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Conselho de um sábio desconhecido

Residente em São Paulo, em plena flor da idade, aos 21 anos, Sofia Xavier, moça de olhos
negros penetrantes e cabelos castanho-escuros, não se importava muito com a aparência nem
com seu status, estava mais interessada nos estudos; acabara de entrar na faculdade de seus
sonhos; cursava engenharia. Sempre fora esforçada, mas agora sua rotina era marcada pela
monotonicidade: vivia em meio a um mar de livros, não tinha tempo para mais nada.

Morando ainda com os pais, não mantinha uma boa relação com eles, tampouco com a irmã
caçula. O quarto tornara-se seu habitat, do qual raramente se retirava, salvo as idas à
faculdade localizada entre as avenidas Doutor Arnaldo e Rebouças. Suas emoções eram como
joias da realeza: trancados num cofre a sete chaves, ninguém podia vê-las, talvez nem ela
própria. Com o tempo, tornou-se cada vez mais fechada e foi perdendo os amigos, porém,
estes não faziam falta. Quanto à vida espiritual, talvez fosse tão pobre quanto a social: não
possuía uma religião, não acreditava em algum deus ou coisa parecida. Valorizava a
independência e a capacidade de resolver tudo sozinha.

Um dia, Sofia, ao sair do ônibus que a levava para a faculdade, estava tão imersa em seu livro
que ao tentar atravessar a rua pôs-se na iminência de ser atropelada, o que só não ocorreu
devido à intervenção de um morador de rua que por ali vivia, o qual, meneando a cabeça,
bradou-lhe:

- Ah, minha jovem! Todos os dias lhe vejo passar por estas ruas, tão distraída com os estudos...
Isto haveria de acontecer em algum momento. Se não se incomodar, escute um conselho: tire
a venda que lhe cobre esses olhos negros e veja o belo mundo à sua volta. Certamente, você
não possui um bom relacionamento com seus pais ou amigos. Bom, abra-se com eles e deixe
os estudos um pouco de lado, afinal, não somos nada sozinhos. Tente relaxar mais: faça ioga e
tai chi chuan. Garanto-lhe que são incríveis!

Num primeiro momento, Sofia pensou que aquele velho, de barbas e cabelos longos e
aparência de um sábio, estava louco. Todavia, ela ruminaria aquelas palavras por dias; não
mais conseguia concentrar-se nos estudos. Nos pensamentos, martelavam as memórias de um
passado distante, quando, em infância, encontrava-se rodeada de amigos e cercada pelo
grande afeto dos pais e da irmã.

Logo, o sentimento de culpa e arrependimento tornaram-se assoladores, e Sofia não suportava


mais aquela rotina. Decidiu, portanto, que deveria mudar; reconciliou-se com a família e
reatou algumas amizades antigas. Passou a cuidar da aparência, ir a festas, frequentar a igreja
dos pais; enfim, recuperara a vida social que se encontrava perdida. Ademais, para sua
surpresa, o tai chi chuan trouxe-lhe grande tranquilidade e bem-estar, desde o momento que
optou por fazê-lo. Tudo isso graças ao nosso misterioso morador de rua, que, para os
conhecidos, chamava-se Jessé Severino de Souza.

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