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Artigo (10) - Ensino No Didascalicon - Hugo de Sao Vitor
Artigo (10) - Ensino No Didascalicon - Hugo de Sao Vitor
INTRODUÇÃO
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Os estudiosos que assim procedem não levam em conta que a Escolástica surgiu em
decorrência da aspiração de anseios e de elementos organizadores da vida do homem. Esses
estudiosos, não consideram deste modo o aspecto extremamente progressista que esse método
teve no renascimento cultural e comercial dos séculos XII e XIII.
Nesse contexto, Hugo de São Vitor provavelmente nasceu no ano de 1096, em Hartingan na
Saxônia, no Sacro Império Romano Germânico, representante mais ilustre da Abadia de São
Vitor. Faleceu no ano de 1141 com fama de santidade. Entre suas obras, destaca-se De
Sacramentis Christianiae Fidei, Epítome in Philosophiam, Comentum (A Hierarquia Celeste)
e Didascalicon este é composto por sete livros, é a obra mais completa sobre o saber da
época.
O DA ARTE de LER, antes de tudo é um texto de filosofia. Nele não se faz o uso dos
livros sagrados como faria a teologia. Trata-se claramente de uma filosofia cristã cujo ponto
de partida é a existência do ser transcendente. De acordo com Marchionni ( 2001, p.15), Deus
dá ao mundo a existência, a forma, a matéria e a finalidade. A obra é também uma introdução
aos estudos mais diversos, a primeira introdução no segundo milênio.
O autor tinha diante dos olhos outras introduções ao saber, de outros grandes
pedagogos, as quais lhe serviram de fontes: o da Doutrina Cristã de Santo Agostinho, Das
Núpcias da filologia e de Mercúrio de Marciano Capela, as instituições das lições divinas e
seculares de Cassiodoro e as Etimologias de Isidoro, Da Formação dos Clérigos de Rábano
Mário.
Para Hugo de São Vitor, a leitura é o primeiro passo para se ensinar ou se aprender daí
a ler, um afeto de amizade, um ato moral e social, um ócio reparador, restaurador e inspirador.
A leitura informativa deve se, portanto seguida pela reflexão meditativa na qual alcança-se o
discernimento crítico.
Um dos primeiros ensinamentos de Hugo de São Vitor é à busca da sapiência, a
mente de Deus, o renovo do espírito do homem. De acordo com Athayde (2007, p.179), para
ele a sapiência é a razão organizadora de todas as formas, pois dela nasceu tudo o que tem no
universo, ou seja, tudo que existe, criado originalmente de um arquétipo ou de uma forma
primeira. Esta passagem elaborada através do Didascalicon:
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pela sapiência se volta pra o princípio e percebe-se quanto é inconveniente
ao homem procurar coisas fora de si. (Hugo de São Vitor, I Capítulo I)
Esta sapiência transfere para todo o tipo de alma o primor de sua divindade e
as traz de volta para sua força e pureza natural. Daqui nasce à verdade das
especulações e dos pensamentos, assim como a compostura santa e pura dos
atos. (Hugo de São Vitor Livro I, II,)
A filosofia é a arte das artes, e a disciplina das disciplinas. Isto é, aquela para
qual todas as artes e disciplinas olham. A filosofia é a disciplina que
investiga com provas plausíveis as razões de todas as coisas divinas e
humanas. (Hugo de São Vitor Livro II, I)
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Da aritmética quer dizer força do número. A força do número consistia no
fato de que todas as coisas foram formadas a sua semelhança.(Hugo de São
Vitor Livro II, VII)
O contexto que o autor trabalha é sobre a questão da música. Há três tipos de música,
do universo, do homem e dos instrumentos. A música do universo existe nos elementos, nos
planetas e nos tempos:
A especificidade de cada arte é verdade que todas as artes tendem para o único
objetivo da filosofia, mas nem todos percorrem o mesmo caminho, aliás, cada uma possui
determinadas ponderações próprias pelas quais se diferencia das outras:
O objeto da lógica são as coisas, cuidando dos conceitos das coisas, ou pela
inteligência, quando não estão presentes nem as coisas, nem as imagens
delas, ou pela razão, quando não estão presentes as coisas, mas o estão as
imagens delas. (Hugo de São Vitor Livro II, XVII)
No capítulo XX, a Mecânica contém sete ciências: ciência da lã, ciência das artes, armas,
navegação, agricultura, caça, medicina, teatro. De acordo com Hugo de São Vitor, estas
ciências se chamam mecânicas por este fato, comprovado através dessa passagem:
Estas ciências se chamam mecânicas, isto são imitativas, por que tratam do
trabalho do artífice, que da natureza toma emprestada a forma.
Paralelamente, as outras sete ciências foram chamadas liberais, ou porque
existem espíritos livres, isto é prontos e treinados, pois disputam sutilmente
das causas, das coisas, ou porque antigamente somente os livres, isto é os
nobres, costumavam-se se dedicar a elas, enquanto os plebeus e os filhos dos
ignorantes costumavam-se se dedicar às ciências mecânicas por sua
capacidade de operar. (Hugo de São Vitor Livro II, XX)
Neste aspecto o abade de São Vitor chama atenção para diversos tipos de ciência, a ciência
dita como nobre eram dedicadas as pessoas de uma determinada classe social, os plebeus
dedicavam-se às ciências mecânicas.
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A segunda é a ciência das armas. Ás vezes ditas armas todos os instrumentos, como
quando dizemos todos os instrumentos, como quando dizemos armas de guerra, armas de
nave, isto é instrumentos de guerra e da nave. Para o autor:
As armas são chamadas assim do termo latim armus, que significa braço,
porque ela mune o braço que costumamos opor aos golpes. (Hugo de São
Vitor Livro II, XXIII)
A medicina se divide em duas partes, as ocasiões e as operações. As ocasiões são seis: ar,
movimento e repouso, esvaziamento e enchimento, alimento e bebida, sono e vigília as
ocorrências que influem na alma. Hugo de São Vitor diz que:
No capítulo XXVIII, o mestre vitoriano chama atenção sobre a lógica e diz que ela se divide
em gramática e teoria da argumentação. A gramática, segundo alguns afirmam não é parte da
filosofia, mas antes um apêndice e um instrumento para a filosofia. De acordo com o autor:
O mestre da abadia de São Vitor vem ao encontro com o pensamento de Le Goff neste
momento. A respeito da ciência, da forma como ela pode ser interpretada:
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Mas se deve saber que a ciência pode ser interpretada de duas maneiras: ou
como uma das disciplinas, quando digo, por exemplo, que a dialética é uma
ciência, isto é uma arte ou disciplina ou como qualquer conhecimento,
quando, por exemplo, digo que alguém conhece alguma coisa tem ciência
daquilo. (Hugo de São Vitor Livro II, XXX)
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afinco ela lhe torna a vida muito jucunda e na tribulação oferece-se uma
grandíssima consolação. (Hugo de São Vitor Livro III, X)
O abade de São Vitor chama atenção sobre a questão da disciplina moral, tão comum
entre os monges. O começo da disciplina moral é a humildade, da qual existem muitos
ensinamentos e dá recomendações aos estudantes:
O estudante prudente, portanto ouve todos com prazer, lê tudo não despreza
escrito algum, pessoa alguma, doutrina alguma. Pede indiferente de todos
aquilo que vês lhes esta faltando nem leva em conta quanto sabe, mas
ignora. (Hugo de São Vitor Livro III, XIII)
Ainda no capítulo XIII do livro III, notamos como o mestre exorta os seus alunos a
serem mansos, afastados totalmente das preocupações vãs:
Ele procurou chamar atenção daquilo que se intitula dos quatro preceitos que foram
dispostos alternativamente de modo que uns se refere sempre à disciplina, o outro ao
exercício. Este preceito para os quais chama atenção são: a quietação, a análise minuciosa, a
sobriedade e o exílio.
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De acordo com ele, a quietação da vida, seja interior, para que a mente não se perca
em desejos ilícitos, seja no exterior para que o ócio e a comodidade permitam estudos
honestos e úteis, ambas pertencem à disciplina moral.
A análise minuciosa, isto é a meditação, pertence ao exercício. A primeira vista,
parece que a análise minuciosa já é contida na dedicação a pesquisa, e assim fosse seria
supérfluo volta a ela, uma vez que já foi listada. De acordo com o erudito Hugo de São Vitor,
o trabalho e o amor caminham juntos:
Neste contexto, o ideal para o homem medieval era a pobreza, uma regra fundamental
para que a disciplina moral se desenvolve na mente deste homem.
No livro V, Hugo de São Vitor começa chamar atenção sobre as particularidades da
Escritura Sagrada e o modo de lê-las. O autor chama atenção dos seus alunos para a questão
do tríplice entendimento:
Antes de tudo deve-se saber que a Escritura Sagrada apresenta três modos de
entendê-la o modo histórico, o modo alegórico e modo tropológico.
Certamente, nem todas as passagens que se encontram no discurso divino
devem ser forçadas a ter essa interpretação, como se todo qualquer texto
possa ser imaginado contendo simultaneamente a interpretação histórica,
alegórica e tropólogica. (Hugo de São Vitor Livro V, II)
Hugo de São Vitor demonstra que ao estudar as sagradas escrituras, o estudante deve
ser ciente que não existe apenas uma forma de interpretá-la, mas três formas.
Após o abade de ter escrito aos estudantes, ele afirma que pouquíssimos conhecem
chegar de fato ao conhecimento. De acordo com o autor:
E sem falar, daqueles que por natureza são obtusos e lentos na aprendizagem
é sobremaneira provocante e merecedor de reflexão saber como acontece que
duas pessoas aplicadas com igual engenho e afinco, não consegue entendê-lo
com o mesmo efeito.(Hugo de São Vitor Livro V, V).
A leitura divina tem como objetivo a formação do homem, porém antes de tudo, deve-
se conhecer seu fruto. Nada deve querer sem motivo, nem provoca desejos aquilo que não
promete utilidade. Para o autor:
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O fruto da leitura sagrada é duplo, pois instrui a mente com o conhecimento
ou adorna com os bons costumes. Ela ensina aquilo que agrada saber e
aquilo que vale a pena imitar. (Hugo de São Vitor V, VI)
Neste mesmo contexto, Hugo de São Vitor chama atenção das letras que às vezes é
perfeita, quando aquilo que se diz é necessário acrescentar ou diminuir nada fora daquilo é
expresso, a sabedoria vem de Deus. Para o autor:
De vez quando a letra é tal, que não se é resolvida numa outra parece não
significa nada ou ser imprópria. Nestas expressões o nominativo do nome e o
genitivo do pronome são postos em lugar do genitivo, e há muitos exemplos
semelhantes. O significado incoerente pode ser incríveis, impossíveis,
absurdos ou falsos. (Hugo de São Vitor Livro VI, X)
Conclusão
Este trabalho teve como objetivo analisar o conceito de educação em Hugo de São
Vitor, destacando o conceito de ensino em sua obra. Após uma longuíssima análise de sua
obra, notamos que o ensino circundava-se pela busca, portanto, um dos primeiros
ensinamentos de Hugo de São Vitor é à busca da sapiência, a mente de Deus, o renovo do
espírito do homem. Um aspecto importante que se faz presente ao longo do Didascalicon,
concomitantemente a uma discussão sobre o ensino, uma questão de ação humana prática.
Em suma, notamos que Hugo de São Vitor é um autor que apesar de sua origem estar
no mundo medieval, nos faz lembrar de como a educação naquele contexto era importante
principalmente para os nossos padrões em pleno século XX.
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FONTE
BIBLIOGRAFIA.
ATHAYDE, Rodrigues Wesley A Sapiência e as Sete Artes Liberais Segundo Hugo de São
Vítor USP Leste - Universidade de SP, v. 1, p. 179 - 195, 01 nov. 2007.
DE BONI, Luis Alberto A Universidade Medieval- Saber e Poder. In: Luzes sobre a Idade
Média. Terezinha Oliveira (org) Eduem 2002.
LE GOFF, Jacques Os Intelectuais na Idade Média. José Olimpio Editora Rio de Janeiro,
2006.
MARCHIONNI, Antônio Introdução a Hugo de São Vitor. Ed Vozes, 2001.
NUNES, Ruy. História da Educação na Idade Média. São Paulo EDUSP, 1979.
OLIVEIRA, Terezinha Considerações sobre o caráter histórico da Escolástica. In Luzes
Sobre a Idade Média. Terezinha Oliveira (org) EDUEM 2002.
______. Escolástica Notandum Libro 4. Editora Mandruvá 2005.
______. DIDASCALICON: DA ARTE DE LER: A LEITURA COMO INSTRUMENTO
EDUCATIVO NO SÉCULO XII MEDIEVO. In: 16 Congresso Nacional de Leitura.
Campinas : Editora da Unicamp, 2007. v. 1. p. 1-9.
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