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ATIVIDADE ASSÍNCRONA DA SEMANA DE 13/04/21

Unidade Temática: “Definição do tema: o que é ética?”


LEITURA ORIENTADA DOS CAPÍTULOS 1 A 4 DO LIVRO “ÉTICA PARA MEU
FILHO”, DE FERNANDO SAVATER, E PRODUÇÃO DE COMENTÁRIO

Considere, em sua leitura, os pontos abaixo e produza um comentário por escrito


sintetizando sua recepção aos conteúdos dos capítulos indicados (1 a 4). Encaminhe
sua produção via moodle até 19/04.

IMPORTANTE: Esta tarefa corresponderá à presença em 2 aulas.

 Um saber imprescindível que é preciso adquirir.

 A determinação e a liberdade: nossa vida é, em parte, e diferentemente da dos


castores, das abelhas e das térmitas, resultado daquilo que queremos.

 Não somos livres para escolher o que nos acontece, mas livres para responder
ao que nos acontece de um ou outro modo.

 A ética como saber-viver ou arte de viver: inventando, em parte, a própria vida.

 Motivos correntes para agir (ordens, costumes e caprichos) e sua insuficiência


em dadas situações (o caso de Heitor e Aquiles, na Ilíada; o exemplo do barco
e da tempestade, de Aristóteles).

 A liberdade e a decisão sobre o que nos convém (a necessidade de perguntar


“Por que estou fazendo isso?” e refletir detidamente a respeito).

 A dificuldade em definir o que é uma pessoa boa.

 Na porta da ética está escrito: “Faça o que quiser!” (Dê-se uma vida boa!)

 A vida boa vivida entre humanos.

 Dar-se uma vida boa não pode ser muito diferente de dar uma vida boa (o
exemplo do “Cidadão Kane”).

No texto o autor oferece um bom panorama do campo ético,


apresentando o complexo de problemáticas em torno do qual emerge tal
campo.
Assim, situa a problemática inicialmente em torno da pergunta “o que me
convém?” (§1, p.35). Neste sentido, é preciso se ater ao termo ‘convir’ e seus
variantes, cuja semântica sintetiza várias discussões éticas (aduz às
convenções, àquilo que cai bem —e este pode ser encarado desde uma
perspectiva social, bem como existencial—, ao que é útil, aos interesses, ao
que é adequado, ao que é decente).
À esta aproximação inicial seguem-se explorações que a cada passo
amplificam mais e mais a circunscrição do campo ético.
A primeira categoria importante e definitória, o querer, é apresentada a
partir de sua oposição à causalidade pura e simples. Com efeito, há eventos
que ocorrem independentemente do querer humano. Pois então, como lidar
com eles, se não aceitando que não se pode os controlar? (§2, p.35-36)
Contudo, tal consideração pode resvalar para uma espécie de validação
de atitudes conformistas no âmbito das interações sociopolíticas: de fato, é
possível haver quem advogue que as ações resultantes do querer alheio
tenham o mesmo estatuto de eventos naturais, de modo que por não podermos
as controlar, talvez fosse o caso de sustentar uma postura de aceitação
acrítica.
Bem, é neste sentido que advém a consideração de que não obstante
não controlarmos o que nos acontece, não se segue disto, como algo
inevitável, uma atitude de resignação, posto que podemos escolher o que fazer
diante disto (p.36).
Donde, a partir da paráfrase de uma passagem da página 37, podermos
pontuar um segundo questionamento de natureza ética: o que se quer mais?
Ou, noutros termos, o que importa mais?
Este questionamento ocasiona a apresentação da dicotomia reflexão X
automatismo no campo do agir: ação refletida e ação habitual,
respectivamente.
Por seu turno, a análise do caráter mecânico das ações habituais que
todos realizam cotidianamente conduz à discussão em torno da motivação,
outra categoria cara ao campo ético.
Nesta altura o autor nos esclarece que há quatro categoria fundamentais
que, ao inclinar o agente para um determinado curso de ação, constitui
propriamente a motivação do ato realizado: trata-se das ordens, dos costumes,
dos caprichos e das funcionalidades (motivos instrumentais).
Contudo, ensina que para a constituição do campo ético são três as
categorias relevantes, a saber: ordens, costumes e caprichos. As duas
primeiras são exteriores ao agente (emergem de processos sociais); já os
caprichos advém do próprio sujeito (enquanto engendram atos
incondicionados, e parecem caracterizar uma certa concepção de liberdade).
Tais categorias podem se revelar prolíficas na análise de situações e
contextos reais ou fictícios em que um curso de ação precisa ser tomado. Com
efeito, e à guisa de exemplo, qual o peso uma pessoa deve dar a uma ordem
quando o contexto de decisão em que está implicado mostra que o
cumprimento desta conflita com vidas humanas? E quando a obediência cega
aos próprios caprichos conflita com o que há de habitual ou mesmo normativo
para os padrões sociais? Ou se mesmo não conflitando com costumes e
normas sociais, valemo-nos de outras pessoas como meios para perseguir
nossos caprichos? Mas, e os contextos em que agir caprichosamente constitui
único recurso para que não se efetivem costumes ou normas degradantes?

A dinâmica estabelecida entre aquelas categorias institui uma tensão


que no capítulo 3, é equacionada pela temática da liberdade, que supõe a
tomada de rédeas das próprias decisões e ações —consequentemente, do
curso da própria vida.
Mas, uma vez que o autor diz que “para saber se alguma coisa é de fato
conveniente para mim ou não, terei de examinar o que faço mais a fundo,
raciocinando por mim mesmo” (p. 55), não estaria incorrendo em um círculo
vicioso? Quer parecer, então, que o campo ético, por ser a dimensão da
liberdade, emerge quando o agente decide apropriar-se de sua liberdade,
exercê-la. Pois se o campo ético é o exercício da liberdade, como pode
demandar um ato de liberdade para nele ingressar?
Neste sentido, percebe-se a dimensão formativa inerente à ética, razão
pela qual figura entre as temáticas atinentes aos temas transversais: porque
atravessa várias dimensões da experiência humana, requer tratamento
educacional perseguindo tal integração, o que se equaciona e consubstancia
no “aprender a escolher por nós mesmos” (p.55), objetivo que deve ser
perseguido nas reflexão ética e que ainda por cima permite situar com maior
precisão a distinção desta com a moral.
De fato (p.57), o autor situa a distinção entre ética e moral desde uma
perspectiva que, retrospectivamente, pode ser lida a partir de uma das primeira
distinções apresentadas (no capítulo 2). Se é verdadeiro que há eventos sobre
os quais não temos controle algum, também o é que podemos controlar o que
faremos com o que nos ocorre; assim, em paralelo: é verdadeiro que não
passaremos ilesos quanto a herdarmos alguma formação moral; mas também
é verdadeiro que podemos escolher realizar ou não a ‘reflexão sobre por que’
consideramos tal ou tal moral mais ou menos válida. E com isto a ética ganha
contornos de arte: a arte de viver.
Mas a consideração da ética enquanto a ‘arte de viver’ nos traz mais
uma amplificação: a questão do valor desta arte. Mas quando se considera
esta dimensão do campo ético, ressalta o problema atinente à definição
unívoca e absoluto do que seja este bem viver, o bom homem, a boa vida... E
então, parafraseando, o autor é preciso que se reconheça: é porque não
sabemos “para que servem os seres humanos”, que não é fácil dizer quando
um ser humano é bom ou não... Mas isto ressoa também aquela distinção
atinente às motivações externas (ordens, costumes) e internas (caprichos) às
ações humanas: o que na conduta humana importa à ética tem a ver com uma
aberto, algo que é imanente a ela (e não algo fechado —que a defina e a
circunscreva de fora). Assim, a humanidade, enquanto abertura, estabelece-se
de dentro de si mesma “pois não há um regulamento único para ser um bom
ser humano, e nem o homem é instrumento para conseguir nada” (p.60). E isto
nos aponta também à consideração da intenções que também constituem um
dos móveis da ação.
O autor arranja sua exposição de modo a construir a formulação que
aponta à inevitabilidade da escolha e da liberdade. Ou seja, se a humanidade é
abertura, imanência que se realiza no próprio ato-ensaio, então é consequente
que a liberdade e a escolha de a assumir ou não sejam os únicos
condicionantes da ação humana. Assim, “mesmo obedecendo a outro ou
deixando-se levar pela massa, continuará agindo conforme sua preferência:
não estará renunciando a escolher, mas estará escolhendo não escolher por si
mesmo” (p. 68).
Então, assumindo a condição de liberdade como inerente ao humano, é
preciso distinguir a ‘ação do querer’ da ‘ação caprichosa’: fazer o que quiser
não implica em fazer a primeira coisa que der vontade (p.69). Ou seja, está em
causa aqui a dicotomia realidade e aparência: o querer verdadeiro (mais
autenticamente desejado) pode ser expropriado por uma vontade momentânea,
efêmera. Mas esta distinção e dicotomia ecoam uma diferenciação
anteriormente apresentada: dar-se conta de que se decide X deixar-se levar.
Assim, se é preciso pensar ao menos duas vezes no motivo de uma ação para
efetivamente encontrar bons motivos para e agir da forma que convém (p.53), o
mesmo não se daria em relação a captar o que se quer de verdade?
Em conclusão, o autor reafirma a imanência do humano: “o homem não
nasce já totalmente homem, e nunca chega a sê-lo sem a ajuda dos outros” (p.
75). Disto decorre que a ética se dá no encontro de cada homem consigo
mesmo no encontro que vivencia com os outros: aduz ao mesmo tempo ao
como relacionar-se com (tratar) os outros, ao como espera que os outros lhe
tratem, ao que pensa e espera de si mesmo em toda essa dinâmica. Diz
respeito à convivência consigo mesmo, com os outros e com o coletivo, pelo
que atravessa a reciprocidade, que está implicada no dar-se uma vida boa
através do dar uma vida boa. Anuncia-se por mais uma via a racionalidade
como imanente ao campo ético: constatando-se a pluralidade de condutas e de
modos de viver (um não sendo absolutamente melhor que o outro), segue-se
sua formulação como “a tentativa racional de averiguar como viver melhor” (p.
73).

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