
para restauração ambiental; a total regulamenta-
Já a predominância do desmatamento em áreas ção e implementação do artigo 41 do Código Flo-
privadas indicam a importância da implementa- restal, que estabelece instrumentos econômicos
ção do Código Florestal. A utilização do CAR co- para conservação e regeneração; compensação
mo instrumento de baixo custo de monitora- de quem tem ativo florestal em áreas de risco,
mento de desmatamento, mesmo pequeno, nas entre outros.
propriedades, com emissões de notificações, po-
de desestimular a prática. Esse sistema também Quanto aos assentamentos, eles vêm sofrendo
pode ser utilizado como instrumento que informe com um processo de reconcentração de terras
o desmatamento após 2008, para uso de todo nos últimos anos, e os dados de 2016 parecem
sistema creditício público e privado. reforçar tal tendência. O processo de revisão
ocupacional precisa ser fortalecido pelos órgãos
Não somente melhorar as estratégias de respon- públicos de comando e controle, para que seja
sabilização são importantes neste processo. In- possível diferenciar beneficiários da reforma
centivar práticas sustentáveis e premiar os entes agrária de atores externos, a fim de se criar uma
estratégia adequada de solução do problema.
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Alencar, A., Pereira, C., Castro, I., Cardoso, A., Azevedo, A., Alencar, A., Moutinho, P., Ribeiro, V.,
Souza, L., Costa, R., Bentes, A. J., Stella, O., Azeve- Reis, T., Stabile, M., Guimarães, A. 2016. Panora-
do, A., Gomes, J., Novaes, R. 2016. Desmatamento ma sobre o desmatamento na Amazônia em 2016.
nos Assentamentos da Amazônia: Histórico, Tendên- IPAM, Brasília, DF.
cias e Oportunidades. IPAM, Brasília, DF.
Dezembro de 2016.
Edição e revisão editorial: Cristina Amorim/IPAM.
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