METROLOGIA – 2003 – Metrologia para a Vida

Sociedade Brasileira de Metrologia (SBM)

Setembro 01-05, 2003, Recife, Pernambuco - BRASIL

ASPECTOS DE SEGURANÇA QUANTO AOS CAMPOS MAGNÉTICOS

PRODUZIDOS DURANTE A EXECUÇÃO DE SERVIÇOS DE CALIBRAÇÃO
EM ALTA CORRENTE

Ademir Martins de França 1 , Patrícia Cals de Oliveira 1 ,

Luiz Napoleão Pereira 1 , Ana Maria Ribeiro Franco 1
1
Laboratório de Transformadores (Latra)
Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro)
Av. Nossa Sra. das Graças, nº 50, Xerém, 25250-020, Duque de Caxias, RJ, Brasil
Fone: +55 21 2676-9095, Fax: +55 21 2679-1627
latra@inmetro.gov.br

Resumo 20 a 1000 A e futuramente em até 5000 A) que produzem

Este artigo tem por objetivo apresentar os níveis da
densidade de fluxo magnético a 60 Hz a que os
metrologistas podem estar submetidos em suas atividades
profissionais durante a execução de calibrações de
transformadores de corrente.
Traz um alerta quanto aos efeitos dos campos e apresenta
ainda os critérios e as recomendações internacionais quanto
aos níveis máximos permitidos.
Mostra que a adoção de simples controles técnicos e
administrativos podem garantir a execução dos serviços
com segurança, conforto e sem riscos às pessoas, nela
envolvidas.
Palavras chave: Altas correntes, efeitos dos campos,
segurança
1. INTRODUÇÃO
Em face das incertezas dos possíveis efeitos adversos à
saúde provocada pelos campos magnéticos, dos recentes
questionamentos e preocupações dos empregados da área
elétrica e industrial com relação ao ambiente de trabalho, da
carência de informações dos níveis existentes em nossas
instalações elétricas, faz-se necessário uma avaliação
criteriosa destes níveis, visto que, o mencionado efeito pode
resultar em eventuais riscos à saúde, provocar desconfortos
e comprometer a segurança das pessoas além de poder
comprometer a calibração e os próprios equipamentos
devido a compatibilidade eletromagnética.
elevados campos magnéticos a 60 Hz.
A regra geral estabelecida pela OMS/ICNIRP (Organização
Mundial de Saúde/ International Committee on Non
Ionization Radiation Protection) e seguida pelo Latra é
manter a exposição ocupacional dentro dos limites
estabelecidos. Isso significa que todos os esforços devem ser
feitos para identificar tais locais e quando excedidos os
limites permitidos, reduzir ao máximo a exposição, sem
prejuízo da sua utilização.
Este artigo apresenta:
• os estudos e pareceres sobre os efeitos dos campos,
• os critérios e recomendações internacionais quanto
aos níveis máximos permitidos,
• os níveis das densidades de fluxo magnético,
medidos em vários locais do laboratório, durante
uma calibração de transformador de corrente,
• as soluções adotadas pelo Latra para resguardar
todos os possíveis aspectos adversos que o s campos
possam causar.
Pretende-se que os resultados deste informe técnico possam
contribuir para que a discussão interna do assunto, nos
diversos laboratórios da RBC (Rede Brasileira de
Calibração), constitua um patamar mínimo a partir do qual,
decisões gerenciais de enfrentamento do problema possam
ser tomadas à luz de fatos com consolidação científica e
tecnológica melhorando a percepção, comunicação e
gerenciamento dos riscos devidos aos campos magnéticos.
2. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Antecipar, reconhecer, avaliar e controlar estes riscos tem
sido uma constante preocupação do Latra - Laboratório de
Transformadores do Inmetro, pois nas atividades que
executa durante a calibração de transformadores de
correntes, utiliza-se de altíssimas correntes (no momento de
Em termos de dis túrbios elétricos que as instalações de alta
tensão em corrente alternada podem provocar, distinguem-se
como principais fontes perturbadoras às tensões e as
corrente elétricas produzidas pelas referidas instalações. À
tensão elétrica e a corrente elétrica podem-se associar
aqueles efeitos decorrentes da ação direta ou indireta,
prolongada ou não, do campo elétrico e do campo
magnético, respectivamente.
A princípio os efeitos dos campos se classificam como:
diretos : são aqueles resultantes do acoplamento direto de
um campo elétrico ou magnético com o corpo humano.
indiretos : são aqueles resultantes do acoplamento de um
campo elétrico ou magnético com algum objeto e deste para
uma pessoa que efetua o contato.
Este trabalho se aterá única e exclusivamente aos efeitos da
exposição ao campo magnético em 60 Hz, durante curtos
períodos, embora no seu decorrer, para melhor
compreensão, sejam feitas algumas considerações sobre
campo elétrico e sobre os efeitos de longa duração. Tal fato
deve-se ao tipo de exposição a que metrologistas de
calibração em alta corrente estão submetidos (curta
exposição) e ao fato de que os resultados de pesquisas
biológicas sobre exposição a campos de baixa intensidade e
por longa duração não são suficientemente seguros, para
poder servir de base científica e portanto, embora sejam
ainda fontes de preocupação, não podem ser normalizados.
Questionamentos sobre os alegados efeitos à saúde, sem um
respaldo de certeza científica, devido à exposição aos
campos por longo período, mesmo com níveis da ordem de
de 2 a 4 mG, sempre existirão. O NIEHS (National Institute
of Environmental Health Sciences) admite como sendo
extremamente complexo provar tanto a existência como a
inexistência de algum risco à saúde e que a pesquisa
certamente ainda se encontra numa fase de amadurecimento
de uma hipótese fraca a não existente levantada pela
epidemiologia, qual seja a suspeita de leucemia em crianças.
Alguns pareceres, sobre os efeitos de exposição de longa
duração dos campos magnéticos, foram emitidos por
diferentes e conceituadas organizações. Dentre eles pode-se
citar:
NAS (National Academy of Science) – 1997 [1]
As evidências não mostram que os campos de
50/60 Hz apresentem perigo à saúde humana.
Especificamente, nenhuma evidência conclusiva e
consistente mostra que a exposição a campos
elétricos e magnéticos produzem câncer , efeitos
neurocomportamentais adversos ou efeitos sobre a
reprodução e ou desenvolvimento.
NCI (National Cancer Institute) - 1997
Não foi encontrada nenhuma evidência de aumento
de risco de leucemia em crianças devido aos
campos magnéticos residenciais.
EMF RAPID (Electric and Magnetic Fields (EMF) Research
and Public Information Dissemination (RAPID) –1999 [2].
Classificou os CEM (Campo elétrico e magnético)
a 60 Hz como possível carcinógeno aos seres
humanos. Entretanto, as evidências são
insuficientes para merecerem ações regulatórias
agressivas.
Nota: O café também está incluído nesta
classificação. Se fosse provável seria
cientificamente comprovado.
Os serviços em calibrações são eventuais e portanto não
enquadram na exposição de longa duração. Dada esta
peculariedade, este trabalho, conforme já mencionado, trata
apenas dos efeitos de curta duração que existem, são
comprovados cientificamente, e já têm recomendações para
normalizações,
Por este motivo as empresas devem estar atentas a valores
normalizados visto que os efeitos de curta duração, descritos
no decorrer deste artigo, por envolver a saúde, conforto e
segurança das pessoas, devem ser objeto de uma cuidadosa
investigação, que é o foco deste trabalho.
2.1 Um pouco mais de conceitos
Quando se trata da questão do perigo dos campos elétricos e
magnéticos (CEM’s) são usados freqüentemente termos
como "interação", "efeito", "dano", "risco", que podem às
vezes causar equívocos. É portanto oportuno investir algum
tempo para que se entenda bem esta terminologia.
Campos elétricos e magnéticos são produzidos por linhas de
transmissão, fiação elétrica e equipamentos elétricos. Há
ainda muitas outras fontes de CEM's, mas o objeto do
presente artigo é restringir-se as associadas por fontes de
alta corrente.
Campos elétricos e magnéticos são expressos por linhas de
força invisíveis que envolvem qualquer dispositivo elétrico,
material ou ser vivo. Os campos elétricos são produzidos
pela tensão e aumentam na medida em que a intensidade da
tensão se eleva. Sua unidade de medição é quilovolt/metro
(kV/m).
Campos magnéticos resultam do fluxo da corrente através
dos fios e cabos de dispositivos elétricos e aumentam em
intensidade quando a corrente aumenta. Suas unidades
típicas de medição são o gauss (G) e o tesla (T), sendo que
vale a relação : 1 T = 10.000 G ou ainda 1 microTesla = 10
miliGauss. A unidade microTesla e miliGauss são as
unidades mais utilizadas em pesquisas de correlação CEM's
e saúde humana
Os campos elétricos de 60 Hz são facilmente blindados ou
enfraquecidos por materiais que conduzem eletricidade,
incluindo árvores, edifícios, ou a pele humana. Os campos
magnéticos de 60 Hz, por sua vez, passam por quase todos
os materiais e apresentam grandes dificuldades de
blindagem. Ambos, no entanto, decaem à medida que a
distância às fontes aumenta
Vários parâmetros permitem descrever as características
físicas dos campos. No caso, interessam :
• a amplitude - que é uma medida da intensidade das
forças produzidas pelos campos.
• a freqüência - que indica quão rapidamente a
amplitude varia com o tempo.
Quando um organismo biológico encontra-se em um campo
elétrico e magnético há inevitavelmente uma interação entre
os campos, as cargas e correntes elétricas presentes nos
tecidos do organismo, que, devido à baixa freqüência,
comportam-se, em geral, como bons condutores.
Em conseqüência de interações no interior do organismo são
induzidas grandezas físicas (campo elétrico, campo
magnético, densidade de corrente) dependentes da
intensidade e da freqüência dos campos e da modalidade de
exposição (intermitente, constante, etc).
As normas de segurança têm o objetivo de proteger os
indivíduos contra as conseqüências da exposição a agentes
potencialmente adversos, esteja a exposição ligada à
atividade de trabalho (expostos profissionalmente) ou não
(população em geral).
Em um plano mais geral, as normas de segurança pretendem
dar uma proteção contra o risco de que se sofra um dano, já
que um efeito normalmente indiferente pode escapar ao
controle dos mecanismos fisiológicos de compensação,
dando lugar a um dano. Tal seria o caso de exposição
repetida e prolongada, dita também "crônica". O dano não é
certo, mas pode-se estabelecer a sua probabilidade com
base, por exemplo, na intensidade e duração da exposição.
2.2 Campos elétricos e magnéticos e os seres vivos
O conjunto de campos elétricos e magnéticos, desde
freqüências mais baixas até as mais altas, é conhecido como
espectro eletromagnético. Este espectro engloba desde as
freqüências extremamente baixas (de 3 Hz a 3 kHz) até
extremamente altas, como nos raios X e gama (freqüências
maiores que 1017 e 1019 Hz, respectivamente). Entre estes
dois extremos têm-se as ondas de rádio (106 a 1010 Hz),
microondas (1010 a 1012 Hz), radiação infravermelha (1012 a
1014 Hz), luz visível (1014 Hz) e a radiação ultravioleta (1015
a 1017 Hz).
A gama de freqüências vizinhas à freqüência de 60 Hz é
conhecida como região não ionizante do espectro. Nesta
região não existe energia suficiente nos campos para a
ruptura de ligações químicas de moléculas presentes em
células vivas, como ocorre na região de freqüências milhões
de vezes superiores (Raios X, por exemplo), conhecida por
este motivo como região ionizante do espectro.
Hoje em dia, negar as interações eletromagnéticas sobre o
mecanismo da vida seria um contra-senso. A biologia
moderna considera que os organismos vivos são sistemas
abertos, ou seja captam do meio ambiente, perto ou longe, as
informações alterando o ritmo interno do ser vivo.
O ser vivo pode ser considerado globalmente como um
conjunto de processos elétricos interagindo com os
mecanismos bioquímicos.
Algumas ondas eletromagnéticas naturais da biosfera (e
outras produzidas artificialmente), podem influenciar de
forma positiva ou negativa nos mecanismos da vida. O
equilíbrio fisiológico do ser humano varia conforme o
horário (noite e dia) e conseqüentemente os limites de
exposições aos campos eletromagnéticos no corpo humano
devem variar conforme a hora do dia. O período de
exposição ao campo eletromagnético também poderá alterar
o equilíbrio fisiológico do ser humano.
Todo ser vivo funciona com um certo nível de eletricidade e
conseqüentemente toda perturbação eletromagnética no
meio ambiente interferirá eventualmente nas nossas funções
vitais, mas pode não ser uma ameaça à saúde e portanto não
comportar um risco.
Campos elétricos e magnéticos podem causar o efeito de
induzir correntes em materiais condutores, inclusive em
tecidos e fluidos de um ser vivo, podendo vir a causar
aquecimento destes materiais (chamado efeito térmico).
No caso da freqüência industrial de 50 ou 60 Hz, os
cientistas têm desenvolvido considerável esforço na
pesquisa quanto aos efeitos térmicos e aos efeitos de longa
duração.
Todas as instalações elétricas hoje existentes, têm seu
projeto baseado nos efeitos térmico, com uma larga margem
de segurança contra a ocorrência do mesmo, fator 10 para
atividades ocupacionais e 50 para o público em geral.
A tendência é o da recomendação de níveis diferentes para o
público em geral e para os trabalhadores da área elétrica pois
a primeira classe pode estar completamente desprevinida
sobre os possíveis efeitos de exposição.
Em 1990, para tratar a questão já tornada pública, a
prestigiosa International Non-Ionizing Radiation
Committee da International Radiation Protection Agency
(INIRC - IRPA), publicava no "Health Physics" o artigo
"Interim Guidelines on Limits of Exposure to 50/60 Hz
Electric and Magnetic Fields" que sugeria os níveis de
exposição máximos admissíveis para profissionais expostos
e para a população em geral. Mais recentemente, essa
mesma Instituição, agora com a sigla de ICNIRP publicou
essa norma revisada [3] cujos níveis propostos encontram-se
reproduzidos na próxima seção.
3. LIMITES DE EXPOSIÇÃO AOS CAMPOS
ELÉTRICOS E MAGNÉTICOS
Nos dias atuais, o que há de concreto e cientificamente
provado são os critérios resultantes dos efeitos térmicos nos
tecidos humanos.
Os efeitos diretos, já comprovados, de curta duração do
campo magnético sobre a saúde são devidos as correntes
elétricas induzidas no corpo humano por esse campo. A
avaliação dessa corrente depende de vários fatores como:
dimensão do corpo, forma da parte do corpo exposta, da
condutividade dos tecido, etc.
O cálculo dessa corrente é um tanto complexa. Literaturas
mais recentes mostram que em modelos do corpo humano
seria induzida uma corrente de 2 mA/m2 para um campo de
833 mG em 60 Hz.
Em termos de riscos à saúde é difícil correlacionar
precisamente as densidades de correntes nos tecidos internos
com a intensidade da densidade do fluxo magnético ou do
campo elétrico.
Entretanto, já há uma concordância sobre os efeitos que
dependem dessa corrente.. De acordo com o ICNIRP, os
efeitos para as diferentes intensidades de densidades de
corrente são :
• Menor que 2 mA/m2 - Induzido por densidade de fluxo
magnético de aproximadamente 1000 mG - Nenhum
efeito conhecido sobre a saúde. Obs : Em muitos
órgãos do corpo humano a densidade de corrente
natural se enquadra nesta faixa.
• Entre 2 e 10 mA/m2 – Induzido por densidade de fluxo
magnético acima de 1000 até 5.000 mG em 60 Hz -
Pouquíssimos efeitos biológicos registrados. Mudanças
no metabolismo do cálcio e suspeitas na supressão na
produção de melatonina. Obs : A densidade de corrente
natural do coração e do cérebro se enquadra nesta
faixa.
• Entre 10 e 100 mA/m2 - Induzido por densidade de
fluxo magnético acima de 5.000 até 50.000 mG em 60
Hz - Efeitos biológicos bem definidos como: mudanças
na latência de respostas em testes complexos de
raciocínio; fracas sensações visuais oscilatórias,
conhecidas como fosfenos magnéticos.
• Entre 100 e 1000 mA/m2 - Induzido por densidade de
fluxo magnético acima de 50.000 até 500.000 mG em
60 Hz –São excedidos os limiares para mudanças
agudas na excitabilidade do sistema nervoso central e
outros efeitos agudos.
• Acima de 1000 mA/m2 - Maior que 500.000 mG –
Provocam excitação neural e podem produzir efeitos
biológicos irreversíveis, tais como fibrilações
cardíacas.
Segundo o CENELEC (Comité Européen de Normalisation
Electrotechnique) [4], há consenso de que, entre as
freqüências de 4 a 1000 Hz, uma densidade de corrente da
ordem de 10 mA/m2 para trabalhadores e 4 mA/m2 para o
público em geral estabelece uma margem segura para que
não haja estimulação de nervos e tecidos.
Além dessas instituições, outras organizações
governamentais e profissionais, tais como a NRPB-UK-
(National Radiological Protection Board) e a ACGIH –
(American Conference of Governmental Industrial
Hygienists,Inc), desenvolveram normas para exposições aos
campos eletromagnéticos
Como complemento aos efeitos à saúde o mais diretamente
relacionado aos campos magnéticos é o da influência em
marca-passos cardíacos.
3.1 Efeitos em marca-passos
A operação do marca-passo pode ser prejudicada por
determinados níveis de campos à freqüência industrial que
podem ser encontrados tanto em trabalhos ocupacionais
como nas proximidades de linhas e subestações. A
sensibilidade do marca-passo cardíaco e a severidade dos
efeitos dependem do projeto e do modelo. As interferências
podem causar inibição do estímulo, deflagração
inapropriada, reversão para modo assincrônico e aceleração
indevida. As alterações podem ser transitórias ou
permanentes e causar arritmias.
O ICNIRP calculou que a interferência poderia ser causada
por campos tão baixos como 150 mG mas afirma que existe
somente uma pequena probabilidade de mal funcionamento
para os níveis na faixa de 1000-2000 mG.
Um estudo teórico realizado em 2002 [5] mostrou que
interferências em marca-passos podem ocorrer em campos
magnéticos da ordem de 400 mG.
O ICNIRP recomenda que os usuários de marca-passo ou de
qualquer outro dispositivo médico implantado que
trabalham ou moram em ambientes com altos níveis de
campo magnético, devem ser aconselhados a não transitarem
em regiões onde os campos excedam os valores
mencionados. A ACGIH estabelece um limite de 1000 mG.
3.2 Bases para limitar a exposição
Estas diretrizes para limitação da exposição foram
desenvolvidas após uma análise abrangente de toda a
literatura científica publicada. Os critérios aplicados durante
a revisão, foram desenvolvidos para avaliar a credibilidade
dos vários resultados relatados e somente efeitos
estabelecidos foram usados como base para as restrições das
exposições propostas. A indução de câncer pela exposição
de longa duração a CEM, não foi considerada estabelecida.
Por essa razão, estas diretrizes são baseadas em efeitos na
saúde de caráter imediato, a curto prazo, tais como
estimulação dos nervos periféricos e músculos, choques e
queimaduras causadas por tocar em objetos condutores, e
elevação de temperatura nos tecidos, resultante da absorção
de energia durante exposição a CEM. No caso dos efeitos
potenciais da exposição a longo prazo, tais como aumento
de risco de câncer, a ICNIRP concluiu que os dados
disponíveis são insuficientes para prover uma base para
fixar restrições à exposição, embora pesquisas
epidemiológicas tenham produzido evidências sugestivas,
mas não convincentes, de uma associação entre possíveis
efeitos carcinogênicos e a exposição a densidade de fluxo
magnético de 50/60 Hz em níveis substancialmente
inferiores aos recomendados nestas diretrizes.
A compilação é mostrada na tabela 1. De uma forma
resumida pode-se dizer que :
• para os possíveis efeitos biológicos devido a exposições
de longa duração, não existem normas pois estas só
podem estar baseadas em dados cientificamente
comprovados, que não é o caso em questão.
• para os efeitos biológicos de curta duração, mesmo
cientificamente comprovados, não existe um consenso
com relação aos níveis de critérios pois, existem
diferenças entre os fatores de segurança adotados.
A tendência é a adoção dos níveis de campos normalizados
pela ICNIRP fazendo a ressalva que, para os camp os
magnéticos, os limites normalizados referem-se ao
conhecimento, já comprovado, dos efeitos térmicos e não
aqueles devidos à exposição de longa duração que ainda,
conforme já mencionado, encontram em fase de pesquisa.
Seguir estas normas, no atual conhecimento, assegura
adequada proteção para o público em geral e para os
trabalhadores da área elétrica pois, segundo evidências
científicas, não comportam riscos à saúde com campos
inferiores a esses limites
 Tabela 1 - Compilação dos valores de magnético normalizados pelas principais entidades internacionais

Tipo de exposição INTENSIDADE DE CAMPO Densidade de corrente

Hef (mG) (mA/m2)

ICNIRP CENELEC NRPB-UK ACGIH ICNIRP CENELEC

Trabalhadores 4200 13.300 10.000 10 10
(durante jornada de trabalho) 13.300
Trabalhadores (c)
(durante período curto)
Público 833 13.300 2 4
(exposição permanente) (a) 5.000
Público (exposição algumas
horas/dia) (b)
(a) Esta restrição se aplica ao público em geral podendo permanecer uma parte substancial da jornada em áreas livres tais como
zonas recreativas, áreas de aglomeração, etc
(b) Os valores podem ser excedidos alguns minutos por dia, com a condição de que precauções sejam tomadas para evitar os efeitos
de acoplamentos indiretos.
(c) Para situações onde a prática de trabalho é bem conhecida são feitas considerações no sentido de permitir que os valores sejam
maiores que o nível de referência mostrado. Em 60 Hz pode-se admitir, com duração à exposição restrita, valores até
aproximadamente 40.000mG.

5. MEDIDOR DA DENSIDADE DE FLUXO

4. MEDIDAS DE PROTEÇÃO
A ICNIRP considera que as indústrias que causam
exposição a campos elétricos e magnéticos são responsáveis
pelo atendimento a todos os aspectos das diretrizes. Medidas
para a proteção de trabalhadores incluem controles técnicos
e administrativos, programas de proteção de caráter pessoal
e supervisão médica. Devem-se tomar medidas de proteção
adequadas quando a exposição no local de trabalho resulta
acima dos níveis de referência. Como primeiro passo,
devem ser aplicados
• controles técnicos,
onde for possível reduzir em níveis aceitáveis a
emissão de campos por dispositivos.
MAGNÉTICO.
O aparelho para a medição da densidade do fluxo magnético
(popularmente chamada de intensidade de campo
magnético) na freqüência industrial foi o modelo EFM 131
da Electric Field Measurements Co.- figura 1, também com
enorme aceitação mundial
Este medidor é composto basicamente pelos seguintes
elementos:
• Sensor (bobina)
• Multímetro digital - modelo 3800 da METEX

• controles administrativos,
tais como as limitações de acesso e o uso de
alarmes audíveis e visíveis, devem ser usados em
combinação com controles técnicos.
• controles técnicos e administrativos
devem ter prioridade, sempre que possível.

É também essencial estabelecer e respeitar regras que

evitem:
• interferência com equipamentos eletrônicos e aparelhos
médicos (inclusive marca-passos cardíacos).
Baseado nestas premissas e ressaltando uma vez mais que o
foco deste trabalho restringe-se aos campos magnéticos em
60 Hz e os seus efeitos de curta duração, o Latra, buscou
avaliar os níveis existentes em suas instalações quando da
realização de trabalho de calibração em TC. O medidor
utilizado, os resultados encontrados e as medidas tomadas
são relatadas a seguir.
Fig. 1–Medidor da densidade do fluxo magnético
O princípio de operação deste medidor pode ser explicado
pela força eletromotriz induzida nesta bobina como
conseqüência da variação do fluxo magnético.
Este aparelho tem as seguintes características:
• Sensor (bobina cilíndrica com 5 cm de comprimento e 3
cm de diâmetro)
• Faixa de medição: 0.1 mG a 100 G
• Certificado calibração - NIST
• Resolução: 0.1 mG (0,1 mV) na escala de 200 mV AC
• exatidão: +/- 1% 6. RESULTADOS
• Resposta linear: faixa de 15 Hz a 20 kHz A tabela 2 mostra, para uma corrente injetada de 100 A, os valores
Obs: outros mu ltímetros podem ser usados mas há várias de campo, medidos ao longo dos diversos caminhos identificados
no esquema anterior.
razões para utilizar o indicado porque:
• A bobina foi calibrada e ajustada para a impedância do
Tabela 2 - Níveis de campo - Valores em miligauss
METEX 3800 a qual pode diferir de outros multímetros.
• O METEX 3800 contém o mínimo possível de material Caminhos Intensidade de campo (mG)
ferroso portanto com menores possibilidades de e Distância ao longo dos caminhos (cm)
distorcer o campo magnético. Locais 0 20 30 40 50 60 70 80 100
• O METEX 3800 tem uma blindagem elétrica adicional A/B 1120 743 900 316 375 492 180
C/D 825 930 820 667 388 336 191 35
5.1 Procedimentos para medição E/F 290 343 357 271 163 156 108 95 57
G/H 108 114 160 170 74 64 56 60
As medições de campo magnético seguem as I 2340
recomendações de normas IEEE Std 644-1979. II 5630
III/IV 1200 360 50
A bobina deve ser orientada nas direções x, y e z de forma a V 2
ler o campo magnético nas direções horizontal, vertical e VI 2
perpendicular a fonte geradora deste campo. A intensidade VII 500
do campo será a raiz quadrada do somatório quadrático VIII 500
destas três componentes.
Nota: O níveis de campo variam na mesma proporção da
Para achar o campo máximo a bobina deve ser girada em variação da corrente aplicada
várias direções até encontrar aquela que corresponde a
máxima leitura. Pode-se observar em vários pontos que, mesmo para a corrente
considerada de 100 A, os limites estabelecidos podem ser
As leituras são feitas diretamente no multímetro onde 1 mV excedidos e portanto deve-se tomar medidas de proteção adequadas
corresponderá a 1 mG. quanto a exposição a esses níveis de campo. Para correntes
superiores os níveis serão superiores e proporcionais ao aumento
Nota: O campo magnético não é afetado pela presença do da corrente.
operador nem pela presença do medidor, que é feito de
material não magnético.
7. DISCUSSÃO

6. ESQUEMA DA CALIBRAÇÃO Como o Latra pode executar serviços com corrente 50 vezes
superior à referenciada na tabela, que produzirão
consequentemente níveis de campo 50 vezes superiores,
A figura 2 mostra um esquema com a disposição dos equipamentos
e o posicionamento dos técnicos durante a execuçào de serviços de tornou-se necessário adotar as seguintes soluções:
calibração em TC’s. Nesta figura estão di entificadas dois
• Conscientizar os técnicos sobre os prováveis e sobre os
posicionamentos dos operadores. Um na posição inicial,
considerado prático para o manuseio, da fonte de corrente e da alegados problemas devido ao campo magnético de
ponte de medição, por um ou 2 técnicos. Outro na posição final, curta e longa duração, respectivamente.
que é o adotado pelo Latra, em função dos resultados mostrados a • Conscientizar os técnicos a não tocarem nos cabos de
seguir. alta corrente.
• Proibir o acesso de usuários de marca-passos ou de
qualquer outra pessoa estranha ao serviço de calibração
/
100 cm
/
6 0 cm
/
60 cm
/
de TC’s.
Comp.
FONTE
F • Reposicionar a ponte de medição e os técnicos
IV III D

VI
Ajuste
fino
Téc H
envolvidos no serviço conforme mostrado na “posição
P
o B
Ajuste
II
final” do esquema de calibração.
n Comp.
V VII
t

Téc
e
Ponte
Padrão
T II I
Terminais alta
Tais medidas possibilitam manter a exposição ocupacional dentro
I P
corrente
dos limites térmicos estabelecidos para qualquer nível de corrente
na faixa utilizada ou a ser utilizada pelo Latra, qual seja de 20 a
VI II
/
100 cm
/
Téc
I
Téc
5000 A. Para a corrente máxima os técnicos 1 e 2 ficariam
II
submetidos aos níveis de campo de 100 e 3000 mG
legenda A C E G respectivamente, valores esses inferiores ao limite de 4200 mG
Posição ini c i a l recomendado pela ICNIRP.
Posição f i n a l

8. CONCLUSÕES
Fig. 2 – Esquemático de calibração em TC’s
No momento, pode-se dizer que não cabem outras medidas
que não as de verificação da conformidade das instalações
elétricas com os valores normalizados, e as de obtenção de MSc, Patrícia Cals de Oliveira, Laboratório de
informações cientificamente sólidas de modo a que se possa Transformadores, Inmetro, Av. Nossa Sra. das Graças, nº
traçar uma eficiente estratégia de percepção, comunicação e 50, Xerém, 25250-020, Duque de Caxias, RJ, Brasil, Fone:
gerenciamento desses alegados efeitos +55 21 2676-9095, Fax: +55 21 2679-1627,
pcoliveira@inmetro.gov.br
Seguir as normas apresentadas, no atual conhecimento,
assegura adequada proteção para trabalhadores da área MSc, Ana Maria Ribeiro Franco, Laboratório de
elétrica pois, segundo evidências científicas, não comportam Transformadores, Inmetro, Av. Nossa Sra. das Graças, nº
riscos à saúde com campos inferiores a esses limites 50, Xerém, 25250-020, Duque de Caxias, RJ, Brasil, Fone:
+55 21 2676-9074, Fax: +55 21 2679-1627,
Assim, enquanto a comunidade científica trabalha na
amfranco@inmetro.gov.br
definição mais apurada dos limites de exposição a regra
geral estabelecida pela OMS/ICNIRP é manter a exposição Técnico, Luiz Napoleão Pereira, Laboratório de
ocupacional dentro dos limites térmicos estabelecidos. Isso Transformadores, Inmetro, Av. Nossa Sra. das Graças, nº
significa que todos os esforços devem ser feitos para 50, Xerém, 25250-020, Duque de Caxias, RJ, Brasil, Fone:
identificar tais locais e quando excedidos os limites térmicos +55 21 2676-9095, Fax: +55 21 2679-1627,
normalizados, reduzir ao máximo a exposição, sem prejuízo lnpereira@inmetro.gov.br
da sua utilização.
Espera-se que este trabalho tenha atingido seus objetivos ,
quais sejam o de alerta aos possíveis efeitos dos campos,
magnéticos, a necessidade de uma melhor concientização
dos trabalhadores em sistemas de alta corrente, e a
necessidade de uma discussão mais profunda sobre o
assunto envolvendo outras áreas de conhecimento de forma
a que soluções simples e não dispendiosas possam garantir o
bem estar dos trabalhadores e a boa imagem da empresa no
tocante a segurança e saúde.

REFERÊNCIAS
[1]. Possible health effects of exposure to residential electric
and magnetic fields, National Academy Press,
Washington, D.C., 1997

[2]. Health Effects from Exposure to Power-Line Frequency

Electric and Magnetic Fields", 16/06/1999 de junho de
1999, National Institute of Environmental Health
Sciences (NIEHS)

[3]. ICNIRP – Guidelines for limiting exposure to time-

varying electric, magnetic, and electromagnetic fields
(up to 300 GHz) , April 1998, Health Physics – vol 74 –
n.4

[4]. CENELEC - Comité Européen de Normalisation

Electrotechnique; Human exposure to electromagnetic
fields, low frequency (0 Hz to 10 kHz ; January 1995

[5]. TW Dawson, K Caputa et al: Pacemaker interference by

magnetic fields at power line frequencies. IEEE Trans
Biomed Eng 49:254-262,2002

Autor:
MSc, Ademir Martins de França, Laboratório de
Transformadores, Inmetro, Av. Nossa Sra. das Graças, nº
50, Xerém, 25250-020, Duque de Caxias, RJ, Brasil, Fone:
+55 21 2676-9095, Fax: +55 21 2679-1627,
amfranca@inmetro.gov.br.