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MODO SOBREVIVÊNCIA: A REALIDADE DA EDUCAÇÃO NA PANDEMIA DO

COVID-19.

SILVA, Gilvânia, UFPB, gilvaniatarginopedagogia@gmail.com


PRUDENTE, Hannah, UFPB, hannah.prudente@gmail.com
QUEIROGA, Jeovana, UFPB, jeovanajesca@hotmail.com

INTRODUÇÃO

Quando falamos sobre a profissão da docência é comum escutarmos os


discursos relacionando a profissão à maternidade, como a frase “eu me vejo como
mãe de 30 alunos a cada ano” retirada do vídeo da entrevista Profissão Docente
disponibilizada pelo Canal de TV Cultura, essa relação é feita devido a dedicação e
a vocação necessária para a realização do trabalho docente. Entretanto podemos
perceber que o processo de definição do trabalho dos professores é algo que está
em constante mudança e é sempre alvo de novas discussões (ALVES, 2006).

Com a pandemia da Covid-19, a rotina da educação passou por grandes


obstáculos. No início da quarentena, que inicialmente duraria apenas 15 dias, as
escolas precisaram suspender suas aulas com a esperança de um breve retorno.
Mas, o que acreditava-se ser apenas uma “pausa”, na verdade perdura até os dias
atuais, resultando em várias transformações no trabalho docente.

O que se entendia por Ensino a Distância (EAD), prática de ensino


anteriormente ofertada para estudantes que buscam qualificações nas suas áreas
mas não dispõe de tempo para frequentar as aulas presenciais, passa a ser a
principal ferramenta de ensino nas escolas do mundo todo. As salas de aulas
passam a ser substituídas por ambientes virtuais, as lousas por compartilhamento
de telas e o meio de comunicação passa a ser única e exclusivamente através da
conexão via internet.

As novas ferramentas tecnológicas invadem, de forma literal, a sala de aula,


influenciando a rotina dos docentes e discentes, com objetivo de substituir o modelo
presencial e tentar diminuir o impacto do isolamento social na educação. Com isso,
acabaram surgindo também novos obstáculos, principalmente com relação ao
acesso e manuseio dessas tecnologias. Além disso, percebemos que o trabalho em
si passou a ser mais exaustivo, pois a carga horária de trabalho se amplia, devido
ao fato de que o ambiente de trabalho do professor passou a ser sua própria casa,

Nesse trabalho, através de uma pesquisa realizada com alguns docentes,


buscamos compreender as suas vivências nesse período pandêmico. E, através
dessa pesquisa, analisar suas principais dificuldades e anseios como docente, e
discutir sobre o impacto que já estamos vivendo na educação devido ao isolamento
social e ao fechamento das escolas.

DESENVOLVIMENTO

A pesquisa envolveu professores do sexo masculino e feminino, entre 2 anos


e 22 anos de docência, a sua maioria na rede privada e apenas um da rede
estadual de ensino e todos atuantes na cidade de João Pessoa - Paraíba, conforme
apresentado no quadro a seguir:

Quadro 1. Caracterização dos participantes da pesquisa

Professor Rede Turma Formação Tempo de docência Vínculo

Professor 1 Privada Pedagogia


Educação Infantil 22 anos Efetivo

Professor 2 Privada Química


Fundamental II 2 anos Contrato temporário

Professor 3 Privada Pedagogia


Fundamental I 4 anos Contrato temporário

Professor 4 Estadual
Fundamental II Geografia 4 anos Efetivo

Quando questionados sobre o que motivou a sua escolha da profissão, os


respondentes destacaram a possibilidade de contribuir para o desenvolvimento do
indivíduo:
Principalmente a ideia de contribuir com o desenvolvimento das crianças e
as oportunidades de aprender com elas mesmas.(Professora 1)

Contribuição para a formação e o desenvolvimento do aluno enquanto


indivíduo e membro da sociedade.(Professor 2)

Participar do crescimento de pessoas, oportunidades de trabalho,


satisfação pessoal.(Professor 4)

Esses relatos ajudam na construção da nossa discussão, tendo em vista uma


das principais motivações pela escolha da profissão, que traz essa preocupação do
docente em ser contribuinte no processo de ensino-aprendizagem do aluno. E que,
a partir dessa pesquisa, podemos observar que é um dos principais receios em
relação à educação, que é uma aprendizagem efetiva dentro da metodologia do
ensino remoto.

Quanto à docência no contexto pandêmico, principal análise da pesquisa,


podemos observar que todos os respondentes apresentaram dificuldades similares,
principalmente na aplicação das tecnologias em sala de aula de forma súbita:

Me sinto como batalhadora, pois superaram seus limites, profissionais


tiveram que ir além do que já sabiam, descobrir novos métodos e materiais.
(Professora 1)

Num curto período de tempo, os professores precisaram se adaptar a não


mais ter um aluno frente a frente, e sim por trás das telas. Após um longo ano de
aulas online, mesmo após a retomada das aulas presenciais nas escolas privadas,
podemos observar a dificuldade de uma única professora precisando atender a duas
turmas: uma online e outra presencial, e a aula que antes contemplava apenas o
aluno passa a alcançar toda a família.

Me sinto como se fosse duas, pois estamos trabalhando dobrado,


principalmente no contexto em que trabalhamos presencial e online ao
mesmo tempo. (Professora 4)

Além das pressões apresentadas acima, vemos também mais um obstáculo


a ser vencido: a tecnologia. Em 2018 a “Cultura Digital” foi apresentada como uma
das competências da BNCC (Base Nacional Comum Curricular):
Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e
comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas
práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e
disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e
exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. (BNCC, 2018)

Apesar disso, muitos docentes precisaram se adaptar, treinar, inovar e até


mesmo quebrar paradigmas e preconceitos em relação aos avanços tecnológicos
que de repente se tornaram seu principal instrumento de trabalho, e a única ponte
de conexão com os seus alunos, o que dificultou o processo de ensino
aprendizagem, tendo em vista que se faz necessário que tanto os professores
quanto os estudantes tenham acesso a esses recursos tecnológicos, e também o
conhecimento necessário para utilizá-los, conhecimento este que passa a ser
exigido dos responsáveis pelos alunos em casos de aulas remotas para crianças.

Afinal, realizar atividades não presenciais exige dos professores e dos


estudantes recursos tecnológicos e conhecimentos específicos para
manejá-los. (OLIVEIRA,, 2020, p 2).

Porém, dentre os nossos respondentes, podemos observar que este


obstáculo não foi tão desafiador para aqueles que já eram adeptos da tecnologia
educacional.

“Minha adaptação ao contexto pandêmico foi bem tranquila, não tive


dificuldades em utilizar metodologias ativas e as novas tecnologias….”
(Professor 5)

Este professor atua na rede estadual de ensino, e trouxe uma resposta que
difere dos profissionais da rede privada. Para Oliveira e Júnior (2020) isso se dá
porque as redes estaduais (dentro do ensino público) possuem uma capacidade
maior de investimento. Porém, apesar das possibilidades de investimento de
algumas escolas da rede privada, tem-se também a questão da empregabilidade
que foi colocada em risco devido a pandemia do COVID-19.

Além de estarem inseridos num contexto de caos mundial, tendo que lidar
com um vírus novo e desconhecido, também se viam tendo seus empregos em
perigo, pois o cenário econômico foi extremamente afetado, e principalmente as
escolas que foram fechadas. Então podemos observar uma urgência em superar os
obstáculos e conseguir alcançar os resultados necessários e manter seus
empregos, afinal tivemos muitas escolas em todo o Brasil que fecharam suas portas
e tiveram que demitir seus funcionários.

Contudo, além de toda essa questão de adaptação às novas metodologias do


ensino remoto, e pressões sofridas por diversos lados, os professores respondentes
apresentaram uma preocupação em comum: o aprendizado efetivo de seus alunos.
Através dessa nova realidade, podemos observar um impacto no processo de
desenvolvimento dos alunos e este será tratado a longo prazo. Segundo Vygotsky, o
desenvolvimento cognitivo do aluno se dá através da interação social, ou seja, de
sua interação com outros indivíduos. E como isso se faz possível num contexto de
isolamento social? As crianças passaram a interagir com uma tela e não com
pessoas, fato que afetou de forma significativa os alunos da Educação Infantil, por
exemplo.

Além da interação, se faz necessário que tanto os profissionais quanto os


alunos possuam recursos tecnológicos para participar das aulas, como: conexão à
internet, aparelho celular ou um computador. e isso muitas vezes não acontece:

Outro aspecto importante é que os estudantes possuem bem menos


acesso a recursos tecnológicos necessários ao ensino remoto do que os
professores. A parcela de professores que não os possuem é de 17,4%, ao
passo que atinge 66,2% entre os estudantes (Gráfico 2). Em outras
palavras, cerca de dois em cada três estudantes não dispõem de recursos
tecnológicos para acompanhar as aulas a distância. (OLIVEIRA, 2020, p.
13)

Com esses dados, podemos ter uma pequena ideia de quantos alunos foram
prejudicados pedagogicamente pela pandemia, e por mais que existam esforços de
ambos os lados, o contexto de desigualdade social no nosso país não possibilita
uma educação de qualidade através do ensino remoto. Não há garantias de
aprendizagem, não há avaliação efetiva. Não há nada que certifique que aquele
aluno realmente aprendeu e realizou aquela atividade. Esta é uma dívida que
perdurará por longos anos na educação do nosso país, e uma das principais
sequelas que levaremos desse período tão crítico.
CONCLUSÃO

Ao analisarmos o resultado da pesquisa, considerando a falta de políticas


públicas nesse país e a falta de estrutura na rede privada , a pandemia de
COVID-19 tornou o cenário da educação brasileira muito mais excludente. Os
professores que responderam a pesquisa afirmam que sofreram obstáculos para se
adaptar, precisam se capacitar tecnicamente para manusear os instrumentos
tecnológicos, aprenderam a ver a escola de um outro parâmetro, pois a sala de aula
ultrapassou as paredes da escola e isso levou a uma maior carga de trabalho
tornando mais exaustiva a realização da prática docente.

REFERÊNCIAS:

Alves, Nancy Nonato de Lima. “Amor à profissão, dedicação e o resto se aprende”:


significados da docência em educação infantil na ambigüidade entre a vocação e a
profissionalização. Universidade Federal de Goiás, 2006

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.

Oliveira, Dalila Andrade; Junior Pereira, Edmilson Antonio. Trabalho docente em


tempos de Pandemia: mais um retrato da desigualdade educacional brasileira.
2020

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