Você está na página 1de 208

AMAZON REGION

RIO+20

INTERVIEWS – WWF LIVING AMAZON INITIATIVE


INTERVIEWS

LAI

8 COUNTRIES AND 1 2012


6.7 OVERSEAS TERRITORY
MILLION KM2 Bolivia, Brazil, Colombia, Ecuador,
Guyana, Peru, Suriname, Venezuela,
Is the area of the Amazon French Guiana
Biome

350
Ethnic Groups

30 MILLION
People living in the Amazon
depend on its resources
90-140 BILLION
Metric tons of carbon stored
in the Amazon Forests

10%
Of the world´s species live in
the Amazon
Rio92, para onde foi? Rio+20, para onde vai?
Rio 92 what did it lead to? Rio+20 what will it lead to?
¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20?
LAI

Why we are here


To stop the degradation of the planet´s natural environment and WWF LIVING AMAZON INITIATIVE
PANDA.ORG

to build a future in which humans live in harmony with nature

panda.org

© 1986 Panda symbol WWF – World Wide Fund For Nature (Formerly World Wildlif e Fund)
® “WWF” is a WWF Registere d Trademar k. WWF, Avenue du Mont-Blanc, 1196 Gland,
Switzerland – Tel. +41 22 364 9111; Fax. +41 22 364 0332. For contact details and further
information, visit our inter national website at at panda.org
FICHA TÉCNICA
Denise Oliveira – Iniciativa Amazônia Viva - WWF
Coordenação | Coordination | Coordinación

Gilberto Costa
Entrevistas e Textos | Interviews and Texts | Entrevistas y Textos

Martin Charles Nicholl e Paulo Kol


Tradução Inglês | English Translation | Traducción al Inglés

Fernando Campos Leza


Tradução Espanhol | Spanish Translation | Traducción al Español

Paulo Kol, Luciano Monteiro, Leonardo Milani


Tradução Português | Portuguese Translation | Traducción al Portugués

Zig Koch
Foto da Capa | Cover Photo | Foto de la Portada

Denise Oliveira
Revisão | Revision | Revisión

Supernova Design
Layout | Layout | Diseño

Gráfica Athalaia
Impressão | Printing | Impresión

Brasília, maio e junho de 2012 | Brasilia, May and June, 2012 | Brasilia, mayo y junio de 2012

NOTA DE RESPONSABILIDADE
Esta publicação traz uma série de entrevistas e artigos sobre os 20 anos que se passaram entre as
conferências das Nações Unidas Rio 92 e Rio+20. As opiniões emitidas são de responsabilidade dos
entrevistados e autores.É permitida a divulgação desde que citadas as fontes e mantidos o contexto
apresentado e o texto na íntegra.

DISCLAIMER
This publication presents a series of interviews and articles on the 20 year interval between
the United Nation’s Rio 92 and Rio+ 20 Conferences. The opinions expressed are the exclusive
responsibility of the interviewees and the authors of the articles. The texts may be reproduced
provided they are unabridged, contextualised and the source is cited.

DESCARGO DE RESPONSABILIDAD
Esta publicación ofrece una serie de entrevistas y artículos sobre los veinte años transcurridos entre
lasconferencias de las Naciones Unidas Rio-92 y Rio+20. Las opiniones expresadas son las de los autores
y entrevistados.Se permite la divulgación, siempre y cuando se citen las fuentes y se mantenga el contexto
presentado y el texto completo.

R585r Rio 92, para onde foi? Rio +20, para onde vai? Coordenação: Denise
Oliveira. Iniciativa Amazônia Viva - WWF, Brasília, 2012.

208p.;il; color 29,7 cm.

1. Desenvolvimento Sustentável: Amazônia 2. Entrevistas: Meio Ambiente - Conferência 3. Política


Internacional 4. Relações Internacionais
5. Rio de Janeiro: Brasil

I. Iniciativa Amazônia Viva - WWF II. Rio+20 III. Título

CDU 338.1:502.3 =20=60


Rio92, para onde foi? Rio+20, para onde vai?
Rio 92 what did it lead to? Rio+20 what will it lead to?
¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20?

SOBRE A INICIATIVA AMAZÔNIA VIVA


A Iniciativa Amazônia Viva lidera os esforços da Rede WWF para garantir uma Amazônia
ecologicamente saudável e que mantenha sua contribuição ambiental e cultural às populações locais,
aos países da região e ao mundo, por meio da manutenção dos processos e dos serviços ecológicos,
em um sistema que propicie o desenvolvimento econômico inclusivo, com equidade social e
responsabilidade global.

ABOUT WWF LIVING AMAZON INITIATIVE


The living Amazon Initiative spearheads WWF Network’s efforts to guarantee an ecologically
healthy Amazon Biome that maintains its environmental and cultural contribution to local peoples,
the countries of the region and the world, by maintaining ecological processes and services within
a framework of that propitiates inclusive economic development with social equity and global
responsibility.

ACERCA DE LA INICIATIVA AMAZONIA VIVA


La Iniciativa Amazonia Viva lidera los esfuerzos de la Red WWF para asegurar una Amazonia
ecológicamente sana y que preserve su contribución ambiental y cultural a las poblaciones locales,
a los países de la región y a todo el mundo, por medio del mantenimiento de los procesos y servicios
ecológicos, en un sistema que propicie el desarrollo económico inclusivo, con equidad social y
responsabilidad global.

Brasília, maio-junho 2012


PORTUGUÊS 08

ENGLISH 74

ESPAÑOL 140
APRESENTAÇÃO | INTRODUCTION | PRESENTACIÓN 06 • 06 • 06
YOLANDA KAKABADSE
Presidente Internacional do WWF International President of WWF Presidenta Internacional de WWF
10 • 76 • 142
LEONARDO BOFF 14 • 80 • 146
Teólogo Teologist Teólogo

PAULO JOBIM
Arquiteto e Compositor Architect and Composer Arquitecto y Compositor
18 • 84 • 150
EDWIN VÁSQUEZ
Coordenador da COICA General Coordinator of COICA Coordinador General de la COICA
20 • 86 • 152
IGNACY SACHS
Economista Economist Economista
22 • 88 • 154
EDUARDO VIOLA
Sociólogo Sociologist Sociólogo
26 • 92 • 158
PAUL POLMAN
Empresário Entrepreneur Empresario 30 • 96 • 162
ODED GRAJEW
Engenheiro Engineer Ingeniero
34 • 100 • 166
JOSÉ GOLDEMBERG
Físico Physicist Físico
38 • 104 • 170
THOMAS LOVEJOY
Ecólogo Ecologist Ecologista
42 • 108 • 174
CARLOS NOBRE 44 • 110 • 176
Climatologista Climatologist Climatólogo

FLÁVIO PERRI
Embaixador Ambassador Embajador
48 • 114 • 180
IZABELLA TEIXEIRA
Bióloga Biologist Bióloga
52 • 118 • 184
TIÃO VIANA 58 • 124 • 190
Médico e Político Doctor and Politician Médico y Político

CLÁUDIO MARETTI
Geógrafo e Geólogo Geographer and Geologist Geógrafo y Geólogo
60 • 126 • 192
ROBERTO TROYA 60 • 126 • 192
Advogado Lawyer Abogado

MARIA WEY DE BRITO


Engenheira Agrônoma Agronomist Ingeniera Agrónoma
60 • 126 • 192
ALEJANDRO GORDILLO 66 • 132 • 198
Embaixador Ambassador Embajador

PAULO SOTERO 68 • 134 • 200


Jornalista Journalist Periodista
WWF Iniciativa Amazônia Viva

APRESENTAÇÃO | INTRODUCTION | PRESENTACIÓN


A Iniciativa Amazônia Viva da Rede tos expressos e a narração de fatos What follows are the statements
WWF apresenta uma série de entrevis- acontecidos são da livre convicção de of environmentalists, businessman,
tas, além de dois artigos, sobre a Con- cada fonte que gentilmente concedeu scientists, economists, diplomats, a
ferência das Nações Unidas sobre Meio entrevista ou se dispôs a escrever texto journalist, an indigenous leader and a
Ambiente e Desenvolvimento de 1992 a respeito. theologian on the contributions that
- a Rio 92 ou ECO 92 - e a Conferência A eles - Alejandro Gordillo, Carlos the first conference made to the envi-
das Nações Unidas sobre Desenvol- Nobre, Eduardo Viola, Edwin Vásquez, ronmental conservation, sustainable
vimento Sustentável - a Rio+20 - que Flavio Perri, Ignacy Sachs, Izabella development and the well being of the
exatas duas décadas depois acontece Teixeira, José Goldemberg, Leonardo population over the last twenty years.
no mesmo Rio de Janeiro (Brasil). Boff, Maria Cecília Wey de Brito, Oded Our aim is to make a contribution
Esta publicação busca trazer a me- Grajew, Paul Polman, Paulo Jobim, by putting forward ideas and proposals
mória de personagens daquele momen- Paulo Sotero, Roberto Troya, Thomas in the form of statements and lessons
to histórico, resgatar o legado daquela Lovejoy, Tião Viana e Yolanda Kakaba- learned by those interviewed and
conferência e ouvir desses especialis- dse - o nosso caloroso agradecimento underscore the issues and solutions for
tas quais as expectativas quanto ao pela contribuição e pela oportunidade the future of the Amazon, Brazil and
novo encontro. Desse contexto, veio a de compartilhar ideias. Latin America.
inspiração para o título Rio 92, para O mosaico dos depoimentos resulta It is on what resulted from the Rio
onde foi? Rio+20, para onde vai? em uma visão crítica quanto ao que 92 that the Rio+20 will be building;
A seguir serão apresentados os de- o mundo fez nos últimos 20 anos e it is with the values that have been
poimentos de ambientalistas, empre- às perspectivas que a Rio+20 pode forged in the period from one con-
sários, cientistas, economistas, diplo- gerar. Os pontos de vista bastante ference to the other that we will be
matas, além de jornalista, liderança agudos não esvaziam a importância da designing the possibilities for a more
indígena e teólogo sobre as contribui- Conferência das Nações Unidas sobre sustainable future.
ções que a primeira conferência trouxe Desenvolvimento Sustentável; pelo All those interviewed, whether from
nos últimos 20 anos para a preservação contrário, assinalam a importância do the market sector, the third sector, the
ambiental, o desenvolvimento sustentá- momento histórico. Tão valioso quanto political field, the academic world or
vel, o bem-estar da população. aquele de 1992. from civil society at large, in Brazil or
Nosso objetivo foi contribuir para in other countries, were involved in
evidenciar propostas e ideias por meio Boa leitura. some way with the Rio 92; all of them
dos depoimentos e lições aprendidas address sustainable development in
dos entrevistados e dar ênfase para as their present day lives are preparing to
questões e soluções de futuro para a WWF Living Amazon Initiative is take an active part in the Rio+20.
Amazônia, o Brasil e a América Latina. pleased to present a series of inter- Diversity of opinions and experi-
É sobre os desdobramentos da Rio views and two articles on the United ence was the criterion used to select
92 que parte a Rio+20; é com os valo- Nations Conference on Environment the personalities to be interviewed and
res forjados entre as duas conferências and Development – the Rio 92 –or the authors of the articles. No kind of
que podemos projetar as possibilida- ECO 92 and the United Nations Con- constraint or guidance was imposed
des e um futuro mais sustentável. ference on Sustainable Development on them. Thus the thoughts expressed
Todos entrevistados, sejam do – the Rio+20 - taking place exactly and the facts narrated are the untram-
mercado, do terceiro setor, do campo twenty years later in the very same city meled convictions of each of those who
político, da academia, ou da sociedade of Rio de Janeiro (Brazil). kindly granted an interview or agreed
civil – no Brasil e em outros países -, The publication presents the to write a text on the theme.
tiveram algum envolvimento com a Rio memories of that historic moment of To them - Alejandro Gordillo, Carlos
92, lidam com a pauta do desenvolvi- personalities that took part in it, ex- Nobre, Eduardo Viola, Edwin Vásquez,
mento sustentável no seu cotidiano e amines the legacy it handed down and Flavio Perri, Ignacy Sachs, Izabella
se preparam para atuar na Rio+20. hears from these experts what they Teixeira, José Goldemberg, Leonardo
A diversidade de opiniões e de ex- hope and expect will come out of the Boff, Maria Cecília Wey de Brito, Oded
periências foi o critério para a escolha new conference; hence the inspiration Grajew, Paul Polman, Paulo Jobim,
dos entrevistados e dos autores dos for the publication’s title Rio 92, what Paulo Sotero, Roberto Troya, Thomas
artigos. Sobre eles não pesou qual- did it lead to? Rio+20, what will it Lovejoy, Tião Viana and Yolanda Kak-
quer orientação. Logo, os pensamen- lead to? abadse – our warmest thanks for their

p. 6
WWF Iniciativa Amazônia Viva

contributions and for giving us an op- nes de futuro para la Amazonia, Brasil
portunity to share their ideas. y América Latina.
This mosaic of testimony composes Rio+20 parte de las consecuencias
a critical vision of what the world has de Rio 92, y los valores establecidos
been doing over the last 20 years and entre ambas conferencias nos permi-
what prospects may be delineated tirán proyectar nuevas posibilidades y
by the Rio+20. The sharply critical un futuro más sostenible.
points of view in no way detract from Todos los entrevistados —ya sean
the importance of the United Nations del ámbito del mercado, del tercer
Conference on Sustainable Develop- sector, de la política, la universidad
ment, quite the contrary, they serve to o la sociedad civil, y de Brasil u otros
highlight the importance of this his- países— tuvieron alguna relación con
torical moment; no less valuable than Rio 92, tratan con la agenda del desa-
the one in 1992 rrollo sostenible en su día a día o van a
participar en Rio+20.
Good reading. La diversidad de opiniones y de
experiencias ha sido el criterio para
seleccionar a los entrevistados y a los
La Iniciativa Amazonia Viva de WWF autores de los artículos. Se manifes-
presenta una serie de entrevistas, taron libremente, sin recibir ninguna

WWF US
además de dos artículos, sobre la Con- orientación, por lo que los pensamien-
ferencia de las Naciones Unidas sobre tos expresados y su narración de los
el Medio Ambiente y el Desarrollo de hechos reflejan las ideas de cada una
1992 (Rio 92 o ECO-92) y la Confe- de las personas que amablemente nos
rencia de las Naciones Unidas sobre el concedieron una entrevista.
Desarrollo Sostenible (Rio+20), que Queremos extender a todos ellos
justo dos décadas se celebra asimismo —Alejandro Gordillo, Carlos Nobre,
en Rio de Janeiro (Brasil). Eduardo Viola, Edwin Vásquez, Flavio
Esta publicación pretende mostrar la
mirada sobre aquel histórico momento
Perri, Ignacy Sachs, Izabella Teixeira,
José Goldemberg, Leonardo Boff, Maria
CLÁUDIO
de algunos personajes destacados, así
como rescatar el legado de aquella con-
Cecília Wey de Brito, Oded Grajew, Paul
Polman, Paulo Jobim, Paulo Sotero,
MARETTI
ferencia y recoger las expectativas de Roberto Troya, Thomas Lovejoy, Tião
esos especialistas respecto a la próxi- Viana y Yolanda Kakabadse— nuestro WWF Iniciativa Amazônia Viva
ma reunión. Y a ello se debe el título caluroso agradecimiento por su contri- WWF Living Amazon Initiative
¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde bución y por compartir sus ideas. WWF Iniciativa Amazonia Viva
va Rio+20? Esos testimonios diversos confor-
Hablaran aquí ambientalistas, man una visión crítica sobre lo que ha
empresarios, científicos, economistas, hecho el mundo en estos veinte años
diplomáticos, además de un periodista, y sobre las perspectivas que puede
un líder indígena y un teólogo, en es- generar Rio+20. Sus agudos puntos de
pecial sobre la contribución de aquella vista no niegan la importancia de la
primera conferencia a la preservación Conferencia de las Naciones Unidas so-
del medio ambiente, el desarrollo sos- bre el Desarrollo Sostenible; más bien
tenible y el bienestar de la población en al contrario, destacan su importancia
estos veinte años. en este momento histórico, igual de
Nuestro objetivo ha sido sacar a trascendente que aquel de 1992.
la luz propuestas e ideas a través de
las palabras de los entrevistados y las Buena lectura.
lecciones que aprendieron, así como
poner de relieve los desafíos y solucio-

p. 7
SÉRIE RIO 92, PARA ONDE FOI?
RIO+20, PARA ONDE VAI?
ENTREVISTAS
Photo: Zig Koch
WWF Iniciativa Amazônia Viva

Entrevista

Série Rio 92, para onde foi?


Rio+20, para onde vai?

e há mais de 30 anos engajada na entusiasmou muito, embora o processo


busca de soluções para o homem e o tenha sido muito intenso. Eu aprendi
meio ambiente. A seguir a entrevista muito, e eu acho que nós, como Secreta-
que Kakabadse concedeu por escrito. ria, fizemos muita diferença, até mesmo
© WWF-Canon / Elma Okic

no sistema da ONU como um todo.


O que fazia à época da Rio 92? Recor-
da-se de algum episódio que marcou Quais países tiveram participação
aquela conferência? Foi um privilégio mais destacada na Rio 92? Como foi
ser membro da equipe da Rio 92 porque a participação dos latino-americanos?
eu tinha que organizar e acompanhar se 92 foi uma decepção. Muito poucos
tudo estava bem encaminhado em ter- países da América Latina entenderam
mos da participação da sociedade civil. plenamente o significado da conferên-
O secretário da conferência, Maurice cia; muito poucos investiram numa
Strong, foi muito enfático ao dizer que preparação para as negociações ou
ele queria assegurar a participação da numa participação forte nas contri-
sociedade civil na conferência, e isso buições para a definição da agenda.
YOLANDA era algo pioneiro, pois não tinha sido o
costume nas conferências da Organiza-
A Colômbia foi um dos países que
trabalhou bem na sua preparação e

KAKABADSE ção das Nações Unidas até então.


A Rio 92 foi a conferência que abriu as
contribuiu efetivamente para melhorar
a linguagem usada nas negociações
portas para a sociedade civil, e quando em si. Mas eu acho que a contribuição
A Rio 92 representou um marco eu falo sociedade civil, estou falando no da região como um todo foi bastante
na participação da sociedade civil sentido mais amplo; tudo o que não fosse fraca. Eu acho que nós perdemos o
no debate das políticas públicas, governo central. Os parlamentares, por bonde. Agora, em 2012, considero que
economia e meio ambiente. Apesar de exemplo, por meio da União Interparla- estamos muito mais preparados, que
histórica, aquela conferência poderia mentar, as autoridades locais por meio da conseguimos colocar esse debate na
ter ido além se as delegações dos sua própria associação, os povos indíge- esfera dos nossos governos, das nossas
países estivessem mais preparadas nas, os jovens. Diversas organizações próprias sociedades. Existe uma
para o debate e tomada de decisões. de classe como as Câmaras de Comércio consciência muito maior dos riscos da
Nesse sentido, é possível imaginar e outras agremiações do mundo inteiro falta de ação e eu espero que a América
que a Rio+20 possa ser ir além e desde a Associação de Astronautas até as Latina seja protagonista-chave neste
tornar-se tão memorável para o menores organizações não governamen- novo processo de negociações.
desenvolvimento sustentável. tais do Nepal ou da Bolívia.
O raciocínio ponderado, capaz Foi um processo fantástico de conse- Quais os principais legados da con-
de observar as contradições dos guir o engajamento das pessoas, de ape- ferência Rio 92? Estou convencida de
processos de negociação, é da lar para os diversos setores da sociedade que embora a conferência de Esto-
equatoriana Yolanda Kakabadse, para que se interessassem pela agenda colmo em 1972 também tenha falado
presidente internacional do WWF, ex- da conferência Rio 92. Isso foi da minha sobre a inserção do meio ambiente no
ministra do Meio Ambiente do Equador responsabilidade, e, como eu disse, me processo de desenvolvimento, a confe-

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 10


WWF Iniciativa Amazônia Viva

rência de 92, por meio dos documentos econômico tem implicações muito
que produziu, reforçou a importância fortes para nossa maneira de geren-
de se ir além do modelo habitual de ciar os recursos naturais. Não existe
negócios em que todos nós estávamos a possibilidade de qualquer tipo de
envolvidos na época. A conferência se desenvolvimento, a não ser que utilize-
apossou de fato do debate político, da mos os recursos que temos disponíveis
necessidade de fazer do meio ambiente hoje sem deixar um déficit, sem tirar
o ponto central do desenvolvimento, mais do que nós temos e mais de que o
não meramente com o aperfeiçoamen- planeta consegue prover. Portanto, eu
to de algumas áreas na agenda verde, considero que a Rio+20 esteja perante
mas trazendo-o para ser parte integral o desafio de garantir que nós tenhamos
do desenvolvimento, do desenvolvi- uma compreensão muito clara de que
mento econômico, do desenvolvimento ‘economia verde’ é o uso racional dos
social. Ela abordou a tecnologia, as recursos naturais, assegurando-se que
indústrias, o papel do setor privado, o os benefícios desse uso sejam distribu-
papel da comunidade acadêmica. Por- ídos igualitariamente entre os diversos
tanto, foi uma mensagem muito forte setores da sociedade nos diversos
e acabou gerando compromissos por países ou regiões do planeta.
parte daqueles que queriam tratar o
meio ambiente como algo com impor- Como setor empresarial e sociedade
tância real para o desenvolvimento. civil podem contribuir para a conser-
vação ambiental e o desenvolvimento
Entre as resoluções, alguma área sustentável? Os setores privados na
não avançou? Existem vários níveis sociedade civil são os atores-chave
de realização, uns mais marcantes para induzir mudanças por parte de
que outros. Acredito que entre o que governos. Já fi z parte do governo, e
emergiu da Rio 92, um elemento que você pode avançar numa dada direção
não foi suficientemente forte foi a ética. mais ou menos rapidamente somente
A ética e a equidade formam parte de na medida em que as sociedades se
um compromisso social que teremos dispõem a avançar. A pressão para
de assumir se quisermos garantir a mudanças numa política pública
sustentabilidade. Não haverá a possi- geralmente vem da sociedade e, neste
bilidade de pensarmos ou atuarmos de caso, os setores privados da sociedade
forma diferente em termos de alcançar civil têm um potencial enorme para
o desenvolvimento sustentável se não trabalhar junto: na inovação tecnológi-
enfatizarmos a necessidade de adotar ca, na mudança de padrões de desen-
padrões éticos que garantam a justiça volvimento, na adoção de uma visão de
social, igualdade entre todas as pes- muito mais longo prazo do que costu-
soas em todos os países, independente mamos adotar até agora; e na criação
das suas origens ou em que parte do de uma consciência pública de tal
planeta habitam. Eu acho que isto não forma a surtir a pressão que obrigaria
foi posto em termos suficientemente os governos a se movimentarem. Mas
fortes e é uma agenda pendente que eu acredito, também, que os governos
espero ver abordada na Rio+20. locais sejam atores-chave, e até mais
do que os nacionais, na implementação
Qual deveria ser o principal resultado de programas, na transformação das
da Rio+20? Um dos desafios para a ideias em realidade. Os governos locais
Rio+20 é a agenda da economia verde. ao redor do mundo já se tornaram
Eu creio que o que nós propusemos parceiros-chave e este triângulo entre
na Rio 92, agora, nesta rodada, vem governo local, setor privado e grupos
expresso numa linguagem diferente, da sociedade civil é uma união perfeita
talvez em termos mais práticos, que para implementar, para mostrar que
permitirão uma compreensão melhor, há uma possibilidade real, que a sus-
por parte dos diversos setores, sobre tentabilidade não é somente uma parte
o que nós queremos dizer quando do discurso, mas parte de um belo e
afirmamos que o desenvolvimento fantástico desafio.

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 11


Cock of the Rock / WWF Guiana
WWF Iniciativa Amazônia Viva

Qual o papel das economias emergen- eu me refiro a todas as sociedades em


tes - como os BRICS - no impacto e nas todos os continentes. Alimentos, água
soluções para as questões ambientais? e energia são os três elementos que vão
Eu diria que ‘economias emergentes’ determinar o nível de desenvolvimento
é um tópico que nos faz pensar mais de todas as sociedades nas décadas
sobre suas responsabilidades futuras. vindouras. Eles representam, também,
Elas têm o tamanho, em termos do os três elementos de uma agenda e, no
tamanho geográfico dos seus países, das momento, se encontram em situação
suas populações, e têm oportunidades de maior risco devido aos impactos das
porque o capital natural de todos os mudanças climáticas. Alimentos, água
BRICS é enorme. Então, estes BRICS, ou e energia constituem o maior proble-
sociedades emergentes têm potencial, ma, particularmente para as comu-
têm capacidade, e têm a obrigação de nidades vulneráveis, geralmente os
responder às discrepâncias e à pobreza pobres, os idosos e obviamente, as ge-
que são, frequentemente, o resultado da rações mais jovens. Portanto a escolha
má administração da economia nacional desses três tópicos para nosso trabalho
ou da falta de uma visão de como gerar e a contribuição do WWF à Rio+20 vai
riqueza. O que me deixa preocupada, às ser impulsionadora e mobilizadora do
vezes, é que, mesmo sendo países emer- debate, das discussões, e como todos
gentes com tanto potencial, com certa nós esperamos, de acordos.
frequência, se comportam da mesma
forma de um típico país em desenvol- Qual é a solução de futuro para Ama-
vimento, ou seja, sempre esperando o zônia, o Brasil e a América Latina?
apoio e a contribuição do Norte para seus A Amazônia é, sem dúvida um dos
próprios programas de desenvolvimento. ecossistemas mais importantes, par-
O que eu quero dizer com isto é que as ticularmente para a América Latina e
economias emergentes necessitam, de a América do Sul, mas, também, para
fato, pegar as rédeas e mostrar aos países todo o planeta. O equilíbrio que traz
desenvolvidos e aos em desenvolvimento em termos de condições climáticas da
que nós podemos fazer muito melhor do região e, portanto, para produção de
que vimos fazendo até agora. alimentos e a estabilidade de socie-
Não acredito que, agora no início do dades urbanas e rurais é de suma
século XXI, possamos dizer que já que os
outros destruíram ou poluíram o planeta
importância. Tomar decisões que pos-
sam garantir a estabilidade da bacia
YOLANDA
nas últimas décadas, nós devemos imitá-
-los ou deixar de implementar rigorosa-
mente nossas próprias políticas de sus-
Amazônica é uma responsabilidade
não somente para o Brasil, mas para
os outros países da região e para o
KAKABADSE
tentabilidade. Eu não acho que seria justo planeta como um todo. E eu confio que
nem para nossa sociedade nem para o o governo atual no Brasil fará o que for
resto do planeta. Informação é o que nos preciso para garantir esta estabilidade.
leva a agir mais sabiamente hoje e em di-
reção ao futuro. Portanto, eu espero que Tem esperanças para nossa vida
nesta conferência as economias emergen- futura neste planeta? Todos temos, é
tes, como também os países em desen- claro. Isto é lindo demais para sim-
volvimento e todos os outros, adotem plesmente ser abandonado. Acredito
uma posição forte e um compromisso que que o fio que une o sentimento de
reconheça que não podemos continuar todos nós que compomos o WWF, e de
sendo tão fracos em relação às diversas todos os outros grupos ambientalistas
leis que regem o desenvolvimento. e os líderes ao redor do mundo que se
preocupam com a saúde do planeta, é
Num enfoque direcionado ao acesso o otimismo de poder fazer melhor do
dos cidadãos a comida, água, energia, estamos fazendo hoje e que nós, de
como governos e sociedade devem fato, conseguiremos isso.
olhar para o meio ambiente? Eu creio
que o WWF captou bem a essência das
prioridades para o planeta de hoje, e

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 13


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Entrevista

Série Rio 92, para onde foi?


Rio+20, para onde vai?

determinado por Roma. Após que unia a todos, no amor a Terra, no


censurá-lo por causa da Teologia da congraçamento de todos para além
Libertação, o Vaticano queria que ele das diferenças. Parecia que aí nascia
saísse do país e cumprisse “silêncio um outro tipo de humanidade eco-
obsequioso” em convento na Coreia -amigável, fraterna e respeitosa das
Alexandre Monteiro

ou nas Filipinas. Boff não aceitou a diferenças. Para mim foi marcante
nova imposição de silêncio e decidiu porque após um debate sobre religião
se afastar da Igreja. e paz, fiz pesadas críticas às religiões
Além desse marco na trajetória abraâmicas por serem beligerantes.
pessoal, Leonardo Boff lembra-se do Um cardeal-espião do Vaticano, o
clima da conferência. Segundo ele, Cardeal Baggio, veio ao meu encontro
havia “uma mística que unia a todos, e me comunicou: “você não aprende
no amor à Terra, no congraçamento nada com o ‘silêncio obsequioso’.
de todos para além das diferenças. Tem que sair não só do Brasil, mas
Parecia que aí nascia um outro da América Latina. Pode escolher
tipo de humanidade eco-amigável”. entre Coreia ou Filipinas. Mas tem
LEONARDO A imagem difere totalmente das
expectativas quanto a Rio+20 e seus
que sair”. Eu perguntei: “mas na-
queles países posso ensinar teologia

BOFF preparativos. Em sua opinião, o texto


base, por exemplo, “é uma vergonha
e continuar a escrever”? Ao que ele
respondeu: “deve ficar em silêncio ob-
para a inteligência mundial (…) É um sequioso, no convento”. Eu retruquei:
A Rio 92 divide a história pessoal de documento comovedor em termos “na primeira vez, aceitei o silêncio
Leonardo Boff, membro da Comissão de boa vontade, mas ingênuo quanto em sinal de humildade; isso era uma
Central da Carta da Terra, teólogo, à autocrítica e na apresentação de virtude. Agora esse silêncio imposto é
fi lósofo, professor universitário e mediações para as propostas que manifestamente injusto e representa
escritor. Foi durante a conferência que faz”, diz com a mesma franqueza que um pecado; isso eu não aceito”. E ele
ele decidiu se afastar da Ordem dos assustou o “cardeal-espião” há 20 anos. me disse: “tem até amanhã ao meio-
Frades Menores (franciscanos), na A seguir, a entrevista de Leonardo Boff -dia para decidir”. Eu lhe respondi:
qual ingressou em 1959 – ainda com concedida por escrito ao WWF. “Já decidi. Abandono uma trincheira,
21 anos. mas não a luta. Me autopromovo ao
Depois de um debate sobre O que fazia à época da Rio 92? estado de Jesus, que não era sacerdote
religião e paz durante o evento há Recorda-se de algum episódio que e muito menos cardeal, pois era leigo
duas décadas no Rio de Janeiro marcou a conferência? O evento como da tribo de Davi, da qual nada se diz
- no qual fez críticas ao judaísmo, tal era expressão de um outro tipo de sobre o sacerdócio”. E, então, tive de
ao cristianismo e ao islamismo mente, de visão de mundo e de relação sair da Ordem Franciscana e aban-
“por serem beligerantes” -, Boff foi para com a Terra, não tida como donar o ministério sacerdotal. Não é
advertido por “um cardeal-espião do armazém de recursos alienáveis, uma bela recordação. O pior foi a falta
Vaticano” que reclamou por ele não mas como a grande casa comum que total de gentileza do cardeal que foi
estar cumprindo “silêncio obsequioso”, cumpre cuidar. Havia uma mística núncio apostólico no Brasil. Ao lhe

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 14


WWF French Guiana / Roche Savanne

Não queremos o fim do mundo. Queremos, sim, o fim deste tipo de


mundo que é hostil à vida, à solidariedade, à compaixão e ao amor.
WWF Iniciativa Amazônia Viva

estender a mão para cumprimentá-lo, terconectados. Foi então que [Mikhail] as questões verdadeiras na confiança
ele retirou a mão. Bem, eu me lembrei Gorbachev [ex-secretário-geral do de que “quando uma ideia chega a
de São Francisco que cumprimenta- Comitê Central do Partido Comunista sua maturidade, ninguém mais pode
va a todos e ficou amigo até do feroz da União Soviética], o sub-secretário detê-la e ela se imporá e criará outro
lobo. Por que eu, franciscano, deveria da ONU Maurice Strong e o primeiro curso da história”. Iremos nos salvar e
ser diferente e não entender a rudeza ministro da Holanda [Rudd] Ludders inaugurar uma nova forma de habitar
de um cardeal pequeno de espírito e suscitaram a ideia de se fazer uma o Planeta, mais respeitoso para com a
cheio de espírito de vingança? consulta à humanidade e elaborar uma vida e mais solidário para com todos
Carta da Terra que viesse a partir de- os seres humanos, especialmente para
Quais países tiveram participação baixo, dos povos, e não das burocracias com aqueles que mais padecem.
mais destacada na Rio 92? Como foi estatais. Participei deste debate e em
a participação dos latino-americanos? meu lugar sugeri que fosse convidado Qual sua opinião sobre o texto base
Não tenho presente os países latino- Paulo Freire. Pois em todas estas ques- da Rio+20? O documento é uma ver-
-americanos participantes. Só sei que tões há um problema de pedagogia. E gonha para a inteligência mundial que
o grande sujeito novo que emergiu do ninguém melhor que Paulo Freire para depois de tantos anos acumulou pen-
encontro da Rio 92 foram as mulhe- manejar esta questão. Depois de sua samento e experiência sobre a crise da
res. Elas, na sua tenda Feminina, morte entrei eu fortemente, elabo- Terra. É um documento comovedor em
organizaram bons debates e significa- rando até um “draft” representando termos de boa vontade, mas ingênuo
tivos rituais. A frequência era sem- as Américas, que no texto final, foi quanto à autocrítica e na apresentação
pre plena. Fizeram as críticas mais bastante aproveitado. de mediações para as propostas que
contundentes ao patriarcalismo que faz. Os três temas centrais, a susten-
se esconde atrás do processo indus- Entre as resoluções da Rio 92, alguma tabilidade, a governança global e a
trialista/consumista e que está na raiz área não avançou? Acho que avançou economia verde nunca são claramen-
de nossa cultura da dominação. a consciência da responsabilidade, te definidos, dando a impressão de
primeiro, social das empresas e, poste- quererem ocupar as mentes pensantes
Quais foram os principais legados riormente, da responsabilidade sócio- mundiais e os movimentos para não se
da Conferência Rio 92? Os frutos -ambiental. O ponto mais importante ocuparem dos verdadeiros problemas
foram parcos senão não teríamos a foi a criação de uma consciência eco- que afligem a humanidade: o modo de
situação degradada que assistimos lógica coletiva. O tema deixou de ser produção avassalador da natureza, as
atualmente. Mas se escutou o Grito da dos verdes para ser da sociedade. Mais desigualdades (injustiças sociais) e a
Terra, alargou-se a consciência de que e mais cresceu e cresce a consciência urgência de modelos alternativos de
somos responsáveis pelo nosso futuro de que assim como está não podemos consumo face aos limites alcançados
comum. Na Rio 92, se consagrou a continuar. Devemos mudar. Caso con- da Terra que não consegue repor o que
expressão ambígua “desenvolvimento trário vamos ao encontro do pior. tiramos dela.
sustentável”, quer dizer, não podemos
continuar com a selvageria do tipo de Qual deveria ser o principal resul- Como setor empresarial e sociedade
desenvolvimento dominante que não tado da Rio+20? Não espero nada civil podem contribuir para a conser-
é desenvolvimento mas crescimento dos chefes de Estado. A maioria não vação ambiental e o desenvolvimento
material a qualquer custo. A categoria vem. Enviarão ministros sem poder sustentável? Enquanto não houver
sustentabilidade ganhou centrali- de decisão. Tudo termina no gargalo: um novo paradigma de relaciona-
dade e nunca mais saiu dos debates. quem financiará as medidas eventual- mento com a natureza e com a Terra e
Levantou-se a questão da contribuição mente a serem tomadas? Todos alegam continuarmos com o modo industria-
diferenciada de todos os países para não terem dinheiro, que estão em lista/consumista/individualista não
enfrentar a crise ecológica, o combate crise econômico-financeira e que não podemos esperar nada de substancial
à fome e à miséria. Acenou-se pela podem ajudar. Por detrás, está a visão para aliviar a crise generalizada. As
primeira vez ao fato do aquecimento perversa capitalista e neoliberal: o que empresas são fundamentais, pois são
sensível do planeta, embora ficasse conta são os mercados, as moedas, o elas que garantem a infraestrutura
sem qualquer consequência. Para mim sistema econômico-financeiro e não a material da vida. Mas elas são vítimas
a maior limitação de todo o encontro vida, a humanidade, o futuro de nossa do modelo imperante que é de acumu-
foi a rejeição de uma Carta da Terra. civilização e a preservação da vitali- lação ilimitada, a preço de devastar
Ela deveria servir de cabide no qual se dade da Terra. E assim, festivamente, a natureza e não perder em nada na
dependurassem todos os demais pro- vamos ao encontro de um possível e concorrência. Esse método é o cami-
jetos. Surgiu algo notável e perene: a previsível desastre ecológico-social. nho certo para o desastre. Defendo a
Agenda 21. Mas ela ficou dependurada Mas crescerá, dialeticamente, a cons- ideia de Hegel: “o ser humano aprende
nas nuvens sem uma visão articulada ciência da humanidade, representada da história que não aprende nada da
do Planeta Terra, dos ecossistemas in- na Cúpula dos Povos. Eles colocam história, mas aprende tudo do sofri-

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 16


WWF Iniciativa Amazônia Viva

mento”. Penso que quando o sofrimen- Eu espero soluções que vêm de baixo,
to for coletivo e atingir a pele de todo dos indignados e dos desesperados,
mundo aí, sim, vamos mudar. Caso daqueles que não aceitam o veredito
contrário, corremos o risco de que a de morte sobre suas vidas e sobre seus
Terra continue, mas sem nós. ecossistemas, dos movimentos que já
elaboraram outra visão da Terra e dos
Qual a viabilidade da estruturação processos de produção do suficiente e
da chamada “economia verde”? do decente para nós humanos e para
Uma ‘economia azul’ seria também toda a comunidade de vida. Creio que
importante? A economia verde traz o projeto do “bem viver” dos andinos
elementos importantes que devemos guarda a solução daquilo que será
valorizar, pois, sem sua intenção obrigatório para toda a humanidade e
originária, quer preservar a vitalidade para a salvaguarda do Planeta. Quer
da natureza. No entanto, não questio- dizer, em tudo buscar o equilíbrio,
na o paradigma vigente que supõe a chegar a uma economia do suficiente
dominação da natureza e a ilimitada e não da acumulação, da comunhão
acumulação e o consumo sem entra- entre todos os seres e com as energias
ves. Não questiona as desigualdades universais também, com as espirituais,
mundiais, grande parte dos povos e viver em profunda comunhão com
vivendo na pobreza. E há o grande a Pacha Mama, a Terra, como o único
risco de que se coloque preço em tudo, Lar Comum que temos, e não temos
até nos commons, quer dizer, naque- outro para habitar. Ou faremos isso ou
les bens e serviços que são direta- decretaremos a extinção lenta de nossa
mente ligados à vida como a água, o espécie e um agravo profundo à bios-
alimento, as sementes, os solos, o ar, a fera que continuará, mas sem a nossa
energia e outro. Ora a vida é sagrada espécie que, devido a sua agressivi-
e não pode ser transformada em mer- dade, criou uma nova era geológica, o
cadoria. Se isso ocorrer alcançaremos antropoceno, quer dizer, o ser humano
a culminância do espírito capitalista e como o verdadeiro meteoro rasante
também, a partir daí, de sua derro- capaz de se autodestruir e afetará
cada. O que é sagrado é inviolável. profundamente o planeta vivo, a Terra.
E uma vez violado ele cria mecanis- Mas, como o espírito está primeiro no
mos de punição e de exclusão, como
cosmólogos e biólogos continuamente
universo e depois em nós, quem sabe,
em milhões de anos, surgirá um ser
LEONARDO
nos alertam. Não queremos o fim do
mundo. Queremos, sim, o fim deste
tipo de mundo que é hostil à vida, à
complexo capaz de suportar o espírito
e inaugurar outro tipo de civilização
neste planeta, seguramente melhor e
BOFF
solidariedade, à compaixão e ao amor. mais benfazejo que o nosso.

Num enfoque direcionado ao acesso


dos cidadãos a comida, água, energia,
como governos e sociedade devem
olhar para o meio ambiente? Qual é
a solução de futuro para a Amazônia,
o Brasil e a América Latina? Essa
pergunta é complexa demais para ser
respondida. Penso o seguinte: não de-
vemos esperar muito dos poderes pú-
blicos e dos governos, pois são reféns
das grandes corporações e do sistema
do capital. São obrigados a seguir a sua
lógica que é crescer pelo menos um
pouco em seu PIB [Produto Interno
Bruto] anual. Ora essa lógica não é
mais suportável pela Terra cujos limi-
tes foram alcançados e já os tocamos.

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 17


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Entrevista

Série Rio 92, para onde foi?


Rio+20, para onde vai?

interesse pelo meio ambiente. Tom nós a fi zemos em inglês, que era para
Jobim foi a primeira fi gura pública no alcançar o mundo todo.
Brasil, ainda nos anos 1970 em plena
Ana Branco / AGÊNCIA O GLOBO

ditadura militar, a falar na destruição Há uma entrevista da década de 1980,


da natureza. com o Roberto Dávila, no DVD Tom
Paulo Jobim aprofundou esse Jobim ao vivo em Montreal, quando
interesse e trabalhou em projetos ele já falava do problema das queima-
ambientais com a equipe do urbanista das. De onde vinha a preocupação do
Lúcio Costa, como foi o caso da Tom Jobim com a questão ambiental?
demarcação da área que veio resultar Eu acho que esse interesse veio da
em unidade de conservação na Mata Atlântica, que ele conhecia mais
Chapada dos Guimarães. A seguir, a fundo, e que ele viu ser destruída.
os principais trechos da entrevista Ele conhecia essas matas aqui perto
concedida ao WWF. do Rio de Janeiro. Ele viu, desde o
interior de São Paulo, onde ia muito,
Como era a parceira entre você e o os jequitibás, as matas grandes. Ele
PAULO Tom Jobim em canções de cunho
ambientalista? Vocês estavam prepa-
conhecia essas matas que foram sendo
cortadas sem nenhum cuidado, sem

JOBIM rando o último disco do Tom? Rio 92,


estávamos começando....O disco [Anto-
pena. Vão cortando para fazer lenha,
para fazer carvão.
nio Brasileiro] só saiu mesmo em 94, Ele foi criado em fazendas, conhe-
Paulo Hermanny Jobim, 61 anos, é o mas já estávamos pensando no disco. cendo a natureza de perto, e vendo
fi lho primogênito de Antonio Carlos que estavam destruindo tudo. Havia
de Almeida Brasileiro Jobim, para E o Tom estava com a Banda Nova, uma fúria em queimar, como se isso
muitos o maior compositor da história você tocava nela, e receberam a fosse um grande progresso; queimar
do Brasil, um país reconhecido por encomenda daquela música em inglês toda a floresta para colocar gado; e
sua grande diversidade musical assim [Forever Green].... Sim. Foi tipo uma [progresso] não é isso. Mas continua
como a exuberante natureza. encomenda. Não sei bem quem, pediu acontecendo...
Como o pai, Paulo estudou uma música para a Rio 92. É uma O que se chama de progresso aqui,
arquitetura e música, e era presença música bem didática, pensando nas é o sujeito plantando soja para vender
regular nos shows e nos discos de crianças, no futuro. para o porco chinês comer. Eles acham
Tom Jobim, de quem era arranjador que isso é mais importante do que ter
e parceiro como na canção Forever E tinha que ser em inglês por que era as riquezas do Brasil; “vamos ven-
Green, composta especialmente para uma conferência internacional? Eu der soja pro porco chinês”. E aí você
a Rio 92 e gravada no último disco do acho que sim, eu acho que era um show destrói tudo porque isso está dando
“maestro soberano” em 1994 (ano de com artistas internacionais. A Rio 92 lucro naquele momento. Pode ser que
sua morte), o CD Antonio Brasileiro. era um evento internacional. Não sei em outros momentos não dê lucro ne-
Além do talento para a música, dizer se pediram que a música fosse nhum. Enfim, a gente não tem muito
Paulo Jobim herdou do pai o em inglês, mas acho que naturalmente respeito pelo Brasil, pela riqueza do

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 18


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Nós temos uma biodiversidade enorme, agora é, se a gente


quer essa biodiversidade ou se a gente vai acabar com ela à toa.

Brasil. A gente vai destruindo tudo, meio ambiente e ao mesmo tempo o querem a floresta porque eles vivem
tudo a troco de nada. Tem uma máqui- Congresso Nacional está querendo des- na floresta e a gente deveria viver das
na nova, então corta tudo. Há muito truir um Código Florestal que na dé- riquezas do Brasil e não, ao contrário,
tempo que vem sendo assim. cada de 1960 já era muito bom e pouco exauri-las até o fim
era respeitado. Então, agora, vira farra
Essa mentalidade sobre o que seria do boi e não dá para entender isso; leis
o progresso é que explica o compor- sérias que agora se joga fora porque
tamento de alguns parlamentares comprou um caminhão/trator novo e
contrários a manutenção da mata ciliar você quer botar para quebrar. Depois
e ao pagamento de multa pela destrui- que acaba tudo, fica o deserto, e o ca-
ção conforme vemos nas discussões minhão e o trator perdidos no mato, ou
sobre as alterações no Código Flores-
tal? Isso não é progresso, você desma-
no capim porque não tem mais mato.
Letra de Forever Green
de Antonio Carlos Jobim
tar todas as beiras de rios, você cria O Brasil se vangloria de ser uma
e Paulo Jobim
erosão, um deserto. É algo que meu potência da biodiversidade. Nós nos
pai dizia: “é uma coisa sistemática, comportamos como liderança? Temos
criação sistemática do deserto”. Você condições? Nós temos uma biodi-
pega o planalto central todo que é irri- versidade enorme, agora é, se a gente Let there be flowers
gado por chuvas que vêm da Amazônia quer essa biodiversidade ou se a gente Let there be spring
e você vai entrando pela Amazônia e vai acabar com ela à toa. Quando nos We have few hours to save our dream
cortando a floresta: está se fazendo dirigimos ao mundo e o mundo olha Let there be light
um deserto no planalto central. O para o Brasil, diz: ‘Eles têm um tesou- Let the bird sing
Cerrado já é seco e vai secar tudo em ro ambiental ali’. Mas agora se a gente Let the forest be forever green
volta e tirar as águas, as nascentes de não vai cuidar disso seriamente, eles Little blue planet
tudo? Vai virar o deserto do Saara. E vão parar de ouvir a gente; porque a In great need of care
não tem uma desculpa racional para gente não faz muito por onde respeitar Crystal clear streams
ir cortando. Eles dizem: ah, os pobres a riqueza que a gente tem. Lots of clean air
agricultores. Não há pobre agricultor Let's save the Earth
nenhum. E o Partido Comunista fica Tem alguma coisa importante ocorri- What a wonderful thing
do lado de grandes conglomerados de da durante a Rio 92 que ficou na sua Let it be forever green [...]
agricultura porque isso não é agricul- memória? Algo que me impressionou
*retirada de http://www2.uol.com.br/
tura familiar coisa nenhuma. foi uma conversa, um vídeo com vá-
tomjobim/ml_forever_green.htm
rios caciques indígenas importantes;
Nesses 20 anos entre as duas con- e eles estavam falando coisas que hoje
ferências, o Brasil evoluiu em termos em dia as pessoas estão começando a
de proteção ao meio ambiente ou as perceber. Eu acho que deveria haver
pressões aumentaram? Eu acho que um encontro das lideranças indígenas,
hoje a gente tem um discurso geral que têm uma outra visão do Brasil que
da sociedade mais preocupada com o não é essa de sair cortando tudo. Eles

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 19


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Entrevista

Série Rio 92, para onde foi?


Rio+20, para onde vai?

do Sul. A seguir entrevista que foi possível controlar a pirataria sobre


concedeu por escrito. os recursos da biodiversidade.

O que fazia à época da Rio 92? Qual deveria ser o principal resultado
Recorda-se de algum episódio que mar- da Rio+20? No caso dos povos indíge-
cou aquela conferência? Eu estava na nas, são esperadas decisões contun-
COICA, com o presidente da organização dentes, com vistas a garantir a segu-
ICV

naquela época, Evaristo Nunkuag, que rança jurídica dos territórios indígenas
no espaço oficial participou da Cúpula e dar uma maior firmeza à aplicação
da Terra da Rio 92 e foi muito ativo na dos elementos do desenvolvimento
apresentação das propostas com relação sustentável, em vez da tendência da
à Agenda 21 e aos princípios sobre economia verde.
florestas. Na área não oficial, a parti- Espera-se também que se consolide
cipação foi espaço indígena mundial o direito à plena e efetiva participação
denominado Karioca. dos povos indígenas, e que estes partici-
pem das decisões que lhes envolvam
EDWIN Quais os principais legados da confe-
rência Rio 92? O principal legado foi o
direta ou indiretamente.

VÁSQUEZ de marcar uma nova tendência de um


modelo de desenvolvimento sustentá-
Qual sua opinião sobre o texto base
da Rio+20? Em tese, uma política
vel que respeite a natureza, ainda que global que prime pelo respeito ao
A Conferência Rio+20 pode ser uma tenha ocorrido apenas na teoria. meio ambiente e à natureza, e pela
oportunidade histórica para promover O modelo de desenvolvimento soberania dos países sobre os recursos
a segurança jurídica dos territórios sustentável ainda não foi aplicado à naturais de origem.
indígenas e favorecer a aplicação realidade. Até agora, predominaram
de instrumentos que viabilizem os interesses extrativistas e a apro- Como setor empresarial e sociedade
o desenvolvimento sustentável. priação dos recursos naturais de todo civil podem contribuir para a conser-
Essas decisões devem contar com a tipo. No caso dos povos indígenas, vação ambiental e o desenvolvimento
participação dos povos indígenas. seus direitos territoriais são ignora- sustentável? Criando políticas e marcos
As expectativas são de Edwin dos, e não há sequer o direito a uma regulatórios que sejam resultado de
Vásquez, líder indígena e coordenador consulta prévia. consenso e que, ao serem aplicados, te-
geral da Coordenação das nham a participação dos atores envolvi-
Organizações Indígenas da Bacia Entre as resoluções daquela conferên- dos, entre os quais os povos indígenas.
Amazônica (COICA), instituição cia, alguma área não avançou? Não
fundada há quase 30 anos e que foram registrados avanços na redução Qual a viabilidade da estruturação
representa mais de 2,5 milhões de de emissões de gases de efeito estufa da chamada “economia verde”? Uma
pessoas distribuídas em 10 milhões produzidos pelas grandes indústrias ‘economia azul’ seria também impor-
de quilômetros quadrados da Floresta dos países desenvolvidos, nem no con- tante? Uma economia verde só será
Amazônica, em 9 países da América trole do desflorestamento. Também não possível se forem garantidos também

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 20


© Nigel Dickinson / WWF-Canon

WWF Iniciativa Amazônia Viva

A solução de futuro deve contemplar políticas que primem por


uma plena e efetiva participação dos povos indígenas nas decisões
políticas e normativas e em sua implantação.

os direitos das pessoas e se esses di- uso sustentável também deve ser uma va participação dos povos indígenas
reitos não se antepuserem ao interesse prioridade para o Estado. nas decisões políticas e normativas e
de extração dos recursos naturais. O em sua implantação. É fundamental
chamado “bem viver”, por exemplo, Num enfoque direcionado ao acesso adotar princípios do direito à natureza
implica o respeito aos direitos da dos cidadãos a comida, água, energia, e respeitar as florestas como ecos-
natureza e das pessoas. Os recursos como governos e sociedade devem sistemas de mitigação das mudanças
financeiros gerados devem, sobretudo, olhar para o meio ambiente? Qual é a climáticas de contribuição holística e
ser direcionados a políticas sociais em solução de futuro para a Amazônia, o não apenas pela importância do arma-
educação, saúde, habitação, acesso à Brasil e a América Latina? A solução zenamento de carbono.
água e alimentação. O respeito pela de futuro deve contemplar políticas
conservação de florestas tropicais e seu que primem por uma plena e efeti-

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 21


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Entrevista

Série Rio 92, para onde foi?


Rio+20, para onde vai?

A formação cosmopolita é um dos cia oficial. A conferência lá longe, na


conselhos de Sachs aos mais jovens. Gávea, com um cinturão de tanques e
“Faz muitos anos que eu vivo desse uma segurança muito reforçada para
capital”, disse ao término da entrevista não entrar ao lado de dentro. Mas na
para o WWF. Sachs recomenda praia do Flamengo havia uma série de
especialmente que o Brasil envie e atividades extremamente importantes
Agência UEL

receba estudantes a outros países que e diversificadas. Desse ponto de vista,


tenham problemas semelhantes na a Rio 92 segue muito bem a tradição
questão ambiental. Para ele, o confronto iniciada em Estocolmo de 72, de que
das experiências poderá proporcionar ao redor de uma conferência oficial das
“um fantástico avanço para encontrar Nações Unidas passa-se uma segunda
soluções concretas aos problemas dos conferência da sociedade civil orga-
diferentes países do bloco dos países nizada. Estou certo de que isso vai
emergentes”. A seguir os principais acontecer; porém não sei dizer como
pontos da entrevista concedida. vai acontecer, que proporção terá e,
sobretudo, que diálogos sobre o que
IGNACY O que fazia à época da Rio 92?
Recorda-se de algum episódio que
acontece na periferia da conferência
oficial influenciarão a conferência ofi-

SACHS marcou a conferência? Eu participei


de vários eventos paralelos da Rio 92.
cial e quais os desdobramentos ocor-
rerão depois. Isto é a grande questão, é
Se me recordo, ocorreu um seminário a nossa capacidade de caminhar para
O economista polonês, naturalizado muito interessante em Curitiba; e fi- um diálogo político aberto no qual a
francês, Ignacy Sachs (85 anos) é zemos também uma viagem à Ama- sociedade civil organizada desempe-
uma das principais referências para se zônia com seminário em Manaus. Eu nha um papel relevante.
pensar o desenvolvimento sustentável. participei de várias atividades ligadas
Desde os anos 1980, Sachs discute as à conferência, dentro e fora dela. Eu Quais foram os principais legados da
possibilidades de um novo paradigma diria que a parte mais viva e mais conferência Rio 92? Da conferência
de desenvolvimento, baseado na importante do Rio foi o que estava Rio 92 surgiu a Agenda 21 que é um
convergência entre economia e ecologia, acontecendo na Praia do Flamengo e documento certamente importante. E
considerando a atuação do homem em vários lugares da cidade. surgiu também uma frustração porque
desde o início da revolução industrial. a Rio 92 aconteceu na contramão da
Ignacy Sachs morou no Brasil entre Quais países tiveram participação história; porque estávamos em um
as décadas de 1940 e 1950, onde mais destacada na Rio 92? Como foi momento que se seguiu a implosão
iniciou sua formação acadêmica, e a participação dos latino-americanos? da União Soviética e uma enorme ofen-
fez seu doutorado na Índia. Além Não tenho condições para responder siva do neoliberalismo. Por isso, acho
disso, trabalhou na Polônia socialista por que passaram-se 20 anos e esse que muitas das conclusões da Rio 92
e lecionou na França onde criou o não era o foco da nossa análise. O que não tiveram o avanço que mereciam
Centro de Pesquisas sobre o Brasil ocorreu de importante no Rio foi tudo por causa de uma constelação de forças
Contemporâneo. aquilo que ocorreu fora da conferên- políticas desfavoráveis.

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 22


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Os rumos que o capitalismo tomou no to que seja socialmente “includente”


final do século passado fez aumentar e não “inclusivo”. O prêmio Nobel
a pressão sobre o meio ambiente? indiano de economia Amartya Sen usa
Obviamente se tivéssemos entrado o termo em inglês “inclusioner”. Nós
depois da Rio 92 em uma fase de eco- precisamos de uma marca para nossa
nomias planejadas que contemplariam ação no sentido de construir uma eco-
de uma maneira explícita os impactos nomia includente e, ao mesmo tempo,
não só sociais mas também ambien- ambientalmente sustentável. Isto deve
tais, estaríamos melhor hoje; mas isso estar no centro de um pacto político
não aconteceu. Nós não saímos da Rio entre as diferentes forças vivas de cada
92 com uma espécie de mega contrato nação e entre um pacto internacional
social que necessitamos. Vale a pena entre os Estados que abraçam esta
lembrar que a Rio+20 vai acontecer fi losofia. Portanto, este é o desafio
em uma data redonda, de aniversá- da Rio+20, entrar nesse caminho,
rio do nascimento de Jean-Jacques reconhecer que estamos na nova era,
Rousseau [1712] e uma data também o antropoceno, que já estamos nela
redonda da publicação do Contrato desde a revolução industrial mas
Social [1762]. Então, o grande proble- tardamos em a reconhecer e definir, a
ma é se conseguimos fazer da Rio+20 partir disto, estratégias de desenvol-
o ponto da entrada assumida em uma vimento nacionais que convirjam com
nova era geológica: o antropoceno; que essa preocupação de sustentabilidade
na realidade começou com a revolu- ambiental e de avanços sociais.
ção industrial. Atrás dessa entrada
em uma nova era, deveríamos pensar Para fazer isso, eu acredito que
em um mega contrato social no qual devemos voltar a planejar, ou seja,
os Estados desenvolvimentistas, os temos que recolocar na pauta das
trabalhadores e os empresários e a prioridades a questão de um plane-
sociedade civil organizada estejam se jamento, mas um planejamento que
articulando explicitamente. seja democrático, que seja com alto
grau de planejamento das forças
Os BRICS podem ser bom jogadores vivas de cada nação na formulação
na questão ambiental ou tendem a desses planos. Nós precisamos de um
repetir modelos ultrapassados? Eu planejamento baseado nesse concei-
acredito menos no BRICS do que nos to de desenvolvimento socialmente
IBAS (Índia, Brasil, África do Sul), “includente”, ambientalmente sus-
porque tanto a Rússia quanto a China tentável e organizado a partir de um
tem visões que não coincidem neces- diálogo quadripartite entre o Estado
sariamente com a visão dos países desenvolvimentista, os empresários,
emergentes do qual o Brasil e a Índia os trabalhadores e a sociedade civil
são os dois abre-alas. organizada. Se dependesse de mim, eu
daria aos Estados-membros das Na-
Brasil e Índia não seriam grandes ções Unidas um tempo hábil, uns dois
“pecadores”? Todos os bípedes que ou três anos, para que coloquem na
andam por esse planeta são ao mesmo mesa seus planos de desenvolvimento
tempo pecadores e sonhadores. Não “includente” sustentável. Ao mesmo
estou dizendo que só pelo fato de apro- tempo, eu redobraria os reforços das
ximar o Brasil e a Índia como os dois Nações Unidas para gerar um verda-
abre-alas do bloco dos emergentes, os deiro e importante fundo de desenvol-
dois países vão automaticamente, da vimento “includente” sustentável.
noite para o dia, resolver todos os seus
problemas internos. Temos que pensar Como poderia ser fi nanciado esse
primeiro a economia verde, mas uma fundo? Poderia ser financiado da se-
economia que não perde dimensões guinte maneira: primeiro, voltar a um
sociais do problema. Temos que pensar compromisso, várias vezes enunciado
a questão de um pacto político ao redor da boca para fora, mas nunca realiza-
dos objetivos de um desenvolvimen- do pelos países ricos, acrescentando a

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 23


WWF Iniciativa Amazônia Viva

O importante é definir uma estratégia com objetivos concretos,


dizendo quem faz o que, mais do que ficar pensando em novas instituições
que forçosamente vão se chocar com as instituições existentes e vão dar
lugar a um grande desgaste institucional.

isso uma taxa sobre as especulações rede de cooperação sobre a floresta


financeiras. Poderíamos acrescentar tropical úmida como a floresta Ama-
ainda um imposto sobre as emissões zônica, mas incluindo a floresta do
de carbono, que teria dupla função Congo, as florestas da Indonésia e da
de frear as emissões exageradas de Índia, e assim por diante. Formando
carbono que provocam o aquecimento uma geografia de cooperação cientí-
global e gerar um fundo de desenvol- fica e técnica por biomas, incluindo
vimento. Por último, começaríamos a nessa visão um tema que é muito
cobrar pedágios sobre áreas e oceanos importante para vários países que é a
aos aviões e navios que os atraves- interface solo-água; ou seja, ao longo
sam, partindo do princípio de que são dos litorais dos mares, ao longo dos
patrimônio comum da humanidade. rios, nos lagos naturais e artificiais,
Quem utiliza, paga. Com essas quatro e sempre com uma visão comum do
fontes seríamos capazes de criar um tema, e soluções diferenciadas. Como
grande fundo de desenvolvimento fazer com que a revolução verde avan-
“includente” sustentável administrado ce do lado do solo e como conjugá-lo
pelas Nações Unidas. com a revolução azul dentro da água,
ou seja, sistemas integrados de pro-
Outra ferramenta indispensável são dução de alimentos e até de energia,
as redes de cooperação científica e nessa interface terra-água?
técnica que se pautam por uma nova
geografia. Não se trata de Norte-Sul, Qual sua opinião sobre o texto base
meridianos, mas trata-se de coope- da Rio+20? Eu não tenho uma posição
ração Sul-Sul, paralelos, para gerar e não quero me pronunciar sobre isto
o máximo de cooperação científica e porque não creio que essa é a tônica
técnica ao redor de biomas semelhan- da conferência, ou seja, já temos mui-
tes, compartilhados por países dos di- tas organizações internacionais. Para
ferentes continentes. Assim, ter uma mim a prioridade é definir uma estra-

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 24


WWF Iniciativa Amazônia Viva

tégia e fazer com que as organizações que medida os objetivos do aumento


existentes mudem no que for neces- da produção de alimentos podem ser
sário por dentro para trabalharem harmonizados com a utilização dos
na direção desejada, fechando umas resíduos da produção de alimentos
agências e abrindo outras, em geral, para bioenergia. Enfim, como os dois
leva a uma grande perda de tempo, objetivos devem andar de mãos dadas
energia e dinheiro. Ou seja, temos as e pés juntos, a resposta é que não há
comissões regionais, as agências subs- uma solução única e temos que explo-
tantivas, vocês acabam de eleger para rar todos esses problemas.
a FAO [Organização das Nações Uni-
das para Agricultura e Alimentação] O senhor espera algum protagonis-
o José Graziano – digno sucessor da mo dos países amazônicos além do
tradição de [médico e geógrafo] Josué Brasil? Acredito que o Pacto Amazô-
de Castro [autor do livro Geografia nico veio para ficar e que o Brasil tem
da Fome, de 1946]; vamos usar as um papel extremamente importante
instituições existentes, adaptando-as. pelo tamanho da Amazônia brasileira.
O importante é definir uma estraté- Protagonismo na conferência propria-
gia com objetivos concretos, dizendo mente dita, maior ou menor, eu não
quem faz o que, mais do que ficar tenho elementos para julgar. Eu não
pensando em novas instituições que abriria mão da ideia de que os países
forçosamente vão se chocar com as amazônicos têm que trabalhar con-
instituições existentes e vão dar lugar juntamente o tema do melhor apro-
a um grande desgaste institucional. veitamento de seus enormes recursos
naturais renováveis, sem falar do fato
O que o senhor espera acontecer na de que há na Amazônia reservas mi-
Rio+20 em relação à Amazônia e que nerais enormes e que estão muito lon-
papéis podem ter os países amazô- ge de terras exploradas que possuem
nicos, o Brasil e os demais, nessa riquezas naturais. A questão é como
conferência? Primeiro, é óbvio que fazer isso respeitando os objetivos
não há uma solução única. Do ponto sociais, como fazer isso sem esquecer
de vista energético nós temos que as populações indígenas que vivem
trabalhar com três conceitos. Primei- na Amazônia. Nós temos sempre que
ro, sobriedade, ou seja, não gastar
energia à toa. Segundo, eficiência;
pensar no tripé de objetivos sócios de
prudência ambiental e de viabilidade
IGNACY
aprender a produzi-la bem. Terceiro,
buscar alternativas quanto às fontes
de energia; e a minha opinião é de
econômica. A viabilidade se constrói
pela ação dos Estados e dos povos, só
que ao construir a viabilidade eco-
SACHS
como sair das energias fósseis tanto nômica devemos tomar todo cuidado
quanto pelo problema do aquecimento para não fazer ele por um custo social
quanto pelo esgotamento das reser- excessivo e também todo o cuida-
vas de petróleo que vão nos obrigar a do para não fazer por meio de uma
usar, por um certo tempo, o pré-sal incorporação predatória das riquezas
(petróleo submarino) etc. Eu não digo naturais. Se a gente ficar atento a
para abrir mão disso, mas assinalo esses três objetivos articulados, eu
que são soluções relativamente limita- acredito que vocês aqui, no Brasil e na
das pelo tempo, então temos que dar América Latina, podem ainda não só
uma importância grande às energias avançar muito, mas criar modelos que
renováveis. Nas energias renováveis, terão um impacto muito positivo so-
nós temos a maremotriz (que ainda bre o que poderá acontecer no futuro
não sabemos usar bem) e temos exem- na África e em certos países na Ásia,
plos pequenos, como a eólica, que está abrindo sempre os olhos e dando a de-
vindo, mas que por si só não vai resol- vida importância à troca permanente
ver o caso. Não podemos abrir mão da das experiências concretas e isso me
bioenergia. Ao considerar a produção permite me dar a sugestão de fazer
de bioenergia vamos considerá-la jun- um esforço muito maior para criar um
to a produção de alimentos e ver em intercâmbio de estudantes.

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 25


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Entrevista

Série Rio 92, para onde foi?


Rio+20, para onde vai?

Leia a seguir os principais trechos da Quais países tiveram participação


entrevista que o acadêmico concedeu mais destacada na Rio 92? Como foi
ao WWF. a participação dos latino-americanos?
A participação é sempre mais impor-
Foto cedida pelo entrevistado

O que fazia à época da Rio 92? tante dos países que são mais centrais
Recorda-se de algum episódio que em sistemas internacionais. Naquela
marcou a conferência? Eu era profes- conferência se destacou a atuação de
sor titular de Ciência Política e Rela- alguns países europeus, como Ale-
ções Internacionais na Universidade manha, França, Reino Unido, Suécia
Federal de Santa Catarina. Participei e e Holanda, por exemplo. Sempre é
organizei eventos acadêmicos paralelos importante destacar a participação
à conferência Rio 92. Além disso, tinha dos Estados Unidos e do Japão. Da
contato com ONGs e dialogava com América Latina, eu apenas colocaria
elas sobre questões da conferência. em um plano junto com o Brasil, a Cos-
ta Rica. O Brasil se destacou e muito
Os interesses daquela época eram mais por ser o país sede e por ter tido
EDUARDO os mesmos que vemos hoje? Não. O
interesse era muito superior. Era um
um presidente, [Fernando] Collor, que
havia provocado uma ruptura com

VIOLA momento muito diferente do sistema


internacional. Aquela era a primeira
a política ambiental conservadora
dos presidentes anteriores ao nome-
grande conferência pós Guerra Fria ar como ministro de Meio Ambiente
O sociólogo argentino, naturalizado
para debater os novos temas globais [ainda com status de secretário da
brasileiro, Eduardo Jose Viola,
da humanidade, que anunciava uma Presidência da República naquela
professor de Relações Internacionais
capacidade de cooperação muito mais época], José Lutzenberger que era
na Universidade de Brasília (UnB),
alta no sistema internacional do que considerado pelos governos anteriores
não guarda grandes expectativas
havia acontecido anteriormente por como radical e extremista. Podemos
quanto à realização da Rio+20. A
causa do bloqueio da Guerra Fria. dizer que a Colômbia, sendo um país
nova conferência será diferente da
Nesse sentido, foi uma conferência que muito rico em biodiversidade, também
que aconteceu há 20 anos. Naquela
despertava um interesse altíssimo. Em teve nessa área específica uma atuação
época, os países estavam dispostos
1992, houve a emergência do problema mais relevante.
a debater novos temas globais. Agora
ambiental global no sistema interna-
não. O problema é que o avanço
cional com força, embora ainda tivesse Quais foram os principais legados
poderia questionar o interesse
um status secundário. Hoje, o proble- da Rio 92? O legado é ter colocado
econômico prevalecente, o uso de
ma climático - não todos os problemas os problemas ambientais como um
matrizes energéticas insustentáveis
ambientais - tende a entrar no sistema ponto muito importante na agenda
e ameaçar o modelo de negócio
internacional, mas há um impasse internacional. A maioria dos países
existente com um novo paradigma.
muito profundo para avançar. Sendo do mundo até essa época não tinham
Isso explica o baixo interesse político
assim, a conjuntura é muito diferente. o menor interesse e preocupação com
de muitos chefes de Estado pela
É incomparável. os problemas ambientais. A partir
Rio+20.

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 26


WWF Iniciativa Amazônia Viva

daí, os problemas ambientais globais mais destruímos o planeta. A questão de alimentos no Brasil é uma questão
passaram a fazer parte do cotidiano da da superpopulação é uma questão de aumentar a produtividade, eficiên-
agenda internacional, mesmo que não muito importante e isso não se fala cia e Estado de Direito, cumprir lei que
no centro da agenda. nas Nações Unidas, por quê? Porque seja rigorosa.
A frustração tem a ver com a distân- as Nações Unidas são uma estrutura
cia entre o que foi definido na Rio 92 e politicamente correta onde só se fala Qual sua opinião sobre o texto base
a implementação posterior. Os proble- do que todos concordam em falar; e da Rio+20? O texto base é um desas-
mas ambientais globais se agravaram sobre o resto não se fala. tre. O estado atual do sistema interna-
extraordinariamente nesses 20 anos. Há algo muito importante para des- cional não favorece avanço de alguma
E o avanço da humanidade para lidar tacar: temos hoje o sistema capitalista significação na Rio+20, retoricamente
com esses problemas tem sido míni- como ele é, ou seja, está baseado no pode ter várias declarações, mas ba-
mos, ou seja, os problemas são muito lucro de curto prazo. Todo incentivo sicamente não há avanço. O problema
mais graves. A emissão de gases de do sistema é para não fazer reformas fundamental do mundo não está na
efeito estufa cresceu em média 3% ao que apontem para a sustentabilidade Rio+20. Está na mudança climática
ano nesses 20 anos. O que a confe- de longo prazo. Isso não quer dizer que que o governo brasileiro fez um esfor-
rência Rio 92 prometia era todo um não exista uma minoria significativa e ço, totalmente errado, para que fique
processo de redução de emissões dos em crescimento de empresas que ten- em lugar secundário na agenda da
países desenvolvidos e de redução da tam ser sustentáveis no longo prazo, conferência Rio+20. Diluiu o proble-
curva de emissão dos países em de- mas as regras do jogo do sistema são ma do clima, quando ele deveria ser
senvolvimento. Nada disto aconteceu, contrárias a isso porque o que legitima central e enfatizou a questão social da
salvo algumas exceções. os diretores das grandes corporações é inclusão não considerando uma ótica
No caso da biodiversidade, a des- que deem lucro para os acionistas, e a sociopolítica - que seria a correta - e
truição continuou na mesma propor- curto prazo. que tem a ver com a governabilidade
ção. O que houve foi um aumento de Por último, o modelo energético, nos três níveis: governabilidade global,
áreas protegidas, genericamente, ou sem dúvida. A humanidade criou esse nacional e subnacional. Nesse sentido,
seja, só no papel, com alguma imple- gigantesco capital fi xo baseado em o documento é muito fraco, não dá
mentação. O grande planeta da biodi- carvão e petróleo. O problema maior para esperar avanços.
versidade continua sendo destruído na é o carvão, e isso é importante, pois o A posição mais avançada que existe
mesma porcentagem que há 20 anos. consumo está crescendo muito mais até agora na Rio+20, mas que não
A diferença é que hoje temos ilhas e rápido que o petróleo, além dele causar vai triunfar em absoluto, é a posição
arquipélagos protegidos muito mais um efeito estufa quase que duas vezes da União Europeia, de criar uma
extensos do que tínhamos antes. mais potente que o petróleo. organização mundial para o meio
ambiente. Na verdade, teria que ser
Qual a dificuldade? Por que não se No Brasil, a produção de commodities algo muito mais profundo do que isso,
consegue avançar? Não há uma cau- agrícolas tem pressionado a destrui- mas isso ninguém coloca; seria uma
sa; são múltiplas causas. O primeiro ção do meio ambiente. Há possibilida- estrutura já de governança global,
ponto fundamental é a cultura contem- de de o País aumentar a produção de assim por dizer, que limitaria mui-
porânea, o sistema de valores con- alimentos sem impactar mais o meio to mais a soberania nacional. Uma
temporâneos que guia a sociedade e ambiente? O governo brasileiro, seu espécie de estrutura de governança
seus governantes. Há um consumismo núcleo, e o agronegócio estão mui- que seja uma organização mundial de
exagerado. O sistema de valores que to pouco interessados ou têm pouca governabilidade e que subordine as
orienta a humanidade é hipermateria- consciência da gravidade do problema. estruturas existentes como o Fundo
lista e hiperconsumista. O que interessa é o curto prazo, o ciclo Monetário Internacional, o Banco
Outro problema pouco menciona- do negócio, o ciclo político, reeleger-se Mundial, a Organização Mundial do
do, mas é de extrema gravidade, é o depois. Quanto a aumentar a produção Comércio, a Organização Mundial da
contínuo aumento da população da de alimentos no Brasil sem destruir o Saúde. A posição mais progressista e
terra, mesmo que isso seja hoje muito meio ambiente, temos experiências de mais consciente é a posição da União
heterogêneo, mas a terra já estava aumento de produtividade em várias Europeia, apoiada por muitos países
superpovoada em 1992 e está muito áreas do agronegócio, mas podemos africanos, mas que o Brasil se opõe
mais hoje. São fatores que vão definir aumentar muito mais a produtividade. porque a posição brasileira continua
o nível de possibilidade de proteção Além disso, a regulação pode ser estrei- tendo o fantasma, a paranoia do pro-
ambiental, o nível de consumo, o ta o suficiente para que a expansão da tecionismo, ou seja, essa organização
nível de destrutividade das pessoas e a produção de alimentos ocorra basica- proposta pode ser perigosa para o
capacidade da inteligência tecnológica mente em áreas já degradadas, sem Brasil e os países emergentes porque
disponível. Quanto mais pessoas, mais necessidade de avançar com desmata- pode estimular o protecionismo. Isso
consumo com tecnologia atrasada, mento ou converter áreas. A produção não tem a menor consistência.

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 27


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Essa organização poderia cuidar do a Rússia é um ator muito negativo no Foi produto de uma janela de opor-
mercado de carbono? Poderia, mas sistema internacional. A Índia é outro tunidade. O problema da lei é que ela
não é só isso, são muitas outras coisas. ator muito negativo, um ator esqui- não está sendo implementada. Quando
Qual o principal problema hoje, um zofrênico. A Índia sempre disse que o vemos coisas decisivas, como a nova
problema decisivo da governabilida- problema tem que ser resolvido pelos política industrial, vamos em direção
de ambiental? É a fragmentação do outros que o criaram, pois ela não se oposta à lei de mudança climática. O
sistema. Você tem centenárias conven- compromete com meta de nenhum Brasil é um exemplo de avanço na área
ções e muitas delas são fundamentais tipo. Então a posição indiana é muito de emissões por mudança do uso da
e outras são secundárias, que pouco negativa hoje e eles são os que mais terra (desmatamento), mas na área da
falam entre si. O PNUMA [Programa vão sofrer e de fato já estão sofrendo. indústria, o Brasil está estagnado, e na
das Nações Unidas para o Meio Am- Os outros atores, China, Brasil e área de energia, o país pode começar a
biente] é uma organização muito fraca, África do Sul, são ambivalentes. A China retroceder se der uma importância ex-
embora cumpra uma função relevante até quatro anos atrás era uma economia cessiva aos investimentos na indústria
no plano científico. Então uma orga- de alta intensidade de carbono, de alta do petróleo.
nização ambiental mundial com um irresponsabilidade na governabilidade Até 2008, a África do Sul era o país
poder equivalente ao da Organização global, mas tem mudado, gradualmen- mais avançado, que mais propunha
Mundial do Comércio é fundamental te. Aonde a mudança fundamental avanços no sistema de governo am-
para a humanidade. Mas esta é a pro- se deu mais foi no interno da política biental global. A China e o Brasil estão
posta da Europa, mas o Brasil tem se energética porque a China está pro- avançando agora e já podemos dizer
oposto a isso porque é prisioneiro da movendo muito o desenvolvimento de que os mesmos já passaram a África
aliança com os BRICS. O país poderia novas energias renováveis, particular- do Sul. Outro ponto é que a China e o
ter uma posição muito mais progres- mente a energia eólica, solar foto- Brasil são muito mais importantes que
sista em correspondência com o que voltaica e energia nuclear de terceira a África do Sul.
o governo sempre fala que o Brasil é geração. Então, tudo isso vai permitir
uma potência ambiental, mas quando a China diminuir a curva de cresci- Qual a viabilidade da estruturação
chega a hora das definições, onde está mento de emissão. Ela está criando um da chamada “economia verde”? Uma
a potência ambiental? novo capital de baixo carbono, mas, ao ‘economia azul’ seria também impor-
O mesmo aconteceu com a nova mesmo tempo que esse é o lado bom, tante? Eu diria que o que está mais
política industrial. Apesar de ter uma qual é o lado ruim? É que ela quer definido neste momento no mundo é
lei de mudanças climáticas, a nova continuar maximizando a dinâmica do a ideia de economia de baixo carbono.
política de produção industrial auto- velho capital, altamente intensivo em Eu acho que esse é um conceito já mais
mobilística, por exemplo, só promove carbono, continua sendo um grande consagrado no sistema científico e no
produção de carro no país e não dá exportador de manufaturas altamente próprio sistema político internacional.
a menor importância à eficiência intensivas em carbono. Essa é mais ou A ideia de economia verde, que surge
energética, a criação de um carro que menos a ambivalência da China. Um agora, é uma ideia que pode ser muito
seja de etanol puro. Quando vem uma outro fator, típico de regime não demo- importante na medida que avance no
política industrial é quase a mesma de crático, é que a China se nega a tratar refinamento no conceito de economia
20 anos atrás. do que envolva o sistema internacional de baixo carbono porque este conceito
de verificação. tem limitação porque está excessiva-
Qual o papel das economias emer- Depois nós temos o Brasil que o mente concentrado apenas no ciclo
gentes, como os BRICS, no impacto ponto chave foi a extraordinária redu- do carbono e não nos outros ciclos,
e nas soluções para as questões ção do desmatamento a partir de 2005. como por exemplo o ciclo do fósforo
ambientais? Eu diria que os BRICS Digamos que isso permitiu ao Brasil e o da biodiversidade. Nesse senti-
são apenas um bloco retórico por que reduzir emissões e mesmo que ainda do, a economia verde poderia ser um
o interesse em todos os planos são di- tenhamos um desmatamento de 6 mil avanço maior, mas poderia também
ferentes. Vamos entrar mais especifi- km², o que é vergonhoso, foi um avan- ser um modo de diluir, como acabou
camente no que seria a transição para ço extraordinário em relação à média ocorrendo com a ideia de desenvolvi-
uma economia sustentável de baixo da primeira metade da década passada mento sustentável em que todo mundo
carbono e os problemas ambientais que era de 22 mil km² de desmatamen- é a favor porque não significa quase
ligados a Rio+20. A Rússia é um país to na Amazônia por ano. Então o Brasil nada. Baixo carbono tem significado
que tem sua economia baseada na teve um avanço importante nessa porque se mede. Eu seria favorável ao
exportação de combustíveis fósseis, área que permitiu inclusive uma lei conceito de economia verde, inclusive
petróleo e gás natural. É uma eco- de mudança climática muito avança- também a ideia de economia azul, des-
nomia muito ineficiente, altamente da ao fim de 2009. Eu diria que a lei de que signifiquem um refinamento,
intensiva em carbono e com uma brasileira de mudança climática é mais sofisticação, maior precisão do concei-
baixa preocupação ambiental. Então, avançada que a sociedade brasileira. to de economia de baixo carbono.

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 28


WWF Iniciativa Amazônia Viva

O setor empresarial e sociedade civil sos de oportunidade, os diretores de


podem efetivamente contribuir para a organizações e empresas. Existem
conservação ambiental e o desenvolvi- poucas pessoas que façam análise
mento sustentável? Em termos gerais, profunda e científica da conjuntura
há um setor de empresas brasileiras, e da realidade para ver o que é e o
várias delas importantes, interessado que não é possível para, a partir daí,
na Rio+20 e que o Brasil avance na atribuir responsabilidades. É nesse
transição da economia de baixo car- sentido que estamos sendo inundados
bono, de sustentabilidade consistente, com informações de baixa qualidade
isso é real. Eu diria que a maioria no Brasil e no Mundo.
das empresas brasileiras não estão
interessadas ou não tem foco nisso. As Num enfoque direcionado ao acesso
empresas interessadas são aquelas que dos cidadãos a comida, água, energia,
já incorporaram a questão e que estão como governos e sociedade devem
fazendo mudanças ou já mudaram par- olhar para o meio ambiente? Qual é a
te de sua estrutura de produção, logís- solução de futuro para a Amazônia, o
tica de fornecedores, em favor de um Brasil e a América Latina? A questão de
processo produtivo de baixo carbono tomarem a Amazônia é um velho discur-
ou que tem diretoria visionária ou que so obsoleto, usado em geral oportunis-
são fi liais de algumas multinacionais ticamente por diversos setores. Quem
que tem políticas avançadas. toma a Amazônia é o ilícito transnacio-
Na sociedade civil, os ambientalis- nal, o crime organizado internacional.
tas com certeza estão mais interessa- O que está destruindo a Amazônia é o
dos. Aliás, mas muitos ingenuamente não cumprimento da lei. Não há a menor
porque veem o mundo através do seu chance de nenhuma potência querer
umbigo, ou seja, não tem capacidade tomar a Amazônia e tudo isso são para-
analítica de compreender a comple- noias típicas de uma mentalidade de se-
xidade do sistema internacional, da gurança nacional totalmente obsoleta. O
dinâmica de capacidade e de poderes papel do Exército tem sido fundamental
no sistema internacional. Há organi- no avanço do Estado de Direito na Ama-
zações, como o WWF, que tem uma zônia, que fazem pelotões de fronteira,
visão realista do mundo, digamos que que se transformam numa presença do
quer transformar o mundo em uma
visão realista e não extremista ou
Estado e diminuem o avanço do crime
transnacional.
EDUARDO
radical. Em geral, a média das ONGs
ambientalistas é ingênua. E aqui temos
outro ponto. Há uma parte das ONGs
A governabilidade do Brasil sobre a
Amazônia avançou nos últimos anos.
Na sociedade brasileira a ideia de que
VIOLA
que tem uma visão muito radical, que a Amazônia vai ser invadida tem cada
é negativa, uma visão anticapitalista. vez que menos importância preci-
Essa alternativa não existe. samente porque há consciência da
O dilema da humanidade é con- possibilidade do Brasil de controlar
tinuar com o capitalismo atual e aumentou; porém ainda é preciso au-
insustentável - que cada vez mais vai mentar muito mais. O Brasil deveria
por um caminho de provocar muita alocar mais recursos para a Amazô-
destruição -, ou reformar o capitalis- nia, recursos para as Forças Armadas,
mo na direção do que se chama de ca- Polícia Federal, Ibama, Justiça Fede-
pitalismo natural, um capitalismo que ral, ou seja, o Estado Federal deveria
redefine a regra do sistema em função ser uma espécie de grande apoiador
de incentivos de lucros em longo e promotor do Estado de Direito da
prazo e de equilíbrio entre o interesse Amazônia. O que precisamos é de um
particular da empresa e o interesse grande avanço de estado de direito, ou
universal da humanidade. seja, que se cumpra a lei.
Em termos gerais, eu diria que um
problema fundamental na educação,
na sociedade brasileira e na mídia é
o seguinte: as pessoas fazem discur-

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 29


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Entrevista

Série Rio 92, para onde foi?


Rio+20, para onde vai?

A companhia, que é líder na venda importante na promoção das agendas


de alguns alimentos, produtos de antipobreza e de sustentabilidade. Essa
higiene e de limpeza, tende a se questão é tão relevante para Rio+20
beneficiar do esperado crescimento quanto foi para a Rio 92. Atualmente,
Foto cedida pelo entrevistado

do consumo nos países emergentes, países como Colômbia, Peru e Guatema-


notadamente os BRICS. Apesar da la tomaram a dianteira na promoção de
boa expectativa de mercado, Polman crescimento sustentável e na inclusão
espera que não se repita entre esses da ideia de Objetivos de Crescimento
os padrões de consumo da Europa Sustentável na agenda da Rio+20.
e América do Norte, pois se isso
acontecer “simplesmente ficaremos sem Quais foram os principais legados da
recursos”, alerta. A seguir, a entrevista Conferência Rio 92? O legado da Rio
concedida por Polman ao WWF. 92 continua vivo hoje. O plano de ação
Agenda 21 sobre desenvolvimento sus-
O que fazia à época da Rio 92? Recor- tentável acordado em 1992 ajudou a levar
da-se de algum episódio que marcou a à formulação dos Objetivos de Desenvol-
PAUL conferência? Em 1992, estava morando
na Espanha e já estava muito ciente dos
vimento do Milênio dez anos mais tarde.
A última cúpula do Rio também ajudou a

POLMAN problemas com recursos, como água, e


das restrições crescentes sobre cresci-
criar a UNFCCC (negociações globais so-
bre o clima), bem como o World Business
mento econômico e social. A principal Council for Sustainable Development,
A Rio+20 deve avançar na definição realização da Rio 92 foi converter a sus- uma entidade que estimula crescimento
de objetivos de sustentabilidade, tentabilidade de uma questão periférica mais sustentável no setor privado. Agora,
associando o enfrentamento da em uma que não podia mais ser ignorada vinte anos mais tarde, governos, socieda-
pobreza e a preservação ambiental. no debate sobre crescimento econômico de civil e grupos ambientais olham cada
Apesar de tamanho propósito, o texto e prosperidade. Talvez a maior conquista vez mais para o setor de negócios para
base preparado para a conferência tenha sido a adoção da Agenda 21 que que crie crescimento sustentável. Essa
parece aquém e “é um problema reconheceu a importância de encontrar o situação é muito diferente da de 1992,
para os países membros das Nações equilíbrio correto e a interconexão entre quando o setor empresarial não era visto
Unidas”. Desde a Rio 92, percebe- as agendas ambiental, social e econômi- como uma peça central na busca soluções
se alguma frustração quanto ao ca. Tão importante quanto foi o reconhe- de sustentabilidade, como é o caso hoje.
progresso de temas sensíveis como cimento da importância do setor privado Vinte anos atrás, as empresas ainda não
mudanças climáticas, níveis de e da necessidade de parcerias. tinham entendido a importância funda-
nitrogênio e biodiversidade. mental de sustentabilidade para o cresci-
Essas avaliações não são de Quais países tiveram participação mento dos negócios. Na Rio+20, o setor
nenhum ativista ambiental, mas de um mais destacada na Rio 92? Como foi empresarial não só poderá mostrar a
CEO a frente de uma das principais a participação dos latino-americanos? jornada que empreendeu, como também
companhias globais do planeta: Paul Os países da América Latina, incluindo poderá assumir uma posição de liderança
Polman, diretor executivo da Unilever. o anfitrião, o Brasil, têm um histórico em áreas chave para o futuro.

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 30


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Rio+20 precisa reconhecer a necessidade de uma


colaboração muito maior entre governos e o setor empresarial em
relação à sustentabilidade.

Entre as resoluções da Rio 92, alguma empresas têm que ser incluídas nessa
área não avançou? O desafio com agenda. Rio+20 precisa reconhecer a
todos os processos globais é manter o necessidade de uma colaboração muito
ímpeto. Enquanto muitos gostariam maior entre governos e o setor empre-
que tivéssemos tido mais ações du- sarial em relação à sustentabilidade. E
rante os últimos vinte anos em termos um número maior de empresas precisa
de desenvolvimento sustentável, é im- se engajar mais em prol do crescimen-
portante focarmos nos progressos que to sustentável. É importante para o
tivemos, e como poderemos avançar a setor empresarial que os governos pro-
partir desses. No entanto, a impaciên- movam as recompensas e os incentivos
cia é justificada em algumas áreas, em certos nas políticas públicas para que
particular mudanças climáticas, níveis as empresas sigam esse caminho.
de nitrogênio e biodiversidade.
Qual sua opinião sobre o texto base da
Qual deveria ser o principal resulta- Rio+20? O texto é um problema para
do da Rio+20? Acredito que Rio+20 estados membros da ONU, mas eu esti-
oferece duas grandes oportunidades. mularia os governos a se comprometerem
Primeiro, devemos iniciar um processo com propostas mais detalhadas que su-
para definir objetivos de sustentabili- portem os Objetivos de Desenvolvimento
dade para o período de 2015 a 2030. Sustentável, assim como as exigências
Esses funcionariam como os Objetivos das empresas de políticas públicas que
de Desenvolvimento do Milênio, a estimulem ainda mais o desenvolvimen-
diferença é que se aplicariam a todos to sustentável. Estamos no ponto onde
os países e abrangeriam tanto as ques- ações específicas falarão mais alto que as
tões de pobreza como as ambientais. palavras. Acho que o setor empresarial
Segundo, e de extrema importância, as está preparado para isso.

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 31


© François Xavier Pelletier / WWF-Canon

WWF Iniciativa Amazônia Viva

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 32


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Como setor empresarial e sociedade dia e como se tornará cada vez mais
civil podem contribuir para a conser- crítico para o crescimento econômico
vação ambiental e o desenvolvimento no futuro. É perfeitamente possível
sustentável? Grupos da sociedade ci- alcançar um crescimento sustentável
vil e as empresas têm muito a ganhar e equitativo. A experiência da própria
trabalhando juntos. Vimos isso na Unilever mostra que conseguimos
Unilever. Por exemplo, trabalhamos fazer nosso negócio crescer enquanto
com parceiros como o Unicef para reduzimos nossa pegada ambiental e
ensinar a crianças de idade escolar os garantimos o uso de matérias susten-
benefícios de se lavar as mãos com sa- táveis. Os elementos necessários são
bonete - que ajuda a prevenir diarreia uma mudança de atitude e um novo
e doenças respiratórias. A Unilever modelo de negócios.
também trabalha com a Rainforest
Alliance para garantir que nosso Num enfoque direcionado ao acesso
chá e nosso cacau venham de fontes dos cidadãos a comida, água, energia,
sustentáveis. Ao reconhecer o papel como governos e sociedade devem
crucial uns dos outros na sociedade e olhar para o meio ambiente? Qual é a
na proteção do meio ambiente, temos solução de futuro para a Amazônia, o
muito a ganhar muito com a colabora- Brasil e a América Latina? Uma ideia
ção. Simplesmente não conseguiremos que a Rio+20 deverá estimular é o
fazer tudo sozinhos. desenvolvimento de uma série de Obje-
tivos de Desenvolvimento Sustentável.
Qual é o papel das economias emer- Quando os Objetivos de Desenvolvi-
gentes como os BRICS nos impactos mento do Milênio expirarem em 2015,
sobre o meio ambiente e nas solu- precisaremos manter o foco do mundo
ções de questões ambientais? Mais na pobreza e na fome e, ao mesmo
de 50% dos negócios da Unilever tempo, garantir a colaboração global
estão nos mercados emergentes e em para lidar com questões ambientais
desenvolvimento, e essa proporção críticas como desmatamento, mudança
deverá atingir 70% até o ano de 2020. climática, escassez de água e produção
É esse crescimento que destaca a im- e consumo sustentáveis.
portância de se mudar para um novo Para superar esses desafios é crucial
modelo sustentável de negócios. Já
estamos consumindo os recursos da
manter o setor privado envolvido
no debate. Na Unilever, crescimento
PAUL
Terra mais rapidamente que a natu-
reza consegue os repor, e se as classes
médias das economias emergentes
sustentável é a parte central de nosso
plano de negócios. No entanto, não
podemos atuar sozinhos, em isola-
POLMAN
começarem a replicar os padrões de mento. Rio+20 oferece uma oportuni-
consumo da Europa e América do dade para os governos e as empresas
Norte, simplesmente ficaremos sem trabalharem juntos no desenho de
recursos. Os BRICS e o setor empre- um plano para um futuro sustentável.
sarial são atores vitais no desenvol- Mais empresas deverão aceitar o papel
vimento das políticas públicas e das de contribuir para a criação de uma
ações empresariais necessárias para economia mais sustentável e equitati-
endereçar as questões de eficiência va, mas os governos também deverão
hídrica e energética, resíduos, recicla- viabilizar isso através da promulgação
gem e fontes sustentáveis. das políticas corretas, para facilitar a
atuação das empresas. Também é uma
Qual a viabilidade da estruturação questão de assumir responsabilida-
da chamada “economia verde”? de pessoal. Nosso trabalho pioneiro
Uma ‘economia azul’ seria também na presidência da força tarefa B20
importante? Os conceitos de eco- Foodsecurity é um exemplo disso. Nós
nomia verde e azul são maneiras todos temos responsabilidade e temos
úteis de começarmos a pensar sobre papéis claros na garantia da realização
como reconhecemos que a escassez dos objetivos originais da Rio 92. Um
de recursos é um problema hoje em futuro melhor para todos.

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 33


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Entrevista

Série Rio 92, para onde foi?


Rio+20, para onde vai?

redemocratização do país, se dedica ao envolvida no processo de mobiliza-


associativismo empresarial e aproxima ção pelo impeachment do [presidente
o mundo corporativo dos movimentos Fernando] Collor. A questão ambiental
sociais ao fundar e coordenar o que era uma coisa muito nova para o
Pensamento Nacional das Bases Brasil naquela época, porque todas as
Roosewelt Pinheiro /ABr

Empresariais (PNBE). discussões brasileiras eram focadas nas


Atualmente, entre outras atividades, questões sociais, na questão da crise
ele se dedica ao Fórum Social Mundial econômica e na política.
e ao Conselho Consultivo do Global
Compact, programa desenvolvido Passados 20 anos, as empresas
pelo ex-secretário-geral da ONU, inseriram, pelo menos em discurso,
Kofi Annan, que procura mobilizar a uma preocupação com a sustentabili-
comunidade empresarial internacional dade. A sustentabilidade se tornou um
na promoção de valores fundamentais valor? Virou. Não existia a expressão
nas áreas de direitos humanos, “responsabilidade social empresarial”
relações de trabalho e meio ambiente. e muito menos o conceito e a cultura. O
ODED Com essa bagagem e militância,
Oded Grajew sabe do papel central
que tinha no máximo era uma cultura
de fi lantropia nas empresas, onde a

GRAJEW da classe empresarial em favor da


conservação ambiental e espera que
empresa separava algum recurso e
aplicava em projeto social. Hoje essa
a Rio+20 ajude a colocar na agenda cultura foi implementada, não há
O período que separa a Rio 92 e brasileira e na agenda internacional empresário médio ou grande que não
a Rio+20 viu surgir a cultura de “todas as questões que envolvam tenha discurso sobre a responsabili-
responsabilidade social empresarial, a sustentabilidade”. A seguir os dade social e também da sustentabili-
que abriga iniciativas das companhias principais trechos da entrevista que dade, pois as duas andam juntas. Uma
privadas que possam reverter concedeu ao WWF. empresa socialmente responsável é
em favor dos empregados e da uma empresa que procura se desen-
comunidade, em torno de valores e O que o senhor fazia à época da Rio volver de uma forma sustentável; são
causas como a sustentabilidade das 92? Recorda-se de algum episódio que sinônimos do mesmo conceito. Agora
atividades produtivas e a preservação marcou aquela conferência? Naquela existem vários graus de envolvimen-
do meio ambiente. época eu estava na fundação Abrinq to e de compromisso das empresas:
No Brasil, um dos personagens [Associação Brasileira dos Fabricantes tem aquelas que ficam com discurso,
centrais para o desenvolvimento do de Brinquedos], tinha o PNBE [Pensa- aquelas que com algum projeto mais
conceito foi o engenheiro elétrico mento Nacional das Bases Empresa- fi lantrópico social e tem aquelas que
Oded Grajew, que iniciou sua vida riais] e não estava envolvido com a Rio estão na vanguarda, que incorporam
empresarial nos anos 1970 inovando 92. São duas coisas que eu me lembro, a a responsabilidade social ou a susten-
com uma fábrica pioneira de brinquedos primeira é a quando eu era coordenador tabilidade em seus instrumentos de
e de jogos inteligentes para crianças geral do PNBE, naquela época, e era a gestão; assim, há variação de grau de
e adultos. Na década seguinte, de única entidade empresarial que estava comprometimento concreto.

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 34


WWF-Brazil / Alex Silveira

Uma empresa socialmente responsável é uma empresa que


procura se desenvolver de uma forma sustentável; são sinônimos do
mesmo conceito.
WWF Iniciativa Amazônia Viva

Quando você se propõe a traduzir o discurso em


ações concretas, na realidade tem que assumir compromissos
com mudanças; estabelecer metas e valores.

Que expectativas tem em relação a questões que envolvam a sustentabili-


Rio+20? Primeiro, do lado de gover- dade. Vai poder avançar no sentido da
nos, acordos governamentais, a minha sociedade toda se debruçar, informar
expectativa é muito baixa, porque vá- e preocupar-se com essas questões no
rios governos importantes, especial- Brasil e no mundo. Muita cobertura
mente da Europa e EUA, estão muito dos meios de comunicação certamen-
mais com a cabeça na crise financeira te vai ajudar a avançar a agenda no
e na crise econômica e até têm difi- sentido de envolvimento da sociedade
culdade em mostrar um compromisso civil e das empresas. Então vai poder
com a sustentabilidade. Segundo avançar no sentido da sociedade toda
alguns países importantes como Ale- se debruçar, informar e preocupar com
manha, França, EUA, estarão saindo essas questões no Brasil e no mun-
ou em meio a um processo eleitoral do, tendo muita cobertura dos meios
e, assim, os governos têm receio de de comunicação que certamente vai
colocar alguma coisa, uma mudança ajudar a avançar a agenda no sentido
decisiva no modelo de desenvolvi- de envolvimento da sociedade civil e
mento. Além disso, todo o processo das empresas. Também vai ser muito
de acordos é um processo que envolve importante na Rio+20 a visibilidade
unanimidade, tem que ter todo mundo de quem já faz ou quem está na van-
de acordo, o que geralmente rebai- guarda, praticando os conceitos mais
xa para o mínimo de denominador modernos de sustentabilidade.
comum. Então, da parte de governos,
é uma expectativa muito baixa. Teremos muitos exemplos de em-
Agora vai ser importante porque vai presas engajadas mundo a fora na
ajudar a colocar na agenda brasileira Rio+20? Sim, vamos ter. Algumas
e na agenda internacional todas as empresas vão utilizar isso como ma-

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 36


WWF Iniciativa Amazônia Viva

rketing, e tem pouco para mostrar de na o modelo de desenvolvimento que


conteúdo; outras que tem mais a mos- tem levado o mundo ao estado atual.
trar, um engajamento mais completo; Também faltam no texto reais com-
vai ter de tudo. Isso virou inclusive promissos com o modelo de desenvol-
valor para as empresas, ter valor de vimento sustentável, de compromis-
marca. As empresas perceberam que sos concretos.
isso é importante para suas ações,
mostrar o que elas estão fazendo em Qual a viabilidade da estruturação da
termo de responsabilidade social, vão chamada “economia verde”? Quando
procurar mostrar isso para procurar você se propõe a traduzir o discurso
se diferenciar e vai ter muita cobran- em ações concretas, na realidade tem
ça. Vários movimentos sociais vão que assumir compromissos com mu-
tencionar e pressionar para avançar danças; estabelecer metas e valores.
mais rapidamente, para que governo, Um exemplo de compromisso com a
sociedade e empresas se engajem mais mudança seria, aqui no Brasil, colocar-
na sustentabilidade. mos em votação no Congresso Nacio-
nal a proposta de emenda constituição
Essas experiências empresariais exi- 52/2011 que estabelece a obrigatorie-
tosas podem ser apontadas como le- dade para presidente da República,
gado da Rio 92? Certamente podem. governadores e prefeitos estabelece-
Vinte anos é muito tempo e bastante rem metas para suas gestões basea-
coisa aconteceu. Hoje o mundo da co- dos no desenvolvimento sustentável.
municação, as informações circulam Conforme a proposta, 90 dias após a
muito mais rapidamente, a sociedade posse, eles têm que apresentar metas
se informa e conhece muito mais a e números em relação a todas as áreas
respeito de tudo, inclusive sobre as da gestão pública e a todas as regiões
empresas. O setor empresarial é um que estão sobre sua governança.
setor muito poderoso na sociedade,
um setor de muita visibilidade, muitos
recursos financeiros e econômicos, é
um setor que tem a mídia na mão, por
ser um grande anunciante, um setor
que financia campanhas eleitorais e
políticos. Então os olhares da socie-
ODED
dade aumentaram muito sobre as em-
presas e as exigências e expectativas
em relação a empresa. Já que o setor
GRAJEW
tem muito poder e muitos recursos, a
sociedade demanda muita responsabi-
lidade e da mesma forma a sociedade
se mobiliza em relação as empresas,
tanto para pressionar, quanto para
rejeitar ou apoiar.

Qual sua opinião sobre o texto base


da Rio+20? O que chama a atenção
é que existe uma falta de sincronis-
mo com as urgências, de repensar o
modelo de desenvolvimento e o real
compromisso, a visão dos governos do
que tem que ser feito, do que é neces-
sário fazer. É um texto muito pobre
em relação a aquilo que se espera que
governos façam e sua visão em relação
a que é necessário fazer. Não é um
texto que fundamentalmente questio-

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 37


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Entrevista

Série Rio 92, para onde foi?


Rio+20, para onde vai?

texto base da nova conferência: “se os Chefes de Estados da importância


limita a reafirmar decisões tomadas da Conferência e da presença deles no
pelos países ou pelas Nações Unidas Rio, o que de fato ocorreu.
que foram insuficientes para evitar
Foto cedida pelo entrevistado

os problemas enfrentados na área Quais países tiveram participação


ambiental”, assinala. mais destacada na Rio 92? Como foi
Além de secretário de Meio a participação dos latino-americanos?
Ambiente, ele foi secretário de Ciência Os países que mais participaram dos
e Tecnologia e Ministro da Educação, preparativos da conferência foram os
entre outros cargos públicos países da União Europeia e Japão. Os
que ocupou. Em suas atividades Estados Unidos tiveram uma partici-
acadêmicas, o cientista dedicou sua pação importante, mas não muito fir-
carreira a pesquisas sobre física me. A participação dos demais países
nuclear, energia, planejamento latino-americanos foi pequena.
energético e aproveitamento de
biomassa. A atuação de José Quais os principais legados da confe-
JOSÉ Goldemberg nas diferentes áreas é
reconhecida em diversos prêmios,
rência Rio 92? A adoção das Convenções
do Clima, da Biodiversidade e a Agenda

GOLDEMBERG entre eles o Prêmio Planeta Azul


- concedido pela Asahi Glass
21. As Convenções após ratificadas pelos
países signatários se transformaram em
Foundation em 2008. A seguir, a leis e estabeleceram obrigações para
O renomado físico brasileiro José
entrevista na íntegra. estes países. No caso da Convenção do
Goldemberg, 84 anos, era o secretário
Clima, ela foi ratificada rapidamente
de Meio Ambiente da Presidência da
O que fazia à época da Rio 92? Recor- e entrou em vigor sendo seguida pela
República quando o país sediou a Rio
da-se de algum episódio que marcou Conferência de Kyoto que adotou o Pro-
92. Ele atuou para que a conferência
a conferência? Era Secretário de Meio tocolo de Kyoto em 1997 que fixou metas
tivesse sucesso e participação
Ambiente da Presidência da República e prazos para a redução das emissões
efetiva dos países cuja a economia
que, na prática, era o Ministério do dos principais gases responsáveis pelo
ou a dinâmica populacional tinham
Meio Ambiente com as atribuições que aquecimento global. O Protocolo não foi
(e têm) forte impacto nas condições
tem agora, acumulando o cargo com o ratificado pelos Estados Unidos, mas
ambientais de todo o planeta.Rio 92
de Secretário de Ciência e Tecnologia. ainda assim entrou em vigor em 2005 e
Em entrevista por escrito, o cientista
O que mais marcou a Rio 92, do ponto foi implementado pelos países da Euro-
aponta como grandes legados da Rio
de vista do Brasil, foi o engajamento da pa. O Mecanismo de Desenvolvimento
92 a adoção da Agenda 21 e o início
Presidência da República nos prepara- Limpo que beneficia os países em desen-
das discussões para a elaboração da
tivos para a Conferência. Uma das for- volvimento, como o Brasil, também deu
Convenção do Clima e da Convenção
mas com que isso ocorreu foi a missão bons resultados.
da Biodiversidade, que espera
da qual me encarregou o Presidente A Convenção da Biodiversidade
ver ações aprofundadas depois
da República de viajar para os Estados demorou mais a ser implementada e o
da Rio+20. Apesar da expectativa
Unidos, Índia e China para convencer primeiro protocolo resultante dele só
positiva, Goldemberg é crítico do

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 38


WWF Brasil / Zig Koch

WWF Iniciativa Amazônia Viva

foi adotado em 2009. Os Estados Uni- são necessárias nesta área, sobretudo é realista se efetivamente quisermos
dos não ratificaram a Convenção. porque os países emergentes como a prevenir/mitigar as mudanças climáti-
A Agenda 21, que não é uma conven- China se tornaram grandes emissores cas na medida do possível.
ção com força legal teve, contudo, uma de gases de efeito estufa desde 1992.
grande influência porque milhares de A Convenção da Biodiversidade Qual sua opinião sobre o texto base
prefeitos em vários países do mundo a permaneceu como um documento da Rio+20? O texto base da Rio+20
adotaram como guia para o desenvol- retórico e só após 2009 com a aprova- (“draft zero”) é inteiramente insatis-
vimento sustentável na área de sanea- ção do Protocolo de Nagoya começou fatório para atingir esses objetivos
mento, disposição de resíduos urbanos realmente a ser implementada. porque de modo geral se limita a rea-
e melhoria da qualidade do ar. firmar decisões tomadas anteriormen-
Qual deveria ser o principal resultado te pelos países ou pelas Nações Unidas
Entre as resoluções da Rio 92, alguma da Rio+20? O principal resultado da que claramente foram insuficientes
área não avançou? A Convenção do Rio+20 deveria ser o aprofundamento para evitar os problemas que enfrenta-
Clima e o Protocolo de Kyoto enfren- das ações já acordadas nas Conven- mos hoje na área ambiental.
taram muitas dificuldades em sua ções do Clima e de Biodiversidade. A única ideia nova neste texto base
implementação e em consequência Estas ações exigiriam mais dos países é a de promover ações na direção de
a redução das emissões de gases de industrializados, mas deveriam conter uma “economia verde” que o PNUMA
efeito estufa não ocorreu como previs- também provisões para uma partici- - Programa das Nações Unidas para
to. Elas continuam a aumentar e vão pação efetiva dos países emergentes. o Meio Ambiente - propôs e que se
aquecer o planeta até 2050 a um nível (Anexo I da Convenção do Clima) que baseia no uso racional dos recursos
tal que resultará em grandes modifi- praticamente foram isentos de obriga- naturais, redução do uso de combus-
cações climáticas. Ações mais fortes ções pelo Protocolo de Kyoto o que não tíveis fósseis e aumento do uso de

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 39


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Atender necessidades imediatas tem o grave risco de não


garantir um desenvolvimento sustentável, isto é, que dure. Por
exemplo, cortar a floresta virgem e vender a madeira pode parecer
a curto prazo uma boa ideia para garantir comida para a família.
Sucede que uma vez cortada, a floresta não pode ser cortada de
novo e as condições de subsistência desaparecem.

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 40


WWF Iniciativa Amazônia Viva

fontes de energias renováveis. Ainda Num enfoque direcionado ao acesso


assim o que consta do “draft zero” são dos cidadãos a comida, água, energia,
apenas exortações sem metas e calen- como governos e sociedade devem
dários para cumpri-los e um roteiro olhar para o meio ambiente? Qual é a
para dividir estas ações entre os paí- solução de futuro para a Amazônia, o
ses. Isto é o que o Protocolo de Kyoto Brasil e a América Latina? O problema
fez e o exemplo deverá ser seguido. A que se coloca aqui é o conflito entre as
meu ver a Rio+20 deveria determinar formas de satisfazer as necessidades
a adoção de protocolos que abrissem urgentes e imediatas da população
caminho para a adoção de uma “eco- como acesso a água, alimentos e trans-
nomia verde” nos diversos países. porte e uma visão a mais longo prazo.
Atender necessidades imediatas tem
Como setor empresarial e sociedade o grave risco de não garantir um de-
civil podem contribuir para a conser- senvolvimento sustentável, isto é que
vação ambiental e o desenvolvimento dure. Por exemplo, cortar a floresta
sustentável? Uma vez adotadas metas virgem e vender a madeira pode pare-
e calendários para uma transição para cer a curto prazo uma boa ideia para
uma economia verde cada setor empre- garantir comida para a família. Sucede
sarial (por exemplo, setor siderúrgico, que uma vez cortada a floresta não
construção civil, agricultura, etc.) pode ser cortada de novo e as condi-
identificaria quais ações a seguir. Por ções de subsistência desaparecem.
exemplo, o setor siderúrgico decidi- Numa visão a médio e longo prazo o
ria gradualmente abandonar o uso que cabe fazer é preservar a floresta e
de carvão mineral e passaria a usar usar de forma sustentável seus produtos.
carvão vegetal produzido em florestas O mesmo se pode dizer dos recursos
plantadas sustentáveis. energéticos: por exemplo, se usarmos
No caso do setor residencial/co- petróleo (e derivados) de forma irracio-
mercial a coleta seletiva do lixo e sua nal as reservas remanescentes não
utilização para geração de calor e vão durar mais de 30 a 40 anos. O que
eletricidade é a rota a seguir. é preciso fazer é aumentar a eficiên-
cia com que o petróleo é usado para
Qual o papel das economias emer- prolongar a vida das reservas rema-
gentes - como os BRICS – no impacto
e nas soluções para as questões
nescentes e gradualmente substitui-lo
por energias renováveis que não vão se
JOSÉ
ambientais? Muito grande: o produto
bruto nacional dos BRICS aumentou
de 21 a 31 por cento do produto bruto
esgotar enquanto o Sol brilhar.
A verdade é que não há uma con-
tradição insanável entre desenvolvi-
GOLDEMBERG
mundial nos últimos 30 anos. mento (entendido como crescimento
As emissões de CO2 (o principal gás econômico) e preservação ambiental.
causador do efeito estufa) aumenta- Compatibilizá-los é o que se entende
ram de 29 a 35% no mesmo período e por desenvolvimento sustentável.
acabarão por superar as emissões dos
países industrializados nos próximos
20 anos.

Qual a viabilidade da estruturação


da chamada “economia verde”?
Uma ‘economia azul’ seria também
importante? Não há diferença essen-
cial entre “economia verde” de toda
a economia e “economia azul”. Esta
se concentra mais na conservação da
natureza (águas, atmosfera e flores-
tas). Uma “economia verde” clara-
mente pressupõe a existência de uma
“economia azul”.

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 41


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Entrevista

Série Rio 92, para onde foi?


Rio+20, para onde vai?

e mecanismos de compensação acontecer coisas importantes. A maio-


de carbono, como as Reduções ria dos países industrializados deu
de Emissões por Desmatamento importantes contribuições.
e Degradação Florestal (REDD) e
Foto cedida pelo entrevistado

mostra preocupação com a destruição Quais países tiveram participação


dos biomas: o atingimento da marca mais destacada na Rio 92? Como foi
de um quinto de desmatamento da a participação dos latino-americanos?
Amazônia poderá ser irreversível. Acho que os países mais sofisticados
No Brasil, Lovejoy faz parte do estavam seriamente empenhados
Conselho Curador da Fundação em alcançar progressos substanciais
Brasileira para o Desenvolvimento nas questões em pauta. E havia um
Sustentável (Rio de Janeiro), e já foi consenso geral sobre quais eram os
condecorado com a Ordem do Rio desafios ambientais.
Branco (1988), a Grã-Cruz da Ordem
Nacional do Mérito Científico (1998), Quais os principais legados da con-
e a medalha João Pedro Cardoso, ferência Rio 92? As duas convenções,
THOMAS concedida pela Secretaria de Meio
Ambiente do Estado de São Paulo,
a Agenda 21 e Fundo Mundial para o
Meio Ambiente (GEF) foram um legado

LOVEJOY em 2011. A seguir a entrevista que


concedeu por escrito ao WWF.
impressionante. As decepções foram a
pequena escala de assistência pres-
tada em comparação aos montantes
O ambientalista americano Thomas
O que fazia à época da Rio 92? previstos, e o fracasso geral da UNFCC
Lovejoy, professor titular de Ciência
Recorda-se de algum episódio que (Convenção-Quadro das Nações Uni-
e Política Ambiental da Universidade
marcou a conferência? Eu partici- das sobre a Mudança do Clima) para
George Mason, e presidente de
pei como membro da delegação dos fazer grandes progressos na redução
biodiversidade do Centro Heinz para
EUA e havia sido integrante do grupo das emissões de combustíveis fósseis e
Ciência, Economia e Meio Ambiente,
que Tolba 1 convidara a Nairobi para em relação às REDD e REDD +.
estuda a Amazônia há mais de 40 anos.
discutir o que uma convenção sobre
Lovejoy esteve a primeira vez na
diversidade biológica deveria tratar, Entre as resoluções da Rio 92, alguma
Amazônia em 1965. A experiência
e também fui participante ativo no área não avançou? Em termos de mu-
de anos acumulados com o estudo
Fórum. O aspecto negativo que me danças climáticas não houve avanços
do bioma levou-o a desenvolver
lembro foi o vazamento do memo- porque se parou na questão “quem vai
ideias como a de permitir que países
rando de Bill Reilly, em Washington, primeiro”, quando na verdade não há
em desenvolvimento mantenham
que resultou na não-assinatura da tempo a perder com frivolidades. Com
atividades de conservação em troca
Convenção sobre Biodiversidade pelos relação à biodiversidade, fez-se tanto
da redução de suas dívidas externas.
EUA. Também fiquei impressionado barulho em torno do acesso e parti-
Ele é entusiasta do sistema de
com o empenho do Brasil em fazer lha de benefícios que o progresso de
pagamento por serviços ambientais

1 Mostafa Kamal Tolba, cientista egípcio que atuou como diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) entre 1975 e 1992 (N.T.).

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 42


WWF Iniciativa Amazônia Viva

É bastante viável estruturar uma economia “verde”, mas a transição


vai depender de uma grande dose de vontade e apoio político.

conservação foi colocado em segundo daquilo que as empresas podem fazer Num enfoque direcionado ao acesso
lugar. As crescentes taxas de extinção em termos da sustentabilidade de suas dos cidadãos a comida, água, energia,
(vide o Terceiro Panorama Global de próprias operações, poderiam ainda se como governos e sociedade devem
Biodiversidade, da ONU) são, em gran- envolver em cooperar de forma ativa olhar para o meio ambiente? Qual é
de parte, consequência de um pontapé com a sociedade civil, que é basicamen- a solução de futuro para a Amazô-
inicial lento. te quem tem o conhecimento relevante. nia, o Brasil e a América Latina? Boa
parte de tudo isso tem a ver com o
Qual deveria ser o principal resultado Qual o papel das economias emer- respeito à natureza, com uma defini-
da Rio+20? Metas energéticas ambi- gentes - como os BRICS – no impacto ção de qualidade de vida que seja boa
ciosas, mas exequíveis. Uma forma e nas soluções para as questões para as pessoas e muito melhor para
clara de se abordar a economia verde ambientais? Os quatro países BRICs o ambiente do que é o consumismo
de forma que as nações possam adotá- são muito diferentes em termos de desenfreado, cujo melhor exemplo está
-la rapidamente. Se não puder haver trajetórias de desenvolvimento e con- nos Estados Unidos. Este é um modelo
uma governança global então que haja seqüente abordagem da sustentabili- que, enfim, está simplesmente fadado
meios para um mosaico de medidas dade. O Brasil está em uma posição ao fracasso. Também é muito impor-
regionais e nacionais se somarem para muito especial em função de sua tante administrar o meio ambiente e as
permitir progressos significativos. E situação favorável como um todo em atividades humanas como um sistema
ainda acrescentaria um reconheci- relação às energias renováveis, grande e por meio de planos integrados. Isso
mento generalizado de que o planeta gama de biodiversidade, e o excelente é tão verdadeiro para a Amazônia em
funciona como um sistema biofísico e estado da arte da ciência brasileira. geral quanto para as nações individu-
deve ser administrado como tal. Espera-se que na Rio+20 o Brasil ais. Isso significa reavivar o Tratado
exercer um papel enérgico e positivo, de Cooperação Amazônica e adotar
Qual sua opinião sobre o texto base como fez na Rio 92. abordagens regionais semelhantes.
da Rio+20? As metas globais de ener- A melhor medida de sucesso será o
gia são bastante louváveis e factíveis. Qual a viabilidade da estruturação quanto da biodiversidade do Brasil,
A agenda da economia verde é muito da chamada “economia verde”? Uma da Amazônia e da América do Sul irá
importante. Não está claro o que pode- ‘economia azul’ seria também impor- sobreviver. A melhor forma de medir o
rá acontecer em termos de governança tante? É bastante viável estruturar impacto ambiental é, afinal, através da
global. A questão da biodiversidade uma economia “verde”, mas a transi- diversidade biológica.
está praticamente ausente [das pautas] ção vai depender de uma grande dose
de uma maneira direta. Em geral, a de vontade e apoio político. Suponho
escala dos passos propostos ainda é que uma economia “azul” refira-se a
insuficiente em relação aos problemas. uma atividade econômica que tenha
um efeito positivo sobre a água e a
Como setor empresarial e sociedade hidrologia. Devemos sempre nos lem-
civil podem contribuir para a conser- brar que a água doce não é apenas um
vação ambiental e o desenvolvimento líquido mas também um habitat muito
sustentável? Eu não tenho muito a importante para a biodiversidade de
sugerir especificamente, mas além água doce.

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 43


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Entrevista

Série Rio 92, para onde foi?


Rio+20, para onde vai?

Mudanças Climáticas (IPCC) que, em ram muito, principalmente a climática


2007, foi reconhecido com o Prêmio e a de biodiversidade. A Convenção
Nobel da Paz. do Combate à Desertificação menos,
A seguir, os principais trechos da e a de Águas Internacionais, menos
entrevista que concedeu por telefone ainda. A Rio 92 foi um grande marco
Roosevelt Pinheiro /ABr

ao WWF, quando fez um balanço da discussão da convivência entre


das discussões ambientais nas duas o desenvolvimento econômico e a
últimas décadas, especialmente sobre preservação da qualidade ambiental
clima, e falou sobre suas expectativas do planeta como um todo, sendo um
quanto à Rio+20. grande marco da conscientização da
chamada agenda do desenvolvimento
O que fazia à época da Rio 92? Já se sustentável. Foi simplesmente um
preocupava com as questões relacio- grande momento das Nações Unidas
nadas à mudança climática? Eu me e certamente representou um grande
preocupava, tanto é que, na época, avanço pelo simbolismo.
liderava a parte brasileira de um ex- Muito embora o senso comum
CARLOS perimento internacional com a Ingla-
terra, um experimento para estudar
espere que mudanças climáticas sejam
discutidas agora na Rio+20, esse não é

NOBRE os impactos climáticos das perturba-


ções antropogênicas na Amazônia, um
o propósito desta conferência.
Não é o propósito primário da nova
estudo sobre perturbações e variações conferência porque uma vez que a Con-
O pesquisador Carlos Nobre, atual climáticas, efeitos de desmatamen- venção do Clima surgiu e foi ratificada
Secretário de Políticas e Programas to. Teve uma mostra na Rio 92 e nós pela maioria dos países - e teve um
de Pesquisa e Desenvolvimento do expusemos resultados preliminares fi lhote muito importante que foi o Pro-
Ministério de Ciência, Tecnologia e do experimento que havia começado tocolo de Kyoto - não se vai retomar o
Inovação (MCTI), é uma das principais em 1990 e ainda estava em andamen- mesmo tema, até porque todos os anos
referências internacionais na área de to. Participei de várias atividades lá, há uma Conferência das Partes dos
clima. É dele a hipótese, formulada algumas na antiga Universidade do países signatários da Convenção do
há 20 anos, sobre a “savanização” Brasil, organizadas pelo professor Clima. Então, não teria sentido fazer
da Amazônia por causa dos [Luiz] Pinguelli [Rosa] que fez uma uma outra Cúpula da Terra, semelhan-
desmatamentos. série de debates pré-Rio 92. te a de 1992. Essa cúpula tem que ser
Nobre, engenheiro pelo Instituto vista com um outro objetivo. Fala-se
Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e A Rio 92 teve importância decisiva em desenvolvimento sustentável, um
doutor pelo Massachusetts Institute nos encaminhamentos a respeito das tema muito recorrente naquela época
of Technology (MIT), é do quadro mudanças climáticas? Obviamente, foi também, quando estávamos a 8 anos
do Instituto Nacional de Pesquisas um enorme catalizador. Os resultados da virada do milênio. Falava-se da
Espaciais (Inpe) e foi um dos autores mais concretos da Rio 92 foram as Agenda 21. Portanto, 20 anos depois,
do Quarto Relatório de Avaliação convenções internacionais. Ela apro- nós temos que retomar o tema do
do Painel Intergovernamental de vou quatro convenções, duas avança- desenvolvimento sustentável. Agora,

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 44


WWF Iniciativa Amazônia Viva

não é possível separar totalmente os cas verificáveis e que todos os países


temas e algumas dimensões como, passem a ter programas nacionais de
por exemplo, as mudanças ambientais implementação desses objetivos. Isso
globais - em que as mudanças climáti- não é nenhuma decisão de implemen-
cas assumem um papel preponderante. tação de alguma coisa prática, são só
Transversalmente a Rio+20 estará os objetivos. Eles têm que ser amplos,
tratando desses assuntos de modo têm que olhar várias dimensões, dar
mais integrativo e não como se fosse ligação do uso sustentável aos re-
uma negociação de avanços incre- cursos naturais com erradicação de
mentais na temática da convenção pobreza, com equidade e distribuição
climática, em que você tem uma série da riqueza, junto com a melhoria dos
de ações em andamento, uma série de indicadores sociais também.
propostas em negociação. A proposta Existe hoje um debate muito grande
da Rio+20 é ser muito parecida em sobre se um resultado importante da
sentido simbólico e histórico com a Rio Rio+20 deveria ser a criação de uma
92. É um grande momento de reflexão Organização Mundial de Meio Am-
sobre os rumos do desenvolvimento do biente. A diplomacia brasileira tem ido
planeta, do desenvolvimento humano, mais na direção de um Conselho de
e uma tentativa de convergência para o Desenvolvimento Sustentável na ONU,
desenvolvimento sustentável. não uma organização como é a Organi-
zação Mundial de Saúde; ou do Traba-
Como vai acompanhar a Rio+20, lho; ou do Comércio. A minha proposta
como governo, como acadêmico? é mais ousada - mas é uma proposta
Atualmente, eu trabalho no gover- minha, não é algo que tenha tido muita
no, vou estar na delegação brasileira discussão. Eu acho que o PNUMA
como governo. Mas é lógico que mi- [Programa das Nações Unidas para o
nha cabeça é de cientista. Meio Ambiente] e o PNUD [Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvi-
Qual seria o grande legado que pode- mento] deveriam ser fundidos em um
ria fi car da Rio+20? Eu acho que as- programa só. Isso não está sendo nem
sim como em Johanesburgo em 2002 discutido, mas eu gostaria que houves-
[Cúpula Mundial sobre Desenvolvi- se junção desses dois programas e se
mento Sustentável] foram definidos os tornasse uma organização mundial de
grandes objetivos de desenvolvimento desenvolvimento sustentável.
social - os Objetivos do Milênio - eu
acho que um grande acordo global em Qual sua opinião sobre o texto base
relação a objetivos, metas de desen- da Rio+20? O rascunho zero é um tex-
volvimento sustentável seria muito to base como uma coleção de posições
importante. Isso como um resultado de quase 200 países. É um trabalho
básico. Que se concorde com um difícil de costurar. É a natureza deste
número pequeno e finito de objetivos trabalho diplomático de costurar con-
globais e que todos os países ali pre- sensos em relação a múltiplas e acima
sentes, assim como concordaram 10 de 100 diferentes propostas. Não é
anos atrás em atingir alguns objetivos um trabalho simples. É um trabalho
de desenvolvimento humano social, de muita habilidade diplomática e de
que concordassem em atingir alguns negociação. O rascunho 1, que começa
objetivos em uma escala de tempo ra- agora a sair, já é um pouco mais
zoável de 10 a 20 anos de desenvolvi- conciso, mas é lógico que nós estamos
mento sustentável. A diferença de um aqui em quase primeiro de maio e o
objetivo econômico de um objetivo prazo está se extinguindo, mas o ras-
meramente social é que você tem que cunho 1 para o texto que vai chegar na
entrelaçar. Não se separa a dimensão Rio+20 tem um enorme trabalho di-
ambiental, da social e da econômica. plomático e eu ainda sou otimista de
São todos objetivos entrelaçados. O que o texto vai convergir em direção a
mínimo que eu espero da Rio+20 é alguns grandes consensos, quiçá, um
que se conclua com objetivos, métri- número finito de objetivos de desen-

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 45


© Michel Roggo / WWF-Canon

Um grande acordo global em relação a objetivos,


metas de desenvolvimento sustentável seria muito
importante. Não se separa a dimensão ambiental, da social e
da econômica. São todos objetivos entrelaçados.
WWF Iniciativa Amazônia Viva

volvimento sustentável e métricas sustentável são baseadas na melhor


que possam ser implementadas em ciência. Muitas vezes essa melhor ciên-
nível nacional, regional e global nos cia não é implementada. Às vezes, não
próximos 10 a 20 anos, e quem sabe é aprovada em nível global, como foi
uma convergência sobre o mecanismo em Copenhague [2009], ou às vezes,
de governança em nível internacional, mesmo aprovada em nível global, não
um conselho ou um organismo. Esse tem repercussão em nível local como,
não é um jogo que termina antes do por exemplo, há o fato de a maioria dos
dia 22 de junho. países, incluindo os Estados Unidos,
terem aprovado o Protocolo de Kyoto
Mudou no meio científico o interesse em 1997, mas o Congresso americano
pela questão ambiental? Aumentou nunca o ratificou. Então, quer dizer
muito o interesse da comunidade cien- que mesmo com a política global que
tífica em questões amplas de desen- vai na direção em que a ciência aponta
volvimento sustentável. A comunidade como política pública necessária, às
científica não se divide muito. Não há vezes, um país ou um Congresso de um
uma comunidade científica da área país, não vai naquela direção.
ambiental e uma da área de desenvol-
vimento. A comunidade científica está
na frente desse debate.
No apoio da comunidade científica
às discussões sobre o Código Flores-
tal, você vai ver que não houve uma
comunidade científica com viés am-
biental ou uma comunidade científica
com viés agronômico, econômico, de-
senvolvimentista. Isso não aconteceu.
O que aconteceu foi um enorme apoio
da comunidade científica - repre-
sentada por suas organizações SBPC
e Academia Brasileira de Ciências
- a um modelo de desenvolvimento
sustentável para a agricultura brasi-
leira, com preservação e conservação
CARLOS
dos nossos recursos naturais. Essa
proposta, essa posição muito forte
da comunidade científica brasileira,
NOBRE
é uma posição em prol do desenvolvi-
mento sustentável. E desenvolvimento
sustentável é, na verdade, a busca do
equilíbrio. Desde o início, a comu-
nidade científica adotou o mote do
desenvolvimento sustentável como
algo que a ciência deveria desenvolver
as bases.

Nesses 20 anos que separam a Rio


92 da Rio+20, aumentou a força dos
cientistas? É muito maior. Tanto é
que tudo que a Convenção do Clima
avançou e está propondo é baseado
na melhor ciência. Muitas coisas têm
avançando em nível, pelo menos, das
propostas da Convenção do Clima, da
Biodiversidade. Todas as convenções
ambientais e de desenvolvimento

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 47


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Entrevista

Série Rio 92, para onde foi?


Rio+20, para onde vai?

e a sociedade atuam em favor do uso cruzado das campanhas internacionais


sustentável do meio ambiente. ambientalistas, que focavam a Ama-
O embaixador Flávio Miragaia Perri, zônia e o estado dessa imensa floresta
hoje aposentado, foi um dos diplomatas em grande parte sujeita à soberania
brasileiros que atuou diretamente na nacional. A convocação da Rio 92,
engenhosa construção desse status. como posteriormente veio a ser conhe-
Lúcia Chayb

Para isso, foi fundamental a realização cida a histórica reunião que reuniu
da Rio 92, para a qual o diplomata 107 Chefes de Estado e delegados de
atuou como secretário-executivo todos os países membros das Nações
do grupo de trabalho nacional que Unidas, marcou-me profundamente,
organizou a conferência. pois que todo o embate nas sessões da
Além disso, Perri presidiu o Assembleia Geral precedentes à de-
Ibama, foi Secretário Nacional do cisão de eleger o Rio de Janeiro como
Meio Ambiente (logo após a Rio sede envolvia trabalho diplomático
92), e trabalhou como secretário de ativo da equipe em que eu servia. Era
Estado do Meio Ambiente no Rio de Secretário-Geral das Relações Exterio-
FLÁVIO Janeiro. Na entrevista a seguir, por
escrito, o diplomata detalha como foi
res o Embaixador Paulo Tarso Flexa de
Lima e Chefe da Missão junto à ONU

PERRI a organização daquela conferência e


avalia as perspectivas da Rio+20.
o Embaixador Paulo Nogueira Batista,
dois grandes nomes do Itamaraty que
orientavam nossa atuação no caso. A
O Brasil recebe a Rio+20 com status de O que o senhor fazia à época da decisão de oferecer o Rio como sede
“potência da biodiversidade”.Obviamente, Rio 92? Recorda-se de algum epi- foi um grande momento para o país,
essa imagem tem a ver com a riqueza sódio especial que marcou aquela no que se tornou o verdadeiro marco
natural distribuída em seis biomas e a conferência? Vivi a Conferência das para profunda revisão de políticas e de
exuberância dessas paisagens. Mas Nações Unidas sobre Meio Ambiente instituições internas para ocupar-se do
além daquilo que o extenso território e Desenvolvimento, de 1992, muito meio ambiente no país.
nacional guarda, o título de “potência” antes de vir a ser designado Secretário
tem relação com a capacidade de Executivo do Grupo de Trabalho Na- Quais países tiveram participação
preservar os recursos naturais. cional encarregado de organizá-la. Nos mais destacada na Rio 92? Como foi
Esse reconhecimento não é anos precedentes atuei como Ministro a participação dos latino-americanos?
compulsório. Vem sendo construído Plenipotenciário [com pleno poder Não participei da Delegação brasileira
há décadas, incluindo aí um grande de representação diplomática] junto como negociador, encontrava-me no
esforço da diplomacia brasileira de, à Missão do Brasil junto às Nações aceso das negociações. Entretanto,
confirmando a soberania, mostrar aos Unidas e a questão da realização de porque comandei a infraestrutura que
demais países que é uma “potência” uma conferência de alto nível estava deu apoio à Delegação e, nessa posição
porque tem conhecimento sobre posta no foro da ONU desde a apre- privilegiada, pude assistir à evolução
a floresta, possui marcos legais sentação do Relatório Brundtland, de dos fatos, inserido neles. Sem sombra
abrangentes de proteção e o Estado 1987. O Brasil encontrava-se sob fogo de dúvida, o Brasil teve atuação desta-

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 48


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Todos os Estados e todas as pessoas deverão cooperar na


tarefa essencial de erradicar a pobreza como requisito indispensável
ao desenvolvimento sustentável, a fim de reduzir as disparidades
nos níveis de vida e responder melhor às necessidades da maioria
dos povos do mundo.

cada e a indicação de alguns nomes de reunidos sob o Tratado de Cooperação Dele derivam o combate à fome
negociadores basta para ilustrar esse Amazônica [Bolívia, Brasil, Colômbia, e os esforços de formulação de um
pulso: Celso Lafer, Marcos Castrioto de Equador, Guiana, Peru, Suriname e Ve- “Direito à Alimentação”, estes como
Azambuja, Ronaldo Sardemberg, Ber- nezuela], que naquele momento tinham evolução jurídico-política significa-
nardo Pericás, Rubens Ricúpero, Luiz interesses comuns a representar. Costa tiva, anos depois. O Brasil tem uma
Augusto de Araújo Castro, entre tantos Rica, Chile, Argentina contavam com história louvável de avanços nesse
outros, foram hábeis e criativos dele- quadros negociadores experimentados sentido e tem servido de parâmetro
gados pela parte brasileira, tanto no e diplomacia ativa nas Nações Unidas. para programas de muitos países em
avanço quanto na defesa de interesses desenvolvimento, especialmente afri-
brasileiros. Foram importantes muitos Quais os principais legados da con- canos e centro-americanos.
países, difíceis de destacar, mas sem ferência Rio 92? A Declaração do Rio A Convenção sobre Biodiversidade e
dúvida os nórdicos vieram bem prepa- é documento lapidar pela precisão de a Convenção-Quadro das Nações Uni-
rados, ainda que com uma preocupação conceitos. Seus 27 “Princípios” consoli- das sobre a Mudança Climática foram
quase acadêmica em suas posições, daram o conceito do Desenvolvimento passos importantes no caminho da pro-
mas traziam a tradição da Conferência Sustentável. Deles destaco o mais can- teção ambiental. O Protocolo de Quioto,
de Estocolmo, de 1972. É evidente que dente dos princípios, pelas dimensões como um subproduto da Convenção do
a função coordenadora da OCDE teve ética e econômica que o envolvem, o Clima, não sofreu evolução satisfatória
relevância especial, mas entre seus “Princípio Cinco” estabelecendo que pela não adesão universal, Estados
membros a delegação norte-americana “Todos os Estados e todas as Unidos à frente da resistência contra
teve papel importante, até mesmo por pessoas deverão cooperar na tarefa o protocolo e ao controle de emissões
suas posições mais conservadoras; os essencial de erradicar a pobreza como que nele se previu, compromissos para
países da Europa Ocidental, entre os requisito indispensável ao desenvol- a redução da emissão dos gases que
quais sobressaía a Alemanha recém- vimento sustentável, a fim de reduzir agravam o efeito estufa, causa antropo-
-unificada, o Reino Unido e a França. as disparidades nos níveis de vida e gênica do aquecimento global. A última
Entre os países latino-americanos é re- responder melhor às necessidades da conferência das partes não conseguiu
levante lembrar os países amazônicos maioria dos povos do mundo.” definir a continuidade dos compromis-

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 49


WWF Iniciativa Amazônia Viva

sos caducos em 2012, mas anteviu uma à consecução de um desenvolvimento Quanto à não-realização de muitas
retomada de negociações, com metas sustentável, a problemática da forma- das expectativas criadas em 1992, não
de redução e/ou controle de emissões ção de quadros para a gestão eficiente podemos ignorar os interesses estabe-
obrigatórias, em prazo certo. e a questão que hoje trabalhamos sob o lecidos e sua contrariedade a parali-
A Agenda 21 foi o documento mais título de governabilidade. sar ações. São fortes as resistências
abrangente produzido na Rio 92, cons- Sujeito a críticas por sua baixa ope- à mudança, tanto no plano nacional
tituindo um programa de ação e um racionalidade, o Conselho de Desen- quanto no internacional, são distintos
método de trabalho para concretização volvimento Sustentável [CDS] foi um níveis de desenvolvimento, são inúme-
do ideal do desenvolvimento sustentá- produto sensível da Agenda 21, mas ros os desequilíbrios, são arraigadas
vel. A Agenda 21 não foi universalmen- inadequadamente inserido no sistema as convicções ideológicas e diferenças
te desenvolvida e aplicada, mas sem das Nações Unidas e sem os poderes culturais que impedem o entendimen-
dúvida é o repositório mais completo coordenadores que dele se esperavam. to e o avanço.
de métodos de proteção ambiental, A mais importante distinção, final- Há que quebrar a força da inércia
justiça social e eficiência econômica, mente, entre 1992 e 2012, é a participa- e os momentos de crise, como as que
em contexto de necessária e consciente ção da opinião pública, o engajamento testemunhamos atualmente o de-
participação da cidadania. progressivamente mais importante senrolar no hemisfério norte, de um
Sua dimensão econômica e so- dos cidadãos nesse debate, a consci- lado e de outro do Atlântico, ofere-
cial abrange política internacional ência da importância do diálogo, onde cem a oportunidade de mudança. A
e políticas nacionais para aplicação a internet joga na linha de frente dos Conferência Rio+20 é, nesse sentido,
do novo conceito do desenvolvimen- meios de comunicação. Em 1992, a propícia à criação.
to sustentável, especialmente nos despeito da importância da partici-
países em desenvolvimento no que pação de organizações da sociedade Qual deveria ser o principal resultado
se refere a estratégias de combate à civil, em encontro paralelo à reunião da Rio+20? A consciência da crise
miséria, enquanto envolvendo países intergovernamental, não se podia planetária do desenvolvimento, no mo-
desenvolvidos e em desenvolvimento sentir com precisão a pulsação do inte- delo que vimos adotando, é a oportu-
encaminha mudanças nos padrões de resse do cidadão e da sociedade. Hoje, nidade que se oferece com essa grande
produção e consumo. São significati- tudo remete à sociedade civil em plano conferência. Trata-se de ousar na
vas as sugestões de saúde pública e a destacado de importância e considera- constatação de que é tempo ainda de
qualidade dos assentamentos huma- ção. A Conferência Rio+20 realiza-se revisão dos paradigmas econômicos,
nos. Aspecto, a meu ver, de delicada no Rio, mas envolverá o mundo inteiro, sociais e políticos que têm orientado a
atualidade são os limites do planeta, virtual e simultaneamente. ação humana sobre o planeta, esgotá-
que sem ser apontado dessa maneira, vel em seus limites.
veem-se tratados, por exemplo, nas Entre as resoluções daquela confe- Aplico aqui a máxima da urgência de
inter-relações entre sustentabilidade e rência, alguma área não avançou? “mudar para conservar” do “Gattopar-
dinâmica demográfica. Não sou pessimista quanto a avanços, do” de Lampeduza. Há que mudar para
O equilíbrio de interesses entre o mas os entendo necessariamente tornar sustentáveis tanto a economia
planeta e o desenvolvimento, busca- demorados no plano internacional. quanto o planeta e a humanidade que
do pelo conceito do desenvolvimento Tenho mais dificuldade em entendê- nele fez casa e seu único ecossistema.
sustentável é tratado na Agenda 21 -los nos planos nacionais, porque as
sob diferentes enfoques: proteção da alavancas de poder encontram-se nas Qual sua opinião sobre o texto base
atmosfera, transição energética, manejo mãos de governos como instrumentos da Rio+20? O texto base não é um
do solo, recursos do mar, gestão dos de ação política, econômica, social no documento a que se deva criticar ou
recursos de água doce, combate ao des- seio dos Estados. condenar. Trata-se apenas de um
matamento, desertificação, diversidade O processo político não é, entretan- esboço preparado pelo Secretariado a
biológica, o valor da educação, etc. to, linear. partir de mais de 600 contribuições
O documento não ignora, nas ações A relação entre Estados segue ritu- de diversas origens. Cabe aos Estados
propostas, a importância dos meca- alística de respeito ao princípio da so- modificá-lo ou até mesmo ignorá-lo.
nismos financeiros e a produção e berania, o que exige tempo. Governos Como compilação, não alcança
oferta de tecnologias como suportes representam a vontade dos cidadãos o objetivo desejado, que seria sua capa-
essenciais à gestão da sustentabilida- segundo modelos jurídicos nacio- cidade de influir, por falta de impacto.
de; o desenvolvimento da ciência e a nais, consensos democráticos onde se Em todo caso posso adiantar a opinião
educação, a cultura como elementos pratique a democracia, identificação de que lhe falta foco.
básicos na construção de uma cons- de interesses, etc. Têm a faculdade de Na realidade, repete temas e suges-
ciência ambiental. Está nele, sob o determinar o quadro jurídico-político tões já exaustivamente tratados em
enfoque das revisões institucionais interno e podem naturalmente ser documentos mais antigos e de melhor
internacionais e nacionais necessárias mais eficazes. qualidade. O que não creio é que ne-

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 50


WWF Iniciativa Amazônia Viva

cessitemos de um texto que mimetize Qual a viabilidade da estruturação


outros textos para apresentar-se em da chamada “economia verde”? Uma
duas centenas de páginas, sem foco. ‘economia azul’ seria também impor-
Para esse conjunto de reivindica- tante? Não parece oportuna a introdu-
ções por setores, que é como eu defi- ção de uma frase feita na evolução do
no o texto base, não seria necessário conceito do desenvolvimento sustentá-
um novo documento, mas bastaria vel. O que não é bem definido pode dar
reforçar o valor da exaustivamente consequência a equívocos, discrimi-
estudada e bem formulada Agenda nações e restrições. “Economia Verde”
21, que aborda todos os temas, trata não é uma categoria econômica co-
de todos os setores, sugere métodos nhecida nem entendo como possa ser
de trabalho, aponta linhas de ação e enunciada como item de uma agenda
já existe! ambiciosa para a Rio+20 sem pertur-
Por outro lado, a Declaração do Rio, bar a progressiva e mais eficiente apli-
a Declaração do Milênio e seus oito cação do conceito de desenvolvimento
pontos centrais, valores e princípios, sustentável. No que se pode entender
estão exaustivamente afirmados, mas da frase feita, a “economia verde”
nem sempre nem por todos aplicados. nunca seria um modelo de aplicação
A Conferência Rio+20 deve ser automática nem uniforme para todos
visionária. É a ocasião para reformular os países. São distintas as caracterís-
nossa visão de mundo e de futuro. Está ticas de sociedades e instituições em
nas mãos da liderança mundial que se cada país, às quais caberia considerar
faça representar no Rio em junho pró- suas metas e métodos de trabalho no
ximo, atuar como Estadistas e apon- seu processo de desenvolvimento sus-
tar os equívocos e erros dos modelos tentável. Se devêssemos inserir a frase
atualmente adotados de organização feita como elemento desse conceito,
econômica, de ordem e prioridades suponho talvez admissível que essa
sociais, de cuidados com os bens da denominação possa significar algumas
natureza, por definição, finitos. metas a constituir parte do caminho.
É a hora de reconhecer os limites Não tratarei de cores, mas do conjunto
do planeta e a necessidade de pronta delas que nos ilumine a sobrevivência.
intervenção para mudar os rumos da
civilização.
Visionária na atitude, capaz de
Como setor empresarial e sociedade
civil podem efetivamente se engajar e
FLÁVIO
montar o cenário do futuro, caberia
atuar com desprendimento diante
dos modos impróprios e injustos de
contribuir para a conservação ambien-
tal e o desenvolvimento sustentável?
Não tenho a receita pronta sobre os
PERRI
organização da riqueza no mundo atu- modos de engajamento de cada setor
al. Sua ambição deveria passar pela da sociedade para a consecução do de-
mudança necessária de paradigmas, senvolvimento sustentável, mas estou
envolvendo os modos de apropriação e seguro em dizer que o engajamento de
transformação dos bens da natureza, todos será essencial para o sucesso de
para garantir a sobrevivência estável nossa empreitada planetária. Tampou-
do planeta no tempo e a dignidade da co evito afirmar que, a continuar no
vida humana. passo e no modelo que até hoje ado-
A Conferência pode e deve assumir tamos, soçobraremos. O planeta não
a urgência da mudança e definir-lhe a sustentará a humanidade que o desafie
rota, oferecer o caminho das pedras, na teimosa obra de depredação que
para que a humanidade inteira, em vimos praticando. Mudança, coragem
todas as suas expressões e estamen- para mudar, novas rotas.
tos, assuma seu dever para com sua
sobrevivência.
É proibido desgastar o conceito de
sustentabilidade. Com ele, pela primei-
ra vez, acrescentamos valor ao entendi-
mento do que seja desenvolvimento.

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 51


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Entrevista

Série Rio 92, para onde foi?


Rio+20, para onde vai?

temas fundamentais neste século 21: segmentos relevantes a serem envol-


energia, recursos hídricos, segurança vidos nas discussões e pactuações. Foi
alimentar, produção e consumo. A seguir, ali que o movimento de defesa da Mata
a entrevista encaminhada por escrito. Atlântica ganhou importância nacional
e também teve o Planeta Fêmea - que
O que a senhora fazia à época da Rio foi o espaço para a discussão de gênero
José Cruz /ABr

92? Recorda-se de algum episódio que durante a Rio 92. Apesar da diversidade
marcou a conferência? Minha atuação de ideias, de propostas, de iniciativas,
tem sido como servidora pública, sou toda a movimentação da sociedade
do Ibama, com várias passagens pela civil era focada e orientada a objetivos,
administração pública, na área de meio crenças e esperanças comuns. Foi um
ambiente, tanto no Rio como em Bra- momento de otimismo que marcou a
sília, onde agora sou Ministra. Na Rio atuação dos ambientalistas para sem-
92 fomos todos mobilizados, pois antes pre. Fez história.
que o tema do desenvolvimento susten-
tável ganhasse a adesão que hoje obser- Quais países tiveram participação
IZABELLA vamos em todos os setores, quem se in-
teressava pela problemática ambiental
mais destacada na Rio 92? Como
foi a participação dos países latino-

TEIXEIRA eram essencialmente os ambientalistas


e os técnicos que atuavam na área, além
-americanos? Os resultados da Rio 92
foram construídos a partir de esforços
de acadêmicos. Além dos documentos conjuntos dos países participantes.
A bióloga Izabella Teixeira é ministra inspiradores que estavam em pauta, Historicamente, ela foi a conferência
do Meio Ambiente há dois anos, cargo tínhamos uma liderança carismática, das Nações Unidas com maior parti-
que ocupa depois de suceder Carlos empolgada do então secretário geral cipação de chefes de estado – entre as
Minc de quem foi secretária-executiva da Conferência, Maurice Strong. O que realizadas fora da sede da ONU em
desde 2008. mais me surpreendeu na época, foi a Nova Iorque. Esse fato reflete a im-
Funcionária de carreira do Ibama manifestação do então chamado Fórum portância global dada pelos países aos
e com doutorado Planejamento Global Paralelo, das ONGs, no Aterro debates que estavam sendo feitos. Por
Ambiental, Izabella Teixeira junto com do Flamengo. O Brasil nunca tinha vis- isso, torna-se difícil destacar alguns
os diplomatas brasileiros atuará como to aquilo. Eram todas aquelas tribos, da países em particular, era um momen-
uma das anfi triãs da Rio+20. sociedade civil planetária que mostra- to de maturidade global em torno dos
Entre outras expectativas, ela vam sua cara na primeira conferência objetivos que vieram a ser alcançados
deseja que a conferência da ONU global de meio ambiente. Fiquei muito na Cúpula. Mas ainda havia pitadas
construa Objetivos do Desenvolvimento impressionada com a forma como essa de sentimentos tipo “Norte e Sul” e os
Sustentável, “um conjunto de metas a sociedade se organizou, participou e países latino-americanos, por exem-
serem alcançadas de maneira universal influenciou o processo, mudando para plo, fizeram um documento chamado
por todos os países, respeitando sempre o formato das conferências “Nossa própria agenda”, para marcar
seus níveis de desenvolvimento e da ONU que passaram, a partir dali a a resistência dos países desenvolvidos
características sociais”, em torno de envolver os chamados major groups, que, naquele momento, não queriam

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 52


WWF-Brasil / Luciano Candisani

Na Rio+20 a bola está com a economia, a economia da inclusão


com proteção ao meio ambiente.
WWF Iniciativa Amazônia Viva

Esperamos conseguir obter consensos para trilhar caminhos que


respondam aos desafios que estão colocados para todos nós, sem exceção,
pois a humanidade é uma só e os impasses estão postos em horizonte
demasiado curto e não podemos ignorá-los.

discutir pobreza, mas somente flores- nacionais sobre desenvolvimento civil nos debates se intensificou, desde
tas. Gostaria de ressaltar que a atua- sustentável e meio ambiente foram então se tornando crescente vetor de
ção do Brasil, naquela oportunidade, estabelecidos nessa conferência: a influência nas esferas de decisão.
foi muito além da de mero anfitrião, Convenção-Quadro sobre Mudança do
tendo seu papel sido particularmente Clima, a Convenção sobre a Diversida- Entre as resoluções daquela conferên-
importante na construção de consen- de Biológica (CDB) e a Convenção das cia, alguma área não avançou? Este é
sos e de mediação dos conflitos para Nações Unidas de Combate à Desertifi- justamente o momento em que estão
os resultados alcançados. É importan- cação e Mitigação dos Efeitos da Seca. sendo feitas as avaliações dos pontos
te destacar também que a configura- Além dessas Convenções, a Agen- nos quais avançamos, onde não houve
ção geopolítica hoje é completamente da 21 e a Declaração do Rio, também avanços e as razões disso. É inegável que
diferente. Além do fenômeno da glo- adotadas na Rio 92, foram essenciais o grande compromisso político alcança-
balização ter se aprofundado, nações para a consolidação do conceito de do com os resultados da Rio 92 não se
emergentes como o Brasil, na época “desenvolvimento sustentável” e são traduziu em vontade política para a sua
eram nações em desenvolvimento e até hoje referências para as principais implementação e a ideia de desenvolvi-
vários países não possuíam ministé- negociações internacionais. Esse foi mento sustentável consiste, ainda, em um
rios de meio ambiente ou instâncias o início de uma nova era da ordem conceito que enfrenta graves barreiras
similares. Em relação a Estocolmo 72, multilateral para o desenvolvimento na sua implementação. Esse também é
a Rio 92 consagrou o conceito de de- sustentável. No que tange aos pro- um dos objetivos da Rio+20, entender os
senvolvimento sustentável, e além de cessos, a Rio 92 mostrou um grande entraves para a implementação do que
envolver a sociedade civil mobilizou entendimento internacional em torno foi deliberado e traçar caminhos para re-
o empresariado, trazendo a discussão da importância do sistema multilateral alizar as mudanças necessárias para um
econômica que não era central nos das Nações Unidas como mecanismo desenvolvimento sustentável que respeite
debates daquela década. para a solução dos grandes problemas o meio ambiente, permita a inclusão so-
globais, importância que hoje, 20 anos cial e o crescimento econômico. Em cada
Quais os principais legados da con- depois, parece ter-se arrefecido. Além conferência dessa, digamos “família” de
ferência Rio 92? A Rio 92 nos deixou disso, a Rio 92 abriu espaços para conferências que podem ser reputadas
uma riqueza de legados não só no uma nova forma de trabalhar temas como de meio ambiente e desenvolvimen-
âmbito de suas deliberações quanto internacionais a partir de um diálogo to, obtivemos um ganho. Em 1972 ganha-
do seu processo de construção. Três mais intenso com atores não governa- mos institucionalização e capacidade dos
dos mais importantes marcos inter- mentais. O engajamento da sociedade estados em regular; em 1992, ganhamos

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 54


WWF Iniciativa Amazônia Viva

um conceito desafiador, a mobilização acusado de falta de foco e de ambição. sempre conseguem alcançar. Toda essa
da sociedade civil e assistimos a globali- Contudo, há importantes elementos bagagem é muito importante para in-
zação do movimento ambientalista. Por de consenso que devem ser explorados fluenciar a forma como os países se po-
exemplo, nem o Greenpeace, nem o WWF e essa é a fase final do processo, quan- sicionam nos processos intergoverna-
tinham escritório no Brasil, isso ocorre do deveremos focar mais no que nos mentais os quais, infelizmente, ainda
depois da Rio 92. Na Rio+20 a bola está une do que naquilo que nos divide. não contemplam de maneira adequada
com a economia, a economia da inclusão Se antes verificava-se a resistência de o papel dos atores não governamen-
com proteção ao meio ambiente. alguns países a sequer discutir alguns tais. Esse é, inclusive, um objetivo que
dos principais temas na agenda de temos para a Rio+20, a sinalização
Qual deveria ser o principal resultado da negociação, hoje todos os países bus- de meios e formas mais adequadas
Rio+20? Espero que a Rio+20 constitua cam aprofundar consensos em torno de participação da sociedade civil na
um importante processo para a reno- das questões-chaves da Conferência. tomada de decisões dos processos mul-
vação do compromisso internacional Chama atenção o fortalecimento dos tilaterais. Por outro lado, as mudanças
com o desenvolvimento sustentável, debates e proposta em torno da eco- que queremos só serão possíveis se
mas espero também que a Conferência nomia verde, dos objetivos do desen- forem realizadas também no campo
não constitua, apenas, a reafirmação volvimento sustentável e de mudanças das decisões individuais, por isso é im-
dos princípios e resultados da Rio 92. concretas nas estruturas das Nações portante também um grande processo
Espero decisões concretas que sinalizem Unidas para que tenham coerência de conscientização em torno de uma
o fortalecimento do sistema multilateral com o desenvolvimento sustentável. cidadania planetária. Outro ponto que
e impulso para a adoção de modelos de Os países têm expectativas nesses três eu destacaria é a necessidade de con-
desenvolvimento sustentável nas próxi- aspectos porque eles sinalizam um versarmos com a sociedade de massas.
mas décadas. Acredito, em particular, entendimento internacional em torno Temos algum know-how para falarmos
na construção dos Objetivos do Desen- do que queremos para o planeta como com a sociedade civil organizada,
volvimento Sustentável, um conjunto de resposta aos grandes desafios globais. mas quase nada temos de acúmulo no
metas a serem alcançadas de maneira convencimento dos consumidores, por
universal por todos os países, respei- Como setor empresarial e sociedade exemplo, de que escolhas mais crite-
tando seus níveis de desenvolvimento civil podem contribuir para a conser- riosas são necessárias para conservar-
e características sociais, econômicas vação ambiental e o desenvolvimento mos nossos recursos naturais que são,
e ambientais, em torno de temas que sustentável? Uma expressiva modifi- em última instância, condição basilar
reflitam questões essenciais dos desafios cação dos últimos vinte anos é a forma de podermos desenvolver e crescer nos
do desenvolvimento sustentável, como como a sociedade civil, incluído aí o próximos anos. Falta um movimento
energia, recursos hídricos, segurança setor empresarial, passou a influenciar de massas em prol da sustentabilidade.
alimentar, produção e consumo, entre a forma como se move o planeta. É ine- Este é um desafio que destaco.
outros. Outra expectativa é conseguir- gável, hoje, o papel da sociedade civil
mos definir uma instância de gover- e do setor empresarial na construção Qual o papel das economias emergen-
nança no âmbito das Nações Unidas de um novo modelo de desenvolvimen- tes - como os BRICS - no impacto e
que ofereça coordenação e coerência às to com inclusão social e crescimento nas soluções para as questões ambien-
diversas ações e iniciativas em torno do econômico, com utilização sustentável tais? As economias emergentes surgem
desenvolvimento sustentável, por meio e conservação de recursos naturais. em um cenário geopolítico e ambiental
de um Conselho ou Fórum das Nações Debates como o de mudanças nos pa- muito diferente daquele no qual as
Unidas sobre desenvolvimento susten- drões de produção e consumo passam atuais grandes potências se fortalece-
tável. Além disso, é importante que a exatamente pela revisão de modelos de ram. Os caminhos utilizados naquela
Rio+20 tome decisão para o fortaleci- negócios e suas relações com os ecos- época não levaram em consideração as
mento do Programa das Nações Unidas sistemas e os direitos humanos. As em- consequências das práticas adotadas
para o Meio Ambiente (PNUMA), a fim presas têm ainda o diferencial de sua para o desenvolvimento e seus impactos
de que esse Programa tenha autonomia e experiência em dar respostas inovado- ambientais e sociais. Hoje não é mais
estrutura política e financeira para fazer ras e imediatas às mudanças de mer- possível pensar em um crescimento
frente aos grandes desafios mundiais na cado, esse aprendizado é fundamental econômico sem combate à pobreza e
área ambiental. para o momento atual. A sociedade conservação ambiental. O Brasil foi um
civil por meio de suas organizações e dos países que nos últimos anos mos-
Qual sua opinião sobre o texto base movimentos sociais tem avançado nos trou como é possível fazer isso. Somos
da Rio+20? O texto que se encontra debates sobre os três eixos do desen- hoje a sexta economia mundial ao mes-
hoje em discussão constitui reflexo volvimento sustentável, constituindo mo tempo em que avançamos no com-
dos interesses, necessidades, priori- um acúmulo que governos, presos a bate à pobreza e na redução de emissão
dades e vontades de quase 200 países. lógicas imediatas de resultados políti- de gases responsáveis pelo aquecimento
Não é por outra razão que ele tem sido cos e de princípios de soberania, nem global além de criar muito mais áreas

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 55


WWF Guianas - Kaieteur falls
WWF Iniciativa Amazônia Viva

de preservação do que nos anos anterio- antes descartados. A agenda está aí, e
res. Os BRICS têm esse desafio, de mos- isto é também economia verde. No ge-
trar como é possível avançar mantendo ral, sabemos que uma economia verde
esse equilíbrio e possuem ainda o papel deve ser menos intensiva em carbono
chave de promover o fortalecimento e na utilização de matérias primas
do multilateralismo para promoção do escassas, raras ou não renováveis,
desenvolvimento sustentável em todo mas a discussão dessa ideia deve estar
o mundo. Outra questão importante é atrelada ao respeito às características
a importância econômica, de financiar e necessidade de cada país, de forma
um novo desenvolvimento. Está sendo que as nações construam seus modelos
discutido hoje, pelos bancos de desen- de economia verde de acordo com seus
volvimento na China, na Rússia e no interesses nacionais, sem receitas ou
Brasil, o nosso BNDES, como constituir modelos únicos. Nesse mesmo sentido,
fundos e fluxos financeiros que possam outro meio de fazer essa análise é a
fortalecer uma cooperação Sul-Sul. revisão das métricas de progresso, para
que existam indicadores como o Pro-
Qual a viabilidade da estruturação da duto Interno Bruto (PIB), que incluam
chamada “economia verde”? Uma ”eco- também aspectos relacionados à inclu-
nomia azul” seria também importante? são social e à conservação ambiental.
A expressão “economia verde” tem sido
um conceito disputado por forças políti- Num enfoque direcionado ao acesso
cas diversas e a “cor”, francamente, não dos cidadãos a comida, água, energia,
é o que importa. Você mesmo usou eco- como governos e sociedade devem
nomia azul e imagino que é para falar olhar para o meio ambiente? Qual é
dos oceanos, da água potável, então na a solução de futuro para Amazônia, o
verdade a economia sustentável precisa Brasil e a América Latina? A questão
de um caleidoscópio. Mas acho que o de “acesso” constitui um dos grandes
“verde” que foi adicionado é para enfati- desafios para o desenvolvimento susten-
zar a importância do pilar ambiental, é tável. A produção de alimentos, o uso de
para que certos modelos de crescimento recursos hídricos e a geração de energia
não sofram a tentação de produzir uma são grandes causadores de impactos am-
alta performance social com baixa bientais, e possibilitar que a população
performance ambiental. Acho que não
devemos perder tanto tempo com os
humana de todo o planeta tenha acesso
à comida, à água e à energia é um dos
IZABELLA
conceitos, mas ir avançando para uma
agenda pragmática. A forma como o
Brasil vê a economia verde é a de um
grandes desafios atuais. Acredito firme-
mente na conciliação desses objetivos,
mas precisamos de vontade política para
TEIXEIRA
modelo econômico que seja inclusivo, isso e o Brasil pretende, nesse aspecto,
com vigoroso crescimento econômi- ser protagonista de um modelo de de-
co que promova inclusão social num senvolvimento que promova crescimento
cenário de baixa emissão de carbono e econômico aliado à inclusão social e à
de conservação dos recursos naturais. conservação ambiental. O futuro das
Dessa maneira, inclui, naturalmente, a nossas florestas e dos nossos povos; da
questão de águas e oceanos embutida Amazônia, da América Latina e de todo
na ideia de “economia azul”. A econo- o planeta é o foco da Rio+20. O Brasil é
mia verde é uma ideia que precisa de um player nada desprezível neste jogo
instrumentos, de políticas robustas de de xadrez. Esperamos conseguir obter
desoneração de certas cadeias produti- consensos para trilhar caminhos que
vas e de retiro de incentivos de outras, respondam aos desafios que estão colo-
por exemplo. No Brasil nós acabamos cados para todos nós, sem exceção, pois
de editar uma política revolucionária a humanidade é uma só e os impasses
em seus métodos e objetivos, que é a estão postos em horizonte demasiado
Política Nacional de Resíduos Sólidos. curto e não podemos ignorá-los.
Ela pressupõe a criação de uma econo-
mia vigorosa e necessária da recicla-
gem, do reaproveitamento de materiais

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 57


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Entrevista

Série Rio 92, para onde foi?


Rio+20, para onde vai?

do Executivo estadual, Tião Viana vernamentais. A preparação de novos


vem implementando uma política passos dos países, o olhar para Kyoto.
consistente de valorização da floresta Novas responsabilidades para os paí-
e da consolidação de práticas ses desenvolvidos.
ambientais sustentáveis. A seguir a
entrevista que Tião Viana concedeu Entre as resoluções daquela confe-
Elza Fiúza /ABr

por escrito ao WWF. rência, alguma área não avançou? A


participação empresarial tem sido, de
O que fazia à época da Rio92? Recor- modo geral, aquém da enorme opor-
da-se de algum episódio que marcou tunidade de exemplo e envolvimento
a conferência? Estava iniciando minha com a sociedade. Por outro, as agen-
vida profissional no Acre, o qual era das governamentais foram, até agora,
o centro geopolítico de toda a agenda submissas aos fatores econômicos e
socioambiental brasileira, em função empresariais, quando não indiferentes
da resistência dos povos da floresta ao às intempéries climáticas ou coniven-
modelo de desenvolvimento vigente à tes com a precária qualidade de vida
TIÃO época. Em 92 fazia mais de três anos
do assassinato de Chico Mendes: o Acre
das populações. A substituição da
matriz energética dos hidrocarbonetos

VIANA perdera o seu herói; o mundo, uma lide-


rança consciente do seu papel na funda-
por alternativas mais limpas tem sido,
invariavelmente, tímida e/ou secundá-
ção por uma nova civilização baseada ria. Programas educacionais podiam
Sebastião Afonso Viana Macedo na igualdade social, na proteção do meio ter sido mais ousados e determinantes.
Neves, mais conhecido como Tião ambiente, na conservação da floresta e
Viana, nasceu em Rio Branco na sustentabilidade do desenvolvimento Qual deveria ser o principal resultado
(Acre). Estudou medicina e doenças em favor das gerações vindouras. Nossa da Rio+20? A ocorrência da Rio+20,
tropicais e infecciosas, mas foi geração era portadora desse sonho, em concorrendo com a crise europeia
na vida política que se projetou luta intensa contra a política tradicional e dos mercados, tende a pressionar
nacionalmente. Em 1998 foi eleito da pecuarização extensiva e predatória negativamente os avanços. Portanto,
senador da República pelo Acre. da Amazônia. Perseguíamos novos pa- uma agenda intensa das ONGs, pacto
Reeleito em 2006, acumulou uma radigmas, o desenvolvimento sustentá- de meios de comunicação, debates
experiência de 12 anos no Legislativo vel, alinhados aos “Povos da Floresta”. transparentes e plenos na agenda edu-
Federal. Já em 2010, elegeu-se cacional, ajustes nos marcos legais, a
governador pelo mesmo estado, Quais os principais legados da con- exemplo do que o governo da Presi-
que possui território com 88% de ferência Rio92? Uma nova forma de dente Dilma e setores do Congresso
cobertura florestal e cujos limites são pensar o Desenvolvimento, a sustenta- fizeram no Código Florestal, um novo
formados por fronteiras internacionais bilidade, respeito ao uso dos recursos pacto de respeito às políticas públicas
com os países amazônicos Peru e naturais, novas responsabilidades para a Amazônia e as comunidades
Bolívia e por divisas estaduais com para as instituições. Mobilidade das que ali vivem. Uma política de desen-
Amazonas e Rondônia. À frente Academias e Organizações Não-Go- volvimento regional para considerar

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 58


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Há uma necessidade urgente de conhecer mais para usar melhor.


Valorizar esta imensa riqueza que nós temos para que se combata
definitivamente a pobreza persistente, em função da má distribuição de renda
e ausência de estratégias nacionais definidas de forma participativa.

a realidade específica da Amazônia etc. Instituições privadas precisam ter as populações tradicionais, as cidades,
como unidade do planejamento do agenda própria com resultados pactua- enfim o planeta.
desenvolvimento sustentável e a cria- dos com o setor público.
ção do Conselho de Desenvolvimento Qual é a solução de futuro para a Ama-
Sustentável para a Amazônia, com- Qual o papel das economias emergen- zônia, o Brasil e a América Latina? Há
preendendo-a, assim, como Floresta tes – como os BRICS – no impacto e uma necessidade urgente de conhecer
Habitada, Produtiva e Conservada. nas soluções para as questões ambien- mais para usar melhor. Valorizar esta
tais? As oportunidades e experiências imensa riqueza que nós temos para que
Qual sua opinião sobre o texto base comunitárias a favor de economia se combata definitivamente a pobreza
da Rio+20? A declaração mostra a ne- verde, certamente precisam ser in- persistente, em função da má distribui-
cessidade da renovação dos compro- centivadas e apoiadas pelos Estados ção de renda e ausência de estratégias
missos políticos e enfatiza que os es- Nacionais. Seus Ministérios estão como nacionais definidas de forma partici-
forços para a realização dos Objetivos que indiferentes às regiões vulneráveis, pativa. A consideração com as áreas
de Desenvolvimento do Milênio serão como a Amazônia e distintos biomas e preservadas e mais sensíveis às avarias
ampliados, com a definição da data ecossistemas. A matriz econômica e a ambientais, rever padrões decisórios de
de 2015, para que sejam atingidos energética dos BRICS são conservado- financiamento público, melhor decisão
de maneira ampla. Este é um desafio ras, sem agenda de transformação de de prioridade, de controle e transparên-
fantástico que impacta diretamente curto prazo substantivas. cia, democracia na elaboração de planos
na melhoria de qualidade de vidas das e mais rigor no acompanhamento de
populações mais pobres do planeta. Qual a viabilidade da estruturação metas, prazos e resultados. Exemplo:
Além disso, o tema Economia Verde da chamada “economia verde”? Uma a Amazônia recebe, em regra, pacotes
mostra que é possível ter desenvolvi- ‘economia azul’ seria também importan- decisórios, autoritários, dissociados das
mento responsável associado à erra- te? Na verdade estamos falando de um boas práticas locais; a China distancia-
dicação da pobreza e ao compromisso velho conceito transformado num novo -se de valores éticos, ambientais e demo-
com a segurança alimentar, gestão de paradigma, uma vez que economia verde cráticos quando busca matéria-prima na
água, acesso a serviços energéticos, pode ser traduzida em cuidar, cuidar África ou quando pactua com mercados.
estruturação de cidades sustentáveis. bem. Cuidar bem do planeta Terra, com
Eu creio que esta é uma utopia possí- participação de todos. Assim, é inadiável
vel e justa. o reconhecimento das ações sustentáveis
em prática pelos governos nacionais e
Como setor empresarial e sociedade ci- subnacionais, a valoração dos serviços
vil podem contribuir para a conservação ambientais globais prestados por biomas
ambiental e o desenvolvimento sus- e populações e que de fato tenhamos
tentável? Experiências éticas, de bons oportunidades de investimentos e de
resultados, envolvendo setores públicos crédito para quem cuida bem. Desta for-
e privados, pactos pela sustentabilidade, ma, agenda verde tem que integrar todos
intensas e repetidas agendas com grande os biomas e ecossistemas, sendo desta
participação popular e democrática, re- forma, muito mais que verde, uma vez
petidos fóruns, convenções, congressos, que incluirá as águas, a biodiversidade,

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 59


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Entrevista

Série Rio 92, para onde foi?


Rio+20, para onde vai?

Foto cedida pela entrevistada


WWF / Denise Oliveira
WWF-US

CLÁUDIO ROBERTO MARIA CECÍLIA


MARETTI TROYA WEY DE BRITO
A fi m de debater os Aos três foi submetido o mesmo O que faziam à época da Rio 92?
desdobramentos da Rio 92 e roteiro de perguntas a respeito das duas Cláudio Maretti – Eu participava de
conhecer as expectativas sobre conferências. Apesar das diferentes uma cooperação com a Guiné-Bissau
a Rio+20 de três formuladores experiências e responsabilidades, as que envolvia a União Internacional
e executores das estratégias avaliações, quando não coincidentes, pela Conservação da Natureza, com
do WWF na América Latina, são complementares e formam um financiamento europeu, sobretudo
apresentamos aqui uma “mesa quadro abrangente das duas últimas suíço, e colaboração técnica brasileira
redonda virtual” com Cláudio décadas e o meio ambiente. e latino-americana. As discussões para
Maretti, geógrafo e geólogo, Nesse período, Maretti, Troya e a preparação da Rio 92 e os resultados
líder da Iniciativa Amazônia Wey de Brito tiveram papel importante de sua realização inspiraram nossa
Viva; Roberto Troya, advogado dentro do WWF e fizeram da busca atuação internacional.
e negociador internacional, vice de alternativas para a preservação Roberto Troya – Eu participei de todo
presidente e diretor regional para a ambiental causa para suas trajetórias o processo da Rio 92, desde as reuni-
América Latina e o Caribe; e Maria pessoais e profissionais. A seguir, ões de preparação até a própria reu-
Cecília Wey de Brito, engenheira apresentamos em conjunto as nião em si. Talvez o aspecto mais mar-
agrônoma e secretária-geral do principais ideias dos três sobre Rio 92, cante daquela reunião para mim tenha
WWF Brasil. para onde foi? Rio+20, para onde vai? sido a importância e a participação da

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 60


WWF Iniciativa Amazônia Viva

É a natureza que pode garantir sustentabilidade e equidade


na oferta e acesso das populações a comida, água e energia – ou
seja, as bases dos interesses de um desenvolvimento que seja
verdadeiramente sustentável.
Cláudio Maretti

sociedade civil, tanto nas PREP-COMs significativa da política brasileira Grupo de Países Latino-Americanos
quanto no Rio. A atual presidente in- sobre a Amazônia, que resultou num e do Caribe, dirigiu-se à conferência e
ternacional da WWF, Yolanda Kakab- impressionante crescimento da área deixou clara a posição muito favorável
dse, juntamente com a equipe liderada protegida e redução significativa do da região em torno da Agenda 21 e de
pelo canadense Maurice Strong, pos- desmatamento após meados da década seu plano programático.
sibilitou que representantes de ONGs, de 1990. Infelizmente, em lugar de
grupos indígenas e de camponeses, assumir a liderança mundial de um Quais os principais legados da confe-
participantes do movimento sindical novo modelo de desenvolvimento sus- rência Rio 92?
e outros atores tivessem um espaço tentável na virada dos anos 2000 para Maretti – Na Rio 92 pela primeira vez
tanto na reunião oficial de ministros os anos 2010, o Brasil se entusiasmou o mundo se reuniu, discutiu e decidiu
e presidentes no Riocentro, quanto no com as possibilidades de crescimento caminhar para o desenvolvimento
Parque do Flamengo, onde ocorreu econômico e decidiu dar toda a atenção sustentável, representado pelas maiores
uma verdadeira festa pela conservação a essa frente, associada a relativa autoridades governamentais possível.
e pelo desenvolvimento sustentável. distribuição de renda, esquecendo que A Agenda 21 esteve entre os instrumen-
Maria Cecília Wey de Brito – Eu asses- isso pode representar um falso desen- tos que, na Rio 92 e logo após, mais
sorava o então deputado federal Fabio volvimento e que, certamente, o não estimularam as esperanças, pois tinha
Feldmann, que teve uma participação cuidado com a natureza (os ecossiste- o enfoque holístico; foi usada pela so-
muito ativa e decisiva para a constru- mas, com seus produtos e serviços, o ciedade civil e por alguns governos para
ção da agenda da Conferência e das “capital natural”), representará custos promover a tomada de consciência dos
Convenções apresentadas, bem como para a sociedade brasileira que serão resultados da Rio 92 e sua aplicação em
da Agenda 21 e Carta da Terra. Meu pagos hoje e amanhã. diferentes níveis, áreas, regiões. Duas
envolvimento era com o tema da bio- Troya – A América Latina teve uma outras decisões geram alguns resulta-
diversidade, apoiando-o nos eventos participação destacada em todos os dos e discussões até hoje: as convenções
paralelos ocorridos durante a Rio 92. âmbitos, desde o papel desempenhado sobre a Diversidade Biológica e sobre
pelo Brasil como anfitrião da maior Mudanças Climáticas.
Como foi a participação dos países reunião de presidentes já realizada Troya – Acho que a Conferência do Rio
latino-americanos? em todo o mundo até a época, até seu deixou vários legados, e talvez os mais
Maretti – O impacto da Rio 92 foi papel na condução de diversos aspec- palpáveis sejam os que têm a ver com
fortíssimo no Brasil, mas também em tos da agenda. Lembro-me de partici- os instrumentos aprovados, os quais,
toda a América Latina e no mundo. pações muito destacadas, como a da sendo juridicamente vinculantes para
Eu morava na Guiné-Bissau e senti Colômbia, com uma equipe multidisci- os países, tornaram-se muito mais do
os efeitos na África, na Europa e na plinar liderada pelo Dr. Enrique Peña- que discursos. As convenções de Bio-
América Latina. Quando voltei ao Bra- loza. Equipes como a do México, com diversidade, Mudança do Clima e Prin-
sil percebi que houve grande avanço intervenções magistrais como a do cípios sobre Florestas, a Declaração
nas políticas, na institucionalização então secretário de Desenvolvimento do Rio, a Agenda 21, o relatório Nosso
e no envolvimento da sociedade nas Social, Luis Donaldo Colosio. Também Futuro Comum do qual se encarregou
questões ambientais e do desenvolvi- me lembro do memorável discurso do a primeira-ministra norueguesa Gro
mento sustentável. São consequências então presidente do México, Carlos Harlem Brundtland, o Cuidar da Terra,
dessa evolução, por exemplo, a atenção Salinas de Gortari, que, em nome do entre outros, são produtos tangíveis e

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 61


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Vejo que existe uma vontade maior das empresas no que


tange a definir sua responsabilidade social e ambiental como uma parte
integrante do próprio negócio.
Roberto Troya

reais que foram resultados da Cúpula. Convenção sobre Diversidade Biológica efeitos atuais e potenciais da mudança
Muitos acordos, apesar de importan- (CDB) passou a ser muito criticada. A do clima.
tes, não foram sólidos. Por exemplo, a Convenção Quadro das Nações Unidas Wey de Brito – Vale mencionar as
aplicação de 0,7% do produto interno sobre as Mudanças Climáticas teve iní- dificuldades da Convenção de Clima
bruto dos países em recursos novos é cio lento, recebeu mais apoio na Euro- em relação ao Protocolo de Kioto,
um dos que foram insuficientes. Embo- pa e nos países desenvolvidos e depois assim como as dificuldades para que o
ra seja digno de nota que a Convenção do Protocolo de Quioto não conseguiu REDD entrasse na agenda dos países
da Biodiversidade foi ratificada em mais decisões concretas e aplicáveis. como um meio a mais para a mitigação
tempo quase recorde, países como os Talvez a ausência mais importante no dos gases de efeito estufa. Também é
Estados Unidos e seu Congresso não pós Rio 92 seja a mudança concreta da importante lembrar que o Mecanismo
ratificaram a Convenção porque sofre- economia. Está claro que os agentes de Desenvolvimento Limpo tornou-se
ram um forte lobby de atores privados do setor privado devem também se en- tão burocrático que pouco resultado
cujos interesses seriam afetados. gajar mais fortemente para promover trouxe até aqui.
Wey de Brito – O que mais chamou a a mudança necessária. E a sociedade
atenção foram os quatro documentos deve cobrar por isso. Qual deveria ser o principal resultado
decorrentes da Rio 92 (CDB, Clima, Troya – Há avanços importantes, mas da Rio+20?
Agenda 21 e Carta da Terra). O que claríssimos retrocessos, especialmente Maretti – Deveríamos conseguir que
mudou depois da Rio 92 foi a expec- nas discussões sobre clima. Certamen- os diversos segmentos da sociedade
tativa de se poder levar adiante temas te a que traz mais dúvidas quanto à (atores sociais) assumissem compro-
prementes que ultrapassavam limites aplicação imediata é a da Mudança do missos próprios, particularmente os
de países, de uma forma negociada. Clima. Os fracassos nas negociações agentes econômicos e o setor privado.
revelam que os países privilegiaram Para permitir que a sociedade acom-
Entre as resoluções alguma área não manter os equilíbrios políticos e panhe o cumprimento dos compro-
avançou? geopolíticos em relação a um verda- missos, governamentais, do setor
Maretti – Após um início motiva- deiro plano mundial para reduzir as privado e outros, o estabelecimento de
dor, sobretudo na América Latina, a emissões e fazer uma adaptação aos metas claras e ambiciosas só pode ser

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 62


WWF Iniciativa Amazônia Viva

benéfico – esse é o caso dos Objeti- importantes, destacando-se o papel que põem o planeta em risco. O papel
vos de Desenvolvimento Sustentável, do sistema financeiro como um dos do setor empresarial e privado, mesmo
propostos pela Colômbia e Guatemala motores mais importantes da econo- que venha crescendo, poderia ser um
e progressivamente apoiados por todo mia atual, e que deveria ser cobrado dos objetivos concretos para integrá-lo
o mundo. em suas funções sociais e ambientais e como um dos atores mais importantes
Troya – Creio que uma ratificação qualidade sustentável. para a mudança.
dos princípios de Desenvolvimen- Troya – Chama a atenção o fato de Wey de Brito – Primeiro se infor-
to Sustentável expressos na Rio 92 uma linha de base não ter sido usada mando e não ficando a mercê do que
mediante um debate renovado e ativo como ponto de partida: o que propôs outros dizem. Segundo, votando com
sobre a economia verde pode ser um a comunidade internacional na Rio responsabilidade e não se deixando
resultado importante e esperado. Uma 92, o que foi cumprido, o que não foi levar por brincadeiras irresponsáveis
análise muito cuidadosa da vigência etc. Parece-me que, sem esta análise como voto em candidatos “rebeldes”,
dos instrumentos jurídicos em torno básica, é muito difícil sentir que existe “fora da curva”, “jocosos” etc. Ter-
do desenvolvimento sustentável, tanto um alicerce firme para apresentar as ceiro, adotar ações de cidadania latu
nacional como internacionalmente, propostas necessárias a fim de en- sensu no cotidiano. Desde respeitar
deve fazer parte das discussões e frentar o futuro sem correr o risco de os pedestres e ciclistas, por exemplo,
relatórios que os governos precisam fazer as mesmas declarações e obter os até não pagar caixinha para o proces-
realizar sobre estes 20 anos. Por outro mesmos compromissos e orientações so andar mais rápido. É claro que a
lado, temos de pensar em um modo de que talvez já tenham sido alcançados melhor eficiência do seu negócio em
fortalecer os processos de integração ou obtidos 20 anos atrás. termos do uso dos recursos naturais,
entre biodiversidade e mudança cli- a transparência, a preocupação com
mática em vez de tratá-los como temas Como setor empresarial e sociedade suas cadeias de valor, são de grande
simplesmente diferentes. civil podem contribuir para a conser- valia e cada vez mais parte do default
Wey de Brito – O resultado deveria ser vação ambiental e o desenvolvimento dos negócios.
a construção de metas (quantificáveis, sustentável?
mensuráveis e reportáveis) para mu- Maretti – Diz-se que o melhor cami- Qual o papel das economias emergen-
danças de processos, e de compromis- nho para as mudanças é o voto e a es- tes para as questões ambientais?
sos financeiros para que isso de fato colha do consumidor. Mesmo concor- Maretti – Infelizmente os países
ocorra. A percepção da urgência dos dando com isso, não se pode admitir emergentes muitas vezes buscam
temas relacionados aos três pilares da que os setores e lideranças governa- entrar “no final da fi la” dos modelos
sustentabilidade parece que não bateu mentais e empresariais se escondam de desenvolvimento que já estão em
na porta dos tomadores de decisão, atrás dessa explicação para adiar as cheque. Alguns países emergentes,
bem como dos vários segmentos repre- ações necessárias. É fundamental como China, embora continuem com
sentados nestes eventos. Quem precisa que essas lideranças sejam parte do discursos e ações ambíguas ou contra-
de proteção é o ser humano. A Terra movimento que leva às mudanças em ditórias, têm aumentado significativa-
vai ficar aí, não haverá espaço para o direção à sustentabilidade. As empre- mente os cuidados para redução dos
lucro, se não houver mais sociedade... sas não podem se concentrar apenas impactos ambientais ou produção mais
Mas, com esse pensamento de cresci- em controlar suas próprias atividades, sustentável. Até por interesses comer-
mento via consumo, com apoio no sis- mas precisam se assegurar toda a ciais, a China tem sido dos países que
tema financeiro vai ser difícil mudar. cadeia econômica dos produtos com os tem mais investido em tecnologia e
quais se envolvem. Tais compromissos produção de painéis para energia solar
Qual sua opinião sobre o texto base das empresas devem ser claros, regis- e em restauração florestal. Isso não lhe
da Rio+20? trados e permitir acompanhamento retira a enorme responsabilidade de
Maretti – Os principais temas estão ali pela sociedade. Cabe à sociedade co- impactos ambientais e sociais de suas
representados – como produção sus- brar o cumprimento dos compromissos compras e atividades – igualando-a ou
tentável de alimentos, gestão susten- acordados com governos e empresas. superando a países de maior pegada
tável das águas e produção de energia Troya – É muito claro que o setor em- ecológica no mundo. Mas isso lhe
sustentável, governança marinha e uso presarial está bem mais comprometido acrescenta alguns pontos no sentido da
sustentável e conservação das flores- que há 20 anos. Vejo que existe uma sustentabilidade, novamente, mesmo
tas, custos reais nas cadeias e setores vontade maior das empresas no que orientando isso por meio de interesses
econômicos, considerando o que hoje tange a definir sua responsabilidade comerciais, econômicos. Infelizmen-
são deixados como externalidades e social e ambiental como uma parte te o Brasil, que tinha tudo para ser o
eliminando os subsídios daninhos à integrante do próprio negócio. Mas campeão do modelo econômico do sé-
natureza e sociedade, etc. Mas não ainda há muito a ser feito. As forças do culo XXI continua buscando soluções
há ainda formulação ambiciosa o mercado sobre as economias de alguns pelo modelo econômico dos séculos
suficiente. Há, entretanto, ausências países seguem incentivando práticas XIX ou XVIII, por meio da disputa das

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 63


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Há total viabilidade, desde que se mudem alguns valores da


sociedade, o que é obviamente demandador de tempo. No caso do
Brasil, exige forte investimento em educação.
Maria Cecília Wey de Brito

terras, da propriedade sem responsa- aprende com os erros do passado, seu é uma das contribuições importantes
bilidade social, desperdício de recursos ou dos outros. da chamada economia verde, já que a
naturais, degradação da natureza etc. mesma cabe tanto em regimes políti-
Troya – As economias emergentes Qual a viabilidade da estruturação cos que favorecem o mercado quanto
desempenham um papel fundamental da chamada “economia verde”? Uma naqueles em que há um controle estatal
no contexto global do desenvolvimen- ‘economia azul’ seria também impor- mais forte. O que é absolutamente certo
to sustentável, pois têm condições tante? é que a realidade prevista no Rio há
de demonstrar como suas políticas Maretti – Há várias formas de se 20 anos já está em vigor, e muitos dos
econômicas, sociais e ambientais compreender a chamada economia problemas então previstos já são uma
guardam um equilíbrio entre si. Esses verde. Certamente inclui-se nela a realidade. No âmbito dos três eixos de
países são também potências políticas importância da maior eficiência no uso desenvolvimento sustentável, a avalia-
e geram lideranças regionais, como é o dos recursos naturais e a redução do ção é de que houve importantes avanços
caso do Brasil na região da Amazônia. conteúdo de carbono. Mas ela deve ir em termos sociais e ambientais, mas o
As repercussões regionais da política muito além de soluções tecnológicas lado econômico ainda não foi suficiente-
brasileira em temas de investimento ou de uma discussão de alternativas mente equilibrado – ou seja, não atuou
em infraestrutura, energia e produção energéticas. O fundamental é conside- como um terceiro eixo.
de alimentos, entre outros, estão tendo rar a integração das forças econômi- Wey de Brito – Há total viabilidade,
efeito direto sobre as economias dos cas no caminho do desenvolvimento desde que se mudem alguns valores da
países amazônicos vizinhos. É assim sustentável. Não se trata de criar uma sociedade, o que é obviamente deman-
que o Peru, com a questão das usinas economia que seja só relacionada com dador de tempo. No caso do Brasil,
hidrelétricas, e a Bolívia, com o caso da as florestas, pois é fundamental seu exige forte investimento em educação.
produção de gás e infraestrutura com vínculo – respeito, utilização susten-
capital brasileiro, estão sendo objeto tável, conservação – com os ecossis- Qual é a solução de futuro para a Ama-
de processos que têm maior incidência temas em geral, inclusive florestas, zônia, o Brasil e a América Latina?
sobre a biodiversidade amazônica e so- savanas e campos naturais, rios, lagos Maretti – A América Latina é a região
bre a vida dos povos mais diretamente e mares. Uma economia azul tem o do mundo de maior biodiversidade e vo-
afetados. Não é segredo que a questão mesmo sentido de uma economia lume de água, além de riqueza de recur-
da segurança alimentar, se relacionada verde, ou seja, considerar melhor os sos naturais. E a Amazônia é em grande
à questão do acesso às fontes de água ecossistemas, apenas chamando aten- parte responsável por isso. A Amazônia
com qualidade e quantidade, é a grande ção corretamente para que os mares e é um patrimônio brasileiro, sul-ameri-
propulsora do debate sobre um modelo as águas não sejam esquecidos. cano e mundial, que deve ser gerida em
para desenvolvimento. Aparentemen- Troya – A proposta da economia verde benefício das comunidades locais, da
te, agora o modelo se concentra em parte de uma premissa fundamental, população dos países amazônicos e com
exportar mais, o mais cedo possível, que é buscar colocar seus princípios em responsabilidade de sua importância
utilizando-se os “direitos econômicos” prática. O esforço de encontrar pro- global. A América Latina é uma região
do povo como o grande escudo. postas viáveis e claras que permitam com importante história, diversidade
Wey de Brito – O papel é mudar a for- desenvolver as políticas necessárias sob social e riqueza cultural. Infelizmen-
ma de fazer as coisas. E mostrar que se qualquer regime político ou ideológico te esta também é uma das regiões

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 64


WWF Iniciativa Amazônia Viva

de maior desigualdade social. Não é prejudica (por exemplo, com enchentes, qualidade e distribuição. O país precisa
possível o desenvolvimento sustentável escassez, baixa qualidade da água etc.) olhar mais para o passo seguinte das
sem equidade social. É a natureza que quem está situado abaixo. Mas, pela ações que toma. A solução de futu-
pode garantir sustentabilidade e equi- complexidade climática, já se entende ro para a Amazônia é o desenho de
dade na oferta e acesso das populações que o desmatamento da parte oriental um plano de Estado. Importa que as
a comida, água e energia – ou seja, da Amazônia pode prejudicar a umida- soluções para os problemas em curso
as bases dos interesses de um desen- de da sua parte ocidental. não sejam pensadas com um foco de
volvimento que seja verdadeiramente Troya – Se, de acordo com o Relatório curto prazo. É possível investir para
sustentável. Temos que caminhar para Planeta Vivo da WWF, já estamos con- desenvolver mercados diferenciados,
garantir a sustentabilidade na produção sumindo um planeta e meio, se a popula- ciência para novos produtos e para o
e oferta de alimentos, de forma que não ção mundial já encosta nos 7 bilhões de conhecimento de potencialidades e fun-
prejudiquemos nem suas possibilidades habitantes, se os estragos da mudança cionamento da região do ponto de vista
de produção futura, nem os serviços do clima já são sentidos em todo o mun- ambiental e social. É possível desenvol-
que interessam a outras necessidades do, afetando fontes de água e a produ- ver a cidadania por vários mecanismos,
da sociedade, como a gestão sustentá- ção de alimentos, e se as emissões de mas principalmente pela melhoria de
vel das águas – ou seja, a produção de carbono se mantêm e aumentam a níveis serviços do Poder Público e sua univer-
alimentos não pode mais ser baseada irreversíveis, então já estamos falando salização na região. Essas atividades
no desmatamento e outras degrada- de questões de segurança planetária: se- poderiam ser financiadas como contra-
ções. Da mesma forma, não cabe mais a gurança referente ao acesso a água doce partida de investimentos a serem feitos
obrigação da maximização da produção em quantidade e qualidade, ao acesso a na região, inclusive e preferencialmente
hidroelétrica em detrimento de outros alimentos para uma vida digna, ao aces- pelos que se beneficiarão deles direta-
usos e benefícios das bacias hidrográfi- so e disponibilidade de fontes suficientes mente, por exemplo, os exportadores de
cas. Além disso, é fundamental avançar de energia limpa. Os três temas atuam commodities, na Amazônia e no Cer-
no entendimento da gestão integrada como um grande guarda-chuva, já que rado, por exemplo. No caso do Brasil e
responsável de recursos naturais, dentro ou em volta deles existem e giram América Latina, parece que mais rápido
bacias hidrográficas e ecossistemas outros tantos, e certamente simbolizam que nunca será necessário um investi-
compartilhados por mais de um país. É aspectos fundamentais para sustentar a mento sistemático e maior em ampliar
importante reconhecer que o mal uso vida no planeta. a agenda de exportações para uma que
das terras, florestas ou rios, na parte Wey de Brito – O problema da alimen- aumente a participação de produtos
montante das bacias hidrográficas, tação é menos a quantidade e mais a com maior valor agregado.

CLÁUDIO ROBERTO MARIA CECÍLIA


MARETTI TROYA WEY DE BRITO
Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 65
WWF Iniciativa Amazônia Viva

Artigo

Série Rio 92, para onde foi?


Rio+20, para onde vai?

(Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Persistindo a tendência atual de des-


Guiana, Peru, Venezuela, Suriname), matamento, incêndios florestais e mu-
além do terrritório ultramarino da Guiana dança climática, apenas 30% da floresta
Francesa, esperam que a Rio+20 primária subsistirá em 2030, reduzindo-
Foto cedida pelo entrevistado

considere os elementos sociais na -se para menos de 10% até 2080.Teme-


discussão ambiental e que os padrões -se uma diminuição na quantidade de
de produção e de consumo nas maiores espécies, nos estoques de carbono, além
economias mundiais convirjam para de significativa redução das chuvas.
patamares mais sustentáveis. A (Terceira edição da Perspectiva Mundial
seguir, artigo escrito pelo embaixador sobre a Diversidade Biológica)
para o WWF. Cientes da importância da Amazô-
nia, os oito países amazônicos decidi-
ram unir seus esforços para, mediante
ativo processo de cooperação, buscar
A Amazônia possui a maior floresta o desenvolvimento integral de seus
tropical úmida, que representa 6% respectivos territórios amazônicos e
ALEJANDRO da superfície terrestre e ocupa 40%
do território da América Latina e do
sua incorporaçãoàs respectivas econo-
mias nacionais, buscando o equilíbrio

GORDILLO Caribe,com um tamanho que se situa


entre 5,1 e 8,1 milhões de quilômetros
entre o desenvolvimento econômico e a
preservação ambiental. Por este motivo,
quadrados.Seus rios transportam celebraram juntos, em 1978, o Tratado
Se for mantida a tendência atual de cerca de 20% da água doce do planeta de Cooperação Amazônica, que já tem
desmatamento e incêndios florestais, até os oceanos.A bacia possui 25 mil 32 anos de existência.
acrescido dos efeitos das mudanças quilômetros de rios navegáveis. Posteriormente, em 1998, buscando
climáticas; a Amazônia terá cerca O rio Amazonas possui 6,9 mil qui- aperfeiçoar e fortalecer institucional-
de um terço a menos de vegetação lômetros de extensão e conta mais de mente o processo de cooperação, estes
até 2030. Continuado esse quadro mil afluentes, vertendo cerca de 220 mil países decidiram criar a Organização
por mais 50 anos, o maior bioma do metros cúbicos de água por segundo. do Tratado de Cooperação Amazôni-
planeta chegará a 2080 com menos Foram identificadas cerca de 20 mil ca (OTCA), criando uma Secretaria
de 10% da floresta original. espécies de plantas na Bacia, entre Permanente sedeada em Brasília.A
As projeções são da terceira as quais dois mil foram classificadas Secretaria Permanente foi implantada
edição da Perspectiva Mundial sobre em função de sua utilidade alimentar, no ano de 2002.
Diversidade Biológica e são lembradas medicinal e outros.
pelo secretário-geral da Organização Quarenta povos indígenas e tribais Agenda Estratégica de Cooperação
do Tratado de Cooperação Amazônica vivem na Amazônia efalam 86 línguas Amazônica
(OTCA), o embaixador peruano e 650 dialetos.Os habitantes da Bacia Os Presidentes dos Países membros
Alejandro Gordillo. atingem a cifra de 38,7 milhões de da OTCAse reuniram em Manaus,
Gordillo e seus interlocutores nos oito habitantes, representando 11% da po- Brasil, e publicaram uma Declaração
países que compõem o bioma Amazônia pulação dos oito países amazônicos. sobre a Organização, na qual expres-

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 66


WWF Iniciativa Amazônia Viva

saram sua decisão de “dar à OTCA um Estes estiveram representados nas Reunião, celebrada em Lima no final
papel renovado e moderno, como foro reuniões técnicas pelas autoridades de março de 2012, a “Declaração de
de cooperação, intercâmbio, conhe- encarregadas do assunto tratado e em Lima”, que vem se somar à “Declara-
cimento e projeção conjunta (...)”.Da 80% dos casos, a presença foi comple- ção” dos Chanceleres sobre a Rio+20.
mesma forma, encarregaram os Chan- ta. Nas poucas oportunidades em que o Outrossim, a OTCA estará presente
celeres de prepararem uma Agenda coronão chegou a ser completo,apenas na Río+20, por meio da organização de
Estratégica da OTCA, para a qual fo- um país esteve ausente. um “evento paralelo” e a apresentação
ram indicadas algumas orientações.A Por outro lado, embora a regula- de um estande.
Agenda Estratégica de Cooperação mentação determine que os Chancele-
Amazônica (AECA) foi aprovada na res devem se reunir a cada dois anos, Brasília, 18 de abril de 2012.
X Reunião de Ministros de Relações em novembro de 2011, um ano após o
Exteriores, em Lima, em novembro encontro de Lima, foi celebrada sua XI
de 2010, coincidindo com a data de Reunião em Manaus, onde foi aprova-
comemoração do trigésimo aniversá- do o “Compromisso de Manaus” e foi
rio da entrada em vigor do Tratado de decidaa realização de um novo encon-
Cooperação Amazônica. tro em novembro de 2012, no Equador.
Em Lima, os Chanceleres aprova- Este documento contém acordos im-
ram uma série de resoluções,ligadas portantes, tratando da implementação
ao funcionamento da OTCA, que se de um “Observatório Amazônico”, a
referem à regulamentação de seus criação de uma Universidade Regional
órgãos(Reunião de Ministros de Rela- Amazônica, a abordagem de assun-
ções Exteriores, Conselho de Coopera- tos de inclusão social, a luta contra a
ção Amazônica-CCA, Comissão de Co- pobreza, a erradicação da pobreza e o
ordenação do Conselho de Cooperação desenvolvimento social na Amazônia,
Amazônica-CCOOR e Secretaria Per- entre outros temas importantes.
manente), às fontes de financiamento e O Conselho de Cooperação Amazô-
às relações com a cooperação inter- nica (CCA) realizou duas reuniões, pre-
nacional.Estes sancionaram também cedidas pela reunião de Pontos Focais,
a Agenda Estratégica de Cooperação além das reuniões do Comissão de Co-
Amazônica (AECA), que representa um ordenação do Conselho de Cooperação
roteiro da organização. Amazônica (CCOOR), conforme periodi-
A AECA integra uma “Visão da Região cidade definida na regulamentação.
Amazônica” e, no caso da OTCA, estabe-
lece uma “Visão do futuro”, encarregando A OTCA e a Rio+20
a Organização de uma “Missão” e fixando Considerando a importante baga-
alguns “Objetivos estratégicos”.Esta gem que a OTCA, organização cujo
agenda tem por base dois “eixos de abor- contexto geográfico é importante para
dagem transversal”:a conservação e uso diversos aspectos da temática da Con-
sustentável dos recursos naturais renová- ferência das Nações Unidas sobre De-
veis e o desenvolvimento sustentável. senvolvimento Sustentável, tem para
Ela contém ações de curto, médio e exibir, os Chanceleres da Organização
longo prazo sobre os temas definidos aprovaram, na reunião de Manaus,
no TCA:conservação e uso sustentá- uma Declaração sobre este encontro.
vel dos recursos naturais renováveis; Convém ressaltar que o TCA é um ins-
assuntos indígenas; gestão do conheci- trumento internacional praticamente-
mento e intercâmbio de informações; precursor do desenvolvimento susten-
gestão regional da saúde; infraestru- tável; que a OTCA é uma organização
tura e transporte;e turismo.Foram de cooperação eminentemente hori-
somados três novos temas emergentes: zontal e sul-sul, cuja Agenda Estraté-
mudança climática, desenvolvimento gica foi aprovada unanimemente pelos
regional e energia. Países membros e contém uma “Visão
A aplicação da Agenda teve início sobre a Região Amazônica”, comparti-
no dia 1º de janeiro de 2011; ao longo lhada por estes Estados.
deste ano, foi possível comprovar Por sua vez, os Ministros de Meio
o interesse dos Países membros da Ambiente dos Países membros da
OTCA de participar deste processo. OTCA publicaram, em sua Segunda

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 67


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Artigo

Série Rio 92, para onde foi?


Rio+20, para onde vai?

Fórum Global que em paralelo à quase trinta anos. A conferência era o


conferência oficial congregava as maior evento internacional realizado
ONGs no aterro do Flamengo. até então no Brasil. O país, historica-
Mais do que um depoimento de mente insular, abria-se para o mundo
Foto cedida pelo entrevistado

memória de um jornalista com mais para hospedar e, quem sabe, liderar


de 40 anos de experiência, o texto um debate global sobre um tema sobre
a seguir assinala as mudanças nos o qual mantivera-se até ali na defensi-
últimos 20 anos da visão sobre o va, sob a acusação de estar destruindo
meio ambiente, reflete as alterações a Amazônia e o que restava de seus
na relação entre governo e o povos indígenas. As organizações
terceiro setor, bem como examina não-governamentais, especialmente
as perspectivas da conferência que aquelas voltadas para as questões am-
ocorre em 2012. bientais, enfrentavam fortes resistên-
Esses eram os objetivos de um cias nos meios oficiais e, em especial,
roteiro de perguntas que o WWF no Itamaraty, onde eram vistas como
encaminhou inicialmente para Paulo instrumentos de interesses estran-
PAULO Sotero que preferiu dar suas respostas
no texto a seguir reproduzido, a
geiros. Mesmo assim, começavam a
ganhar espaço.

SOTERO pedido, na íntegra. Jovem e impetuoso, o então pre-


sidente Fernando Collor de Mello
chegara ao Planalto prometendo caçar
O jornalista Paulo Sotero Marques, “marajás” e combater a corrupção,
ex-correspondente internacional e Em junho de 1992, eu era o corres- uma prática que fora rapidamente de-
atual diretor do Brazil Institute do pondente de O Estado de S.Paulo em mocratizada pela classe política após o
Woodrow Wilson International Center Washington. Fui chamado ao Rio de fim de 21 anos de ditadura. Prometera,
for Scholars, em Washington (EUA), Janeiro, juntamente com outros cor- também, por fim à inflação, praga
escreve abaixo um relato sobre o que respondentes e colaboradores do jornal antiga associada à corrupção que os
foi a Conferência Rio 92 (que cobriu no exterior, para ajudar na cobertura tecnocratas do regime militar haviam
para o jornal O Estado de S. Paulo); e da Conferência, para a qual o jornal convertido, via déficits crescentes e
analisa as perspectivas da Rio+20. dedicaria um caderno especial publica- indexação monetária, num esquema
O texto registra o contexto político do diariamente na semana do evento. garantido pelo Estado para enriquecer
interno no Brasil (meses antes do Para o Brasil, o significado polí- a elite em detrimento da nação.
impeachment do presidente Fernando tico de hospedar a Conferência das No dia 3 de junho, quando Fernan-
Collor de Mello), os bastidores do Nações Unidas sobre o Meio Ambiente do Collor de Mello inaugurou a Rio 92,
poder nos Estados Unidos que e o Desenvolvimento ia muito além era evidente que ele havia descumpri-
levaram Washington a não ratificar dos temas da agenda. O país vivia o do ambas as promessas, perdera sua
as decisões daquela conferência e, sétimo ano da restauração da demo- base de sustentação no Congresso e
em depoimento inédito, faz justiça cracia e tinha no poder o primeiro estava desacreditado. A inflação volta
a Warren Lindner, coordenador do presidente eleito pelo voto do povo em com força e o jovem líder tornara-se o

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 68


WWF Iniciativa Amazônia Viva

personagem central do maior escânda- suposto furo de reportagem não tinha


lo de corrupção da história do Brasil. ouvido Lindner, como mandam o bom
Semanas antes do início da Rio senso e o mais elementar manual de
92, um irmão do presidente, Pedro jornalismo. Diante de nossa objeção à
Collor, dera uma explosiva entrevista à publicação da matéria, fomos infor-
revista Veja para denunciar o esquema mados que a Polícia Federal tinha
de tráfico de influência e malversação um dossiê sobre o assunto. Pedimos
de recursos públicos comandado pelo para ver o dossiê e fomos informados
empresário Paulo Cesar Faria, sócio que este só estaria disponível no dia
dos negócios da família Collor na área seguinte. Waack e eu ponderamos
de comunicação em Maceió, ex- chefe então que deveríamos esperar até o
da campanha presidencial de Fernando dia seguinte, examinar o dossiê, ouvir
Collor e uma das mais influente figuras Lindner e, aí sim, publicar a matéria,
da República. O ambiente de iminente caso ela ainda se sustentasse. Fomos
catástrofe política criado pela entrevista informados, então, que a decisão
reduziu o espaço para o governo e o país estava tomada pela direção da redação
beneficiarem-se plenamente da inicia- e que a sensacional reportagem seria
tiva de hospedar a Rio 92, a despeito do publicada no dia seguinte. O argumen-
empenho do então ministro das Rela- to em favor da publicação era que a
ções Exteriores, Celso Lafer, da Justiça, fonte, embora oculta, era oficial. Nova-
Célio Borja, e da Economia, Marcílio mente, Waack e eu insistimos que, se
Marques Moreira, que a partir dali a fonte da informação era funcionário
constituiriam uma espécie de comissão do governo do presidente Collor, que
informal de salvação nacional dentro do o próprio irmão acusara de crime de
governo que perdia viabilidade. corrupção, tratava-se de uma razão a
O ambiente de suspeição criado pelo mais para não publicar a matéria e re-
escândalo Collor contribuiu, na Rio 92, dobrar a apuração dos fatos. Perdemos
para um dos mais lamentáveis episó- a batalha. Foi-nos dito que, apesar dos
dios de mau jornalismo que presenciei problemas que havíamos apontado na
nos meus 38 anos no ofício. Dias de- matéria, o jornal corria um risco ainda
pois do início da conferência, William maior de a informação vazar para um
Waack e eu fomos chamados a uma de seus concorrentes e o jornal ser fu-
reunião pelo coordenador da equipe. rado, caso adiássemos sua publicação
Um dos colaboradores do jornal havia por 24 horas.
obtido uma informação estarrecedora. No dia seguinte, sábado, 6 de junho,
Seria a manchete do Estado no dia o Estado publicou na capa do caderno
seguinte e faria estremecer a Confe- especial, com chamada na primeira
rência. A notícia era que o advogado página, uma suposta reportagem sob o
americano Warren Lindner, coordena- título: “Dossiê da PF acusa Lindner de
dor do Fórum Global, que congregava uso irregular de dinheiro”. Waack e eu
as ONGs no aterro do Flamengo, havia perguntamos pelo dossiê da Polícia Fe-
desaparecido com US$ 2 milhões deral tão logo chegamos ao Riocentro.
destinados ao custeio da conferência Fomos informados, como temíamos,
paralela das organizações cívicas, uni- que a entrega do dossiê iria atrasar.
versidades e militantes em geral. Rodrigo Mesquita, acionista do jornal,
Inadimplente, o Fórum Global, cuja ambientalista de carteirinha e funda-
realização consolidava a presença das dor da ONG SOS Mata Atlântica, que
organizações da sociedade civil nos participaria do Fórum Global liderado
debates dos grandes temas globais, por Lindner, amanhecera no Rio. Esta-
ameaçava transformar-se em fiasco. va perplexo com a matéria. Obviamen-
William e eu pedimos detalhes sobre te, Lindner e o presidente da Rio 92,
a reportagem. Mesmo sem ter acesso o empresário e fi lantropo canadense
ao texto, logo constatamos que a gra- Maurice Strong, desmentiram a infor-
víssima acusação não era sustentada mação caluniosa. O jornal não tinha
por nenhuma declaração on the record nenhuma informação para sustentar
ou em documentos e que o autor do a notícia e deixara-se usar por um

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 69


© WWF-Brazil / Juvenal Pereira

WWF Iniciativa Amazônia Viva

jornalista inescrupuloso. Waack e eu dívida de US$ 2 milhões que o Fórum seniores que haviam prosperado na
fomos novamente chamados a opinar. Global havia acumulado na fase dos carreira durante os governos militares
Queriam saber o que o jornal deveria preparativos. O jornal informou que e a administração Sarney. Eram todos
fazer. Dissemos que, tendo atropelado o Programa das Nações Unidas para adversários declarados das ONGs – as
deliberadamente o código de ética do o Desenvolvimento havia contribuído mesmas que, anos depois, políticos
jornal e do jornalismo, para não falar US$ 500 mil. Os governos da Alema- inescrupulosos de vários partidos ado-
no mais elementar senso comum, de- nha, Áustria e Canadá haviam entrado tariam como instrumentos de desvio
veríamos publicar no dia seguinte uma com US$ 400 mil. O Banco Real fi zera de dinheiro público para uso pessoal,
manchete desmentindo a manchete do um aporte de US$ 750 mil que, so- financiamento de campanhas ou paga-
dia anterior, ou, no mínimo, um texto mado ao dinheiro doado pelas ONGs, mento de dívidas políticas.
reconhecendo o erro e pedindo descul- inteiraram o montante do débito. Em 1994, destacado para cobrir a
pas aos acusados e aos leitores. “É uma acusação estúpida”, afirmou Conferência das Nações Unidas sobre
Infelizmente, isso não foi feito. No Maurice Strong, diante de uma plateia População e Desenvolvimento, no
dia 9 de junho, o Estado publicou notí- de centenas de repórteres do mundo Cairo, tentei registrar no jornal os bas-
cia segundo a qual o diretor da Polícia inteiro – parte do contingente de 2 mil tidores do lamentável e perfeitamente
Federal, Romeu Tuma, indagado pelo jornalistas que cobriram a Rio 92. “Al- evitável episódio de dois anos antes.
então ministro da Justiça, Célio Borja, guém queria jogar uma nuvem negra Nomeado ministro das Relações Exte-
negara ter um dossiê sobre Lindner ou sobre o Fórum Global. Foi de dar nojo. riores pelo Presidente Itamar Franco,
ter conduzido qualquer investigação O Fórum Global é a alma da Rio 92.” que sucedeu Collor, o senador Fernan-
sobre as finanças do Fórum Global. Não tenho dúvida de que Strong do Henrique Cardoso havia iniciado a
Dois dias depois, o Jornal do Brasil, estava correto em sua avaliação sobre abertura do Itamaraty para a socie-
numa edição em inglês que publicou a motivação dos que plantaram a dade civil. As ONGs, antes vistas com
durante a conferência, esclareceu a notícia falsa. O autor da repugnante horror por nossos diplomatas, passa-
história. Numa entrevista coletiva, reportagem era um agregado polí- ram a integrar as delegações oficiais do
Lindner, Strong, o cientista Albert tico de José Sarney, o ex-presidente país às conferência globais que a ONU
Sabin e o prefeito do Rio, Marcelo e hoje senador. Havia, na delegação realizou sobre vários temas, a partir
Alencar, anunciaram o pagamento da oficial brasileira à Rio 92, diplomatas da Rio 92. As delegações brasileiras

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 70


WWF Iniciativa Amazônia Viva

melhoraram em qualidade e represen- comprometeriam a destinar às nações ção dos EUA à Rio 92, Reilly negociou
tatividade. Agora elas expressavam pobres, a título de “assistência oficial nos primeiros dias da conferência
não apenas a perspectiva do Estado, ao desenvolvimento”. um texto que, julgava ele, permitiria
mas da nação, que começava então a “Diplomacia tem muito de teatro”, a seu país aderir à Convenção sobre
construir, a duras penas, a bem suce- observou Ricupero em nossa conversa. Biodiversidade Biológica, o mais
dida experiência de democracia com “Como negociador do país-anfitrião, importante resultado produzido pela
estabilidade econômica e progresso você precisa às vezes se recostar no Conferência. As grandes empresas
social do mundo em desenvolvimento cenário sem o risco de que ele venha americanas e seus aliados conserva-
que é hoje, a despeito do muito que abaixo, e isso eu não posso fazer”, dores do Partido Republicano eram
ainda resta por fazer. desabafou o diplomata, referindo-se contrários à Convenção e vinham
Inspirado pela presença da pro- ao escândalo que rondava o governo fazendo lobby para impedir a adesão
fessora Elza Berquó e da militante e ameaçava a estabilidade da Repú- americana. Não lhes faltavam aliados
feminista Jacqueline Pitanguy na blica. O cenário criado pelo escândalo na administração Bush. Um deles era
delegação oficial brasileira, escrevi um Collor estava, de fato, por desabar. o então vice-presidente Dan Quayle.
artigo intitulado “Cai a barreira entre Em setembro, o presidente da Repú- Dias depois de a Conferência iniciar
o Itamaraty e as ONGs”. No meio do blica seria destituído do poder por ato seus trabalhos no Rio, a linguagem
texto, relatei o triste episódio da acusa- do Congresso, que desconheceu seu do texto da Convenção sobre Biodi-
ção falsa contra Lindner ocorrido na pedido de renúncia e suspendeu seus versidade que Reilly negociara a duras
Rio 92, para ilustrar o quanto mudara direitos políticos por oito anos. penas foi vazada à imprensa em
em dois anos a visão oficial do governo Se o clima político em que se Washington e gerou a reação espera-
sobre o papel das ONGs. A direção da realizou a Conferência era carregado, da entre os conservadores no Con-
redação da época julgou, contudo, que tampouco era convidativo o ambiente gresso, no executivo e nos lobbies do
era melhor não remoer o passado. da Cidade Maravilhosa. Para garantir mundo corporativo. Em discurso em
Warren Lindner, que era portador do a segurança dos milhares de visitantes Washington, Quayle puxou o tapete
vírus HIV/Aids, morreu no ano 2000. estrangeiros, o governo federal havia de Reilly e criticou publicamente a
Juntamente com alguns membros da ordenado uma nada discreta ocupação posição da delegação dos Estados Uni-
equipe de editorialistas do Estado, sou militar de pontos-chave da cidade – dos à Conferência. Parlamentares da
talvez o único ex-repórter que continua para satisfação, diga-se, de uma parcela oposição democrata que integravam
associado ao jornal, de que me afastei importante de seus residentes, cansa- a delegação oficial dos EUA à Confe-
oficialmente em setembro de 2006, mas dos da violência que então se alastrava. rência, entre eles Al Gore, do Tennes-
para o qual faço contribuições eventu- Uma cena que ficou na memória foi see, Tim Wirth, do Colorado, e John
ais de análises e artigos de opinião. O a do tanque que o exército posicionou Kerry, de Massachusetts, tentaram
convite da WWF para relembrar a Rio atrás do hotel Sheraton em São Conra- ajudar Reilly e o principal negociador
92 dá-me a oportunidade de relembrar do, no ponto em que a Rocinha chega da delegação americana, Michael K.
essa história, que faço com conheci- ao asfalto da avenida Niemeyer, com Young, a administrar o fiasco. Mas o
mento da direção do Estado. seu enorme canhão voltado para a fa- mal estava feito. De volta a Washing-
O clima de crise que se instalou no vela. Ao chegar ao Riocentro, comentei ton, Reilly enviou uma mensagem
País no momento em que começava a com o embaixador Bernando Pericás, aos funcionários da EPA dizendo que
Rio 92 limitou a ação do governo na líder da comissão sobre florestas, do havia sido alvo de um ato de “sabo-
conferência. Lembro-me da conversa constrangimento que sentira diante da tagem” política. “Para mim, pessoal-
que eu e meu colega William Waack, visão do tanque do exército que tinha mente, foi como um salto de bungee.
à época correspondente do Estado o povo como alvo num Rio de Janeiro Você mergulha com sua perna presa
em Berlin, tivemos com o embaixador cheio de visitantes do mundo inteiro numa corda … tipicamente, não ocor-
Rubens Ricupero, nos primeiros dias que por ali passavam todos os dias, a re [a quem salta] que alguém poderá
da conferência, num dos saguões do caminho do Riocentro. “O comandante cortar a corda.” Mas foi exatamente o
Riocentro. Ricupero, que conduzia as poderia, ao menos, voltar o canhão que aconteceu. Os EUA assinaram a
negociações do Tratado da Amazônia para o mar”, sugeri. “O problema é Convenção em junho de 1993 mas até
nos anos 70 e seria mais tarde embai- que, se ele fi zer isso, o pessoal desce o hoje não a ratificaram. A Convenção
xador em Washington, ministro do morro e toma o tanque”, respondeu o tem 193 países membros. Sudão do
Meio Ambiente e da Fazenda e diretor embaixador, em tom sarcástico. Sul, Andorra e a Santa Sé são, junto
geral da UNCTAD, presidia a discus- Por constrangimento bem maior com os EUA, os únicos que continuam
são mais importante da Conferência, a passou William K. Reilly, um respei- fora. Em 1992, as objeções america-
da Comissão Financeira da Conferên- tado ambientalista a quem o então nas derivavam de preocupações com
cia, na qual se discutiria o percentual presidente George H.W. Bush confiara cláusulas da Convenção sobre trans-
do PIB que os países ricos, puxados o comando da Agência de Proteção ferência de tecnologia para países em
pelos nórdicos e pela Holanda, se Ambiental dos EUA. Chefe da delega- desenvolvimento, vistas como ameaça

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 71


WWF Iniciativa Amazônia Viva

Se e como o Brasil consolidará a posição de liderança que exerce


em vários aspectos da discussão dependerá das políticas que adotarmos nos
anos à frente para administrar a formidável riqueza natural e biodiversidade
que abrigamos em nosso território. Essas decisões implicam escolhas que
exigem conhecimento, competência, dedicação e coragem.

potencial a direitos de propriedade Limito-me a chamar a atenção para rança internacionais. É um chamado
intelectual de empresas dos EUA. Wa- alguns pontos. O primeiro deles é o à reflexão e à ação. Em democracia,
shington considerou excessivamente muito que se caminhou nesses vinte avançamos muito. Em democracia, e
vaga a linguagem da Convenção sobre anos no Brasil para a inclusão dos só em democracia, podemos avançar
obrigações de prestação de assistência temas da Rio 92 na agenda nacional. muito mais.
financeira. Nenhum outro país desen- Empresas brasileiras de diferentes Não creio que seja necessário ser es-
volvido compartilhou ou compartilha portes têm hoje departamentos de sus- pecialista para afirmar que a natureza
essa preocupação. Esforços iniciais tentabilidade. As organizações da so- da Rio+20 e conjuntura internacional
do governo de Barack Obama em favor ciedade civil voltadas para atividades na qual ela tem lugar recomendam
da ratificação não foram adiante e que incorporam dimensão ambiental manter as baixas as expectativas
pouco se espera dos Estados Unidos, multiplicaram-se e especializaram-se. em relação ao possível impacto da
um país que, embora concentre um O tema está hoje nos noticiários e nos Rio+20. A Rio 92 foi a culminação de
número impressionante de univer- debates da grande imprensa e faz parte um processo de negociação e produziu
sidades e centros de excelência de da conversa das pessoas. É evidente resultados, como a histórica Con-
pesquisa científica, tornou-se a partir também que o país ganhou espaço na venção da Diversidade Biológica e a
de 1992 o centro de resistência à discussão dos temas ambientais com Agenda 21. Seu tema era explicitamen-
aplicação do conhecimento científico impacto global. te ambiental. A Rio+20 tem um foco
a políticas públicas em questões fun- Se e como o Brasil consolidará a mais ambicioso – o Desenvolvimento
damentais de saúde (células-tronco) e posição de liderança que exerce em Sustentado – e marca um início de um
meio ambiente (mudança climática). vários aspectos da discussão depen- processo de negociação. Parece claro
Por isso, o governo de Washington derá das políticas que adotarmos que aos olhos do país anfitrião, como
chega à Rio+20 com pouco espaço nos anos à frente para administrar a de outras grandes nações emergentes
e credibilidade e numa posição que in- formidável riqueza natural e biodi- que hoje dão dinamismo à economia
viabiliza o exercício da liderança que versidade que abrigamos em nosso mundial, a conferência é o momento
deveria ter na Conferência. território. Essas decisões implicam de lançamento de uma discussão na
Embora acompanhe as discus- escolhas que exigem conhecimento, qual as políticas ambientais subordi-
sões sobre as questões ambientais competência, dedicação e coragem. A nam-se às prioridades do crescimento
desde 1992 e tenha organizado várias discussão sobre o Código Florestal é econômico com melhor distribuição
conferências no Wilson Center sobre apenas a primeira de vários embates social de seus resultados dentro dos
diferentes aspectos do debate, com que travaremos sobre o assunto. Anos países e entre eles.
foco nas questões de políticas públicas atrás, Rubens Ricupero escreveu que o O desafio é desenvolver uma agenda
revelantes para o Brasil e as relações Brasil reúne os ativos necessários para de desenvolvimento sustentável a nível
do país com os Estados Unidos e a co- emergir como uma potência ambien- global que seja substantiva e factível
munidade internacional, não me con- tal num mundo onde as mudanças num mundo em que, apesar dos pro-
sidero especialista. Por isso, deixo a climáticas, a demanda crescente de gressos alcançados na conscientização
outros, mais bem apetrechados e mais alimentos, energia e recursos naturais das pessoas sobre os impactos econô-
envolvidos nos debates do que eu, as como água ganham peso nas agendas mico e social da desatenção às questões
respostas detalhadas ao questionário. da economia global e da paz e segu- ambientais, faltam líderes e coragem

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 72


WWF Iniciativa Amazônia Viva

política para se chegar a acordos bási- biental na Europa e nos Estados Unidos
cos de redução das emissões dos gases produz na ação das ONGs europeias e
que causam o aquecimento global. americanas. Essenciais para dar vitali-
Não surpreende, assim, a avaliação dade às grandes conferências temáticas
negativa feita sobre os esforços feitos da ONU, as ONGs também chegam à
por Brasília para produzir tal agenda. Rio+20 de farol baixo. Impedidas pela
Se existia espaço para a definição de realidade política em que operam de
uma pauta inovadora para a Rio+20, avançar suas agendas em casa, elas
parece claro que o governo brasileiro correm o risco crescente de parecerem
não o encontrou. O mundo, por sua mais do que nunca empenhadas em ob-
vez, não está para ousadias. ter em outras latitudes os sucessos que
Paralisados por uma polarizante não conseguem em casa. Isso, combi-
crise política doméstica, os Estados nado com a má reputação que as ONGs
Unidos, como disse, andam hoje para em geral adquiriram recentemente no
trás no debate dos temas ambientais. país anfitrião, em consequência de seu
O candidato republicano às eleições uso indevido como veículo de corrupção
presidenciais de novembro deste ano, por partidos supostamente “progressis-
Mitt Romney, que como governador de tas”, introduz um considerável desafio
Massachusetts teve posições contem- de credibilidade. A isso somam-se os
porâneas do mundo sobre mudanças indícios de insucessos recentes. O ar-
climáticas, renegou o que disse no pas- dor missionário com que várias ONGs
sado e abraçou a bandeira da ignorância abraçaram o movimento contrário à
ativa que permeia a discussão nos EUA construção das usinas hidrelétricas
sobre o tema global mais importan- nos rios Madeira e Xingu revelou-se
te que a humanidade já enfrentou. A até agora infrutífero, a não ser como
preocupação de não dar munição aos veículo de campanhas de levantamento
republicanos durante a campanha de fundos.
presidencial deste ano deve manter o Como afirmei em evento de que
Presidente Barack Obama longe do Rio participei no ano passado no WWF
e inapetente em matéria de política am- em Washington, a exibição nos
biental. A crise econômica na Europa, Estados Unidos e em outros países
por sua vez, reduziu o apetite também de imagens de famílias indígenas
no Velho Mundo por planos ousados. Os
europeus, que incorporaram mais ra-
afetadas por esses grandes projetos
energéticos pode ser benéfico para
PAULO
pidamente do que outros povos as práti-
cas de sustentabilidade ao seu cotidiano
desde a Rio 92, também dão sinais de
a consciência dos dirigentes e mili-
tantes das ONGs, na medida em que
alimentam o sentimento de que defen-
SOTERO
andar para trás. O justificado temor da dem uma boa causa. Essa estratégia
energia nuclear, reavivado pela catás- tem tido, contudo, impacto limitado
trofe de Fukushima, levou a Alemanha na sociedade brasileira. A nova classe
a banir gradualmente o uso dessa fonte média está interessada em qualidade
de energia, o que elevará inevitavel- de vida e confortos que dependem
mente as emissões de carbono na maior de maior crescimento econômico e
economia europeia. A China ascendente crescente produção de energia. Con-
e já campeã mundial das emissões de ciliar a demanda de maior qualidade
carbono descobriu, por sua vez, na pro- de vida e um crescimento econômico
dução e comercialização de equipamen- sustentável ancorado no uso racional
tos e processos para a economia verde dos recursos naturais e em processos
uma forma de atacar a poluição em casa inovadores de produção e distribuição
e ganhar dinheiro no exterior. Isso e a de bens tangíveis e intangíveis é o de-
moderação do crescimento chinês nos safio do século 21 que pode começar a
próximos anos talvez representem uma ser mapeado na Rio+20.
das poucas boas notícias disponíveis
às vésperas da Rio+20.
Há, por fim, que comentar o efeito
que a perda de vitalidade do debate am-

Série Rio92, para onde foi? Rio+20 para onde vai? p. 73


SERIES “RIO 92 WHAT DID
IT LEAD TO? RIO+20 WHAT
WILL IT LEAD TO?”
INTERVIEWS
Photo: Zig Koch
WWF Living Amazon Initiative

Interview

Series “Rio 92 what did it lead to?


Rio+20 what will it lead to?”

Environment, who has been engaged interest in the topics of the Rio confer-
in the search for solutions for mankind ence. That was my responsibility and,
and the environment for over 30 years. as I say, I think I was the most fortu-
There follows a written interview that nate one because, even though it was a
© WWF-Canon / Elma Okic

Kakabadse kindly granted. very intense process, I learned a lot and


I think we, as a secretariat, made a dif-
What were you involved with at the ference to the UN system as a whole.
time of the Rio 92? Do you recall any-
thing that marked that conference? Which countries had the most outstand-
Well I think I was the most fortunate ing participation in the Rio 92? What
member of the team of the Rio 92 was the participation of Latin American
conference because I had to organise countries like? 92 was a disappoint-
and see that everything worked in ment, very few countries in LA really
terms of the civil society participa- understood what the conference in Rio
tion. Maurice Strong, the secretary was about, very few of them invested
of the conference made a very strong in preparing for the negotiations and
YOLANDA point that he wanted to have civil
society participating in the conference
having a strong participation in the
input of the definition of the agenda;

KAKABADSE and that was breaking new ground;


that had not been the normal thing in
Colombia was one of the countries that
did a good job in preparing for it and
previous UN conferences. having an input to improve language
In terms of civil society participation The Rio 92 conference was the one in the negotiations themselves. But as
in the debates on public policy, the that opened the doors to civil society a whole I think the contribution of the
economy and the environment, Rio and, when I say civil society I mean it in region was poor, I think we missed the
92 was a landmark event. However the broadest of terms, it was everything train. Today for 2012, I do think we are
historic it was, however, the conference that was not central government; the much better prepared, I do think we
could have gone further if the country parliamentarians for example through have managed to insert that debate in
delegations had been better prepared to the inter-parliamentary union, and our governments, in our own societies.
take part in the debates and the decision the local authorities through their own There is a much better understanding
making. In that respect one could expect organisation, the indigenous people, the of the risk of inaction and I do hope
the Rio+20 to manage go beyond the youth. Different professional organisa- that LA will be a key player in this new
Rio 92 and become equally memorable tions such as the chamber of commerce negotiation process.
in the realm of sustainable development. and then groupings from around the
That thoughtful kind of analysis, world that went from the international What was the main legacy resulting
capable of detecting the contradictions association of astronauts to the smallest from the Rio 92? I am now convinced
in the negotiation processes is typical NGO in Nepal or Bolivia. that although the 1972 conference in
of Ecuadorian Yolanda Kakabadse, So it was a fantastic process of Stockholm also spoke about bringing
International President of WWF and getting people involved, of convening environment into the development
former Ecuadorian Minister of the different sectors of society to take an process, the 92 conference, through

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 76
WWF Living Amazon Initiative

the documents it produced, I think for any sort of development unless


strengthened the importance of going we use the natural resources we have
beyond the business as usual develop- today without leaving a deficit, without
ment pattern that we all were in to. using more than what we have and
It really grabbed onto the political more than what the planet can pro-
debate, the need to make environment vide. So I do think that the challenge
a central point of development, not of Rio+20 is ensuring we have a clear
just with perfected areas in the green understanding that “green economy”
agenda, but bringing it in as part of is a rational use of natural resources,
development, of economic develop- ensuring that the benefits of that use
ment, of social development; it talked are distributed equitably amongst the
about technology, about industries different sectors of society in different
about the role of the private sector, countries or regions on the planet.
about the role of academia.
So it was a very strong message and How can the corporate sector and civil
ended in a strong commitment on the society contribute towards conserva-
part of [countries] to really take their tion of the environment and sustainable
environment into account as something development? Private sectors in civil
that is substantial to development. society, I believe, are the key actors
for changing governments and, having
Among the resolutions taken at the been in government, you can go as hard
Rio 92 conference, has there been as the societies are prepared to move
any particular area where no progress forward in any given direction. The
has been made? I think there are pressure for change in public policy
different levels of accomplishments, normally comes from society and in
some stronger than others. I believe this case private sectors in civil society
that maybe something that was not have an enormous potential to work
strong enough coming out of Rio 92 together in innovation of technology, in
was the element of ethics, ethics and changing the patterns of development,
equity is part of a social commitment in looking with a much longer vision
that has to take place if we want to en- than we have been doing up to now and
sure sustainability. There is no oppor- creating awareness amongst the general
tunity for thinking or acting different- public to really create that pressure that
ly in terms of achieving sustainable would make governments move. But I
development if we don’t emphasis the also think that local governments are
need to adopt ethical standards that key players more than the national ones
ensure social justice, equity amongst in the implementation of programs, in
all people in all countries, it doesn’t turning ideas into reality. Local govern-
matter where they come from or what ments worldwide have become key
part of the planet they are located. I partners and I would say it’s a perfect
think that was not strong enough and marriage in this triangle of local gov-
that is an impending agenda that I ernment, private sector and civil society
hope does come into Rio+20. groups to implement, to demonstrate
that it is a possibility, that sustainabil-
What should be the main result from ity is not only part of the discourse but
this Rio+20 conference? One of the it is part of a fantastic and beautiful
challenges for Rio+20 is the green feasible challenge.
economy agenda. I believe what we
proposed in Rio 92, this time around What is the role of the emergent econo-
comes with a different language, mies like the BRICS in impacts on the
maybe with more practical language environment and in the solutions for
for different sectors to understand environmental issues? The emerging
what we mean by confirming that eco- economies, I would say, is one of the
nomic development has a very strong topics that make us think more about
implication on the way that we manage their future responsibility. They have
natural resources. There is no chance the size in terms of geographical size in

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 77
Cock of the Rock / WWF Guiana
WWF Living Amazon Initiative

their country, of population size in their the three elements of an agenda that
own country and opportunities because are most at risk at this moment be-
the natural capital of all the BRICS is cause of the impact of climate change,
enormous. So these BRICS or emerging the three of them, food, water and
societies have potential, have capacity energy are the main threat, especially
and have the obligation to respond to to the vulnerable communities of the
the disparities and poverty that very world, which are usually the poor, the
often are the result of mismanagement elderly and of course the younger gen-
of the national economy or lack of vi- erations, so having chosen those three
sion on how to generate wealth. What topics for our work and contribution to
worries me sometimes is that being an Rio+20 on the part of WWF is going to
emerging country with so much poten- be a fantastic contribution, driver and
tial, quite often some of these countries mobiliser of debate, discussions and,
prefer to behave as a typical developing we all hope, agreements.
country, that is, permanently expect- The Amazon is definitely one of the
ing the support and the contribution most important ecosystems for LA, for
of the north for their own development South America in particular but also
programs. What I mean by that is that for the whole planet. The balance that
emerging economies do need to take it brings in terms of weather condi-
the reins in their own hands and dem- tions for the region and therefore for
onstrate to the developed countries and production of food,and the stability
to the developing countries that we can of the urban and rural societies in
do much better than what we have been the region is of the upmost impor-
doing up to now. tance. Making decisions that ensure
I don’t think that now, at the begin- the stability of the Amazon basin is a
ning of the 21st century, we can afford responsibility, not only for Brazil but
to say that because the others destroyed for the region and the planet. And I
or polluted the planet in the last de- do trust that the present government
cades we should imitate or we should in Brazil will do whatever is needed
not be strict with our own sustainabil- to ensure that stability. We are at the
ity policies. I don’t think that’s fair to moment involved in a debate about the
our own societies or to the rest of the new forest law in Brazil that keeps sev-
planet. Information is what leads us to
act and to be more sensible for today
eral of us anxious about the struggle;
immediate gains, the business as usual
YOLANDA
and for the future, so I do hope that out
of this conference emerging economies
as well as developing countries and
pattern of development versus a more
visionary policy that will ensure that
we all gain in the medium and the long
KAKABADSE
everybody else will take a very strong term. Let us hope that the president
position and commitment that we can’t of Brazil has the wisdom to move in a
afford to continue to be weak on the direction that will ensure the health
different development laws. of that ecosystem as well as the health
of the Brazilian population and reduce
From the point of view of guarantee- any negative impact on and from that
ing citizens’ access to food, water, and ecosystem around the world.
energy; how should governments and
society at large be addressing the en- Are you hopeful for the future of our
vironment? What are the solutions for life this planet? Of course I think we
the future, for the Amazon, for Brazil all are, this is too beautiful to give it
and for Latin America? WWF I think up. I believe that the string that runs
has captured the essence of the priori- through the blood of all of us who make
ties for the planet of today and I mean WWF and all the environmental groups
for every single society on every single and the leaders around the world who
continent. Food water and energy are are concerned about the health of the
the three elements that will condition planet is the optimism that we can do
the level of development of all societies better than what we are doing today
in the coming decades. Also they are and that we will achieve that.

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 79
WWF Living Amazon Initiative

Interview

Series “Rio 92 what did it lead to?


Rio+20 what will it lead to?”

sentenced by Rome. After censuring a mystique that bonded everyone in


Boff for the Liberation Theology, love for the earth, in a general fellow-
the Vatican required him to leave ship beyond differences. It seemed
the country to serve his sentence that another kind of humanity was
in a convent in South Korea or the born there, one that was eco-friendly,
Alexandre Monteiro

Philippines. Boff declined the new fraternal and respectful of differ-


imposition of silence and decided to ences. For me it was remarkable
leave the Church instead. because after a debate on religion and
In addition to this milestone in his peace which I took part in I criticized
personal life, Leonardo Boff recalls the the Abrahamic religions quite harshly
atmosphere of the conference. He said for being belligerent. Cardinal Bag-
there was “a mystique that bonded gio, a spy-cardinal from the Vatican,
everyone in love for the earth, in a came up to me and said, you haven’t
general fellowship beyond differences. learn anything from your “obsequi-
It seemed that another kind of eco- ous silence.” “You must leave not
friendly humanity was born there.” only Brazil but Latin America. You
LEONARDO This image is entirely different from
his expectations for the Rio+20 and its
can choose between Korea and the
Philippines. But you have to leave.”

BOFF preparations. In his opinion, the draft


text, for example, “is an insult to the
I said, “but in those countries can
I teach theology and continue writ-
world’s intelligence (...) It is a moving ing?” To which he replied, “you will be
The Earth Summit (Rio 92) is a document in terms of goodwill, but in obsequious silence in a convent.”
milestone in the personal life story naive about the criticism and mediation I said, “the first time I accepted the
of Leonardo Boff, who serves on that it proposes,” he says with the silence as a sign of humbleness; it was
the Earth Charter Commission, is a same frankness that startled the “spy virtuous. Now this imposed silence
theologian, philosopher, lecturer and - cardinal” 20 years ago. Below is the is clearly unfair and amounts to a
writer. It was during that conference written interview that Leonardo Boff sin; I cannot accept it.” And he said,
that he decided to withdraw from the gave to the WWF. “make up your mind tomorrow noon.”
Order of Friars Minor (Franciscans), I replied: “My mind is set. I will
which he had joined in 1959 - at the What were you involved with at the abandon one trench, but not the fight.
early age of 21. time of the Earth Summit? Do you I will promote myself to the condition
After a debate on religion and recall anything special that marked of Jesus, who was not a priest, much
peace in the Rio Conference two that conference? The event as such less a cardinal, but a lay person from
decades ago - during which he was was the expression of another mind- the tribe of David, of which nothing
critical of Judaism, Christianity and set, another world view and relation- is said regarding priesthood.” And so
Islam “for being belligerent” - Boff was ship with the Earth, which was not I had to leave the Franciscan order
reproached by “a Vatican spy-cardinal” regarded as a warehouse of tangible and leave the priestly ministry. It is
for not observing the “obsequious resources, but as the great common not a nice memory. Worst of all was
silence” to which he had been home that requires care. There was the total lack of courtesy on the part

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 80
WWF French Guiana / Roche Savanne

We do not want the end of the world. We want instead


the end to this type of world that is hostile to life, to solidarity, to
compassion and to love.
WWF Living Amazon Initiative

of the cardinal, who was the Apostolic in the clouds without a coordinated vi- towards a possible and predictable
Nuncio in Brazil. When I reached my sion of Planet Earth, of interconnected social-ecological disaster. But the
hand out to greet him, he withdrew ecosystems. It was then that [Mikhail] awareness of humanity, represented
his. Well, I thought of St. Francis, Gorbachev [the former secretary gen- in the Peoples’ Summit, will grow
who greeted everyone and even made eral of the Central Committee of the dialectically. It will bring forth the real
friends with the ferocious wolf. Why Communist Party of the Soviet Union], issues in confidence that “no one can
should I, a Franciscan, be different UN Under-Secretary Maurice Strong stop an idea whose time has come and
and not understand the rudeness of a and the Prime Minister of the Nether- it will prevail to create another course
small-minded, vengeful cardinal? lands, [Rudd] Ludders, raised the idea for history.” We will save ourselves
of consulting humanity to draft an and usher in a new way of inhabiting
What countries participated more Earth Charter that would come from the planet, which is more respectful of
prominently in the Earth Summit? the bottom, from the peoples, not from life and has greater solidarity with all
What was the participation of Latin state bureaucracies. I was invited to human beings, especially those who
American countries like? I don’t recall this debate and in my place I suggested suffer most.
which were the Latin American coun- that Paulo Freire be invited. Because
tries that took part. All I know is that in all these issues there is a problem What is your opinion on the draft text
the great novel subject that emerged of pedagogy. And nobody better than for Rio+20? The document is an insult
from the meeting was the women. In Paulo Freire to handle this issue. After to the world’s intelligence, which has
their Women’s Tent they held great his death I delved into it by drawing amassed reflections and experience on
debates and meaningful rituals. They up draft proposals to represent the the crisis of the Earth all these years.
always had a full house. They made the Americas, which were substantially It is a moving document in terms of
sharpest criticism to the patriarchy taken on board in the final text. goodwill, but naive about the criticism
that hides behind the industrial / con- and mediation that it proposes. The
sumerist process and that is the root of Among the resolutions from that three central themes -- sustainability,
our culture of domination. conference, in which area were there global governance and the green econ-
no advancements? I think there is omy -- are never clearly defined, giving
What have been the main legacies an increased awareness regarding the impression that it really wants to
of the Earth Summit? The fruits responsibility, first in terms of corpo- distract thinking minds and global
yielded have been scarce, otherwise we rate social responsibility and, later, of movements from not poring over the
wouldn’t have the degraded situation social and environmental responsibil- real problems that afflict humanity:
we see today. But we heard the cry of ity. The most important point was the the nature-depleting means of produc-
the earth, the awareness that we are creation of a collective environmental tion, the inequalities (social injustice)
responsible for our common future has awareness. This concern is no longer and the urgent need for alternative
spread. The Earth Summit consecrated the preserve of the greens and has be- models of consumption in view of the
the ambiguous term “sustainable come one of society. There was and is a limits of the Earth, which can no lon-
development.” I mean, the savagery growing awareness that we cannot go ger replenish what we take from it.
of this dominant type of development on this way. We must change. Other-
cannot go on because it is not devel- wise we are heading for the worst. How can the business sector and civil
opment but material growth at any society contribute to environmental
cost. The category ‘sustainability’ has What should be the main outcome conservation and sustainable develop-
become central and has no longer been of Rio+20? I expect nothing from ment? Until a new paradigm in our re-
left out of debates. It raised the issue the heads of state. Most will not at- lationship with nature and the Earth is
of differentiated contributions from tend. They’ll send ministers without put in place and we continue with our
all countries to tackle the ecological decision-making power. Everything industrial/consumerist/individualistic
crisis, the fight against hunger and bottlenecks into the question: who will approach we cannot expect anything
extreme poverty. For the first time fund any measures that will be taken? substantial to ease the global crisis.
there was a reference to the fact that All claim they do not have money, that Companies are fundamental, as they
the planet is warming considerably, they are in an economic and finan- provide the material infrastructure
though that fell on deaf ears. In my cial crisis and cannot help. Behind of human life. But they are victims of
view, the biggest shortcoming of the it all is the perverse capitalist and the prevailing model, which is one of
whole meeting was the rejection of an neoliberal perspective: what counts unlimited accumulation at the cost of
Earth Charter. It would have served as are the markets, the currencies, the devastating nature and not losing out
an umbrella under which all the other economic-financial system and not life, against the competition. This approach
projects would develop. Something humanity, the future of our civilization is the surest path to disaster. I stand
remarkable and enduring came out of and the preservation of the vitality of behind Hegel’s idea that, “we learn
it: Agenda 21. But it was left hanging the earth. And so, festively, we hurtle from history that we do not learn from

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 82
WWF Living Amazon Initiative

history, but learn everything from suf- tions will come from the bottom, from
fering.” I think that when the suffering the disgruntled and desperate, from
is collective and affects everyone di- those who do not accept the verdict of
rectly, then we will change. Otherwise, death on their lives and their ecosys-
we run risk that the Earth will go on, tems, from the movements that have
but without us. developed another view of the Earth
and production processes that are suf-
What is the feasibility of structuring the ficient and decent for us humans and
so-called “green economy”? Would the entire community of life. I think
a ‘blue economy’ also be important? the Proyecto Buen Vivir (Good Life
The green economy brings important Project) in Andean communities holds
elements that we should value, because the solution to what will be manda-
in its original intention it wants to pre- tory for all mankind and to safeguard
serve the vitality of nature. However, the Planet. That is to say, always strive
it does not question the prevailing for balance, pursue an economy of
paradigm, which implies the domina- sufficiency and not of accumulation,
tion of nature, unlimited accumulation of communion among all beings and
and consumption without hindrance. also with the universal energies, the
It does not question the global in- spiritual ones, and live in profound
equalities, the fact that most people communion with the Pacha Mama,
are living in poverty. And there is a the Earth, the only Common Home we
great risk that a price tag will be put have, and we have no other to dwell in.
on everything, even on the commons, We either do that or we will decree the
that is, those goods and services that slow extinction of our species and a
are directly related to life such as great damage to the biosphere, which
water, food, seeds, soil, air, energy and will continue to exist, but without our
so forth. Now, life is sacred and cannot species which, due to its aggressive-
be commodified. If this happens, we’ll ness, created a new geological era, the
have reached the height of the capital- Anthropocene, that is to say humans
ist spirit and, thereafter, will see its are the true sweeping meteor capable
downfall. What is sacred is inviolable. of self-destruction with a profound ef-
And once violated it creates mecha- fect on the living planet, the Earth. But
nisms of punishment and exclusion, as
cosmologists and biologists keep warn-
as the spirit exists first in the universe
and then in us, perhaps in millions of
LEONARDO
ing us. We do not want the end of the
world. We want instead the end to this
type of world that is hostile to life, to
years there will appear a complex be-
ing capable of harboring the spirit and
ushering in another type of civilization
BOFF
solidarity, to compassion and to love. on this planet, certainly better and
more wholesome than ours.
In an approach centered on citizens’
access to food, water and energy,
how should governments and society
regard the environment? What is the
solution for the future of the Amazon,
Brazil and Latin America? This ques-
tion is too complex to be answered.
This is what I think: we should not ex-
pect much from the public authorities
and governments, as they are hostages
to big corporations and the capital-
ist system. They are obliged to follow
their logic, which is to have at least
some GDP growth each year. But this
logic can no longer be supported by the
Earth, whose limits have been reached
and can now be felt. I hope that solu-

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 83
WWF Living Amazon Initiative

Interview

Series “Rio 92 what did it lead to?


Rio+20 what will it lead to?”

interest in the environment. Tom I think that’s right. I believe there was
Jobim was the fi rst public fi gure a show with international performers.
in Brazil to speak out about the Rio 92 was an international event. I’m
Ana Branco / AGÊNCIA O GLOBO

destruction of Nature as far back not sure whether they specifically asked
as the 1970s, when the military for it to be in English. I think we just
dictatorship was in full swing, naturally opted to do it in English so
Paulo Jobim has taken an even that it would get across to everyone.
deeper interest and worked on
environmental projects with renowned There was an interview back in the
urban planner Lúcio Costa. One result 80s, its on the record ‘Tom Jobim live
of such efforts was the demarcation in Montreal’ and he was already talk-
of the area that today constitutes the ing about the problems of widespread
Chapada dos Guimarães Protected burning of the vegetation. What gave
Area. What follows is the result of an rise to Tom Jobim’s concern for envi-
interview he gave to WWF. ronmental issues? I think his interest
stems from the Atlantic Forest which
PAULO How was the partnership between you
and your father Tom Jobim in songs
he knew so well and which he saw be-
ing destroyed. He knew all the woods

JOBIM with an environmental slant. You actu-


ally composed a song for the Rio 92
and forests around Rio de Janeiro. In
the interior of São Paulo too, he saw
event. Was that part of the prepara- great Jequitibás, big forests. He knew
61 year-old Paulo Hermanny Jobim, tion’s for Tom’s last CD? Rio 92, that’s all those forest areas that were being
is the eldest son of Antonio Carlos de right, the beginning... the CD [Antonio cut down so carelessly, so heartlessly.
Almeida Brasileiro Jobim, whom many Brasileiro] only actually came out in They just went on cutting them down
believe to have been the greatest 94, but at that time we were already for firewood, or to make charcoal.
composer Brazil ever had, even for a thinking about it. He was brought up on farms, always
country with a musical diversity just as with woods and forests nearby, and
exuberant as its natural heritage. And Tom had the Banda Nova [New he could see that they were destroy-
Like his father, Paulo studied Band] which you played in and you ing it all. There seemed to be a mad
architecture and music and he was regular were asked to compose the song in urge to burn, as if it were some sign of
partner in Tom Jobim’s shows and CDs for English [Forever Green]. Yes. It was a progress. Burning off all the forests to
which he did many of the arrangements. kind of commission. Somebody, I’m not make way for cattle; that’s not the way
The song ‘Forever Green’ was specially sure who exactly, asked for a song for [to progress].
composed for the Rio 92 event and it was the Rio 92 event; and in a way, I would What they call progress round here
recorded for the ‘maestro’s’ last CD in say it’s very educational song; thinking is when someone plants soybean for
1994 (the year of his death) with the title about the children, in the future. Chinese pigs to eat. They think that it
‘Antonio Brasileiro’. is more important than Brazil keep-
In addition to his musical talent, And did it have to be in English because ing its [natural] wealth ; “let’s sell
Paulo Jobim inherited his father’s the conference was international? soya for the Chinese pigs”. So then

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 84
WWF Living Amazon Initiative

We have tremendous biodiversity so now the thing is, do we


want to keep biodiversity, or do we want to want to get rid of it from
sheer stupidity.

you destroy everything because that’s have the Communist Party lining up Do have any special expectations in
what’s making profits at the time. with the huge agricultural conglomer- regard to the Rio+20? I really hope that
Maybe at another time it won’t bring ates, because this agriculture is not heads of state will attend and discuss
in any profit at all. So what it means is family-based agriculture at all. things because nowadays with this crisis
that we don’t have enough respect for in the world people have a tendency to
Brazil, for Brazil’s [natural] wealth. We Do you think that in these 20 years throw up their hands and give up but the
just go on destroying everything; all separating the two conferences Brazil evidence of environmental problems is
in exchange for nothing at all. Is there has evolved in terms of protecting the greater and greater; I mean the climate
a new machine out, well then let’s cut environment or are the still the same? really is changing. And there are a lot
down everything. That’s the way it’s I think that nowadays there is a gen- of changes in society that will need
been for a long time now. eral feeling of concern but at the same to be made for us to carry on living in
time we have the National Congress this world, for the world not to become
Would that attitude to progress explain trying to destroy a Forest Law that exhausted. We have consumer patterns
the behaviour of some parliamentar- was already good in the 1960s and was that require a planet and a half to satisfy
ians that are against the preservation respected. Now though it has become them. And the tendency is that everyone
of riverside vegetation and against a free-for-all. It is hard to understand; will want their own car, to throw paper
fining people for the destruction they serious legislation is being thrown out away, consume a lot of energy, foul the
have done, as we have seen in the just because you have a new tractor water and live with tap always turned
discussions on the proposed altera- or truck and you are anxious to let on. Either we are going to have to change
tions to the Forest Law? That is not rip. After it is all over, there is just for the better or things will change for
progress, you cut down all the vegeta- the desert and the tractor and truck the worse when the world has no more
tion on the banks of the rivers and abandoned in the bush, or rather in the resources and everyone is hungry.
you create erosion, a desert. That was grass because there is no more bush.
something my father used to tell me. Did anything happen during the Rio 92
He said “it is a systematic thing, the Brazil prides itself on being a biodi- event that has stuck in your memory?
systematic creation of a desert”. If versity magnate but do we actually One thing that greatly impressed me
you take the whole Brazilian central behave as a leader should? We have was a conversation, a video showing
plateau, which is watered by rains that tremendous biodiversity so now the several important Amerindian leaders;
come from the Amazon, and then you thing is, do we want to keep biodi- and they were talking then about things
start going into the Amazon cutting versity, or do we want to want to get that people are only beginning to real-
down the forest; what you are doing is rid of it from sheer stupidity. When ize today. So, in my view, there should
creating a desert in the central plateau. you go before the world and the world be a meeting of Indigenous leaders who
The Cerrado savannahs are already looks at Brazil, the world says “They have a very different vision of Brazil.
dry and so, are you going to dry off ev- have an environmental treasure house Not this one of cutting down everything
erything around, wipe out the waters, there. But if you are not going to take in sight. They want the forest because
the springs, everything? And there serious care of it then they will stop they live in the forest and we ought to
is no excuse for carrying on cutting listening to us because we do very be able to live off the Brazil’s [natural]
down. Ah, they say, the poor farmers. little to show respect for this wealth riches, and not do just the opposite, us-
There aren’t any poor farmers. Now we we have ing them up until there are no more.

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 85
WWF Living Amazon Initiative

Interview

Series “Rio 92 what did it lead to?


Rio+20 what will it lead to?”

What were you engaged in at the time not been possible to control the piracy
of the Rio 92 event? Can you remem- of biodiversity resources.
ber any episode of the conference
that left its mark? I was in the COICA What should be the main result of the
together with the president of COICA at Rio+20? In the case of indigenous
the time, Evaristo Nunkuag, and in the peoples, we are expecting forceful deci-
official part of the conference took part sions, in regard to guaranteeing the legal
ICV

in the Earth Summit Rio 92 and was security of indigenous lands and more
very active in presenting proposals in vigorous application of the elements of
regard to the Agenda 21 and the Forest sustainable development rather than a
Principles. In the unofficial part par- mere tendency towards a green economy.
ticipation was in the world indigenous It is also hoped that the right to full
space which was called Karioca. and effective participation of indigenous
peoples will be consolidated and that
What was the main legacy resulting they will participate in all decisions that
from the Rio 92? The main legacy was affect them directly or indirectly.
EDWIN marking a new tendency towards a
sustainable development model that What is your opinion regarding the

VÁSQUEZ respects nature albeit it has only come


about in theory.
basic text for the Rio+20? In theory it
is a global policy that fosters respect
The sustainable development model for nature and the environment and
The Rio+20 Conference may prove to has still not been applied to reality. Up for the sovereignty of countries over
be a historic opportunity to promote the to now only extractive interests and original natural resources.
legal security of indigenous lands and the appropriation of natural resources
foster the application of instruments that of every kind have predominated. In How can the corporate sector and civil
make sustainable development feasible. the case of Indigenous peoples, their society contribute towards conserva-
Such decisions must involve the territorial rights are ignored and they tion of the environment and sustain-
participation of the indigenous peoples. are not even allowed the right of prior able development? Creating policies
Those are the expectations of consultation. and legal reference frameworks that
Edwin Vásquez, general coordinator of are the result of consensus and which,
the Amazon Indigenous Organisations Among the resolutions taken at the when enforced, enjoy the participation
Coordinating Body (COICA), an Rio 92 conference, has there been of all the actors involved among whom,
institution founded almost 30 years any particular area where no prog- the indigenous peoples.
ago and representative of 2.5 million ress has been made? There has been
people distributed over an area of 10 no progress registered in reducing What is the feasibility of structur-
million square kilometres of Amazon the emissions of greenhouse gases ing the so-called ‘green economy’?
Forest in 9 South American countries. produced by the big industries in the Wouldn’t a ‘blue economy’ be impor-
There follows a written interview that developed countries and none in the tant as well? A green economy will
he kindly granted. control of deforestation. Also, it has only be possible if people’s rights are

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 86
© Nigel Dickinson / WWF-Canon

WWF Living Amazon Initiative

The solution for the future needs to embrace policies that foster
the full and effective participation of the indigenous people in political
and regulatory decisions and in their implantation.

also guaranteed and if those rights From the point of view of guarantee- nature and respect for the forests in
are not impeded by those interested in ing citizens’ access to food, water, their role as ecosystems that mitigate
extracting natural resources. The so- and energy; how should governments climate change effects; their holistic
called state of well-being for example, and society at large be addressing contribution, not just considering
implies there must be respect for the the environment? What are the solu- them for their importance as carbon
rights of nature and of people. The tions for the future, for the Amazon, stocks alone.
financial resources that are generated for Brazil and for Latin America? The
need to be directed above all to social solution for the future needs to em-
policies in education, health, housing, brace policies that foster the full and
access to water and its sustainable use effective participation of the indig-
and nutrition. Respect for the conser- enous people in political and regula-
vation of the tropical forests and their tory decisions and in their implanta-
sustainable use must also be a priority tion. It is of fundamental importance
for the State. to adopt principles of the right to

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 87
WWF Living Amazon Initiative

Interview

Series “Rio 92 what did it lead to?


Rio+20 what will it lead to?”

Acquiring a cosmopolitan experience by and that was not the focus of our
is one of the recommendations Sachs analysis. What was most important
makes to young people. “I have lived in Rio was everything that took place
off that particular capital for many years outside of the official conference. The
now” he declared at the end of the conference was there, a long way off
interview he granted to WWF. Sachs in the Gávea surrounded by a ring of
Agência UEL

particularly recommends that Brazil tanks and very strict security to make
should send students to other countries sure that no one could get inside, but at
with similar environmental problems and the Flamengo beach there was a series
receive students from those countries in of highly diversified and important
turn. In his view, confronting the different activities going on. In that aspect, the
experiences could propitiate “a fantastic Rio 90 followed the tradition begun in
advance towards finding concrete Stockholm in 72 when, in the environs
solutions to the problems faced by the of the official United Nations confer-
various countries that make up the bloc ence, there was another conference of
of emergent countries”. The highlights of organised civil society taking place. I
IGNACY the interview he gave are set out below. am quite sure that is going to happen
again, but I cannot imagine in what

SACHS What were you engaged in at the time


of the Rio 92 event? Can you remember
way, how big it will be and even less,
to what extent the events taking place
any episode of the conference that left on the fringe of it will influence the
Polish-born economist Ignacy its mark? At the Rio 92 I took part in official conference or what it all will
Sachs (85) of French nationality is a various parallel events. As I remember, lead to afterwards. That is the great
major reference when the subject is there was a highly interesting Seminar question, and also our ability to head
sustainable development. Since the held in Curitiba and we also took a trip towards an open political dialogue in
1980s Sachs has been discussing the to the Amazon and a seminar held in which organised civil society plays a
possibilities of a new development Manaus. I took part in various activities relevant role.
paradigm based on a convergence associated to the Conference, within it
of economy and ecology, in view of and outside of it, but I would say that the What was the main legacy result-
the way mankind has been acting most vibrant and most important part of ing from the Rio 92? The Agenda 21
since the beginning of the industrial the Rio conference was what was going sprang from the Rio 92 conference
revolution. on at the Flamengo beach and various and it was certainly an important
Ignacy Sachs began his academic other places in the city. document. But there was also a lot of
career in Brazil where he lived during frustration stemming from the confer-
the 1940s and 50s and he went on Which countries had the most out- ence because it took place in opposi-
to take a doctorate in India. He also standing participation in the Rio 92? tion to the tide of history at the time.
worked in socialist Poland and taught What was the participation of Latin We were at a moment that was right
in France where he created the Centre American countries like? I cannot after the implosion of the Soviet Union
for Studies on Contemporary Brazil. really say because 20 years have gone when there was a huge neo-liberal

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 88
WWF Living Amazon Initiative

offensive in course. I think that is why their internal problems overnight. First
many of the Rio 92’s conclusions never we need to think in terms of the green
prospered in the way they deserved economy, but an economy that does
to, because of a whole constellation of not lose track of the problem’s social
unfavourable political forces. dimension. Second, we need to think
about the question of a political pact
The direction Capitalism took at the structured around the objectives of a
end of the last century led an increase form of development that is ‘includ-
in the pressures on the environment? ing’ rather than ‘inclusive’. The Indian
Obviously, if after the Rio 92 we Nobel prizewinner Amartya Sen used
had entered into a phase of planned the term in English ‘inclusioner’. We
economies that explicitly took into ac- need a reference framework for our ac-
count, not only social impacts but en- tion towards constructing an including
vironmental ones too, then we would economy which is, at the same time,
be far better off today; but that is not environmentally sustainable. That
what happened. We did not come out needs to be at the heart of a political
of the Rio 92 with the kind of mega pact drawn up between the different
social contract that we needed. It is vibrant forces within each nation and
worth remembering that the Rio+20 an international pact among the states
is going to take place on a special that embraces that philosophy. So that
date, the anniversary of the birth of is the challenge before the Rio+20, how
Jean-Jacques Rousseau [1712] and to set off along this pathway, recognise
it is also a commemorative date for the fact that we are living in a new era,
the publication of the social contract the anthropocene, and that we have
[1762]. So the great problem is wheth- been in it ever since the industrial
er we will manage to make the Rio+20 revolution, only we have taken a long
our consciously assumed entry point time to recognise the fact and based
into a new geological era: the anthro- on it, to define national development
pocene, which actually began with strategies with that proper concern for
the industrial revolution. Subjacent to the sustainability of the environment
this entry into a new era we should be and for social progress. To that end, I
thinking about a mega social contract believe we must go back to planning
whereby the developmentist States, again. In other words we must place
workers, businessmen and organised the question of planning high on the
civil society are explicitly articulated list of priorities; but it must be demo-
with one another. cratic planning, that involves a high
degree of planning of the living forces
The BRICS countries could be good of each nation in the formulation of the
players in the field of environmen- plans. We need to undertake plan-
tal issues, or do they tend to repeat ning based on this concept of socially
outdated models? I believe less in the ‘including’ environmentally sustain-
BRICS than in the IBAs (India, Brazil, able development and organised on
South Africa) because Russia, just as the basis of a quadripartite dialogue
much as China has a vision that does among the developmentist State, the
not necessarily coincide with that of corporate businessmen, workers and
the emergent countries, of which Bra- organised civil society. If it were up
zil and India are the two forerunners. to me, I would allow the United Na-
tions member nations a reasonable
Aren’t Brazil and India two of the big- time, say two or three years, in which
gest ‘sinners’? All the bipeds that walk to bring their ‘including’, sustainable
on this planet are sinners and dream- development plans to the table and at
ers at the same time. I am not saying the same time I would redouble efforts
that just because Brazil and India have and reinforcements in the sphere of
drawn together as forerunners of the the United Nations, to generate a true
emerging nations bloc, the two coun- and important ‘including’ sustainable
tries will automatically be able to solve development fund.

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 89
WWF Living Amazon Initiative

What is more important is to define a strategy with concrete


objectives, stating who does what, rather than be thinking about new
institutions that will necessarily collide with existing institutions and
give way to a tremendous institutional attrition.

How could that Fund be financed? It tion, designed to generate a maximum rather not make a statement be-
could be financed in the following way: of scientific and technical coopera- cause I believe that it is the tone that
first, go back to the commitments, tion around similar biomes shared by has been set for the conference, in
which have repeatedly been mouthed countries on different continents. In other words, we already have a lot of
but never seriously put into effect by that way there would be a cooperation international organisations. To my
the rich countries and add to them a network for tropical rainforests like the mind the priority must be to define a
tax on financial speculation. We could Amazon but it would include the Congo strategy and take the necessary steps
also add a tax on carbon emissions forests, the forests of Indonesia and to see that the existing organisations
that would have the double function of India and so on. That means we would change whatever needs to be changed
checking exaggerated carbon emissions be forming a scientific and technical internally for them to able to work in
that are provoking global warming and cooperation geography based on biomes the desired direction. Closing down
generating a development fund. Lastly, and including in that vision, an issue agencies or opening others, gener-
we would have to start charging a toll that is of the greatest importance to ally speaking, leads to a great waste
on ships and aircraft for their use of many countries, which is the soil- of time, effort and money. That is to
the space over the oceans that they water interface, that is to say, along the say, we have the regional agencies,
cross based on the principle that the seashores, along the courses of rivers, the substantive agencies; you have
oceans are a universal human heritage. in the natural and artificial lakes; and just elected José Graziano to the FAO
Whoever uses them needs to pay. With always with a shared view of the issue (Food and Agriculture Organisa-
those four sources we would be able to and differentiated solution. How can tion) – a worthy successor (doctor
develop a huge including sustainable we ensure that the green revolution and geographer) in the tradition of
development fund administered by the advances on the soil side and conjugate Josué de Castro (author of the book
United Nations. Another indispensable it with the blue revolution on the water ‘The Geography of Hunger’, 1946’); let
tool is the networks of scientific and side, that is to say, integrated systems to us make use of the existing institu-
technical cooperation that are being produce, at that land-water interface? tions by adapting them. What is more
formed on the basis of a new geography; important is to define a strategy with
no longer a question of North-South What is your opinion regarding the concrete objectives, stating who does
meridian-based cooperation, but rather basic text for the Rio+20? I do not what, rather than be thinking about
of South-South parallel-based coopera- have a position on that and I would new institutions that will necessarily

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 90
WWF Living Amazon Initiative

collide with existing institutions and As for protagonist roles at the confer-
give way to a tremendous institutional ence as such, I am not in a position to
attrition. say. I would not like to abandon the
idea that the Amazonian countries
What do you hope will come out of should work together on the question
the Rio+20 in regard to the Amazon of how they could make better use
and what role could Brazil and the of their enormous renewable natu-
other Amazonian countries perform ral resources, without forgetting the
at this conference? First of all, there fact that there are enormous mineral
is clearly no single solution. From the reserves in the Amazon and they are
energy point of view we need to work far off from the those exploited lands
with three concepts: first, sobriety, that have natural assets. The question
that is, not foolishly wasting energy; is how to do all of this without disre-
second, efficiency, learning how to garding the social objectives, without
produce it well; and third, looking for forgetting the indigenous populations
alternatives in regard to sources of that live in the Amazon. We need to
energy and in my opinion looking for always think in terms of the trio: social
ways to get out of using fossil energy, objectives, environmental prudence
not only because of global warming and economic viability. Viability is
but because of the exhaustion of pe- constructed by the actions of the State
troleum reserves that is going to drive and the peoples, except that in con-
us to using, at least for some time, structing economic viability we must
the deep pre-salt deposits (subma- take care to see that the social cost
rine petroleum) etc. I am not saying is not excessive and also ensure that
we should abstain from using them it is not done through the predatory
but merely that they offer solutions incorporation of natural wealth. If we
that are relatively limited by their manage to stay aware of those three
time scale. So we need to attribute intertwined objectives, I believe that
the greatest importance to renewable you, here in Brazil and Latin America
energies. Among the renewable ener- will be able, not only to advance con-
gies we have the sea-driven energy siderably but also to create models that
(which we do not yet know how to use will have a highly positive impact on
properly) and some lesser examples
like wind energy, which is coming in
what is going to happen in the future
in Africa and certain Asian countries,
IGNACY
now, but which is incapable of solving
the situation on its own. We cannot
fail to make use of bio-energy. When
always keeping your eyes open and
placing importance on the permanent
exchanging of concrete experiences
SACHS
we think about bio-energy produc- and that leads me to repeat my sug-
tion we should also be thinking about gestion about making a great effort to
food production and examine to what create a student exchange process.
extent the objective of increasing food
production can be harmonised with
use of the residues from that same
production to produce bio-energy.
In short, how can the two objectives
manage to keep in step, hand in hand?
The answer is that there is no single
solution available and we will have to
explore all the problems involved.

Apart from Brazil, do you expect any


other Amazonian countries to play
a protagonist role? I believe that the
Amazon Pact is here to stay and that
Brazil has an extremely important role
given the size of the Brazilian Amazon.

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 91
WWF Living Amazon Initiative

Interview

Series “Rio 92 what did it lead to?


Rio+20 what will it lead to?”

Read the main passages of an ing so, the conditions are very differ-
interview this important intellectual ent; there is really no comparison.
granted to WWF.
Which countries had the most outstand-
Foto cedida pelo entrevistado

What were you engaged in at the time ing participation in the Rio 92? What
of the Rio 92? Can you remember any was the participation of Latin American
episode of the conference that left its countries like? The participation of the
mark? At the time, I was chair profes- central countries is always more impor-
sor of Political Sciences and Interna- tant in international systems. At that
tional Relations at the Federal Univer- conference the outstanding performanc-
sity of Santa Catarina. I took part in es were those of some of the European
and organised academic events parallel countries like Germany, France, the
to the main Rio 92 conference and I United Kingdom, Sweden and Holland
was also in contact with NGOs and kept for example. It is also important to
up a dialogue with them on the issues underscore the role of the United States
being discussed by the conference. and Japan. Among Latin American
EDUARDO Were the interests involved at that time
countries I would only place Costa Rica
on the same level as Brazil. Brazil was

JOSÉ VIOLA the same as those we are seeing to-


day? No, the interests were far greater.
noted much more for the fact of hosting
the conference and for its president [Fer-
It was an entirely different moment nando] Collor, who had just broken with
Professor of International Relations at
for the international system. That was the conservative environmental policies
the University of Brasilia, sociologist
the first great conference after the end of previous presidents by appointing
Eduardo Jose Viola, is a naturalised
of the Cold War to debate humanity’s Jose Lutzenberger, held by previous gov-
Brazilian of Argentinean birth and
new global issues and it heralded the ernments to be a radical extremist, as
declares that he has no great
advent of a far higher level of coopera- his Minister of the Environment [at the
expectations for the upcoming Rio+20.
tion within the international system time it was a special secretariat attached
The new conference will be different
than had been possible before because to the Presidency of the Republic]. We
from the one of twenty years ago. At
of the Cold War blockades. In that could mention that Colombia in its posi-
that time the countries were willing to
sense it was a conference the aroused tion as a country with rich biodiversity
debate new global issue, today they are
the greatest possible interest. It was in also played a relevant role in regard to
not. The problem is that any advances
1992 that the world’s environmental that specific issue.
made would call into question the
problems first came to the fore, albeit
prevailing economic interests like the
they were attributed a secondary. What was the main legacy resulting
use of unsustainable energy matrices,
Nowadays, the climate problem – not from the Rio 92? The Rio 92’s legacy was
and could threaten current ways of
all environmental problems – tends to having placed environmental issues on
doing business by proposing a new
be present in the in the international the international agenda and that global
paradigm. That would explain the low
system but there is a very rigid dead- environmental problems began to be a
level of interest in the Rio+20 displayed
lock preventing any progress. That be- normal part of it even though they were
by many heads of state.

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 92
WWF Living Amazon Initiative

not at its centre, as the most important sibility for environmental protection, without destroying the environment,
points to be addressed. At that time, consumption levels, and the extent of we have already had experience with
most countries in the world did not have people’s destructiveness, in addition to increasing productivity in various areas
the slightest interest or concern for envi- the factor of the technological intel- of agribusiness, but we can increase
ronmental problems. ligence capacity that is available .The productivity much further. Also, the
Frustration stems from the notable more people there are, the more con- regulations could be stricter in the
distance between what was defined sumption based on backward technology sense of ensuring that the expansion
at the Rio 92 and what was actually there is, and the more we destroy the of food production takes place in lands
implemented afterwards. In the last 20 planet The question of over-population that have already been degraded,
years, environmental problems have is highly important and yet nobody is without there being any need to expand
worsened to an extraordinary degree, saying so inside the United Nations. deforestation or land use conversion in
and humanity’s progress in address- Why is that? Because the United Nations new areas. Food production in Brazil is
ing such problems has been minimal; is a structure that is ‘politically correct’ a question of enhancing productivity,
in other words, the problems now where they only speak about what every- efficiency, the prevalence of the state of
are far more serious. Over these 20n one agrees should be spoken about, and law, complying with strict legislation.
years, greenhouse gas emissions have about the rest, nothing is said.
been going up at an average 3% a year. There is something very important What is your opinion regarding the
The promise that came out of the Rio that must be highlighted: nowadays basic text for the Rio+20? The base text
92 was that there would be a whole we have the capitalist system the way for the conference is a disaster. The cur-
process of reducing the emissions of it has become, that is, entirely based rent situation of the international sys-
developed countries and a reduction in on making short-term profit. All the tem is in no way favourable to making
the emissions curves of the developing incentives in the system are directed at any significant progress at the Rio+20.
countries. None of that came about, not undertaking any reforms that would In rhetorical terms there may well
with a few rare exceptions. lead to long-term sustainability. There be various declarations but basically
In the case of biodiversity, destruction is no denying that there is a significant there is no progress. The fundamental
continues at the same rate. What has hap- and growing minority of companies that problem in the world does not lie in the
pened is that there has been an increase are endeavouring to become sustainable sphere of the Rio+20. It lies in climate
in protected areas, generically, that is to over the long term, but the ground rules change, which the Brazilian govern-
say, on paper at least, with some actual of the system are against that because ment made a totally misguided effort to
implementation. The great biodiversity the legitimacy of the directors of big have relegated to a secondary status on
planet continues to suffer destruction corporations is based on their bringing the Rio+20 conference agenda. It has
in the same proportions as were taking in profits for shareholders, and doing so diluted the question of climate change
place 20 years ago. The only difference is in the short-term. when it should be the central issue; and
that now we have islands and archipela- Lastly, without a doubt, there is the it has emphasised instead, social inclu-
gos of protected areas that are far more current energy model. Humanity has sion, disregarding a social-political
extensive than we had before. created this huge fi xed capital based on perspective, which would have been
coal and petroleum. The bigger problem correct, and which has much to do with
What is the problem? Why can we of the two is coal, because its consump- governability in three spheres: global,
not move forward? There is no single tion is increasing much faster than that national and sub-national. In that sense
cause; there are multiple causes. The of petroleum, apart from the fact that the document is very weak and we
fundamental factor is contemporary it is twice as powerful as petroleum in should expect any progress.
culture, the contemporary value sys- producing greenhouse effects. The most advanced position there
tem that guides society and those that is up until now at the Rio+20, but one
govern it. There is exaggerated con- In Brazil the pressures of agricultural that absolutely will not prevail, is that of
sumption. The system of values that commodity production have led to the European Union: to create a global
guides humanity is hyper-materialist environmental destruction. Is there any organisation for the environment. In re-
and hyper-consuming. way Brazil can increase food produc- ality it would have to be something much
Another problem that was only tion without causing more impacts more profound, but nobody says that out
mentioned at the time but that has now on the environment? The Brazilian loud; it would be a structure of global
assumed extremely grave proportions government, at heart, and agribusi- governance, so to speak, that would
is the continual increase in the world ness both have very little interest or limit national sovereignty much more - a
population, though today that increase very little awareness of how serious the kind of governance structure that would
is very heterogeneous; but the world was problem really is. What interests them subordinate existing structures like the
already overpopulated in 1992 and it is is the short term, the business cycle, International Monetary Fund, the World
much more so today. Those are factors getting re-elected. As for the question Bank, the World Trade Organisation
that will determine the levels of pos- of increasing food production in Brazil and the World Health Organisation. The

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 93
WWF Living Amazon Initiative

most progressive and conscious position cause their interests are different at all So Brazil has made important progress
is the European Union’s position sup- levels. Let us consider, more specifically, in this area and that made it possible
ported by some African countries, but what the transition to a sustainable low for very advanced legislation on climate
Brazil is against it because Brazil is still carbon economy would involve for each change to go through in 2009. I would
haunted by the ghost, by this paranoia of of them in the light of the problems asso- even say that the Brazilian legislation on
protectionism, in other words, the pro- ciated to the Rio+20. Russia is a country climate change is more advanced than
posed organisation could be dangerous whose economy is based on exporting Brazilian society itself. It was the result
for Brazil and the developing countries fossil fuels, highly carbon intense, and of a window of opportunity. The only
insofar as it might stimulate protection- with very little concern for the environ- problem with the law is that it is not being
ism. That notion does not have the least ment. So Russia is a very negative actor implemented. When we do see something
grain of consistency. in the international system. India is decisive like the new industrial policy, we
another highly negative actor, a schizo- go off in the in the opposite direction to
Could such an organisation look after phrenic actor. India is always saying that the climate change law. Brazil is an ex-
the carbon market? It could, but that the problems must be solved by others, ample in the field of emissions stemming
would not be all, there are many other by those that created them, because from land use conversion (deforestation)
things. What is the main problem today, she herself will not commit to any goal but in the field of industry it is entirely
a decisive problem for environmental whatsoever. So the Indian stance today, stagnated and in the field of energy it
governability? It is the fragmentation is very negative, and they are the ones may actually be starting to slide back-
of the system. There are hundreds of that will suffer most and, indeed, they wards if it places excessive importance
conventions and some of them are fun- are already suffering. on investing in the petroleum industry.
damental, but others are secondary and The other actors, China, Brazil and Up until 2008 South Africa was the most
they hardly articulate with one another South Africa, are ambivalent. Up until advanced country, the country that most
at all. The UNEP [United Nations En- four years ago China was a high carbon proposed progress in the system of global
vironment Programme] is a very weak intensity economy and highly irrespon- environmental government. China and
organisation although it does have a sible in terms of global governability; but Brazil are advancing in that now and we
relevant function in the scientific sphere. it has been changing slowly. The locus of can already state that they have overtak-
So an organisation with powers equiva- that change has been inside its energy en South Africa. Another point to make
lent to those of the World Trade Organ- policies because China is now pushing is that China and Brazil are far more
isation is fundamental for humanity. But new renewable especially wind energy, important than South Africa.
that is the Eurpean proposal, Brazil has photovoltaic energy and third generation
opposed it because it is a prisoner of its nuclear energy. So all of that will enable To what extent is it feasible to structure
alliance with the BRICS. The country China to start to flatten its emissions a ‘green economy’? Why ‘blue econo-
could have a far more progressive posi- growth curve. She is creating a new low my’ is important too? I would say that
tion to match the constant declarations carbon capital accumulation and while what has been most clearly defined in
of the government that Brazil is an that is on the good side, what is the bad the world, in that regard, is the idea of
environmental power, but when the time side? The bad side is that China contin- a low-carbon economy. I think that is a
comes to really getting down to defin- ues to maximise the dynamics of the old concept that is more consecrated in the
ing the issues, where is the supposed capital, as an exporter of manufactured scientific system and in the internation-
environmental power then? goods based carbon intensive practices. al political system itself. The idea that
The same thing has happened with That is the measure, more or less, of is emerging now of a green economy is
the new industrial policy. Even though China’s ambivalence. Another factor, one that may become very important as
there is already a law on climate change very typical of the non-democratic the process of refining the low-carbon
the new policy on vehicle production regime is that China refuses even to dis- economy concept advances because
for example; it merely promotes the cuss anything that involves international this latter concept has limitations
production of vehicles in the country verification schemes. insofar as it is concentrated on carbon
without attributing the least importance Then we have Brazil, where the key alone and disregards other important
to energy efficiency or the creation of point is the extraordinary reduction in cycles like the phosphorus cycle and
a car to run on ethanol only. When an deforestation achieved from 2005 on. Let that of biodiversity. In that sense the
industrial policy does finally appear it is us say that fact permits Brazil to reduce green economy could represent grater
exactly the same as it was 20 years ago. its emissions and even though we still progress, but it could also be a means
have deforestation of 6 thousand km² of diluting, in the same way that the
What is the role of the emergent econo- a year, which is disgraceful, it was still idea of sustainable development did; ev-
mies like the BRICS in impacts on the the most extraordinary improvement in eryone was immediately in favour of it
environment and in the solutions for en- comparison with the first half of the last because it hardly means anything. Low-
vironmental issues? I would say that the decade when 22 thousand km² a year carbon is meaningful because it can be
BRICS are merely a rhetorical bloc be- were being deforested in the Amazon. measured. I would be in favour of the

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 94
WWF Living Amazon Initiative

green economy concept provided that it of equilibrium between the private


implied a refinement, a greater sophis- interests of the company and the uni-
tication and a more exact definition of versal interests of humanity. Generally
the low carbon economy concept. speaking, I would say that a fundamen-
tal problem that permeates Brazilian
How can the corporate sector and civil education, society and the media is
society contribute towards conserva- this: peoples discourse is merely oppor-
tion of the environment and sustainable tunistic. There are very few that make
development? In general terms there is profound, scientific analyses of the
a group of Brazilian companies, some situation and of reality to descry what
of them quite important ones, that is is, and what is not possible and on that
interested in the Rio+20 and in seeing basis, attribute responsibilities. In that
Brazil move ahead towards a low- regard, we are being inundated with
carbon economy with consistent, that very low quality information in Brazil
is, real sustainability. I would say that and in the world at large.
most Brazilian companies, however, are
not interested or not focused on it at all. From the point of view of guarantee-
The interested companies are those that ing citizens’ access to food, water,
have already incorporated the issue and energy; how should governments
and are making or have already made and society at large be addressing the
changes to their production structures environment? What are the solutions
and supply logistics in favour of more for the future, for the Amazon, for Brazil
low-carbon production processes or and for Latin America? The question of
that have visionary boards of directors others taking over the Amazon is an old
or that are branches of multinational and obsolete argument, usually used
corporations with advanced policies. opportunistically by various sectors.
In civil society, the environmental- What is taking over the Amazon is in-
ists are certainly interested, many of ternational transgression, international
them ingenuously, because they tend to organised crime. What is destroying the
see the world from the point of view of Amazon is failure to obey the law. There
their own navels, in other words, they is no chance whatever of a foreign power
lack the powers of analysis to under- wanting to take over the Amazon; all of
stand the complexities of the interna-
tional system; the dynamics of power
that is the typical paranoia of a totally
obsolete national security mentality. The
EDUARDO
and capabilities involved in the interna-
tional system. There are some organ-
isations like WWF that have a realistic
role of the Army has been fundamental
in advancing the state of law in the Ama-
zon; patrolling the frontiers, marking
VIOLA
vision of the world, let us say, they try the presence of the State and curbing the
to change the world in the framework of spread of trans-national crime.
a realistic vision that is not extremist or Brazil’s governability over the Amazon
radical. Generally speaking, however, region has progressed a lot in the last few
the average environmental NGO is years. In Brazilian society at large, the
ingenuous. Some of the environmental idea that the Amazon might be invaded
NGOs have a very radical view, which is has lost its impact precisely because there
negative, an anti-capitalist view. That is now awareness of the possibility of
alternative does not exist. Brazil itself exercising control over it; but
The dilemma humanity faces is a lot more needs to be done. Brazil must
whether to carry on with the current allocate more funds for the Amazon, for
form of capitalism which is unsustain- the Armed Forces, Federal Police, Ibama,
able and which is increasingly tending the Federal Justice system; in other
to produce more and more destruction, words the Federal State should become a
or to reform capitalism in the direc- kind of great supporter and promoter of
tion of what has been called ‘natural the state of law in the Amazon. What is
capitalism’, a capitalism that re-defines needed is a great advance in the presence
the rules of the financial system to turn of the state of law, that is, the law needs to
it towards long-term profits and a state be complied with.

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 95
WWF Living Amazon Initiative

Interview

Series “Rio 92 what did it lead to?


Rio+20 what will it lead to?”

Trust and Asia House, a former board Rio 92’s chief achievement was
member of Alcon and, since February turning sustainability from a peripher-
2010, a non-executive director of the al issue, into one that could no longer
Dow Chemical Company. be ignored in the debate about future
Foto cedida pelo entrevistado

Paul earned a BBA/BA from the economic growth and prosperity.


University of Groningen, Netherlands, in Perhaps the key achievement was that
1977 and an MA in economics and MBA we adopted Agenda 21 which recognised
in finance/international marketing from the importance of finding the right bal-
the University of Cincinnati in 1979. ance and the interconnection between
Paul began his career at Procter & environmental, social and economic
Gamble in 1979 and was group presi- agendas. As importantly, there was a rec-
dent Europe and officer of the Procter ognition of the importance of the private
& Gamble Company until 2001. sector – and of the need for partnerships.
Prior to joining Unilever, Paul was
chief financial officer of Nestlé S.A. Which countries had the most out-
from January 2006 as well as execu- standing participation in the Rio
PAUL tive vice president for the Americas
from February 2008.
92? What was the participation of
Latin American countries like? Latin

POLMAN Recognized by Investor Magazine as


chief financial officer of the year 2007,
American countries, including the host
country Brazil, have a proud record in
Paul received the Carl Lidner award championing the anti-poverty and sus-
Paul Polman was appointed an Execu- from the University of Cincinnati in tainability agendas. This is as relevant
tive Director of Unilever on October 2006 and was the WSJ/CNBC Euro- to Rio+20 as it was for Rio 92.
2008 and assumed the role of Chief pean Business Leader of the Year 2003. Today, countries like Colombia, Peru
Executive Officer on January 2009. Married with three children, Paul and Guatemala have taken the lead in
Paul serves as President of the enjoys reading, marathon running, championing sustainable growth and
Kilimanjaro Blind Trust and Chair- and mountaineering, but his main getting the idea of Sustainable Develop-
man of Perkins International Advi- passion is for his role in running the ment Goals onto the agenda at Rio+20.
sory Board. He is a Vice Chairman Kilimanjaro Blind Trust.
of the World Business Council for What was the main legacy resulting
Sustainable Development, the Euro- What were you engaged in at the time from the Rio 92? Rio 92’s legacy is
pean Round Table, the International of the Rio 92? Can you remember any still alive today. The Agenda 21 ac-
Business Council of the World Eco- particular episode of the conference tion plan on sustainable development
nomic Forum and the Swiss American that left its mark? In 1992, I was living agreed in 1992 helped lead to the
Chamber of Commerce. He is on the in Spain and even then was already formulation of the Millennium Devel-
Board of the Consumer Goods Forum acutely aware of resource challenges opment Goals a decade later. The last
where he co-chairs the Board Strategy such as water and the increasing Rio summit also created the UNFCCC
and the Sustainability Committees. constraints being put on economic and (the global climate negotiations) as
He is a Trustee of both the Leverhulme social growth. well as the World Business Council

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 96
WWF Living Amazon Initiative

Rio+20 must recognise the need for much greater collaboration


between governments and business over sustainability.

for Sustainable Development, a body momentum. While many would have


which encourages more sustainable preferred even greater action over the
growth in the private sector. last twenty years on sustainable devel-
Now, twenty years on, governments, opment, it is important to concentrate
civil society and environmental groups on what progress has been made, and
are increasingly looking to business to how to build on that. We should be im-
promote sustainable growth. This is patient on some of the areas especially
very different to 1992, where business around climate change, nitrogen levels
was not seen as central to the solution and bio-diversity.
to sustainability, as it is today.
Twenty years ago, businesses had What should be the main result of the
yet to grasp the central importance of Rio+20 conference? I believe Rio+20
sustainability to business growth. At offers two great opportunities.
Rio+20, business can not only demon- Firstly, we should begin a process to
strate the journey it has undertaken define Sustainable Development Goals
but also lead in key areas moving for- for the 2015-2030 period. These would
ward. For example, Unilever’s Sustain- work like the MDGs, except they would
able Living Plan is a pioneering new apply to all countries and cover both
business model in which we will de- poverty and environmental issues.
couple growth and our environmental Secondly and crucially, businesses
impact. We will aim to double the size need to be brought into this agenda.
of our business while halving our envi- Rio+20 must recognise the need for
ronmental footprint and improving the much greater collaboration between
lives of over one billion consumers. governments and business over sus-
tainability. While more businesses
Among the resolutions taken at the need to demonstrate greater action for
Rio 92 conference, has there been sustainable growth. Business needs
any particular area where no progress governments to put in place the right
has been made? The challenge with public policy incentives and rewards to
all global processes is to maintain encourage businesses down this path.

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 97
© François Xavier Pelletier / WWF-Canon

WWF Living Amazon Initiative

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 98
WWF Living Amazon Initiative

What is your opinion regarding the To what extent is it feasible to struc-


basic text for the Rio+20? The text is ture a ‘green economy’? Why ‘blue
an issue for UN member states, but I economy’ is important too? The
would encourage governments to com- concepts of green and blue economies
mit to more detailed proposals in sup- are helpful ways to start thinking
port of Sustainable Development Goals, about how we recognise that resource
as well as recognising the business scarcity is an issue today, and will
demand for public policy to encourage become an increasingly critical issue
even more sustainable development. We to economic growth in future. It is
are at the point where specific actions absolutely possible to achieve sustain-
will speak louder than words. Business able and equitable growth. Unilever’s
is ready for this I believe. own experience has been that we can
grow our business when we reduce our
How can the corporate sector and environmental footprint and ensure
civil society engage effectively and we source our materials sustainably. A
contribute towards conservation of different mindset and business model
the environment and sustainable will be needed for this.
development? Civil society groups
and businesses have a lot to gain from From the point of view of guarantee-
working together. We have seen this at ing citizens’ access to food, water, and
Unilever. For example, we work with energy; how should governments and
partners such as UNICEF to teach society at large be addressing the en-
schoolchildren the benefits of washing vironment? What are the solutions for
their hands with soap – which helps the future, for the Amazon, for Brazil
prevent diarrhoeal and respiratory and for Latin America? One idea which
diseases. Unilever also works with Rio+20 should build upon is around
Rainforest Alliance to ensure our tea developing a series of Sustainable De-
and cocoa are sourced sustainably. velopment Goals. Once the MDGs ex-
Through recognising each other’s pire in 2015, we will need to maintain
crucial role in society and in protecting the world’s focus on poverty and hun-
the environment, we stand to gain a lot ger, while ensuring global collabora-
through collaboration. We simply can tion to address critical environmental
not do it alone. issues such as deforestation, climate
change, water scarcity and sustainable
PAUL
What is the role of the emergent
economies like the BRICS in im-
pacts on the environment and in the
production and consumption.
The crucial way we can meet these
challenges is to ensure the private
POLMAN
solutions for environmental issues? sector’s involvement in the debate. At
More than half of Unilever’s busi- Unilever, sustainable growth is central
ness is in developing and emerging to our business plan. However we
markets, and we expect that to reach cannot act in isolation. Rio+20 offers
70% by 2020. It is this growth which the opportunity for governments and
underlines the importance of switch- business to work together to design
ing to a new sustainable model of a roadmap for a sustainable future.
business. We are already using the More businesses must accept their role
Earth’s resources faster than nature in bringing about a more sustainable
can replace them, and if the middle and equitable economy, but govern-
classes of emerging economies start ments must make this feasible through
consuming in the way Europe and promoting the right policies, to make
North America has, we will run out businesses act. It also takes personal
of resources. BRICS and business responsibility. Our pioneering work
are both vital actors in developing as Chair of the B20 Foodsecurity task
the public policy and business action force is an example of this. We all have
needed to address water and energy a clear responsibility and role to play
efficiency, waste, recycling and sus- to ensure still the original goals from
tainable sourcing of raw materials. Rio 92. A better future for all.

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 99
WWF Living Amazon Initiative

Interview

Series “Rio 92 what did it lead to?


Rio+20 what will it lead to?”

return to democracy, he became active in the mobilization for the impeach-


in business associations and brought ment of [President Fernado] Collor.
the corporate world closer to social Environmental issues were a very new
movements when he founded and thing for Brazil at the time, because
coordinated the National Thought of all debates in Brazil focused on social
Roosewelt Pinheiro /ABr

Entrepreneurial Bases (PNBE). issues, or on the economic and politi-


Among other activities, he is cal crisis.
currently dedicating to the World Social
Forum and serves on the Advisory Have companies embraced – even if
Board of Global Compact, a program at the discourse level only – a con-
developed by former UN Secretary- cern with sustainability now, twenty
General Kofi Annan which seeks to years after? Has sustainability be-
mobilize the international business come a value for them? It has. There
community in promoting fundamental was no such thing as “corporate social
values in the areas of human rights, responsibility”, much less the concept
labor relations and the environment. and culture attached to it. At best,
ODED With this background and militancy,
Oded Grajew knows the central
there was a culture of philanthropy in
companies whereby the company set

GRAJEW role of the business class in favor


of environmental conservation and
aside a certain amount to invest in a
social project. Today this culture is
hopes the Rio+20 will help put on the well established, there is no medium-
The period between the Earth Brazilian and international agendas size or large business executive that
Summit and the Rio+20 Conference “all issues involving sustainability.” does not talk about social responsibil-
saw the rise of the culture of Below are the main excerpts from an ity and sustainability as these two go
corporate social responsibility, which interview given to the WWF. hand in hand. A socially responsible
comprises corporate initiatives company is a company seeking to
that may benefi t employees and What were you engaged in at the time develop in a sustainable manner; both
the community as they promote of the Rio 92 event? Can you remem- are synonyms of the same concept.
values and causes such as the ber any episode of the conference Now, there are varying degrees of
sustainability of productive activities that left its mark? At that time I was involvement and commitment on the
and environmental preservation. In in the Abrinq [Brazilian Association part of companies: there are those
Brazil, one of the central characters of Toy Manufacturers] Foundation that only pay lip service to these
in the development of this concept and the PNBE [National Thought of causes; those with somewhat philan-
was electrical engineer Oded Grajew, Entrepreneurial Bases] and was not thropic and social projects; and those
who started his business career in involved with the Earth Summit. who are at the forefront, incorporat-
the 1970s with an innovative factory There are two things I remember: ing social responsibility and sustain-
which pioneered intelligent toys and the first is that I was PNBE’s general ability in their management tools. So
games for children and adults. In the coordinator at the time and it was the there are varying degrees of actual
following decade, when Brazil was to only business association involved commitment.

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 100
WWF-Brazil / Alex Silveira

A socially responsible company is a company seeking to develop in a


sustainable manner; both are synonyms of the same concept.
WWF Living Amazon Initiative

When you set out to translate discourse into


concrete actions you actually have to commit to change, to
setting goals and values.

What expectations do you have re- put on the Brazilian and international
garding Rio+20? First, on the side of agendas all issues involving sustain-
governments, government agreements, ability, so there will be advances as
my expectations are very low, because society as a whole will be poring over,
several major governments, especially being informed and worrying about
from Europe and the US, are much these issues in Brazil and abroad, with
more focused on the financial and eco- a lot of media coverage, which will
nomic crisis and even struggle to show certainly help further the agenda in
any commitment to sustainability. Sec- terms of civil society and corporate
ond, some important countries such as involvement. The Rio+20 will also pro-
Germany, France and the US will be vide greater visibility to those that are
emerging from or in the middle of elec- already doing something or are in the
tions, and so governments are afraid to forefront, putting in practice the latest
add anything, make a decisive change concepts in sustainability.
to their development models. Also, the
whole process of making agreements is Will there be many examples at the
one that involves unanimity, everyone Rio+20 of corporate engagement
must be in agreement, which generally across the world? Yes, there will.
lowers things a to minimum common Some companies will use this as a
denominator. So, as far as govern- marketing opportunity, but will have
ments go, the bar is set very low. little content to show while others will
Now, the conference will be im- showcase a greater engagement; there
portant to the extent that it will help will be a little of everything. This has

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 102
WWF Living Amazon Initiative

become an asset for companies, it has To what extent is it feasible to struc-


brand value. Companies have realized ture a ‘green economy’? When you
that it is important for their actions set out to translate discourse into
to reflect some form of social respon- concrete actions you actually have to
sibility. They will try to show this and commit to change, to setting goals and
seek to stand out but they will come values. An example of commitment
under a lot of pressure too. Various to change here in Brazil would be to
social movements will push for faster get Congress to vote on constitutional
progress so that governments, society amendment proposal 52/2011 which
and companies engage more effectively requires the president, governors and
in sustainability. mayors to set sustainable develop-
ment goals for their administrations.
Can these successful corporate As proposed, 90 days after taking
experiences be considered a legacy office, they would have to report their
of the Earth Summit? They certainly figures and targets related to all areas
can. Twenty years is a long time and a of the public administration and for
lot of things have happened. In today’s all regions under their jurisdiction.
communications world, information
flows much more quickly, society
is informed and knows much more
about everything, not least about
corporations. The business sector is a
very powerful one in society, a high-
profi le sector, with many financial and
economic resources, it is a sector that
has the media on the palm of its hand
because it is a major advertiser, a sec-
tor that provides funding to election
campaigns and politicians. So the gaze
of society has turned dramatically onto
the business world and its demands
and expectations have grown. Since
this sector has so much power and
resources, society demands a lot of re-
ODED
sponsibility from it and so takes action
regarding companies, be it to pressure,
to reject or to support.
GRAJEW
What is your opinion regarding the
basic text for the Rio+20? What is
striking is that there is a lack of syn-
chronism with urgent matters, in or-
der to rethink the development model
and the real commitment needed, the
outlook of governments on what has
to be done, what is needed. It is a very
poor text compared to what we expect
governments to do and the vision they
are expected to have about what is
needed. This is not a text that funda-
mentally questions the development
model that has brought the world to
the current state of affairs. Also miss-
ing from the text are actual commit-
ments to the sustainable development
model, real commitments.

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 103
WWF Living Amazon Initiative

Interview

Series “Rio 92 what did it lead to?


Rio+20 what will it lead to?”

Biological Diversity, whose actions, standpoint, the most remarkable aspect


he hopes, will become more incisive of the Earth Summit was the engage-
after the Rio+20 event. In spite of his ment of the President’s Office in the
positive expectations, Goldemberg is preparations for the Conference.
Foto cedida pelo entrevistado

critical of the basic document drawn An example of this engagement was


up for the new conference, which, when the President charged me with
he feels: “limits itself to reaffirming the mission to travel to the United
earlier decisions taken by countries States, India and China to convince the
or by the United Nations that have Heads of State of the importance of the
proved to be manifestly insufficient to Conference and of their presence in Rio,
avoid the problems being faced in the which actually happened in the end.
environmental area”.
In addition to having been Secretary In your opinion, what countries
for the Environment he is a former participated more prominently in the
Minister of Education and Secretary Earth Summit? What was the partici-
for Science and Technology and has pation of Latin American countries
JOSÉ also held various other high-ranking
posts. In his academic activities, he
like? The countries that took part in
the preparations for the conference

GOLDEMBERG has dedicated much of his career


to research in the fields of nuclear
were mostly the EU countries and
Japan. The United States had an im-
physics , energy, energy planning portant role, but not a steady one. The
Renowned Brazilian physicist José
and innovative biomass utilization. participation of other Latin American
Goldemberg, 84, was Brazil’s Secretary
José Goldemberg’s outstanding countries was small.
for the Environment attached to the
contributions in those various fields
Presidency of the Republic when
have been formally recognised in What have been the main legacies of
Brazil hosted the Rio 92 conference.
the form of various awards he has the Earth Summit? The adoption of the
He directed all the efforts to ensure
received, among them, the Asahi Conventions on Climate and Biodiver-
the event’s success and particularly
Glass Foundation’s Blue Planet Award sity, and Agenda 21. After being rati-
to ensure the effective participation
in 2008. The text that follows is an fied by the signatory countries these
of countries whose economies and
unabridged version of the interview. Conventions became established laws
demographic dynamics were having
and set obligations for these countries.
(and still have) a huge impact on
What were you involved with at the time In the case of the Climate Convention,
environmental conditions throughout
of the Earth Summit? Do you recall it was quickly ratified and entered into
the entire planet.
anything that marked that conference? force, followed shortly by the Kyoto
In a written interview, the scientist
I was Environment Secretary for the Conference, which adopted the Kyoto
considers that the great legacy of Rio
Presidency, so in practice I was doubling Protocol in 1997, setting targets and
92 and its adoption of the Agenda 21
as the Minister of the Environment, with deadlines for reducing emissions of
has been the discussions it initiated
her current mandate, and as Secretary the main gases responsible for global
for the elaboration of the Climate
of Science and Technology. From Brazil’s warming. The Protocol was not rati-
Convention and the Convention on

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 104
WWF Brasil / Zig Koch

WWF Living Amazon Initiative

fied by the United States, but even so difficulties in their implementation and, participation of developing countries,
it entered into force in 2005 and was consequently, reductions in greenhouse which were virtually free of obliga-
implemented by European countries. gas emissions have not occured as an- tions under the Kyoto Protocol (Annex
The Clean Development Mechanism, ticipated. They continue to rise and will I of the Climate Convention), and this
which benefits developing countries warm the planet by 2050 to a level which is not realistic if we want to effectively
like Brazil, also yielded good results. will result in substantial climate change. prevent / mitigate climate change to
The Biodiversity Convention [Con- Stronger actions are needed in this area, the extent possible.
vention on Biological Diversity] took particularly as emerging countries like
longer to be implemented and the first China have become major emitters of What is your opinion on the draft text
resulting protocol was only adopted in greenhouse gases since 1992. for Rio+20? The draft text for Rio+20
2009. The United States did not ratify The Biodiversity Convention re- (“draft zero”) clearly falls short of
this Convention. mained a rhetorical document and only achieving these goals because it is
Despite not being a legally binding after 2009, with the approval of the generally limited to reaffirming earlier
Convention, Agenda 21 was still of great Nagoya Protocol, did its implementa- decisions by countries or by the United
influence because thousands of mayors tion really take off. Nations that were clearly insufficient to
in many countries adopted it as a guide- prevent the environmental challenges
line for sustainable development in the What should be the main outcome of we face today.
areas of sanitation, disposal of urban Rio+20? The main result of Rio+20 The only new idea in the draft text
waste and air quality improvement. should be the strengthening of actions is that it promotes actions toward a
already agreed upon in the Conven- “green economy”, which the UNEP
Among the resolutions from the Earth tions on Climate and Biodiversity. (United Nations Environment Program)
Summit, in which area were there no These actions would require more of proposed and is based on the rational
advancements? The Climate Convention industrialized countries, but should use of natural resources, a reduction in
and the Kyoto Protocol have faced many also contain provisions for an effective the use of fossil fuels and increased use

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 105
WWF Living Amazon Initiative

Meeting immediate needs poses the serious risk of


failing to ensure sustainable development, that is, a lasting one.
For example, cutting virgin forests to sell wood may seem a good
idea in the short term as a way to ensure food for the family. It
so happens that once the forest is cut it cannot be cut again and
livelihood conditions disappear.

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 106
WWF Living Amazon Initiative

of renewable energy sources. Even so, In an approach centered on citizens’


“draft zero” is only made up of appeals access to food, water and energy,
with no targets and timeframes to be how should governments and society
met nor a roadmap for these actions regard the environment? What is the
to be portioned out among countries. solution for the future of the Amazon,
That is what the Kyoto Protocol did and Brazil and Latin America? The problem
set an example to be followed. I think that arises here is the conflict between
Rio+20 should establish the adoption how to meet the urgent and immediate
of protocols to pave the way for the needs of the population, such as access
transition to a “green economy” in dif- to water, food and transportation, and
ferent countries. a longer term vision.
Meeting immediate needs poses
How can the business sector and the serious risk of failing to ensure
civil society effectively contribute sustainable development, that is,
to environmental conservation and a lasting one. For example, cutting
sustainable development? Once goals virgin forests to sell wood may seem
and timeframes for a transition to a a good idea in the short term as a
green economy have been adopted, way to ensure food for the family. It
each business sector (for example, so happens that once the forest is cut
the steel and construction industries, it cannot be cut again and livelihood
agriculture and so on) would identify conditions disappear.
what actions need to be taken. For ex- In a medium and long term perspec-
ample, the steel industry would decide tive, what we need to do is preserve
to gradually abandon the use of coal the forest and use its products in a
and would use charcoal produced in sustainable manner.
sustainably grown forests. The same is true of energy resourc-
In the case of the household and es: for example, if we use oil (and its
commercial sectors, waste sorting and by-products) irrationally, the remain-
the use of waste to generate heat and ing reserves will not last more than
electricity is the way ahead. 30 to 40 years. What we need here is
to increase the efficiency with which
What is the role of emerging econo- oil is used so as to prolong the life
mies - like the BRICS – in impacting
and providing solutions to environmen-
of remaining reserves and gradually
replace oil with renewable energy that
JOSÉ
tal issues? It’s a major one: the gross
national product of the BRICS in-
creased from 21 to 31 percent of global
will not run out while we are getting
light from the sun.
The truth is that there is an insur-
GOLDEMBERG
GDP in the last 30 years. mountable contradiction between
Their emissions of CO2 (the main development (understood as economic
greenhouse gas) increased from 29 to growth) and environmental preserva-
35% over the same period and will even- tion. Making them compatible is what
tually exceed the emissions of industri- is meant by sustainable development.
alized countries over the next 20 years.

What is the feasibility of creating the


so-called “green economy”? Would
a ‘blue economy’ also be impor-
tant? There is no essential differ-
ence between a “green economy” and
the economy as whole and a “blue
economy”, for that matter. The latter
focuses more on the conservation
of nature (water, air and forests). A
“green economy” is clearly based on
the assumption that a “blue economy”
is in place.

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 107
WWF Living Amazon Initiative

Interview

Series “Rio 92 what did it lead to?


Rio+20 what will it lead to?”

Deforestation and Degradation (REDD) What was the participation of Latin


and also expresses grave concern American countries like? I think most
with the destruction of the biomes: if sophisticated countries were seri-
deforestation attains the level of one fifth ously engaged in making substantial
Foto cedida pelo entrevistado

of the Amazon, it may be irreversible. progress on the issues. And there was
In Brazil, Lovejoy belongs to the general agreement about what the
Curator Council of the Brazilian environmental challenges were
Foundation for Sustainable
Development (Rio de Janeiro) What was the main legacy resulting
and has been awarded the Rio from the Rio 92? The two conventions,
Branco Order of Merit (1988), the Agenda 21 and the Global Environ-
Grand Cross of the National Order ment Facility (GEF) were an impres-
of Scientifi c Merit and the Joao sive legacy. Disappointments are the
Pedro Cardoso medal awarded by small scale of assistance provided
the São Paulo State government’s compared to the amounts envisioned,
Environment Department in 2011. and the general failure of the UNFCC
THOMAS There now follows a written interview
he granted to WWF.
to make major progress on reduction
of fossil fuel emissions and on REDD

LOVEJOY What were you engaged in at the


and REDD+.

time of the Rio 92 event? Can you Among the resolutions taken at the
American environmentalist
remember any particular episode of Rio 92 conference, has there been
Thomas Lovejoy, chair professor of
the conference that left its mark? I was any particular area where no progress
Environmental Science and Policy
involved as a member of the U.S. del- has been made? On climate change
at the George Mason University and
egation and had been one of the group the lack of progress has stalled around
Biodiversity president of the Heinz
Tolba had invited to Nairobi to discuss the “who goes first” issue when in fact
Center for Science Economics and the
what a biological diversity convention there is no time to fiddle around. On
Environment has been studying the
should contain, I was also active in biodiversity there was so much fuss
Amazon for over 40 years.
the Forum. The negative I remember around access and benefit sharing
Lovejoy was in the Amazon for
was the leaked Bill Reilly memo in that conservation progress was put in
the first time in 1965. His years of
Washington that resulted in the CBD second place. The soaring extinction
experience in studying that biome
not being signed by the US. I was also rates (see the Third Global Biodiversity
led him to develop ideas like that of
impressed by the engagement of Brazil Outlook) are largely a consequence of
enabling developing countries to sustain
in making important things happen. the slow start.
conservation activities in exchange for a
Most industrialized countries made
reduction in their external debts.
important contributions. What should be the main result of
He is an enthusiast of the system of
the Rio+20? Ambitious but achiev-
payments for environmental services
Which countries had the most out- able energy goals. A clear approach on
and carbon compensation mechanisms
standing participation in the Rio 92? green economics that nations can take
like the Reduction of Emissions from

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 108
WWF Living Amazon Initiative

It is quite feasible to structure a “green” economy but the transition


will need a great deal of political will and help.

up rapidly. If not global governance ally favourable situation on renewable means reviving the treat on Ama-
than a way for a mosaic of regional energy, great store of biodiversity, zon Cooperation and taking similar
and national measure to add up to excellent state of Brazilian science. regional approaches. The best measure
significant progress. And I would add a One hopes at Rio+20 that Brazil will of success will be how much of Brazil’s,
widespread recognition that the planet take an energetic and positive role as the Amazon’s and South America’s
works as a biophysical system and it did at the Earth Summit. biodiversity survives. Environmental
must be managed as such. impact is best measured in the end by
To what extent is it feasible to structure Biological diversity.
What is your opinion regarding the a ‘green economy’? Why ‘blue econo-
basic text for the Rio+20? The Global my’ is important too? It is quite feasible
energy targets are quite laudable and to structure a “green” economy but
doable. The Green economy agenda is the transition will need a great deal of
quite important. It is not clear what political will and help. Presumably a
may happen in Global governance. “blue” economy refers to economic ac-
Biodiversity is virtually absent in any tivity having a positive affect on water
direct way. Overall the proposed steps and hydrology. It must be continually
are still insufficient in scale relative to noted that fresh water is not just a liq-
the problems. uid it is also very important as habitat
for freshwater biodiversity.
How can the corporate sector and civil
society contribute towards conserva- From the point of view of guarantee-
tion of the environment and sustain- ing citizens’ access to food, water,
able development? I do not have a and energy; how should governments
lot to suggest specifically, but beyond and society at large be addressing the
what the corporations may do in terms environment? What are the solutions
of the sustainability of their own for the future, for the Amazon, for
operations, they can engage in collab- Brazil and for Latin America? Most
orative work with civil society which of this is about having a respect for
basically has the relevant expertise. nature, defining a quality of life that
is good for people and much better
What is the role of the emergent for the environment than is the heavy
economies like the BRICS in impacts consumer approach as exemplified by
on the environment and in the solu- the United States. The latter is a model
tions for environmental issues? The that simply will not work in the end. It
four BRIC countries are each quite is also very important to manage the
different in their development trajec- environment and human activity as a
tories and their consequent approach system and with integrated plans. That
to sustainability. Brazil is in a quite is as true for the Amazon as a whole
special position because of its gener- as it is for individual nations. That

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 109
WWF Living Amazon Initiative

Interview

Series “Rio 92 what did it lead to?


Rio+20 what will it lead to?”

was one of the authors of the Fourth the Biological Diversity Convention;
Report of the Intergovernmental Panel the Convention on Desertification was
on Climate Change, which, in 2007, less important and the Convention on
was awarded the Nobel Peace Prize. International Waters, even less. The Rio
Below are the highlights of an 92 conference was a great milestone
Roosevelt Pinheiro /ABr

interview that he granted to WWF in the discussion on the congruence of


by telephone in which he made an economic development and the pres-
assessment of the environmental ervation of the quality of the planet’s
discussions of the last two decades, environment as a whole, and also a
especially those related to climate, and milestone in the process of raising
spoke about his expectations for the awareness in regard to the so-called
upcoming Rio+20. sustainable development agenda. It was
simply a great moment for the United
What were you doing at the time of the Nations and certainly represented a
Rio 92? Were you already concerned great step forward, at least in the sym-
about climate-change related issues? bolism it represented.
CARLOS I was so concerned at the time that I
was heading the Brazilian part of an
Although common sense suggests
that climate change will come under

NOBRE international experiment with England;


an experiment designed to study the
discussion now at the Rio+20 Confer-
ence, that is not its main purpose.
impacts on climate of anthropogenic That is not the primary purpose
Researcher Carlos Nobre, currently disturbances in the Amazon. There of the new conference because the
head of Research and Development was a showcase at the Rio 92 and we Climate Convention took place and
Policies and Programmes at the exhibited the preliminary results of was ratified by most countries, and
Ministry of Science, Technology the experiment that had begun in 1990 it had a very important offshoot, the
and Innovation is one of the major and which was still in course. I took Kyoto Protocol, and so that issue
international references on climate part in various activities there, some of is not going to be taken up again,
issues. He is the author of the them in the former University of Brazil, especially considering that every year
hypothesis formulated 20 years organised by professor [Luiz] Pinguelli there is a conference of the signatory
ago regarding the ‘savannization’ of [Rosa] who spoke in a series of debates parties to the Climate Convention.
the Amazon as a result of massive at the pre-Rio 92. So, it would not make sense to hold
deforestation processes. yet another Earth Summit similar to
Nobre, holds a degree in Was the Rio 92 of decisive importance that held in 1992. This summit needs
engineering from the Brazilian Air in moving forward the climate change to have a different objective in view.
Force’s Institute of Technology and agenda? Obviously, the Rio 92 was a There is a lot of talk about sustainable
a doctorate from the Massachusetts tremendous catalyst. The most concrete development; it was a recurrent theme
Institute of Technology. He is a results stemming from the Rio 92 were at that time as well, when the turn of
member of the Brazilian National actually the international conventions, the millennium was still eight years
Space Research Institute (Inpe) and especially the Climate Convention and away. There was a lot of talk about

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 110
WWF Living Amazon Initiative

the Agenda 21. Nevertheless, 20 years Rio+20 is that it finalises with measur-
later we still need to take up the issue able, verifiable objectives and that all
of sustainable development. It is no the countries will then have their own
longer possible to completely separate national programmes to implement
certain themes and dimensions such those objectives. This decision is not a
as global environmental changes, in decision on implementation of some-
all of which climate change plays a thing practical; it is just a decision on
preponderant role. The Rio+20 will the objectives. They have to be broad,
be addressing those issues in a more examine various dimensions, establish
cross-cutting integrative way and the link between sustainable use of
not as if it were a mere negotiation of natural resources and the eradica-
incremental advances on the question tion of poverty, with equality and the
of climate change, a set of proposals distribution of wealth, and the social
being negotiated. The Rio+20 propos- indicators need to improve as well.
al is to be very similar in its symbolic There is a huge debate in course
and historical aspects to the Rio 92. It today as to whether one important
is a great moment in which to reflect result for the Rio+20 should be the
on the way the planet’s development is creation of a World Environment
heading, on human development and Organisation. Brazilian diplomacy has
an attempt to achieve convergence for tended to work more for a Sustain-
sustainable development. able Development Council within the
UN and not an Organisation on the
In what role will you be accompanying lines of the World Health Organisa-
the Rio+20, as a member of the gov- tion, or Labour Organisation or Trade
ernment or as an academic? Currently Organisation. My personal proposal
I work for the government and I will be is a bit more audacious, but it is my
in the Brazilian delegation as a mem- own, it is not something that has been
ber of the government, but my mind brought up for discussion much. I
works the way a scientist’s mind works. feel that the UNEP (United Nations
Environment Programme] and the
What do you think the great legacy of UNDP [United Nations Development
the Rio+20 might be? I think it will Programme] should be fused into a
be like the legacy of Johannesburg in single programme. That is not even
2002 [World Summit on Sustainable being discussed, but I would like to see
Development] where the great social those programmes joined into one and
development objectives were defined become a world sustainable develop-
– the Millennium Goals – I thing a ment organisation.
great global agreement in regard to the
sustainable development goals, would What is your opinion of the base
be very important. That would be the document for the Rio+20 Conference?
basic result. There should be a small, The draft zero of the basic conference
finite number of objectives that all the document is a basic text that repre-
countries present agree to as they did sents a collection of the positions of
10 years ago when they agreed on a more than 200 countries. It is a very
set of human and social development difficult piece of work to put together.
goals. They should agree to achieving That is the nature of the diplomatic
certain objectives in a reasonable time work of trying to achieve consensus
frame of 10 to twenty years of sustain- on multiple proposals, over 100 dif-
able development. The difference be- ferent proposals. Draft 1, which is
tween an economic objective and one now starting to appear, is a little more
that is only a social one is that the two concise but obviously, here we are,
need to be intertwined. One cannot it’s almost May the first and time is
separate the environmental dimension running out; but the draft 1 version of
from the social one or the economic the text that will arrive at the Rio+20
one. They all have intertwined objec- has a huge amount of diplomatic work
tives. The very least I expect from the in it and I am still optimistic that that

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 111
© Michel Roggo / WWF-Canon

I thing a great global agreement in regard to the sustainable


development goals, would be very important. One cannot separate the
environmental dimension from the social one or the economic one. They
all have intertwined objectives.
WWF Living Amazon Initiative

the text will converge on some large Change Convention has been based
points of consensus and, hopefully, a on the best available science. Many
finite number of measurable sustain- things have improved their levels at
able development goals that can be least in the cases of the Climate Con-
implemented in the national, regional vention and the Biological Diversity
and global spheres in the course of the Convention. All the environment con-
next 10 or 20 years and , who knows, ventions and sustainable development
there may be convergence on a gov- conventions are based on the very
ernance mechanism on the interna- best science. Often the very best sci-
tional level, a council or some other ence is not implemented; sometimes
body. That is not a game that will be it is not approved in the global sphere
over before June 22. as was the case in Copenhagen [2009]
and sometimes it has been approved
Has the scientific community’s interest in the global sphere but failed to have
in environmental issues undergone any repercussions at the local level.
any change? The scientific commu- As an example, almost all countries
nity’s interest in the broader issues of signed the Kyoto protocol in 1997 but
sustainable development has increased the American Congress has never rati-
a lot. The scientific community does fied it. So even if global policy heads
not divide itself up so much. There is in the direction indicated by science
not one scientific community for the as being the necessary public policy,
environment area and another for the sometimes a country or a country’s
development area. The scientific com- congress does not go in that direction.
munity is heading this debate.
You can see from the scientific
community’s support for the For-
est Law discussions that there was
not one scientific community with
an environmental bias and another
pending towards agronomy, economics
or development. That simply did not
happen. What we saw was the scien-
tific community, represented by its
organizations, the Brazilian Society for
CARLOS
the Advancement of Science and the
Brazilian Academy of Sciences, giving
tremendous support for a sustainable
NOBRE
development model for Brazilian agri-
culture with preservation and conser-
vation of our natural resources. That
proposal, that very strong stance taken
by the Brazilian scientific community,
is a stance in favour of sustainable
development. And sustainable devel-
opment actually means a search for
equilibrium. The scientific community
has adopted the motto of sustainable
development right from the inception
as something for which science should
develop the bases.

Has the force of scientists increased


over the twenty-year period separat-
ing the Rio 92 and the Rio+20? It is
now far greater; so much so that every
bit of progress made by the Climate

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 113
WWF Living Amazon Initiative

Interview

Series “Rio 92 what did it lead to?


Rio+20 what will it lead to?”

biodiversity; and because the Brazilian and the idea of holding such a confer-
State and society are jointly engaged ence had been circulating in the UM
in actions to ensure the sustainable ever since the presentation of the 1987
use of the environment. Brundholt Report. At the time Brazil
Retired Ambassador Flávio found itself under heavy crossfire from
Miragaia Perri was one of those international environmentalist cam-
Lúcia Chayb

Brazilian diplomats that laboured for paigns directed at the Amazon and
the ingenious construction of Brazil’s the conditions of that immense forest
current status. A fundamental step in most of which comes under Brazilian
that process was the Rio 92 conference sovereignty. The holding of the Rio 92,
for which the former ambassador as that historic meeting later came to
acted as executive-secretary of the be known, and which brought together
national working group responsible 107 heads of state and delegates from
for organising the conference. all United Nations member countries,
Ambassador Perri was also at one had a profound effect on me because
time President of the Brazilian Institute all the clashes at the General Assembly
FLÁVIO for the Environment –Ibama, Brazilian
Secretary of State for the Environment
sessions prior to the decision to select
Rio de Janeiro to host it involved the

PERRI (right after the Rio 92 event) and he


served for a period as Head of the
active diplomatic efforts of the team I
was attached to. The Secretary Gen-
Environment Department of the State of eral for Foreign Affairs, at the time,
Brazil will be hosting the Rio+20 Rio de Janeiro. In the following written was Ambassador Paulo Tarso Flexa
with the status of a ‘biodiversity interview, the former diplomat gives de Lima and the Head of the Brazilian
power’. Obviously that image is an insight into the organisation of that mission at the UN was Ambassador
largely based on its immense natural conference and assesses the prospects Paulo Nogueira Batista, two of Itama-
assets (distributed among six for the upcoming Rio+20 event. raty’s great names that conducted our
distinct biomes) and the exuberance performance in that case. The decision
of its natural landscapes. Such What were you involved with at the time to offer Rio as the host city was a great
recognition, however, has not come of the Earth Summit? Do you recall moment for the country insofar as it
about automatically. It has been anything that marked that conference? became the landmark for a profound
painstakingly constructed and involved I was taking part in the 1992 United revision of internal policies and institu-
decades of efforts on the part of Nations Conference on the Environ- tions insofar as they began to embrace
Brazilian diplomacy to build it, to affirm ment and Development long before active concern for the environment.
Brazilian sovereignty, and to show I was actually designated Executive
other countries that Brazil is a ‘power’ Secretary of the National Working What countries participated more
in this area, above all, because of its Group charged with organising it. In prominently in the Earth Summit? What
considerable accumulation of forest the preceding years I acted as Pleni- was the participation of Latin American
knowledge, its far-reaching legal potentiary Minister attached to the countries like? I was not a negotiator in
framework implemented to protect Brazilian Mission at the United Nations the Brazilian delegation but I did have

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 114
WWF Living Amazon Initiative

All states and all people shall cooperate in the essential


task of eradicating poverty as an indispensable requirement for
sustainable development, in order to decrease the disparities in
standards of living and better meet the needs of the majority of the
people of the world.

access to all the negotiations as I was in France. Among the Latin American From it have stemmed the efforts to
charge of the infrastructure that pro- countries, the Amazonian countries combat hunger and to formulate the
vided support to the Delegation, and, deserve mention, united, as they were, ‘right to nutrition’, which, years later,
in that privileged position, I was able to under the aegis of the Amazon Cooper- has achieved significant legal-political
appreciate the evolution of the negotia- ation Treaty [Bolivia, Brazil, Colombia, evolution. Brazil has a praiseworthy
tions and everything that took place Ecuador, Guyana, Peru, Suriname and history of progress in those directions
in them. Without a shadow of doubt, Venezuela], and who, at that moment, and has served as a parameter for many
Brazil’s performance was outstanding had common interests to represent. developing countries, especially African
and just mentioning the names of some Costa Rica, Chile and Argentina were and Central American countries.
of the negotiators will be sufficient to able to count on their own experienced The Convention on Biological Diver-
illustrate the point: Celso Lafer, Marcos negotiators and their traditions of sity and the United Nations Frame-
Castrio de Azambuja, Ronaldo Sardem- active diplomacy in the sphere of the work Convention on Climate Change
berg, Bernardo Pericás, Rubens Ricúpe- United Nations. were important steps towards environ-
ro, Luiz Augusto de Araújo Castro, mental protection. The Kyoto Proto-
among so many others, were all skilful What have been the main legacies of col and its sub-product, the Climate
and creative negotiators on Brazil’s be- the Earth Summit? The Rio Declara- Change Convention, have not evolved
half, not only in obtaining progress but tion is masterful document because satisfactorily because adherence to
in defending Brazil’s interests. Many of the precision of its concepts. Its them has not been universal, with the
countries were important and it is hard 27 ‘principles’ actually consolidated United States heading the resistance
to single out any one, but the Nordic the concept of Sustainable Develop- to the protocol and to the control over
countries came to the conference were ment. Among them I would highlight emissions that the protocol established
very well-prepared, and although their the most incisive of all because of the in the form of commitments to reduce
positions revealed an almost academic ethical and economic dimensions it gas emissions that aggravate green-
concern, they brought with them the embraces, namely, Principle Five, house effects which are the anthro-
tradition of the 1972 Stockholm Confer- which declares that: pogenic cause of global warming. The
ence. Obviously the coordinating role most recent Conference of the Parts
played by the ECDO was of singular “All states and all people shall cooper- failed to provide continuity for the
importance and, among its member ate in the essential task of eradicating commitments that expire in 2012, but
countries, the United States played an poverty as an indispensable require- did foresee a re-opening of negotia-
important part even if it was because of ment for sustainable development, in tions on reduction goals and or emis-
its more conservative stances; and the order to decrease the disparities in sions control in a defined timeframe.
western European countries, outstand- standards of living and better meet The Agenda 21 was the most far-
ing among them recently re-unified the needs of the majority of the people reaching document to come out of
Germany, the United Kingdom and of the world.” the Rio 92, constituting an action

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 115
WWF Living Amazon Initiative

programme and a working method to ally address today under the heading As for the failure to materialise
materialize the ideal of sustainable of governability. many of the expectations created in
development. The Agenda 21 was not Although it was criticised because 1992, we cannot ignore the vested
universally developed or universally of its low level of operability, the Sus- interests that existed and their opposi-
applied, but there can be no doubt tainable Development Council [CDS] tion, which paralysed many actions.
that it is one of the most complete was a sensible product of the Agenda Resistance to change is strong not only
repositories of methods for envi- 21, however, it was inadequately ac- in the national sphere but in the inter-
ronmental protection, social justice commodated in the United Nations national sphere too. There are differ-
and economic efficiency in a spirit of System and lacked the coordinating ing levels of development, innumerable
much needed and conscious citizen- powers that were expected of it. unbalances; ideological convictions are
ship and participation. Finally, the most important feature deeply rooted and there are cultural
Its economic and social aspects of the period from 1992 to 2012 has differences, all of which are impedi-
encompass international policy and been the participation of public opinion, ments to understanding and progress.
national policies for the application the increasingly important engagement The power of inertia needs to be
of the new concepts of sustainable of the citizenry in this debate, the gen- overcome and moments of crisis like the
development, especially in developing eralised awareness of the importance of one we are witnessing at the moment,
countries in regard to strategies for dialogue in which the Internet is in the unfolding on both sides of the North At-
combating extreme poverty, while at front line of the communication media. lantic, offer an opportunity for change.
the same time involving both developed In 1992, in spite of the important par- In that sense, the Rio+20 Conference is
and developing countries in fostering ticipation of civil society organisations, highly propitious for creating it.
changes in production and consump- it was not possible to sound the feelings
tion patterns. The suggestions made in or feel the pulse of the interest of the What should be the main outcome of
regard to public health and the quality citizen or of society at large. Nowadays, Rio+20? Full awareness of the planet-
of human settlements are highly signifi- everything points to a civil society wide crisis in development according
cant. Another aspect I consider to be of occupying a position of outstanding to the models we have been adopting
delicate actuality concerns the planet’s importance and consideration. The is something that this great conference
limitations, which albeit they are not Rio+20 will take place in Rio but it will will surely provide. What is needed is to
singled out exactly in those terms, are simultaneously involve the whole world be daring enough in asserting that now
nevertheless addressed, as for example through the virtual medium. is the time to revise the paradigms that
in the inter-relations between sustain- have been guiding humanity’s actions on
ability and population dynamics. Among the resolutions from the a planet, whose limits can be exhausted.
The Agenda 21 addresses the balance Rio 92, in which area were there Here I would apply Lampedusa’s
of interests struck between the planet and no advancements? I am not pes- maxim in ‘The Leopard’ of the urgency
development embodied in the sustainable simistic about progress made; I am of ‘changing to preserve’. There needs
development concept from various differ- aware that it is necessarily slow in the to be change in order to impart sus-
ent angles: protection of the atmosphere, international sphere. In the national tainability, not just to the economy, but
energy transition, soil stewardship, spheres, however, I find it a bit harder to the planet and the humanity that it
marine resources, freshwater resource to understand, because the necessary and its unique ecosystem are home to.
management, desertification, biological leverage is in the hands governments
diversity, the value of education, etc. and they have instruments for political What is your opinion on the draft text
In the actions it proposes, the economic and social action embedded for Rio+20? The base text is not a
document does not fail to address the in the hearts of their States. document that needs to be criticised or
importance of financial mechanisms or However, political processes are condemned. It is just a draft document
the production and supply of technol- not linear drawn up by the Secretariat based on
ogy to provide essential support to Relations among States continue over 600 contributions of varied ori-
sustainability management, the devel- to be ritualistic in their respect for gins. It is up to the States to modify it
opment of science and education, and the principle of sovereignty, and that or even, if they choose, to ignore it.
culture, as the basic elements for the requires time. Governments represent Compiled the way it has been, it fails
construction of environmental aware- the will of their citizens according to to achieve the desired objective, which
ness. It also contains, when addressing their national legal judicial regimes, would be, to be capable of exerting in-
the revisions of national and interna- democratic consensus wherever democ- fluence, because it lacks any impact. In
tional institutions needed to achieve racy is in place, identification of inter- any event I will risk an opinion and say
sustainable development, the complex ests, and so on. They have the faculty that what it lacks is focus. In fact it re-
problems associated to qualifying of being able to determine the internal peats themes and suggestions that have
administrative personnel for efficient legal-judicial conditions and so, natu- been exhaustively addressed in earlier
management and other issues we usu- rally they can be more efficacious. documents of a far better quality. I do

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 116
WWF Living Amazon Initiative

not believe that what we need is a text What is the feasibility of creating the
that mimics other texts and is set out in so-called “green economy”? Would
two hundred pages without any focus. a ‘blue economy’ also be important?
To represent that set of sector based It does not seem to me to be a good
claims and demands, which is how I moment to introduce a phrase that
define the base document, there is no was coined during the evolution of
need for a new document; it would be the sustainable development concept.
enough just to underscore the worth of Something that has not yet been clearly
the well-formulated and exhaustively defined could lead to mistaken inter-
studied Agenda 21, which addresses all pretations, discriminations and restric-
the themes, considers all the sectors, tions. ‘Green Economy’ is not a known
suggests working methods, indicates category in economics and I cannot see
lines of action and… already exists! how it could be enunciated as an item
On the other hand, the Rio Declara- on an ambitious agenda for the Rio+20
tion and the Millennium Declaration without upsetting the progressive and
have both been exhaustively affirmed more efficient application of the ‘sus-
but not always applied, or not applied by tainable development’ concept. From
all concerned. The Rio+20 Conference what can be understood of the phrase,
needs to be visionary. It is a moment for the ‘green economy’ would never be a
us to reformulate our vision of the world model for automatic implementation
and the future. It is within the grasp of nor would it be uniform for all coun-
the world leadership that will be repre- tries. The characteristics of societies
sented in Rio in June, to act like states- and institutions are quite distinct for
men and point to the mistakes and gross each country and it would be up to them
errors inherent to the currently adopted to determine their goals and methods
models of economic order, of social or- in their pursuit of sustainable devel-
der and priorities and of care for natural opment. If we are to inset the phrase
assets that are, by definition, finite. as an element of the larger concept, I
It is time to recognise the planet’s imagine it would be acceptable that the
limitations and the urgent need for an denomination should stand for some of
immediate intervention to change the the goals that make up part of the path
direction civilization is heading in. to be followed. I would not mention one
Visionary in its attitude, capable of
constructing the scenario of the future,
colour or another but, rather, all the
colours and that they should illuminate
FLÁVIO
it must act with detachment in facing
up to the improper and unfair way in
which wealth is been organised in the
our survival.

How can the business sector and civil


PERRI
world of today. Its ambition must in- society contribute to environmental
clude making the necessary changes to conservation and sustainable devel-
the paradigms, including the ways in opment? I do not have any ready-
which natural assets are appropriated made models for the engagement of
and transformed, in order to guarantee each sector of society in the pursuit
the stable survival of the planet over of sustainable development, but I
time and the dignity of human life. can safely say that for our planetary
The conference can, and must venture to achieve success, the en-
assume the great urgency of change gagement of all sectors is absolutely
and define the route, show the way essential. Neither can I refrain from
to achieve it, so that humanity as a stating that if we carry on at the rate
whole, in all its conditions and mani- and with the model that we have
festations can shoulder the burden of adopted up until now, we will surely
ensuring its own survival. founder. The planet will not sustain a
The concept of sustainability must humanity that challenges it with such
not be dilapidated. With it, for the a wilful project of depredation as we
first time, we have managed to enrich have been practicing
our understanding of what develop- Change, the courage to change, new
ment means. pathways...

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 117
WWF Living Amazon Initiative

Interview

Series “Rio 92 what did it lead to?


Rio+20 what will it lead to?”

of targets to be achieved universally by cess and influenced outcomes, forever


all countries, respecting their levels of changing the format of UN confer-
development and social characteristics,” ences, which from then on began to
centered around the key themes involve the so-called “major groups,”
of the 21st century: energy, water important segments that need to be
resources, food security, production and involved in discussions and agree-
José Cruz /ABr

consumption. Below is her interview, ments. It was there that the movement
submitted to WWF in writing. to protect the Atlantic forest gained
national importance. There was also
What were you involved with at the the Planeta Fêmea (Female Planet), a
time of the Earth Summit? Do you re- forum to discuss gender issues during
call anything special that marked that the Earth Summit. Despite the diver-
conference? I have been acting as a sity of ideas, proposals and initiatives,
civil servant with IBAMA, with several all the civil society movements were
stints in the public administration, in focused on and oriented towards com-
the environmental field, both in Rio mon goals, beliefs and hopes. It was a
IZABELLA and Brasilia, where I am now a Min-
ister. In Rio 92 we were all mobilized,
moment of optimism that marked the
work of environmentalists forever. It

TEIXEIRA because before the issue of sustainable


development became the focus of in-
was a historic moment.

terest we see today in all sectors, those What countries participated more
Biologist Izabella Teixeira has been concerned with environmental issues prominently in the Earth Summit? What
Brazil’s Environment Minister for two were essentially environmentalists and was the participation of Latin American
years, a public office she has held technicians who worked in the field, as countries like? The results of the Earth
after succeeding Carlos Minc, of whom well as academics. In addition to the Summit were constructed from the
she had been executive secretary inspiring documents that were on the joint efforts of the participating coun-
since 2008. agenda, we had a charismatic and en- tries. Historically, it was the UN confer-
A career civil servant with IBAMA gaging leadership, the then Secretary ence with the greatest participation of
(the acronym in Portuguese for the General of the Conference, Maurice heads of state –among those held out-
Brazilian Institute of Environment and Strong. What surprised me most at side the UN headquarters in New York.
Renewable Natural Resources, which the time were the manifestations from This reflects the overall importance
is the Ministry of the Environment’s the so-called Parallel Global Forum, given by countries to the debate that
enforcement agency), she has a PhD the NGOs, set up in Flamengo Park. was going on. Therefore, it is hard to
in Environmental Planning. Along with Brazil had never seen anything like it. single out some countries in particular,
Brazilian diplomats Izabella Teixeira There were all those tribes, global civil as it was a moment of global maturity in
will act as the hostess of Rio+20. society showing its face in the first terms of the objectives which were to be
Among other expectations, she global environmental conference. I achieved at the Summit. But there were
would like the UN conference to create was very impressed by how this society still traces of sentiment such as “North”
Sustainable Development Goals, “a set was organized, participated in the pro- versus “South” and Latin American

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 118
WWF-Brasil / Luciano Candisani

At Rio+20 the economy is in the limelight – the economy of inclusion


with environmental protection.
WWF Living Amazon Initiative

We hope to build consensus so we can tread paths that will


overcome the challenges being posed to us all, without exception, because
humanity is one and the deadlocks are upon us on too short a notice and we
cannot afford to ignore them.

countries, for example, produced a of its deliberations but also in its con- mental actors. The engagement of civil
document entitled “Our own agenda”, struction process. Three of the most society in debates has grown and has
to highlight the resistance of developed important international frameworks since then become increasingly influ-
countries, which at the time did not on sustainable development and envi- ential in decision-making spheres.
want to discuss poverty, only the for- ronment were established at this con-
ests. I would like to emphasize that the ference: the Framework Convention Among the resolutions from that
role of Brazil at that time went far be- on Climate Change, the Convention on conference, in which area were there
yond that of a mere host, having had a Biological Diversity (CBD) and the UN no advancements? Right now there
particularly important role in building Convention to Combat Desertification is an assessment being made about
consensus and mediating conflicts so and Mitigate the Effects of Drought. the points in which we advanced and
as to arrive at the results achieved. It is In addition to these Conventions, where no progress was made and
also important to note that the geopolit- Agenda 21 and the Rio Declaration, the reasons for this. It is undeniable
ical setup today is completely different. also adopted at the Earth Summit, that the great political commitment
In addition to an enhanced globaliza- were essential for the consolidation of reached as an outcome of the Earth
tion phenomenon, emerging nations the concept of “sustainable develop- Summit did not translate into suf-
like Brazil at the time were starting to ment” and are today the main refer- ficient political will to enable imple-
develop and several countries did not ences for international negotiations. mentation and the idea of sustainable
have environment ministries or similar This was the beginning of a new era of development is also a concept that is
bodies. When compared to Stockholm the multilateral order for sustainable facing serious barriers in its imple-
‘72, the Earth Summit ‘92 consecrated development. With regard to process- mentation. This is also one of the goals
the concept of sustainable develop- es, the Earth Summit displayed broad of Rio+20: to understand the obstacles
ment, and also involved civil society international understanding on the to the implementation of what was
and mobilized the business community, importance of the multilateral system decided and devise ways to make the
bringing the economic debate into the of the United Nations as a mechanism changes necessary to a form of sus-
equation, which up until then had not for solving major global problems, an tainable development that respects the
been central to debates in that decade. importance that today, 20 years later, environment, enables social inclusion
seems to have waned. In addition, Rio and economic growth. In each such
What have been the main legacies of 92 paved the way for a new approach conference, or better put, “family” of
the Earth Summit? The Earth Summit to international issues based on a more conferences reputed to be related to
left us a rich legacy not only in terms intense dialogue with non-govern- the environment and development,

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 120
WWF Living Amazon Initiative

we have had gains. In 1972 we gained of almost 200 countries. For this very and principles of sovereignty, cannot
institutionalization and the capacity of reason it has been accused of lacking always acquire. All this knowledge
states to regulate; in 1992, we gained a focus and ambition. However, there is very important in influencing how
challenging concept, the mobilization are important consensus elements countries stand in intergovernmental
of civil society and witnessed the glo- that should be explored and this is the processes which, unfortunately, do not
balization of the environmental move- final stage of the process, when we adequately envisage the role of non-
ment. For example, neither Greenpeace focus more on what unites us rather governmental actors. This is in itself
nor the WWF had an office in Brazil, than what divides us. If previously a goal we have for Rio+20, which it to
which only happened after the Earth we witnessed the resistance of some signal the means and most appropriate
Summit. At Rio+20 the economy is in countries to even discuss some of the ways for civil society to have a decisive
the limelight -- the economy of inclu- main topics on the agenda of negotia- participation in multilateral pro-
sion with environmental protection. tions, all countries now seek further cesses. On the other hand, the changes
consensus on the key Conference we want will only be possible if also
What should be the main outcome issues. It is also important to note carried out at the level of individual
of Rio+20? I hope that Rio+20 will the greater discussion and propos- decisions, hence the importance of
constitute a major process for the als regarding the green economy, the furthering awareness about planetary
renewal of the international commit- goals of sustainable development and citizenship. Another point I would
ment to sustainable development, concrete changes in the structures of emphasize is the need to talk with
but I also hope that the Conference the United Nations for it to become mass society. We have some know-how
will not solely constitute a reaffirma- more consistent with sustainable on speaking with civil society, but we
tion of the principles and results of development. Countries have great have learned almost nothing about
the Earth Summit ‘92. I expect to see expectations in these three aspects convincing consumers, for example,
concrete decisions that will signal because they signal an international that more insightful choices are neces-
the strengthening of the multilateral understanding regarding what we sary to conserve our natural resources,
system and boost the adoption of want for the planet as a response to which are ultimately the fundamental
sustainable development models in the major global challenges. condition for being able to develop
coming decades. I particularly believe and grow in the coming years. There
in the construction of Sustainable How can the business sector and civil is no mass movement to advocate for
Development Goals, a set of targets to society contribute to environmental sustainability. This is a challenge that I
be achieved universally by all coun- conservation and sustainable develop- draw attention to.
tries, respecting their development ment? A significant change in the last
and social, economic and environ- twenty years has been the way civil What is the role of the emerging
mental levels, and centered around society, including the corporate sector, economies like the BRICS in impacts
the key themes of the 21st century: began to influence how the planet is on the environment and in the solu-
energy, water resources, food security, run. Today no one can deny the role of tions for environmental issues? The
production and consumption, among civil society and the business sector emerging economies have arisen in a
others. Another expectation is that we in the construction of a new model of geopolitical and environmental set-
will define an instance of governance development with social inclusion and ting that is very different from that
within the United Nations to provide economic growth, along with the sus- in which the current great powers
coordination and coherence to the tainable use and conservation of natu- developed and thrived. The means
various sustainable development ac- ral resources. Debates such as those on used at that time did not consider
tions and initiatives, through a Council changes in the patterns of production the consequences of the development
or the United Nations Forum on Sus- and consumption necessarily imply a practices adopted in terms of their
tainable Development. Moreover, it is review of business models and their environmental and social impacts.
important that at Rio+20 decisions be relationships with ecosystems and Today it is no longer possible to think
taken to strengthen the United Nations human rights. Companies also have of economic growth without bear-
Environment Program (UNEP), so that their distinct expertise in innovative ing in mind poverty alleviation and
this program may have the autonomy and immediate responses to market environmental conservation. Brazil
and political and financial structure to changes, and this learning is critical is a country that has shown in recent
tackle the major global challenges in for the present moment. Through its years how this can be achieved. We
the environmental area. organizations and social movements are today the sixth world economy
civil society has advanced in discus- and at the same time we are further-
What is your opinion on the draft text sions on the three axes of sustainable ing our fight against poverty and
for Rio+20? The text that is being development, contributing input that reducing the greenhouse gas emis-
discussed today is a reflection of the governments, attached as they are to sions responsible for global warming,
interests, needs, priorities and desires the logic of immediate political results while creating more conservation

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 121
WWF Guianas - Kaieteur falls
WWF Living Amazon Initiative

areas than in previous years. The and this is also the green economy. In
BRICS have this challenge, to show general, we know that a green econ-
how to attain progress while keeping omy should be less carbon intensive
that balance and still playing the key and low in the use of scarce, rare or
role of strengthening multilateralism non-renewable raw materials, but the
to promote sustainable development discussion of this idea should be tied
worldwide. Another important issue to compliance with the characteristics
is the economic importance of fund- and needs of each country, so that na-
ing a new approach to development. tions can build their models of a green
What is being discussed today by the economy in accordance with their
development banks in China, Russia national interests, without following a
and Brazil, is how to set up funds and single recipe or model. Similarly, an-
financial flows that can strengthen other way of doing this is by review-
South-South cooperation. ing progress yardsticks, so as to have
indicators such as a Gross Domestic
How feasible is it to structure the Product (GDP) that also includes
so-called “green economy”? Would aspects related to social inclusion and
a ‘blue economy’ also be important? environmental conservation.
The term “green economy” has been
a concept disputed by various politi- In an approach centered on citizens’
cal forces and the “color”, frankly, is access to food, water and energy,
not what matters. You mentioned the how should governments and society
blue economy and I imagine it refers regard the environment? What is the
to the oceans, to fresh water, so a solution for the future of the Amazon,
sustainable economy actually needs Brazil and Latin America? The issue of
to be kaleidoscopic. But I think the “access” is one of the major challenges
word “green” that was tagged to the to sustainable development. Food pro-
economy aims to emphasize the im- duction, the use of water resources and
portance of the environmental pillar, power generation are major causes of
so that some growth models will not environmental impacts, and enabling
succumb to the temptation of yielding the human population on the planet to
a high social performance but a low have access to food, water and energy
environmental one. I think we should
not waste so much time over concepts,
is one of the main challenges of our
age. I fi rmly believe in the reconcili-
IZABELLA
but move forward toward a pragmatic
agenda. The way Brazil sees the green
economy is an economic model that
ation of these objectives, but we need
political will for this to happen and in
this respect Brazil wants to be the pro-
TEIXEIRA
is inclusive, with vigorous economic tagonist of a development model that
growth that promotes social inclusion promotes economic growth coupled
in a setting of low carbon emissions with social inclusion and environmen-
and natural resource conservation. tal conservation. The future of our
Thus, it naturally includes the issue forests and our people, the Amazon,
of waters and oceans built into the Latin America and the planet is the
idea of the “blue economy.” The green focus of Rio+20. Brazil is by no means
economy is an idea that needs tools, a minor player in this chess game.
robust exemption policies for certain We hope to build consensus so we
supply chains and the removal of can tread paths that will overcome
incentives from others, for example. the challenges being posed to us all,
In Brazil we have just launched a without exception, because humanity
revolutionary policy in terms of meth- is one and the deadlocks are upon us
ods and goals, which is the National on too short a notice and we cannot
Policy on Solid Waste. It presup- afford to ignore them.
poses the creation of a vigorous and
much-needed recycling industry to
reuse materials that were previously
discarded. The agenda is out there,

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 123
WWF Living Amazon Initiative

Interview

Series “Rio 92 what did it lead to?


Rio+20 what will it lead to?”

has been implementing a consistent demic spheres and non-governmental


policy of valuing the standing forest and organizations; preparation of the next
consolidating sustainable environmental steps for the countries and the pros-
practices. There now follows a written pects associated to Kyoto, new respon-
interview that Tião Viana granted sibilities for the developed countries.
to WWF.
Elza Fiúza /ABr

Among the resolutions, has there been


What were you doing at the time of any particular area that has failed to
the Rio 92? I was just beginning my make progress? Corporate participa-
professional life in Acre which at the tion, generally speaking has poor in
time was the geo-political centre of the light of the enormous opportuni-
the environmental agenda in Brazil ties it has had to set an example and
because of the resistance movement of involve itself with society. Another
the peoples of the forest to the devel- aspect is that government agendas too
opment model that was then being have been submissive to economic and
imposed. In 92 only three years had corporate influences, even indiffer-
TIÃO passed since the assassination of Chico
Mendes: Acre had lost its hero, the
ent to the climatic problems and have
been complacent with the precarious

VIANA world had lost a leader highly aware


of the role he had to play in founding
living conditions of the population at
large. Substituting the energy matrix
the basis of a new civilization based on based on hydrocarbons by cleaner
Sebastião Afonso Viana Macedo social equality, protecting the envi- energy alternatives has been on a very
Neves, better known as Tião Viana, ronment, conservation of the forest timid scale and relegated to a second-
was born in Rio Branco (Acre). He and sustainable development, to the ary plane. Educational programmes
studied medicine and tropical and benefit of generations yet to come. too could have been much more daring
infectious diseases but it was in Our generation was the bearer of that and incisive.
political life that he became a national dream in a fierce struggle against the
figure. In 1998 he was elected traditional policy of extensive, preda- What should be the main result of the
Senator of the Republic for the state tory forms of ranching prevalent in the Rio+20? The fact that the Rio+20 is
of Acre. Re-elected in 2006 he has an Amazon region. Our quest was for new taking place in the midst of the crisis
accumulated experience of 12 years in paradigms, sustainable development, in Europe and in the markets tends to
the Federal Legislative body. alongside the “peoples of the forest”. be a negative pressure against achiev-
In 2010 he was elected Governor ing progress. So what is needed is an
of his home state of Acre, which has What were the principle legacies of intense NGO agenda, communication
a 88% of its territory covered by forest the Rio 92 Conference? A new way of media pacts, full transparent debates
and shares international borders with thinking about development and sus- in the educational area, adjustments
Peru and Bolivia and state borders with tainability, about respect in making use made to the legal frameworks, in the
Rondonia and Amazonas. Spearheading of natural resources; new responsibili- way that President Dilma and the
the states executive branch Tião Viana ties for institutions, mobility of our aca- National Congress have made adjust-

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 124
WWF Living Amazon Initiative

The urgent need is to get to know more in order to make better


use. Value more this tremendous wealth we have in order to fight a
definitive battle against persistent poverty.

ments to the Forest law, and a new pact cratic participation of the people, many do, in fact, take good care. In the regard
of respect for public policies directed forums, conventions, congresses and the green agenda needs to integrate all
at the Amazon and the people who live so on. Private institutions need to have biomes and ecosystems and become
there. A regional development policy to their own agendas but the results need much greener insofar as it includes the
take the Amazon’s specific reality into to be agreed to with the public sector. waters, biodiversity, traditional popula-
account, viewing it as a sustainable tions, the cities...in short, the planet.
development planning unit, and the What is the role of the emerging
creation of the Amazon Sustainable economies in environmental issues? What are the solutions for the future,
Development Council embracing the Community experiences and oppor- for the Amazon, for Brazil and for Latin
Amazon as an inhabited, productive tunities fostering the green economy America? The urgent need is to get to
and well-preserved Forest. definitely need to be encouraged and know more in order to make better use.
supported by the national states. Value more this tremendous wealth we
What is your opinion of the base docu- Their ministries are currently almost have in order to fight a definitive battle
ment for the Rio+20? The text under- indifferent to vulnerable regions like against persistent poverty. Look after
scores the need for renewing political the Amazon and to other distinct the protected areas and areas most sen-
commitments and emphasises that the biomes and ecosystems. The economic sitive to climate change problems, revise
efforts made to achieve the Millen- and energy matrices of the BRICS are our decision making standards in public
nium Goals will be redoubled with the highly conservative and they have no financing, better decision-making on
re-definition of 2015 as the year for short term agenda in place foreseeing priorities, on control and transparency,
their achievement on a broader scale. substantial transformation at all. more democratic elaboration of plans
That is a fantastic challenge that has and greater strictness in accompany-
a direct impact on improving the lives How feasible is it to structure the ing goals, results and schedules. As an
of the planet’s poorest populations. so-called ‘green economy’? Wouldn’t example: the Amazon region, as a rule
Furthermore, the green economy pro- a ‘blue economy’ be important too? receives packages of ready-made politi-
posal shows that it is possible to have Actually what we are talking about is cal decisions, authoritarian and entirely
responsible development alongside the an old concept transformed into a new divorced from good local practices;
eradication of poverty and a commit- paradigm because in fact the green China moves away from ethical values
ment to nutritional security, water economy could be summed as being when it looks for raw material in Africa
resource management and structuring simply, taking good care, looking after or works up its market deals.
sustainable cities. I believe that is a things well. Taking good care of the
utopia that is actually feasible and fair. planet Earth with the participation of
all. We can no longer put off having
How can the corporate sector and national and sub-national governments
civil society contribute towards environ- recognise and put into practice sus-
mental conservation and sustainable tainability actions, valuing the global
development? Ethical experiences with environmental services provided by
good results involving public and private biomes and populations and we need
sectors, pro-sustainability pacts, intense to offer opportunities for investment
and repeated agendas with strong demo- and provision of credit for those that

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 125
WWF Living Amazon Initiative

Interview

Series “Rio 92 what did it lead to?


Rio+20 what will it lead to?”

Foto cedida pela entrevistada


WWF LAI / Denise Oliveira
WWF-US

CLÁUDIO ROBERTO MARIA CECÍLIA


MARETTI TROYA WEY DE BRITO
To discuss the outcomes of the Rio coincident, are entirely complementary Guinea Bissau that involved the Inter-
92 conference and find out what and provide an embracing framework national Union for the Conservation
expectations three of WWF’s Latin in which to view environmental affairs of Nature, European, especially Swiss
American strategy formulators and over the last two decades. financing, and Brazilian and Latin
executors have for the Rio+20 Over the period, Maretti, Troya, and American technical cooperation. The
conference, we organised a virtual round Wey de Brito have performed important preparatory discussions for the Rio 92
table with the collaboration of Cláudio roles in the sphere of the WWF and and the results obtained by holding it
Maretti, geographer and geologist, leader have made the quest for environment were an inspiration for our interna-
of the Living Amazon Initiative; Roberto conservation alternatives the core of their tional actions.
Troya, international negotiator and lawyer, personal and professional trajectories Roberto Troya – I took part in all the
vice president and regional director for There follows a presentation of their main Rio 92 processes right from early pre-
Latin America and the Caribbean; and ideas regarding what the Rio 92 led to paratory meetings up to the conference
Maria Cecília Wey de Brito, agronomist and what the Rio+20 may lead to. itself. What most left its mark on me
and CEO of WWF Brazil. in relation to that conference was the
The three were submitted to the What were you doing at the time of the importance and participation afforded
questions. In spite of their differing Rio 92? to civil society, just as much in pre-
experiences and areas of responsibility, Cláudio Maretti – I was taking part paratory ‘Prep-Coms’, as in the main
their assessments, when not entirely in a programme of cooperation with event in Rio. WWF International’s

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 126
WWF Living Amazon Initiative

Nature is capable of guaranteeing sustainability and


equality in supply and the access of populations to food, water and
energy – that is to say, the three basics for a form of development
that will be truly sustainable.
Cláudio Maretti

current president Yolanda Kakabdse, attention that Brazilian policies were clear the region’s favourable attitude
together with the team headed by Ca- devoting to the Amazon, which had led and position in regard to the Agenda
nadian Maurice Strong, facilitated and to an impressive increase in the areas 21 and its programmatic plan.
ensured a space for representatives under some form of protection and sig-
of NGOs, indigenous groups, peasant nificant reduction in deforestation after What were the principle legacies of the
associations, trade unionists and the the mid-1990s. Unfortunately instead of Rio 92 Conference?
other associations and social actors, taking on the global leadership of a new Maretti – At the Rio 92, for the very
both in the official meetings of Min- model of sustainable development, Brazil first time, the world, represented by the
isters and Presidents at the Riocentro became enchanted with the possibilities highest possible level of government
and at the Aterro de Flamengo where of economic growth and decided to dedi- authorities, met debated and decided to
a real celebration of conservation and cate all its attention to it, forgetting that take the direction of sustainable devel-
sustainable development took place it could only lead to a false development opment. The Agenda 21 was among the
parallel to the main event. and that without a doubt, the failure to instruments that both at the conference
Maria Cecília Wey de Brito – I was ad- take care of nature (the ecosystems with and immediately after it most raised
viser to the then Federal Parliamentary their products and services constitute everyone’s hopes, because it used a ho-
Representative Fabio Feldmann, who ‘natural capital ‘) would constitute costs listic approach and it was used by civil
played a highly active and decisive role for Brazilian society that will have to be society and by some governments as a
in the construction of the Conference paid now and in the future means to make people aware of the Rio
agenda and of the Conventions that Troya – Latin America had an out- 92 results and its applicability to dif-
were presented, including the Agenda standing participation in all spheres ferent levels, areas and regions. There
21 document and the Earth Charter. My of the conference starting with Brazil’s were two other decisions that brought
involvement was centred on the issue of role in hosting the biggest meeting in results and led to discussions that
biodiversity, supporting the theme in a of heads of state ever recorded up are still going on today, namely the
series of parallel events that took place to that time and its further roles in Convention on Biological Diversity and
during the period of the Rio 92. conducting all the multiple facets of the Climate Change Convention.
the agenda. I can remember other Troya – I think there were multiple
What was the participation of the Latin outstanding participations like that legacies from the Rio Conference;
American countries like? of Colombia, which attended with a perhaps the most tangible ones are
Maretti - The impact of the Rio 92 multi-disciplinary delegation headed those associated to the legal instru-
was very strong in Brazil and in Latin by Dr. Enrique Peñaloza. Other delega- ments that were approved because
America and in the world at large too. tions stood out, like Mexico’s and the being legally binding on the signatory
I was living in Guinea Bissau but I felt masterly intervention of then state countries, they actually materialised
the effects on Africa, and on Europe and secretary for social development Luis into something much more than mere
Latin America. When I got back to Brazil Donaldo Colosio. I also remember discourse. The Climate Change and
I could see that there had been great the notable speech delivered by then Biodiversity Conventions, the Forest
progress in the policies and respective president of Mexico Carlos Salinas de Principles document, The Declara-
institutionalisation and also in the in- Gortari, who addressed the conference tion of Rio, the Agenda 2, the report
volvement of society at large in environ- in the name of the Latin American and on ‘Our Common Future’ delivered by
mental issues. I noted the significant Caribbean countries and made very Norwegian prime minister Gro Harlem

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 127
WWF Living Amazon Initiative

I can see that there is a greater willingness on the part of


companies to define their social and environmental responsibilities as an
integral part of their business processes.
Roberto Troya

Brundtland, Only One Earth, and oth- Among the resolutions, has there been of applying the resolutions is in regard
ers are real tangible products of that any particular area that has failed to to Climate Change. The breakdown
Summit. There were many agreements make progress? in the negotiations have made it clear
drawn up that, although they were Maretti - After a stimulating begin- that the countries have opted to main-
important, were not solid enough. For ning, especially in Latin America, the tain their political and geopolitical
example, the dedication of 0.7% of the Convention of Biological Diversity equilibriums rather than adhere to a
countries GNPs to constitute new fi- began to be severely criticised. The truly global emissions-reduction plan
nancial resources was one that did not Framework Convention on Climate or to prepare and adapt in readiness
last long. Although it must be admit- Change got off to a slow start, received for the current and potential effects
ted that the Convention on Biological more support in Europe and the de- stemming from climate change.
Diversity was ratified in record time, veloped countries but after the Kyoto Wey de Brito – It is worth mentioning
some countries like the united States Protocol it failed to aggregate any the difficulties of the Climate Change
and its Congress failed to ratify the more concrete or applicable decisions. Convention in regard to the Kyoto
convention because it was the target Perhaps the most notable absence in Protocol as well as getting the REDD
of impressive lobbying done by private the post Rio 92 period is that of any mechanism on the countries’ agendas
entities who felt that there interests concrete change in the economy. It is as a means of mitigating greenhouse gas
would be jeopardised by it. obvious that the agents in the private effects. It must also be remembered that
Wey de Brito – What really stood out sector must become more strongly the Clean Development Mechanism ac-
were the four main documents stem- engaged if we are to promote the nec- tually became so bureaucratic that it has
ming from the Rio 92 (the CBD, the essary changes, and society needs to brought in almost no results to date.
Climate Convention, the Agenda 21 and clamour for that to occur.
the Earth Charter). What changed after Troya – There has been important What should be the main result of the
the Rio 92 event was the expectation progress but also some very clear Rio+20?
that, with suitable negotiation, issues regression, especially in the climate Maretti - We need to ensure that vari-
that went beyond the borders of indi- change discussions. It is clear where ous segments of society (social actors)
vidual countries could be moved ahead. there is most doubt about the urgency commit themselves, especially the eco-

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 128
WWF Living Amazon Initiative

nomic agents and the private sector. To able use, conservation of forests, real Troya – The corporate sector is clearly
make sure that society can accompany costs included in the economic chains much more committed than it was
the fulfi lment of those government, and sector accounts, considering that 20 years ago and I can see that there
and private sector commitments and currently they are treated as being ex- is a greater willingness on the part of
those of others; the establishment of ternalities, and the elimination of sub- companies to define their social and
clearly stated ambitious goals can only sidies for activities harmful to nature, environmental responsibilities as an
be beneficial – that is the case of the society, etc. However, the formulation integral part of their business processes.
Sustainable Development objectives is not sufficiently ambitious, and there However, there is still much to be done.
being proposed by Colombia and Gua- are notable omissions like not under- Market forces aligned with the econo-
temala which are progressively being scoring the financial system as one mies of certain countries continue to
supported by everyone. of the most important drivers of the go ahead with practices that put the
Troya – I believe that if there is a present day economy and the fact that planet at risk. The role of the corporate
ratification of the Sustainable Develop- as such it should be called on to fulfi l and private sectors, which is admittedly
ment proposals that were made Rio 92 its social and environmental functions growing, could be one of the concrete
in the light of fresh and active discus- and review its sustainability quality. objectives; integrating them in the pro-
sions of the Green Economy, then that Troya – What struck me is that it does cess as being among the most important
would be an important result that we not start off from a base line; what the actors for bringing change about.
could hope for. A very careful analysis international community proposed Wey de Brito – First of all, by becom-
of the validity of the legal instruments at Rio 92; what has and has not been ing genuinely informed and not being
associated to sustainable development achieved, etc. It seems to me that content with hearsay; second by voting
both in the national and international without such a base line analysis it will with responsibility and not getting
spheres should be part of the discus- be difficult to establish solid grounds carried away with irresponsible fool-
sions and appear in the governments’ on which to make proposals for ad- ing like voting in candidates because
reports on these last 20 years. On the dressing the future without running they are ‘rebels’, ‘funny’ etc.; thirdly
other hand there is a need to find ways the risk of coming up with the very by adopting behaviour consistent with
to integrate Biodiversity and Climate same declarations, obtaining the same citizenship, in the broad sense, in daily
Change and not treat them as if they commitments and directives that were life and activities. That can range from
were simply unrelated issues. achieved and obtained 20 years ago. things like respecting cyclists in traffic
Wey de Brito – The result should be a to not paying an undercover fee to have
construction of (quantifiable, measur- How can the corporate sector and civil processes handled faster. Obviously
able and reportable) goals for changing society contribute towards environ- greater business efficiency in terms
processes and there must be financial mental conservation and sustainable of natural resource use, transparency
commitments made that will ensure development? and showing concern with the value
that they are in fact achieved. The Maretti – They say that the best way chains are all valuable and increas-
sense of urgency associated to the is through the vote and consumer ingly becoming part of the default
themes connected with three pillars of choices. Even if we agree with that, scenario in many companies.
sustainability does not seem to have we cannot accept that government
knocked at the decision makers doors and corporate sectors and leaderships What is the role of the emerging
or those of the various other segments should hide themselves behind such an economies in environmental issues?
represented at this event. Who is re- explanation in order to put off mak- Maretti – Unfortunately the emerging
ally in need of protection here is the ing the much-needed decisions. It is countries often tend to line up for devel-
human being. The Earth will abide, of fundamental importance that such opment models that are already in check.
but there will be no room for profits leaders be part of the movement that Some countries like China, in spite of the
if there is no more society... but with will lead to changes and to heading fact that it continues with ambiguous
the current line of thought embrac- towards sustainability. The companies discourse and actions, have, neverthe-
ing growth through consumption and cannot limit themselves to controlling less, considerably increased the care they
supported by the financial system, it’s their own activities alone but need to take to reduce environmental impacts
going to be hard to change. be sure of the entire economic chain of or make their production more sustain-
which they are part. The commitments able. Even if it is just from commercial
What is your opinion of the base docu- made by companies must be clearly considerations, China has been one of
ment for the Rio+20? stated and formally registered so that the countries investing most in solar
Maretti – The main issues are present they can be accompanied by society at panel technology and production, and in
in it – like sustainable development, large. It is the responsibility of society the restoration of forest areas. That in no
sustainable management of water re- to demand the fulfi lment of those com- way removes from them the enormous
sources, production of sustainable en- mitments drawn up and agreed to by responsibility for the social and environ-
ergy, marine governance and sustain- governments and companies alike. mental impacts of their purchases and

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 129
WWF Living Amazon Initiative

It is totally feasible, provided society changes some of its values


and obviously, that takes time. In the case of Brazil, what is needed is
massive investment in education.
Maria Cecília Wey de Brito

activities – equalling or even surpassing rity, and access to good quality water Troya – The green economy proposal
the countries with the biggest ecological in sufficient quantities, and the current is based on the premise that a way
footprints in the world, but it does give model seems to be directed at more at will be sought to put its principles into
them some credit points in the aspect of intensifying exploitation and ‘the sooner practice. It is an effort to define clear
sustainability, even if it is conducted in the better’ but that goes on behind the and feasible proposals that will enable
the light of commercial and economic smokescreen of the supposed battle over the necessary policies to be unfolded,
interests. Unfortunately, Brazil, which the ‘economic rights’ of the people. irrespective of the political or ideologi-
was in a position to be the champion of Wey de Brito – Their role is to change cal regime in power, because it can be
the economic model for the 21st cen- the way of doing things. It is to show accommodated in market-orientated
tury continues to search for solutions that they have learned from their own political regimes or in others where
based on economic models typical of past mistakes and from those of others. the presence of the state is more pre-
the 19th or even 18th century, involving ponderant. What is undeniable is that
land disputes, ownership with no social How feasible is it to structure the so- the future reality envisaged twenty
responsibility, wasting natural resources, called ‘green economy’? Wouldn’t a years ago by the Rio 92 is now with us
degradation of nature and so on. ‘blue economy’ be important too? and many of the problems foreseen at
Troya – The emerging economies play a Maretti – There are several ways of un- the time are now a reality. In regard
fundamental role in the global sustain- derstanding the so-called green econ- to three main lines of sustainability
able development context because they omy and all of them definitely include concern we can say that there has been
are in a position to show that they man- the importance of greater efficiency in progress along the social and environ-
age to strike a balance between their making use of natural resources and a mental lines but as for the economic
economic policies and their social poli- reduction in carbon content. However aspect, it has not been adequately
cies. Those countries are also political it actually needs to go far beyond mere equated and, in fact, it has not func-
powers and generate regional leadership technological solutions or a discus- tioned as a line of sustainability at all.
as Brazil does in the region around the sion on alternative energy sources. Wey de Brito – It is totally feasible,
Amazon. The regional repercussions of What is fundamentally important is to provided society changes some of its
Brazilian policies in areas like infra- consider the integration of economic values and obviously, that takes time.
structure investments, energy produc- forces and their re-direction towards In the case of Brazil, what is needed is
tion, food production etc. are having a sustainable development. It is not a massive investment in education.
direct effect on the neighbouring Ama- question of establishing an economy
zonian countries. That is true for Peru in whose only reference framework is for- What is the solution for the Amazon,
the case of the hydroelectric dams, and ests, there needs to be a fundamental Brazil and Latin America’s futures?
Bolivia in the case of gas production. In- relationship – of respect, sustainable Maretti – Latin America is the region
frastructure projects based on Brazilian use, conservation – with ecosystems in of the world with the greatest biodi-
capital involve processes with the great- general, among which are the forests, versity and the greatest volumes of
est effects on Amazonian biodiversity savannahs, grasslands, rivers, lakes water in addition to other rich natural
and on the lives of people in the areas and seas. A blue economy means the resources, and the Amazon is largely
directly affected. There can no longer be same thing, taking the ecosystems into responsible for that. The Amazon is a
any doubt that the great discussions on a account more, only it calls more atten- Brazilian, Latin American and global
model for development are now centred tion, quite rightly, to the seas and wa- heritage that needs to be administered
around the questions of nutritional secu- ters to ensure they are not negelected. and managed to the benefit of its local

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 130
WWF Living Amazon Initiative

communities and of the populations of ecosystems that are shared by more Wey de Brito – The problem related to
the Amazonian countries; and with a than one country. It is important to food is less one of quantity and more
sense of responsibility consonant with recognise that misuse of lands, forests a question of quality and distribution.
its global importance. Latin America is or rivers in the upstream regions of a The country needs to look ahead to the
a region with an important history, and river basin jeopardises (in the form next step after the one it is taking. The
great social and cultural diversity. Un- of floods, lack of water, poor quality solution for the future of the Amazon
fortunately it is also a one of the regions water, etc.) the lives of those that live lies in the designing of State plan. What
with greatest levels of social inequality. downstream. But it is also understood is important is that whatever solu-
There is no chance of achieving sustain- that the complexity of climate change tions are thought up to address current
able development without social equal- phenomena means that deforestation in problems should not be focussed on
ity. Nature is capable of guaranteeing the lower, eastern part of the Amazon the short term. It is possible to invest
sustainability and equality in supply basin can affect humidity levels in the in the development of differentiated
and the access of populations to food, upper western regions of the basin. markets, science for new products,
water and energy – that is to say, the Troya - If it is true, as the WWF’s Liv- and in acquiring greater knowledge
three basics for a form of development ing Planet Index Report shows, that we of the region’s potential and how it
that will be truly sustainable. We have are already consuming one and a half functions in social and environmental
to move forward to ensure the sustain- planets, and if we remember that the terms. There are several mechanisms
ability of food production and supply world population is already over the 7 to foster the development of citizen-
in such a way that we do not jeopardise billion mark, and that climate change ship, especially improvements in Public
future production possibilities or those impacts can already be felt all over the Services and their universal provision
services that are important to meet so- planet affecting water sources and food throughout the region. Such activi-
ciety’s other needs, as for example en- production; and if carbon emission ties could be financed as a counterpart
suring the sustainable management of levels are maintained or increased to contributions from investments that
water resources – in other words, food irreversible levels, then we are actu- will be made in the region including
production cannot be based on defores- ally already talking about questions of and, indeed, preferentially by those that
tation and other forms of degradation. planetary security. Security in regard will benefit directly from such invest-
In a similar way it is no longer accept- to access to freshwater in sufficient ments, like the commodity exporters in
able that the maximization of hydro- quantity and of adequate quality, access the Amazon and the Cerrado savan-
electric energy production should take to sufficient food for a life with dignity, nahs, for example. In the case of Brazil
precedence, to the detriment of other security of access to and availability and Latin America, it seems that, more
uses and benefits associated to the river of adequate supplies of clean energy. urgently than ever before, there needs
basins. Furthermore, it is fundamen- Those are three umbrella issues but to be intense and systematic investment
tally important that we move forward within them and associated to them, in diversifying the exports portfolio so
and understand what is involved in the there are many more. They, however, that products with higher aggregated
integrated responsible management most certainly epitomise the key as- value have a greater proportional par-
of natural resources, river basins and pects of sustaining life on the planet. ticipation in it.

CLÁUDIO ROBERTO MARIA CECÍLIA


MARETTI TROYA WEY DE BRITO
Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 131
WWF Living Amazon Initiative

Article

Series “Rio 92 what did it lead to?


Rio+20 what will it lead to?”

extends into (Bolivia, Brazil, Colombia, If current trends regarding defores-


Ecuador, Guyana, Peru, Venezuela, tation, forest fires and climate change
Suriname) hope that the Rio+20 will continue, only 30% of the original for-
take social elements into account est will remain by 2030, and less than
Foto cedida pelo entrevistado

in the environmental discussions 10% by 2080. There might also be a


and that the consumer patterns of decline of species, loss of carbon stocks
the world’s largest economies will and a significant reduction in rainfall.
converge towards more sustainable (Global Biodiversity Outlook 3)
levels. There follows an article the Aware of the importance of the
Ambassador wrote for WWF. Amazon, the eight Amazon countries
decided to join forces to achieve,
through an active cooperation pro-
cess, the integral development of their
The Amazon contains the largest respective Amazonian territories, and
tropical rainforest in the world, which incorporate them into the respective
represents 6% of the Earth’s surface national economies, by maintaining
ALEJANDRO and occupies 40% of the territory of
Latin America and the Caribbean, with
the balance between economic devel-
opment and environmental preserva-

GORDILLO 5.1 - 8.1 million square kilometers. Its


rivers are responsible for about 20%
tion. Therefore, in 1978 they signed the
Amazon Cooperation Treaty, which has
of the world’s fresh water entering the been in force for 32 years.
If current tendencies in deforestation ocean. The Amazon basin has 25 000 Later, in 1998, to institutionally
and forest fires are maintained, with kilometers of navigable rivers. improve and strengthen the coopera-
the aggravation of climate change The Amazon River is 6.9 thousand tion process, they decided to create the
effects, the Amazon will have one kilometers long and has over a thou- Amazon Cooperation Treaty Organiza-
third less of the vegetation it has today sand tributaries; it releases about 220 tion (ACTO) and establish a Permanent
by the year 2030. If the process goes 000 cubic meters of water per second. Secretariat based in Brasilia. The Per-
on for another 50 years, the planet’s About 20 000 plant species have manent Secretariat was inaugurated
greatest biome will be left with less been identified in the Basin, including on 2002.
than 10% of the original forest. two thousand species that have been
Those forecasts appear in the classified according to their use as Amazon Cooperation Strategic
third edition of the Global Biodiversity food, medicine and for other purposes. Agenda
Outlook and are underscored by The Amazon is home to 40 differ- The Presidents of the Member
Peruvian Ambassador Alejandro ent indigenous and tribal peoples who countries of ACTO gathered in Manaus,
Gordillo, secretary general of speak 86 languages and 650 dialects. Brazil, and issued an Act about the Or-
the Amazon Cooperation Treaty There are 38.7 million people living ganization which said they had decided
Organisation (ACTO). in the basin, which represent 11% of to “give ACTO a new and modern role
Gordillo and his interlocutors from the population of the eight Amazon as a forum for cooperation, exchange,
the 8 countries the Amazon biome countries. knowledge and joint projection...’. They

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 132
WWF Living Amazon Initiative

also instructed the Foreign Ministries to Moreover, although the regulations


prepare a Strategic Agenda of the ACTO, stipulate that Foreign Ministriesmeet
for which they gave some guidance. The every two years, in November 2011,
Strategic Agenda for Amazon Coopera- a year after the event in Lima, their
tion (Agenda Estratégica de Cooperación eleventh Meeting was held in Manaus,
Amazónica – AECA) was approved on where they adopted the “Manaus
the Tenth Meeting of Ministers of For- Commitment”and decided to meet again
eign Affairs in Lima in November 2010, in November 2012 in Ecuador. This
coinciding with the celebration of the document contains important agree-
thirtieth anniversary of the entry into ments such as the implementation of an
force of the Amazon Cooperation Treaty. “AmazonianObservatory”, the creation
In Lima, the Foreign Ministries of anAmazonian Regional University,
adopted a series of resolutions that have involvement in issues of social inclusion,
to do with the progress of the ACTO, poverty reduction, poverty eradication
and that are related to regulation of its and social development in the Amazon,
organs: Meeting of Ministers of Foreign among other important issues.
Affairs, Amazon Cooperation Council The Amazon Cooperation Council
(CCA), Coordinating Commission of the (CCA) held two meetings, preceded by the
Amazon Cooperation Council (CCOOR), Focal Points meeting; and the Coordinat-
and Permanent Secretariat; to funding ing Commission of the Amazon Coop-
sources; and to relations with interna- eration Council (CCOOR) met with the
tional cooperation. In addition, they periodicity established by regulations.
sanctioned the Strategic Agenda for
Amazon Cooperation (AECA), which is ACTO and Rio+20
a sort of the organization’s road map. Since the ACTO has geographical
The AECA contains a “Vision of the importance for various aspects of the
Amazon Region” and, in the case of subject matter of the United Nations
the ACTO, it establishes a “Vision of Conference on Environment and De-
the future”, entrusts a “Mission”, and velopment, and an important back-
sets “Strategic objectives”. It is built on ground to show, the Organization’s
the basis of two “transversal approach Foreign Ministries approved a Decla-
axes”: conservation and sustainable use ration for this conference, during the
of renewable natural resources, and Manaus meeting. It should be noted
sustainable development sustainable. that the ACT is practically an interna-
It contains short, medium and long tional instrument precursor of sustain-
term actionsregarding issues set out in able development, and thatthe ACTO is
the ACT: conservation and sustainable eminently an organization of horizon-
use of renewable natural resources, tal South-South cooperation, which
indigenous issues, knowledge man- has a Strategic Agenda adopted by all
agement and information exchange, member countries, which includes a
regional health management, infra- “Vision of the Amazon Region” shared
structure and transport, and tourism. by all these countries.
Three new emerging issues were added: Furthermore, the Ministers of
climate change, regional development, Environment of Member countries of
and energy. ACTO, during their Second Meeting
The Agenda was implemented on held in Lima in March 2012, issued a
January 1, 2011, and throughout that “Declaration of Lima”in which they
year the interest of Member countries joined the “Declaration” of the Foreign
of ACTO to participate in this process Ministriesfor Rio+20.
was proved. They were represented at ACTO will also be present in
technical meetings by the authorities Rio+20 by organizing a “side event”
that are responsible for the subject and displayinga stand.
in question, and in 80% of the cases,
there was full attendance. On those
few occasions with no full attendance,
only one country was missing. Brasilia, April 18, 2012.

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 133
WWF Living Amazon Initiative

Article

Series “Rio 92 what did it lead to?


Rio+20 what will it lead to?”

the conference decisions, a position The political significance of hosting


it has kept until today. He also offers the United Nations Conference on Envi-
unprecedented testimony that does ronment and Development far tran-
justice to Global Forum coordinator scended the importance of the main
Foto cedida pelo entrevistado

Warren Lindner, responsible for issues on the conference agenda. Brazil


congregating NGOs in a series of at the time was living its seventh year
activities at the Aterro do Flamengo of reinstalled democracy and, for the
held parallel to the main conference. first time in almost thirty years, it had
This is much more than the a president elected by the people. The
memories of a journalist with more conference was the largest international
than 40 years of experience, it is a event that had ever been held in Brazil
text that portrays the changes that up until then; the historically insular
have come about over the last twenty country was opening itself to the world
years in the way the environment is to host, and perhaps to leadthe global
envisioned and the great changes debate on a theme in regard to which
that have come about in the relations the country had always been on the
PAULO between government and the third
sector as well as making some
defensive, widely accused of destroy-
ing the Amazon and what was left of its

SOTERO conjectures on the prospects for the


upcoming 2012 conference.
indigenous peoples. Non governmental
organisations, especially those associ-
The topics addressed were all the ated to environmental causes, encoun-
Journalist Paulo Sotero Marques, a objectives of a framework of interview tered strong resistance in official circles
former international correspondent and questions that WWF forwarded to and even more so in the Itamaraty
currently director of the Brazil Institute Paulo Sotero who preferred to reply [Diplomacy and Foreign Affairs] where
at the Woodrow Wilson International to them in text form and the result is they were seen as mere instruments of
Center for Scholars, in Washington produced here entirely unabridged at foreign interests. Even so, they were
(USA), has written this valuable his request. beginning to conquer more space.
account of the Rio 92 Conference Young and impetuous, the president
which he covered as reporter for the at the time, Fernando Collor de Mello,
Estado de São Paulo newspaper. had come to power on the strength of
He also proffers an analysis of the In June 1992 I was the Washington promises to persecute the ‘maharajah’s’
prospects for the upcoming Rio+20. correspondent for the newspaper O Es- embedded in the higher echelons of
His text registers Brazil’s internal tado de S.Paulo. I was called to Rio de power and combat corruption; a practice
political environment at the time of the Janeiro together with other correspon- that had been rapidly democratized by
first conference (just months before the dents and overseas collaborators of the political class after 21 years of dic-
impeachment of president Fernando that newspaper to work in the coverage tatorship. He had also promised to put
Collor de Mello), and the behind the of the Conference to which the paper an end to galloping inflation, a chronic
scenes power broking in the United would be devoting a special insert on malaise associated to corruption that the
States that led Washington not to ratify each weekday during the event. technocrats of the military regime had

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 134
WWF Living Amazon Initiative

converted, through the use of burgeon- and would shake the Conference to its small text on the front page of the main
ing deficits and monetary indexation, core. The news was that the American newspaper to call attention to it, the
into a scheme backed by the State that lawyer Warren Lindner, coordinator of Estado published the supposed report
enabled the elite to become ever richer, the Global Forum that congregated all under the headline “Federal Police Dos-
to the detriment of the nation at large the NGOs at the Aterro do Flamengo had sier accuses Lindner of money misuse”.
On June 3, the day that Fernando made off with US 2 million supposed to As soon as we got to the Riocentro,
Collor de Mello inaugurated the Rio 92 be used to fund that parallel conference Waak and I asked about the Federal
conference, it was already evident that of civic organisations , universities and Police dossier, but were informed that,
he had failed to fulfil either of those militants in general. just as we had feared, its delivery would
promises, had lost his political power With no funding, the Global Forum, be delayed. Rodrigo Mesquita, one of the
base in the Congress and was, in fact, which was held to consolidate the pres- newspapers shareholders, a longstand-
widely discredited. Inflation was resurg- ence civil society organisations in the ing environmental activist and one of
ing with renewed force and the young debates on major global issues, was the founders of the NGO SOS Atlantic
leader had become the central protago- threatened with turning into a fiasco. Forest, who was to take part in the
nist of the greatest corruption scandal in William and I requested more details Global Forum that Lindner was heading
Brazilian history. about the report. Even without being was already in Rio on that morning. He
Some weeks before the Rio 92 con- given access to the text we realised that was completely perplexed by the publica-
ference began, one of the president’s the highly serious accusation was not tion of the material. Obviously Lindner
brothers, Pedro Collor had given an backed by any declaration on the record himself and the president of the Rio 92
explosive interview to the weekly Veja or by documents and that the author of Conference, philanthropic Canadian
magazine denouncing a scheme of traf- the supposed news scoop had not heard businessman Maurice Strong, strongly
ficking influence and misappropriation Lindner himself as common sense and denied the veracity of the malicious
of public monies commanded by the the most elementary manual on journal- information. The newspaper had no
businessman Paulo Cesar Faria, a part- ism would surely call for. Faced with our substantiated information to sustain the
ner in the Collor family’s business in objection to the publishing of such mate- publication of such a news item and had
the field of communication in the city of rial we were told that the Federal Police let itself be led astray by an unscrupu-
Maceio. He was the former head of Fer- had a dossier on the matter. We asked to lous journalist. Waak and I were called
nando Collor’s presidential campaign be shown the dossier but were told that it in once more and asked what we thought
and one of the most influential figures would only be available on the following the paper should do. We said that having
of the Republic. The climate of im- day. Waak and I suggested that it would quite deliberately trampled its own code
minent catastrophe that the interview be best to wait until the following day, of ethics and that of journalism as a
installed severely reduced the space examine the dossier, hear Lindner’s side whole in the dust, not to mention failing
available for the government and the of it and only then publish the material, to use the most elementary common
nation to fully enjoy the benefits of the if it all proved to be substantiated. We sense, on the following day the paper
initiative of hosting the Rio 92 event were then informed that a decision had should publish a headline contradict-
in spite of the strenuous efforts of then already been made and the sensational ing the one of the day before or, at the
Minister of Foreign Affairs, Celso Lafe, report would certainly be published the very least, publish a text admitting its
the Minister of Justice, Célio Borja, and following day. The argument in favour mistake and apologising to the accused
of Finance, Marcílio Marques Moreira, of publishing was that, although the and to its readers.
who from that moment on constituted source remained anonymous, it was a Unfortunately, that was not done.
themselves as a kind of informal na- government employee. Once again Waak On June 9, the Estado published a news
tional salvation committee within the and I insisted that if the source was an item affirming that the director of the
larger sphere of a government that was employee in the government of president Federal Police, Romeu Tuma, when
rapidly becoming unviable. Collor whose own brother accused him of questioned by the Minister of Justice,
At the Rio 92, that climate of sus- the crime of corruption, then all the more Célio Borja, had denied the existence
picion created by the Collor scandal reason for not publishing the material of any such dossier on Lindner or that
contributed to one of the most regret- but rather, investigating the facts more any investigation had been under-
table incidents of bad journalism that I profoundly. We lost the battle. We were taken into the finances of the Global
have ever seen in all the 38 years of my told that in spite of the problems we had Forum. Two days later, the Jornal do
professional work. Some days after the pointed out, if it delayed publication for Brasil, in the English language edition
conference began, William Waak and I another 24 hours, the newspaper would it published during the conference,
were called to a meeting with our team be running the greater risk of seeing the cleared the matter up. During a collec-
coordinator. One of the newspaper’s col- information leaked to its competitors and tive interview given by Lindner, Strong,
laborators had obtained some stunning losing the advantage of a great scoop. scientist Albert Sabin and the Mayor of
information. It was going to be head- The following day, June 6, on the Rio, Marcelo Alencar, it was announced
lined by the paper on the following day cover of the special insert edition and a that the Global Forum had paid off the

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 135
© WWF-Brazil / Juvenal Pereira

WWF Living Amazon Initiative

US$ 2 million debt it had run up in the official Brazilian delegation to the Rio on various issue that the United Nations
preparatory stages leading up to the 92 conference there were various senior organised in the wake of the Rio 92. The
conference. The newspaper also stated diplomats whose careers had prospered Brazilian delegations improved consid-
that the United Nations Development under the military governments and erably in the aspects of quality and being
Programme had contributed US$ 500 the Sarney administration. All of them more representative. They no longer
thousand, the governments of Germany, were declared adversaries of the NGOs, represented the point of view of the
Austria and Canada had contributed the same figures that in later years were State alone, but rather, the nation, which
US$ 400 thousand, the Banco Real bank to be used by unscrupulous politicians was then engaged in the difficult task
had passed over US$ 750 thousand and of various parties as instruments for of constructing what has become the
that those sums together with contribu- siphoning off public funds for personal successful experience of democracy with
tions from NGOs had been sufficient to use or to finance election campaigns or economic stability and social progress in
meet the debt. pay off their political debts. the developing world which it is today, in
“It is a really gross accusation”, In 1994, when I was sent to cover the spite of all that still needs to be done.
declared Strong, to an audience of United Nations Conference on Popula- Inspired by the presence in the Brazil-
hundreds of reporters from all over the tion and Development in Cairo, I tried to ian delegation of professor Elza Berquó
world – part of the contingent of around register in the newspaper what went on and the militant feminist Jacqueline Pi-
2 thousand that covered the Rio 92 con- in wings of that lamentable and perfectly tanguy I wrote an article entitled ‘Barrier
ference. “Somebody was trying to cast a avoidable episode of two years earlier. between Itamaraty and NGOs falls’. In
dark shadow over the Global Forum. It By then President Itamar Franco, who the course of that text I narrated the sad
was disgusting. The Global Forum is the succeeded Collor, had appointed sena- episode of the false accusation against
very soul of the Rio 92.” tor Fernando Henrique Cardoso as his Lindner at the Rio 92, just to underscore
I have no doubts whatever that Strong Minister of Foreign Affairs and in that how much the official government view of
was completely right in his assessment office Fernando Henrique Cardoso the NGOs’ role had changed in two short
of what was behind the deliberate plant- had begun a process of opening the years. The newspaper’s directors at the
ing of that false information. The author doors of Itamaraty to civil society. The time, however, thought it was better not
of that repulsive report was a political NGOs, once viewed with horror by our to stir up the past.
crony of José Sarney, former president diplomats, now began to accompany Warren Lindner, who was living with
and nowadays a Senator. Also, in the official delegations to the conferences HIV/AIDS, died in the year 2000. With

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 136
WWF Living Amazon Initiative

the exception of a few editorialists, I sphere in which the Conference was held for some days in Rio, the language used
am probably the only ex-reporter still was highly charged, the atmosphere that in the draft text for the Convention on
associated to the newspaper. Although prevailed in the ‘Wonderful City’ of Rio Biological Diversity that Reilly had ne-
I officially left it in 2006, I still con- was not very inviting either. To ensure gotiated in the most difficult conditions
tribute occasional analyses and articles the security of the thousands of foreign was leaked to the press in Washington
expressing opinions. This invitation visitors, the federal Government had or- and the reaction to it was just what
proffered by WWF to remember the dered a military occupation of key points could be expected from the conserva-
Rio 92 has given me an opportunity to in the city that was in no way discreet – tives in the American Congress, in the
revive the memory of that episode and much to the satisfaction, it may be said, executive branch and in the corporative
I do so here, with the full awareness of of a considerable part of its residents, lobbies around the world. In a speech
the Estado’s board. tired of the waves of violence that were delivered in Washington, Quayle pulled
The atmosphere of crisis that was sweeping the city. the carpet from under Reilly’s feet and
taking hold of Brazil at the moment the One memorable scene was of a tank publicly criticised the stance taken
Rio 92 was beginning, curtailed the that the army had stationed right behind by the United States delegation to the
government’s actions at the conference. the Sheraton Hotel in the São Conrado Conference. Parliamentarians belonging
I remember very well a conversation district at the point where the slums of to the Democratic opposition who were
that I and my colleague William Waack, Rocinha lap the edges of the asphalt of actually members of the USA’s official
who at the time was Estado’s correspon- the Niemeyer Avenue, and its monstrous delegation, among them Al Gore, from
dent in Berlin, had in the early days of cannon was pointed straight at the Tennessee, Tim Wirth, from Colorado,
the Conference at the Riocentro with slum. When I arrived at the Riocentro, and John Kerry, for Massachusetts, at-
ambassador Rubens Ricupero, who I remarked to ambassador Bernando tempted to help Reilly and the Ameri-
headed the negotiations on the Amazon Pericás, leader of the Committee for For- can delegation’s top negotiator Michael
Treaty in the 1970s and who was later to ests, how awkward I had felt on seeing K. Young to handle the fiasco but the
become Brazil’s ambassador to Wash- that army tank that was actually target- damage had already been done. On
ington, Minister of the Environment ing the people in a Rio de Janeiro so his return to Washington, Reilly sent a
and of the Finance and Director General full of foreign visitors from all over the message to the employees of the Agency
of UNCTAD. At the conference he was world that passed by there every day on declaring that he had been the target of
chairing its most important discussion, their way to the Riocentro. “At least the political sabotage. “to me personally, it
conducted by the Financial Committee commander could have ordered them to was like a Bungee Jump . You leap off
in which the object of discussion was point the cannon out to sea”, I suggested with your feet tied to a rope... it is hardly
the percentage of the GNP that the rich “The problem is, that if they do that, the usual for somebody to come along and
countries, led by the Nordic countries people will rush down from the hillsides cut the rope”. But in fact, that is exactly
and the Netherlands, were prepared to and take over the tank”, relied the am- what happened. The United States did
commit to be destined to the poorest bassador, sarcastically. sign the Convention in June of 1993, but
countries under the heading of “official Much more embarrassment than up until today they have never ratified it.
aid for development”. that, however, was reserved for William The Convention has a 193 member coun-
“There are a lot theatrics in diplo- K. Reilly, a widely respected environ- tries. The only countries that have not
macy”, Ricupero remarked during our mentalist, whom then President George fully adhered to it, alongside the United
conversation. “Being a negotiator of the H.W. Bush had entrusted with the States are Sudan, Andorra, and the
host country there are moments when command of the United States Envi- Holy See. Back in 1992 the Americans’
you would love to be able to lean back on ronmental Protection Agency. He was objections were mostly associated to
the scenery without being afraid that it head of the US delegation to the Rio the convention’s clauses on the transfer
will all come tumbling down, but that 92. In the first days of the conference, of technology to developing countries,
is something I cannot do”, the diplo- Reilly negotiated a text that he believed which they saw as a potential threat to
mat confided referring to the scandal would make it possible for his country to the intellectual property rights held by
that was circling the government and adhere to the Convention on Biological American corporations. Furthermore,
threatening the stability of the republic. Diversity which was to be the Confer- Washington thought that the language
Indeed at that very time the scenario ence’s most important result. The big used in the Convention to express the
created by the Collor government was on American corporations and their allies obligations to provide financial as-
the point of collapsing. In September the in the Republican party were against the sistance were excessively vague. Not
President was to be removed from power Convention and were running a lobby to one other developed country expressed
by an act of Congress, which refused to ensure that America would not adhere to or shared that attitude. Initial efforts
recognise his attempt to renounce office it. They had no lack of allies in the Bush made by the Barack Obama government
and preferred to suspend his political administration and one of them was towards achieving ratification did not
rights for a period of eight years. Bush’s vice president, Dan Quayle. After get ahead and very little can be expected
If it is true that the political atmo- the Conference work had been underway of the United States, a country that in

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 137
WWF Living Amazon Initiative

Whether and how Brazil consolidates its position of


leadership in various aspects of the discussion will depend
on the policies that we adopt in the coming years in regard to
administering the formidable natural assets and biodiversity
that we are home to in the extension of our national territory.
Those decisions mean making choices that call for knowledge,
competence, dedication and courage.

spite of having an extremely impressive ties related to environmental issues are come a long way and in democracy and
array of universities and centres of ex- multiplying and becoming more special- democracy alone we can go on to make
cellence in scientific research, from 1992 ised. Nowadays the theme is present in much more progress.
on, has become a centre of resistance to the news and discussions transmitted by I do not think you need to be an ex-
the application of scientific knowledge to the national media and is even present pert to say that the nature of the Rio+20
fundamental issue such as health (trunk in conversations among ordinary people. event and the international context and
cells) and the environment (climate Also, it is perfectly obvious that Brazil situation that it finds itself in recom-
change). Because of that, the Washing- has come to occupy a much greater space mend that our expectations should be
ton government is coming to the Rio+20 in the discussions on environmental is- low in regard to the eventual impacts the
Conference with very little credibility sues that have global impacts. event might have. The Rio 92 was the
or space and with a stance that makes it Whether and how Brazil consolidates culmination of a negotiation process and
unfeasible for it to exercise the kind of its position of leadership in various it delivered results, like the Convention
leadership it should at the Conference aspects of the discussion will depend on Biological Diversity and the Agenda
Although the Wilson Center has ac- on the policies that we adopt in the 21 Document. Its Central theme was
companied environmental discussions coming years in regard to administer- explicitly, the environment. The Rio+20
ever since 1992 and has organised vari- ing the formidable natural assets and however, has a more ambitious scope –
ous conferences on different aspects of biodiversity that we are home to in Sustainable Development – the frame-
the issue, with a special focus on politi- the extension of our national territory. work for the beginning of a negotiation
cal issues of relevance for Brazil and its Those decisions mean making choices process. It seems fairly clear that in the
relations with the United States and the that call for knowledge, competence, eyes of the host country, as in the eyes of
International Community, I personally dedication and courage. The discussion other important emerging nations that
do not consider myself to be a special- circling the Forest Law reform is just the are currently responsible for making the
ist. Accordingly, I leave it to others, first of many battles that will have to be world economy more dynamic, the con-
better equipped than I to provide more waged on these issues. Some years ago, ference represents a moment to unfold
detailed answers to the Questionnaire. Rubens Ricupero wrote that Brazil has a discussion in which environmental
I will limit myself to calling attention the necessary conditions and assets to policies must make way for the priorities
to just a few points. The first is that in emerge as an environmental power in a of economic growth accompanied by a
Brasil in the last twenty years much has world where climate change, increased better social distribution of its results
been done to incorporate the issues of demand for food, energy and natural re- within the countries and among them.
the Rio 92 event to the national agenda. sources like water become increasingly The challenge here is to develop a
The first of them is that today there are important on the agendas of the global sustainable development agenda in
many Brazilian companies of all sizes economy and in the spheres of interna- the global sphere and to ensure that it
that have sustainability departments. tional peace and security. This is a call to is substantive and feasible in a world
Civil society organisations with activi- reflect. In terms of democracy, we have where, despite the progress achieved in

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 138
WWF Living Amazon Initiative

raising people’s awareness in regard to among the very few pieces of good news
the social and economic impacts result- circulating on the eve of Rio+20.
ing from ignoring environmental issues, Finally, a word on the effects that the
there is an outstanding lack of leaders loss of vitality so evident in the debate
with the political courage to construct on the environment in Europe and the
basic agreements on the reduction of GG United States, have on European and
emissions that cause global warming American NGOs. Essential, as they
The the negative evaluations of Bra- are, to vitalise the UN’s great thematic
zil’s eforts to produce such na agenda are conferences, the NGOs are also coming
not surprising. If any possibility actually to the Rio+20 with their headlights
exists for defining an innovative agenda dimmed. Barred by the political real-
for the Rio+20, obviously the Brazilian ity they operate in from moving their
government has not found it. In turn, he agendas forward, they run the risk,
world itself is not in a daring mood . now more than ever, of appearing to be
Paralysed by their own polarizing engaged in obtaining in other latitudes
domestic crisis, the United States, as I successes they were unable to obtain
have said, are far behind in the debate at home. That, combined with the
on environmental issues. On the eve of ill repute that NGOs as a whole have
the presidential elections, the Repub- acquired recently in the host country as
lican candidate Mitt Romney, who, the result of their being used improp-
when he was governor of Massachusetts erly as a means of operating corruption
aligned himself with modern positions schemes by supposedly ‘progressive’
on climate change, has now reneged on political parties, has introduced a
his past statements and is flying the flag considerable challenge to their cred-
of active ignorance that permeates the ibility. Added to that are recent failures.
discussion in the USA on the single most The missionary zeal with which various
important global issue that human- NGOs embraced the movement against
ity has ever had to face. Anxiety not to the construction of the hydroelectric
give the Republicans any ammunition plants on the Madeira and Xingu rivers
to use against him in this year’s presi- has shown itself to be entirely unfruit-
dential campaign will probably make ful in every way, except perhaps as a
President Barack Obama stay away vehicle for fund-raising campaigns.
from Rio and leave him with no appetite
for environmental questions. Europe’s
AS I stated at an event I took part in
at the WWF in Washington, displaying
PAULO
economic crisis, in turn, will reduce the
Old World’s enthusiasm for any daring
plans. The Europeans, who have actually
images in the United States and other
countries of indigenous families affected
by those great energy projects may be
SOTERO
incorporated sustainability practices beneficial for the conscience of NGO
into their daily lives much faster than militants, insofar as it nurtures the con-
any other peoples since the Rio 92 event viction that they are working for a good
are also showing signs of backsliding. cause. As a strategy however, it has a
The justifiable fear of nuclear energy very limited impact on Brazilian society.
revived by the Fukushima catastrophe The new Brazilian middle class is inter-
has led Germany to gradually ban the ested in the quality of life and comfort
use of that source of energy and that fact that depend on greater economic growth
will inevitably lead to a rise in Carbon and increasing energy production. Con-
emissions on the part of Europe’s big- ciliating that demand for better quality
gest economy. China, on its way up, and of life and a form of economic growth
already champion of the world in carbon rooted in the rational use of natural re-
emissions, has now discovered, however, sources and innovative processes for the
that producing and trading equipment production and distribution of tangible
and processes for a green economy is a and intangible goods is the great chal-
good way to address pollution at home lenge of the 21st century that the Rio+20
and make a lot of money overseas. That could start to delineate.
fact and the moderation of China’s
growth over the coming years may be

Series Rio 92 what did it lead to? Rio +20 what will it lead to? p. 139
SERIE ¿ADÓNDE FUE
A PARAR RIO 92?
¿ADÓNDE VA RIO+20?
ENTREVISTAS
Photo: Zig Koch
WWF Iniciativa Amazonia Viva

Entrevista

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92?


¿Adónde va Rio+20?

Ecuador, que lleva más de 30 años res de la sociedad para que se interesa-
dedicada a la búsqueda de soluciones ran por el programa de Rio 92. Esa fue
para el hombre y el medioambiente. mi responsabilidad y, como decía, me
Vea a continuación la entrevista que entusiasmó mucho, aunque el proceso
© WWF-Canon / Elma Okic

Kakabadse nos concedió por escrito. fuera también muy intenso. Yo aprendí
mucho, y creo que todos nosotros, como
¿Qué hacía usted cuando se celebró Secretaría, hicimos una contribución
Rio 92? ¿Recuerda algún episodio que importante, incluso en el sistema de las
marcara aquella conferencia? Fue un Naciones Unidas en su conjunto.
privilegio formar parte del equipo de
Rio 92, donde me ocupé de organizar ¿Qué países tuvieron una participación
y controlar si todo avanzaba bien en lo más destacada en Rio 92? ¿Cómo fue la
relativo a la participación de la sociedad participación de los países de América
civil. El secretario de la conferencia, Latina? Rio 92 fue una decepción. Muy
Maurice Strong, insistió mucho en que pocos países de América Latina enten-
quería garantizar la participación de la dieron plenamente el significado de la
YOLANDA sociedad civil en la conferencia, y eso
era algo pionero, pues no había sido la
conferencia; muy pocos invirtieron en la
preparación para las negociaciones o en

KAKABADSE costumbre en las conferencias de las


Naciones Unidas hasta entonces.
una fuerte participación en las propues-
tas para definir el programa. Colombia
Rio 92 es la conferencia que abrió fue uno de los países que trabajaron bien
Rio 92 supuso un hito en la participación las puertas a la sociedad civil, y al en su preparación y que contribuyó efec-
de la sociedad civil en el debate de hablar de sociedad civil lo hago en su tivamente a mejorar el lenguaje usado en
las políticas públicas, la economía y sentido más amplio, refiriéndome a las negociaciones en sí. Pero creo que la
el medioambiente. Y aunque fue una todo lo que no fueran los gobiernos contribución de la región en su conjunto
conferencia histórica, podría haber centrales. Los parlamentarios, por fue bastante débil. Creo que dejamos
tenido mucha más trascendencia si las ejemplo, por medio de la Unión Inter- pasar aquella oportunidad. Ahora, en
delegaciones de los países hubieran parlamentaria, las autoridades locales 2012, me parece que estamos mucho más
estado más preparadas para el debate a través de su propia asociación, preparados, hemos logrado llevar ese
y la toma de decisiones. Por ello, cabe los pueblos indígenas, los jóvenes... debate a la esfera de nuestros gobiernos y
pensar que Rio+20 podrá ir más allá y Diversas organizaciones de clase, de nuestras propias sociedades. Hay una
convertirse asimismo en un hito para el como las cámaras de comercio y otras conciencia mucho mayor sobre los riesgos
desarrollo sostenible. agrupaciones de todo el mundo, desde de la inacción y espero que América
Ese razonamiento ponderado, la Asociación de Astronautas hasta las Latina sea un protagonista clave en este
capaz de observar las contradicciones menores organizaciones no guberna- nuevo proceso de negociaciones.
de los procesos de negociación, es de mentales de Nepal o de Bolivia.
la ecuatoriana Yolanda Kakabadse, Fue fantástico el proceso de conse- ¿Cuál fue el principal legado de Rio
presidenta internacional de WWF, guir la participación de la gente, hacer 92? Estoy convencida de que, a pesar
exministra de Medio Ambiente de un llamamiento a los diferentes secto- de que la conferencia de Estocolmo ya

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 142


WWF Iniciativa Amazonia Viva

hablara en 1972 sobre la inclusión del el desarrollo económico tiene muy fuer-
medio ambiente en el proceso de desa- tes implicaciones para nuestra manera
rrollo, la conferencia de 1992, a través de gestionar los recursos naturales. No
de los documentos que produjo, reforzó existe la posibilidad de desarrollo de
la importancia de ir más allá del mode- ningún tipo a no ser que utilicemos los
lo habitual de negocios en que todos es- recursos actualmente disponibles sin
tábamos inmersos en aquella época. La dejar un déficit, sin sacar más de lo que
conferencia se apoderó realmente del tenemos y más de lo que el planeta logra
debate político, de la necesidad de hacer proveer. Por lo tanto, considero que
del medioambiente el punto central del Rio+20 tiene el desafío de garantizar
desarrollo, no simplemente mejorando que entendamos claramente que la «eco-
algunas áreas de la agenda verde, sino nomía verde» consiste en el uso racional
situándolo como una parte integral del de los recursos naturales, garantizando
desarrollo, del desarrollo económico que los beneficios de ese uso se distri-
y del desarrollo social. Se trató de la buyan de forma igualitaria entre los
tecnología, de las industrias, del papel diversos sectores de la sociedad en los
del sector privado y del de la comunidad diversos países o regiones del planeta.
académica. Así que fue un mensaje muy
fuerte y acabó dando lugar a compromi- ¿De qué forma pueden el sector em-
sos de los que querían tratar el medio presarial y la sociedad civil contribuir
ambiente como algo de verdadera de manera efectiva a la conservación
importancia para el desarrollo. del medio ambiente y al desarrollo
sostenible? Los sectores privados
Entre las resoluciones de Rio 92, ¿hay en la sociedad civil son actores clave
algún ámbito en que no se hayan para inducir cambios por parte de los
registrado avances? Hay varios niveles gobiernos. Yo formé parte del gobierno,
de realización, algunos más notables y sé que solo se puede avanzar en una
que otros. Creo que, entre lo que surgió determinada dirección más o menos
de Rio 92, un elemento que no fue lo rápidamente en la medida en que las
suficientemente fuerte fue la ética. La sociedades se dispongan a avanzar. La
ética y la equidad son parte de un com- presión para lograr cambios en una
promiso social que debemos asumir si política pública suele proceder de la
queremos garantizar la sostenibilidad. sociedad y, en este caso, los sectores
No tendremos la posibilidad de pensar privados de la sociedad civil tienen un
o actuar de una forma distinta para potencial enorme para colaborar: en la
lograr el desarrollo sostenible si no innovación tecnológica, en el cambio de
enfatizamos la necesidad de adoptar los patrones de desarrollo, en la adop-
patrones éticos que garanticen la jus- ción de una visión de mucho más largo
ticia social, la igualdad entre todas las plazo de la que hemos tenido hasta
personas en todos los países, indepen- ahora, y en la creación de una concien-
dientemente de sus orígenes o del lugar cia pública que ejerza una presión que
del planeta en que vivan. Creo que a obligue a los gobiernos a moverse. Y
esa cuestión no se le concedió la debida también creo que los gobiernos locales
importancia y es un elemento pendien- son actores clave, incluso más que los
te que espero que se trate en Rio+20. gobiernos nacionales, para implemen-
tar programas y convertir las ideas en
¿Cuál debería ser el principal resultado realidad. Los gobiernos locales de todo
de Rio+20? Uno de los retos de Rio+20 el mundo se han convertido ya en socios
es el programa de la economía verde. clave y ese triángulo entre gobierno
Creo que lo que nos propusimos en Rio local, sector privado y grupos de la so-
92 se expresa ahora, en esta ronda, en ciedad civil es una unión perfecta para
un lenguaje diferente, quizás en térmi- implementar acciones, para mostrar
nos más prácticos, que harán posible que hay una posibilidad real, que la
una comprensión mejor por parte de sostenibilidad no es solo una parte del
los diversos sectores sobre qué es lo que discurso, sino parte de un hermoso y
queremos decir cuando afirmamos que fantástico desafío.

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 143


Cock of the Rock / WWF Guiana
WWF Iniciativa Amazonia Viva

¿Cuál es el papel de las economías actuales para el planeta, y me refiero


emergentes —como los BRICS— en el a todas las sociedades de todos los
impacto y las soluciones a los proble- continentes. Los alimentos, el agua
mas ambientales? Yo diría que al hablar y la energía son tres elementos que
de economías emergentes tendemos a determinarán el nivel de desarrollo de
pensar más en sus responsabilidades todas las sociedades en las próximas
futuras. Los BRICS destacan por el ta- décadas. Y también representan los
maño geográfico de sus países y por su tres elementos de una agenda que, ac-
población, y tienen oportunidades por- tualmente, se encuentran en situación
que todos ellos tienen un capital natural de mayor riesgo debido a los impactos
enorme. Por ello, los BRICS, las socie- del cambio climático. Los alimentos,
dades emergentes, tienen el potencial, la el agua y la energía constituyen el
capacidad y la obligación de responder a principal problema, especialmente
las discrepancias y a la pobreza que sue- para las comunidades vulnerables,
len derivarse de la mala administración generalmente los pobres, los ancianos
de la economía nacional o de la falta de y, obviamente, las generaciones más
una visión sobre cómo crear riqueza. jóvenes. Por lo tanto, la elección de
Lo que en ocasiones me preocupa es estos tres temas para nuestro trabajo
que, aunque son países emergentes con y la contribución de WWF a Rio-20
tanto potencial, con cierta frecuencia se impulsarán y movilizarán el debate,
comportan igual que un típico país en las discusiones y —si se cumplen las
desarrollo, es decir, esperando siempre esperanzas de todos— los acuerdos.
el apoyo y la contribución del Norte para
sus propios programas de desarrollo. ¿Cuál es la solución de futuro para la
Lo que quiero decir con esto es que las Amazonia, para Brasil y para América
economías emergentes tienen que tomar Latina? La Amazonia es, sin duda, uno
realmente las riendas y mostrar a los de los ecosistemas más importantes,
países desarrollados y a los países en en particular para América Latina y
desarrollo que podemos hacer mucho América del Sur, pero también para
más de lo que hemos venido haciendo todo el planeta. El equilibrio que aporta
hasta ahora. en cuanto a las condiciones climáticas
No creo que ahora, a comienzos del de la región y, por lo tanto, a la produc-
siglo XXI, podamos decir que ya que los
demás han destruido o contaminado el
ción de alimentos y a la estabilidad de
las sociedades rurales y urbanas es de
YOLANDA
planeta en las últimas décadas, nosotros
tenemos que imitarlos o dejar implemen-
tar rigurosamente nuestras propias polí-
suma importancia. Tomar decisiones
que permitan garantizar la estabilidad
de la cuenca amazónica es responsa-
KAKABADSE
ticas de sostenibilidad. No creo que fuera bilidad no solo de Brasil, sino de todos
justo ni para nuestra sociedad ni para el los países de la región y del planeta en
resto del planeta. La información es lo su conjunto. Y confío en que el actual
que nos conduce a actuar de manera más gobierno de Brasil hará lo que sea nece-
sabia hoy y de cara al futuro. Por ello, sario para garantizar dicha estabilidad.
espero que en esta conferencia las eco-
nomías emergentes, así como los países ¿Tiene esperanzas respecto a nues-
en desarrollo y todos los demás, adopten tra vida futura en este planeta? Por
una posición fuerte y un compromiso que supuesto, todos tenemos esperanzas.
reconozca que no podemos seguir siendo Esto es demasiado hermoso como para
tan débiles en relación con las diversas abandonarlo sin más. Creo que lo que
leyes que regulan el desarrollo. une el sentimiento de todos los que for-
mamos parte de WWF y de todos los
Desde la perspectiva del acceso de demás grupos ambientalistas y líderes
los ciudadanos a los alimentos, el de todo el mundo que se preocupan por
agua y la energía, ¿cómo deben ver la salud del planeta, es el optimismo
los gobiernos y la sociedad el medio de creer que podemos hacer las cosas
ambiente? Creo que WWF ha capta- mejor de lo que lo hemos hecho hasta
do bien la esencia de las prioridades ahora y que, de hecho, lo lograremos.

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 145


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Entrevista

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92?


¿Adónde va Rio+20?

obsequioso» que determinaba Roma. con la Tierra que no era considerada


Tras ser censurado debido a la un almacén de recursos explotables,
teología de la liberación, el Vaticano sino como la gran casa común que de-
quería que abandonase Brasil y bíamos cuidar. Había una mística que
cumpliera «silencio obsequioso» en un unía a todos, en el amor a la Tierra, en
Alexandre Monteiro

convento de Corea o de las Filipinas. la reconciliación por encima de las di-


Leonardo Boff no aceptó aquella ferencias. Parecía que estaban forjando
nueva imposición de silencio y decidió otra humanidad diferente, respetuosa
alejarse de la Iglesia. con la naturaleza y con las diferencias
Además de ese hito en su y fraterna. Para mí fue un momento
trayectoria personal, Leonardo inolvidable, porque tras un debate so-
Boff recuerda la atmósfera de la bre religión y paz en que participé y en
conferencia. Según él, había «una que critiqué duramente a las religiones
mística que unía a todos, en el amor a abrahámicas por su beligerancia, un
la Tierra, en la reconciliación de todos cardenal espía del Vaticano, el carde-
más allá de sus diferencias. Parecía nal Baggio, me buscó y me dijo: «Usted
LEONARDO que allí nacía otro tipo de humanidad
respetuosa con la naturaleza». Esa
no aprende nada con el “silencio
obsequioso”. Tiene que salir, no solo de

BOFF imagen es radicalmente diferente de


las expectativas sobre Rio+20 y sus
Brasil, sino de América Latina. Puede
elegir entre Corea o Filipinas. Pero
preparativos. En su opinión, el texto de tiene que salir». Yo le pregunté: «¿Pero
Rio 92 supuso un punto de inflexión base, por ejemplo, «es una vergüenza en aquellos países podré enseñar
en la historia personal de Leonardo para la inteligencia mundial (…). Es teología y continuar escribiendo»? A lo
Boff, miembro del Consejo Central de un documento conmovedor en cuanto que me respondió: «Debe permanecer
la Carta de la Tierra, teólogo, fi lósofo, a su buena voluntad, pero ingenuo en silencio obsequioso en el convento».
conferenciante y escritor, pues fue en lo tocante a la autocrítica y a la Yo le respondí: «La primera vez, acepté
durante aquella conferencia cuando presentación de las propuestas que el silencio en señal de humildad; eso
decidió abandonar la Orden de los hace», dice con la misma franqueza fue una virtud. Ahora, ese silencio
Frailes Menores (franciscanos), en que asustó al «cardenal espía» impuesto es manifiestamente injusto y
la que había ingresado en 1959, con hace 20 años. Vea a continuación representa un pecado; y eso no lo acep-
apenas 21 años. la entrevista que Leonardo Boff le to.» Y replicó: «Tiene hasta mañana a
Durante aquel evento, hace dos concedió por escrito a WWF. mediodía para tomar una decisión.» Yo
décadas, en Rio de Janeiro, participó le respondí: “Ya he decidido. Aban-
en un debate sobre religión y paz y ¿Qué hacía usted cuando se celebró dono una trinchera pero no la lucha.
criticó el judaísmo, el cristianismo y Rio 92? ¿Recuerda algún episodio que Me autopromuevo al estado de Jesús,
el islamismo «por su beligerancia». marcara aquella conferencia? El even- que no era sacerdote y mucho menos
Boff fue advertido por un «cardenal to, como tal, era la expresión de un cardenal, pues era un seglar de la
espía del Vaticano», que se quejó de tipo de pensamiento y una visión del tribu de David, en la que nada se dice
que no estaba cumpliendo el «silencio mundo diferentes, y de una relación sobre el sacerdocio». Y entonces tuve

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 146


WWF French Guiana / Roche Savanne

No queremos el fin del mundo. Lo que queremos es el fin de este tipo


de mundo hostil a la vida, a la solidaridad, a la compasión y al amor.
WWF Iniciativa Amazonia Viva

que abandonar la orden franciscana y que haber sido el eje en que se basaran los mercados, las monedas, el sistema
dejar el ministerio sacerdotal. No es todos los demás proyectos. Nació algo económico-financiero, y no la vida, la
un recuerdo agradable. Lo peor fue la notable y perenne: el programa 21. humanidad, el futuro de nuestra civili-
absoluta falta de cortesía del cardenal, Pero se quedó como en una nebulosa, zación y la preservación de la vitalidad
que fue nuncio apostólico en Brasil. sin una visión de conjunto del planeta, de la Tierra. Y así, solemnemente, nos
Al extender la mano para saludarlo, él de los ecosistemas interconectados. En dirigimos hacia un posible y previsible
retiró la suya. Y recordé a San Fran- aquel momento, Mijaíl Gorbachov, el desastre ecológico-social. Pero cre-
cisco, que saludaba todos y se hizo ex secretario general del comité central cerá, dialécticamente, la consciencia
amigo hasta del feroz lobo. ¿Por qué del Partido Comunista de la Unión So- de la humanidad, representada en la
yo, franciscano, debería ser diferente viética, Maurice Strong, subsecretario Cumbre de los Pueblos. Ellos tratan las
y no entender la rudeza de un cardenal general de la ONU, y el primer minis- verdaderas cuestiones, confiando en
de mente estrecha y lleno de espíritu tro holandés, Rudd Ludders, propu- que «cuando una idea llega a su madu-
de venganza? sieron la idea de hacer una consulta a rez, nadie más puede detenerla y se im-
la humanidad y elaborar una Carta de pondrá y creará un nuevo curso para
¿qué países tuvieron una participación la Tierra, que se hiciera de abajo hacia la historia». Nos salvaremos e inaugu-
más destacada en Rio 92? ¿Cómo fue arriba, partiendo de los pueblos y no raremos una nueva forma de habitar el
la participación de los países de Amé- de las burocracias estatales. Parti- planeta, más respetuosa hacia la vida y
rica Latina? No sé qué países latinoa- cipé en aquel debate y sugerí que se más solidaria para con todos los seres
mericanos participaron. Lo que sí sé es invitara a Paulo Freire, pues en todas humanos, especialmente con aquellos
que el novedoso gran actor que emer- esas cuestiones hay un problema de que sufren.
gió en Rio 92 fueron las mujeres. Ellas, pedagogía, y no había nadie mejor que
en su pabellón Femenina, que siempre Paulo Freire para tratar esta cuestión. ¿Qué opinión le merece el texto de
estaba lleno, organizaron excelentes Tras su muerte, yo entré con fuerza base de Rio+20? Ese documento es
debates y significativos rituales. Diri- para elaborar un borrador en represen- una vergüenza para la inteligencia
gieron críticas muy contundentes al tación de las Américas, cuya versión mundial, después de tantos años ha
patriarcalismo que se esconde detrás final fue bastante aprovechada. acumulado pensamiento y experien-
del proceso industrialista/consumista cias sobre la crisis de la Tierra. Es un
y que está en la raíz de nuestra cultura Entre las resoluciones de la conferen- documento conmovedor en cuanto a
de dominación. cia, ¿hay algún ámbito en que no se su buena voluntad, pero ingenuo en
hayan registrado avances? Creo que lo que respecta a la autocrítica y a la
¿Cuál fue el principal legado de la se ha avanzado en la conciencia de la presentación de mediaciones para las
conferencia de Rio 92? Los frutos responsabilidad, primero sobre la res- propuestas que hace. Los tres temas
fueron escasos, pues si no no estaría- ponsabilidad social de las empresas, y centrales, la sostenibilidad, la gober-
mos en la delicada situación en que luego sobre la responsabilidad socio- nanta global y la economía verde, nos
nos encontramos. Pero se escuchó ambiental. Lo más importante fue la definen claramente ningún momento,
del Grito de la Tierra, se extendió la creación de una conciencia ecológica dando la impresión de que quisieran
conciencia de que somos responsa- colectiva, que dejó de ser algo de los ocupar las mentes pensantes mundia-
bles de nuestro futuro común. En Rio verdes y pasó a ser de toda la sociedad. les y los movimientos para no ocupar-
92 se consagró la ambigua expresión Y creció más y más si sigue aumentan- se de los verdaderos problemas que
desarrollo sostenible, que indica que do la conciencia de que, tal como están afligen a la humanidad: el modo de
no podemos seguir con la salvajada del las cosas, no podemos seguir. Debemos producción que devastaron naturaleza,
tipo de desarrollo dominante, que no cambiar. De lo contrario, vamos al las desigualdades (injusticias sociales)
es desarrollo sino crecimiento material encuentro de lo peor. y la urgencia de modelos alternativos
a cualquier precio. La categoría de la de consumo de los límites alcanzados
sostenibilidad ocupó un lugar central y ¿Cuál debería ser el principal resulta- en la Tierra, que no consigue reponer
se instaló definitivamente en el debate. do de Rio+20? No espero nada de los lo que sacamos de ella.
Se puso sobre la mesa la cuestión de la jefes de Estado. La mayoría ni asisti-
distinta contribución de todos los paí- rán; enviarán a ministros sin poder de ¿De qué forma pueden el sector em-
ses para enfrentar la crisis ecológica, decisión. Todo termina en un calle- presarial y la sociedad civil contribuir
la lucha contra el hambre y la miseria. jón sin salida: ¿quién financiará las a la conservación del medio ambiente
Se apuntó por vez primera al consi- medidas que eventualmente se tomen? y al desarrollo sostenible? Mientras no
derable calentamiento del planeta, Todos alegan que no tienen dinero, que surja un nuevo paradigma de relación
aunque no ello tuviera consecuencia están en una crisis económica y finan- con la naturaleza y con la Tierra y
alguna. Para mí, la mayor limitación ciera y que no pueden ayudar. Como sigamos con este modo industrialista/
de toda la conferencia fue el rechazo trasfondo está la perversa visión ca- consumista/individualista, no se pue-
de una Carta de la Tierra, que tendría pitalista neoliberal: lo que cuenta son de esperar ningún cambio sustancial

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 148


WWF Iniciativa Amazonia Viva

para mitigar la crisis generalizada. Las ambiente? ¿Cuál es la solución de


empresas son fundamentales, pues futuro para la Amazonia, para Brasil y
ellas son las que garantizan la infraes- para América Latina? Esa pregunta es
tructura material de la vida. Pero son excesivamente compleja para ser res-
víctimas del modelo imperante, que es pondida. Pero lo que yo creo es que no
la acumulación sin límites, al precio de debemos esperar mucho de los pode-
devastar la naturaleza, y no quedarse res públicos y los gobiernos, pues son
atrás en la competencia. Ese método es rehenes de las grandes corporaciones
el camino seguro hacia el desastre. Es- del sistema del capital. Están obli-
toy de acuerdo con Hegel cuando dice: gados a seguir su lógica, que es que
«El ser humano aprende de la historia crezca su PIB cuando menos un poco
que no aprende nada de la historia, todos los años. Ahora bien, la Tierra
pero aprende todo del sufrimiento.» ya no puede soportar esa lógica, y ha
Pienso que no cambiaremos hasta que llegado a sus límites, que ya se hacen
el sufrimiento sea colectivo y afecte palpables. Yo espero soluciones que
a todo el mundo. En caso contrario, vengan desde abajo, de los indignados
corremos el riesgo de que la Tierra y de los desesperados, de los que no
continúe, pero sin nosotros. aceptan el veredicto de muerte sobre
sus vidas y sus ecosistemas, de los
¿En qué medida es viable la estruc- movimientos que han creado otra
turación de la llamada «economía visión de la Tierra y de los procesos
verde»? ¿Sería también importante de producción de lo suficiente y de lo
una «economía azul»? La economía decente para nosotros, los humanos, y
verde tiene elementos importantes que para toda la comunidad de vida. Creo
tenemos que valorar, pues quiere pre- que el proyecto del «buen vivir» de los
servar la vitalidad de la naturaleza. Sin pueblos andinos atesora la solución
embargo, no pone en cuestión el para- de lo que será obligatorio para toda
digma vigente que supone la domina- la humanidad y para conservar el
ción de la naturaleza y la acumulación planeta. Y eso será buscar el equili-
ilimitada y el consumo a todo trapo. brio en todo, llegar a una economía de
No cuestiona las desigualdades mun- lo suficiente y no de la acumulación,
diales ni que gran parte de los pueblos de la comunión entre todos los seres y
vivan en la pobreza. Y hay un alto ries-
go de que se ponga precio a todo, hasta
también con las energías universales
y espirituales, y vivir en profunda
LEONARDO
a los commons, es decir, a los bienes y
servicios directamente vinculados a la
vida, como el agua, los alimentos, las
comunión con la Pacha Mama, la
Tierra, nuestro único Hogar Común,
pues no tenemos otro hogar posible.
BOFF
semillas, los suelos, el aire, la energía, O haremos eso o enfrentaremos la ex-
etc. Pero la vida es sagrada y no puede tinción lenta de nuestra especie y una
ser transformada en una mercancía. Si profunda agresión a la biosfera que
eso sucediera, habríamos alcanzado la continuará, pero sin nuestra especie,
cumbre del espíritu capitalista y, a par- la cual, debido a su agresividad, creó
tir de ahí, también su desmoronamien- una nueva era geológica, el antropo-
to. Lo que es sagrado es inviolable, y ceno, es decir, el ser humano como
una vez violado crea mecanismos de verdadero meteoro rasante capaz de
castigo y exclusión, algo de lo que nos autodestruirse y dañar profundamen-
alertan continuamente los cosmólogos te al planeta vivo, a la Tierra. Pero,
y los biólogos. No queremos el fin del como el espíritu está primero en el
mundo. Lo que queremos es el fin de universo y luego en nosotros, quién
este tipo de mundo hostil a la vida, la sabe, tal vez dentro millones de años
solidaridad, la compasión y al amor. surja un ser complejo capaz de sopor-
tar el espíritu e inaugurar otro tipo de
Desde la perspectiva del acceso de civilización, seguramente mejor y más
los ciudadanos a los alimentos, el benéfica que la nuestra.
agua y la energía, ¿cómo deben ver
los gobiernos y la sociedad el medio

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 149


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Entrevista

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92?


¿Adónde va Rio+20?

Además del talento musical, Paulo artistas de otros países. Rio 92 era un
Jobim heredó de su padre el interés evento internacional. No sabría decir si
por el medio ambiente. Tom Jobim fue pidieron que la canción fuera en inglés,
Ana Branco / AGÊNCIA O GLOBO

la primera figura pública brasileña que, pero la hicimos así espontáneamente,


aún en la década de los setenta, en para llegar a todo el mundo.
plena Dictadura militar, habló sobre la
destrucción de la naturaleza. Hay una entrevista de 1980 en que
A Paulo Jobim le interesó cada habló sobre los incendios forestales,
vez más el medio ambiente y trabajó realizada por el periodista Roberto
en proyectos ambientales con el Dávila, en el DVD Tom Jobim en
equipo del urbanista Lúcio Costa, directo en Montreal. ¿De dónde venía
por ejemplo, en la delimitación de la la preocupación de Tom Jobim por
zona que se convertiría en la unidad los problemas ambientales? Creo que
de conservación de la Chapada dos ese interés vino del Bosque Atlántico,
Guimarães. Lea a continuación los que él conocía más a fondo, y cuya
principales fragmentos de la entrevista destrucción presenció. Conocía los
PAULO que concedió a WWF. bosques de por aquí, cerca de Rio
de Janeiro. En el interior del estado

JOBIM Como era la colaboración entre usted


y su padre en canciones de carác-
de São Paulo, donde iba a menudo,
vio grandes bosques de los llamados
ter ambientalista. Ustedes llegaron jequitibás. Conocía esos bosques, que
Paulo Hermanny Jobim tiene 61 años a escribir una canción para Rio 92. fueron siendo talados sin ningún cui-
y es el primogénito de Antonio Carlos ¿Fue durante la preparación del último dado ni pena. Van talando para hacer
de Almeida Brasileiro Jobim, el que disco de Tom? Rio 92, sí, estábamos leña, para hacer carbón.
para muchos fue el mayor compositor empezando... El disco [Antonio Brasi- Pues del hecho de haberse criado
brasileño de todos los tiempos, en un leiro] salió en el 94, pero ya estábamos en haciendas, de conocer de cerca esos
país conocido por su gran diversidad pensando en ello. campos y ver que lo estaban destru-
musical y por su exuberante naturaleza. Y Tom tenía su Banda Nova, en la yendo todo. No paraban de quemar,
Al igual que su padre, Paulo estudió que usted tocaba. Y les pidieron aque- como si eso fuera un gran progreso;
arquitectura y música, y participaba lla canción en inglés [Forever Green]. quemaban los bosques para poner
regularmente en los conciertos y en Sí. Fue como un pedido. Alguien, ganado, pero eso no es el progreso.
los álbumes de Tom Jobim, de quien no sé exactamente quién, pidió una Aquí se considera progreso plantar
era arreglista y colaborador, como en canción para Rio+92. Es una canción soja para venderla para alimentar a
la canción Forever Green, compuesta bastante didáctica, pensando en los cerdos en China. Eso les parece más
especialmente para la conferencia de niños, en el futuro. importante que conservar las rique-
Rio 92 y grabada en el último disco zas de Brasil: «Vamos a vender soja
del «Maestro soberano» en 1994, el ¿Y tenía que ser en inglés por ser para los cerdos chinos». Y se pasa
año de su muerte, en el disco titulado una conferencia internacional? Creo a destruir todo porque se generan
Antonio Brasileiro. que sí, creo que era un concierto con beneficios en ese momento. Puede ser

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 150


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Tenemos una biodiversidad enorme, pero está por ver si queremos


esa biodiversidad o si vamos a acabar con ella.

que en otros momentos no produzca ¿Cree usted que Brasil, en estos 20 que se abandonen esas cosas, pero las
ningún beneficio. De todos modos, no años, entre las dos conferencias, ha evidencias de ese problema ambiental
respetamos mucho a Brasil, las rique- evolucionado en términos de protec- son ya enormes, es decir, el clima está
zas de Brasil. Vamos destruyéndolo ción del medio ambiente, o perdurarán cambiando de verdad. Y vamos a ne-
todo, todo a cambio de nada. Apare- y hasta aumentarán las presiones en cesitar muchos cambios en la sociedad
ce una nueva máquina y queremos favor de la deforestación? Creo que para poder vivir en este mundo, para
aprovecharla para cortar todo. Hace hoy en día la sociedad está en general que este mundo no se agote. Tenemos
mucho tiempo que las cosas funcio- más preocupada con el medio ambien- un modelo de consumo que dicen que
nan así. te y a la vez el Congreso brasileño está necesitaría de un planeta y medio para
dispuesto a destruir una Ley Forestal satisfacer sus necesidades. Y la ten-
¿Es esa concepción del progreso lo que en la década de los sesenta era dencia es que todo el mundo quiere un
que explica el comportamiento de al- ya muy buena pero poco respetada. Y auto, tirar papeles, gastar mucha luz,
gunos diputados, que se han opuesto así llegamos a este desbarajuste, algo contaminar el agua y vivir con el grifo
al mantenimiento de los bosques de incomprensible; y se desechan leyes abierto. Eso es lo que vemos hoy en
ribera y al pago de las multas por la serias porque se compró un camión o día y eso tiene que cambiar. Cambiará
destrucción acumulada, como se ve tractor nuevo y tienes ganas de ponerlo por las buenas o por las malas, cuando
en las discusiones sobre los cambios a trabajar a fondo. Cuando se acaba este mundo ya no tenga más recursos y
en la Ley Forestal? Eso no es progre- todo, queda el desierto, y el camión y todos empecemos a pasar hambre.
so, talar todos las riberas de los ríos, el tractor perdidos en el bosque, o en la
crear erosión, desiertos. Como decía pradera, porque ya no queda bosque. ¿Hay algún suceso importante que
mi padre: «Es una creación sistemá- recuerde de Rio 92? Algo que me
tica de desiertos». Si tomamos, por Brasil se jacta de ser una potencia de la impresionó fue una conversación, un
ejemplo, la meseta central de Brasil, biodiversidad, pero, ¿nos comportamos video con varios jefes indios importan-
toda la cual es irrigada por lluvias que realmente como un líder? ¿Podemos tes. Dijeron cosas de las que hoy en día
vienen de la Amazonia, y empezamos hacerlo? Tenemos una biodiversidad la gente está empezando a darse cuen-
a talar la Amazonia, se irá creando un enorme, pero está por ver si queremos ta. Así que creo que debería haber una
desierto en la meseta central. En el esa biodiversidad o si vamos a acabar reunión de los líderes indígenas que
Cerrado, que de por sí ya es seco, ¿van con ella. Cuando el mundo mira a Brasil, tienen una visión diferente de Brasil,
a secar todo y acabar con las aguas, siempre dicen: «Brasil tiene un tesoro que no es la de talar indiscriminada-
las nacientes y demás? Así se conver- ambiental». Pero si no lo cuidamos mente. Ellos quieren el bosque porque
tirá en el desierto del Sáhara. Y no seriamente, van a dejar de escucharnos, viven en el bosque y deberíamos vivir
hay ninguna disculpa racional para ir porque no hacemos muchos esfuerzos de las riquezas de Brasil y no, al con-
talando. Ellos dicen: «Ah, los pobres para respetar nuestras riquezas. trario, agotarlas hasta el fin.
agricultores». No hay ningún agricul-
tor pobre. En este asunto el Partido ¿Tiene usted alguna expectativa
Comunista se ha puesto del lado de especial respecto a Rio+20? Ojalá que
los grandes conglomerados agrícolas, vengan jefes de Estado, que se discu-
porque no se trata de ninguna manera tan esos asuntos, porque con la crisis
de pequeños agricultores. actual en el mundo la tendencia es

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 151


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Entrevista

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92?


¿Adónde va Rio+20?

sudamericanos.Vea a continuación la llados, así como también en controlar


entrevista que nos concedió por escrito. la deforestación de los bosques, y el no
haber podido controlar la biopiratería
¿Qué hacía usted cuando se celebró- sobre los recursos de la biodiversidad.
Rio 92? ¿Recuerda algún episodio que
marcara aquella conferencia? COICA, ¿Cuál debería ser el principal resultado
con el Presidente de esta organización de Rio+20? En el caso de los pue-
ICV

en se momento, Evaristo Nunkuag, en blos indígenas se esperan decisiones


el espacio oficial participó de la Cum- contundentes en torno a garantizar
bre de la Tierra Rio 92 y fue muy activo la seguridad jurídica de losterritorios
en la presentación de las propuestas en indígenas y dar una mayor fortaleza a la
cuanto a la agenda 21 y en cuanto a los aplicación de los elementos del desa-
principios sobre los bosques. En el es- rrollo sostenible, en lugar de la nueva
pacio no oficial, participó activamente tendencia de la economía verde.
en el espacio indígena global denomi- Se espera también que se consoliden
nado Karioca. el derecho a la plena y efectiva parti-
EDWIN ¿Cuál fue el principal legado de la con-
cipación de los pueblos indígenas, y
sean participes enlasdecisiones que les

VÁSQUEZ ferencia de Rio 92? El principal legado


ha sido marcar una nueva tendencia
involucren directa o indirectamente.

de un modelo de desarrollo llamado ¿Qué opinión le merece el texto de


La Conferencia de Rio+20 puede sostenible que respete a la naturaleza, base de Rio+20? Enteoríauna política
ser una oportunidad histórica para aunque esto ha sido solo enteoría. global que tenga presente el respeto
promover la seguridad jurídica de El modelo de desarrollo sostenible por el medio ambiente y la naturaleza,
los territorios indígenas y favorecer aplicado a la realidad no se ha dado, han y la soberanía de los países sobre los
la aplicación de herramientas que primado más los intereses extractivos y recursos naturales de origen.
permitan el desarrollo sostenible. la apropiación de los recursos naturales
Dichas decisiones deben contar con la de todo tipo, y en caso de los pueblos ¿De qué forma pueden el sector empre-
participación de los pueblos indígenas. indígenas desconociendo los derechos sarial y la sociedad civil contribuir de ma-
Esas son las expectativas de territoriales y menos aún garantizando nera efectiva a la conservación del medio
Edwin Vásquez, líder indígena y el derecho a la consulta previa. ambiente y al desarrollo sostenible?
coordinador general de la Coordinadora Generando políticas y marcos regulato-
de Organizaciones Indígenas de la Entre las resoluciones de la conferen- rios que sean el resultado de consensos,
Cuenca Amazónica (COICA), una cia, ¿hay algún ámbito en que no se y que en su aplicación se cuentecon la
institución fundada hace casi 30 años hayan registrado avances? No se ha participación de los actores involucrados,
y que representa a más de 2,5 millones registrado avances en términos de re- entre ellos, los pueblos indígenas.
de personas distribuidas en diez ducir las emisiones de gases de efecto
millones de kilómetros cuadrados de invernadero producidos por las gran- ¿En qué medida es viable la estruc-
la selva amazónica, en nueve países des industrias de los países desarro- turación de la llamada «economía

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 152


© Nigel Dickinson / WWF-Canon

WWF Iniciativa Amazonia Viva

La solución de futuro debe contemplar políticas de una plena


y efectiva participación de los pueblos indígenas enlas decisiones
políticas, normativas y en su implementación.

verde»?¿Sería también importante por la conservación en pie los bosques los pueblos indígenas enlas decisiones
una «economía azul»? Unaeconomía tropicales y su uso sostenible igualmente políticas, normativas y en su imple-
verde solo sería posible si se garantizan debe ser una prioridad de Estado. mentación. Es fundamental adoptar
tambiénlos derechos de las personas y principios del derecho a la naturaleza,
no se antepongan el interés extractivo de Desde la perspectiva del acceso de el respeto por los bosques vistos como
los recursos naturales. El llamado «buen los ciudadanos a los alimentos, el ecosistemas de mitigación al cambio
vivir», por ejemplo, implica el respeto agua yla energía, ¿cómo deben ver climático de contribución holística y
a los derechos de la naturaleza y de las los gobiernos y la sociedad el medio no solo por la importancia del almace-
personas. Los recursos de las rentas ambiente?¿Cuál es la solución de namiento de carbono.
que generan deben por sobre todo estar futuro para la Amazonia, para Brasil y
dirigidos a la atención de las políticas para América Latina? La solución de
sociales en educación, salud, vivienda, futuro debe contemplar políticas de
acceso al agua y alimentación. El respeto una plena y efectiva participación de

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 153


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Entrevista

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92?


¿Adónde va Rio+20?

donde creó el Centro Estudios sobre y porque ese no era el foco de nues-
el Brasil Contemporáneo. tro análisis. Lo importante de Rio
Uno de los consejos que Sachs da fue todo lo que ocurrió fuera de la
a los jóvenes es buscar una formación conferencia oficial. La conferencia es-
cosmopolita. «Hace muchos años taba allí, lejos, en el barrio de Gávea,
que vivo de ese capital», afirmó al con un anillo de tanques y grandes
Agência UEL

final de la entrevista para WWF. medidas de seguridad para impedir la


Sachs recomienda especialmente entrada. Pero en la playa de Flamengo
que Brasil envíe y reciba estudiantes hubo una serie de actividades muy im-
a otros países que tengan problemas portantes y diversas. Desde este punto
ambientales semejantes. En de vista, Rio 92 siguió una tradición
su opinión, la confrontación de que se había iniciado en Estocolmo en
experiencias podría proporcionar 1972: la organización de una segun-
«un fantástico paso adelante para da conferencia de la sociedad civil
encontrar soluciones concretas alrededor de la conferencia oficial de
a los problemas de los países en Naciones Unidas. Estoy seguro de que
IGNACY desarrollo». Lea a continuación los
principales pasajes de esa entrevista.
sucederá eso, aunque no sé de qué
manera, con qué proporciones y, sobre

SACHS ¿Qué hacía usted cuando se celebró


todo, cuáles de sus diálogos influirán
en la conferencia oficial y qué implica-
Rio 92? ¿Recuerda algún episodio ciones tendrán. Esa es la gran cues-
Ignacy Sachs (85 años) es especial que marcara aquella con- tión: nuestra capacidad de ir hacia un
economista y una de las principales ferencia? Yo participé en numerosos diálogo político abierto en el que la
referencias para pensar el desarrollo eventos paralelos de Rio 92. Recuerdo sociedad civil organizada desempeñe
sostenible. Desde la década que hubo un seminario muy interesan- un papel relevante.
de los ochenta, Sachs analiza te en Curitiba, e hicimos un viaje a la
las posibilidades de un nuevo Amazonia con un congreso en Manaos. ¿Cuál fue el principal legado de la con-
paradigma de desarrollo, basado Participé en diversas actividades rela- ferencia de Rio 92? La conferencia de
en la convergencia entre ecología cionadas con la conferencia, dentro y Rio 92 dio lugar al Programa 21, que
y economía, teniendo en cuenta la fuera de ella. Yo diría que la parte más es un documento muy importante. Y
acción del hombre desde el comienzo viva y más importante fue todo lo que surgió también una frustración, por-
de la revolución industrial. sucedió en la playa de Flamengo y en que Rio 92 fue un poco en el sentido
De origen polaco, nacionalizado otros lugares de la ciudad. opuesto a la historia, tras la implosión
francés, Ignacy Sachs vivió en de la Unión Soviética, con una enorme
Brasil en las décadas de 1940 y ¿Qué países tuvieron una partici- ofensiva del neoliberalismo. Así que
1950, donde comenzó su formación pación más destacada en Rio 92? creo que muchas de las conclusiones de
académica, e hizo su doctorado en la ¿Cómo fue la participación de los Rio 92 no avanzaron como se merecían
India. Además, trabajó en la Polonia países de América Latina? No sabría debido a una constelación de fuerzas
socialista y fue profesor en Francia, decirle, porque han pasado 20 años políticas desfavorables.

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 154


WWF Iniciativa Amazonia Viva

¿El rumbo que ha tomado el capitalis- socialmente «incluyente» y no «inclu-


mo desde finales del siglo pasado ha sivo». El premio nobel de economía
aumentado la presión sobre el medio indio Amartya Sen utiliza el término
ambiente? Es evidente que si hubié- inglés «inclusioner». Necesitamos una
ramos entrado después de aquella marca para nuestra acción para cons-
conferencia en una fase de economías truir una economía global y, al mismo
planeadas que tuvieran en cuenta de tiempo, ambientalmente sostenible.
manera explícita los impactos no solo Esto debería situarse en el centro de
sociales, sino también ambientales, un pacto político entre las diferentes
hoy en día estaríamos en una situación fuerzas vivas de cada nación y de un
mejor. Pero eso no sucedió. No salimos pacto internacional entre los estados
de Rio 92 con una especie de gran con- que abracen esa filosofía. Así que ese
trato social, que era lo que necesitába- es el desafío de Rio+20: iniciar esa
mos. Hay que recordar que Rio+20 se andadura, reconocer que estamos en la
celebra en una fecha redonda respecto nueva era, el antropoceno, que estamos
al aniversario del nacimiento de Jean- en ella desde la revolución industrial,
Jacques Rousseau (1712) y también pero que hemos tardado en reconocerla
respecto a la fecha de publicación de El y definir, a partir de ello, estrategias de
contrato social (1762). Así que el gran desarrollo nacionales que converjan ha-
problema es si conseguiremos hacer de cia esa preocupación de sostenibilidad
Rio+20 el punto de inicio de una nueva ambiental y de avances sociales. Para
era geológica: el antropoceno, que en ello, creo que deberíamos volver a pla-
realidad comenzó con la revolución near, es decir, tenemos que poner en lo
industrial. Tras la entrada en una nue- más alto de las prioridades la cuestión
va era, deberíamos pensar en un gran de una planificación, pero una planifi-
contrato social, en el que los estados cación que sea democrática, con un alto
desarrollistas, los trabajadores y los grado de participación de las fuerzas
empresarios y la sociedad civil organi- vivas de cada nación para formular esos
zada se articulen de manera explícita. planes. Necesitamos una planificación
que se base en el concepto de desarrollo
Los BRICS pueden ser buenos acto- socialmente «incluyente», ambiental-
res respecto a las cuestiones am- mente sostenible y organizado a partir
bientales o tienden a repetir modelos de un diálogo cuatripartito, entre el
anticuados? Yo creo menos en los Estado desarrollista, los empresarios,
BRICS que en los «IBA» (India, Brasil los trabajadores y la sociedad civil or-
y Sudáfrica), pues tanto Rusia como ganizada. Si de mí dependiera, le daría
China tienen visiones que no coinciden a los Estados miembros de las Naciones
necesariamente con las del grupo de Unidas un plazo concreto, unos dos o
países emergentes de que Brasil e india tres años, para que presentaran sus
son abanderados. planes de desarrollo «incluyente» soste-
nible; al mismo tiempo redoblaría los
¿No serían Brasil y la India grandes esfuerzos en las Naciones Unidas para
«pecadores»? Todos los bípedos que crear un verdadero e importante fondo
andan por este planeta son a la vez pe- de desarrollo «incluyente» sostenible.
cadores y soñadores. No digo que solo
por el hecho de aproximar a Brasil y a ¿Cómo podría financiarse ese fondo?
la India como los dos abanderados del Podría ser financiado de la siguiente
bloque de los emergentes estos países manera: en primer lugar, rescatar el
vayan a resolver sus problemas internos compromiso, enunciado muchas veces
de la noche a la mañana. Tenemos que por los países ricos, pero de cara a la
pensar, en primer lugar, la economía galería, de crear un impuesto sobre la
verde, pero una economía que no pierda especulación financiera. También po-
las dimensiones sociales del proble- dríamos añadir un impuesto sobre las
ma. En segundo lugar, tenemos que emisiones de carbono, que tendría una
pensar en un pacto político en torno a doble función de frenar las emisiones
los objetivos de un desarrollo que sea exageradas de carbono que causan

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 155


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Lo importante es definir una estrategia con objetivos


concretos, especificando el papel de cada cual, más que pensar en
nuevas instituciones que, inevitablemente, chocarían con las existentes
y causarían un desgaste institucional considerable.

el calentamiento global y generar un por biomas, incluyendo en esa visión


fondo de desarrollo. Por último, empe- la interfaz suelo-agua, que es muy im-
zaríamos a cobrar peajes sobre zonas portante para muchos países. Es decir,
aéreas y océanos a los aviones y barcos a lo largo de las costas marítimas, a lo
que los atraviesan, partiendo del prin- largo de los ríos, en los lagos naturales
cipio de que se trata de un patrimonio y artificiales, y siempre con una visión
común de la humanidad. Quien utiliza, común sobre el tema y soluciones
paga. Con esas cuatro fuentes sería- diferenciadas. ¿Cómo lograr que la
mos capaces de crear un gran fondo revolución verde avance por tierra y a
de desarrollo «incluyente» sostenible la vez la revolución azul lo haga por el
administrado por Naciones Unidas. agua, es decir, como sistemas integra-
Otra herramienta fundamental son dos de producción de alimentos y hasta
las redes de cooperación científica y de energía, en esa interfaz tierra-agua?
técnica que se guíen según una nueva
geografía. No han de ser norte-sur, ¿Qué opina sobre el texto de base
orientadas según meridianos, sino de de Rio+20? No tengo una posición y
cooperación sur-sur, por paralelos, no quiero pronunciarme al respecto,
para generar un máximo de coopera- porque no creo que sea esa la tónica
ción científica y técnica alrededor de de la conferencia, es decir, ya tenemos
biomas semejantes, compartidos por muchas organizaciones internaciona-
países de distintos continentes. Así, les. Para mí, la prioridad es definir una
podríamos tener una red de coopera- estrategia para hacer que las organiza-
ción sobre el bosque tropical húmedo, ciones existentes cambien en su seno
como el bosque amazónico, pero que lo que sea necesario para trabajar en
incluyera también el bosque del Congo, la dirección deseada. Cerrar unos or-
las selvas de Indonesia y de la India, y ganismos para abrir otros conduce, en
así sucesivamente. Formar una geogra- general, a una gran pérdida de tiempo,
fía de cooperación científica y técnica energía y dinero. O sea, ya tenemos

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 156


WWF Iniciativa Amazonia Viva

las comisiones regionales, los orga- esos objetivos deben ir de la mano, la


nismos necesarios, y un representante respuesta es que no existe una solu-
brasileño acaba de ser elegido para ción única y que tenemos que explorar
dirigir la FAO (Organización de las todos estos problemas.
Naciones Unidas para la Alimentación
y la Agricultura), José Graziano, digno ¿Espera usted algún papel protago-
sucesor de la tradición del médico y nista de otros países amazónicos
geógrafo Josué de Castro (autor del además de Brasil? Yo creo que el Pacto
libro Geografía del hambre, de 1946). Amazónico está aquí para quedarse
Utilicemos las instituciones existentes, y que Brasil tiene un papel extrema-
adaptándolas. Lo importante es definir damente importante por el tamaño
una estrategia con objetivos concretos, de la Amazonia brasileña. No tengo
especificando el papel de cada cual, elementos para juzgar si tendrán algún
más que pensar en nuevas institucio- protagonismo, mayor o menor, en la
nes que, inevitablemente, chocarían conferencia propiamente dicha. Pero
con las existentes y causarían un des- creo que es esencial que los países
gaste institucional considerable. amazónicos trabajen juntos para lo-
grar un mejor aprovechamiento de sus
¿Qué espera usted que suceda en enormes recursos naturales renova-
Rio+20 en relación con la Amazonia bles. Además, en la Amazonia existen
y qué papel pueden tener los países enormes reservas minerales, que están
amazónicos, Brasil y los demás, en muy lejos de las tierras exploradas que
esa conferencia? Primeramente, es poseen riquezas naturales. La cues-
obvio que no existe una solución única. tión es cómo hacer eso respetando los
Desde el punto de vista energético, objetivos sociales, y cómo hacerlo sin
tenemos que manejar tres conceptos. olvidar a las poblaciones indígenas que
En primer lugar, la sobriedad, es decir viven en la Amazonia. Nosotros tene-
no gastar energía sin ton ni son. En mos que pensar siempre en la tríada de
segundo lugar, la eficiencia, aprender objetivos sociales, prudencia ambiental
a producirla bien. Y, en tercer lugar, y viabilidad económica. La viabilidad
buscar fuentes de energía alternativas. se construye a través de la acción de
Y yo creo que hay que salir de las ener- los Estados y de los pueblos, solo que
gías fósiles tanto por el problema del
calentamiento global como por el ago-
al construir la viabilidad económica
tenemos que extremar las precaucio-
IGNACY
tamiento de las reservas de petróleo,
y eso nos va a obligar a usar, durante
un cierto tiempo, el petróleo submari-
nes para no hacerlo con un costo social
excesivo ni mediante la depredación de
las riquezas naturales. Si nos fijamos
SACHS
no, el llamado presal. Yo no digo que en esos tres objetivos unidos, creo que
no haya que hacerlo, pero resalto que ustedes, aquí, en Brasil y en América
son soluciones relativamente limita- Latina, podrán no solo avanzar mucho,
das en el tiempo, así que tenemos que sino crear modelos que influirán muy
concederles una mayor importancia a positivamente sobre lo que pueda suce-
las energías renovables. En materia de der en el futuro en África y en algunos
energías renovables, tenemos la ener- países de Asia, y concediendo siempre
gía mareomotriz, que aún no sabemos la debida importancia al intercambio
usar bien, y otros pequeños exponen- permanente de experiencias concretas,
tes, como la eólica, que está llegando, y por eso yo sugeriría que se haga un
pero que por sí sola no será la solución esfuerzo mucho mayor para fomentar
para todo. Al pensar en la producción los intercambios estudiantiles.
de energía, tenemos que analizarla
junto con la producción de alimentos,
y ver en qué medida los objetivos del
aumento en la producción de alimentos
pueden armonizarse con la utilización
de los residuos de la producción de
alimentos para la bioenergía. Como

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 157


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Entrevista

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92?


¿Adónde va Rio+20?

Lea a continuación los principales ¿Qué países tuvieron una partici-


pasajes de la entrevista concedida a pación más destacada en Rio 92?
WWF. ¿Cómo fue la participación de los
países de América Latina? Siempre es
Foto cedida pelo entrevistado

¿Qué hacía usted cuando se celebró más importante la participación de los


Rio 92? ¿Recuerda algún episodio que países más centrales en los sistemas
marcara aquella conferencia? Yo era internacionales. En aquella conferen-
profesor titular de Ciencias Políticas cia destacó la actuación de algunos
y Relaciones Internacionales en la países europeos, como Alemania,
Universidad Federal de Santa Cata- Francia, Reino Unido, Suecia y Holan-
rina. Organicé y participé en eventos da, por ejemplo. Siempre es importan-
académicos paralelos a la conferencia te destacar la participación de Estados
de Rio 92. Además, estaba en contacto Unidos y de Japón. De América Latina,
con ONG y dialogaba con ellas sobre yo solo pondría en el mismo plano que
temas de la conferencia. a Brasil a Costa Rica. Brasil destacó
muy especialmente porque era el país
EDUARDO ¿Había en aquella época el mismo
interés por el medio ambiente que hoy?
anfitrión y porque su presidente, Fer-
nando Collor de Mello, había causado

JOSÉ VIOLA No, el interés entonces era muy supe-


rior. El sistema internacional estaba
una ruptura con la política ambien-
tal conservadora de los presidentes
en un momento muy diferente. Aquella anteriores al nombrar como ministro
El sociólogo argentino, naturalizado
fue la primera gran conferencia tras de Medio Ambiente —aunque por aquel
brasileño, Eduardo José
la guerra fría para discutir los nuevos entonces tenía aún estatus de secre-
Viola, profesor de Relaciones
problemas globales de la humanidad, tario de la presidencia de la Repúbli-
Internacionales de la Universidad
que anunciaba una capacidad de coo- ca— a José Lutzenberger, al que los
de Brasilia (UnB), no tiene grandes
peración mucho mayor en el sistema gobiernos anteriores consideraban
expectativas respecto a Rio+20. Esta
internacional de la que había habido radical y extremista. También se puede
nueva conferencia será diferente a la
anteriormente debido al bloqueo de la decir que Colombia, un país con una
de hace 20 años. En aquel momento,
guerra fría. Por eso, fue una conferen- rica biodiversidad, tuvo en este ámbito
los países estaban dispuestos a
cia que despertó un enorme interés. específico una actividad más relevante.
discutir nuevos temas globales.
En 1992, el problema ambiental global
Ahora no. El problema es que, si
emergió con fuerza en el sistema inter- ¿Cuál fue el principal legado de la con-
se produjeran avances, un nuevo
nacional, aunque tuviera aún un estatus ferencia de Rio 92? Su legado consis-
paradigma podría poner en cuestión
secundario. Hoy en día, el problema del tió en haber introducido los problemas
el interés económico predominante,
clima —no todos los problemas am- ambientales como un elemento muy
el uso de fuentes energéticas
bientales— tiende a entrar en el sistema importante en la agenda internacional.
insostenibles y el modelo de negocio
internacional, pero hay un gran bloqueo Hasta aquel entonces, los problemas
existente. Eso explica el escaso
que impide el avance. Por eso, la situa- ambientales no interesaban ni preocu-
interés político de muchos jefes de
ción es muy diferente, incomparable. paban lo más mínimo a la mayoría de
Estado en Rio+20.

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 158


WWF Iniciativa Amazonia Viva

los países del mundo. A partir de aquel sumo con tecnología atrasada habrá, ducción de alimentos en Brasil necesita
momento, los problemas ambientales y más destruiremos el planeta. El aumentar la productividad, la eficiencia
globales entraron a formar parte del problema de la superpoblación es muy y el Estado de derecho, y que se cumplan
cotidiano de la agenda internacional, importante y hay que preguntarse por las leyes de manera rigurosa.
aunque no se les situara en el centro. qué no se trata en las Naciones Unidas.
La frustración está relacionada con Y no se trata porque la ONU es una es- ¿Qué opina sobre el texto de base de
la distancia entre lo que se definió en tructura políticamente correcta donde Rio+20? El texto de base es un desas-
Rio 92 y la implementación posterior. solo se habla de lo que todos aceptan tre. El estado actual del sistema inter-
Los problemas ambientales globales se hablar, y de lo demás no se habla. nacional no favorece que se produzcan
han agravado extraordinariamente en Hay que destacar algo muy importan- avances significativos en Rio+20;
estos 20 años. Y el avance de la huma- te: hoy vemos al sistema capitalista tal podrá haber diversas declaraciones
nidad para hacer frente a esos proble- como es, es decir, basado en los benefi- de fondo retórico, pero en realidad no
mas ha sido mínimo, con lo que los cios a corto plazo. Todos los incentivos habrá avances. El problema fundamen-
problemas se han agravado considera- del sistema apuntan a que no se hagan tal del mundo no está en Rio+20: está
blemente. La emisión de gases de efecto reformas hacia la sostenibilidad de largo en el cambio climático, respecto al cual
invernadero se ha incrementado una plazo. Esto no quiere decir que no haya el Gobierno brasileño se ha esforzado,
media del 3% anual durante esos 20 una significativa y creciente minoría de de forma totalmente equivocada, en
años. La conferencia de Rio 92 prome- empresas que buscan ser sostenibles a ponerlo en un lugar secundario en la
tió todo un proceso de reducción de las largo plazo, pero las reglas del sistema agenda de Rio+20. Ha diluido el pro-
emisiones de los países desarrollados y van contra eso, porque lo que legitima blema del clima, que tendría que haber
de reducción de la curva de emisión de a los directivos de las grandes corpo- sido central, y ha enfatizado la cues-
los países en desarrollo. No ha ocurrido raciones es generar beneficios para los tión social y la inclusión, sin una óptica
nada de eso, con contadas excepciones. accionistas, y a corto plazo. sociopolítica —que sería la correcta— y
En cuanto a la biodiversidad, la des- Por último, el modelo energético, relacionada con la gobernabilidad en
trucción ha seguido al mismo ritmo. Sí sin duda. La humanidad ha creado ese los tres niveles: gobernabilidad mun-
que ha habido alguna implementación gigantesco capital fijo basado en el car- dial, nacional y subnacional. En este
con el aumento de las áreas protegi- bón y el petróleo. El mayor problema sentido, el documento es muy pobre,
das, pero de forma general, solo sobre es el carbón, y eso es importante, por- no hay que esperar avances.
el papel. El gran planeta de la biodi- que su consumo está creciendo mucho La posición más avanzada que existe
versidad se sigue destruyendo en la más rápidamente que el del petróleo, hasta ahora en Rio+20, pero que no va a
misma proporción que hace 20 años. además de que causa casi el doble de triunfar en absoluto, es la posición de la
La diferencia es que hoy tenemos islas efecto invernadero que el petróleo. Unión Europea, que propone crear una
y archipiélagos protegidos mucho más organización mundial para el medio am-
amplios que los que teníamos antes. En Brasil, la producción de materias pri- biente. En realidad, tendría que ser algo
mas agrícolas ha acarreado destrucción mucho más profundo que eso, algo de lo
¿Cuál es la dificultad? ¿Por qué no se medioambiental. ¿Puede Brasil aumen- que nadie habla; tendría que ser una es-
logra avanzar? No hay una causa única; tar la producción de alimentos sin dañar tructura de auténtica gobernanza global,
hay múltiples razones. El primer punto más al medio ambiente? El gobierno que limitaría mucho más la soberanía
clave es la cultura contemporánea, el brasileño, su núcleo, y la agroindustria nacional. Una especie de estructura de
sistema de valores actual que guía a están muy poco interesados o son poco gobernanza que sea una organización
la sociedad y a sus gobernantes. Hay conscientes de la gravedad del problema. mundial de gobernabilidad y que subor-
un consumismo exagerado. El sistema Lo que importa es el corto plazo, el ciclo dine las estructuras existentes, como el
de valores que guía a la humanidad es del negocio, el ciclo político, volver a ga- Fondo Monetario Internacional, el Ban-
hipermaterialista e hiperconsumista. nar las elecciones. En cuanto a aumentar co Mundial, la Organización Mundial
Otro problema, poco citado, pero la producción de alimentos en Brasil sin del Comercio o la Organización Mundial
de extrema gravedad, es el continuo destruir el medio ambiente, tenemos de la Salud. La posición más progresista
aumento de la población de la Tierra, experiencias de aumento de la producti- y más consciente es la de Unión Euro-
aunque de forma heterogénea; pero la vidad en diversos ámbitos de la agroin- pea, que cuenta con el apoyo de muchos
Tierra ya estaba superpoblada en 1992 dustria, pero podemos aumentar mucho países africanos, pero a la que Brasil se
y lo está mucho más hoy en día. Estos más la productividad. Por otra parte, la opone porque sigue con el fantasma y la
factores determinarán el nivel de la regulación puede ser lo suficientemente paranoia del proteccionismo, es decir,
posibilidad de protección ambiental, el estrecha como para que la expansión de que piensa que esa organización pro-
nivel de consumo, el nivel de destructi- la producción de alimentos se produzca puesta podría ser peligrosa para Brasil
vidad de las personas y la capacidad de principalmente en las zonas ya degra- y los países emergentes porque podría
la inteligencia tecnológica disponible. dadas, sin necesidad de avanzar en la estimular el proteccionismo. Algo que no
Cuantas más personas hay, más con- deforestación o recalificar áreas. La pro- se sostiene en absoluto.

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 159


WWF Iniciativa Amazonia Viva

¿Podría esa organización hacerse Así que Rusia es un actor muy negativo está más avanzada que la sociedad
cargo del mercado de carbono? Sí, en el sistema internacional. La India brasileña. Dicha ley fue el resultado
pero no se trataría solo de eso, sino de es otro actor muy negativo, y un actor de una ventana de oportunidad. El
otras muchas cosas. ¿Cuál es el princi- esquizofrénico. La India siempre ha problema es que no se está aplicando.
pal problema hoy en día, un problema dicho que el problema tiene que ser Algunos elementos decisivos, como la
decisivo de la gobernabilidad ambien- resuelto por otros, los que lo crearon, nueva política industrial, parecen apun-
tal? Es la fragmentación del sistema. y que ella no se compromete a lograr tar en una dirección opuesta a la ley de
Existen convenciones centenarias, ningún tipo de meta. Así que su po- cambio climático. Brasil es un ejemplo
muchas de ellas fundamentales y otras sición es muy negativa actualmente y de avance en cuanto a reducción de
secundarias, que dialogan poco entre son ellos los que más van a sufrir y, de emisiones por cambio en el uso de la
sí. El PNUMA (Programa de las Nacio- hecho, ya están sufriendo por ello. tierra (deforestación), pero en el ámbito
nes Unidas para el Medio Ambiente) Los otros tres actores, China, Brasil industrial está estancado y en el ámbito
es una organización muy débil, aunque y Sudáfrica, son ambivalentes. Hasta energético puede empezar a retroceder
cumpla una función importante en el hace cuatro años China era una eco- si otorga una importancia excesiva a la
ámbito científico. De esta forma, es nomía de alto nivel de carbono, irres- inversión en la industria petrolífera.
esencial para la humanidad contar con ponsable en la gobernabilidad global, Hasta 2008 Sudáfrica era el país más
una organización ambiental mundial pero ha ido cambiando gradualmente. avanzado, que más avances proponía
con un poder equivalente a la Organi- Su cambio fundamental se ha produ- para el sistema de gobierno ambiental
zación Mundial del Comercio. Y es lo cido en la política energética inter- mundial. China y Brasil están avanzan-
que propone Europa, pero Brasil se ha na, porque China está promoviendo do ahora y se puede decir que ya han
opuesto a ello porque está prisionero firmemente el desarrollo de nuevas adelantado a Sudáfrica. Y otro elemento
de su alianza con los BRICS. Brasil energías renovables, particularmente importante es que China y Brasil son
podría tener una posición mucho más la energía eólica, la solar fotovoltaica mucho más importantes que Sudáfrica.
progresista, en consonancia con la afir- y la energía nuclear de tercera genera-
mación constante del Gobierno de que ción. Así, todo eso permitirá que Chi- ¿En qué medida es viable la estruc-
Brasil es una potencia ambiental. Pero na reduzca la curva de crecimiento de turación de la llamada «economía
a la hora de tomar esas decisiones, las emisiones. Está creando un nuevo verde»? ¿Sería también importante una
¿dónde queda la potencia ambiental? capital de bajo nivel de carbono, pero, «economía azul»? Yo diría que la idea
Lo mismo ocurrió con la nueva junto a ese lado bueno hay también un de economía de bajo carbono es el con-
política industrial. A pesar de tener una lado malo. Y es que quieren continuar cepto que está mejor definido en este
ley sobre el cambio climático, la nueva maximizando la dinámica del viejo momento en el mundo, y es un concepto
política de producción industrial de capital, de alto nivel de carbono, y consagrado en el sistema científico y
automóviles, por ejemplo, se limita a sigue siendo un gran exportador de hasta en el sistema político internacio-
promover la producción de autos y no le productos manufacturados muy inten- nal. La idea de una economía verde,
otorga ninguna importancia a la eficien- sivos en carbono. Esa es más o menos que surge ahora, es una idea que puede
cia energética, a la creación de un coche la ambivalencia de China. Otro factor, ser muy importante para avanzar en la
que funcione exclusivamente con etanol. típico de regímenes no democráticos, matización del concepto de economía
Y así tenemos una política industrial que es que China se niega a tratar del sis- de bajo carbono, porque este concepto
es casi idéntica a la de hace veinte años. tema internacional de verificación. tiene la limitación de que se concentra
Luego está Brasil, en donde el excesivamente en el ciclo del carbono y
¿Cuál es el papel de las economías punto clave ha sido la extraordinaria no en los otros ciclos, como por ejemplo
emergentes —como los BRICS— en reducción de la deforestación a partir el ciclo del fósforo o el de la biodiver-
el impacto y las soluciones a los pro- de 2005. Eso ha permitido reducir las sidad. Al respecto, la economía verde
blemas ambientales? Yo diría que los emisiones brasileñas y, aunque sigue podría suponer un avance importante,
BRICS son apenas un bloque retórico, habiendo una deforestación de 6000 aunque también podría ser un modo de
porque sus intereses divergen en todos km² anuales, lo cual es una vergüenza, dilución, como acabó sucediendo con la
los ámbitos. Vamos a entrar específi- esa reducción ha supuesto un avance idea de desarrollo sostenible, de la que
camente en lo que sería la transición extraordinario respecto a la primera todo el mundo está a favor porque no
hacia una economía sostenible de bajo mitad de la década pasada, en que en significa casi nada. Un nivel de car-
carbono y los problemas ambientales la Amazonia se deforestaban 22 000 bono bajo tiene significado porque se
vinculados a Rio+20. La economía km² anualmente. Así pues, Brasil ha mide. Yo estaría a favor del concepto de
de Rusia se basa en la exportación de avanzado mucho en ese ámbito, lo cual economía verde, e incluso también de la
combustibles fósiles, petróleo y gas permitió incluso la aprobación de una idea de economía azul, siempre y cuan-
natural. Es una economía muy inefi- ley de cambio climático muy avanzada a do signifiquen un refinamiento, una
ciente, muy intensiva en carbono y con finales de 2009. Yo diría que la legisla- sofisticación y una mayor precisión del
una escasa preocupación ambiental. ción brasileña sobre el cambio climático concepto de economía de bajo carbono.

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 160


WWF Iniciativa Amazonia Viva

¿De qué forma pueden el sector empre- de organizaciones y empresas ha-


sarial y la sociedad civil contribuir para cen discursos oportunistas. Existen
la conservación del medio ambiente y pocas personas que hagan un análisis
al desarrollo sostenible? En general, profundo y científico de la coyuntura
hay un sector de empresas brasileñas y de la realidad para ver qué es y qué
—algunas de ellas importantes— intere- no es posible y a partir de ahí atribuir
sadas en Rio+20 y en que Brasil avance responsabilidades. Al respecto, nos
en la transición hacia una economía de inunda una cantidad ingente de infor-
bajo carbono, de sostenibilidad consis- mación de baja calidad en Brasil y en
tente, es decir, real. Me parece que la el mundo.
mayor parte de las empresas brasileñas
no están interesadas o no se centran en Desde la perspectiva del acceso de
ello. Las empresas interesadas son las los ciudadanos a los alimentos, el
que ya han incorporado ese tema y que agua y la energía, ¿cómo deben ver
están haciendo cambios o que han cam- los gobiernos y la sociedad el medio
biado ya una parte de su estructura de ambiente? ¿Cuál es la solución de
producción y su logística de proveedores futuro para la Amazonia, para Brasil y
en favor de un proceso productivo de para América Latina? La cuestión de
bajo carbono, o que tienen una dirección la invasión de la Amazonia es un viejo
visionaria o son filiales de algunas mul- discurso obsoleto, usado en general
tinacionales con políticas avanzadas. de manera oportunista por diversos
En la sociedad civil, son sin duda los sectores. Quien toma la Amazonia es
ambientalistas a los que más les inte- el crimen organizado internacional. Lo
resa ese tema. En realidad, muchos de que está destruyendo la Amazonia es
ellos tienen un interés ingenuo, porque el no cumplimiento de la ley. No existe
ven el mundo a través de su ombligo, ninguna posibilidad de que potencia
sin la capacidad analítica para com- alguna quiera hacerse con la Amazo-
prender la complejidad del sistema nia; todo eso son paranoias típicas de
internacional ni la dinámica de capa- una mentalidad de seguridad nacional
cidad y de poderes en dicho sistema. totalmente obsoleta. El papel del Ejer-
Hay organizaciones, como WWF, que citó ha sido fundamental en el avance
tienen una visión realista del mundo, del Estado de derecho en la Amazonia
que quieren transformar el mundo
con una visión realista, no extremista
mediante los puestos de vigilancia
fronterizos, que se convierten en una
EDUARDO
ni radical. Las ONG ambientalistas
en general son ingenuas, y ese es otro
elemento importante: una parte de las
presencia del Estado y disminuyen el
avance del crimen transnacional.
La gobernabilidad de Brasil sobre
VIOLA
ONG tiene una visión muy radical, que la Amazonia ha crecido en los últimos
es negativa, una visión anticapitalista. años. En la sociedad brasileña tiene
Esa alternativa no existe. cada vez menos difusión la idea de que
El dilema de la humanidad consiste la Amazonia va a ser invadida, pues
en elegir entre continuar con el actual se es consciente de que Brasil tiene es
capitalismo insostenible —que cada cada vez más capaz de controlar, aun-
vez más avanza por una senda de gran que tendría que serlo más aún. Brasil
destrucción— o reformar el capitalis- tendría que destinar más recursos
mo hacia lo que se denomina «capi- para la Amazonia, recursos para las
talismo natural», un capitalismo que Fuerzas Armadas, la Policía Federal, el
redefina las reglas del sistema teniendo IBAMA (Instituto Brasileño de Medio
en cuenta los beneficios a largo plazo y Ambiente y de los Recursos Naturales),
el equilibrio entre el interés particular la Justicia Federal, es decir, el Esta-
de las empresas y el interés universal do federal debería ser una especie de
de la humanidad. gran apoyo y promotor del Estado de
En general, diría que un problema derecho en la Amazonia. Lo que nece-
fundamental en la educación, en la sitamos es que se dé un gran avance en
sociedad brasileña y en los medios de el Estado de derecho, es decir, que se
comunicación es que los directores cumpla la ley.

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 161


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Entrevista

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92?


¿Adónde va Rio+20?

Dicha empresa, que es líder ¿Qué países tuvieron una participación


en la venta de ciertos alimentos, más destacada en Rio 92? ¿Cómo fue
artículos de higiene y de limpieza, la participación de los países de Améri-
tiende a benefi ciarse del esperado ca Latina? Los países latinoamericanos,
Foto cedida pelo entrevistado

aumento del consumo de los entre ellos el anfitrión, Brasil, tienen


países emergentes, sobre todo de un destacado historial de fomento de
los BRICS. Pese a esas buenas la lucha contra la pobreza y en pos de
expectativas de mercado, Polman la sostenibilidad. Esa cuestión es tan
espera que no se repitan en esos importante para Rio+20 como lo fue en
países los modelos de consumo de Rio 92. En la actualidad, países como
Europa y Norteamérica, pues de ser Colombia, Perú y Guatemala destacan
así, «simplemente nos quedaremos en la promoción del crecimiento soste-
sin recursos», advierte. Vea a nible y en la inclusión de la idea de los
continuación la entrevista concedida objetivos de crecimiento sostenible en
por Paul Polman a WWF. la agenda de Rio+20.

PAUL ¿Qué hacía usted cuando se celebró


Rio 92? ¿Recuerda algún episodio
¿Cuál fue el principal legado de la
conferencia de Rio 92? El legado de Rio

POLMAN que marcara aquella conferencia?


En 1992 vivía en España y ya era
92 sigue vivo actualmente. El Programa
21, el plan de acción sobre desarrollo
muy consciente de los problemas en sostenible acordado en 1992, contribuyó
Rio+20 debe avanzar en la definición torno a los recursos, como el agua, a la formulación de los Objetivos de De-
de objetivos de sostenibilidad, y las restricciones cada vez mayo- sarrollo del Milenio diez años después.
vinculando la lucha contra la pobreza res para el crecimiento económico y La última cumbre de Rio también ayudó
y la preservación del medio ambiente. social. El principal logro de Rio 92 a crear la CMNUCC (las negociaciones
Pese a ello, el texto de base de la fue hacer que la sostenibilidad dejara mundiales sobre el clima) y el Consejo
conferencia parece quedarse corto, de ser algo periférico y se convirtiera Empresarial Mundial para el Desarro-
lo cual supone «un problema para en central, un elemento que ya no llo Sostenible, una organización que
los países miembros de las Naciones podía pasarse por alto en el debate fomenta un crecimiento más sostenible
Unidas». Desde Rio 92 se percibe una en torno al crecimiento económico y en el sector privado. Ahora, veinte años
cierta frustración acerca del progreso a la prosperidad. La mayor conquista después, los gobiernos, la sociedad civil
de algunos temas delicados, como tal vez fuera la adopción del Progra- y los grupos ambientales miran cada
el cambio climático, los niveles de ma 21, que reconoció la importancia vez más hacia el sector empresarial para
nitrógeno y la biodiversidad. de encontrar un equilibrio adecuado que genere un crecimiento sostenible.
Esas valoraciones no son de y una interconexión entre las agen- Esa situación es muy diferente de la de
ninguna activista ambiental, sino del das ambiental, social y económica. 1992, cuando el sector empresarial no
presidente de una de las mayores Igualmente importante fue reconocer era visto como una pieza central para
empresas globales del planeta: Paul la importancia del sector privado y la buscar soluciones de sostenibilidad, a
Polman, director ejecutivo de Unilever. necesidad de establecer alianzas. diferencia de lo que sucede hoy en día.

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 162


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Rio+20 debe reconocer la necesidad de una colaboración


mucho mayor entre los gobiernos y el sector empresarial en relación
con la sostenibilidad.

Hace veinte años las empresas no habían ¿Cuál debería ser el principal resultado adecuados en las políticas públicas para
entendido aún la importancia crucial de Rio+20? Yo creo que Rio+20 ofrece que las empresas sigan por esa senda.
de la sostenibilidad para el crecimiento dos grandes oportunidades. En primer
de los negocios. En Rio+20, el sector lugar, debemos comenzar un proceso ¿Qué opina sobre el texto de base de
empresarial no solo podrá mostrar el para definir los objetivos de sostenibili- Rio+20? Ese texto supone un problema
camino emprendido, sino que también dad para el período de 2015 a 2030. Ta- para los estados miembros de la ONU,
podrá asumir una posición de liderazgo les objetivos deberían hacer las veces de pero yo estimularía a los gobiernos a que
en áreas clave para el futuro. los Objetivos de Desarrollo del Milenio, se comprometan con propuestas más
con la diferencia de que se aplicarían a detalladas que apoyen los objetivos de
Entre las resoluciones de Rio 92, ¿hay todos los países y abarcarían tanto las desarrollo sostenible, así como las exigen-
algún ámbito en que no se hayan regis- cuestiones relativas a la pobreza como cias de las empresas de políticas públicas
trado avances? El reto de todos los pro- las ambientales. En segundo lugar, es que estimulen más aún el desarrollo sos-
cesos globales es mantener el impulso. extremadamente importante incluir tenible. Estamos en el punto en que las
Aunque a muchos les hubiera gustado a las empresas en esa agenda. Rio+20 acciones concretas serán más importan-
que se hubieran emprendido más accio- debe reconocer la necesidad de una tes que las palabras. Y creo que el sector
nes de desarrollo sostenible durante los colaboración mucho mayor entre los empresarial está preparado para ello.
últimos veinte años, lo importante es gobiernos y el sector empresarial en
centrarnos en los progresos obtenidos y relación con la sostenibilidad. Y un ma- ¿De qué forma pueden el sector em-
en cómo podremos avanzar a partir de yor número de empresas debe compro- presarial y la sociedad civil contribuir
ellos. No obstante, la impaciencia se jus- meterse más en favor del crecimiento de manera efectiva a la conservación
tifica en algunos ámbitos, especialmente sostenible. Es importante para el sector del medio ambiente y al desarrollo
en lo tocante al cambio climático, los empresarial que los gobiernos pro- sostenible? Los grupos de la sociedad
niveles de nitrógeno y la biodiversidad. muevan los incentivos y recompensas civil y las empresas tienen mucho que

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 163


© François Xavier Pelletier / WWF-Canon

WWF Iniciativa Amazonia Viva

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 164


WWF Iniciativa Amazonia Viva

ganar si trabajan juntos. Es algo que podemos hacer que nuestro negocio
hemos visto en Unilever: por ejemplo, crezca a la vez que reducimos nuestra
trabajamos con socios como UNICEF huella ambiental y garantizamos el uso
para enseñar a los niños en edad esco- de materiales sostenibles. Para ello
lar los beneficios de lavarse las manos se necesita un cambio de actitud y un
con jabón, pues ayuda a prevenir la nuevo modelo de negocio.
diarrea y las enfermedades respirato-
rias. Unilever también trabaja con Ra- Desde la perspectiva del acceso de
inforest Alliance para garantizar que los ciudadanos a los alimentos, el
nuestro té y nuestro cacao procedan agua y la energía, ¿cómo deben ver
de fuentes sostenibles. La colaboración los gobiernos y la sociedad el medio
será muy beneficiosa si reconocemos ambiente? ¿Cuál es la solución de
mutuamente nuestro papel fundamen- futuro para la Amazonia, para Brasil
tal en la sociedad y en la protección y para América Latina? Una idea que
del medio ambiente. Y simplemente no Rio+20 tendrá que fomentar es el
podremos hacerlo todo solos. desarrollo de una serie de Objetivos de
Desarrollo Sostenible. Cuando expiren
¿Cuál es el papel de las economías en 2015 los Objetivos de Desarrollo del
emergentes —como los BRICS— en Milenio, necesitaremos que el mundo
el impacto ambiental y en las solu- siga atento a la pobreza y al hambre
ciones a los problemas ambientales? y, al mismo tiempo, garantizar la
Más del 50 % de los negocios de Uni- colaboración global para lidiar con las
lever está en los mercados emergentes cuestiones ambientales críticas, como
y en desarrollo, una proporción que la deforestación, el cambio climático,
llegará al 70 % en el 2020. Ese cre- la escasez de agua y la producción y el
cimiento muestra la importancia de consumo sostenibles.
avanzar hacia un nuevo modelo de ne- Para superar esos retos es funda-
gocio sostenible. Ya consumimos los mental que el sector privado participe
recursos de la Tierra más rápidamen- en el debate. En Unilever, el creci-
te que lo que la naturaleza consigue miento sostenible es la parte central de
reponerlos, y si las clases medias de nuestro plan de negocios. Sin embargo,
las economías emergentes comienzan no podemos actuar solos, de manera
a reproducir los patrones de consumo
de Europa y Norteamérica, simple-
aislada. Rio+20 ofrece una oportu-
nidad para que los gobiernos y las
PAUL
mente nos quedaremos sin recursos.
Los BRICS y el sector empresarial son
actores vitales en el desarrollo de las
empresas trabajen juntos en el diseño
de un plan para un futuro sostenible.
Más empresas deberán contribuir a la
POLMAN
políticas públicas y las acciones em- creación de una economía más soste-
presariales necesarias para abordar nible y equitativa, pero los gobiernos
cuestiones como la eficiencia hídrica y también tendrán que hacer eso posible,
energética, los residuos, el reciclaje y promulgando políticas correctas que
las fuentes sostenibles. faciliten la actuación de las empresas.
Se trata igualmente de asumir una
¿En qué medida es viable la estruc- responsabilidad personal. Ejemplo de
turación de la llamada «economía ello es nuestro trabajo pionero en la
verde»? ¿Sería también importante presidencia del grupo de trabajo B20
una «economía azul»? Los conceptos Foodsecurity. Todos nosotros tenemos
de economía verde y azul son formas responsabilidades y un papel claro
útiles para empezar a pensar en cómo para garantizar la consecución de los
reconocer que la escasez de recursos objetivos originales de Rio 92: un futu-
es un problema actualmente y que será ro mejor para todos.
cada vez más crítico para el crecimien-
to económico en el futuro. Es perfecta-
mente posible alcanzar un crecimiento
sostenible y equitativo. La propia
experiencia de Unilever demuestra que

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 165


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Entrevista

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92?


¿Adónde va Rio+20?

la década siguiente, la del regreso de Bases Empresariales) y no participé en


la democracia a Brasil de Brasil, se Rio 92. Dos cosas que recuerdo: que en
dedicó al asociacionismo empresarial aquella época yo era coordinador ge-
y a aproximar el mundo corporativo a neral del PNBE, y que fue la única or-
los movimientos sociales al fundar y ganización empresarial que participó
Roosewelt Pinheiro /ABr

coordinar la organización que bautizó en el proceso de movilización a favor


como Pensamento Nacional das Bases del proceso de destitución del entonces
Empresariais (Pensamiento Nacional presidente de la República, Fernando
de las Bases Empresariales, PNBE). Collor. El medio ambiente era algo muy
En la actualidad se dedica, entre nuevo en Brasil por aquella época, y to-
otras actividades, al Foro Social dos los debates en Brasil se centraban
Mundial y al Consejo Asesor del Pacto en las cuestiones sociales, en la crisis
Mundial, un programa desarrollado económica y en la política.
por el ex secretario general de
la ONU, Kofi Annan, que busca Veinte años después, a las empresas
movilizar a la comunidad empresarial ahora les preocupa la sostenibilidad,
ODED internacional en la promoción de
valores fundamentales en el ámbito de
por lo menos en su discurso. ¿Se ha
convertido la sostenibilidad en un

GRAJEW los derechos humanos, las relaciones


laborales y el medio ambiente.
valor? Sí. Antes no existía la expresión
«responsabilidad social corporativa» y
Con esos antecedentes y su mucho menos su concepto y su cultura.
El periodo que separa a Rio 92 trayectoria de militancia, Oded Grajew Lo máximo que existía era una cultura
de Rio+20 vio el surgimiento de la es consciente del papel central de de la fi lantropía en las empresas, en
cultura de la responsabilidad social la clase empresarial en favor de la que destinaban algunos recursos a
empresarial, que abarca iniciativas conservación del medio ambiente y algún proyecto social. En la actualidad
de las empresas privadas que espera que Rio+20 ayudará a poner en esa cultura ya es una realidad, y no
puedan beneficiar sus empleados y las agendas brasileña e internacional existe ningún empresario mediano o
a la comunidad, en torno a valores «todas las cuestiones relacionadas con grande que no tenga un discurso sobre
y causas como la sostenibilidad la sostenibilidad». Vea a continuación la responsabilidad social y la sosteni-
de las actividades productivas y la los principales pasajes de la entrevista bilidad, pues ambas van de la mano.
preservación del medio ambiente. que concedió a WWF. Una empresa socialmente responsable
En Brasil, uno de los personajes es una empresa que procura crecer de
centrales para el desarrollo de ese ¿Qué hacía usted cuando se celebró manera sostenible. Y sigue habiendo
concepto fue el ingeniero eléctrico Rio 92?¿Recuerda algún episodio es- diversos grados de participación y
Oded Grajew, que inició su vida pecial que marcara aquella conferen- compromiso de las empresas: hay quie-
empresarial en la década de los cia? En aquella época yo trabajaba en nes se quedan en el discurso, las que
setenta, con una innovadora y la fundación Abrinq (Asociación Brasi- tienen algún proyecto más fi lantrópico
pionera fábrica de juguetes y juegos leña de Fabricantes de Juguetes), tenía social y las que están en la vanguardia,
inteligentes para niños y adultos. En el PNBE (Pensamiento Nacional de las que incorporan la responsabilidad

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 166


WWF-Brazil / Alex Silveira

Una empresa socialmente responsable es una empresa que procura


crecer de manera sostenible.
WWF Iniciativa Amazonia Viva

Cuando uno se propone traducir el discurso en


acciones concretas, hay que asumir compromisos con los
cambios, establecer metas y valores.

social o la sostenibilidad en sus ins- Sin embargo, la conferencia será


trumentos de gestión. Existen diversos importante, porque ayudará a in-
grados de compromiso. troducir en las agendas brasileña e
internacional las cuestiones relativas
¿Qué espera de la conferencia a la sostenibilidad, con lo se avanzará
Rio+20? En primer lugar, en cuanto hacia una mayor toma de conciencia,
los gobiernos, a los acuerdos guber- información y preocupación de la
namentales, espero muy poco, pues sociedad por esas cuestiones tanto
muchos gobiernos importantes, es- en Brasil como en el resto del mundo,
pecialmente los de Europa y Estados pues tendrán un amplio tratamiento
Unidos, están mucho más preocupa- en los medios de comunicación, y eso
dos por la crisis financiera y la crisis ayudará a avanzar hacia una mayor
económica y les cuesta mostrar un participación de la sociedad civil y las
compromiso hacia la sostenibilidad. empresas. También será muy impor-
En segundo lugar, algunos países im- tante la visibilidad que se otorgará
portantes, como Alemania, Francia y a los que ya hacen cosas o están a la
Estados Unidos, acabarán de celebrar vanguardia, aplicando la concepción
elecciones o estarán en pleno proceso más moderna de sostenibilidad.
electoral, con la consiguiente incer-
tidumbre respecto a propuestas de ¿Veremos en Rio+20 muchos ejem-
cambios importantes en el modelo de plos de empresas comprometidas de
desarrollo. Además, todo el proceso todo el mundo? Sí, sin duda. Algunas
de acuerdos requiere unanimidad, por empresas lo usarán como marketing,
lo que todo suele acabar reduciéndo- y no tendrán gran cosa que mostrar;
se al mínimo denominador común. otras tendrán iniciativas interesantes
Así que, en cuanto los gobiernos, mis que mostrar, con un compromiso más
expectativas son muy bajas. completo; habrá de todo. Las empre-

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 168


WWF Iniciativa Amazonia Viva

sas se han dado cuenta de que es im- ¿En qué medida es viable la estruc-
portante mostrar qué están haciendo turación de la llamada «economía
en términos de responsabilidad social, verde»? Cuando uno se propone tradu-
e intentar mostrar eso como forma de cir el discurso en acciones concretas,
distinción, y surgirán muchas exigen- hay que asumir compromisos con los
cias. Diversos movimientos sociales cambios, establecer metas y valo-
presionarán para que se avance más res. Un ejemplo de compromiso con
rápidamente, para que los gobiernos, un cambio serio, aquí en Brasil, fue
la sociedad y las empresas se compro- someter a votación en el Congreso la
metan más para con la sostenibilidad. propuesta de enmienda constitucional
52/2011, que establece la obligatorie-
¿Pueden considerarse esas expe- dad de que el presidente de la Repú-
riencias empresariales de éxito un blica, los gobernadores y los alcaldes
legado de Rio 92? Sí, ciertamente. establezcan metas para sus gestiones
Veinte años son muchos años y han basadas en el desarrollo sostenible.
pasado muchas cosas. Con los medios Según dicha propuesta, noventa días
de comunicación actuales, la informa- después de asumir el cargo, tienen
ción circula mucho más rápidamente que presentar metas y cifras acerca de
y la sociedad se informa y conoce todos los ámbitos de la gestión pública
mucho más sobre todo, también sobre y de todas las regiones que estén bajo
las empresas. El sector empresarial su gobierno.
es muy importante en la sociedad,
tiene mucha visibilidad, muchos
recursos financieros y económicos, y
tiene mucho poder sobre los medios
de comunicación, pues es un anun-
ciante muy importante y financia
campañas electorales y a políticos.
Así, la sociedad mirará cada vez más
hacia las empresas y aumentarán las
exigencias y expectativas respecto a
ellas. Como este sector tiene mucho
poder y muchos recursos, la sociedad
demanda una gran responsabilidad
ODED
y de la misma manera se moviliza en
relación a las empresas, tanto para
hacer presión sobre ellas como para
GRAJEW
rechazarlas o apoyarlas.

¿Qué opina sobre el texto de base


de Rio+20? Lo que llama la atención
es que hay una falta de sincronismo
con la urgencia actual de repensar el
modelo de desarrollo y el compromiso
real, la visión de los gobiernos sobre
lo que debe hacerse. Es un texto muy
pobre en cuanto a lo que se espera
que hagan los gobiernos y su visión
respecto a lo que debe hacerse. No es
un texto que ponga en cuestión funda-
mentalmente el modelo de desarrollo
que nos ha conducido al estado actual
del mundo. Y también se echan en
falta compromisos concretos con el
modelo de desarrollo sostenible.

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 169


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Entrevista

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92?


¿Adónde va Rio+20?

Diversidad Biológica, y espera ver una de la Presidencia de la República en los


profundización de las acciones tras preparativos de la Conferencia.Una de
Rio+20. A pesar de sus expectativas las maneras en que eso se hizo fue la
optimistas, Goldemberg es crítico misión que me encomendó el Presiden-
Foto cedida pelo entrevistado

con el texto de base de la nueva te de viajar a Estados Unidos, India


conferencia: «Simplemente reafirma y China para convencer a los jefes de
las decisiones adoptadas por los Estado sobre la importancia de esa
países o las Naciones Unidas, que conferencia y de su presencia en Rio, y
resultaron insuficientes para evitar realmente acudieron.
los problemas ambientales a que nos
enfrentamos», dice. ¿Qué países tuvieron una partici-
Además de secretario de Medio pación más destacada en Rio 92?
Ambiente, fue secretario de Ciencia y ¿Cómo fue la participación de los
Tecnología y ministro de Educación, países de América Latina? Los países
entre los diversos cargos públicos que participaron en los preparativos
que desempeñó. En sus actividades de la conferencia fueron los países de
JOSÉ académicas, ha dedicado su
carrera a la investigación en física
la Unión Europea y Japón. Estados
Unidos tuvo un papel importante, pero

GOLDEMBERG nuclear, energía, planificación


energética y aprovechamiento de
no demasiado firme. La participación
de los demás países latinoamericanos
la biomasa. La actuación de José fue pequeña.
José Goldemberg es un célebre físico
Goldemberg en diferentes áreas se
brasileño, de 84 años de edad. Era el
ha visto reconocida con numerosos ¿Cuál fue el principal legado de la
secretario de Medio Ambiente de la
premios, como el Premio Planeta conferencia de Rio 92? La aprobación
Presidencia de la República de Brasil
Azul, concedido por la Asahi de las Convenciones sobre Cambio
cuando se celebró la conferencia de
Glass Foundation en 2008. Vea a Climático, Biodiversidad y la Agenda
Rio 92. Se esforzó considerablemente
continuación la entrevista completa. 21. Las convenciones posteriormente
para que la conferencia fuera un
ratificadas por los países signatarios se
éxito y contara con la participación
¿Qué hacía usted cuando se celebró convirtieron en leyes y fijaron obliga-
efectiva de los países cuya economía
Rio 92? ¿Recuerda algún episodio es- ciones para esos países. En el caso de
o dinámica de población tenía (y tiene)
pecial que marcara aquella conferen- la Convención sobre Cambio Climático,
un fuerte impacto en las condiciones
cia? Era secretario de Medio Ambiente que fue ratificada rápidamente y entró
ambientales en todo el planeta.
de la Presidencia de la República, una en vigor en 1997, tras la Conferencia de
En una entrevista por escrito,
secretaría que tenía las atribuciones Kioto, que aprobó el Protocolo de Kioto,
este científico señala como grandes
actuales del Ministerio de Medio Am- el cual estableció metas y plazos para
legados de Rio 92 la adopción
biente, y a la vez ocupaba el cargo de reducir las emisiones de los principales
del Programa 21 y el inicio de las
secretario de Ciencia y Tecnología. Lo gases responsables del calentamiento
discusiones para la elaboración
más notable de Rio 92, desde el punto global. El Protocolo no fue ratificado por
de la Convención sobre Cambio
de vista de Brasil, fue el compromiso los Estados Unidos, pero aun así entró
Climático y el Convenio sobre

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 170


WWF Brasil / Zig Koch

WWF Iniciativa Amazonia Viva

en vigor en 2005 y fue implementado dificultades en su implementación, rían más de los países industrializados,
por los países de Europa. El Mecanismo por lo que la reducción de emisiones pero deberían contener también dispo-
de Desarrollo Limpio, que beneficia a de gases de efecto invernadero no fue siciones para la participación efectiva de
los países en desarrollo, como Brasil, según lo previsto. Estas siguen aumen- los países emergentes (anexo I de la Con-
también dio buenos resultados. tando, y para 2050 habrán calentado el vención sobre Cambio Climático), a los
El Convenio sobre Diversidad planeta hasta un nivel que provocará que el protocolo de Kioto prácticamente
Biológica tardó más tiempo en ser importantes cambios en el clima. Se no impuso ninguna obligación, lo cual
implementado y el primer protocolo necesitan acciones más fuertes en no es realista si realmente queremos
derivado del mismo no fue adoptado este ámbito, especialmente porque los prevenir o mitigar el cambio climático
hasta 2009. Estados Unidos no ratificó países emergentes, como China, se han en la medida de lo posible.
ese convenio. convertido en grandes emisores de ga-
La Agenda 21, pese a no ser una ses de efecto invernadero desde 1992. ¿Qué opinión le merece el texto de
convención jurídicamente vinculante, El Convenio sobre la Diversidad base de Rio+20? El texto de base para
tuvo una gran influencia porque miles Biológica siguió siendo un documento Rio+20 (el llamado borrador cero)
de alcaldes de numerosos países del retórico y no comenzó a ser verdadera- resulta totalmente insatisfactorio para
mundo lo adoptaron como guía para mente implementado hasta después de lograr esos objetivos, pues en general
el desarrollo sostenible en el área de 2009, con la aprobación del Protocolo se limita a reafirmar las decisiones
saneamiento, eliminación de residuos de Nagoya. anteriormente tomadas por los países
urbanos y mejora de la calidad del aire. o por Naciones Unidas, que demostra-
¿Cuál debería ser el principal resultado ron ser claramente insuficientes para
Entre las resoluciones de la conferen- de Rio+20? El principal resultado de evitar los problemas que enfrentamos
cia, ¿hay algún ámbito en que no se Rio+20 debería ser el fortalecimiento de hoy en el ámbito del medio ambiente.
hayan registrado avances? La Conven- las acciones previamente acordadas en La única idea nueva de este texto de
ción sobre Cambio Climático y el Pro- las convenciones sobre Cambio Climáti- base es la de promover acciones hacia
tocolo de Kioto encontraron muchas co y Biodiversidad. Esas acciones exigi- una «economía verde», propuesta por

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 171


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Satisfacer las necesidades inmediatas conlleva el grave


riesgo de no garantizar un desarrollo sostenible, es decir, que sea
duradero. Por ejemplo, talar una selva virgen y vender la madera
puede parecer a corto plazo una buena idea para garantizar la
alimentación para la familia. Lo que sucede es que, una vez que
se tala, el bosque no puede volver a ser talado nuevamente y los
medios de subsistencia desaparecen.

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 172


WWF Iniciativa Amazonia Viva

el PNUMA (Programa de las Naciones verde» de toda la economía y la «eco-


Unidas para el Medio Ambiente) y que nomía azul». Esta se centra más en la
se basa en el uso racional de los recur- conservación de la naturaleza (agua,
sos naturales, la reducción del uso de atmósfera y bosques). Una «economía
combustibles fósiles y el uso creciente verde» presupone claramente la exis-
de fuentes de energía renovables. Aun tencia de una «economía azul».
así, lo que consta en ese «borrador cero»
son simples exhortaciones, sin metas Desde la perspectiva del acceso de los
ni plazos para cumplirlas, ni un plan de ciudadanos a los alimentos, el agua y
trabajo para dividir esas acciones entre la energía, ¿cómo deben ver los gobier-
los países. Eso es lo que hizo el Proto- nos y la sociedad el medio ambiente?
colo de Kioto y es el ejemplo que deberá ¿Cuál es la solución de futuro para la
ser seguido. Creo que Rio+20 debería Amazonia, para Brasil y para América
determinar la adopción de protocolos Latina? El problema que surge aquí es
que dieran paso a la adopción de una el conflicto entre la manera de satisfa-
«economía verde» en los diversos países. cer las necesidades urgentes e inme-
diatas de la población, como el acceso
¿De qué forma pueden el sector em- al agua, los alimentos y el transporte, y
presarial y la sociedad civil contribuir a una visión a más largo plazo.
la conservación del medio ambiente y Satisfacer las necesidades inmedia-
al desarrollo sostenible? Una vez apro- tas conlleva el grave riesgo de no garan-
badas las metas y calendarios para una tizar un desarrollo sostenible, es decir,
transición hacia una economía verde, que sea duradero. Por ejemplo, talar
cada sector empresarial (por ejemplo, una selva virgen y vender la madera
el sector siderúrgico, la construcción, puede parecer a corto plazo una buena
la agricultura, etc.) habría de identifi- idea para garantizar la alimentación
car cuáles deberían ser las acciones a para la familia. Lo que sucede es que,
seguir. Por ejemplo, el sector siderúrgi- una vez que se tala, el bosque no puede
co decidiría abandonar paulatinamen- volver a ser talado nuevamente y los
te el uso del carbón mineral y pasaría medios de subsistencia desaparecen.
usar carbón vegetal producido en las En una visión a medio y largo
plantaciones forestales sostenibles. plazo lo que debe hacerse es preser-
En el caso del sector residencial o co-
mercial, el camino a seguir pasaría por
var el bosque y usar sus productos de
manera sostenible.
JOSÉ
la recogida selectiva de residuos y su
uso para producir calor y electricidad.
Lo mismo puede decirse de los
recursos energéticos: por ejemplo, si
usamos petróleo (y sus derivados) de
GOLDEMBERG
¿Cuál es el papel de las economías manera irracional, las reservas restan-
emergentes —como los BRICS— en tes no durarán más de 30 a 40 años.
el impacto y las soluciones a los pro- Necesitamos aumentar la eficiencia
blemas ambientales? Muy grande: el con la que se usa el petróleo para pro-
producto nacional bruto de los BRICS longar la vida de las reservas restantes
pasó del 21 a 31 % por ciento del PIB y poco a poco ir reemplazándolo por
mundial en los últimos 30 años. energías renovables, que no se agota-
Las emisiones de CO2 (el principal rán mientras brille el sol.
gas causante del efecto invernadero) La verdad es que no hay una con-
aumentaron de 29 a 35 % durante el tradicción insalvable entre desarrollo
mismo período y superarán las emisio- (entendido como crecimiento económi-
nes de los países industrializados en co) y preservación del medio ambiente.
los próximos 20 años. Hacer que sean compatibles es lo que
se entiende por desarrollo sostenible.
¿En qué medida es viable la estruc-
turación de la llamada «economía
verde»? ¿Sería también importante
una «economía azul»? No hay ninguna
diferencia esencial entre la «economía

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 173


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Entrevista

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92?


¿Adónde va Rio+20?

carbono, tales como la Reducción de En su opinión, ¿qué países tuvieron


Emisiones de Carbono causadas por una participación más destacada en
la Deforestación y la Degradación de Rio 92? ¿Cómo fue la participación de
los Bosques (REDD) y se muestra los países de América Latina? Creo
Foto cedida pelo entrevistado

preocupado por la destrucción de los que la mayoría de los países más avan-
biomas: llegar a la deforestación de zados estaban comprometidos seria-
un quinto de la Amazonia podría ser mente en hacer progresos sustanciales.
irreversible. Y hubo un acuerdo general acerca de
En Brasil, Lovejoy es miembro de la cuáles eran los principales problemas
junta de la Fundación Brasileña para ambientales.
el Desarrollo Sostenible, de Rio De
Janeiro, y ha sido galardonado con el ¿Cuál fue el principal legado de
título de la Orden de Rio Branco (1988), la conferencia de Rio 92? Las dos
con la Gran Cruz de la Orden Nacional convenciones, la Agenda 21 y el Fondo
del Mérito Científico (1998) y con el para el Medio Ambiente Mundial
premio João Pedro Cardoso de Medio (FMAM) fueron un legado impresio-
THOMAS Ambiente del estado de São Paulo
(2011). Vea a continuación la entrevista
nante. Una decepción fue la escasa
asistencia prestada en comparación

LOVEJOY que concedió por escrito a WWF. con las cantidades previstas, y el
fracaso general de la CMNUCC para
lograr grandes progresos en la reduc-
El ambientalista americano Thomas
¿Qué hacía usted cuando se celebró ción de las emisiones de combustibles
Lovejoy, profesor titular de Ciencia y
Rio 92? ¿Recuerda algún episodio fósiles y sobre REDD y REDD+.
Política Ambiental de la Universidad
especial que marcara aquella conferen-
George Mason y presidente de
cia? Yo era miembro de la delegación de Entre las resoluciones de la conferencia,
Biodiversidad del Centro Heinz para
EE. UU. y una de las personas a quien ¿hay algún ámbito en que no se hayan
la Ciencia, la Economía y el Medio
el grupo Tolba había invitado a acudir registrado avances? Sobre el cambio
Ambiente, estudia la Amazonia desde
a Nairobi para discutir cuál debía ser el climático, la falta de progreso se ha es-
hace más de 40 años.
contenido de un convenio de diversidad tancado en torno a la cuestión de quién
Lovejoy visitó la Amazonia por
biológica. También participe en el Foro. da el primer paso, cuando en realidad
primera vez en 1965. La experiencia
Un aspecto negativo que recuerdo fue la no hay tiempo que perder. Sobre la
acumulada durante los años de
filtración del memorándum Bill Reilly biodiversidad, había tanto revuelo en
estudio de este bioma lo llevó a
en Washington, que dio lugar a que el torno al acceso y a la participación en los
concebir ideas como la de permitir que
CDB no fuera firmado por los EE. UU. beneficios que el avance en la conserva-
los países en desarrollo desarrollen
También me sorprendió el compromiso ción quedó relegado a un segundo lugar.
actividades de conservación a cambio
de Brasil para lograr que se llevaran Las crecientes tasas de extinción (véase
de la reducción de su deuda externa.
a cabo cosas importantes. La mayoría la Tercera Perspectiva Mundial sobre
Es un entusiasta del sistema de
de los países industrializados realizó Diversidad Biológica) son en buena parte
pagos por servicios ambientales y de
importantes contribuciones. una consecuencia del lento comienzo.
los mecanismos de compensación de

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 174


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Es muy factible estructurar una economía «verde», pero la transición


requerirá de una gran cantidad de voluntad y ayuda política.

¿Cuál debería ser el principal resulta- de la sostenibilidad de sus propias un líquido; también es muy importante
do de Rio+20? Objetivos energéticos operaciones, pueden colaborar con la como hábitat para la biodiversidad de
ambiciosos a la vez que alcanzables. sociedad civil, que básicamente tiene agua dulce.
Un enfoque claro en torno a la econo- los conocimientos técnicos necesarios.
mía verde que los países puedan asu- Desde la perspectiva del acceso de
mir con rapidez. Si no la gobernanza ¿Cuál es el papel de las economías los ciudadanos a los alimentos, el
global, entonces una serie de medidas emergentes —como los BRICS— en el agua y la energía, ¿cómo deben ver
regionales y nacionales que contribu- impacto y las soluciones a los proble- los gobiernos y la sociedad el medio
yan a un progreso significativo. Y yo mas ambientales? Los cuatro países ambiente? ¿Cuál es la solución de
añadiría un reconocimiento generali- BRIC son muy diversos en sus trayecto- futuro para la Amazonia, para Brasil y
zado de que el planeta funciona como rias de desarrollo y, consecuentemente, para América Latina?
un sistema biofísico y que debe ser en su visión de la sostenibilidad. Brasil
manejado como tal. se encuentra en una posición muy En general, se trata de respetar la
especial por su situación en general naturaleza, definir una calidad de
¿Qué opinión le merece el texto de favorable en materia de energías reno- vida que sea buena para los pueblos y
base de Rio+20? Los objetivos ener- vables, por la gran importancia de su mucho mejor para el medio ambiente
géticos mundiales son muy loables y biodiversidad y la excelente situación de lo que lo es el enfoque del consu-
factibles. El programa de la economía de la ciencia brasileña. Cabe esperar mo intensivo como se da en Estados
verde es muy importante. No está que en Rio+20 Brasil tenga un papel Unidos. Este último es un modelo que
claro qué podrá pasar respecto a la enérgico y positivo, como lo hizo en la simplemente no funciona. También es
gobernanza mundial. La biodiversi- Cumbre de la Tierra. muy importante gestionar el medio
dad está prácticamente ausente de ambiente y la actividad humana como
forma directa. En general, las medi- ¿En qué medida es viable la estruc- un sistema y con planes integrados.
das propuestas siguen siendo modes- turación de la llamada «economía Eso es válido para la Amazonia como
tas en comparación con la escala de verde»? ¿Sería también importante un todo y para cada uno de los países
los problemas. una «economía azul»? Es muy factible que la componen. Y significaría revivir
estructurar una economía «verde», el Tratado de Cooperación Amazónica
¿De qué forma pueden el sector pero la transición requerirá de una y fomentar otros enfoques regionales
empresarial y la sociedad civil contri- gran cantidad de voluntad y ayuda similares. La mejor medida de éxito
buir para la conservación del medio política. La economía «azul» se refiere será que parte de la biodiversidad de
ambiente y al desarrollo sostenible? a que la actividad económica tenga un Brasil, de la Amazonia y de Sudamé-
No tengo mucho que indicar específi- efecto positivo sobre el agua y la hidro- rica logre sobrevivir. Al final, como
camente, pero más allá de lo que las logía. Hay que recordar continuamente mejor se mide el impacto ambiental es
empresas pueden hacer en términos que el agua dulce no es simplemente a través de la diversidad biológica.

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 175


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Entrevista

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92?


¿Adónde va Rio+20?

Intergubernamental de Expertos sobre baron cuatro convenios, dos de ellos


el Cambio Climático (IPCC), que en muy avanzados, en particular el de
2007 fue galardonado con el Premio Biodiversidad y la Convención sobre
Nobel de la Paz. el Cambio Climático; la Convención
Vea a continuación los principales de Lucha contra la Desertificación no
Roosevelt Pinheiro /ABr

pasajes de la entrevista telefónica que lo fue tanto, y menos aún la de Aguas


concedió a WWF. En ella traza un Internacionales. Rio 92 fue un gran
balance del debate ambiental en las marco de debate sobre la convivencia
dos últimas décadas, especialmente entre desarrollo económico y preser-
en lo tocante al clima, y nos cuenta vación de la calidad ambiental del
sus expectativas respecto a Rio+20. planeta como un todo, y supuso un
hito en la toma de conciencia de la lla-
¿Qué hacía usted cuando se cele- mada agenda del desarrollo sosteni-
bró Rio 92? ¿Le preocupaba ya la ble. Fue realmente un gran momento
cuestión del cambio climático? Sí, me de las Naciones Unidas y ciertamente
preocupaba, y de hecho en aquella supuso un avance importante por lo
CARLOS época lideraba la parte brasileña de un
experimento internacional llevado a
que simbolizó.
Aunque sería de esperar que se

NOBRE cabo con Inglaterra para estudiar los


impactos climáticos de las perturba-
tratara la cuestión del cambio climáti-
co en Rio+20, ese no es el propósito de
ciones antropogénicas en la Amazo- esta conferencia.
El investigador Carlos Nobre, actual nia, un estudio sobre perturbaciones No es el propósito principal de la
secretario de Políticas y Programas y cambios climáticos derivados de la conferencia, porque una vez que se
de Investigación y Desarrollo del deforestación. En Rio 92 expusimos creó la Convención sobre Cambio Cli-
Ministerio de Ciencia, Tecnología los resultados preliminares de aquel mático y fue ratificada por la mayoría
e Innovación de Brasil (MCTI), es experimento, que había comenzado en de los países —y tuvo una consecuencia
una de las principales referencias 1990 y todavía estaba en curso. Allí muy importante, que fue el Protocolo
internacionales en el ámbito del clima. participé en muchas actividades, algu- de Kioto— no se retomará el mismo
Suya es la hipótesis, formulada hace nas en la antigua Universidad de Bra- tema, entre otras cosas porque hay una
20 años, sobre la «sabanización» de la sil, organizadas por el profesor Luiz Conferencia de las Partes de los países
Amazonia debido a la deforestación. Pinguelli Rosa, que preparó una serie firmantes de la Convención sobre el
Es ingeniero. Estudió en el Instituto de debates antes de la conferencia. Cambio Climático. Por ello, no tendría
Tecnológico de Aeronáutica (ITA) sentido hacer otra Cumbre de la Tie-
e hizo su doctorado en el Instituto ¿Fue Rio 92 decisivo de cara a las rra, similar a la de 1992. Esta cumbre
Tecnológico de Massachusetts (MIT). medidas adoptadas respecto al tiene que tener otro objetivo. Se habla
Forma parte del Instituto Nacional cambio climático? Obviamente, fue de desarrollo sostenible, un tema muy
de Investigaciones Espaciales un catalizador enorme. Los resultados recurrente también en aquella época,
(INPE) y fue coautor del Cuarto más concretos de Rio 92 fueron los cuando faltaban ocho años para la
Informe de Evaluación del Grupo convenios internacionales. Se apro- llegada del nuevo milenio. Se hablaba

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 176


WWF Iniciativa Amazonia Viva

del Programa 21. Y ahora, veinte años de Rio+20 es que defina objetivos e
después, tenemos que retomar el tema indicadores verificables y que todos
del desarrollo sostenible. Ahora ya los países pongan en práctica pro-
no podemos separar totalmente los gramas nacionales para implementar
temas y algunas dimensiones, como dichos objetivos. No se trataría de una
por ejemplo los cambios ambientales decisión de implementar algo práctico;
globales, en que el cambio climático serían meramente objetivos. Tienen
juega un papel clave. Transversalmente que ser amplios, contemplar varias
Rio+20 se ocupará de esos asuntos de dimensiones, vincular el uso sostenible
forma mucho más integradora y no de los recursos naturales con la erradi-
como si se tratara de una negociación cación de la pobreza, con la equidad en
de avances graduales en el tema de la la distribución de la riqueza e buscar la
Convención sobre el Cambio Climáti- mejora de los indicadores sociales.
co, en que hay una serie de acciones Existe actualmente un debate muy
en curso y una serie de propuestas en intenso sobre si Rio+20 debería es-
negociación. Rio+20 pretende ser se- tablecer la creación de una Organiza-
mejante a Rio+92 en sentido simbólico ción Mundial del Medio Ambiente. La
e histórico. Se trata de un importante diplomacia brasileña ha abogado más
momento de reflexión sobre el rumbo bien por un Consejo para el Desarrollo
del desarrollo del planeta, del desarro- Sostenible en la ONU, no por una or-
llo humano, y un intento de convergen- ganización como la Organización Mun-
cia hacia el desarrollo sostenible. dial de la Salud, la del Trabajo o la del
Comercio. Mi propuesta es más atre-
¿Cómo participará en Rio+20? ¿Como vida, aunque es una propuesta mía, no
miembro del gobierno o como aca- es algo que se haya discutido mucho.
démico? Actualmente trabajo en el Yo creo que el PNUMA (Programa de
Gobierno, y estaré en la delegación las Naciones Unidas para el Medio
brasileña como parte del gobierno. Ambiente) y el PNUD (Programa de las
Pero, evidentemente, mis ideas son las Naciones Unidas para el Desarrollo)
de un científico. deberían fundirse en un único progra-
ma. Y eso ni siquiera se está discutien-
¿Cuál podría ser el principal legado de do, pero a mí me gustaría que esos dos
Rio+20? Creo que así como en Johan- programas se fusionaran y se convir-
nesburgo, en 2002, en la Cumbre Mun- tieran en una organización mundial
dial sobre el Desarrollo Sostenible, se del desarrollo sostenible.
definieron los principales objetivos
de desarrollo social —los Objetivos ¿Qué opina sobre el texto de base de
del Milenio—, creo que sería muy Rio+20? El primer borrador recoge
importante llegar a un gran acuerdo las posiciones de casi 200 países. No
global respecto a objetivos y metas es una tarea sencilla tejer consensos
de desarrollo sostenible. Eso sería un entre más de 100 propuestas diferen-
resultado básico: ponerse de acuerdo tes. Se trata de un trabajo que requiere
acerca de un pequeño número de ob- una gran habilidad diplomática y de
jetivos globales y que todos los países negociación. El borrador 1, que se pre-
allí presentes, así como hace diez años sentará en breve —pues estamos casi
concertaron algunos objetivos de de- en mayo y el plazo se está agotando—,
sarrollo humano y social, se pusieran es un poco más conciso, tiene tras de
ahora de acuerdo para definir algunos sí un enorme trabajo diplomático, y
objetivos de desarrollo sostenible en yo sigo siendo optimista y espero que
un período de tiempo razonable, de ese texto conducirá a algunos grandes
10 a 20 años. Y lo que hay que hacer consensos: quizá a lograr un número
es unir los objetivos económicos y los determinado de objetivos de desa-
objetivos sociales. No hay que separar rrollo sostenible e indicadores que
la dimensión ambiental de la social puedan ser puestos en práctica a escala
y la económica. Todos son objetivos nacional, regional y mundial en los
entrelazados. Lo mínimo que espero próximos 10 a 20 años, y tal vez hacia

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 177


© Michel Roggo / WWF-Canon

Un gran acuerdo global respecto a objetivos y metas de


desarrollo sostenible sería muy importante. No hay que separar
la dimensión ambiental de la social y la económica. Todos son
objetivos entrelazados.
WWF Iniciativa Amazonia Viva

una convergencia sobre el mecanismo sucedió en Copenhague en 2009; o


de gobernanza a nivel internacional, incluso a veces aunque se adopte a
un consejo o un organismo. Aunque nivel mundial no tiene repercusiones
nada de eso estará concluido antes del a nivel local, como sucedió con el caso
22 de junio. de que la mayor parte de los países
aprobaran el Protocolo de Kioto en
¿Ha cambiado en el mundo científico 1997, entre ellos Estados Unidos, pero
el interés hacia los temas ambientales? que el Congreso estadounidense nunca
El interés de la comunidad científica en lo ratificara. Es decir, que incluso si la
torno a cuestiones amplias de desa- política mundial va en la dirección que
rrollo sostenible ha crecido conside- apunta la ciencia como política pública
rablemente. La comunidad científica necesaria, en ocasiones un país o el
no se presenta dividida: no existe una Congreso de un país no avanzan en
comunidad científica del área ambiental esa dirección.
y otra del área del desarrollo; está más
allá de ese debate.
Si nos fijamos en el apoyo de la comu-
nidad científica al debate en torno a la
Ley Forestal, veremos que no ha habido
una comunidad científica con un sesgo
ambiental ni una comunidad científica
con un sesgo agronómico, económico
o desarrollista. Eso no sucedió. Lo que
hubo fue un enorme apoyo de la comu-
nidad científica —representada por sus
organizaciones, la SBPC y la Academia
Brasileña de Ciencias— a un modelo
de desarrollo sostenible para la agri-
cultura brasileña, con la preservación
y la conservación de nuestros recursos
naturales. Esa posición clara de la co-
munidad científica brasileña está a favor
del desarrollo sostenible. Y el desarrollo
sostenible es, en realidad, la búsqueda
CARLOS
del equilibrio. Desde el principio, la co-
munidad científica ha adoptado el tema
del desarrollo sostenible como algo
NOBRE
cuyas bases deberían ser científicas.

En los 20 años que separan Rio 92 de


Rio+20, ¿ha aumentado la fuerza de
los científicos? Sí, sin duda. De hecho,
todos los avances y propuestas de la
Convención sobre el Cambio Climático
se basan en la mejor ciencia. Ha me-
jorado el nivel de muchos aspectos, al
menos de las propuestas de la Conven-
ción sobre el Cambio Climático y del
Convenio sobre la Diversidad Biológi-
ca. Todas las convenciones sobre me-
dio ambiente y desarrollo sostenible se
basan en la mejor ciencia. A menudo,
esa gran ciencia no se aplica; y a veces
no se aprueba a nivel mundial, como

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 179


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Entrevista

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92?


¿Adónde va Rio+20?

de un amplio marco jurídico de celebración de una conferencia de alto


protección y porque el Estado y la nivel estaba presente en el foro de la
sociedad actúan a favor del uso ONU desde la presentación del Informe
sostenible del medio ambiente. Brundtland, de 1987. Brasil se encontró
El embajador FlávioMiragaiaPerri, bajo el fuego cruzado de las campañas
actualmente jubilado, fue uno de ambientalistas internacionales, que se
Lúcia Chayb

los diplomáticos brasileños que centraban en la Amazonia y el estado


trabajaron directamente en la hábil de ese inmenso bosque, buena par-
construcción de ese estatus.Para ello te del cual es territorio brasileño.La
fue fundamental la celebración de convocatoria de la conferencia de Rio
Rio 92, en la que este diplomático se 92 —como se denominó posteriormente
desempeñó como secretario ejecutivo a esa histórica reunión de 107 jefes de
del grupo de trabajo nacional que Estado y delegados de todos los países
organizó la conferencia. miembros de las Naciones Unidas— me
Además, Perri fue presidente del marcó profundamente, pues toda la
IBAMA (Instituto Brasileño de Medio disputa en las sesiones de la Asamblea
FLÁVIO Ambiente y de los Recursos Naturales)
y secretario nacional de Medio
General antes de la elección de Rio de
Janeiro como sede, implicó un inten-

PERRI Ambiente (inmediatamente después de


Rio+92) y trabajó como secretario de
so trabajo diplomático por parte de
nuestro equipo.Era secretario general
Medio Ambiente del estado de Rio de de Relaciones Exteriores el embajador
Brasil recibe la conferencia de Rio+20 Janeiro.En esta entrevista, realizada Paulo Tarso Flexa de Lima y jefe de
con el estatus de «potencia de la por escrito, el diplomático cuenta misión ante la ONU el embajador Paulo
biodiversidad».Obviamente, esa imagen cómo fue la organización de aquella Nogueira Batista, dos grandes nombres
está relacionada con su riqueza conferencia y valora las perspectivas en el Ministerio de Relaciones Exterio-
natural (distribuida en seis biomas) y respecto a Rio+20. res que guiaron nuestra actuación en
la exuberancia de sus paisajes.Pero, este caso.La decisión de proponer a Rio
más allá de lo que alberga su extenso ¿Qué hacía usted cuando se celebró de Janeiro como sede fue un gran mo-
territorio nacional, el título de «potencia» Rio 92? ¿Recuerda algún episo- mento para Brasil, pues se convirtió en
se refiere a su capacidad de preservar dio especial que marcara aquella el verdadero marco para una profunda
los recursos naturales. conferencia? Viví la Conferencia de revisión de políticas y de instituciones
Ese reconocimiento no ha caído del las Naciones Unidas sobre el Medio internas que se ocuparan del medio
cielo, sino que se viene construyendo Ambiente y el Desarrollo, de 1992, ambiente en nuestro país.
desde hace décadas, en parte debido mucho antes de ser nombrado secreta-
al gran esfuerzo de la diplomacia rio ejecutivo del Grupo de Trabajo ¿qué países tuvieron una participación
brasileña para confirmar su soberanía Nacional encargado de organizarla.Los más destacada en Rio 92? ¿Cómo
y al mismo tiempo mostrar a los años anteriores fui ministro plenipo- fue la participación de los países de
demás países que es una «potencia» tenciario en la misión de Brasil ante América Latina? No participé en la
porque conoce los bosques, dispone las Naciones Unidas y el asunto de la delegación brasileña como negociador;

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 180


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Todos los Estados y todas las personas deberán cooperar


en la tarea esencial de erradicar la pobreza, como requisito
indispensable del desarrollo sostenible, con el fin de reducir
las disparidades en los niveles de vida y responder mejor a las
necesidades de la mayoría de los pueblos del mundo.

sin embargo, tuve acceso a las nego- cana, en parte por sus posiciones más esencial de erradicar la pobreza, como
ciaciones porque estuve al mando de conservadoras; y los países de Europa requisito indispensable del desarro-
la infraestructura que dio apoyo a la occidental, entre los que destacaban llo sostenible, con el fin de reducir las
delegación y, desde esa posición privi- la Alemania recién unificada, Rei- disparidades en los niveles de vida y
legiada, pude contemplar la evolución no Unido y Francia.Entre los países responder mejor a las necesidades de la
de los hechos desde dentro.Sin género latinoamericanos hay que recordar a mayoría de los pueblos del mundo.»
de dudas, Brasil tuvo una actuación los países amazónicos, reunidos bajo De él se derivan la lucha contra el
destacada, algo que queda patente el Tratado de Cooperación Amazónica hambre y los esfuerzos de formular
al citar el nombre de algunos de los [Bolivia, Brasil, Colombia, Ecuador, un «Derecho a la alimentación», como
negociadores:Celso Lafer, Marcos Guyana, Perú, Surinam y Venezuela], significativa evolución jurídico-política,
Castriotode de Azambuja, Ronaldo que en aquel momento tenían intere- años después.Brasil tiene una historia
Sardemberg, Bernardo Pericás, Ru- ses comunes que defender.Costa Rica, loable de avances en ese sentido y ha ser-
bens Ricúpero, Luiz Augusto de Araújo Chile y Argentina contaban con nego- vido de parámetro para programas de
Castro y otros muchos, que fueron ciadores experimentados y diplomacia muchos países en desarrollo, especial-
hábiles y creativos delegados de Brasil, activa en las Naciones Unidas. mente africanos y centroamericanos.
tanto en la promoción como en la de- El Convenio sobre la Diversidad
fensa de los intereses brasileños.Fue- ¿Cuál fue el principal legado de la Biológica y la Convención Marco de las
ron importantes muchos países, pero conferencia de Rio 92? La Declaración Naciones Unidas sobre el Cambio Cli-
no hay duda de que los países nórdicos de Rio es un documento excepcional en mático fueron pasos importantes en el
vinieron bien preparados, aunque con cuanto a la precisión de los conceptos.Sus camino de la protección ambiental.El
una preocupación casi académica en 27 «principios» consolidaron el concepto Protocolo de Kioto, como subproducto
sus posiciones, pero trajeron el bagaje de desarrollo sostenible.Entre ellos cabe de la Convención del Clima, no siguió
de la Conferencia de Estocolmo de destacar el principio más candente por la una evolución satisfactoria debido a
1972. La función coordinadora de la dimensión ética y económica que implica, la no adhesión universal, con Estados
OCDE tuvo una importancia singular, el «Principio Cinco», que establecía que Unidos encabezando la resistencia
y entre sus miembros tuvo un papel «Todos los Estados y todas las contra el protocolo y el control de las
destacado la delegación norteameri- personas deberán cooperar en la tarea emisiones que preveía, los compromi-

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 181


WWF Iniciativa Amazonia Viva

sos para reducir las emisiones de gases soportes esenciales para la gestión de cia, la identificación de intereses, etc.
que agravan el efecto invernadero, la sostenibilidad; y el desarrollo de la Ellos tienen el poder para determinar
causa antropogénica del calentamiento ciencia, la educación y la cultura como el marco jurídico-político interno y
global.La última conferencia de las elementos básicos en la construcción naturalmente pueden ser más eficaces.
partes no logró establecer la continui- de una conciencia ambiental.También En cuanto a que no se hayan hecho
dad de los compromisos que vencerían hace referencia, bajo el enfoque de realidad muchas de las expectativas
en 2012, pero previó una reanudación las revisiones institucionales interna- creadas en 1992, no podemos ignorar
de las negociaciones, con objetivos de cionales y nacionales necesarias para los intereses establecidos y su oposición
reducción y control de emisiones obli- conseguir un desarrollo sostenible, a a los cambios.Existen fuertes resisten-
gatoriasenel plazo oportuno. la capacitación de personal para una cias al cambio, tanto a nivel nacional
El Programa 21 fue el documento gestión eficiente y lo que hoy denomi- como internacional, hay distintos
más completo producido en Rio 92, namosgobernabilidad. niveles de desarrollo, muchos desequili-
y supuso un programa de acción y Objeto de críticas por su baja opera- brios, arraigadas convicciones ideológi-
un método de trabajo para alcanzar cionalidad, el Consejo para el Desarro- cas y diferencias culturales que impiden
el ideal del desarrollo sostenible. El llo Sostenible (CDS) fue un producto la comprensión y el progreso.
programa 21 no se desarrollo ni aplicó sensible del Programa 21, pero mal Tenemos que romper la inercia. Y los
universalmente, pero es sin duda el insertado en el sistema de las Naciones momentos de crisis, como a la que asis-
repositorio más completo de méto- Unidas y sin los poderes de coordina- timos hoy en día en el hemisferio norte,
dos de protección ambiental, justicia ción que se esperaban de él. a ambos lados del Atlántico, ofrecen
social y eficiencia económica en el Por último, la diferencia más impor- una oportunidad para el cambio.En ese
contexto de la necesaria y consciente tante entre 1992 y 2012 es la participa- sentido, la conferencia de Rio+20 puede
participación de la ciudadanía. ción cada vez más importante de la ciu- ser propicia para la creación.
Su política económica y social dadanía en ese debate, la consciencia de
abarca a la política internacional y las la importancia del diálogo, con internet ¿Cuál debería ser el principal resul-
políticas nacionales para aplicar el al frente entre los medios de comunica- tado de Rio+20? La conciencia de la
nuevo concepto del desarrollo soste- ción.En 1992, a pesar de la importancia crisis planetaria del desarrollo, en el
nible, especialmente en los países en de la participación de las organizacio- modelo que hemos venido adoptando,
desarrollo,con respecto a las estrate- nes de la sociedad civil, reunidas en un es la oportunidad que ofrece esta gran
gias para combatir la miseria, a tiempo encuentro paralelo a la reunión inter- conferencia.Se trata de tener valor
quela participación de países desarro- gubernamental, no se sentía aún con para constatar que todavía estamos a
llados y en desarrollo conlleva cambios precisión la firmeza del interés de los tiempo de revisar los paradigmas eco-
en los patrones de producción y consu- ciudadanos y de la sociedad.Hoy en día nómicos, sociales y políticos que han
mo.Son significativas las sugerencias la sociedad civil tiene un papel relevante, orientado la acción humana sobre el
referentes a la salud pública y a la digno de importancia y consideración.La planeta, cuyos límites son agotables.
calidad de los asentamientos humanos. Conferencia de Rio+20 se celebra en Rio Aplico aquí la máxima de la urgencia
En mi opinión, un aspecto de espinosa de Janeiro, pero participará el mundo de «cambiar para conservar» del Gatto-
actualidad son los límites del planeta entero de manera virtual y simultánea. pardo de Lampeduza.Tenemos que cam-
que, aunque no se tratan en esos tér- biar para que la economía y el planeta
minos, sí que aparecen por ejemplo en Entre las resoluciones de la conferen- sean sostenibles, así como la humanidad
las interrelaciones entre sostenibilidad cia, ¿hay algún ámbito en que no se que tiene en él su único ecosistema.
y dinámica demográfica. hayan registrado avances? No soy pe-
El equilibrio de intereses entre el simista sobre los avances, pero creo que ¿Qué opinión le merece el texto de
planeta y el desarrollo, que busca el serán lentos a nivel internacional.Me base de Rio+20? El texto de base no es
concepto de desarrollo sostenible, cuesta más entenderlos en los planes un documento que se deba criticar ni
se aborda en elPrograma 21 desde nacionales, porque las palancas del po- condenar.Se trata simplemente de un
distintas perspectivas:protección de der están en manos de gobiernos como borrador preparado por la Secretaría
la atmósfera, transición energética, instrumentos de acción política, econó- a partir de más de 600 aportaciones
manejo del suelo, recursos marinos, mica y social dentro de los estados. de diversas fuentes.Corresponde a los
gestión de los recursos hídricos, lucha Sin embargo, el proceso político no Estados cambiarlo o incluso ignorarlo.
contra la deforestación, desertifica- es lineal. La relación entre Estados Como compilación, no alcanza el ob-
ción, diversidad biológica, valor de la sigue un ritual de respeto al principio jetivo deseado, que sería su capacidad
educación, etc. de soberanía, lo cual exige tiempo.Los para influir, por falta de impacto.En
El documento no pasa por alto las gobiernos representan la voluntad de cualquier caso, sí que diría que carece
acciones propuestas, la importancia de los ciudadanos según los modelos jurí- de foco.En realidad, repite temas y
los mecanismos financieros y la pro- dicos nacionales, los consensos demo- sugerencias que ya se trataron de ma-
ducción y oferta de tecnologías como cráticos donde se practica la democra- nera exhaustiva en documentos más

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 182


WWF Iniciativa Amazonia Viva

antiguos y de mayor calidad.Y creo que ¿En qué medida es viable la estruc-
no necesitamos un texto que emule a turación de la llamada «economía
otros textos y se presente con dos cen- verde»?¿Sería también importante una
tenas de páginas, sin un eje central. «economía azul»? No parece oportuno
Para ese conjunto de reivindicacio- introducir una frase hecha en la evo-
nes por sectores, que es como yo defino lución del concepto de desarrollo sos-
el texto de base, no sería necesario un tenible.Lo que no se define bien puede
nuevo documento, sino que bastaría dar lugar a malentendidos, separa-
con reforzar el valor del ya ampliamen- ciones y restricciones.La «economía
te estudiado y bien formuladoProgra- verde» no es una categoría económica
ma 21, que aborda todos los temas, se conocida y no veo de qué manera
ocupa de todos los sectores, sugiere podría anunciarse como un elemento
métodos de trabajo, apunta líneas de de un programa ambicioso para la con-
acción y ya existe. ferencia de Rio+20 sin afectar a la apli-
Por otro lado, la Declaración de Rio, cación progresiva y más eficiente del
la Declaración del Milenio y sus ocho concepto de desarrollo sostenible.Por
puntos centrales y sus valores y princi- lo que se entiende de la expresión, la
pios se han afirmado exhaustivamente, «economía verde» no sería en ningún
aunque no todos los han aplicado. caso un modelo de aplicación automá-
La Conferencia de Rio+20 tiene que tica ni uniforme en todos los países.
ser visionaria.Es la oportunidad para Las características de las sociedades y
reformular nuestra visión del mundo y las instituciones difieren en cada país,
del futuro.Está en manos de los líderes y a ellas les correspondería considerar
mundiales que se darán cita en Rio en sus metas y métodos de trabajo en
junio actuar como estadistas y seña- su proceso de desarrollo sostenible.
lar las equivocaciones y errores de los Si tuviéramos que insertar esa expre-
modelos actualmente adoptados de sión como elemento de este concepto,
organización económica, de orden y de imagino que esa denominación podría
prioridades sociales, de cuidado con los significar algunas metas que formarían
bienes de la naturaleza, que son, por parte del camino.Lo importante no son
definición, finitos. los detalles, sino el conjunto que nece-
Es hora de reconocer los límites del sitamos para la supervivencia.
planeta y la necesidad de una interven-
ción rápida para cambiar el curso de la ¿De qué forma pueden el sector em-
FLÁVIO
civilización.
Visionaria en su actitud y capaz de
sentar las bases para el futuro, podría
presarial y la sociedad civil contribuir
a la conservación del medio ambiente
y al desarrollo sostenible? No conozco
PERRI
actuar para alejarse de los modos im- ninguna receta mágica sobre los modos
propios e injustos de organización de la de participación de cada sector para
riqueza en el mundo actual.Su ambición lograr el desarrollo sostenible, pero no
debería pasar por un necesario cambio me cabe duda de que la participación
de paradigmas, respecto a los modos de todos será esencial para el éxito de
de apropiación y transformación de los nuestra empresa global.Tampoco dudo
bienes de la naturaleza, para garantizar en afirmar que, si seguimos a este paso
la supervivencia estable del planeta en el y en el modelo que hemos adoptado
tiempo y la dignidad de la vida humana. hasta hoy, naufragaremos.El planeta no
La Conferencia puede y debe asumir podrá soportar a esta humanidad que lo
la urgencia del cambio y definir su desafía en la tenaz obra de depredación
trayectoria, ofrecer el camino para que venimos practicando.
que toda la humanidad, en todas sus Cambio, valor para cambiar, nue-
expresiones y estamentos, asuma su vas rutas.
deber para con su supervivencia.
Hay que evitar a toda costa que se
desgaste el concepto de sostenibilidad.
Con él, por vez primera, agregamos
valor al concepto de desarrollo.

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 183


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Entrevista

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92?


¿Adónde va Rio+20?

temas de este siglo XXI como la energía, incluir a los denominados major groups,
los recursos hídricos, la seguridad segmentos destacados a quienes invita-
alimentaria, la producción y consumo. ron a participar en los debates y en los
Vea a continuación la entrevista acuerdos. Así fue como cobró importan-
concedida a WWF por escrito. cia el movimiento de defensa del bosque
atlántico, así como el «Planeta Fêmea»,
José Cruz /ABr

¿Qué hacía usted cuando se celebró Rio el espacio en que se trató la cuestión del
92? ¿Recuerda algún episodio especial género en aquella conferencia. A pesar
que marcara aquella conferencia? Par- de la diversidad de ideas, propuestas e
ticipé como funcionaria pública. Soy del iniciativas, la participación de la sociedad
IBAMA y he pasado numerosos periodos civil se canalizó y orientó hacia objetivos,
en la administración pública en cuestio- creencias y esperanzas comunes. Fue un
nes de medio ambiente, tanto en Rio de momento de optimismo que marcó para
Janeiro como en Brasilia, donde ahora siempre la actuación de los ambientalis-
soy ministra. En la conferencia de Rio tas. Fue histórico.
92 nos movilizaron a todos, pues, antes
IZABELLA de que el desarrollo sostenible tuviera
la adhesión que vemos hoy en todos los
¿Qué países tuvieron una participación
más destacada en Rio 92? ¿Cómo fue

TEIXEIRA sectores, el medio ambiente prácticamen-


te solo les interesaba a los ambientalistas,
la participación de los países de Amé-
rica Latina? Los resultados de Rio 92
a los técnicos que actuaban en esa área y fueron fruto del esfuerzo conjunto de los
La bióloga Izabella Teixeira es la a algunos investigadores universitarios. países participantes. Fue la conferencia
ministra de Medio Ambiente de Brasil Además de los inspiradores documentos de Naciones Unidas con mayor número
desde hace dos años, tras haber sido que figuraban en la agenda, tuvimos un de jefes de Estado de las realizadas fuera
secretaria ejecutiva entre 2008 y 2010 líder carismático y entusiasmado, que fue de la sede de la ONU en Nueva York de
cuando era ministro Carlos Minc. el secretario general de la conferencia, toda la historia. Eso pone de manifiesto
Es funcionaria de carrera del IBAMA Maurice Strong. Lo que más me sorpren- la importancia global que los países atri-
(Instituto Brasileño de Medio Ambiente dió en aquel momento fue la manifesta- buyeron a los debates en curso. Por eso,
y de los Recursos Naturales) y doctora ción del llamado Foro Global Paralelo, resulta difícil destacar algunos países en
en Planificación Ambiental, y actuará que formaron las ONG en el Parque de particular; fue un momento de madu-
como una de las anfitrionas de Rio+20 Flamengo. Nunca se había visto algo así rez global en torno a los objetivos que
junto con los diplomáticos brasileños. en Brasil. Participaron todas aquellas debían alcanzarse en aquella cumbre.
Entre sus expectativas para la tribus de la sociedad civil mundial, que Pero también apuntaron algunos senti-
conferencia se encuentra que la ONU se dejaban ver en la primera conferen- mientos de «Norte y Sur» y, por ejemplo,
construya unos Objetivos de Desarrollo cia mundial sobre medio ambiente. Me los países de América Latina redactaron
Sostenible, «un conjunto de metas impresionó mucho cómo se organizaron e un documento titulado «Nuestra propia
que deban alcanzar todos los países, influyeron en el proceso, cambiando para agenda», para señalar la resistencia de
considerando sus niveles de desarrollo siempre la forma de las conferencias de la los países desarrollados que, en aquel
y características sociales», en torno a ONU, que a partir de entonces pasaron a momento, no querían hablar de pobreza,

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 184


WWF-Brasil / Luciano Candisani

En Rio+20 el balón está en el tejado de la economía, la economía de la


inclusión combinada con la protección del medio ambiente.
WWF Iniciativa Amazonia Viva

Esperamos lograr consensos para definir los caminos que


respondan a los desafíos que se plantean para todos nosotros, sin
excepción, porque humanidad no hay más que una y no podemos ignorar
el callejón sin salida a que nos enfrentamos a tan corto plazo.

solo de los bosques. Me gustaría subra- Convención Marco sobre el Cambio no ha dejado de crecer su influencia en
yar que el papel de Brasil fue mucho Climático, el Convenio sobre la Diversi- la toma de decisiones.
más allá que el de un mero anfitrión, y dad Biológica (CDB) y la Convención de
destacó particularmente en la creación las Naciones Unidas de Lucha contra la Entre las resoluciones de la confe-
de consensos y en la mediación en los Desertificación en los Países Afectados rencia, ¿hay algún ámbito en que
conflictos para la obtención de resulta- por Sequía Grave o Desertificación. no se hayan registrado avances? En
dos. También es importante destacar Además de esas convenciones, el este momento se está evaluando en
que la configuración geopolítica actual Programa 21 y la Declaración de Rio, qué puntos avanzamos, en cuáles no y
es completamente diferente. Además de ambos adoptados en esa conferencia, por qué razones. Es innegable que el
que se ha profundizado la globalización, fueron esenciales para la consolidación gran compromiso político alcanzado
los países emergentes, como Brasil, en del concepto de desarrollo sostenible y con los resultados de Rio 92 no se
aquella época eran países en desarrollo, continúan siendo una referencia para tradujo en una voluntad política para
y en muchos no había ministerios de las principales negociaciones interna- su puesta en práctica y el concepto de
medio ambiente o instancias similares. cionales. Ese fue el comienzo de una desarrollo sostenible sigue enfren-
En relación a Estocolmo-72, Rio 92 con- nueva era del orden multilateral para tándose a graves obstáculos para su
sagró el concepto de desarrollo sosteni- el desarrollo sostenible. En lo tocante implementación. Ese es también uno
ble, y además de involucrar a la sociedad a los procesos, Rio 92 mostró una gran de los objetivos de Rio+20: entender
civil, movilizó también a la comunidad comprensión internacional acerca de la los obstáculos para la aplicación de lo
empresarial, con lo que se introdujo el importancia del sistema multilateral de que se decidió y definir caminos para
debate económico, que no era central en las Naciones Unidas como un meca- realizar los cambios necesarios hacia
las discusiones de aquella década. nismo para resolver los principales un desarrollo sostenible que respete el
problemas mundiales, una importan- medio ambiente, permita la inclusión
¿Cuál fue el principal legado de la con- cia que hoy, 20 años después, parece social y el crecimiento económico. En
ferencia de Rio 92? Rio 92 nos dejó un haberse rebajado. Además, Rio 92 abrió cada una de las conferencias de la «fa-
rico legado, no solo en cuanto a sus deli- espacios hacia una nueva forma de milia» de conferencias sobre medio
beraciones, sino respecto a su proceso trabajar los asuntos internacionales a ambiente y desarrollo se ha registra-
de construcción. En esa conferencia partir de un diálogo más intenso con do algún avance. En 1972 se logró la
se establecieron tres de los principales los actores no gubernamentales. La institucionalización y la capacidad
marcos internacionales sobre desa- participación de la sociedad civil en los de los estados para regular; en 1992,
rrollo sostenible y medio ambiente: la debates se intensificó, y desde entonces logramos un concepto desafiante, la

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 186


WWF Iniciativa Amazonia Viva

movilización de la sociedad civil y consiste la fase final del proceso, en los procesos intergubernamentales, los
fuimos testigos de la globalización del que debemos centrarnos más en lo cuales, por desgracia, aún no incluyen
movimiento ecologista. Por ejemplo, que nos une que en lo que nos separa. adecuadamente el papel de los actores no
ni Greenpeace ni WWF tenían aún Antes era palpable que algunos países gubernamentales. De hecho, ese es un
una oficina en Brasil, y las abrieron ni siquiera querían incluir algunos de objetivo que tenemos para Rio+20: poner
después de Rio 92. En Rio+20 el ba- los principales temas en la agenda de de manifiesto los medios y formas más
lón está en el tejado de la economía, la la negociación, pero ahora todos los adecuados de participación de la socie-
economía de la inclusión combinada países buscan un mayor consenso en dad civil en la toma de decisiones de los
con la protección del medio ambiente. torno a las cuestiones fundamentales procesos multilaterales. Por otro lado, los
de la conferencia. Hay que destacar cambios que queremos solo será posible
¿Cuál debería ser el principal resultado el fortalecimiento de los debates y si se lleva a cabo también en el campo de
de Rio+20? Espero que Rio+20 signi- la propuesta en torno a la economía las decisiones individuales, por lo que es
fique una importante renovación del verde, de los objetivos del desarrollo importante igualmente un gran proceso
compromiso internacional hacia el de- sostenible y de cambios concretos en de toma de conciencia en torno a una
sarrollo sostenible, pero espero también las estructuras de las Naciones Unidas ciudadanía planetaria. Otro punto que
que no sea meramente la reafirmación para que estén en consonancia con el destacaría es la necesidad de establecer
de los principios y resultados de Rio desarrollo sostenible. Los países tie- un diálogo con la sociedad de masas. He-
92. Espero decisiones concretas que nen expectativas en torno a esos tres mos aprendido en cierta medida a hablar
supongan un fortalecimiento del sistema aspectos porque apuntan a una idea con la sociedad civil organizada, pero no
multilateral y un impulso para adoptar común internacional en torno a lo que sabemos casi nada sobre cómo convencer
modelos de desarrollo sostenible en las queremos para el planeta para respon- a los consumidores de que, por ejemplo,
próximas décadas. En particular, creo der a los grandes desafíos mundiales. necesitamos actitudes más cuidadosas
en la construcción de los Objetivos de para conservar nuestros recursos natura-
Desarrollo Sostenible, un conjunto de ¿De qué forma pueden el sector empre- les, actitudes que en última instancia se-
metas que deban alcanzar todos los sarial y la sociedad civil contribuir a la rán una condición fundamental para que
países, teniendo en cuenta sus niveles conservación del medio ambiente y al podamos desarrollarnos y crecer en los
de desarrollo y características sociales, desarrollo sostenible? Un cambio impor- próximos años. No existe un movimiento
económicas y ambientales, en torno a te- tante en los últimos 20 años ha sido la de masas en pro de la sostenibilidad. Yo
mas esenciales del desarrollo sostenible, forma en que la sociedad civil, y el sector destacaría ese reto.
como la energía, los recursos hídricos, empresarial, han comenzado a influir
la seguridad alimentaria, la producción, en cómo se mueve el planeta. Hoy en día ¿Cuál es el papel de las economías
el consumo, etc. También espero que se es innegable el papel de la sociedad civil emergentes —como los BRICS— en el
logre definir un órgano de gobernanza y del sector empresarial en la construc- impacto y las soluciones a los proble-
en el ámbito de las Naciones Unidas, que ción de un nuevo modelo de desarrollo mas ambientales? Las economías emer-
coordine y dé coherencia a las diversas con inclusión social y el crecimiento gentes surgen en un entorno geopolítico
acciones e iniciativas en torno al desa- económico, con un uso sostenible y la y ambiental muy diferente de aquel en
rrollo sostenible, a través de un consejo conservación de los recursos natura- que se fortalecieron las grandes poten-
o foro sobre desarrollo sostenible de les. Debates como el de los cambios en cias actuales. Los caminos seguidos en
Naciones Unidas. Por otra parte, es im- los patrones de producción y consumo aquella época no tuvieron en cuenta las
portante que Rio+20 decida fortalecer el pasan precisamente por la revisión de los consecuencias de las prácticas adopta-
Programa de las Naciones Unidas para modelos de negocio y sus relaciones con das para el desarrollo ni sus impactos
el Medio Ambiente (PNUMA), con el fin los ecosistemas y los derechos humanos. ambientales y sociales. Hoy en día ya
de que se le otorgue la autonomía y la Las empresas tienen además su experien- no es posible pensar en un crecimiento
estructura política y financiera necesa- cia específica para responder de manera económico sin reducción de la pobreza
rias para enfrentar los grandes desafíos innovadora e inmediata a los cambios del ni conservación del medio ambiente.
mundiales en la esfera medioambiental. mercado, y esa experiencia es fundamen- Brasil ha sido uno de los países que ha
tal en el momento actual. La sociedad mostrado en los últimos años cómo se
¿Qué opinión le merece el texto de civil, a través de sus organizaciones y puede hacer eso. Somos actualmente
base de Rio+20? El texto que está movimientos sociales, ha avanzado en los la sexta economía mundial, a la vez
a debate refleja los intereses, nece- debates sobre los tres ejes del desarrollo que avanzamos en la lucha contra la
sidades, prioridades y deseos de los sostenible, algo que no siempre pueden pobreza y en la reducción de las emisio-
casi 200 países. Esa es la razón por la lograr los gobiernos, presos en lógicas nes de los gases de efecto invernadero,
que se le ha acusado de falta de foco inmediatistas de resultados políticos responsables del calentamiento global,
y de ambición. Sin embargo, existen y de principios de soberanía. Todo ese y estamos creando muchas más áreas
importantes puntos de consenso que bagaje es muy importante para influir de conservación que en años anteriores.
debemos intentar aprovechar y en eso en la toma de posición de los países en Los BRICS tienen el desafío de demos-

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 187


WWF Guianas - Kaieteur falls
WWF Iniciativa Amazonia Viva

trar cómo es posible avanzar mante- también es economía verde. En general,


niendo ese equilibrio y al mismo tiempo sabemos que una economía verde debe
tienen el papel esencial de promover producir menos carbono y usar menos
el fortalecimiento del multilateralismo materias primas escasas, raras o no
para la promoción del desarrollo soste- renovables, pero la discusión de esa idea
nible en todo el mundo. Otra cuestión debe vincularse a las características y
importante es la importancia econó- necesidades de cada país, para que cada
mica de financiar un nuevo desarrollo. país construya su modelo de economía
Actualmente los bancos de desarrollo verde según sus intereses nacionales, sin
de China, Rusia y Brasil (el BNDES) es- recetas ni modelos únicos. De la misma
tán estudiando cómo construir fondos y manera, otra forma de hacer ese análisis
flujos financieros que puedan fortalecer es revisar cómo se mide el progreso, de
una cooperación Sur-Sur. manera que existan indicadores como el
producto interior bruto (PIB) que tengan
¿En qué medida es viable la estructura- en cuenta asimismo aspectos relaciona-
ción de la llamada «economía verde»? dos con la inclusión social y la conserva-
¿Sería también importante una «econo- ción del medio ambiente.
mía azul»? El término «economía verde»
es un concepto que se han disputado Desde la perspectiva del acceso de los
diversas fuerzas políticas, pero, franca- ciudadanos a los alimentos, el agua y
mente, el «color» no es lo que importa. la energía, ¿cómo deben ver los gobier-
Usted mismo ha hablado de «economía nos y la sociedad el medio ambiente?
azul», imagino que para referirse a los ¿Cuál es la solución de futuro para la
océanos, al agua potable, así que en Amazonia, para Brasil y para América
realidad la economía sostenible ha de Latina? La cuestión del «acceso» cons-
verse desde diversos puntos de vista. tituye uno de los grandes desafíos para
Pero creo que el «verde» que se añadió el desarrollo sostenible. La producción
es para hacer hincapié en la importancia de alimentos, el uso de los recursos
del pilar medioambiental, es para que hídricos y la generación de energía son
ciertos modelos de crecimiento no cai- las principales causas de los impac-
gan en la tentación de producir un alto tos ambientales, y uno de los grandes
rendimiento social con un bajo desem- desafíos actuales es hacer posible que
peño ambiental. Creo que no debemos
perder tanto tiempo con los conceptos,
la población de todo el planeta tenga
acceso a los alimentos, al agua y a la
IZABELLA
sino seguir adelante hacia una agenda
pragmática. Brasil concibe la economía
verde como un modelo económico que
energía. Creo firmemente en la conci-
liación de esos objetivos, pero para ello
se necesita una clara voluntad política y
TEIXEIRA
sea incluyente, con un vigoroso cre- Brasil pretende, al respecto, ser prota-
cimiento económico que promueva la gonista de un modelo de desarrollo que
inclusión social en un escenario de bajas promueva el crecimiento económico
emisiones de carbono y de conservación conciliándolo con la inclusión social y
de los recursos naturales. De esa forma, la conservación del medio ambiente. El
también incluye naturalmente la cues- futuro de nuestros bosques y de nuestra
tión del agua y los océanos a que atañe gente, de la Amazonia, de América
la «economía azul». La economía verde Latina y de todo el planeta es el tema
es una idea que necesita herramientas, principal de Rio+20. Y Brasil es un
políticas robustas de exención de ciertas actor relevante en ese juego de ajedrez.
cadenas productivas y la retirada de Esperamos lograr consensos para
incentivos para otras, por ejemplo. En definir los caminos que respondan a los
Brasil se acaba de instaurar una política desafíos que se plantean para todos no-
revolucionaria en sus métodos y objeti- sotros, sin excepción, porque humani-
vos: la Política Nacional de Residuos Só- dad no hay más que una y no podemos
lidos. Esa política presupone la creación ignorar el callejón sin salida a que nos
de una necesaria y fuerte economía del enfrentamos a tan corto plazo.
reciclado y la reutilización de materiales
que antes se desechaban. está ahí, y eso

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 189


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Entrevista

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92?


¿Adónde va Rio+20?

consistente en la valorización del organizaciones no gubernamentales.


bosque y la consolidación de prácticas La preparación de nuevos pasos en los
ambientales sostenibles. Lea a países, la mirada hacia Kioto. Y nue-
continuación la entrevista que Tião vas responsabilidades para los países
Viana le concedió por escrito a WWF. desarrollados.
Elza Fiúza /ABr

¿Qué hacía usted cuando se celebró Entre las resoluciones de la conferencia,


Rio 92? Yo estaba empezando mi ¿hay algún ámbito en que no se hayan
vida profesional en Acre, que era el registrado avances? La participación
centro geopolítico de toda la agenda de las empresas, en general, no estuvo
socioambiental brasileña, debido a la a la altura de la enorme oportunidad de
resistencia de los pueblos del bosque ejemplo y compromiso con la sociedad
y al modelo de desarrollo vigente en que se presentó. Por otra parte, las agen-
aquel momento. En 1992 ya habían das gubernamentales han estado hasta
pasado más de tres años desde el ahora sometidas a factores económicos y
asesinato de Chico Mendes: Acre empresariales, y a veces se han mostra-
TIÃO había perdido a su héroe; el mundo,
a un líder consciente de su papel en
do indiferentes a las intemperies climáti-
cas o conniventes con la mala calidad de

VIANA la fundación de una nueva civiliza-


ción basada en la igualdad social,
vida de las poblaciones. La sustitución
de los hidrocarburos por otras fuentes
la protección del medio ambiente, de energía alternativas más limpias ha
Sebastião Afonso Viana Macedo la conservación de los bosques y la sido tímida o secundaria. Los progra-
Neves, más conocido como Tião Viana, sostenibilidad del desarrollo en favor mas educativos podrían haber sido más
nació en Rio Branco (Acre). Estudió de las generaciones futuras. Nuestra valientes y decididos.
medicina y enfermedades tropicales generación fue la depositaria de ese
e infecciosas, pero logró proyección sueño, en una lucha intensa contra la ¿Cuál debería ser el principal resultado
nacional en la vida política. En 1998 fue política tradicional de avance preda- de Rio+20? En este momento en que se
elegido senador de la República por el torio de la ganadería en la Amazonia. va a celebrar Rio+20, la crisis europea
estado de Acre. Fue relegido en 2006, Buscábamos nuevos paradigmas, el y de los mercados tiende a ejercer una
acumulando doce años de experiencia desarrollo sostenible, alineados con presión negativa sobre los avances. Por
en el Poder Legislativo federal. los «Pueblos del bosque». lo tanto, entre los resultados deberían
En 2010, fue elegido gobernador constar una intensa agenda de las ONG,
del estado de Acre, que posee un ¿Cuál fue el principal legado de Rio 92? un pacto de los medios de comunicación,
territorio con una cobertura forestal Fue una nueva forma de pensar sobre debates transparentes y plenos en la
del 88 % y hace frontera con Perú y el desarrollo, la sostenibilidad, el agenda educativa, ajustes en los marcos
Bolivia y con los estados brasileños respeto a la utilización de los recursos legales, como el que el Gobierno de la
de Amazonas y Rondônia. Al frente naturales, nuevas responsabilidades presidenta Dilma y sectores del Congre-
del Ejecutivo del estado, Tião Viana para las instituciones. La movili- so hicieron en la Ley Forestal, un nuevo
ha puesto en práctica una política zación de las universidades y las pacto de respeto a las políticas públicas

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 190


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Existe una urgente necesidad de saber más para usar mejor. Valorizar
esta inmensa riqueza que tenemos para luchar definitivamente contra la
pobreza persistente, debida a la mala distribución de la renta y la falta de
estrategias nacionales definidas de manera participativa.

para la Amazonia y las comunidades que gran participación popular y demo- para quienes cuidan bien. Por lo tanto,
allí viven. Y también una política de de- crática, y con diversos foros, conven- la agenda verde tiene que incluir todos
sarrollo regional que tenga en cuenta la ciones, conferencias, etc. Las institu- los biomas y ecosistemas, y así habrá
realidad específica de la Amazonia como ciones privadas deben tener su propia de ser mucho más que verde, pues in-
unidad de planificación del desarrollo agenda con resultados pactados con el cluirá las aguas, la biodiversidad, a las
sostenible y la creación del Consejo de sector público. poblaciones tradicionales, las ciudades
Desarrollo Sostenible de la Amazonia, y, en resumen, el planeta.
entendiéndola de esa forma como Bos- ¿Cuál es el papel de las economías
que Habitado, Productivo y Conservado. emergentes —como los BRICS— en el ¿Cuál es la solución de futuro para la
impacto y las soluciones a los proble- Amazonia, para Brasil y para América
¿Qué opina sobre el texto de base de mas ambientales? Los estados nacio- Latina? Existe una urgente necesidad
Rio+20? La declaración muestra la nales tienen que incentivar y apoyar las de saber más para usar mejor. Valori-
necesidad de renovar los compromisos oportunidades y experiencias comuni- zar esta inmensa riqueza que tenemos
políticos y hace hincapié en que los tarias a favor de la economía verde. Sus para luchar definitivamente contra la
esfuerzos para alcanzar los Objetivos de ministerios parecen mostrarse indife- pobreza persistente, debida a la mala
Desarrollo del Milenio serán ampliados, rentes a las regiones vulnerables, como distribución de la renta y la falta de
con la definición de la fecha 2015, para la Amazonia, y a los distintos biomas y estrategias nacionales definidas de
que sean logrados ampliamente. Este ecosistemas. Las matrices económica y manera participativa. Se requiere
es un desafío fantástico que tendrá re- energética de los BRICS son conservado- tener en cuenta las áreas de conser-
percusiones directas en la mejora de la ras, y no tienen una agenda de transfor- vación y las zonas más sensibles a
calidad de vida de las poblaciones más mación de corto plazo digna de mención. los daños ambientales, revisar los
pobres del planeta. Además, el tema de modelos de toma de decisiones para
la «economía verde» muestra que es ¿En qué medida es viable la estructu- la financiación pública, una mejor
posible aunar un desarrollo responsa- ración de la llamada «economía ver- definición de las prioridades, control
ble y la erradicación de la pobreza y el de»? ¿Sería también importante una y transparencia, más democracia en la
compromiso con la seguridad alimen- «economía azul»? En realidad esta- preparación de planes y un monitoreo
taria, la gestión del agua, el acceso a los mos hablando de un concepto antiguo más riguroso de los objetivos, plazos
servicios energéticos y la estructuración transformado en un nuevo paradigma, y resultados. Por citar dos ejemplos,
de las ciudades sostenibles. Creo que se puesto que la economía verde consiste la Amazonia suele recibir paquetes de
trata de una utopía posible y justa. en cuidar, en cuidar bien. Cuidar bien medidas cerrados, de forma autorita-
del planeta Tierra, con la participación ria, disociados de las buenas prácticas
¿De qué forma pueden el sector em- de todos. De esta forma, es urgente locales; y China se aleja de los valores
presarial y la sociedad civil contribuir que los gobiernos nacionales y supra- éticos, ambientales y democráticos al
a la conservación del medio ambiente nacionales reconozcan la necesidad buscar materias primas en África o al
y al desarrollo sostenible? Con expe- de acciones sostenibles, la valoración pactar con los mercados.
riencias éticas, de buenos resultados, de los servicios ambientales globales
con la participación del sector público prestados por los biomas y las pobla-
y privado, pactos de sostenibilidad, ciones y que se ofrezcan realmente
programas intensos y repetidos con oportunidades de inversión y créditos

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 191


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Entrevista

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92?


¿Adónde va Rio+20?

Foto cedida pela entrevistada


WWF LAI / Denise Oliveira
WWF-US

CLÁUDIO ROBERTO MARIA CECÍLIA


MARETTI TROYA WEY DE BRITO
Con el fin de discutir las conferenciasy, a pesar de sus distintas ¿Qué hacían cuando se celebró Rio 92?
repercusiones de Rio92 y conocer experiencias y responsabilidades, sus Cláudio Maretti - Yo estaba en un
las expectativas respecto a Rio+20 consideraciones coinciden en algunos proyecto de cooperación con Guinea-
de tres formuladores y ejecutores temas y resultan complementarias, Bissau, con la participación de la Unión
de las estrategias de WWF en ofreciendo una imagen completa sobre Internacional para la Conservación de
América Latina, presentamos la cuestión ambiental a lo largo de las la Naturaleza, con financiación europea,
aquí una «mesa redonda virtual» dos últimas décadas. especialmente suiza, y colaboración
con Cláudio Maretti, geógrafo Durante este período, Maretti, técnica brasileña y latinoamericana. Los
y geólogo, líder de la Iniciativa Troya, y Wey de Brito desempeñaron debates para la preparación de Rio 92 y
Amazonia Viva;Roberto Troya, un papel importante en WWF sus resultados sirvieron de inspiración
abogado y negociador internacional, e hicieron de la búsqueda de para nuestra actuación internacional.
vicepresidente y director regional alternativas para la preservación Roberto Troya - Yo participe en todo
para América Latina y el Caribe;y ambiental la razón de ser de el proceso de Rio 92 desde sus reunio-
Maria Cecília Wey de Brito, sus trayectorias personales y nes de preparacion como en la reunión
ingeniera agrónoma y secretaria profesionales.Presentamos a misma. Quizas lo que mas marco para
general de WWF Brasil. continuación sus principales ideas, en mi esa reunión fue la importancia y
Los tres recibieron las un diálogo sobre dónde fue a parar participación que la sociedad civil tuvo
mismas preguntas sobre las Rio 92 y hacia dónde va Rio+20. tanto en las denominadas PREP-COMs

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 192


WWF Iniciativa Amazonia Viva

La naturaleza es la que puede garantizar la sostenibilidad y


equidad en la oferta y acceso de las poblaciones a la comida, el agua y
la energía, es decir, a las bases de los intereses de un desarrollo que sea
verdaderamente sostenible
Cláudio Maretti

como en Rio. La actual Presidenta dedica a la Amazonia, que dio lugar mericanos y del Caribe se dirigió a la
Internacional de WWF Yolanda Kakabd- a un impresionante crecimiento del conferencia y dejó sentada la posición
se junto con el equipo liderado por el área protegida y a una significativa tan favorable de la región en torno de
canadiense Maurice Strong, facilitaron reducción de la deforestación a partir la Agenda 21 y su plan programático.
que los representantes de ONGs, grupos de la mitad de la década de los no-
indigenas y campesinos, actores sindica- venta. Desgraciadamente, en lugar ¿Cuál fue el principal legado de la con-
les y gremiales y demás actores, tuvieran de asumir el liderazgo mundial de un ferencia de Rio 92?
un espacio tanto en la reunión oficial de nuevo modelo de desarrollo sostenible Maretti - En Rio 92, por vez primera,
Ministros y Presidentes en Riocentro, al finalizar la década pasada, Brasil el mundo, representado por las más
como en el Aterro Flamengo donde se se entusiasmó con las posibilidades altas autoridades gubernamentales, se
protagonizó una verdadera fiesta por la de crecimiento económico y decidió reunió, debatió y decidió emprender
conservación y el desarrollo sostenible. centrarse totalmente en ese frente, la senda del desarrollo sostenible. El
Maria Cecília Wey de Brito - Yo era junto con una relativa distribución Programa 21 fue uno de los instrumen-
asesora de Fabio Feldmann, que en de la renta, olvidando que eso puede tos que, en Rio 92 y a partir de enton-
aquella época era diputado federal y representar un falso desarrollo y que, ces, más hicieron albergar esperanzas,
tuvo una participación muy activa y ciertamente, no cuidar de la naturaleza porque tenía un enfoque holístico. Fue
decisiva en la construcción de la agen- (los ecosistemas, con sus productos y usado por la sociedad civil y por algu-
da de la conferencia y de los convenios servicios, el «capital natural») supon- nos gobiernos para promover la toma
presentados, así como del Programa 21 drá un costo para la sociedad brasileña de conciencia respecto de los resultados
y de la Carta de la Tierra. Yo me ocu- que se pagará ahora y en el futuro. de Rio 92 y su aplicación en distintos
paba del ámbito de la biodiversidad, y Troya - America Latina tuvo una niveles, áreas y regiones. Otras dos
le apoyaba en los eventos paralelos que participación destacada en todos los decisiones tuvieron y siguen teniendo
se celebraron durante Rio 92. ambitos. Desde el rol jugado por Brazil hasta hoy algunos resultados: el Con-
como anfitrion al recibir a la reunión venio sobre la Diversidad Biológica y la
¿Cómo fue la participación de los mas grande de Presidentes del mundo Convención sobre Cambio Climático.
países latinoamericanos? jamas registrada hasta la época, hasta Troya - Yo creo que hay multiples lega-
Maretti - El impacto de Rio 92 fue for- por su rol en la conduccion de multi- dos de la Conferencia de Rio, quizás los
tísimo en Brasil, pero también en toda ples aspectos de la agenda. Recuer- mas palpables son aquellos que tienen
América Latina y en todo el mundo. do participaciones muy destacadas que ver con los instrumentos aprobados,
Yo vivía en Guinea Bissau y sentí sus como la de Colombia, con un equipo que siendo jurídicamente vinculantes
efectos en África, en Europa y en Amé- multidisciplinario liderado por el Dr. para los países, se convirtieron en mu-
rica Latina. Cuando volví a Brasil me Enrique Peñaloza. Equipos como el cho mas que discursos. Las convencio-
di cuenta de que había habido un gran de Mexico con intervenciones magis- nes de Biodiversidad, Cambio Climatico,
avance en las políticas, en la institucio- trales como la del entonces Secretario los Principios sobre Bosques, la Decla-
nalización y en la participación de la de Desarrollo Social, Luis Donaldo racion de Rio, la Agenda 21, el reporte
sociedad en los temas ambientales y de Colosio. Recuerdo también el memora- Nuestro Futuro Comun encargado a la
desarrollo sostenible. Consecuencias ble discurso del entonces Presidente de primera ministra Noruega Gro Harlem
de esa evolución son, por ejemplo, la México Carlos Salinas de Gortari quien Brundtland, Cuidar la Tierra entre otros,
gran atención que la política brasileña a nombre del Grupo de Paises Latinoa- son productos tangibles y reales que son

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 193


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Yo veo que existe una voluntad mayor de las empresas de definir su


responsabilidad social y ambiental como parte integral del negocio.
Roberto Troya

producto de la Cumbre. Hubo muchos Entre las resoluciones de Rio 92, ¿hay Cambio Climatico. Los fracasos en las
acuerdos que siendo importantes no algún ámbito en que no se hayan negociaciones dejan ver que los paises
fueron solidos: por ejemplo el 0.7 % registrado avances? del mundo han privilegiado mantener
del Producto Interno de los paises en Maretti - Tras un inicio esperanzador, los balances politicos y geopoliticos,
recursos nuevos, es uno de los que se especialmente en América Latina, el a un verdadero plan mundial para re-
quedó muy corto. Si bien fue destacable Convenio sobre la Diversidad Biológica ducir las emisiones y para adaptarnos
que la Convencion sobre Biodiversidad (CDB) pasó a ser muy criticado. La Con- a los efectos actuales y potenciales del
fue ratificada en un tiempo casi record, vención Marco de las Naciones Unidas cambio climático.
paises como Estados Unidos y su Con- sobre el Cambio Climático tuvo un Wey de Brito - Hay que recordar las
greso no ratificaron dicha Convencion comienzo lento, recibió apoyo en Europa dificultades de la Convención sobre el
porque fueron objeto de un lobbying y en los países desarrollados y después Cambio Climático respecto al protocolo
impresionante de actores privados cuyos del Protocolo de Kioto no logró más de Kioto, así como las dificultades para
intereses se verian afectados. decisiones concretas y aplicables. Quizá que la REDD entrara en la agenda de los
Wey de Brito - Lo que más llamó la lo que más faltó después de Rio 92 fuera países como un medio adicional para
atención fueron los cuatro documentos un cambio concreto en la economía. Está mitigar los gases de efecto invernadero.
resultantes de Rio 92 (los convenios claro que los agentes del sector privado También es importante recordar que
de Diversidad Biológica y Cambio Cli- también tienen que comprometerse más el Mecanismo de Desarrollo Limpio se
mático, el Programa 21 y la Carta de la firmemente para promover el cambio volvió tan burocrático que hasta ahora
Tierra). Lo que cambió tras Rio 92 fue necesario, y la sociedad debe exigírselo. casi no ha tenido resultados.
la expectativa sobre la posibilidad de Troya - Hay avances importantes pero
avanzar de manera negociada en torno retrocesos muy claros mas particular- ¿Cuál debería ser el principal resulta-
a cuestiones urgentes que sobrepasa- mente en las discusiones climáticas. do de Rio+20?
ban las fronteras de los países, de una Ciertamente la que trae mas dudas en Maretti - Deberíamos conseguir que
manera negociada. cuanto a su aplicacion urgente es la de los diversos segmentos de la socie-

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 194


WWF Iniciativa Amazonia Viva

dad, los actores sociales, asumieran bosques, los costos reales en los secto- social y ambiental como parte integral
compromisos propios, en particular los res y cadenas económicos, teniendo en del negocio. Pero aun falta mucho por
agentes económicos y el sector privado. cuenta lo que hoy se deja como externa- hacer. Las fuerzas del mercado junto
Para permitir que la sociedad pueda lidades y eliminando las subvenciones a las economías de algunos paises
seguir el cumplimiento de los com- dañinas para la naturaleza y la sociedad, siguen empujando prácticas que ponene
promisos gubernamentales, del sector etc. Pero todavía no hay una formulación en riesgo al planeta. El rol del sector
privado y otros, hay que establecer suficientemente ambiciosa. Siguen fal- empresarial y privado, si bien creciente,
metas claras e ambiciosas, como los tando cosas importantes, como el papel podria ser uno de los objetivos concre-
Objetivos de Desarrollo Sostenible, del sistema financiero como uno de los tos para integrarlo como uno de los ac-
propuestos por Colombia y Guatemala motores más importantes de la econo- tores mas importantes para el cambio.
y que gradualmente han ido contando mía actual, y al que se le debería exigir el Wey de Brito - En primer lugar, infor-
con el apoyo de todo el mundo. cumplimiento de sus funciones sociales mándose y no estando a merced de
Troya - Creo que una ratificación de los y ambientales y una calidad sostenible. lo que otros dicen. En segundo lugar,
postulados de Desarrollo Sostenible Troya - Me llama la atención que no se votando con responsabilidad y no
expresados en Rio 92 mediante una dis- haya partido de una linea de base: qué dejándose llevar por bromas irres-
cusion fresca y activa sobre la Economia propuso la comunidad internacional en ponsables, como votar a candidatos
verde puede ser un resultado importante Rio 92, qué se ha cumplido, qué no etc. «rebeldes», «extravagantes», «jocosos»,
y esperado. Un análisis muy cuidadoso Me parece que sin este análisis de base etc. En tercer lugar, adoptando acciones
de la vigencia de los instrumentos juri- es muy dificil sentir que existe un piso de ciudadanía en sentido amplio en el
dicos alrededor del desarrollo sostenible sólido para hacer las propuestas necesa- día a día, desde respetar a los peatones
tanto a nivel internacional como nacio- rias para enfrentar el futuro sin correr y ciclistas, por ejemplo, hasta no pagar
nal, deberia ser parte de las discusiones el riesgo de hacer las mismas declaracio- «donativos» para que un proceso avan-
y de los reportes que los gobiernos deben nes, obtener los mismos compromisos y ce más rápidamente. Está claro que una
realizar a propósito de estos 20 años. Por direcciones que quizas ya se lograron y o mayor eficiencia de los negocios en tér-
otro lado hay que ver como fortalecer los se obtuvieron 20 años atrás. minos de uso de los recursos naturales,
procesos que permiten integrar Biodiver- la transparencia y la preocupación con
sidad y Cambio Climático y no tratarlos ¿De qué forma pueden el sector em- sus cadenas de valor, son de gran valía y
como temas simplemente distintos. presarial y la sociedad civil contribuir a se adoptan cada vez de forma más habi-
Wey de Brito - El resultado debería la conservación del medio ambiente y tual en la gestión de las empresas.
ser la construcción de metas (cuan- al desarrollo sostenible?
tificables, medibles y reportables) Maretti - Se dice que el mejor camino ¿Cuál es el papel de las economías
para los cambios de los procesos, así para los cambios es el voto y la elec- emergentes para las cuestiones am-
como compromisos financieros para ción del consumidor. Aunque estoy de bientales?
que puedan lograrse de verdad. La acuerdo con ello, no es admisible que los Maretti - Desgraciadamente, los países
percepción de la urgencia de los temas sectores y los líderes gubernamentales y emergentes a menudo intentan ponerse
relacionados con los tres pilares de empresariales se escuden en esa explica- «al final de la fila» de los modelos de de-
la sostenibilidad no parece haber lla- ción para aplazar las acciones necesarias. sarrollo que ya están en jaque. Algunos
mado a la puerta de los tomadores de Es fundamental que esos líderes formen países emergentes, como China, aunque
decisiones ni de los diversos segmen- parte del movimiento de cambios que continúan con discursos y acciones am-
tos representados en estos eventos. conducen hacia la sostenibilidad. Las biguas o contradictorias, han aumentado
Quien necesita protección es el ser empresas no pueden concentrarse exclu- significativamente las medidas para
humano. La Tierra seguirá ahí, pero sivamente en controlar sus propias acti- reducir los impactos ambientales o para
no quedará espacio para los beneficios vidades, tienen que asegurarse de toda la lograr una producción más sostenible.
si la sociedad desaparece… Pero será cadena económica de los productos con En parte también por intereses comer-
difícil cambiar con ese pensamiento que comercian. Y esos compromisos de ciales, China ha sido uno de los países
del crecimiento a través del consumo, las empresas tienen que ser claros, estar que más ha invertido en tecnología y
con el apoyo del sistema financiero. registrados y permitir que la sociedad producción de paneles solares y en res-
pueda seguirlos. Es responsabilidad de tauración forestal. Eso no la exime de la
¿Qué opina sobre el texto de base de la sociedad exigir el cumplimiento de los enorme responsabilidad de los impactos
Rio+20? compromisos acordados con los gobier- ambientales y sociales de sus compras
Maretti - El texto recoge los principales nos y las empresas. y actividades, en lo que iguala o supera
temas, como la producción sostenible Troya - Es muy evidente que el sector a países con mayor huella ecológica.
de alimentos, la gestión sostenible de empresarial esta mucho mas com- Pero eso hace que mejore un tanto en la
las aguas y la producción de energía prometido que hace 20 años, yo veo sostenibilidad, aunque, como decíamos,
sostenible, la gobernanza marina y el que existe una voluntad mayor de las eso se deba a intereses comerciales o
uso sostenible y la conservación de los empresas de definir su responsabilidad económicos. Desgraciadamente, Brasil,

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 195


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Es perfectamente viable, siempre y cuando se cambien algunos


valores de la sociedad, lo que obviamente requiere tiempo. En el caso de
Brasil, exige una fuerte inversión en educación.
Maria Cecília Wey de Brito

que podía haberse convertido perfec- en explotar más, lo antes posible y se mental que es buscar hacer practi-
tamente en el campeón del modelo esgrimen a los “derechos económicos” cos sus postulados. El esfuerzo de
económico del siglo XXI, sigue buscando de los pueblos como el gran escudo. encontrar propuestas viables y claros
soluciones por el modelo económico de Wey de Brito - Su papel es cambiar la que permitan desarrollar las políticas
los siglos XIX o XVIII, mediante la dis- forma de hacer las cosas. Y mostrar que necesarias bajo cualquier esquema
puta de las tierras, de la propiedad sin se aprende de los errores del pasado, politico o ideológico es uno de los
responsabilidad social, del desperdicio tanto de los propios como con los ajenos. aportes importantes de la llamada
de recursos naturales, de la degradación Economía Verde, ya que la misma
de la naturaleza, etc. ¿En qué medida es viable la estruc- cabe en esquemas politicos que favo-
Troya - Las economías emergentes jue- turación de la llamada «economía recen al mercado o a aquellos donde
gan un rol fundamental en el contexto verde»? ¿Sería también importante hay un control mayor del Estado. Lo
global del desarrollo sostenible ya que una «economía azul»? que es absolutamente cierto es que
ellas estan en posicion de demostrar Maretti - Hay diversas formas de com- la realidad prevista en Rio hace 20
cómo sus políticas económicas, sociales prender la llamada «economía verde». años, está ahora vigente y muchos de
y ambientales guardan un balance entre Ciertamente, este concepto incluye la los problemas anunciados entonces,
si. Esos paises son tambien potencias importancia de una mayor eficiencia ahora son realidad. En el marco de los
políticas y generan liderzazgos regio- en el uso de los recursos naturales y tres ejes del desarollo sostenible, se
nales como es el caso del Brazil en el la reducción del contenido de carbo- supone que han habido avances im-
entorno Amazónico. Las repercusiones no. Pero debe ir mucho más allá de portantes en lo Social y en lo Ambien-
regionales de la politica brasilera en soluciones tecnológicas o de un debate tal, pero que lo Económico no ha sido
temas de inversión en infraestructura, sobre alternativas energéticas. Lo fun- suficientemente balanceado, es decir
energia, produccion alimentaria etc., damental es considerar la integración no ha actuado como un tercer eje.
están teniendo un efecto directo en las de las fuerzas económicas en el camino Wey de Brito - Es perfectamente viable,
economías de los países amazónicos del desarrollo sostenible. No se trata siempre y cuando se cambien algunos
vecinos. Es así que Perú con el tema de de crear una economía que solo esté valores de la sociedad, lo que obviamen-
represas hidroelectricas y Bolivia con relacionada con los bosques, pues es te requiere tiempo. En el caso de Brasil,
el caso de producción de gas e infraes- fundamental su vínculo —respeto, uso exige una fuerte inversión en educación.
tructura con capitales brasileños, están sostenible, conservación— con los eco-
siendo objeto de procesos que tienen sistemas en general, con los bosques, ¿Cuál es la solución de futuro para la
mayor incidencia en la biodiversidad pero también con las sábanas y cam- Amazonia, para Brasil y para América
Amazónica y en la vida de los pue- pos naturales, ríos, lagos y mares. La Latina?
blos mas directamente afectados. No economía azul tiene el mismo sentido Maretti - América Latina es la región
es secreto que el tema de seguridad que la economía verde, es decir, consi- del mundo con mayor biodiversidad y
alimentaria unido al tema de acceso a derar mejor los ecosistemas, llamar la volumen de agua, además de riqueza
fuentes de agua en calidad y cantidad atención adecuadamente para que no de recursos naturales, y eso se debe en
son los grandes propulsores del debate olvidemos los mares y las aguas. gran parte a la Amazonia. La Amazonia
acerca de un modelo para desarrollo, Troya - La propuesta de la economía es un patrimonio brasileño, sudameri-
al parecer ahora el modelo se centra verde parte de una premisa funda- cano y mundial que debe gestionarse en

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 196


WWF Iniciativa Amazonia Viva

beneficio de las comunidades locales, de y ecosistemas compartidos por más de de cantidad como de calidad y distri-
la población de los países amazónicos y un país. Es importante reconocer que el bución. Brasil tiene que fijarse más en
con la responsabilidad de su importan- mal uso de las tierras, bosques o ríos en las consecuencias de las acciones que
cia global. América Latina es una región la parte alta de las cuencas hidrográficas tomamos. La solución de futuro para
con una historia, diversidad social y perjudica a quienes están aguas abajo la Amazonia es diseñar un plan de
riqueza considerables. Desgraciadamen- (por ejemplo, con inundaciones, escasez, Estado. Es importante que las solucio-
te, es también una de las regiones con baja calidad del agua, etc.). Y ya se sabe nes para los problemas actuales no se
mayor desigualdad social. El desarrollo que la deforestación de la parte oriental piensen con una perspectiva de corto
sostenible no es posible sin equidad de la Amazonia puede perjudicar a la plazo. Es posible invertir para desarro-
social, y la naturaleza es la que puede humedad de su parte occidental. llar mercados diferentes, conocimien-
garantizar la sostenibilidad y equidad en Troya - Si de acuerdo al Living Planet tos científicos para nuevos productos
la oferta y acceso de las poblaciones a la Index Report de WWF ya estamos y para conocer potencialidades y el
comida, el agua y la energía, es decir, a consumiendo un planeta y medio; si funcionamiento de la región desde
las bases de los intereses de un desarro- la poblacion ya rebasa los 7 billones de el punto de vista ambiental y social.
llo que sea verdaderamente sostenible. habitantes; si los estragos del cambio Y se puede desarrollar la ciudadanía
Tenemos que avanzar para garantizar la climático ya se sienten en todo el planeta mediante diversos mecanismos, pero
sostenibilidad de la producción y oferta afectando fuentes de agua, produccion principalmente por la mejora de los
de alimentos, de manera que no perjudi- alimentaria; si las emisiones de carbón servicios de los poderes públicos y su
quemos ni sus posibilidades de produc- se mantienen e incrementan a niveles universalización en la región. Esas ac-
ción en el futuro, ni los servicios que irreversibles, entonces estamos ya ha- tividades podrían ser financiadas como
interesan a otras necesidades de la socie- blando de temas de seguridad planeta- contrapartida de inversiones que vayan
dad, como la gestión sostenible de las ria. Seguridad que habla de acceso al a hacerse en la región, también y prin-
aguas. Eso significa que la producción agua dulce en cantidad y calidad, acceso cipalmente por los que se beneficiarán
de alimentos no puede seguir basándo- a los alimentos para una vida digna, de esas inversiones directamente, como
se en la deforestación ni en otros tipos seguridad en el acceso y disponibilidad por ejemplo los exportadores de mate-
de degradación. De la misma manera, de fuentes suficientes de energía limpia. rias primas de la Amazonia y del Cerra-
no puede seguir dándose prioridad a Son tres temas que actúan como un gran do. En el caso de Brasil y de América
maximizar la producción hidroeléctrica paraguas ya que dentro o alrededor de Latina, parece que es más urgente que
en detrimento de otros usos y beneficios ellos existen y giran muchos más, pero nunca realizar una inversión sistemá-
de las cuencas hidrográficas. Además, es ciertamente simbolizan aspectos claves tica y de mayor alcance para ampliar la
esencial avanzar en la comprensión de para sostener la vida en el planeta. agenda de las exportaciones hacia una
la gestión integrada responsable de re- Wey de Brito - El problema de la agenda que aumente la participación de
cursos naturales, cuencas hidrográficas alimentación no es tanto una cuestión los productos con mayor valor añadido.

CLÁUDIO ROBERTO MARIA CECÍLIA


MARETTI TROYA WEY DE BRITO
Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 197
WWF Iniciativa Amazonia Viva

Artículo

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92?


¿Adónde va Rio+20?

del bioma amazónico (Bolivia, Brasil, 38,7 millones que es el 11 % de la po-


Colombia, Ecuador, Guyana, Perú, blación de los ocho países amazónicos.
Venezuela y Surinam), además del Si continúa la tendencia actual de
territorio de ultramar de la Guayana la deforestación, de incendios fores-
Foto cedida pelo entrevistado

Francesa, esperan que Rio+20 tales y del cambio climático, para el


tenga en cuenta los elementos 2030 quedará el 30 % del bosque ori-
sociales en el debate ambiental y ginal y menos del 10 % hacia el 2080.
que los modelos de producción y de Se puede producir una disminución
consumo de las mayores economías del número de especies, pérdida del
mundiales converjan hacia niveles carbono almacenado y significativa
más sostenibles.Vea a continuación el reducción de lluvias (Tercera edición
artículo escrito por el embajador para de la Perspectiva Mundial sobre la
WWF. Diversidad Biológica).
Conscientes de la importancia de la
Amazonía, los ocho países amazóni-
cos decidieron aunar esfuerzos para,
ALEJANDRO La Amazonía contiene el más grande
bosque tropical húmedo querepresenta
mediante un activo proceso de coope-
ración, lograr el desarrollo integral de

GORDILLO el 6 % de la superficie de la Tierra y


ocupa el 40 % del territorio de América
sus respectivos territorios amazóni-
cos e incorporarlos a las respectivas
Latina y el Caribe.Su extensión es de economías nacionales,a través del
Si se mantiene la tendencia actual de entre 5,1 y 8,1 millones de kilómetros mantenimientodel equilibrio entre el
deforestación e incendios forestales cuadrados.Sus ríos aportan aproxi- desarrollo económico y la preservación
y los efectos del cambio climático, madamente el 20 % del agua dulce del del medio ambiente.Por tal motivo, en
la Amazonia perderá un tercio de planeta a los océanos.La cuenca tiene 1978 suscribieron el Tratado de Coo-
su vegetación hasta el 2030. Si esa 25 000 kilómetros de ríos navegables. peración Amazónica, que ya tiene 32
situación se prolonga, el mayor bioma El río Amazonas tiene 6900 kilóme- años de vigencia.
del planeta llegará a 2080 con menos tros de extensión, cuenta con más de mil Posteriormente, en 1998, con el fin de
del 10 % del bosque original. afluentes y vierte alrededor de 220 000 perfeccionar y fortalecer institucional-
Eso indican las proyecciones de metros cúbicos de agua por segundo. mente el proceso de cooperación, deci-
la tercera edición de la Perspectiva Se han identificado alrededor de 20 dieron crear la Organización del Tratado
Mundial sobre la Diversidad Biológica, 000 especies de plantas en la Cuenca, de Cooperación Amazónica (OTCA) y
y es lo que nos recuerda el Secretario de las cuales, 2000 han sido clasifica- establecer una Secretaría Permanente,
General de la Organización del das por su utilidad como alimentos, con sede en Brasilia.La Secretaría Per-
Tratado de Cooperación Amazónica medicinas y otros fines. manente se instaló en el año 2002.
(OTCA), el embajador peruano En la Amazonía viven 40 diferen- Agenda Estratégica de Cooperación
Alejandro Gordillo. tes pueblos indígenas y tribales que Amazónica
Gordillo y sus interlocutores de hablan 86 lenguas y 650 dialectos.Los Los Presidentes de los Países
los ocho países que forman parte habitantes de la Cuenca llegan a los miembros de la OTCAse reunieron en

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 198


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Manaos, Brasil, y emitieron una Decla- de los Países miembros de la OTCA por de la OTCA, en su Segunda Reunión
ración sobre la Organización en la cual participar en ese proceso.Han estado celebrada en Lima a fines de marzo
manifestaron haber decidido «dar a la representados en las reuniones técni- de 2012, emitieron una «Declaración
OTCAun renovado y moderno papel, cas por las autoridades que tienen a su de Lima» en la cual se suman a la
como foro de cooperación, intercambio, cargo el tema de que se trate y la asis- «Declaración» de los Cancilleres sobre
conocimiento y proyección conjunta». tencia, en el 80% de los casos, ha sido Río+20.
Asimismo, encargaron a los Cancilleres completa.En las pocas oportunidades La OTCA estará, además, presente
que prepararan una Agenda Estratégica en que no ha habido lleno completo, en Río+20 mediante la organización de
de la OTCA, para lo cual, señalaron cier- solamente ha faltado un país. un «evento paralelo» y la presentación
tas orientaciones. La Agenda Estratégica De otro lado, a pesar que la regla- de un stand.
de Cooperación Amazónica (AECA) fue mentación dispone que los Cancilleres
aprobada en la X Reunión de Ministros se reúnan cada dos años, en noviembre
de Relaciones Exteriores, en Lima, en del 2011, un año después de la cita en
noviembre de 2010, coincidiendo con la Lima, celebraron su XI Reunión en Brasilia, 18 de abril de 2012
conmemoración del trigésimo aniversa- Manaos, en donde aprobaron el «Com-
rio de la entrada en vigencia del Tratado promiso de Manaos» y han decidido
de Cooperación Amazónica. volver a reunirse en noviembre de 2012
En Lima, los Cancilleres aprobaron en Ecuador.Este documento contiene
una serie de resoluciones que tienen importantes acuerdos como,la imple-
que ver con la marcha de la OTCA, y mentación de un «Observatorio Ama-
que se refieren a la reglamentación de zónico», la creación de una Universidad
sus órganos: Reunión de Ministros Regional Amazónica, la incursión en
de Relaciones Exteriores, Consejo temas de inclusión social, lucha contra
de Cooperación Amazónica (CCA), la pobreza, erradicación de la pobreza
Comité de Coordinación del Consejo y el desarrollo social en la Amazonía,
de Cooperación Amazónica (CCOOR) entre otros importantes temas.
y Secretaría Permanente; a las fuentes El Consejo de Cooperación Ama-
de financiamiento; a las relaciones con zónica (CCA) sostuvo dos reuniones,
la cooperación internacional.Además, precedidas de la de Puntos Focales, y
sancionaron la Agenda Estratégica de el Comité de Coordinación del Consejo
Cooperación Amazónica (AECA) que es de Cooperación Amazónica (CCOOR)
como la hoja de ruta de la organización. se reunión con la periodicidad que
La AECA contiene una «Visión de establece la reglamentación.
la Región Amazónica» y, para el caso La OTCA y Río+20
de la OTCA, establece una «Visión del Teniendo en cuenta que la OTCA,
futuro», le encarga una «Misión» y le cuyo ámbito geográfico es importante
fija unos «Objetivos estratégicos».Está para diversos aspectos de la temáti-
construida sobre la base de dos «ejes ca de la Conferencia de las Naciones
de abordaje transversal»: la conserva- Unidas sobre Medio Ambiente y De-
ción y uso sostenible de los recursos sarrollo, posee un importante bagaje
naturales renovables y el desarrollo que mostrar, los Cancilleres de la
sostenible sustentable. Organización en la reunión de Manaos
Contiene acciones de corto, mediano aprobaron una Declaración sobre
y largo plazo sobre los temas que esta- dicho cónclave. Es conveniente resal-
blece el TCA: conservación y uso sos- tar que el TCA es prácticamente un
tenible/sustentable de los recursos na- instrumento internacional precursor
turales renovables; asuntos indígenas; del desarrollo sostenible sustentable,
gestión del conocimiento e intercambio que, la OTCA es eminentemente una
de informaciones; gestión regional de organización de cooperación horizon-
salud; infraestructura y transporte; y tal, sur-sur, que posee una Agenda Es-
turismo.Se le han agregado tres nuevos tratégica aprobada unánimemente por
temas emergentes: cambio climático, los Países miembros, en la cual figura
desarrollo regional y energía. una «Visión de la Región Amazónica»
La aplicación de la Agenda se inició compartida por dichos Estados.
el 1 de enero de 2011 y a lo largo de ese Por su lado, los Ministros de Medio
año se ha podido comprobar el interés Ambiente de los Países miembros

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 199


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Artículo

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92?


¿Adónde va Rio+20?

decisiones de aquella conferencia, y y el Desarrollo trascendía los temas


mediante un testimonio inédito, hace de la agenda. Hacía siete años que se
justicia a Warren Lindner, coordinador había restaurado la democracia y en
del Foro Global que, en paralelo el poder estaba el primer presidente
Foto cedida pelo entrevistado

a la conferencia oficial, reunió a elegido por votación popular en casi


organizaciones no gubernamentales treinta años. La conferencia era el
en el Parque de Flamengo. mayor evento internacional celebrado
Más que la exposición de los en Brasil hasta aquel momento. Brasil,
recuerdos de un periodista con tradicionalmente insular, se abría al
más de 40 años de experiencia, el mundo para albergar y quizás para
siguiente texto pone de relieve las liderar un debate global sobre un tema
transformaciones en los últimos respecto al cual se había mantenido a
veinte años en la visión sobre el la defensiva hasta aquel momento, acu-
medioambiente, refleja los cambios en sado de destruir la Amazonia y lo que
la relación entre el gobierno y el sector quedaba de sus pueblos indígenas. Las
terciario y examina las perspectivas organizaciones no gubernamentales,
PAULO respecto a Rio+20.
Esos eran los objetivos de una
especialmente las que se ocupaban de
cuestiones ambientales, se enfrentaban

SOTERO serie de preguntas que WWF envió


inicialmente a Paulo Sotero, que
a una fuerte resistencia por parte de
los medios oficiales y, especialmente,
prefirió ofrecer sus respuestas a través del Ministerio de Relaciones Exterio-
El periodista Paulo Sotero Marques, del siguiente texto, que reproducimos res, donde se las veía como instrumen-
antiguo corresponsal del diario Estado integralmente. tos de intereses extranjeros. A pesar de
de S. Paulo en Estados Unidos y ello, comenzaron a ganar terreno.
actual director del Brazil Institute del Joven e impetuoso, el entonces pre-
Woodrow Wilson International Center sidente Fernando Collor de Mello llegó
for Scholars en Washington (EE. En junio de 1992 yo era el corresponsal al palacio presidencial con la promesa
UU.), escribe a continuación sobre del periódico O Estado de S. Paulo en de luchar contra la corrupción, una
qué significó la conferencia de Rio Washington. Me llamaron para acudir práctica rápidamente democratizada
92 —que cubrió para el citado diario a Rio de Janeiro, donde junto con otros por la clase política tras el fin de 21
Estado de S. Paulo— y examina las corresponsales y colaboradores del años de dictadura. Prometió igualmen-
perspectivas de Rio+20. periódico en el extranjero, participe en te acabar con la inflación, una antigua
El texto muestra el contexto de la cobertura de la conferencia, para la maldición asociada a la corrupción
la política interna de Brasil (meses que dicho periódico dedicó un cuader- que los tecnócratas del régimen militar
antes de la destitución del presidente no especial que se publicó todos los habían convertido, a través de déficits
Fernando Collor de Mello), los días durante la semana del evento. crecientes y la indexación monetaria,
bastidores del poder en Estados Para Brasil, el significado político de en un esquema garantizado por el Es-
Unidos que condujeron a que ser la sede de Conferencia de las Nacio- tado para enriquecer a las elites a costa
Washington no ratificara hasta hoy las nes Unidas sobre el Medio Ambiente de la nación.

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 200


WWF Iniciativa Amazonia Viva

El 3 de junio, cuando Fernando Insolvente, el Foro Global, cuya conferencia. Nos dijeron, como nos
Collor de Mello inauguró la conferen- misión consolidaba la presencia de las temíamos, que la entrega del dossier
cia de Rio 92, era evidente que había organizaciones de la sociedad civil en se iba a retrasar. Rodrigo Mesquita, un
incumplido ambas promesas, que los debates sobre los grandes temas accionista del periódico, ambientalista
había perdido su base de apoyo en el mundiales, amenazaba con convertirse declarado y fundador de la ONG SOS
Congreso y que estaba desacreditado. en un fiasco. William y yo pedimos Mata Atlántica, que participaría en
La inflación había vuelto con fuerza detalles sobre el reportaje. Aunque no el Foro Global liderado por Lindner,
y aquel joven líder se convirtió en el tuvimos acceso al texto, constatamos se presentó en Rio de Janeiro aquella
personaje central del mayor escándalo enseguida que esa gravísima acusación misma mañana. Estaba perplejo por
de corrupción de la historia de Brasil. no se basaba en ninguna declaración el artículo. Obviamente, Lindner y el
Semanas antes de que diera inicio oficial ni en documentos y que el autor presidente de Rio 92, el empresario y
Rio 92, el hermano del presidente, de la supuesta primicia del reportaje fi lántropo canadiense Maurice Strong,
Pedro Collor, dio una explosiva entre- no había hablado con Lindner, como desmintieron aquella información
vista a la revista Veja para denunciar aconseja el sentido común y hasta el calumniosa. El diario no tenía ninguna
el esquema de tráfico de influencias más elemental manual de periodismo. información que respaldara la noticia
y malversación de fondos públicos Ante nuestra objeción para la publi- y se dejó manejar por un periodista sin
comandado por el empresario Paulo cación del artículo, nos informaron escrúpulos. Nos volvieron a llamar a
César Faria, socio de los negocios de que la Policía Federal tenía un dossier Waack y a mí. Querían saber qué tenía
la familia Collor en el ámbito de la sobre el tema. Pedimos ver dicho dos- que hacer el periódico. Dijimos que,
comunicación en Maceió, exjefe de la sier y nos informaron que solo estaría después de haber atropellado delibe-
campaña presidencial de Fernando Co- disponible al día siguiente. Waack y yo radamente el código de ética del diario
llor y una de las figuras más influyen- decidimos entonces que deberíamos y del periodismo, por no hablar del
tes de la República. La atmósfera de esperar hasta el día siguiente, exami- más elemental sentido común, debería
inminente desastre político creada por nar el dossier, escuchar a Lindner y, publicar al día siguiente un titular que
la entrevista redujo el margen para que entonces sí, publicar el artículo, si es desmintiera el titular del día anterior
el gobierno y el país se beneficiaran que aún se sostenía. Nos dijeron en- o, como mínimo, un texto que recono-
plenamente de la iniciativa de organi- tonces que la dirección de la redacción ciera el error y pidiera disculpas a los
zar Rio 92, a pesar de los esfuerzos del ya había tomado la decisión y que ese acusados y a los lectores.
entonces ministro de Exteriores, Celso sensacional reportaje se publicaría al Por desgracia, no se hizo eso. El 9
Lafer, de Justicia, Célio Borja, y de día siguiente. El argumento a favor de junio, el diario Estado de S. Paulo
Economía, Marcílio Marques Moreira, de la publicación era la fuente que, publicó una noticia según la cual el
quienes a partir de entonces formaron aunque era secreta, era oficial. Una vez director de la Policía Federal, Romeu
una especie de comité informal de más, Waack y yo insistimos en que, si Tuma, negaba, a preguntas del enton-
salvación nacional dentro del gobierno, la fuente de esa información era un ces ministro de Justicia, Célio Borja,
que amenazaba desmoronarse. funcionario del gobierno del presiden- estar en posesión de un dossier sobre
La atmósfera de sospecha creada te Collor, a quien su propio hermano Lindner y haber llevado a cabo ningún
por el escándalo de Collor contribuyó acusaba de un delito de corrupción, tipo de investigación sobre las finanzas
en Rio 92 a uno de los episodios más eso era razón de más para no publicar del Foro Global. Dos días después, el
lamentables de mal periodismo que he el artículo y reforzar la comprobación diario Jornal do Brasil, en una edición
visto en mis 38 años de carrera. Días de los hechos. Perdimos la batalla. Se en inglés que publicó durante la confe-
después del comienzo de la conferen- nos dijo que, pese a los problemas que rencia, aclaró la historia. En una con-
cia, William Waack y yo fuimos citados habíamos señalado en el artículo, el ferencia de prensa, Lindner, Strong,
a una reunión por el coordinador del periódico corría un riesgo todavía ma- el científico Albert Sabin y el alcalde
equipo. Uno de los colaboradores del yor de que se fi ltrara la información a de Rio de Janeiro, Marcelo Alencar,
periódico había obtenido una infor- uno de sus competidores si se posponía anunciaron el pago de la deuda de
mación asombrosa. Sería el titular del su publicación 24 horas. dos millones de dólares que el Fondo
diario al día siguiente y haría estre- Al día siguiente, el sábado 6 de Global había acumulado en la fase
mecerse la conferencia. La noticia era junio, el Estado de S. Paulo publicó de preparación de la conferencia. El
que el abogado estadounidense Warren en la portada de la sección especial, periódico informó que el Programa de
Lindner, coordinador del Foro Global, con una llamada en la primera página, las Naciones Unidas para el Desarrollo
que reunía a las ONG en el Parque de un supuesto reportaje titulado: «Un había contribuido con 500 000 dólares
Flamengo, había desaparecido con dossier de la Policía Federal acusa a estadounidenses. Los gobiernos de
dos millones de dólares destinados a Lindner de uso irregular de dinero». Alemania, Austria y Canadá habían
financiar la conferencia paralela de las Waack y yo preguntamos por el dossier participado con 400 000 dólares. El
organizaciones cívicas, las universida- de la Policía Federal nada más llegar Banco Real hizo una contribución de
des y los activistas en general. a Riocentro, donde se celebraba la 750 000 dólares que, sumada al dinero

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 201


© WWF-Brazil / Juvenal Pereira

WWF Iniciativa Amazonia Viva

donado por las ONG, completaron la En 1994 fui enviado a cubrir la Inspirado por la presencia de la
cantidad de la deuda. Conferencia Internacional sobre la profesora Elza Berquó y de la activista
«Es una acusación estúpida», afirmó Población y el Desarrollo en El Cairo, feminista Jacqueline Pitanguy en la
Maurice Strong, ante una audiencia de e intenté registrar en el periódico los delegación oficial de Brasil, escribí un
cientos de periodistas de todo el mun- bastidores del lamentable y totalmente artículo titulado «Cae el muro entre
do, una parte del contingente de 2000 evitable episodio que se había produci- el Ministerio de Relaciones Exteriores
periodistas que cubrieron Rio 92. «Al- do dos años antes. Nombrado ministro y las ONG». Hacia la mitad del texto
guien ha querido lanzar nubarrones de Relaciones Exteriores por el pre- relaté el triste episodio de la falsa acu-
sobre el Foro Global. Ha sido repulsivo. sidente Itamar Franco, que sucedió a sación contra Lindner que tuvo lugar
El Foro Global es el alma de Rio 92.» Collor, el senador Fernando Henrique en Rio 92, para ilustrar lo mucho que
No me cabe duda de que Strong es- Cardoso había iniciado la apertura del había cambiado en dos años la visión
taba en lo cierto sobre la motivación de Ministerio de Relaciones Exteriores a oficial del gobierno sobre el papel de
los que crearon aquella noticia falsa. la sociedad civil. Las ONG, antes vistas las ONG. Sin embargo, la dirección de
El autor del repugnante reportaje era con horror por nuestros diplomáticos, la redacción de entonces decidió que
un agregado político de José Sarney, el comenzaron a ser incluidas en las era mejor no remover el pasado.
expresidente de la República y actual delegaciones oficiales de Brasil en las Warren Lindner, que era portador del
senador. En la delegación oficial de conferencias mundiales que la ONU VIH, murió en el año 2000. Junto con
Brasil en Rio 92 había diplomáticos realizó sobre diversos temas a partir algunos miembros del equipo de edito-
de alto rango que habían ascendido du- de Rio 92. Las delegaciones brasileñas rialistas del Estado de S. Paulo, quizá sea
rante los gobiernos militares y la admi- mejoraron en calidad y representativi- yo el único antiguo reportero que sigue
nistración de Sarney. Todos ellos eran dad. Ahora expresaban no solo la pers- unido al periódico, que dejé oficialmente
adversarios declarados de las ONG, las pectiva del Estado, sino de la nación, en septiembre del 2006, pero para el que
mismas que, algunos años después, que empezaba entonces a construir a sigo realizando contribuciones even-
un grupo de políticos inescrupulosos duras penas la exitosa experiencia de tuales en forma de análisis y artículos
de diversos partidos adoptaron como democracia con estabilidad económica de opinión. La invitación de WWF para
instrumento para desviar dinero públi- y progreso social del mundo en desa- recordar Rio 92 me ofrece la oportunidad
co para uso personal, financiación de rrollo que es hoy a pesar de lo mucho de recordar esta historia, sobre lo que
campañas o pago de deudas políticas. que aún queda por hacer. está al corriente la dirección del diario.

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 202


WWF Iniciativa Amazonia Viva

El clima de crisis que se instaló en do, en el punto en que la favela Rocin- principal negociador de la delegación
Brasil en el momento en que empezaba ha llega a la Avenida Niemeyer, con su mexicana, Michael K. Young, a evitar
Rio 92 limitó la acción del gobierno en enorme cañón apuntando a la favela. el fiasco. Pero el daño ya estaba hecho.
la conferencia. Recuerdo una conver- Al llegar a Riocentro, comenté con el De regreso a Washington, Reilly envió
sación que mi colega William Waack, embajador Bernardo Pericás, líder del un mensaje a los funcionarios de la
entonces corresponsal del periódico comité de bosques, la vergüenza que EPA diciendo que había sido objeto de
en Berlín, y yo tuvimos con el embaja- sentí al ver aquel tanque del ejército un acto de «sabotaje» político. «Para
dor Rubens Ricupero en los primeros que apuntaba hacia el pueblo en un Rio mí, personalmente, fue como un salto
días de la conferencia en uno de los de Janeiro lleno de visitantes de todo al vacío con una cuerda elástica. Te
pasillos de Riocentro. Ricupero, que el mundo que transitaban por allí a lanzas con la pierna bien atada a una
dirigió las negociaciones del Tratado diario, de camino hacia Riocentro. «El cuerda… y a nadie le suele pasar que
de la Amazonia en los años setenta comandante podría, al menos, poner el alguien le corte la cuerda». Pero fue
y posteriormente fue embajador en cañón apuntando al mar», sugerí. «El exactamente eso lo que sucedió. Esta-
Washington, ministro de Medio Am- problema es que, si hace eso, la gente dos Unidos firmó el Convenio en junio
biente y de Hacienda y director general de la favela baja y toma el tanque», dijo de 1993, pero hasta ahora no lo ha
de la UNCTAD, presidía el debate más el embajador, con sarcasmo. ratificado. Dicho Convenio cuenta con
importante de Rio 92, el del Comité de Por una situación aún más bo- 193 países miembros. Sudán del Sur,
Finanzas de la conferencia, en que se chornosa pasó William K. Reilly, un Andorra y la Santa Sede son, junto con
discutiría el porcentaje del PIB que los respetado ambientalista a quien el pre- Estados Unidos, los que permanecen
países ricos, encabezados por los nór- sidente H. W. Bush le había confiado fuera. En 1992, las objeciones ameri-
dicos y por Holanda, se compromete- el mando de la Agencia de Protección canas se debían a una preocupación
rían a destinar a las naciones pobres, a Ambiental de EE. UU. Reilly era el jefe con disposiciones del Convenio sobre
título de «ayuda oficial al desarrollo». de la delegación estadounidense en la transferencia de tecnología para los
«La diplomacia tiene mucho de tea- Rio 92 y negoció en los primeros días países en desarrollo, algo que veían
tro», afirmó Ricupero en nuestra con- de la conferencia un texto que, según como una amenaza potencial a los
versación. «Como negociador del país creía él, permitiría a su país adherir- derechos de propiedad intelectual de
anfitrión, a veces es necesario reclinar- se al Convenio sobre la Diversidad las empresas estadounidenses. Wash-
se en el escenario sin correr el riesgo Biológica, el fruto más importante que ington consideró excesivamente vagos
de que se venga abajo, y eso es algo produjo aquella conferencia. Las gran- los términos empleados en el Convenio
que yo no puedo hacer», nos confesó el des empresas estadounidenses y sus sobre la obligación de proporcionar
diplomático, en referencia al escándalo aliados conservadores del Partido Re- asistencia financiera. Ningún otro país
que rondaba al gobierno y amenazaba publicano se oponían a dicho convenio desarrollado compartió ni comparte
la estabilidad de la República. El esce- y estaban haciendo lobby para impedir esa preocupación. Los esfuerzos ini-
nario creado por el escándalo de Collor la adhesión de Estados Unidos. En la ciales de la administración de Obama
estaba, de hecho, a punto de desmo- administración de Bush no les faltaban en favor de la ratificación no fueron
ronarse. En septiembre, el presidente aliados. Uno de ellos era el entonces vi- a ninguna parte y poco se espera de
sería destituido del poder por una ley cepresidente Dan Quayle. Días después Estados Unidos, un país que, a pesar
del Congreso, que rechazó su solicitud del comienzo de la conferencia en Rio, del impresionante número de uni-
de renuncia y suspendió sus derechos el texto del Convenio sobre la Diversi- versidades y centros de excelencia en
políticos por ocho años. dad Biológica que Reilly negoció a du- investigación científica que posee, se
Si tenso era el clima político ras penas se fi ltró a la prensa de Wash- convirtió a partir de 1992 en el centro
nacional en el que se llevó a cabo la ington y generó la reacción esperada de resistencia para la aplicación del
conferencia, tampoco era mucho mejor entre los conservadores en el Congre- conocimiento científico a las políticas
el ambiente en Rio de Janeiro. Para so, en el Ejecutivo y en los grupos de públicas en cuestiones fundamentales
garantizar la seguridad de los miles presión del mundo corporativo. En un de salud (células madre) y medioam-
de visitantes extranjeros, el Gobierno discurso pronunciado en Washington, biente (cambio climático). Por eso, el
federal había ordenado una nada dis- Quayle le puso una zancadilla a Reilly gobierno de EE. UU. llega a Rio+20
creta ocupación militar de los puntos y criticó públicamente la posición de con poco espacio y credibilidad y una
clave de la ciudad, con la satisfacción, la delegación estadounidense en la posición que impide el liderazgo que
dicho sea de paso, de una parte impor- conferencia. Congresistas de la opo- debería tener en la conferencia.
tante de sus habitantes, cansados de la sición demócrata que formaban parte A pesar de que sigo los debates
violencia que entonces imperaba. de la delegación oficial de Estados sobre temas ambientales desde 1992
Una escena que se me quedó graba- Unidos en la conferencia, incluyendo a y he organizado varias conferencias
da en la memoria fue la de un tanque Al Gore, de Tennessee, Tim Wirth, de en el Wilson Center sobre distintos
del ejército situado justo detrás del Ho- Colorado, y John Kerry, de Massachu- aspectos de ese debate, centradas
tel Sheraton en el barrio de São Conra- setts, trataron de ayudar a Reilly y al en las políticas públicas relevantes

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 203


WWF Iniciativa Amazonia Viva

Si Brasil logrará consolidar su posición de líder en diversos


aspectos de este debate, y de qué forma lo logre, dependerá de
las políticas que adoptemos en los próximos años para administrar
la formidable riqueza natural y la biodiversidad que albergamos en
nuestro territorio. Esas decisiones implican elecciones que requieren
conocimiento, habilidad, dedicación y coraje.

para Brasil y las relaciones de Brasil nistrar la formidable riqueza natural fue explícitamente ambiental. Rio+20
con Estados Unidos y la comunidad y la biodiversidad que albergamos en tiene un enfoque más ambicioso —el
internacional, no me considero un nuestro territorio. Esas decisiones im- desarrollo sostenible— y marca el co-
experto. Por ende, les dejo a otros, plican elecciones que requieren conoci- mienzo de un proceso de negociación.
más conocedores y más involucrados miento, habilidad, dedicación y coraje. Parece claro que a los ojos del país
en los debates que yo, las respuestas La discusión sobre la Ley Forestal es anfitrión, así como de otros grandes
detalladas a la entrevista. solo la primera de una serie de batallas países emergentes que hoy le dan
Me gustaría simplemente destacar sobre el tema. Hace unos años, Rubens dinamismo a la economía mundial, la
algunos puntos. El primero es que en Ricupero escribió que Brasil reúne conferencia es el momento de iniciar
estos 20 años se ha avanzado mucho todas las condiciones necesarias para un debate en el que las políticas am-
en Brasil hacia la inclusión de los te- convertirse en una potencia ambiental bientales no estén subordinadas a las
mas de Rio 92 en la agenda nacional. en un mundo en que el cambio climáti- prioridades del crecimiento económico
Empresas brasileñas de diferentes co, la demanda creciente de alimentos, y haya una mejor distribución social
tamaños cuentan ahora con departa- energía y recursos naturales como el de sus resultados dentro de los países y
mentos de sostenibilidad. Las organi- agua cobran importancia en la agenda entre los diversos países.
zaciones de la sociedad civil centradas de la economía mundial y de la paz y la El desafío consiste en elaborar un
en las actividades que incorporan la seguridad internacionales. Se trata de programa de desarrollo sostenible a
dimensión ambiental se han multipli- una llamada a la reflexión y a la acción. escala mundial que sea sustancial y
cado y se han especializado. Ese tema En democracia, hemos avanzado mu- factible, en un mundo en que, pese a
está actualmente en los noticiarios y cho. En democracia, y solo en demo- los progresos alcanzados en la con-
en los debates de los grandes periódi- cracia, podemos avanzar mucho más. cienciación de las personas sobre los
cos y la gente habla de ello. También No creo que sea necesario ser un impactos económicos y sociales de
parece claro que Brasil ha ganado experto para decir que la naturaleza de ignorar las cuestiones ambientales,
importancia en el debate de los temas Rio+20 y la coyuntura internacional en faltan líderes y coraje político para al-
ambientales con repercusiones a esca- que se celebra aconsejan mantener ba- canzar acuerdos básicos de reducción
la mundial. jas las expectativas sobre las posibles de emisiones de los gases que causan el
Si Brasil logrará consolidar su repercusiones de Rio+20. Rio 92 fue la calentamiento global.
posición de líder en diversos aspectos culminación de un proceso de nego- De esta manera, no sorprende la
de este debate, y de qué forma lo logre, ciación y produjo resultados, como el evaluación negativa que se hace sobre
dependerá de las políticas que adopte- histórico Convenio sobre Diversidad los esfuerzos de Brasilia para producir
mos en los próximos años para admi- Biológica y el Programa 21. Su tema ese programa. Si había espacio para

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 204


WWF Iniciativa Amazonia Viva

definir una agenda innovadora para Unidos produce sobre la acción de las
Rio+20, parece claro que el gobier- ONG europeas y estadounidenses.
no brasileño no lo ha encontrado. El Esenciales para dar vitalidad a las
mundo, por su parte, no está para grandes conferencias temáticas de las
grandes atrevimientos. Naciones Unidas, las ONG también
Paralizados por una polarizadora llegan a Rio+20 de capa caída. Impe-
crisis política interna, Estados Uni- didas por la realidad política en que
dos está, como ya he apuntado, a la operan para avanzar en sus programas
zaga del debate sobre las cuestiones en casa, corren el riesgo creciente de
ambientales. El candidato republica- parecer, más que nunca, empeñadas
no a las elecciones presidenciales de en obtener en otras latitudes los éxitos
noviembre de este año, Mitt Romney, que no consiguen en casa. Eso, combi-
quien como gobernador de Massachu- nado con la mala fama que las ONG en
setts tuvo posiciones alineadas con general han adquirido recientemente
el mundo sobre el cambio climático, en Brasil, debido a su uso indebido
renegó de lo que afirmó en el pasado y como vehículo de corrupción por parti-
abrazó la bandera de la ignorancia ac- dos supuestamente «progresistas», re-
tiva que impregna el debate en EE. UU. presenta un considerable desafío para
sobre el tema global más importante su credibilidad. A ello hay que añadir
a que la humanidad se ha enfrentado los indicios de fracasos recientes. El
nunca. Con la preocupación de no dar celo misionero con que diversas ONG
munición a los republicanos durante han abrazado el movimiento contra la
la campaña presidencial de este año, construcción de presas hidroeléctricas
es probable que el presidente Barack en los ríos Madeira y Xingu ha resul-
Obama se mantenga lejos de Rio de tado infructuoso hasta la fecha, a no
Janeiro y sin aspiraciones en materia ser como medio para sus campañas de
de política ambiental. A su vez, la crisis recaudación de fondos.
económica en Europa ha reducido Como dije en un evento al que asistí
igualmente la voluntad de buscar pla- el año pasado en la oficina de WWF
nes audaces en el Viejo Mundo. Los eu- en Washington, mostrar en Estados
ropeos, que incorporaron más rápida- Unidos y otros países imágenes de
mente que otros pueblos las prácticas familias indígenas afectadas por esos
de sostenibilidad en su día a día desde
Rio 92, también muestran signos de
grandes proyectos energéticos puede
ser beneficioso para la concienciación
PAULO
retroceso. El temor justificado a la
energía nuclear, reavivado por la ca-
tástrofe de Fukushima, ha conducido
de los dirigentes y militantes de las
ONG, en la medida en que alimentan el
sentimiento de que defienden una bue-
SOTERO
a Alemania a prohibir gradualmente na causa. No obstante, esa estrategia
el uso de esa fuente de energía, lo cual ha tenido una escasa repercusión en
aumentará inevitablemente las emisio- la sociedad brasileña. La nueva clase
nes de carbono en la mayor economía media está interesada en la calidad de
europea. Por su parte, China se ha vida y las comodidades, que dependen
convertido ya en campeona mundial de de un mayor crecimiento económico
emisiones de carbono y ha descubierto y del aumento de la producción de
en la producción y comercialización de energía. Conciliar la demanda de una
equipos y procesos para la economía mayor calidad de vida y un crecimiento
verde una forma de luchar contra la económico sostenible, anclado en el
contaminación en casa y ganar dinero uso racional de los recursos naturales
en el extranjero. Eso y la moderación y en procesos innovadores de produc-
del crecimiento chino en los próximos ción y distribución de bienes materia-
años podrían representar una de las les e inmateriales es el reto del siglo
pocas buenas noticias disponibles en XXI que puede empezar a ser definido
vísperas de Rio+20. en Rio+20.
Para finalizar, hay que comentar el
efecto que la pérdida de vitalidad del
debate ambiental en Europa y Estados

Serie ¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20? p. 205


WWF Colombia / Camilo Ortega
FICHA TÉCNICA
Denise Oliveira – Iniciativa Amazônia Viva - WWF
Coordenação | Coordination | Coordinación

Gilberto Costa
Entrevistas e Textos | Interviews and Texts | Entrevistas y Textos

Martin Charles Nicholl e Paulo Kol


Tradução Inglês | English Translation | Traducción al Inglés

Fernando Campos Leza


Tradução Espanhol | Spanish Translation | Traducción al Español

Paulo Kol, Luciano Monteiro, Leonardo Milani


Tradução Português | Portuguese Translation | Traducción al Portugués

Zig Koch
Foto da Capa | Cover Photo | Foto de la Portada

Denise Oliveira
Revisão | Revision | Revisión

Supernova Design
Layout | Layout | Diseño

Gráfica Athalaia
Impressão | Printing | Impresión

Brasília, maio e junho de 2012 | Brasilia, May and June, 2012 | Brasilia, mayo y junio de 2012

NOTA DE RESPONSABILIDADE
Esta publicação traz uma série de entrevistas e artigos sobre os 20 anos que se passaram entre as
conferências das Nações Unidas Rio 92 e Rio+20. As opiniões emitidas são de responsabilidade dos
entrevistados e autores.É permitida a divulgação desde que citadas as fontes e mantidos o contexto
apresentado e o texto na íntegra.

DISCLAIMER
This publication presents a series of interviews and articles on the 20 year interval between
the United Nation’s Rio 92 and Rio+ 20 Conferences. The opinions expressed are the exclusive
responsibility of the interviewees and the authors of the articles. The texts may be reproduced
provided they are unabridged, contextualised and the source is cited.

DESCARGO DE RESPONSABILIDAD
Esta publicación ofrece una serie de entrevistas y artículos sobre los veinte años transcurridos entre
lasconferencias de las Naciones Unidas Rio-92 y Rio+20. Las opiniones expresadas son las de los autores
y entrevistados.Se permite la divulgación, siempre y cuando se citen las fuentes y se mantenga el contexto
presentado y el texto completo.

R585r Rio 92, para onde foi? Rio +20, para onde vai? Coordenação: Denise
Oliveira. Iniciativa Amazônia Viva - WWF, Brasília, 2012.

208p.;il; color 29,7 cm.

1. Desenvolvimento Sustentável: Amazônia 2. Entrevistas: Meio Ambiente - Conferência 3. Política


Internacional 4. Relações Internacionais
5. Rio de Janeiro: Brasil

I. Iniciativa Amazônia Viva - WWF II. Rio+20 III. Título

CDU 338.1:502.3 =20=60


AMAZON REGION

RIO+20

INTERVIEWS – WWF LIVING AMAZON INITIATIVE


INTERVIEWS

LAI

8 COUNTRIES AND 1 2012


6.7 OVERSEAS TERRITORY
MILLION KM2 Bolivia, Brazil, Colombia, Ecuador,
Guyana, Peru, Suriname, Venezuela,
Is the area of the Amazon French Guiana
Biome

350
Ethnic Groups

30 MILLION
People living in the Amazon
depend on its resources
90-140 BILLION
Metric tons of carbon stored
in the Amazon Forests

10%
Of the world´s species live in
the Amazon
Rio92, para onde foi? Rio+20, para onde vai?
Rio 92 what did it lead to? Rio+20 what will it lead to?
¿Adónde fue a parar Rio 92? ¿Adónde va Rio+20?
LAI

Why we are here


To stop the degradation of the planet´s natural environment and WWF LIVING AMAZON INITIATIVE
PANDA.ORG

to build a future in which humans live in harmony with nature

panda.org

© 1986 Panda symbol WWF – World Wide Fund For Nature (Formerly World Wildlif e Fund)
® “WWF” is a WWF Registere d Trademar k. WWF, Avenue du Mont-Blanc, 1196 Gland,
Switzerland – Tel. +41 22 364 9111; Fax. +41 22 364 0332. For contact details and further
information, visit our inter national website at at panda.org

Você também pode gostar