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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY

A PRÁTICA DO ENFERMEIRO COM ESTUDANTES


DE GRADUAÇÃO: O CASO DE UMA INSTITUIÇÃO
HOSPITALAR DA REDE PRIVADA

MARGARETE PEREZ MACHADO

RIO DE JANEIRO
JULHO/2006

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ii

A PRÁTICA DO ENFERMEIRO COM ESTUDANTES


DE GRADUAÇÃO: O CASO DE UMA INSTITUIÇÃO
HOSPITALAR DA REDE PRIVADA

MARGARETE PEREZ MACHADO

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa


de Pós-Graduação em Enfermagem do
Departamento de Metodologia da Enfermagem da
Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de
Mestre em Enfermagem.

Orientadora: Profª Drª NEIVA MARIA PICININI SANTOS

RIO DE JANEIRO
JULHO/2006

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iii

Machado, Margarete Perez

A prática do enfermeiro com estudantes de graduação:


o caso de uma instituição hospitalar da rede privada / Margarete Perez
Machado – Rio de Janeiro, UFRJ/EEAN, 2006.
155p.

Orientadora: Neiva Maria Picinini Santos.

Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade Federal


do Rio de Janeiro, Escola de Enfermagem Anna Nery, 2006.

1.Ensino de Enfermagem. 2. Estágio. 3. Ideologia.


I. Santos, Neiva Maria Picinini (Orient.) II.Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Escola de Enfermagem Anna Nery, Programa de Pós
Graduação em Enfermagem. III.Título.

CDD 610.73

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iv

MARGARETE PEREZ MACHADO

A PRÁTICA DO ENFERMEIRO COM ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO:


O CASO DO PRONTOBABY HOSPITAL DA CRIANÇA.

Defesa de Dissertação de Mestrado submetida ao Corpo Docente de


Pós-Graduação em Enfermagem, Escola de Enfermagem Anna Nery da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Mestre em Enfermagem.

Rio de Janeiro, 12 de julho de 2006.

Aprovado por:

_____________________________________________________
Profª Drª Neiva Maria Picinini Santos – Presidente – EEAN/UFRJ

_____________________________________________________________
Profª Drª Vivina Lanzarini de Carvalho – 1ª Examinadora – FASE/Petrópolis

______________________________________________________
Profª Drª Ligia de Oliveira Viana – 2ª Examinadora – EEAN/UFRJ

_______________________________________________________________
Profª Drª Ann Mary Machado Tinoco Feitosa Rosas – Suplente – EEAN/UFRJ

_____________________________________________________________
Profª Drª Luciana Guimarães Assad – Suplente – ESTÁCIO/Rio de Janeiro

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha filha

BÁRBARA

Razão de minha vida e meu maior tesouro. Fonte inesgotável de


aprendizado. Juntas, aprendemos muito. Minha companheira sempre
presente nos momentos de dificuldades e de alegrias.
Seu sorriso e seu jeitinho de falar foram meu grande
incentivo para continuar a caminhada.
Te amo muito!

E à minha irmã...

JANAÍNA

Sem você não haveria tanta criatividade no meu estudo.


Você conseguiu dar muito mais vida a cada etapa desta pesquisa.
Compartilhou comigo de momentos muitos difíceis, mas conseguimos
vencer os desafios. Qualquer palavra seria insuficiente para agradecer
toda a dedicação por mim ao longo de todos estes anos e mais ainda
durante o mestrado. Também te amo muito!

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vi

À Profª Drª Neiva Maria Picinini Santos

O mundo dá muitas e muitas voltas. E por conta de uma dessas


voltas escolhi você para ser minha orientadora. A escolha veio do fundo
do coração, afinal não nos conhecíamos. A convivência me ensinou
muito, não só no aprendizado direcionado ao curso, mas também como
ser humano maravilhoso que você é. É como uma história que chega ao
fim, mas o fim é só o término do curso de mestrado, e, portanto, uma
nova história pode ser escrita. Vou levar comigo muitas lembranças
importantes vivenciadas no curso e você faz parte de quase todas.
Porque acima de tudo foi uma grande amiga.

Aos membros efetivos e suplentes da Banca Examinadora pelas


muitas horas dedicadas à leitura deste estudo e pelo carinho, apoio,
incentivo e contribuições nas diversas etapas desta dissertação.

Profª Drª Neiva Maria Picinini Santos

Profª Drª Vivina Lanzarini de Carvalho

Profª Drª Lígia Oliveira Viana

Profª Drª Ann Mary Machado Tinoco Feitosa Rosas

Profª Drª Luciana Guimaraes Assad

Todo agradecimento é pouco pelo muito que vocês me ofereceram.


Meu sincero eterno muito obrigado!

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vii

AGRADECIMENTOS

À Profª Drª Joséte Luzia Leite, que me incentivou e acreditou em mim mesmo antes
do processo de seleção.

À Profª Drª Lígia Oliveira Viana, acima de tudo minha amiga. Qualquer
agradecimento seria pouco se comparado à grandiosidade de seu coração. Sua amizade,
dedicação e paciência desde o dia em que nos conhecemos até hoje foram o alicerce do meu
crescimento.

À Profª Drª Ann Mary Machado Tinoco Feitosa Rosas, sem o seu carinho e
determinação nos momentos mais difíceis e desconhecidos talvez eu não estivesse chegado até
aqui.

À Profª Drª Marluci Andrade da Conceição Stipp, à época Chefe do Departamento


de Metodologia da Enfermagem da EEAN/UFRJ, pelo incentivo nos momentos difíceis e
pelo apoio e confiança como Professora Substituta do referido departamento.

À Profª Drª Maria da Soledade Simeão dos Santos, Chefe do Departamento de


Metodologia da Enfermagem da EEAN/UFRJ, pelo apoio, carinho e consideração em todos
os momentos e pela valiosa contribuição acerca da temática para o meu estudo.

Aos professores do Departamento de Metodologia da Enfermagem da EEAN/UFRJ,


pelas colaborações, apoio, incentivo e acolhida durante o transcorrer do curso.

Aos membros do NUPEGEPEn da EEAN/UFRJ, pelos momentos de trocas de


conhecimentos, parceria, aprendizado e crescimento profissional.

À Profª Dra Isabel Cristina dos Santos Oliveira, seus ensinamentos me direcionaram
para novos e importantes caminhos, sua perseverança em desejar o melhor me fez acreditar
que tudo é possível, basta saber e querer se empenhar. Sua contribuição para o meu
crescimento profissional, sua presença e seu carinho foram muito importantes durante toda
esta caminhada. Muito obrigada!

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viii

Aos colegas de turma, mestrandos e doutorandos que dividiram comigo os momentos


de estudos e brincadeiras e que fizeram parte do meu crescimento profissional. Com vocês
aprendi muitas coisas. Obrigada!

Aos funcionários da biblioteca da EEAN/UFRJ, pela atenção, auxílio, disposição e


dedicação a todo o momento, sempre com um sorriso e uma palavra de incentivo.

Às professoras da disciplina de Pensamento Contemporâneo I, Profª Drª Isabel


Cristina dos Santos Oliveira, Rita Batista dos Santos, Neiva Maria Picinini Santos e Silvia
Tereza C. de Araújo, que muito me ensinaram e acreditaram em mim.

Às professoras da disciplina de Métodos e Técnicas de Pesquisa I, Profª Drª Isaura


Setenta Porto, Regina Célia Gollner Zeitoune e Maria Beatriz Queiroz, que me
possibilitaram conhecer e me apaixonar pelos caminhos da pesquisa em enfermagem.

À amiga Laís Pisani, Gerente de Enfermagem do Prontobaby Hospital da Criança,


que sempre acreditou em mim e apoiou o meu estudo.

Ao Dr. Mário Eduardo Viana, diretor do Prontobaby Hospital da Criança, por ter
me apoiado na realização desta pesquisa.

Aos enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem que compartilham comigo o


ambiente de trabalho. Somos uma equipe!

Aos enfermeiros, sujeitos da minha pesquisa, pela participação, parceria, paciência e


contribuições valiosas sem as quais esta pesquisa não seria realizada. Este estudo é de todos
nós!

À minha mãe que possibilitou a realização deste estudo, com paciência e carinho
durante todos os dias.

A todos aqueles que me ajudaram direta ou indiretamente na construção e conclusão


desta pesquisa.

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ix

A LIÇÃO DO BAMBU CHINÊS

Depois de plantada a semente deste incrível arbusto,


não se vê nada por aproximadamente 5 anos, exceto o lento desabrochar
de um diminuto broto, a partir do seu bulbo.
Durante 5 anos, todo o crescimento é subterrâneo, invisível a olho nu,
mas, uma maciça e fibrosa estrutura de raiz, que se estende
vertical e horizontalmente pela terra está sendo construída.
Então, no final do 5º. ano, o bambu chinês cresceu até atingir
a altura de 25 metros.
Um escritor americano, refletindo, escreveu:
"Muitas coisas na vida pessoal e profissional são iguais ao bambu chinês:
você trabalha, investe tempo, esforço, faz tudo o que pode para
nutrir seu crescimento, e, às vezes não vê nada por semanas, meses, ou anos.
Mas, se tiver paciência para continuar trabalhando, persistindo e
nutrindo seu 5º ano chegará, e, com ele, virão um crescimento e
mudanças que você jamais esperava...
O bambu chinês nos ensina que não devemos facilmente desistir de
nossos projetos, de nossos sonhos... especialmente no nosso trabalho,
que é sempre um grande projeto em nossas vidas.
Por isso, devemos lembrar sempre do bambu chinês, para não desistirmos
facilmente diante das dificuldades que surgirão.
É necessário termos em nossas vidas dois hábitos:
persistência e paciência, para alcançarmos nossos sonhos!!!
E nunca esquecer que é preciso muita fibra para chegar às alturas e,
ao mesmo tempo, muita flexibilidade para se curvar ao chão."

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x

RESUMO

MACHADO, M.P. A prática do enfermeiro com estudantes de graduação: o caso


de uma instituição hospitalar da rede privada. Rio de Janeiro, 2006. Dissertação
(Mestrado em Enfermagem) - Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.

O estudo tem como objeto as formas simbólicas produzidas na prática dos


enfermeiros com estudantes de graduação em campo de estágio prático no
Prontobaby Hospital da Criança. Os objetivos propostos foram descrever as
experiências dos enfermeiros com estudantes de graduação em estágio prático e
analisar a articulação das formas simbólicas que emergem da prática dos
enfermeiros com estudantes em campo de estágio. Trata-se de uma pesquisa
qualitativa do tipo estudo de caso. Foram entrevistados nove enfermeiros
assistenciais que acompanham estudantes de sétimo e oitavo período do curso de
graduação em campo de estágio prático, procedentes de instituições públicas e
privadas. Foi utilizada como instrumento a entrevista não-estruturada e a observação
participante. O referencial teórico adotado está vinculado aos modos de
operacionalização da ideologia proposto por John Thompson e suas respectivas
estratégias, analisando o significado das formas simbólicas estabelecidas entre
enfermeiros e estudantes. Foram elaboradas três unidades temáticas: experiências
dos enfermeiros com estudantes de graduação em campos de estágio, atuação dos
estudantes de graduação em estágio prático e facilidades, dificuldades e estratégias
da prática dos enfermeiros. Conclui-se que as contribuições do estágio como fontes
de aprendizado são de grande relevância para a formação dos estudantes de
graduação e como fator motivador de mudanças no cotidiano dos enfermeiros que
participam como facilitadores do processo de ensino-aprendizagem frente às
necessidades políticas, sociais e ideológicas da sociedade.

Palavras-chave: 1. Enfermagem; 2. Ensino; 3. Estágio; 4. Ideologia

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xi

ABSTRACT

MACHADO, M.P. Nurse practice with undergraduate students: the case of


private hospital . 2006. Dissertation (Masters Degree on Nursing) - Anna Nery
School of Nursing, Federal University of Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.

This work verse on the symbolic forms produced during nursing daily practice
with nursing undergraduate students attending the training program on Prontobaby
Children Hospital. The main objectives were describing the nursing staff experience
with undergraduate students and analyze the connection of the symbolic forms that
rises with the interaction between nurse and undergraduate student during their
training program. This work is a qualitative research formatted as case study. Nine
registered practitioner nurses that act as preceptors for 7th and 8th levels
undergraduate students on training program were interviewed, with background
ranging from public to private institutions. The tool used to assess the objectives was
a non-structured interview with free interference and participating observation. The
theoretical fundament adopted is linked to the ideology setting modes proposed by
John Thompson with the respective associated strategies, analyzing the meaning of
symbolical forms raised between nurse and students. Three parts thematically
differentiated were drawn: experiences of the nurse with undergraduate students on
training program, performance of undergraduate students on training programs and
easiness, difficulties and strategies of nurses´ practice. We have concluded that the
training program contribution as learning asset is of utmost relevance for
undergraduate student’s formation, as much as an important factor pressing changes
on the daily work of nurses that participate on teaching-learning process confronting
the political, social and ideological needs of the society.

Keywords: 1. Nursing; 2. Teaching ; 3. Training Program; 4. Ideology

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xii

LISTA DE ILUSTRAÇOES

Quadro 1- Modos de operação da ideologia e suas estratégias.......................p.34

Quadro 2- Caracterização dos sujeitos entrevistados......................................p.38

Figura 1- A criação de Adão, 1512. Michelangelo............................................p.14

Figura 2- Aula de Dança, 1871. Edgar Degas..................................................p.27

Figura 3- O Quarto de Vincent Van Gogh, 1888. Van Gogh............................p.43

Figura 4- A Lição de Anatomia do Dr. Tulp, 1632. Rembrandt.........................p.63

Figura 5- Papoulas em Argenteuil, 1873. Monet............................................ p.137

Figura 6- Menina ao Piano, 1892. Renoir........................................................p.142

Figura 7- A Conversa, 1909. Matisse...............................................................p.147

Figura 8- Duas Personagens, 1934. Picasso...................................................p.151

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xiii

SUMÁRIO
Pág.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Questões norteadoras ............................................................................... 24
Objeto do estudo ....................................................................................... 25
Objetivos.................................................................................................... 25
CAPÍTULO I
ABORDAGEM TEÓRICA E METODOLÓGICA

1.1- Referencial teórico............................................................................. 28


1.2- Abordagem metodológica................................................................... 35
CAPÍTULO II
O CENÁRIO DO ESTUDO: O PRONTOBABY HOSPITAL DA CRIANÇA ......... 44

CAPÍTULO III
ANÁLISE DOS DADOS: A DESCOBERTA DOS DADOS
I- Experiências dos enfermeiros com estudantes de graduação em campo de
estágio.................................................................................................................. 65
II- Atuação dos estudantes de graduação em estágio prático.............................. 83
III- Facilidades, dificuldades e estratégias da prática dos enfermeiros com
estudantes de graduação.....................................................................................107
CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................138
REFERÊNCIAS.....................................................................................................143
APÊNDICES
APÊNDICE A- Roteiro de entrevista.....................................................................148
APÊNDICE B- Roteiro de observação participante..............................................149

APÊNDICE C- Solicitação e aprovação da utilização do nome da


Instituição Hospitalar............................................................................................150
ANEXOS
ANEXO A- Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa ....................................152
ANEXO B -Termo de Consentimento Livre e Esclarecido....................................153

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1

A Criação de Adão, 1512


Michelangelo

O início de tudo: a criação do estudo


partindo da experiência e da necessidade
de explorar profundamente o assunto.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

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2

A proposta deste estudo parte da minha experiência acerca da participação

de enfermeiros assistenciais e gerenciais no processo de ensino-aprendizagem com

estudantes de cursos de Graduação em Enfermagem que realizam estágio

extracurricular.

O estágio extracurricular por ser garantido pela legislação1, é sempre

procurado pelos estudantes dos diversos cursos de graduação. Caldeira (1992,

p.69), em sua dissertação de mestrado em Enfermagem, relata que o estudante

busca experiências extracurriculares, na tentativa do aprimoramento de

conhecimentos técnicos.

Os programas de estágio surgiram na década de sessenta, apresentando

algumas modalidades específicas que eram utilizadas de acordo com o propósito

pretendido, como por, exemplo, ser remunerado ou não, estar vinculado às

empresas públicas ou às privadas, ser curricular ou extracurricular.

Vários fatores contribuíram para a institucionalização do Estágio

Extracurricular (EEC), no Rio de Janeiro, destinado a estudantes de nível superior

nas diversas áreas de atuação, incluindo a área de Enfermagem. Santos, M, (1996,

p.37) ressalta que estes estágios aconteceram em um momento político de

contenção de gastos públicos envolvendo recursos humanos e materiais, afetando,

principalmente os hospitais.

Meu interesse por esta temática, envolvendo o enfermeiro assistencial e

gerencial como co-responsável pelo processo de formação de novos profissionais

vem crescendo até os dias de hoje, partindo da minha vivência de dezoito anos

atuando em programas de educação continuada e de minhas inquietações

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3

relacionadas às dificuldades de se conseguir a participação efetiva dos enfermeiros

e o compromisso para desempenhar o seu papel de preceptor2.

A minha trajetória iniciou-se logo após a conclusão da graduação, em 1985,

quando fui trabalhar como chefe do Centro Cirúrgico de um hospital geral e, no ano

seguinte na Supervisão de Enfermagem de outro hospital, ambos da rede privada.

Posteriormente, fui convidada a fazer parte da Coordenação de Enfermagem de um

dos hospitais, atuando tanto na Gerência de Enfermagem como no Programa de

Educação Continuada, surgindo então, a oportunidade de iniciar minhas atividades

com estudantes do Curso de Graduação em Enfermagem que faziam estágio

extracurricular neste hospital, procedentes de uma universidade pública localizada

no município do Rio de Janeiro.

Esse estágio extracurricular3 era desenvolvido com os estudantes a partir do

sexto período e terminava ao final do curso de graduação, com uma carga horária de

vinte e quatro horas semanais, que podia ser realizado no período noturno ou

diurno, nos finais de semana e feriados, desde que sob a supervisão de um

enfermeiro que desempenhava o papel de preceptor. Os estudantes passavam por

todos os setores do hospital desenvolvendo as práticas assistenciais e, ao final do

estágio executavam as funções de supervisão acompanhados do enfermeiro.

Partindo desta minha experiência foi possível observar o quanto era difícil

para os enfermeiros que desenvolviam a assistência e a gerência desempenhar o

papel de preceptor. As dificuldades apresentadas pela maioria dos enfermeiros

estavam relacionadas aos métodos adequados que deveriam ser utilizados para

1
Lei nº 6.494 de 07/12/1977 que dispõe sobre os estágios de estudantes de estabelecimentos de ensino superior e
de ensino profissionalizante do 2º grau e supletivo e dá outras providências. Decreto nº 87.497 de 18/08/1982
que regulamenta a Lei nº 6.494 de 07/12/1977, nos limites que especifica e dá outras providencias.
2
Neste estudo consideramos como “preceptor” o enfermeiro assistencial que acompanha e orienta os estudantes
no desenvolver de suas práticas assistenciais nos campos de estágio.

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4

transmitir aos estudantes suas experiências, uma vez que grande parte desses

enfermeiros não tinha muita experiência com situações de ensino e tinha pouco

preparo didático, apenas dominavam a prática do fazer.

Como lidar então, com a questão do ensinar a prática do dia-a-dia? O

processo de ensinar segundo Telles (2003, p.76) requer segurança, competência,

compromisso, incentivo e reflexão de quem realiza e de quem participa desse

processo.

O grupo de enfermeiros entendia que só a prática não seria suficiente para

atingir a proposta desta atividade que dizia respeito à formação de futuros

enfermeiros. Era necessário algo mais, algo que contemplasse às ansiedades dos

estudantes quanto ao aprender e às dos enfermeiros quanto ao ensinar. Como se

faria para que o processo de comunicação entre enfermeiros e estudantes pudesse

ser eficiente na transmissão e na recepção do conhecimento? Somava-se a estes

problemas um outro, que dizia respeito ao gerenciamento do tempo para

desempenhar as atividades, assistenciais, gerenciais, administrativas e as de ensino

da prática, que eram exigidas dos enfermeiros.

Era importante para os enfermeiros envolvidos na função de ensinar a prática

ter segurança e sentir-se estimulado para esta nova atividade. As preocupações com

a forma de ensinar a prática e com as estratégias de ensino-aprendizagem a serem

utilizadas, estimularam a mim e aos enfermeiros explorar melhor o assunto, visto a

necessidade dos enfermeiros em inserir os estudantes nas atividades a serem

desenvolvidas no desenvolvimento da prática.

Considero, portanto, que mesmo direcionado para o ensino de nível médio, o

curso de Licenciatura se faz importante na vida dos enfermeiros para melhor

3
Por “Estágio Extracurricular” entendemos como sendo um estágio realizado voluntariamente pelo estudante

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5

fundamentar suas práticas de ensinar nos campos de estágio, uma vez que a

transmissão do conhecimento deve acontecer de maneira a ser recebida e

compreendida pelo estudante.

Corroborando com esta idéia, Lima (1996, p.9) reforça que os enfermeiros

acabam transmitindo o saber de maneira informal, eventual, sem obedecer aos

métodos de ensino que os cursos de licenciatura ou outros podem oferecer.

Dando sequência ao pensamento da autora, a experiência em participar

dessa atividade com estudantes do Curso de Graduação foi muito importante e

enriquecedor para o meu crescimento na área da Enfermagem, uma vez que mesmo

tendo concluído o Curso de Licenciatura, dispunha ainda de pouca experiência

voltada para o processo de ensino-aprendizagem no qual estava envolvida, e me

perguntava em alguns momentos qual seria a forma mais facilitadora e eficiente de

ensinar a prática aos estudantes em campos de estágio.

Foram momentos de muitas reflexões acerca de minhas responsabilidades na

formação de novos profissionais, e, de que forma, efetivamente, poderia estar

contribuindo para o crescimento profissional do estudante, em consonância com o

aprendizado oferecido nos cursos de graduação, ressaltando que o propósito do

estudante é colocar em prática seus conhecimentos técnico-científicos adquiridos no

transcorrer do curso.

As dificuldades foram sendo lentamente superadas, principalmente com as

experiências adquiridas ao final da Residência de Enfermagem, na qual foi possível

apreender novos valores, conceitos e maneiras de facilitar o aprendizado, e que

puderam ser usados como facilitadores do trabalho que desenvolvia.

como busca de complementação profissional, podendo ou não estar vinculado ao curso de graduação.

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6

O fato de receber estudantes de uma instituição pública favorecia o contato

dos enfermeiros com os docentes da universidade, o que me possibilitava, sempre

que possível, a participação em eventos na universidade como palestras e reuniões

voltadas para o processo de ensino-aprendizagem, fortalecendo meu aprendizado e

minha atuação com os estudantes.

Paralelamente, como concursada e lotada no Hospital Municipal Miguel

Couto, continuei atuando em setores como Centro Cirúrgico, Educação Continuada

e Gerência de Enfermagem, permanecendo sempre envolvida com estudantes dos

cursos de graduação, tendo neste novo cenário um número de estudantes muito

maior e diversificado, em estágio curricular e extracurricular, procedentes de

instituições públicas e privadas, e que me permitiu ter experiências bastante

significativas.

Atualmente trabalho no Prontobaby Hospital da Criança, um hospital da rede

privada especializado em pediatria, onde estou na coordenação de um programa de

estágio extracurricular para estudantes do Curso de Graduação em Enfermagem,

através do Centro Integrado Empresa Escola – CIEE4. O estágio é oferecido aos

estudantes do Curso de Graduação em Enfermagem, procedentes de instituições

públicas e privadas, que estejam cursando o sétimo ou oitavo período. Esse critério

foi escolhido por tratar-se do último ano do curso de graduação, onde os estudantes

já cursaram a maioria das disciplinas e acumularam experiências relevantes,

estando, portanto, com conhecimentos específicos, para desenvolverem suas

atividades nos campos de prática.

Ressalto que o propósito do estágio para a instituição não é substituir o

trabalho do enfermeiro pelo do estagiário, ao contrário, esta proposta está

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7

impregnada de aspectos ideológicos, uma vez que o estágio extracurricular é uma

forma de controle social que traz em suas bases a ideologia, evidenciada em todo o

processo. Torna-se oportuno esclarecer que o estágio extracurricular neste hospital,

tem como meta a possibilidade de aproveitamento desses futuros profissionais para

fazer parte do quadro de funcionários da instituição.

Vale ainda acrescentar que este é um trabalho de grande relevância

desenvolvido pelos enfermeiros envolvidos neste processo, com o objetivo de, por

estarem em situações assimétricas de poder, contribuírem com suas experiências

para a formação do estudante. Estas situações assimétricas de poder são

estabelecidas quando o enfermeiro preceptor dispõe de um poder atribuído pela

instituição em relação aos estudantes.

Este estudo aborda aspectos ideológicos que serão evidenciados durante o

transcorrer desta pesquisa, uma vez que considero o desenvolvimento deste

programa de estágio extracurricular uma ideologia construída pelo grupo de

enfermeiros comprometidos com a formação do estudante de graduação.

Thompson (2002, p.16) conceitua essa ideologia como “maneiras como o

sentido (significado) serve, em circunstâncias particulares, para estabelecer e

sustentar relações de poder que são sistematicamente assimétricas e presentes em

relações de dominação”.

Assim, neste contexto, o sentido é construído e transmitido de diferentes

maneiras através das formas simbólicas, que só são consideradas ideológicas se

servirem e sustentarem relações assimétricas de poder e dominação, entre grupos

ou pessoas (enfermeiros e estudantes), em contextos sociais estruturados

(instituição hospitalar).

4
CIEE: Criada em 1964, atua a nível nacional com o objetivo de cadastrar e encaminhar estudantes de segundo e

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8

A prática do enfermeiro pode ser transmitida aos estudantes de diferentes

maneiras por meio de formas simbólicas, que são conceituadas pelo autor (2002,

p.79) como uma amplitude de ações, falas, imagens, gestos, atitudes e expressões,

faladas ou escritas, inseridas em um contexto social que necessitam ser

compreendidas e interpretadas.

Através das formas simbólicas a comunicação entre enfermeiros e estudantes

se faz presente em todos os momentos do desenvolvimento do estágio

extracurricular. É através de atitudes, de palavras, de gestos, e expressões

produzidas pelo enfermeiro que o estudante de graduação vai aprendendo a

conviver com o cenário hospitalar e desempenhar suas atividades práticas. O

enfermeiro passa a ser o referencial deste estudante por deter o conhecimento da

prática e possibilitar a transmissão deste conhecimento.

O contato com enfermeiros que participam do estágio extracurricular do

cenário do estudo permitiu refletir sobre o que eles mencionaram a respeito da

experiência vivenciada por eles nos campos de estágio, e repensar sobre nossas

contribuições, como enfermeiros, na formação desses profissionais que são

inseridos na prática profissional.

Dentre as considerações mais relevantes que estes enfermeiros citaram

quanto suas experiências no estágio extracurricular, destacam-se as oportunidades

dos estudantes em executarem na prática o que é ensinado na sala de aula, a

habilidade adquirida com a realização das técnicas executadas, a possibilidade de

conseguir um emprego com mais facilidade e a aplicação de conhecimentos no

cotidiano hospitalar, fortalecendo a integração estudo-trabalho.

terceiro graus, de diversas áreas, para realização de estágios em empresas conveniadas.

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9

Foi possível observar ainda que o estágio extracurricular proporciona ao

estudante um excelente desempenho nas atividades assistenciais e de supervisão,

porém pouco envolvimento com as questões relacionadas às pesquisas, produções

científicas e participação em eventos, visto que a maioria dos enfermeiros,

principalmente os assistenciais, não estão voltados ou mesmo têm pouco

conhecimento acerca da pesquisa em enfermagem. Por conseguinte não há muito

incentivo por parte dos enfermeiros em estimular os estudantes às atividades de

pesquisa, que por sua vez também estão mais preocupados em conseguirem

emprego após concluírem o curso de graduação.

Reportando-me ainda às dificuldades relacionadas à transmissão do saber,

não posso deixar de considerar os aspectos de transmissão cultural envolvidos

neste processo que Thompson (2002, p.220) define como o estudo das formas

simbólicas, através de ações e expressões significativas de vários tipos, em

contextos socialmente estruturados, onde essas formas simbólicas são produzidas,

transmitidas e recebidas. E é a partir da interpretação destas formas simbólicas que

identificamos como a ideologia opera no cotidiano dos enfermeiros.

Em se tratando dos enfermeiros, gostaria de esclarecer que nem todos fazem

parte deste programa de estágio extracurricular, embora seja uma filosofia do

hospital e uma proposta do grupo de enfermeiros a adesão ao programa é uma

opção do profissional, pois dele depende o sucesso do programa em poder

contribuir para a formação do estudante.

Dentre os motivos apresentados pelos enfermeiros em não desejarem atuar

no programa como preceptor, está o de que, alguns, não se sentem preparados para

transmitir a prática, e outros em não terem interesse em desempenhar a função

educativa. Ao descrever esses motivos faço mais uma reflexão acerca do que leva o

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10

enfermeiro a não querer desempenhar a função educativa, já que a todo o momento,

o enfermeiro está educando, seja um auxiliar ou técnico de enfermagem, um cliente

ou um familiar. Então, por que não atuar com os estudantes?

Com o objetivo de facilitar a aprendizagem dos estudantes no campo prático-

hospitalar são implementadas algumas estratégias de ensino, que permitem a

execução dos conhecimentos adquiridos pelo estudante durante o curso,

favorecendo também a atuação do enfermeiro, que se sente estimulado com a

proposta do ensino incentivando-o cada vez mais em suas atividades. É importante

estar valorizando o trabalho do enfermeiro junto ao estudante, visto que suas

experiências com a prática é um facilitador do processo de ensino-aprendizagem.

As contribuições do relatório Delors (2001, p.89 – 90), para o processo de

ensino-aprendizagem, elaborado a partir de encontros por três anos consecutivos,

entre profissionais diversos envolvendo educação, com bases nas tendências

mundiais de mudança que valorize o ser humano em sua totalidade, os quatro

pilares do conhecimento: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver

juntos e aprender a ser, são utilizados pelos enfermeiros com os estudantes como

ferramenta e subsídio para o melhor desenvolvimento da relação de ensino-

aprendizagem, considerando a importância de cada pilar.

A reflexão permanente sobre a essência desses quatro pilares do

conhecimento5 fortalece as ações do enfermeiro assistencial e suas práticas com os

estudantes de graduação, considerando que os enfermeiros no campo prático são

os responsáveis por possibilitarem ou não a realização das técnicas pelos

estudantes, atuando como um facilitador no processo ensino-aprendizagem.

5
A definição detalhada dos quatro pilares do conhecimento encontra-se descrito na página 58.

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11

Neste sentido, Nogueira (1990, p.39) destaca que a colaboração e a

participação do enfermeiro assistencial são imprescindíveis no processo de ensino-

aprendizagem, porque ele se desenvolve a partir do ensino de campo.

Corroborando com esse pensamento, Santos, M, (1996, p.65) enfatiza que o

enfermeiro assistencial tem funções de facilitador e avaliador, sendo que o

compromisso é percebido apenas com aqueles que estão envolvidos e estimulados

para tal, sendo evidenciado durante os momentos de prática. É relevante que seja

reconhecido o envolvimento e a participação do enfermeiro assistencial como

preceptor e facilitador, pautado no compromisso profissional, porque dele emerge o

desejo de ensinar e explorar seus conhecimentos, permitindo uma troca de

experiências entre o ensino prático e o teórico, visto que uma harmoniosa interação

entre enfermeiro e estudante propicia o crescimento de ambos.

Considero que existem ainda dificuldades a serem superadas no cotidiano do

desenvolvimento deste Programa de Estágio Extracurricular, principalmente no que

se refere ao envolvimento e a participação dos enfermeiros assistenciais no

processo de ensino-aprendizagem. Existem momentos de desinteresse por parte

dos enfermeiros que, consequentemente, reflete na aprendizagem do estudante

durante o estágio, a sobrecarga de trabalho dos próprios setores, a cobrança em

desenvolver outras funções que não só as assistenciais, a falta de motivação

financeira em alguns momentos e, em alguns casos, a pouca interação do

enfermeiro com o estudante.

Ressalto que minha proposta neste hospital, no que se refere ao papel do

enfermeiro assistencial como participante do processo de ensino-aprendizagem com

estudantes nos campos de estágio, está direcionadas para uma melhor capacitação

destes enfermeiros para o ensino da prática, incentivando-os a ingressar nos cursos

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12

de licenciatura e pós-graduação, como especialização, mestrado e doutorado,

estimulando ainda sua participação no campo da pesquisa e contribuindo para a

formação de futuros enfermeiros através da ideologia que permeia o serviço de

enfermagem do Prontobaby Hospital da Criança.

Com base nos argumentos expostos e tendo em vista o objeto do estudo

formulei as seguintes questões norteadoras:

 Quais as experiências dos enfermeiros diante da prática de ensinar com

os estudantes de graduação em estágio prático?

 Como se dá a produção e transmissão das formas simbólicas na prática

dos enfermeiros com estudantes em campo de estágio?

 Como as formas simbólicas estabelecidas fundamentam a prática de

ensinar dos enfermeiros em campo de estágio?

Portanto, o objeto deste estudo são as formas simbólicas produzidas na

prática dos enfermeiros com estudantes de graduação em campo de estágio.

E para atender ao objeto do estudo elaborei os seguintes objetivos:

 Descrever as experiências dos enfermeiros com os estudantes de

graduação no desenvolvimento do estágio prático.

 Caracterizar as formas simbólicas que emergem da prática dos

enfermeiros com estudantes de graduação.

 Analisar a articulação das formas simbólicas com o aprendizado dos

estudantes em campo de estágio.

Este estudo visa contribuir para o reconhecimento da atuação do enfermeiro

assistencial no processo de formação dos estudantes de graduação em estágio

curricular e extracurricular, favorecendo o desenvolvimento das atividades práticas

desses estudantes, utilizando estratégias adequadas de ensino-aprendizagem,

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13

estimulando a aplicação das técnicas e teorias ensinadas nos cursos com o

propósito de investir na melhoria do cuidado prestado e no desenvolvimento de

pensamento crítico. Possibilitar o crescimento profissional dos enfermeiros por meio

de reflexões acerca do ensino da prática e da atuação dos enfermeiros como

contribuição para a melhoria da assistência e do aprendizado dos estudantes.

Constituir grupos de discussão e de assistência inserindo os estudantes em todos os

momentos, como futuros multiplicadores das ações propostas.

Relacionado ao ensino, fortalecer os métodos de ensino-aprendizagem

utilizados pelos enfermeiros considerando o estágio extracurricular como uma

estratégia de ensino-aprendizagem. Incentivar os enfermeiros a realizarem cursos

de capacitação pedagógica para melhorar e enriquecer o ensino de Enfermagem.

Integrar o Programa de Estágio Extracurricular do Prontobaby às universidades

públicas e privadas contribuindo para fortalecer a integração docente assistencial

com resultados positivos para ambos. Favorecer a interação entre o ensino, a prática

e a pesquisa.

Pretendo ainda, contribuir com a produção científica do Núcleo de Pesquisa

em Educação, Gerência e Exercício Profissional da Enfermagem (NUPEGEPEn), do

Departamento de Metodologia da Escola de Enfermagem Anna Nery, da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, fortalecendo e subsidiando pesquisas na

linha de Educação em Enfermagem e Estratégias de Ensino-Aprendizagem.

Promover encontros com profissionais afins com o propósito de estimular discussões

que contemplem as linhas de pesquisas do NUPEGEPEn. Incentivar os estudantes

quanto à importância do envolvimento com a pesquisa e a produção científica

convidando-o a participar de grupos de discussão, eventos científicos e reuniões do

NUPEGEPEn. E, ainda, estimular os enfermeiros a participarem do processo de

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14

seleção para ingresso nos cursos de mestrado e doutorado visando uma melhor

qualificação para o ensino da prática.

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15

Aula de Dança, 1871


Edgar Degas

O encontro da teoria com a prática:


a interação da metodologia e do referencial
teórico do estudo.

CAPÍTULO I
REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

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16

1.1 REFERENCIAL TEÓRICO

“Luto com meus personagens até


que eles se fundam com a paisagem”
(Renoir, pintor)

O referencial teórico do estudo está baseado no conceito de Ideologia

proposto por Thompson6 (2002, p.80) e nos seus modos de operacionalização com

suas respectivas estratégias. Esse conceito de ideologia está relacionado ao

significado das formas simbólicas que são mobilizadas, servindo e contribuindo para

o estabelecimento e sustentação das relações de poder, entre grupos ou pessoas,

em contextos sociais estruturados.

As formas simbólicas são entendidas como uma amplitude de ações, falas,

imagens, textos, rituais, gestos e expressões, faladas ou escritas, que são

produzidas e reconhecidas pelos sujeitos como construtos significativos, inseridos

em um contexto social e que necessitam ser compreendidas e interpretadas.

Existem modos diferentes de olhar essas formas simbólicas através da explicação

sobre o que foi representado. (Thompson, 2002, p.79).

Segundo o autor (2002, p.199), essas formas simbólicas só são consideradas

ideológicas se estiverem relacionadas para servirem e sustentarem relações de

dominação, sistematicamente assimétricas, em termos de poder. Poder, neste

sentido, é a capacidade de agir na busca de seus próprios objetivos e interesses e

está relacionado à capacidade de intervir em uma sequência de eventos e alterar o

seu curso.

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17

Esse referencial permitirá identificar sentimentos reais, idéias e conceitos na

prática dos enfermeiros e sua articulação com os estudantes de graduação,

interagindo significado e poder, através das falas, expressões e práticas, que podem

estar explícitas ou implícitas e comprometidas com o poder, uma vez que se percebe

uma relação assimétrica em termos de poder entre os enfermeiros e os estudantes,

visto que existe um poder atribuído aos enfermeiros que pode intervir ou não nas

ações dos estudantes.

No desenvolvimento do estágio extracurricular, os enfermeiros se utilizam da

filosofia da instituição a que pertencem e do sentido ideológico em que estão

inseridos, para programarem suas atividades no campo prático, definir as estratégias

a serem utilizadas e estabelecerem relações sociais com os estudantes, a clientela e

a instituição.

A reprodução simbólica dos contextos sociais, de acordo com Thompson (op.

cit., p.203) é mediada pelas formas simbólicas, expressas por ações, falas, gestos,

imagens e atitudes. Essas formas simbólicas têm um poder de valorização, sendo

então consideradas como fenômenos significativos.

O processo de transmissão desses fenômenos significativos, segundo o

autor, ocorre através de três aspectos distintos: - o meio técnico pelo qual uma

forma simbólica é produzida e transmitida e permite certo grau de fixação e

reprodução das formas simbólicas; - o aparato institucional onde o meio técnico é

desenvolvido; e - o distanciamento espaço-temporal, onde ocorre o desligamento

da forma simbólica do contexto de sua produção, tanto espacial como

6
John B. Thompson é sociólogo, professor e pesquisador da Universidade de Cambridge, Inglaterra, e um dos

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temporalmente, e sua inserção em novos contextos, dando origem à novas

possibilidades de transmissão cultural e com isso, ao exercício do poder através de

distâncias. (op. cit., p.225)

Portanto, fazendo a correlação desses aspectos de transmissão das formas

simbólicas com o foco central do estudo, o estágio como estratégia de ensino-

aprendizagem, apresenta os atributos pertinentes dentro de um meio técnico, o

estágio extracurricular, no aparato institucional, o hospital, onde o meio será

desenvolvido e mantendo o distanciamento espaço-temporal do seu local de

criação, os campos de prática, caracterizado por novas tecnologias, estrutura física e

qualificação profissional que dentre outras emergem em situações distintas em

diferentes espaços e tempos.

A concepção de ideologia proposta por Thompson (2002, p.80-89), apresenta

cinco modos gerais de operacionalização e como eles podem estar ligados às várias

estratégias de construção simbólica. Vale ressaltar que esses cinco modos de

operação não são as únicas maneiras de como a ideologia opera, ao contrário esses

modos podem sobrepor-se e reforçar-se mutuamente permitindo outras maneiras da

operacionalização, bem como as estratégias não estão associadas unicamente com

esses modos ou que estas são as únicas relevantes, uma vez que toda estratégia

pode servir a outros propósitos e todo modo apresentado pode ser utilizado de

outras maneiras.

O primeiro modo apresentado pelo autor é a Legitimação, na qual as relações

de dominação podem ser estabelecidas e sustentadas, pelo fato de serem

apresentadas como justas e dignas de apoio, podendo ser expressas em formas

mais importantes analistas sociais do papel de comunicação de massa em relação a cultura moderna.

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19

simbólicas através das seguintes estratégias: a racionalização, a universalização e a

narrativização.

 Racionalização: o produtor de uma forma simbólica constrói uma cadeia

de raciocínio que procura convencer que isso é digno de apoio.

 Universalização: os acordos institucionais são apresentados como

servindo aos interesses de todos, desde que tenha a habilidade e a

tendência de ser neles bem sucedido.

 Narrativização: através de narrações as formas simbólicas são

introduzidas na história como se fizesse parte dela há muito tempo,

contam o passado e tratam o presente como parte de uma tradição eterna

e aceitável. Para o autor essas tradições são muitas vezes “inventadas”,

são histórias que retratam as relações sociais envolvidas em um processo

simbólico que podem estabelecer e sustentar relações de poder por

aqueles que o possui, e também para justificar, diante dos outros os que

não tem poder.

O segundo modo é a Dissimulação, onde as relações de dominação para

serem efetivadas são negadas, ocultadas ou desviadas da atenção das pessoas

e/ou de processos existentes, e podem ser expressas através das seguintes

estratégias: o deslocamento, a eufemização e o tropo.

 Deslocamento: as formas simbólicas que normalmente são usadas para

fazerem referência a um objeto ou pessoa, também são utilizadas para se

referir a um outro, havendo a transferência das conotações positivas ou

negativas para este outro objeto ou pessoa.

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 Eufemização: é utilizada de forma a valorizar positivamente as relações

sociais, as instituições, as ações, através da mudança de sentido das

ações, que pode ser pequena ou mesmo imperceptível.

 Tropo: as formas simbólicas são usadas de forma figurativa para

dissimular as relações de poder.

O terceiro modo é a Unificação, onde as relações de dominação podem ser

estabelecidas e sustentadas, através da construção, no nível simbólico de uma

forma de unidade que interliga os indivíduos numa identidade coletiva, independente

das divisões de diferenças que possam separá-las, e podem ser expressas através

das seguintes estratégias: a padronização e a simbolização da unidade.

 Padronização: as formas simbólicas são adaptadas a partir de um

referencial padrão aceitável.

 Simbolização da unidade: são construídos símbolos de unidade, de

identidade e de identificação coletivas, os quais são difundidos através de

um ou vários grupos. Na prática pode estar também interligada com o

processo de narrativização, uma vez que os símbolos da unidade pode ser

parte integrante da narrativa que conta uma história.

O quarto modo é a Fragmentação, onde as relações de dominação podem

ser mantidas não unificando as pessoas, mas segmentando aqueles indivíduos e

grupos que possam ser capazes de se transformar num desafio real ao grupo

dominante, ou dirigindo forças de oposição a um alvo que é projetado como perigoso

ou ameaçador. E pode ser expressa através das seguintes estratégias: a

diferenciação e o expurgo do outro.

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 Diferenciação: as formas simbólicas são fundamentadas nas diferenças e

divisões entre pessoas e grupos, sendo apoiadas as características que os

desunem.

 Expurgo do outro: é construído um inimigo interno ou externo ao qual é

conferido o caráter de ameaçador, sendo os indivíduos chamados a

resistir ou expurgá-lo de forma coletiva. Essa estratégia, muitas vezes,

sobrepõe-se com estratégias que tem como fim a Unificação, pois o

inimigo é tratado como desafio, ou ameaça, e diante do quais as pessoas

devem se unir.

O quinto modo é a Reificação onde as relações de dominação podem ser

estabelecidas e sustentadas pela eliminação ou ofuscação do caráter sócio-histórico

dos fenômenos, podendo ser expressas através das seguintes estratégias: a

naturalização, a eternalização e a nominalização/passivização.

 Naturalização: no qual um estado de coisas que é uma criação social e

histórica, pode ser tratada como um acontecimento natural ou como

resultado inevitável de características naturais.

 Eternalização: os fenômenos sócio-históricos são apresentados como

permanentes, imutáveis ou recorrentes, deixando de ter a característica

histórica.

 Nominalização: as sentenças, as descrições da ação e dos participantes

são transformadas em nomes.

 Passivização: esta estratégia ocorre quando os verbos são colocados na

voz passiva.

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Quadro 1- Modos de Operação da ideologia e suas estratégias

1- LEGITIMAÇÃO 2- DISSIMULAÇÃO

- RACIONALIZAÇÃO - DESLOCAMENTO

- UNIVERSALIZAÇÃO - EUFEMIZAÇÃO

- NARRATIVIZAÇÃO - TROPO

3- UNIFICAÇÃO

- ESTANDARLIZAÇÃO /
PADRONIZAÇÃO

- SIMBOLIZAÇÃO DA
UNIDADE

4- FRAGMENTAÇÃO 5- REIFICAÇÃO

- DIFERENCIAÇÃO - NATURALIZAÇÃO

- EXPURGO DO - ETERNALIZAÇÃO
OUTRO
- NOMINALIZAÇÃO /
PASSIVIZAÇÃO

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1.2 ABORDAGEM METODOLÓGICA

“O observador deve ser o fotógrafo do


fenômeno, sua observação deve representar
exatamente a natureza”
(Claude Bernard, pintor)

A pesquisa em sua essência é a investigação sistemática que usa métodos

para responder às questões ou resolver os problemas, tendo como meta final

desenvolver, refinar e expandir um corpo de conhecimentos (Polit, Beck e Hungler,

2004, p.20). Este estudo trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo estudo de

caso, desenvolvido na área de educação em Enfermagem.

A pesquisa qualitativa, segundo Minayo (1994, p.21), trabalha com o universo

de significados, motivos, valores e atitudes, que corresponde aos processos e aos

fenômenos que não podem ser descritos em quantidades. Ainda sobre este aspecto

Thompson (2002, p.358) considera que os fenômenos sociais são formas simbólicas

que podem ser analisadas por métodos formais ou objetivos e que apresentam

aspectos qualitativamente distintos de compreensão e interpretação.

A opção pelo estudo de caso vai ao encontro da necessidade sentida em

conhecer em sua profundidade a relação entre enfermeiros e estudantes de

graduação no processo de ensino-aprendizagem no campo de estágio prático. O

estudo de caso como estratégia desta pesquisa, segundo Laville e Dionne (1999,

p.155-156), deve-se ao fato dele incidir sobre um caso particular, de um grupo, de

uma comunidade ou de um acontecimento especial, o qual é examinado em

profundidade, como é o caso deste estudo, o qual pode permitir ainda, adaptar os

instrumentos utilizados, modificar a abordagem exploratória e construir uma

compreensão do caso.

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24

Seguindo esta linha de pensamento, Yin (2005, p.19-20) enfatiza que a

escolha pelo estudo de caso emerge do desejo de se compreender fenômenos

contemporâneos e complexos, inseridos em contextos sociais da vida real. Neste

estudo o enfermeiro é um sujeito social que se relaciona socialmente com os

estudantes no decorrer do ensino prático.

Lüdke e André (2004, p.18) destacam ainda algumas características

relevantes associadas aos estudos de caso tais como as descobertas de novos

elementos que podem emergir como importantes durante o estudo; a interpretação

do contexto, compreendendo as ações e interações relacionadas à problemática

estudada; a retratação da realidade de forma completa e profunda; as variadas

fontes de informações que poderão cruzar informações e descobrir novos dados e

os diferentes e às vezes conflitantes pontos de vista presentes em determinada

situação.

O cenário da pesquisa foi o Prontobaby Hospital da Criança, um hospital

especializado da rede privada, localizado no Município do Rio de Janeiro, onde é

desenvolvido, por um grupo de enfermeiros, o programa de estágio extracurricular

para estudantes do 7º e 8º período procedentes dos cursos de Graduação em

Enfermagem de instituições públicas e privadas. Neste cenário estão os setores de

Emergência, Clínica Médica e Cirúrgica, Hematologia, Centro Cirúrgico e Terapia

Intensiva, no qual os enfermeiros desenvolvem suas atividades com os estudantes.

Para a realização desta pesquisa o projeto foi submetido ao Comitê de Ética

em Pesquisa – CEP, da Escola de Enfermagem onde é ministrado o curso de

Mestrado. Após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa (Anexo A)

foi solicitada a autorização dos entrevistados por meio do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (Anexo B), de acordo com a Resolução Nº 196/96, do Conselho

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25

Nacional de Saúde, que trata das Diretrizes e Normas Regulamentadoras de

Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, preservando o sigilo sobre os depoimentos

assim como o anonimato dos enfermeiros participantes do estudo.

Os sujeitos desta pesquisa foram nove enfermeiros que desempenhavam

atividades assistenciais nesta instituição, e que contribuíram com suas experiências

para o desenvolvimento do programa de estágio extracurricular com estudantes dos

Cursos de Graduação em Enfermagem. Foi utilizado como critério de exclusão o

enfermeiro com menos de um ano de experiência profissional e menos de seis

meses de atuação na instituição, pois se faz necessário o enfermeiro estar

capacitado profissionalmente para desenvolver as atividades com os estudantes,

bem como ter conhecimento sobre os recursos tecnológicos, a estrutura e o

funcionamento da instituição para direcionar os mesmos para as necessidades do

cotidiano hospitalar.

É importante que os enfermeiros envolvidos neste processo possam atender

às necessidades que se façam presentes, facilitando desta maneira, o aprendizado

do estudante. Não foi estabelecido previamente o número de participantes

possibilitando dessa forma atingir um número ideal, de acordo com a saturação de

respostas percebidas e que atendesse às minhas expectativas acerca da situação

investigada.

Após a escolha fui pessoalmente convidar cada enfermeiro a participar da

pesquisa, explicando-lhes resumidamente sobre a temática do estudo e como se

daria a sua participação desde a fase inicial da coleta dos dados até a análise final,

esclarecendo que os encontros se dariam dentro de horários e locais que melhor

atendessem às suas necessidades, lhes garantido ainda o anonimato dos depoentes

atribuindo-lhes para tal nomes de pintores famosos (Michelangelo, Degas, Van

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26

Gogh, Rembrandt, Monet, Renoir, Picasso, Matisse e Miro). A caracterização dos

sujeitos entrevistados é representada no quadro abaixo (Quadro 2), no qual destaco:

tempo de atuação como profissional, tempo de atuação na instituição, qualificação,

setor de atuação, outro emprego, experiência anterior com estudantes de

graduação, tempo de experiência anterior com estudantes e participação do

enfermeiro como acadêmico em estágio extracurricular.

Quadro 2- Caracterização dos sujeitos entrevistados


Tempo de
Experiência
experiência Participação
Tempo Tempo de anterior
com como
de atuação na Setor de Outro com
Qualificação estudante acadêmico em
formado instituição atuação vínculo estudante
de estágio
(anos) (anos) de
graduação extracurricular
graduação
(anos)

Picasso 16 3 G+E+L EC SIM SIM 6 SIM

Degas 5 2 G UTI NÃO NÃO 0 NÃO

Renoir 2 2 G+E UTI SIM NÃO 0 SIM

Michelangelo 2 2 G+E UTI NÃO NÃO 0 NÃO

Monet 19 5 G+E QT SIM SIM 6 NÃO

Van Gogh 2 2 G+E UTI NÃO NÃO 0 SIM

Miró 6 2 G+E CCIH SIM SIM 2 NÃO

Matissé 15 5 G+L EMERG SIM SIM 4 SIM

Rembrandt 4 4 G EMERG NÃO NÃO 0 NÃO

LEGENDA

E ESPECIALIZAÇÃO UTI UNIDADE TERAPIA INTENSIVA

L LICENCIATURA QT QUIMIOTERAPIA
G GRADUAÇÃO CCIH COMISSÃO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR

EC EMERGENCIA CLÍNICA EMERG EMERGÊNCIA

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27

Neste estudo foram selecionados dois instrumentos a serem utilizados na

coleta de dados, a entrevista não-estruturada e a observação participante

sistemática, para que pudesse atender a proposta do estudo de caso, que de acordo

com Yin (2005, p.57), se faz necessária a utilização de várias fontes de evidências

que permitem linhas convergentes de investigação para que se obtenha maior

validade do constructo.

A entrevista, segundo Lüdke e André (2004, p.34) é uma técnica adequada

para a pesquisa qualitativa, pois representa um dos procedimentos básicos para a

coleta de dados, possibilitando que a fala dos sujeitos seja reveladora de valores,

crenças, sentimentos, modos de pensar e maneiras de agir, permitindo a captação

imediata da informação desejada.

Na escolha pela entrevista não-estruturada foi definido que as perguntas

seriam abertas permitindo aos sujeitos do estudo uma maior participação, com

respostas mais ricas e completas, uma vez que os participantes podem falar mais

livremente sobre o assunto emitindo mais profundamente suas opiniões.

Para estes autores (op.cit.,p.34) a entrevista não-estruturada é considerada a

técnica que permite uma relação de interação com uma influência recíproca entre

quem pergunta e quem responde, partindo de um esquema básico, porém não

aplicado rigidamente, onde o entrevistado discorre sobre o tema proposto baseado

nas suas experiências, favorecendo possíveis adaptações feitas pelo entrevistador.

(Apêndice 3).

A opção por esse tipo de entrevista, deve-se ao fato de, através de palavras,

textos, opiniões, expressões e sentimentos produzidos pelos sujeitos, podermos

interpretar os aspectos ideológicos dessas formas simbólicas. Sobre este aspecto,

Demo (2001a, p.36) ressalta que para analisar a ideologia, é necessário examinar

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minuciosamente as falas, apreendendo não apenas seus significados aparentes,

mas, sobretudo, os implícitos das falas ideológicas comprometidas com poder.

O roteiro da entrevista não-estruturada foi aplicado em dois sujeitos para ser

então validado, sendo o instrumento ajustado em duas perguntas e incluídas mais

duas para atender ao propósito do estudo.

As entrevistas foram agendadas em dia, local e horário de acordo com a

disponibilidade dos sujeitos. As mesmas foram gravadas em fitas magnéticas para

manter a fidedignidade das informações e transcritas na íntegra com pequenas

adaptações que se fazem necessárias ao se passar da linguagem falada à

linguagem escrita. Após a transcrição das fitas as mesmas foram devolvidas aos

entrevistados para leitura e aprovação, para, somente então, serem analisadas

profundamente pelo pesquisador.

Relacionado ao método da observação, Lüdke e André (op.cit., p.26) refere

que ela permite que o observador chegue mais perto das experiências dos sujeitos,

apreendendo o significado que eles atribuem às suas realidades e às suas próprias

ações. Ainda nesta linha de pensamento, Yin (2005, p.120) relata que elas podem

variar de atividades formais como protocolos de observação e, informais a partir de

observações diretas durante a visita de campo.

Na observação participante, Minayo (2004, p.134) considera ser a parte

essencial do trabalho de campo na pesquisa qualitativa, pois o observador estando

em contato direto com o que ele observa e participando ativamente do cotidiano

pesquisado, poderá proceder a mudanças ou ser modificado pelo contexto em

estudo. (Apêndice 4)

Antes de iniciar a observação como participante conversei com as chefias das

unidades envolvidas explicando como se daria o processo e, posteriormente com os

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29

sujeitos deste estudo, permanecendo durante duas semanas apenas me

familiarizando com o ambiente e os profissionais dos setores, com a finalidade de

facilitar o desenvolvimento da pesquisa. Durante a fase de observação deixava a

cena ir acontecendo e gradativamente ia participando até que o grupo sentisse

confiança e me inserisse nas discussões. As anotações foram descritas no diário de

campo acrescidas de informações valiosas como sentimentos, emoções e

expressões de cada sujeito no transcorrer das observações contribuindo para

subsidiar com fidedignidade a análise dos dados.

Na fase da observação me preocupei com o fato de realizar a pesquisa no

próprio local de trabalho, pensando na possibilidade de contaminação do

pesquisador com o seu ambiente de trabalho influenciando o julgamento e a

avaliação das informações. Alguns autores como Laville e Dionne (1999, p.181)

reforçam essa dificuldade:

[...] resta a questão sempre presente da influência do observador


sobre a situação e as pessoas observadas, pois, inevitavelmente,
sua presença modifica essa situação e pode afetar o
comportamento dos atores.

Entretanto não percebi durante todo o transcorrer das observações realizadas

nenhuma dificuldade de interação entre o grupo e eu como pesquisadora. Como

todo trabalho que não se executa a todo o momento o início da observação é

sempre um pouco receoso para o grupo, mas neste caso após a fase inicial de

adaptação o resultado foi muito gratificante, principalmente com as contribuições que

pude oferecer nas situações vivenciadas, o que possibilitou também momentos de

importantes trocas de conhecimentos.

Relacionado aos métodos escolhidos, Thompson (2002, p.363) ressalta que

através de entrevistas e da observação participante podemos reconstruir as

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30

maneiras como as formas simbólicas podem ser interpretadas e compreendidas nos

vários contextos da vida social.

Ao final da coleta, após a transcrição dos dados, os mesmos foram

minuciosamente estudados, interpretados, agrupados por semelhança de idéias,

agregados em unidades temáticas e analisados de acordo com os objetivos da

pesquisa e sua articulação com o referencial teórico. Atendendo, portanto, ao

propósito da pesquisa emergiram três unidades temáticas: I- Experiências dos

enfermeiros com estudantes de graduação em campo de estágio, II- Atuação dos

estudantes de graduação em estágio prático e III- Facilidades, dificuldades e

estratégias da prática dos enfermeiros com estudantes de graduação.

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31

O Quarto de Vincent Van Gogh, 1888


Van Gogh

O cenário do estudo contracena


com a pintura evidenciando cada detalhe,
minuciosamente estudado.

CAPÍTULO II
O CENÁRIO DO ESTUDO:
O PRONTOBABY HOSPITAL DA CRIANÇA

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32

O CENÁRIO DO ESTUDO

“É necessário refazer o mesmo tema


dez, ou mesmo cem vezes. Em arte, nada
deve parecer acidental, nem mesmo o
movimento”
(Edgar Degas, pintor)

Neste capítulo descrevo sobre os aspectos mais significativos do cenário

escolhido para a realização deste estudo – o Prontobaby Hospital da Criança. A

escolha justifica-se em função de tratar-se de um hospital da rede privada

especializado em pediatria e, que, comprometido com a formação do profissional de

enfermagem, desenvolve um programa de estágio extracurricular para estudantes de

graduação em enfermagem.

Localizado no bairro da Tijuca foi inaugurado em 1961 como um hospital de

pequeno porte. Atualmente é um hospital de médio porte que tem sua estrutura

física distribuída em cinco pavimentos, com 62 leitos, comportando os setores de

baixa, média e alta complexidade, dentre eles a Emergência, Clínica Médica e

Cirúrgica, Hematologia, Terapia Intensiva, Centro Cirúrgico, Centro de Imagens e

Laboratório. São realizados, aproximadamente, 5000 atendimentos na Emergência,

200 cirurgias e 500 internações/mês. O hospital conta ainda com um suporte de

atendimento ambulatorial em um complexo distribuído em quatro andares, que

oferece diversas especialidades.

O hospital por atender uma clientela essencialmente infantil dispõe de

algumas especificidades que o diferencia dos hospitais gerais, como o trabalho

desenvolvido pelas recreadoras e profissionais circenses junto às crianças

hospitalizadas com o objetivo de minimizar o impacto da hospitalização, promover

um ambiente saudável e possibilitar uma permanência mais humanizada à criança e

seus familiares.

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33

O Prontobaby Hospital da Criança definiu como missão, “prestar assistência

integral à saúde do recém-nato ao adolescente com qualidade e humanidade” e

como visão “ ser referência como hospital pediátrico de alta resolutividade em todo o

Rio de Janeiro para profissionais de saúde, clientes e familiares”.

O hospital fez opção por investir em atividades de capacitação de

profissionais das diversas especialidades e em 1968 foi inaugurado o Centro de

Estudos que promovia debates científicos com especialistas brasileiros e

estrangeiros. Em maio de 1998 foi inaugurado o Núcleo de Pesquisa e

Desenvolvimento, que passou a dispor de biblioteca com periódicos nacionais e

internacionais e centro de estudos com equipamentos de alta tecnologia,

consolidando ainda mais as atividades científicas e o Serviço de Educação

Continuada. Na coordenação deste Núcleo de Pesquisa muitos esforços se

somaram para tornar sólida a opção de crescimento profissional, possibilitando

significativos avanços principalmente nas áreas de terapia intensiva e cirurgia

cardíaca.

Os canais de Educação Continuada se ampliaram e se desmembraram em

atividades de treinamento nas áreas multidisciplinares, ampliando os debates

científicos, inovando os temas e refletindo sobre a saúde numa perspectiva mais

global e contextual. Participaram dos cursos de atualização e treinamento diversos

profissionais, dentre eles, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem,

nutricionistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e médicos.

O Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento contou durante seis anos com a

participação de uma enfermeira com mestrado e doutorado a frente de todos os

eventos relacionados à pesquisa e desenvolvimento, o que contribuiu

consideravelmente para o crescimento da enfermagem. Contamos também com um

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34

grupo de pesquisadores que desenvolvem estudos científicos relacionados à terapia

intensiva em parceria com o Hospital de Buffalo (USA- um dos centros de referência

em cirurgia cardíaca), tornando possível o intercâmbio técnico-científico para o

aprimoramento dos profissionais.

O Serviço de Enfermagem conta com 30 enfermeiros, 104 técnicos de

enfermagem e 23 auxiliares de enfermagem atuando na área hospitalar e ainda

dispõe de um serviço de Home Care sob a gerência de um enfermeiro e uma

população flutuante de técnicos de enfermagem. O Home Care é um atendimento

domiciliar extensivo ao período de internação da criança no qual o enfermeiro realiza

visitas domiciliares e consulta de enfermagem, coordenando e treinando todo o

grupo de técnicos de enfermagem envolvidos no processo de acompanhamento

domiciliar.

O mercado de trabalho voltado para enfermagem pediátrica e neonatal ainda

é muito restrito. Já durante o transcorrer dos cursos de nível médio e superior,

quando nos campos de estágio, nos deparamos com as dificuldades relacionadas ao

desempenho das atividades práticas com os clientes que são crianças. E, por serem

crianças nos sensibilizam mais que os adultos, o que retarda um pouco o

desenvolvimento do aprendizado. A permanência da família durante todo o período

de hospitalização requer da equipe de enfermagem a habilidade de aprender a

conviver harmoniosamente com os familiares destas crianças para que, unidos,

equipe de enfermagem e família, possamos prestar assistência adequada.

Não existem cursos formadores de técnicos de enfermagem especializados

em pediatria o que nos leva ao compromisso de sermos formadores destes

profissionais quando os admitimos para o exercício da profissão. Compete ao grupo

de enfermeiros, sejam eles gerentes, líderes ou assistenciais, dispensar uma parte

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35

de seu tempo, para o ensino prático, ensinando, acompanhando e supervisionando

a atuação do profissional, com o objetivo de melhor capacitá-lo.

Preocupado com a formação do futuro enfermeiro e a qualificação do técnico

de enfermagem na área de pediatria, o hospital desenvolve sob a coordenação do

Serviço de Enfermagem cursos de Capacitação em Pediatria e Neonatal, para

técnicos de enfermagem, e o Programa de Estágio Extracurricular, para estudantes

de graduação em enfermagem, este em parceria com o Centro Integrado Empresa-

Escola – CIEE, sob a supervisão direta de enfermeiros preceptores do próprio

hospital.

O curso de Capacitação em Pediatria e Neonatal para técnicos de

enfermagem é desenvolvido no período de quatro meses perfazendo um total de

360 horas e tem como objetivo qualificá-lo para desempenhar as atividades de

enfermagem na área de pediatria e neonatal. É fornecida uma bolsa auxílio durante

a realização do curso. O curso é dividido em parte teórica e prática sendo esta de

maior carga horária.

O estudante ao longo do curso é submetido às avaliações periódicas com o

propósito de melhor explorar e superar suas dificuldades, e ao final, havendo vaga

disponível, o profissional será contratado. O profissional não se submete à prova

teórica ou prática para sua contratação, pois já é avaliado no decorrer do curso, por

meio de testes com perguntas descritivas e desenvolvimento de habilidades

técnicas.

O Programa de Estágio Extracurricular para estudantes de graduação em

Enfermagem foi desenvolvido partindo desta mesma necessidade de investirmos na

formação e capacitação de um profissional para atuar em hospital infantil. Entendo

que para os enfermeiros estarem voltados para a ação educativa nos hospitais é

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36

necessário que estejamos atuando intensamente no período de formação deste

estudante que mais tarde vai ser um educador. Não podemos pensar em educação

permanente se o enfermeiro não se sente comprometido com o crescimento e o

aprendizado contínuo que permeia nossa vida profissional.

As informações acerca do hospital foram obtidas através do site do hospital7 e

por informações verbais da Divisão Médica e Serviço de Enfermagem.

O ENSINO-APRENDIZAGEM NO PRONTOBABY

As transformações pelas qual o mundo moderno vem passando nos obrigam

a uma busca contínua de conhecimentos sendo relevante que os enfermeiros

participem de programas de atualização e atuem como facilitadores do processo de

educação dos profissionais da área de enfermagem.

A atividade desenvolvida pelos enfermeiros no campo de estágio junto aos

estudantes de graduação possibilita o crescimento profissional e social, uma vez que

os mesmos sentem-se estimulados em desempenhar a função de preceptor

motivada quase sempre pelo desejo de aprender que os estudantes trazem para o

cenário hospitalar. Os estudantes no papel de aprender e executar e os enfermeiros

não somente no papel de facilitadores desse processo de ensino-aprendizagem,

mas também se qualificando, se preparando cada vez mais, na teoria e na prática.

Nesse sentido, Silva, Pereira e Benko (1989, p.1) ressaltam que o profissional

está em permanente processo educativo, o que lhe oferece condições de adaptar-se

às necessidades na sociedade e de realizar-se como pessoa, por descobrir-se como

um ser inacabado.

7
Site do Prontobaby Hospital da Criança – htpp//www.prontobaby.com.br

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37

A aprendizagem pode ser interpretada como um caminho que permite ao

estudante transformar-se e transformar seu contexto, auxiliado pelo facilitador

(professor/enfermeiro) que cria condições para essas novas mudanças e

responsabilidades. O enfermeiro está envolvido não apenas no processo de

transmissão de conhecimentos, mas principalmente na construção destes

conhecimentos na prática profissional, possibilitando ainda, oportunidades para que

o estudante adquira e construa novos conhecimentos.

Fazem parte deste cenário, estudantes de graduação, enfermeiros, técnicos e

auxiliares de enfermagem e demais componentes das equipes multidisciplinares,

funcionários administrativos e operacionais, clientes e seus familiares. É em contato

com estes profissionais que ocorrem as ações educativas das mais variadas

complexidades, possibilitando o crescimento pessoal e profissional de cada um.

Neste cenário os estudantes de enfermagem vivenciam suas experiências

práticas sem estar sob o olhar de sua escola de origem, uma vez que o estudante

sente-se com mais liberdade e oportunidades para desenvolver sua prática e

experienciar o mundo do trabalho. Santos (1996a, p.57) ressalta ainda ser este

momento a alternativa vislumbrada pelo estudante para fortalecer individualmente

sua prática podendo diferenciar-se dos demais e futuramente concorrer a uma vaga

no mercado de trabalho.

O processo de seleção para o ingresso do estudante no Programa de Estágio

Extracurricular no Prontobaby é feito por uma comissão constituída pela Gerente do

Serviço de Enfermagem, pela enfermeira de Educação Continuada e por mim, como

Coordenadora do programa. O critério de avaliação adotado ocorre através da

análise do currículo do candidato, da declaração fornecida pela universidade,

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38

informando o período e as disciplinas que o estudante está cursando e da entrevista

individual.

Este programa de estágio disponibiliza até seis vagas para os estudantes,

que poderão permanecer por um período de até doze meses. O estágio é realizado

cumprindo uma carga horária de dezesseis horas semanais, exclusivamente no

período diurno, excluindo os finais de semana e os feriados. Este critério foi adotado

com o objetivo de que o estudante permaneça acompanhado não somente pelos

enfermeiros plantonistas, como pelos chefes de setores, enfermeiros da rotina,

enfermeiro da Educação Continuada e por mim, no papel de coordenadora do

programa. E também, para que tenham a oportunidade de trabalhar em setores

especializados que têm seu maior fluxo no período diurno, possibilitando ampliar o

aprendizado e o executar de suas ações.

Os enfermeiros envolvidos no programa, participam de reuniões para discutir

e definir o programa a ser cumprido durante todo o transcorrer do estágio, além de

serem realizadas reuniões periódicas para avaliação tanto dos estudantes quanto

dos enfermeiros. Ainda, nesses encontros um dos temas abordados refere-se ao

processo de ensino-aprendizagem e as estratégias utilizadas pelos enfermeiros para

facilitar o desempenho das atividades práticas dos estudantes. Também são

discutidas as facilidades, dificuldades, dúvidas e conquistas sobre as atividades

realizadas, associando a realidade com a teoria aprendida.

O estudante de enfermagem ao iniciar o estágio extracurricular no hospital é

acompanhado pelo enfermeiro da Educação Continuada e pela Coordenadora do

Programa de Estágio, que apresenta a Instituição ao estudante fornecendo uma

visão geral sobre o seu funcionamento. Durante a visita pelos setores os enfermeiros

plantonistas e o os chefes de setores falam um pouco sobre o trabalho desenvolvido

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39

em cada unidade e uma primeira integração entre os enfermeiros e os estudantes

começa a ser estabelecida.

Já neste momento percebe-se, por parte dos estudantes, uma mistura de

expectativas e ansiedade ao vislumbrar uma nova realidade relacionada ao mundo

do trabalho, onde poderão desenvolver atividades práticas e adquirir a habilidade

que tanto desejam, mas por outro lado, também estarão expostos aos mais variados

processos de avaliação em relação aos seus desempenhos. São momentos de

conflitos e contradições: do fazer ou não fazer, de tomar decisões ou não, de ser

estudante ou quase enfermeiro, ou seja, um cenário novo, com responsabilidades e

desafios.

Nesta fase de ambientação os estudantes são informados quanto aos

aspectos legais que envolvem a assistência à criança hospitalizada passando a

conhecer e a conviver com o que é estabelecido pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente, que foi instituído pela Lei n. 8.069 de julho de 1990, que entre outros

itens garante a internação hospitalar da criança com acompanhamento dos

familiares. E da Resolução n. 41 de outubro de 1995 do Conselho Nacional dos

Direitos da Criança e do Adolescente, destacando entre outros, o direito a que seus

pais ou responsável participem ativamente do diagnóstico, tratamento e prognóstico,

recebendo informações sobre os procedimentos a que será submetido.

No Brasil, a década de 90 foi marcada por profundas mudanças nas políticas

de hospitalização da criança. A participação da família da criança, respaldada pelos

aspectos legais, no cotidiano hospitalar tornou-se um dos grandes desafios a ser

superado pelos estudantes de enfermagem e pelos enfermeiros preceptores no

desenvolvimento do estágio extracurricular, uma vez que esta convivência mais

profunda e dinâmica entre estudantes e famílias ainda pode ser considerada

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40

pequena nos campos de estágio curricular talvez em conseqüência das diversas

atividades executadas pelos estudantes. Sendo, então, de grande importância que o

convívio dos enfermeiros preceptores, estudantes de graduação e famílias sejam

permeados de confiança e transparência nas ações do saber e do fazer,

favorecendo a troca de conhecimentos e o desenvolvimento da prática.

A escala a ser cumprida é direcionada de acordo com a disponibilidade de

horário livre dos estudantes, sem interferir no cronograma de atividades da estrutura

curricular do curso no qual o estudante está vinculado. A escala de atividades dos

estudantes é desenvolvida nos setores de Emergência, Unidade de Internação

Clínica e Cirúrgica, Hematologia, Centro Cirúrgico, Unidade de Terapia Intensiva

Pediátrica e Neonatal, ficando o estudante sob a responsabilidade do enfermeiro da

Educação Continuada e do enfermeiro do setor que irão direcionar para as

atividades propostas, Compete a mim como Coordenadora do Programa de Estágio

Extracurricular a supervisão diária desses estudantes.

A escala dos enfermeiros é distribuída de forma que todos os setores sejam

contemplados. É certo que existe a necessidade urgente de se aumentar este

quadro para que o enfermeiro possa atuar apenas em um setor e não dando suporte

em mais de um setor como ocorre em alguns momentos. Existem alguns setores

como a Quimioterapia e o Centro Cirúrgico onde o seu funcionamento se dá, quase

em sua totalidade, no horário diurno, permanecendo, então, apenas um enfermeiro

diarista. A UTI pediátrica e neonatal e a Emergência são os setores que têm maior

número de enfermeiros devido à complexidade dos atendimentos sendo três

diaristas incluindo a chefe de setor e dois plantonistas. Como o estágio é realizado

exclusivamente no período diurno todos os cenários por onde os estudantes passam

são assistidos por enfermeiros.

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41

Existe um empenho muito grande por parte da gerência de enfermagem no

sentido de contratar enfermeiros com especialização, não só na área de pediatria e

neonatal mas em outras que possam oferecer um suporte de qualidade para clientes

e funcionários. Aos enfermeiros que ainda não são especialistas são proporcionados

mecanismos, como adequação de carga horária e bolsa auxílio, para que eles

realizem o curso. A importância do enfermeiro especialista que atua dentro de sua

especialidade é primordial para atingirmos uma assistência de qualidade, visto que

cada vez mais, novas tecnologias estão surgindo e os enfermeiros precisam estar se

capacitando para esses novos saberes. Não deixa também de ser uma necessidade

sentida pelo próprio enfermeiro que tem como proposta renovar seus conhecimentos

e se qualificar na sua área de atuação.

Seguindo esta linha de pensamento, Viana (1995, p.6) ressalta que a

especialização para os enfermeiros é vista como uma necessidade presente, pois

apresenta demandas e reflexos na prática profissional a fim de assegurar um

desempenho profissional com qualidade e segurança partindo da atualização dos

conhecimentos e da aquisição de novas habilidades.

Como podemos evidenciar neste estudo, dos nove enfermeiros entrevistados

quatro são especialistas e três estão terminando o curso. Apenas três não são

especialistas. Observo que no processo de ensino-aprendizagem, dentro de um

hospital que por si só já é especializado, a bagagem de conhecimento do enfermeiro

especialista é muito relevante, pois facilita e motiva a inserção do estudante na

realização da prática.

A proposta do estágio extracurricular não visa apenas os interesses do

estudante como participante do processo de aprendizagem, mas também a

preocupação da Instituição com a qualificação e o crescimento do enfermeiro, que

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precisa estar constantemente se atualizando e adquirindo novos conhecimentos,

afinal o mundo de hoje é competitivo e exige mudanças a todo o momento. O fato do

enfermeiro desempenhar a função de preceptor o torna mais participativo, mais

envolvido com o aprender e o ensinar e com a construção e a transmissão de

conhecimentos. A experiência anterior dos enfermeiros com estudantes de

graduação em campos de estágio também facilita esse processo.

O fato de alguns enfermeiros terem outro emprego, que na maioria das vezes,

é na área de pediatria já que o hospital tem este perfil, proporciona aos estudantes a

possibilidade de ampliar as discussões, explorando a vivência dos outros locais de

trabalho e permitindo a troca de diferentes experiências. Como os estudantes

passam por vários locais de estágio, já tivemos a oportunidade de termos

enfermeiros que trabalham no mesmo hospital que foi campo de estágio para esses

estudantes, o que também ajuda bastante na interação enfermeiro/estudante.

No setor de Emergência o enfermeiro tem um papel importantíssimo, pois é

ele quem gerencia e assiste toda a clientela que inclui também a família que é o

personagem que fornecerá as informações para que possamos chegar a um

diagnóstico. A esse respeito, Wright e Leahey (2002, p.184) consideram que a

competência de um enfermeiro no lidar com uma família implica numa relação direta

com o sucesso do tratamento. Este é um dos setores onde os estudantes

desenvolvem não só suas habilidades técnicas, mas conseguem colocar em prática

seu poder de observação, suas habilidades educativas e sua percepção para o

diagnóstico.

O movimento do enfermeiro neste setor se dá inicialmente com uma visita

pela área de atendimento na qual já é percebido, após conversar com o familiar, os

casos que necessitam de um atendimento mais imediato. O restante dos casos

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43

segue a ordem natural de atendimento. Nos casos mais graves o enfermeiro

acompanha todo o atendimento.

Em todo esse processo o estudante acompanha o enfermeiro que vai

demonstrando a rotina do setor, é um setor que o enfermeiro atua junto com o

estudante permitindo o fazer. É realizada também a consulta de enfermagem que,

por ter só um enfermeiro escalado nesta unidade, não pode ser extensiva a todos os

atendimentos. Nesta consulta, onde o estudante participa com grande habilidade, é

verificado a temperatura e a pressão arterial caso a criança tenha alguma patologia

associada à hipertensão, os dados referentes aos sintomas são coletados e alguns

procedimentos são realizados para minimizar os sintomas. A realização da consulta

de enfermagem é um espaço conquistado e muito valorizado, pois agiliza o

atendimento e promove a troca de experiências entre os profissionais e estudantes.

Acerca da consulta de enfermagem, Rosas (2003, p.124) considera ainda ser

um momento de encontro intencional entre o enfermeiro que ensina e o estudante

que aprende, pois ambos atribuem um significado às coisas que vivenciam podendo

provocar mudanças importantes.

É de grande relevância o compromisso do enfermeiro com o estudante, pois é

a partir de seu empenho que o estudante se sentirá motivado a demonstrar suas

habilidades, desempenhando ações que evidenciem seu comprometimento com o

estágio. Outro fator que fortalece o empenho dos enfermeiros nesta proposta diz

respeito ao fato de quatro dos nove enfermeiros que participaram deste estudo

terem realizado estágio extracurricular.

Percebo, entretanto, que a dinâmica dos enfermeiros no dia-a-dia leva em

determinados momentos a um desgaste físico e emocional, refletindo principalmente

na falta de interesse de alguns enfermeiros, que na maioria das vezes está

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relacionado, principalmente, à problemas com a própria instituição, como dupla

jornada de trabalho para cobrir férias e/ou funcionários afastados por licenças

médicas, acúmulo de funções assistenciais e administrativas, número reduzido de

enfermeiros, dentre outras, e que com certeza influenciarão no desenvolvimento do

processo de ensino-aprendizagem

O ESTÁGIO EXTRACURRICULAR COMO UMA ESTRATÉGIA DE ENSINO-

APRENDIZAGEM

O estágio é uma estratégia de ensino-aprendizagem que direciona o

estudante para realidade da vida profissional, oferecendo, ainda, uma gama de

opções onde estudantes e enfermeiros podem trocar experiências, aprender uns

com os outros, semear idéias e buscar soluções. É considerar que o estudante só

aprende a partir de suas próprias experiências. Seguindo esta linha de pensamento,

Bordenave e Pereira (2002, p.83) enfatizam que é necessário que os estudantes

vivam certas experiências, para que sejam induzidas as mudanças necessárias para

o seu crescimento.

As experiências de aprendizagem nos campos da prática são vivências que

provocam resultados que favorecem o crescimento do estudante no

desenvolvimento de suas habilidades. É uma das formas mais eficientes de

integração entre o estudante e o enfermeiro, podendo, porém, ter resultados

positivos ou negativos, desencadeados pelo poder assimétrico que o enfermeiro

detém em relação aos estudantes, incluindo ou excluindo-os do contexto social. É

nesta vertente que precisamos nos preocupar, pois não há como formamos bons

profissionais se os nossos formadores não se sentem imbuídos deste desejo, é

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45

necessário que haja uma ideologia que direcione os profissionais para esta linha de

atuação.

Considero importante que o enfermeiro com o passar do tempo atuando com

estudantes adquira uma experiência que vai facilitar e viabilizar novos horizontes e

novas conquistas, pessoais e profissionais, com muito mais essência do que uma

simples troca de conhecimentos e o cotidiano ensino da prática. Não vejo o

enfermeiro preceptor apenas como um profissional que está ali para ensinar a

prática para o estudante que precisa aprender, espero que ele desenvolva esta

função educativa pensando no quanto ele também está tendo a oportunidade de

crescer, de estudar e de refletir acerca do quanto seu trabalho é importante para a

sociedade.

No estágio extracurricular, o estudante valoriza a oportunidade de participar

de uma atividade que o diferencia, socialmente, dos outros estudantes, partindo do

princípio que nesta modalidade de estágio, por não pertencer à estrutura curricular,

não é realizado por todos. Ainda neste contexto Thompson (2002, p.204) ressalta

que ao adquirir valor simbólico, um trabalho pode ser reconhecido como legítimo,

fazendo com que o autor receba honras, prestígio e respeito, possibilitando, na

concepção do estudante, maiores oportunidades profissionais.

É de grande relevância para os enfermeiros assistenciais, principalmente os

que não tem contato com a docência, mas que desempenham funções de

facilitadores junto aos estudantes no campo prático, o conhecimento e a

compreensão da proposta do Relatório Delors (2001, p.18) como instrumento de

construção de um novo paradigma que valorize a vida e as pessoas bem como sua

contribuição expressiva no processo de ensino-aprendizagem.

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46

No Prontobaby Hospital da Criança a aplicação dessa proposta não está

direcionada apenas aos estudantes de enfermagem e sim para todos no dia-a-dia da

equipe de enfermagem. A proposta destaca os quatro pilares essenciais a um novo

conceito de educação, e que foram associados aos processos de ensino-

aprendizagem: "Aprender a conhecer; Aprender a fazer; Aprender a viver juntos e

Aprender a ser”, a saber:

1º) Aprender a conhecer: significa adquirir os instrumentos da compreensão,

do conhecimento, e pode ser considerado como um meio e como uma finalidade.

Meio, porque se pretende que cada indivíduo aprenda a compreender o mundo que

o rodeia e, finalidade, para usufruir do prazer de compreender, de conhecer e de

descobrir. Aprender para conhecer é, antes de tudo, aprender a aprender,

exercitando a atenção, a memória e o pensamento.

Neste sentido a educação deve estimular o indivíduo à curiosidade e o senso

crítico, de construir e reconstruir o conhecimento ao longo de toda a vida. O

processo de aprendizagem do conhecimento nunca está acabado, e pode

enriquecer-se com qualquer experiência, seja no trabalho ou fora dele (op.cit., 2001,

p.90).

2º) Aprender a fazer: ligado mais estreitamente à formação profissional:

“como ensinar o estudante a pôr em prática os seus conhecimentos e, também,

como adaptar a educação ao trabalho futuro quando não se pode prever qual será a

sua evolução?” Nessa complexidade a aprendizagem não pode ser considerada

como mera transmissão de práticas mais ou menos rotineiras, em vista do mundo

moderno exigir o domínio do cognitivo, do informativo e da capacidade inovadora,

valorizando a competência pessoal que capacita o indivíduo a enfrentar novas

situações.

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47

A capacidade de comunicar, de trabalhar com os outros, de gerir e de resolver

conflitos, tornam-se cada vez mais importantes, uma vez que o desenvolvimento dos

serviços exige qualidades humanas que as formações tradicionais não transmitem, e

que correspondem à capacidade de estabelecer relações estáveis e eficazes entre

as pessoas (op.cit., 2001, p.93).

3º) Aprender a viver juntos, aprender a viver com os outros: esta

aprendizagem configura-se atualmente como um dos maiores desafios da educação.

Observamos que o mundo moderno incentiva a competição, estimula a concorrência

e prioriza o sucesso individual, fazendo com que as pessoas se afastem um dos

outros e não permitindo a compreensão do outro.

Com o propósito de evitar ou resolver conflitos latentes, a educação deve

utilizar duas vias complementares: a descoberta progressiva do outro, descobrindo-

se a si mesmos, colocando-se no lugar dos outros e compreendendo as suas

reações e a participação em projetos comuns, dando origem aos métodos de

resolução de conflitos e constituindo uma referência para a vida futura (op.cit. 2001

p.96).

4º) Aprender a ser: relacionado ao desenvolvimento integral da pessoa, para

manifestar pensamentos independentes e críticos, com discernimento e

responsabilidade pessoal, não devendo neglicenciar as potencialidades de cada

indivíduo como memória, capacidades físicas, sensibilidade, sentido estético,

espiritualidade e aptidão para comunicar-se (op.cit. 2001 p.99).

Neste contexto, Assad (2003, p.38) ressalta que no conceito de educação o

ser humano deve “(...) desenvolver todas as suas faculdades, viver e trabalhar com

dignidade, participar plenamente no desenvolvimento, melhorar a qualidade de sua

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48

existência, tomar decisões esclarecidas e continuar a aprender, ao longo de toda a

sua vida”.

SELECIONANDO ESTRATÉGIAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM NO CAMPO

PRÁTICO

A seleção de estratégias objetivando a produção de experiências de

aprendizagem voltadas para estudantes no campo prático hospitalar contribui para a

aplicação e fortalecimento dos conhecimentos adquiridos no curso de graduação,

favorecendo a integração do estudante com o enfermeiro, que se sente estimulado

com a atividade educativa que vem desenvolvendo, incentivando cada vez mais o

estudante na realização de suas práticas.

É relevante ainda, que o enfermeiro-preceptor seja preparado para utilizar as

estratégias e técnicas de ensino-aprendizagem com o objetivo de poder escolher e

adequar as estratégias mais indicadas ao perfil de cada estudante.

Algumas estratégias de ensino foram escolhidas por serem utilizadas neste

cenário hospitalar e são descritas para que possam contribuir para o exercício dessa

prática.

 Estudo de casos: é uma estratégia de ensino que, segundo Santos (2003,

p.45) envolve a apresentação de casos ou situações ocorridas, onde os

mesmos são apresentados sem interpretações objetivando a análise pelos

estudantes que poderão consultar fontes de pesquisa para serem

apresentadas e discutidas. É muito utilizada nos campos de prática, uma

vez que permite que o estudante tenha contato com situações que

poderão vivenciar na sua vida profissional. Possibilita ainda o

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49

envolvimento do enfermeiro que também é estimulado para estudar o

assunto. O termo estudo de caso, segundo Yin (2005, p.20), pode ser

utilizado tanto como recurso para a área de ensino como para a pesquisa.

Usado para fins de ensino um estudo de caso tem como propósito

estabelecer uma estrutura de discussão e debate entre os estudantes sem

precisar se preocupar com a apresentação dos dados empíricos, já os

destinados à pesquisa trabalham com estes dados.

 Demonstração: implica na comprovação teórica ou prática de uma teoria,

podendo ser entendida como uma simulação de uma técnica executada e

está mais direcionada às habilidades manuais. É uma das técnicas mais

utilizadas no estágio prático, pois permite avaliar o desempenho do

estudante em relação à aprendizagem.

 Discussão: é uma estratégia de ensino que aborda vários aspectos sendo

o mais importante para este contexto, segundo Santos (op.cit, p.43), as

oportunidades oferecidas aos estudantes para formular princípios com

suas próprias palavras e sugerir aplicações para os mesmos. Está

diretamente associada a participação do enfermeiro que propicia um clima

para que todas as contribuições importantes sejam aproveitadas,

respeitando as opiniões de todos. É utilizada no dia-a-dia apresentando

resultados positivos.

 Palestra: tem como objetivo adquirir conhecimentos e informações. É

utilizada nos campos de prática com algumas modificações como, por

exemplo, o curto tempo de duração abordando apenas o foco central do

assunto, além de ser realizado na maioria das vezes no próprio setor de

trabalho (sala de reunião, sala da chefia ou outro local disponível), em

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50

horário de menor movimento. Preferencialmente é convidado um

palestrante de outra instituição para que se incentivem as trocas de

informações e novos conhecimentos.

Não pretendo aqui esgotar o assunto no que se refere às diferentes

estratégias de ensino-aprendizagem que possam vir a serem adotadas, uma vez que

existem objetivos específicos e metas definidas a serem atingidas. O estágio

extracurricular como estratégia de ensino-aprendizagem, representa uma

experiência que vem sendo desenvolvida integrando a prática do enfermeiro e a

interface com a formação do estudante de graduação, permitindo implementar uma

metodologia que forneça uma base referencial para subsidiar e capacitar

enfermeiros e estudantes envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.

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51

A Lição de Anatomia do Dr.Tulp, 1632


Rembrandt

Uma comparação às profundas


reflexões durante a descoberta e
a análise dos dados encontrados.

CAPÍTULO III
VIVENCIANDO E REFLETINDO A
DESCOBERTA DOS DADOS

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52

Este capítulo refere-se à análise dos dados coletados nas falas dos

enfermeiros e nas observações registradas no diário de campo. Emergiram deste

estudo três unidades temáticas com suas respectivas subunidades que constituem o

corpo deste capítulo assim definidas:

I- EXPERIÊNCIAS DOS ENFERMEIROS COM ESTUDANTES DE

GRADUAÇÃO EM CAMPO DE ESTÁGIO

1.1 Os enfermeiros como facilitadores da aprendizagem teórica e

prática

1.2 As mudanças no cotidiano dos enfermeiros

II- ATUAÇÃO DOS ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO EM ESTÁGIO

PRÁTICO

2.1 As expectativas dos estudantes de graduação

2.2 As contribuições do estágio para a formação dos estudantes

2.3 O desenvolvimento das atividades: o saber e o fazer dos

estudantes

III- FACILIDADES, DIFICULDADES E ESTRATÉGIAS DA PRÁTICA DOS

ENFERMEIROS COM ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO

3.1 Aspectos facilitadores da prática dos enfermeiros com estudantes

de graduação

3.2 Aspectos dificultadores da prática dos enfermeiros com estudante

de graduação

3.3 Estratégias utilizadas no desenvolvimento do estágio prático

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53

I- EXPERIÊNCIAS DOS ENFERMEIROS COM ESTUDANTES DE

GRADUAÇÃO EM CAMPOS DE ESTÁGIO

Nesta unidade analisei as experiências dos enfermeiros com estudantes em

campos de estágio extracurricular, considerando a participação e as mudanças

evidenciadas no cotidiano dos enfermeiros.

1.1 Os enfermeiros como facilitadores da aprendizagem teórica e prática

O enfermeiro desempenha o papel de facilitador da aprendizagem com os

estudantes em campos de estágio, convivendo com diversas situações nas quais se

faz necessário a participação efetiva do enfermeiro como orientador. Não basta

apenas acompanhar o estudante na execução dos procedimentos, é necessário

estar presente para perceber as necessidades emergentes que surgem a todo o

momento. É a interação e a forma de atuar dos enfermeiros que fortalece o

crescimento dos estudantes.

Dos nove depoentes participantes do estudo foi identificado como relevante

o papel do enfermeiro como educador e facilitador da aprendizagem, a capacidade

do enfermeiro conviver com os erros cometidos pelos estudantes e o incentivo que

os enfermeiros proporcionam aos estudantes de graduação em campo de estágio

prático.

Neste estudo, seis depoentes destacam o papel do enfermeiro como

educador e facilitador da aprendizagem dos estudantes no desenvolvimento do

estágio. Estas considerações podem ser observadas nas seguintes falas:

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54

[...] eu me sinto no papel de um educador, um facilitador junto


aos estudantes e não somente desempenhando o papel de um
enfermeiro assistencial... (Degas)

[...] às vezes o estudante sente dificuldade na realização de


alguma prática, então eu utilizo alguma estratégia que possa
ajudá-lo e continuo incentivando-o... (Picasso)

[...] eu aprendi que o enfermeiro deve ser um educador diário com


a equipe de trabalho e com o estudante que vem para aprender
(Picasso)

[...] vou ensinando, deixando eles [estudantes] fazerem os


procedimentos [...] o resultado depende de cada um, uns
aprendem mais rápido, outros têm receio de fazer errado [...] vou
explicando que até ter habilidade é assim mesmo... (Michelangelo)

[...] o estudante precisa de um enfermeiro que seja participativo e


que o ajude nos momentos de dúvidas e dificuldades, eu acho
importante estar sempre perto... (Monet)

[...] eu me sinto como um professor que ensina a prática aqui no


hospital, porque eles vão aprendendo a fazer o que eu vou
ensinando... (Renoir)

O facilitador, segundo Demo (2000, p.32) não é quem facilita as coisas mas

quem orienta o processo reconstrutivo, tendo o estudante como figura central.

Corroboro com o autor, pois é o enfermeiro que está a todo o momento ao

lado do estudante, estimulando sua participação e o interesse no desenvolver de

cada prática, cada nova experiência, convivendo com as facilidades e dificuldades

que exige o cenário hospitalar. É ele quem define a estratégia a ser adotada para

que a aprendizagem efetivamente se concretize possibilitando ao estudante um

aprendizado relevante para a sua formação.

Fortalecendo essa temática, Scherer, Scherer e Carvalho (2006, p.289)

ressaltam que os educadores não apenas instruem, mas estimulam o estudante a

tomar decisões, fazer observações e perceber relações para que desenvolvam

habilidades e atitudes condizentes ao seu saber.

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55

O enfermeiro não é um professor no sentido de ser um docente, mas colabora

ao ensinar a prática. Ele diz que se sente um educador, que aprendeu que o

enfermeiro é um educador. Os estudantes também o consideram como um

professor, um profissional que conhece muito o exercício da prática e que vai

ensinar, tirar dúvidas, conviver com os erros e os acertos do aprender, é um

“professor” que vai possibilitar o “fazer”.

A seguinte observação confirma esse pensamento:

[...] num quarto em isolamento o enfermeiro especialista ensina o


estudante como manusear o catéter de longa permanência. O
estudante observa atento pois é um procedimento que requer
muita atenção e habilidade. O enfermeiro permite que ele vá
interagindo com a técnica fazendo junto [...] Ao término o
estudante fala para mim e para o enfermeiro que ele é um
professor que ensina muito bem... (Observação nº 7)

Na fala de Michelangelo percebo que cada estudante se desenvolve de

formas diferentes no campo da prática e, consequentemente atinge resultados

distintos de aprendizagem. Como já foi dito anteriormente, o enfermeiro como

facilitador adota estratégias de aprendizagem que melhor se adaptam aos

propósitos do ensino mas os resultados dependem de cada estudante.

Nessa linha de raciocínio, Jorge (2004, p.48) refere que ao receber o

estudante no ambiente de aprendizagem o facilitador deve respeitar o processo de

aprendizagem de cada estudante.

Concordo com a autora pois acredito que cada ser humano tem seu potencial

para o aprendizado e que este deve ser respeitado para que os objetivos sejam

alcançados. Nos campos de estágio prático podemos constatar essas diferenças

uma vez que o enfermeiro está em contato muito próximo dos estudantes

favorecendo a interpretação do grau de aprendizagem de cada um.

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56

Isto pode ser evidenciado nesta observação:

[...] o estudante durante o procedimento comenta com o


enfermeiro que ainda tem muita dificuldade em lidar com a bomba
infusora de seringa pois ele acha muito complicado e tem receio
de infundir a dose errada. O enfermeiro responde que nas
primeiras tentativas tudo é difícil e não é para se comparar com
outros estudantes que já aprenderam, porque cada um aprende
no momento certo, o que não pode é desanimar.
(Observação nº 8)

Contribuindo com a temática, Thompson (2002, p.193) ressalta ainda que o

modo como uma forma simbólica particular é compreendida pode depender dos

recursos e da capacidade que cada um emprega no processo de interpretá-las.

Neste caso, o aprendizado depende dos recursos e da capacidade de cada

estudante para compreender o que está sendo ensinado.

No diário de campo registrei outra observação que julgo ser muito importante

para esta discussão e que me faz refletir sobre o poder que nossas palavras podem

exercer no processo de aprendizagem do estudante levando-o algumas vezes à

desmotivação pelo campo de estágio e à dificuldade de interação com o preceptor. É

evidente no comentário do enfermeiro o poder assimétrico existente na relação

enfermeiro/estudante no momento em que o enfermeiro no papel de preceptor faz

um julgamento do estudante, segmentando as relações através do modo de

Fragmentação, não unindo enfermeiro e estudante e utilizando como estratégia da

ideologia a Diferenciação, percebida nas distinções entre enfermeiros e estudantes,

usando ainda o efetivo exercício do poder.

Outra estratégia evidenciada é o Expurgo do outro, caracterizada pela

construção de um inimigo, que neste caso é o enfermeiro por constituir uma ameaça

ao estudante, levando o estudante a resistir ou a expurgá-lo nos momentos de

prática no campo de estágio.

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57

[...] o enfermeiro conversa com o estudante sobre a dificuldade


dele em manusear o ventilador mecânico, o estudante
concorda explicando que são muitos aparelhos mas está se
esforçando [...] o enfermeiro comenta com este estudante que
o outro estudante que passou pelo setor não teve tanta
dificuldade... (Observação nº 2)

Outra contribuição importante que emergiu de relatos de cinco depoentes é a

capacidade dos enfermeiros em conviver com os erros que alguns estudantes

possam cometer no desenvolvimento da prática durante o estágio.

Os depoimentos a seguir descrevem algumas destas situações:

[...] o estudante quer aprender a prática e por isso se empenha em


participar de tudo, mas às vezes comete algum erro, por falta de
experiência, mas eu explico como fazer e não deixo ele
desanimar... (Rembrandt)

[...] na maioria das vezes quando o estudante comete algum erro


é porque ele foi ajudar alguém que realizava um procedimento
sem a presença do enfermeiro. Por isso eu oriento que nem
sempre o estudante está preparado para participar de
procedimentos que ainda não domina... (Miró)

[...] no início do estágio é muito difícil para os estudantes [...] vou


orientando, discutindo os erros que ocorreram e facilitando os
estudantes a realizarem a prática do fazer... (Van Gogh)

[...] têm situações que o erro também acontece por culpa do


próprio enfermeiro, que incentiva o estudante a desenvolver
aquela prática sem que ele com conhecimento suficiente para
realizá-la. (Michelangelo)

[...] as vezes o estudante tem dificuldade e termina cometendo


algum erro por falta de habilidade mesmo, mas eu continuo
ensinando até ele aprender e fazer sozinho... (Monet)

O depoimento de Van Gogh enfatiza as dificuldades enfrentadas pelos

estudantes no início do estágio, e na condução dos erros que ocorrem no

desenvolvimento da prática no dia-a-dia do estudante em campo de estágio prático.

Os erros fazem parte da rotina de aprendizagem da prática, já que ele pode ocorrer

de diferentes formas, uma vez que vários fatores podem contribuir para que o erro

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58

aconteça. A conduta pessoal e profissional de cada estudante e dos enfermeiros é

fundamental para evitar outras situações que favoreçam ao erro, permitindo que as

dificuldades encontradas sejam discutidas e melhor compreendidas.

No diário de campo, em uma das observações pude identificar esta

dificuldade relacionada ao erro:

[...] o enfermeiro da UTI solicita ao estudante que faça a troca do


frasco de drenagem de tórax da criança que ele cuidava, o
estudante espera uma oportunidade para falar com o enfermeiro
que ainda tem medo de fazer esse procedimento porque no
plantão anterior o outro estudante desconectou o circuito
causando um problema... (Observação nº 9)

Seguindo esta temática, Hengemühle (2004, p.150) ressalta que “é preciso

repensar as práticas, para que o erro possa vir a fazer parte do processo pedagógico

(...) o erro é uma possibilidade de focar os limites da argumentação e da

compreensão e suscitar novos desafios e buscas”.

Diante disso, faz-se importante refletir sobre os erros que os estudantes

convivem no desenvolvimento da prática, não como uma forma de punição ou

menosprezo, mas como uma possibilidade de reflexão acerca da situação vivida,

como também e, principalmente, direcionar os estudantes para a aprendizagem. A

busca pela aquisição de habilidades por parte dos estudantes deve ser entendida

como um sentimento presente em todos os estudantes, devendo ser estimulada e

nunca desencorajada, pois faz parte do aprendizado.

À luz da ideologia de Thompson identifico a Unificação unindo enfermeiros e

estudantes no processo de ensino-aprendizagem, utilizando a estratégia da

Padronização percebida quando o enfermeiro como facilitador adota estratégias de

aprendizagem que melhor se adaptam a cada estudante.

As falas dos enfermeiros descrevem que existe um comprometimento com a

forma pela quais os estudantes vão aprendendo, o enfermeiro ensina e facilita o

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59

aprendizado, é também um momento de troca de conhecimentos e interação entre

enfermeiros e estudantes. Facilitar o aprendizado é uma atividade que deve fluir

espontaneamente, com suas facilidades e restrições.

Busquei nos estudos de Costa (2005, p.136), analisados sob a luz de

Thompson um relato que fundamenta o comprometimento e a interação do

enfermeiro com os estudantes em campo de estágio, no qual a autora ressalta que a

interação de professores e estudantes é imbuída de formas simbólicas diferenciadas

porque cada ser social tem suas particularidades, e que a relação professor-

estudante é importante para o sucesso do processo de ensino-aprendizagem.

Outro ponto que merece destaque é o incentivo que os enfermeiros

proporcionam aos estudantes. Este fato é evidenciado nos depoimentos de cinco

enfermeiros:

[...] durante o procedimento vou perguntando ao aluno se ele está


entendendo, se está com alguma dificuldade, falo para ele ler um
livro que fala sobre este assunto... (Degas)

[...] vou mostrando como se faz, descrevendo a técnica


corretamente, explicando as possíveis complicações, faço
perguntas, faço junto com ele... (Monet)

[...] se acho que aquele procedimento é complicado para eles


[estudantes] fazerem fico perto para poder ajudar até eles
conseguirem (...) vou incentivando (...) um olhar, uma frase de
apoio (...) no início é mesmo difícil... (Matisse)

[...] tenho que incentivar os estudantes porque às vezes dá medo


e eles podem pensar em desistir... (Renoir)

[...] vou logo falando para eles (estudantes) não desistirem porque
na primeira vez é tudo muito complicado [...] vou dando
oportunidade e elogio sempre... (Rembrandt)

O incentivo do enfermeiro para o estudante de enfermagem que está no final

de seu curso é fundamental para que o estágio seja proveitoso e rico em

aprendizagem, uma vez que a interação do enfermeiro com o estudante deve ser de

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60

parceria para que as trocas de experiências possam acontecer. O incentivo deve ser

visto não somente como uma motivação para a realização da prática, mas também

com o objetivo de mostrar aos estudantes o papel deles como futuros enfermeiros, é

o incentivo do fazer e do ser profissional. O fato do enfermeiro estar incentivando o

estudante implica na percepção deste estudante em estar incentivando seu futuro

grupo de trabalho, disseminando a importância de ser um facilitador e motivador da

aprendizagem.

O estudante no papel de aprendiz entende a linguagem não verbal do

enfermeiro preceptor e o uso das formas simbólicas que direcionam o enfermeiro e o

estudante no convívio diário no cenário hospitalar, nas muitas vezes onde uma

atitude, uma frase, um gesto, um olhar representa muito mais que o falar.

Essa situação pode ser confirmada na seguinte observação:

[...] a estudante inicia o procedimento (...) fica com receio de


continuar, mas o enfermeiro pede para ela continuar, concorda
com ela que está difícil, a estudante olha para o enfermeiro e ele
faz sinal que é para ir em frente... (Observação nº 2)

Referindo-se ao olhar como forma de transmissão de uma mensagem,

Castro e Silva (2001, p.386) descreve que o olhar deve ser espontâneo, de troca,

transmitir segurança e ser capaz de individualizar a interação, neste caso, entre o

enfermeiro e o estudante em campos de estágio, facilitando desta forma, o

aprendizado.

As formas simbólicas segundo Thompson (2002, p. 183) referem-se a uma

grande variedade de fenômenos significativos, caracterizados por ações, gestos,

rituais e manifestações verbais. “São expressões de um sujeito e para um sujeito (ou

sujeitos)”.

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61

Correlacionando o pensamento do autor com as falas dos depoentes,

considero que os fenômenos significativos são caracterizados pelas ações de

ensinar e de explicar os detalhes, pelos gestos de descrever e de fazer junto, pelas

manifestações verbais de incentivar, de esclarecer e de conversar, seguindo o ritual

da transmissão do saber, que se dá através das expressões do enfermeiro para os

estudantes.

Ainda baseado no que o autor menciona, as formas simbólicas são

produzidas e empregadas pelos enfermeiros buscando objetivos e propósitos, como

ensinar a prática ao estudante, expressando-se de forma que os estudantes

percebam e interpretem a mensagem recebida. Na situação apresentada é o

enfermeiro demonstrando para o estudante a prática, descrevendo os detalhes e

orientando sobre as possíveis complicações daquela técnica.

Percebo que a vontade do fazer gera uma ansiedade muito grande nos

estudantes, sendo importante para eles o incentivo e a forma como o enfermeiro vai

explicando, com respeito e paciência, valorizando a atuação do estudante, elogiando

suas conquistas e facilitando o fazer para que eles sintam-se com entendimento

para realizarem a prática e superarem os desafios.

Identifico nestas considerações a Legitimação como modo da ideologia

operar visto o empenho do enfermeiro em contribuir para os estudantes superarem

suas ansiedades, utilizando a estratégia da Narrativização caracterizada pelas ações

de ensinar e explicar os detalhes, servindo ainda para justificar o exercício do poder

que os enfermeiros possuem no domínio do conhecimento.

Durante a observação de campo constatei essa realidade descrita neste

trecho:

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62

[...] a enfermeira orienta o estudante sobre o procedimento e


incentiva-o a perguntar tudo, (...) pede para ele anotar as dúvidas
e sugere que estude mais sobre o assunto... (Observação nº 3)

Corroborando com essa idéia, Delors (2004, p.93) ressalta que “aprender a

fazer não pode continuar a ter o significado simples de preparar alguém para uma

tarefa material bem determinada (...) as aprendizagens devem evoluir e não podem

mais ser consideradas como simples transmissão de práticas”. Dessa forma

compreendo que o enfermeiro ao ensinar a prática deve estar fundamentado em

suas ações, utilizando seus conhecimentos adquiridos com as experiências e

fortalecendo sua capacidade de pensar, para que o aprender a fazer possa

acontecer de forma enriquecedora para o aprendizado dos estudantes.

Percebo o enfermeiro envolvido com o profissional que deseja formar,

estimula o estudante a buscar o melhor caminho que o fará atingir seus objetivos, de

crescimento profissional, com pensamento crítico e reflexivo. Procura minimizar as

diferenças sociais e profissionais entre o enfermeiro que ensina e o estudante que

aprende. Compreende que o estudante pode se deparar com barreiras, dificuldades

pessoais e profissionais, medo e insegurança. Por isto, fica perto, apoiando, com

palavras, gestos e ações.

A observação em campo demonstra essa relação:

[...] no setor de Quimioterapia o estudante tem muitas restrições


por conta da especificidade do setor e da clientela que tem
conhecimento profundo acerca da patologia (...) no momento o
estudante junto com o enfermeiro vai administrar um
quimioterápico venoso, percebo ele ainda inseguro, mas o
enfermeiro vai direcionando o procedimento, conversando com ele
e a mãe da criança, elogia o estudante para a mãe, sorri para o
estudante que diz estar tudo bem... (Observação nº 6)

Visualizo neste contexto a Unificação como modo operante da ideologia

interligando enfermeiros e estudantes independentes das diferenças que os

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63

separam, utilizando a Padronização como estratégias, procurando fazer com que os

estudantes desenvolvam a prática dentro dos padrões que a profissão exige.

O enfermeiro se utiliza de estratégias de ensino-aprendizagem que ele vai

adequando às suas necessidades. Ele explica, orienta, questiona, mas também

cobra do estudante sua parcela de contribuição, sua responsabilidade com o estágio

e com o aprender. Neste aspecto, Costa (2005, p.125) enfatiza que o estudante

necessita estar comprometido com seu aprendizado, de forma que tenha interesse,

responsabilidade e busca contínua de conhecimentos para o seu desenvolvimento

cognitivo.

À luz das falas dos depoentes identifico ainda no modo de Legitimação a

Universalização como estratégia permitindo que qualquer estudante possa adquirir

habilidades e ser bem sucedido.

1.2 As mudanças no cotidiano dos enfermeiros

Em relação às mudanças evidenciadas no cotidiano dos enfermeiros, o que

mais contribuiu para essas mudanças foi a necessidade do enfermeiro em estudar,

se capacitar, se atualizar e ir em busca de novos conhecimentos para o seu

crescimento profissional, acrescido da descoberta do gostar de ensinar. Tais

evidências desencadearam momentos de reflexão importante na maneira de pensar

dos depoentes.

A necessidade do enfermeiro em estudar, se capacitar e se atualizar pode ser

observado nos depoimentos de cinco entrevistados:

[...] passei a estudar mais, a fundamentar melhor as ações de


enfermagem, porque os estudantes perguntam muito e eu quero
saber responder tudo... (Degas)

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[...] eu chegava em casa e começava a ler artigos recentes e a


rever alguns assuntos que não tinha muito contato, eu precisava
de fundamentação científica para discutir com os estudantes, e
com isso eu também crescia... (Matisse)

[...] passei a ficar mais atualizado porque os estudantes estão


sempre trazendo coisas novas, um congresso que eles foram,
uma palestra, um artigo que eles leram...(Renoir)

[...] senti a necessidade de estar buscando novos conhecimentos,


de ler mais, me atualizar (...) fui fazer o Curso de Especialização
em Neonatologia...(Michelangelo))

[...] eu percebi que tinha surgido algumas coisas novas que eu


não sabia, informações atuais que os estudantes conheciam bem
e eu tinha dificuldade [...] entendi que era a hora de me reciclar
porque eu só trabalhava desde que me formei... (Monet)

O convívio com os estudantes possibilitou ao enfermeiro momentos de

reflexão acerca de seu momento profissional, do espaço que ele ocupa enquanto

enfermeiro assistencial e como preceptor e do seu desejo de crescer e caminhar

para outros objetivos. É um processo de mudança, um compromisso com ele mesmo

de querer mudar. Nas falas dos enfermeiros a vontade de estudar mais, se atualizar,

participar de congressos e buscar novas fontes de conhecimentos se faz presente

como uma motivação pessoal e profissional, Eles querem estar mais capacitados e

mais atualizados para atenderem ao que os estudantes solicitam deles enquanto

profissional que detém o saber.

Neste contexto, mudar de atitude para Santos (2003, p.74) é considerado

como uma necessidade que pode ser percebida, mas que nem sempre conseguimos

efetivar, pois implica em estarmos revendo valores, princípios, reflexões e

implementando ações para alcançar determinados objetivos. Corroboro com a

autora acerca dos aspectos que diz respeito às mudanças, visto que, essas

mudanças ocorridas com os enfermeiros partiram de um processo lento e de muita

reflexão em decorrência de uma necessidade percebida por eles no exercício da

profissão.

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O enfermeiro é aquele profissional que domina a prática, tem o conhecimento

científico e a fundamentação teórica daquele procedimento, mas muitas vezes não

participa de congressos, eventos científicos e outros encontros que tem como

objetivo estar se atualizando. Esses momentos são de novas descobertas, de

enriquecer seus conhecimentos e compartilhar experiências e dificuldades.

Constato que o diálogo entre enfermeiros e estudantes é reconhecidamente

importante, porque dele emerge comentários, sugestões e troca de conhecimentos

que estimulam os enfermeiros a buscar novos saberes para efetuar mudanças

significativas. As falas dos enfermeiros demonstram que até mesmo com pouco

tempo de formado existe uma forma de compromisso, um esforço para que ocorram

as trocas de conhecimentos e a transmissão de experiências. Reconheço que não é

fácil, pois não se aprende a ensinar, a transmissão da prática é um processo que flui

espontaneamente com suas dificuldades e restrições.

Os enfermeiros sentem a necessidade de se atualizarem, cursarem uma

especialização, um mestrado, mas alguns fatores também dificultam atingir este

objetivo. A falta de recursos financeiros associados à não liberação dos enfermeiros

pelo hospital para a realização de cursos, constitui um dos motivos mais freqüentes,

uma vez que os cursos de especialização têm custo elevado e colocar outro

enfermeiro para fazer o plantão enquanto ele vai para o curso também se torna caro

e eles não dispõem de condições para isto.

Através da observação de campo, no diálogo entre um enfermeiro e um

estudante, constatei esta dificuldade:

[...] o estudante, às vésperas de se formar, pergunta ao


enfermeiro se ele já se decidiu se irá fazer ou não o Curso de
Especialização em Cardiologia (...) ele [enfermeiro] responde que
no momento não vai ser possível porque é muito caro e não dá
para ele pagar sozinho... (Observação nº 4)

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66

Outro aspecto referente à necessidade de estar mais atualizado e capacitado

está relacionado ainda a posição que o enfermeiro ocupa em relação aos

estudantes. Uma relação de poder é estabelecida quando o enfermeiro tem

experiência e domínio da prática e o estudante está no papel de aprendiz em busca

de novas experiências, é o poder que o enfermeiro tem sobre esses estudantes.

Por outro lado, quando o enfermeiro percebe que desconhece outras

realidades que os estudantes dominam, tais como, um assunto recente que foi

discutido em congresso, um evento com a participação de profissionais de outros

estados com outras experiências, um trabalho que o estudante vai apresentar e o

enfermeiro não, ocorre uma inversão nessa relação de poder, ou seja, os estudantes

passam a ter o poder por dominar estes assuntos.

Acredito que para os estudantes esse poder não seja muito significativo e até

imperceptível em alguns momentos, porque eles estão apenas divulgando sua

participação como estudantes num processo de aprendizagem, mas o enfermeiro

entende que na função de preceptor é preciso estar sabendo mais, estar mais

atualizado sobre assuntos diversos e não somente dominar os conhecimentos

práticos. Este aspecto pode ser evidenciado na observação que se segue:

[...] o enfermeiro pede mais informação ao estudante acerca da


palestra sobre pós-operatório de cirurgia cardíaca que ele
[estudante] vai assistir em São Paulo (...) o estudante pergunta se
ele [enfermeiro] não vai para ficar mais atualizado...
(Observação nº 9)

Sob este aspecto Thompson (2002, p.79) destaca que as qualificações

associadas à posição social das pessoas numa instituição fornecem a essas

pessoas diferentes graus de poder. Neste caso aos enfermeiros é conferida uma

relação de poder sistematicamente assimétrica aos estudantes.

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A descoberta do gostar de ensinar foi percebida por quatro participantes do

estudo, como podemos constatar a seguir:

[...] eu não gostava muito dessa função de ensinar (...) achava até
desagradável (...) quando passei a conviver mais com os
estudantes eu mudei e passei a gostar, ao ponto de querer fazer
mestrado... (Van Gogh)

[...] no início eu não gostava muito de ficar com os estudantes, eu


achava que não ia saber ensinar a prática direito e que eles não
iam aprender por minha causa. Depois eu fui melhorando, fui
lendo alguns livros sobre o assunto que me ajudaram bastante,
hoje eu fico querendo ensinar tudo que sei... (Renoir)

[...] com o primeiro grupo de estagiários eu tinha até medo de falar


alguma coisa errada, eu sabia muito de terapia intensiva, mas
tinha dificuldade para ensinar. Uma vez pensei até em faltar ao
plantão para não ter que ficar com os estagiários. Mais tarde a
insegurança foi passando e eu também fui melhorando. (Degas)

[...] eu ficava pensando como eu poderia ensinar se eu não tinha


recebido nenhum treinamento específico no curso de graduação
para tal função, só o que o hospital forneceu, mas eu fui em frente
e agora todos gostam da minha forma de atuar com os estudantes
(Rembrandt)

Cabe ainda destacar que em uma das falas já descritas, um dos depoentes

(Van Gogh) mencionou “eu não gostava da função de ensinar...”. É sabido que

alguns enfermeiros que atuam na assistência não gostam da função de ensinar e

demonstram isto no dia-a-dia. Esta dificuldade apresentada está, na maioria das

vezes, relacionada ao despreparo que o enfermeiro sente quando termina o curso

de graduação e é solicitado a desenvolver atividades educativas, uma vez que os

cursos de graduação não preparam o estudante para a docência e, ensinar não é

simplesmente transmitir a prática.

Alguns depoimentos refletem a dificuldade e até mesmo o medo que alguns

enfermeiros enfrentam para desempenharem a função da preceptoria. Nem mesmo

aqueles com mais tempo de formado estão isentos do sentimento de insegurança

quando o assunto é ensinar a prática aos estudantes. Os mais novos apesar das

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68

dificuldades relacionadas ao pouco tempo de formação e do pouco domínio com a

aprendizagem, também procura superar estas dificuldades e fazer o melhor.

O despreparo para atuar com estudantes pode levar o enfermeiro a tomar

atitudes que o prejudiquem como o caso de querer faltar ao plantão para não ter que

acompanhar os estagiários. É importante que o enfermeiro sinta-se bem para que o

aprendizado seja dinâmico e produtivo.

Esta preocupação acerca do despreparo dos enfermeiros para o ensino, é

corroborado por Lima (1996, p.9) quando diz:

“... a maioria dos preceptores não teve formação didático-


pedagógica para assumir a função de ensino. Aqueles que
exercem, não são treinados para fazê-lo, transmitindo o saber de
maneira informal, eventual, sem obedecer a métodos de ensino,
oferecidos através de cursos de licenciatura ou outros cursos.”

Mais uma vez fica evidente que é necessário investir no profissional que vai

contribuir com seu conhecimento prático e teórico para a formação de novos

profissionais. É preciso fortalecer o desejo do enfermeiro que quer crescer e

apreender novos saberes. Orientar para a realização de cursos de mestrado e

doutorado para enriquecer seus conteúdos e suas ações voltadas para o ensino da

prática.

Somente à título de conhecimento, mesmo não estando relacionado às

mudanças evidenciadas pelos enfermeiros, dois dos nove entrevistados que fizeram

o curso de Licenciatura em Enfermagem relatam suas experiências que julgo serem

relevantes para melhor subsidiar o aspecto relacionado ao despreparo dos

enfermeiros para o exercício do ensino da prática:

[...] no curso de Licenciatura aprendi a falar com mais segurança


e domínio (...) assim vou explicando aos estudantes como se faz
aquela técnica seguindo um padrão que estabeleci... (Picasso)

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[...] depois que fiz o curso de Licenciatura ficou muito mais fácil
dar aula e ensinar em campo (...) eu aprendi a me organizar
melhor, usar mais a didática e a metodologia... (Matisse)

O conteúdo didático-pedagógico adquirido no curso de Licenciatura possibilita

uma articulação e uma integração mais participativa na relação enfermeiro-estudante

de enfermagem porque o enfermeiro passa a se utilizar de seus conhecimentos

adquiridos no curso para melhor direcionar os estudantes em campos de estágio.

Embora não esteja direcionado a preparar o enfermeiro para o ensino de nível

superior, considero que o curso de Licenciatura contribui significativamente para o

desempenho do enfermeiro quando este atua como preceptor com alunos de

graduação e residentes de enfermagem.

Os enfermeiros que não foram estimulados para o exercício do ensino, seja

ele nas instituições hospitalares ou em sala de aula, apresentam dificuldades como

as já relatadas e passam por um processo de mudança ao se descobrirem gostando

de ensinar a prática, muitas vezes motivados pelos próprios estudantes que os

consideram um professor. Desta forma percebo ser importante estar repensando a

relevância dos cursos de Licenciatura em Enfermagem que atualmente são pouco

procurados e que, com certeza, estariam contribuindo para as atividades educativas

dos enfermeiros assistenciais.

Portanto, considero que os estudantes de enfermagem são também

responsáveis pelas mudanças desencadeadas no cotidiano dos enfermeiros,

motivando-os a busca de novos conhecimentos e novas oportunidades.

Articulando o referencial teórico percebo que as relações de poder estão

presentes na análise de vários depoimentos e em situações diferentes. Mesmo

quando o enfermeiro sente que seu poder está ameaçado pelo conhecimento do

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70

estudante ele se sobrepõe às circunstâncias e estabelece novas relações de poder

sistematicamente assimétricas.

Nessa unidade reconheço como modo de operacionalização da ideologia a

Legitimação com a estratégia de Racionalização à medida que os enfermeiros

buscam novas fontes para se capacitarem e se atualizarem para atender a demanda

de solicitação dos estudantes, revendo valores para alcançar novos objetivos.

Outro modo empregado é a Dissimulação através da estratégia de

Deslocamento quando o enfermeiro percebe que desconhece outras realidades que

os alunos dominam transferindo momentaneamente o poder do enfermeiro para os

estudantes.

O modo da Fragmentação é evidenciado quando o enfermeiro relata não

gostar da função de ensinar demonstrando o desagrado no dia-a-dia, empregando a

estratégia da Diferenciação relacionada ao despreparo do enfermeiro em

desenvolver atividades educativas com os estudantes, desunindo em certas

circunstâncias estudantes e enfermeiros.

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71

II- ATUAÇÃO DOS ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO EM ESTÁGIO PRÁTICO

2.1 As expectativas dos estudantes de graduação

As expectativas dos estudantes quando ingressam no estágio extracurricular

são inúmeras e estão diretamente relacionadas ao fazer, ao exercício propriamente

dito da prática. É o sentimento de poder estar aprendendo, executando, adquirindo

conhecimentos e habilidades, uma busca pessoal por uma melhor qualificação, um

espaço diferenciado no mercado de trabalho.

Emerge dos relatos dos enfermeiros preceptores algumas expectativas dos

estudantes percebidas durante o estágio extracurricular tais como: a aquisição de

experiências, a busca pela liberdade do fazer, a oportunidade de aplicar seus

conhecimentos e desenvolver suas habilidades para conquistarem um espaço no

futuro.

A maioria dos participantes destaca a aquisição de experiências como uma

das expectativas dos estudantes no desenvolvimento do estágio extracurricular.

Estas expectativas podem ser evidenciadas nos seguintes depoimentos:

[...] o estágio extracurricular foi uma opção deles [estudantes],


uma perspectiva de futuro porque estão se formando e querem ter
mais experiência. (Van Gogh)

[...] a procura pelo estágio extracurricular é sempre um caminho


para a aquisição de novas experiências, uma vez que o objetivo
principal do estudante é exercer a prática com conhecimento...
(Rembrandt)

[...] percebo que o estudante deseja crescer, ter mais experiência,


atuar como futuro enfermeiro, pois falta pouco tempo para ele se
formar... (Picasso)

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72

Um dos motivos para que os estudantes procurem o estágio extracurricular é

a proximidade da conclusão do curso de graduação e consequentemente a

aquisição de experiências, fatores estes que criam no estudante um grau de

expectativa muito acentuada, pois muitos deles só conseguem fazer estágio

extracurricular nos dois últimos semestres do curso de graduação, alguns até no

último semestre, sobrando pouco tempo para que ele desenvolva suas atividades

práticas que o estágio proporciona.

A observação descrita demonstra esta expectativa:

[...] dois estudantes estão próximos à incubadora, um deles está


administrando a alimentação por gavagem, o enfermeiro observa,
os dois estudantes conversam sobre o crescimento profissional de
ambos no estágio, um deles relata que seu tempo vai ser mais
curto porque entrou no último período e vai deixar de ver muita
coisa...(Observação nº 9)

As expectativas são muitas e resumem-se na necessidade do estudante de

enfermagem em querer aprender, praticar, participar como futuro enfermeiro, é uma

busca de conhecimentos e experiências, para o início de uma vida profissional que

se aproxima.

É visível o empenho dos estudantes em poder participarem das atividades

assistenciais, de estarem estreitando sua relação de trabalho com os enfermeiros

nos setores onde estão escalados, e se relacionando com outros profissionais que

também estarão contribuindo para o seu crescimento.

Pottengill, Nunes e Barbosa (2003, p.458) ressaltam ainda que quando o

estudante consegue estabelecer os próprios objetivos, direcionando seu

aprendizado, aumenta sua autoconfiança e adquire mais autonomia, ajudando-o na

tomada de decisões.

Existe ainda um outro fator importante para o estudante que se refere a opção

dele pela procura do estágio. O fato dele sentir necessidade de buscar outros locais

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73

para desenvolver suas habilidades, faz com que ele estabeleça uma relação de

cobrança com ele mesmo, não foi imposto a ele a obrigação deste estágio, foi uma

opção permeada de motivos pessoais e profissionais, buscando outras

oportunidades de crescimento.

Cinco depoentes destacam a busca pela liberdade do fazer como outra

expectativa demonstrada pelos estudantes durante o estágio extracurricular.

Os depoimentos a seguir confirmam estas expectativas:

[...] muitos chegam aqui com sonhos de fazer todos os


procedimentos, de ter mais liberdade e de querer se tornar
enfermeiro do dia para a noite ...(Picasso)

[...] para o estudante o estágio extracurricular oferece mais


liberdade para ele realizar os procedimentos que ainda tem
dificuldade ou que ainda não teve oportunidade de realizar...
(Monet)

[...] um estudante me falou que ele se sente com mais segurança


pois tem mais liberdade para realizar determinadas técnicas...
(Miró)

[...] o estudante relata que o estágio extracurricular está sendo


muito produtivo porque ele tem mais liberdade em perguntar e
realizar o cuidado... (Michelangelo)

[...] um estudante durante o ensino da prática referiu que no


estágio extracurricular ele tem mais liberdade com o enfermeiro do
que com o professor. (Van Gogh)

Neste caminhar, Santos (2005, p.94) destaca que o que faz com que os

estudantes procurem o estágio extracurricular é a busca pela liberdade que se

confronta com o modo tradicional de se relacionar e de agir.

A liberdade neste caso está relacionada a uma independência conquistada

no exercer das atividades nos campos de estágio e ao seu desempenho como

estudante e quase profissional. A liberdade pode ser considerada um fator que

motiva o estudante e o impulsiona para o exercício do fazer, participando de todas

as atividades e adquirindo confiança.

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74

Esta liberdade está voltada também para um comportamento diferenciado

que o estudante passa a ter quando está na ausência do professor do curso de

graduação favorecendo o desenvolvimento da prática em seu local de estágio.

Na seguinte observação encontro alguns desses aspectos:

[...] o enfermeiro ao término de um cateterismo vesical realizado


por um estudante na UTI pergunta ao estudante o motivo de sua
escolha em realizar estágio extracurricular. Ele responde que é
uma oportunidade dele aprender a prática, adquirir mais confiança
e liberdade (...) e uma chance maior para ingressar em um
emprego... (Observação nº 4)

Thompson (2002, p.187) refere que “uma das características das formas

simbólicas é o aspecto estrutural na qual as formas simbólicas são construções que

exibem uma estrutura articulada”. Ou seja, são elementos que se colocam em

determinadas relações uns com os outros, e que podem se apresentar por

manifestações verbais, expressões ou textos.

Percebo que existe uma estrutura articulada que se apresenta na relação

estabelecida entre enfermeiros e estudantes de enfermagem pela forma como os

enfermeiros conduzem os estudantes no desenvolvimento do estágio, utilizando-se

de gestos, olhares, expressões escritas e verbais, possibilitando que a ideologia se

opere através dessas formas simbólicas.

A oportunidade dos estudantes em aplicar seus conhecimentos e desenvolver

suas habilidades foi outra expectativa que emergiu dos relatos de quatro

participantes do estudo.

Tais expectativas podem ser percebidas nos seguintes depoimentos:

[...] o estudante refere que aqui ele consegue fazer os


procedimentos, tem mais oportunidades para aprender e crescer
... (Matisse)

[...] já no início os estudantes são bem interessados e


participativos, querem aplicar na prática seus conhecimentos
teóricos e adquirir mais habilidades ... (Degas)

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75

[...] é visível a preocupação dos estudantes com a questão da


experiência que eles acham que é pouca e insignificante para a
realidade da prática, ele relata que precisa ter mais experiência...
(Degas)

[...] a maioria dos estudantes considera a aquisição de


experiências como fator de crescimento profissional e por isso
busca o estágio extracurricular. (Michelangelo)

O estudante quando se propõe a realizar um estágio extra ao que o curso de

graduação oferece anseia pela busca de outras oportunidades para enriquecer seus

conhecimentos. A maioria dos estudantes que fazem esta opção já concluiu mais da

metade das disciplinas da estrutura curricular e já pensam no seu futuro como

profissional. Ele tem conhecimento que a prática do enfermeiro é considerada

essencial no mundo do trabalho e ele precisa estar preparado para esta competição.

Outros enfermeiros ressaltam o interesse e a participação dos estudantes

logo ao ingressar nos campos de prática, é como um sonho no qual eles vivem o

papel de um profissional. É notória a satisfação por parte deles quando conseguem

participar efetivamente de um procedimento utilizando seus conhecimentos teóricos.

A seguinte observação confirma esse interesse:

[...] o enfermeiro pergunta ao estudante se ele sabe aspirar a


criança entubada e no respirador, ele responde que já fez duas
vezes e que gostaria de fazer sozinho mas com o enfermeiro
próximo, o enfermeiro deixa, o estudante executa corretamente e
fica muito contente...(Observação nº 1)

Percebo que o estudante que quer aprender supera dificuldades, mergulha no

aprendizado e atinge seus objetivos. É a vontade de querer aprender e fazer

conquistando seu espaço no mercado de trabalho, aplicando conhecimentos e

adquirindo experiências.

Sobre este aspecto, Santos (2003, p. 69) destaca que o ensino teórico deve

ser baseado na aplicabilidade, mas nem sempre os campos de prática permitem que

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o estudante adquira tão rapidamente estas habilidades que eles tanto almejam.

Portanto, justifica-se a necessidade que os estudantes sentem em procurar cada vez

mais outros campos de estágio para adquirir experiências.

Reconheço nestes depoimentos a estratégia de Racionalização do modo

operacional de Legitimação, no qual o estudante procura justificar sua opção pela

realização do estágio extracurricular por meio do interesse, das oportunidades do

campo prático e da aquisição de experiências. Outra estratégia encontrada do

mesmo modo operacional diz respeito à Universalização, uma vez que o estágio

extracurricular pode servir aos interesses de todos os estudantes, mas é uma opção,

uma escolha pessoal de cada um, indo em busca de novas perspectivas de

crescimento como estudante.

A Unificação através da estratégia de Padronização é percebida na interação

dos estudantes com os enfermeiros em campo de estágio, estreitando a relação de

trabalho entre eles e favorecendo o relacionando com outros profissionais em busca

de novas experiências que enriqueçam o aprendizado.

2.2 As contribuições do estágio extracurricular para a formação dos

estudantes de graduação

Todos os enfermeiros entrevistados consideram que o estágio extracurricular

contribui para a formação dos estudantes de graduação, interferindo nas suas

escolhas futuras, direcionando-os para os cursos de pós-graduação e possibilitando

mais segurança e autonomia.

Cinco depoentes citam que esse tipo de estágio interfere nas escolhas futuras

dos estudantes indo em busca de melhor qualificação.

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77

[...] o estágio interfere nas escolhas futuras dos estudantes,


direcionando-os para os cursos de pós-graduação, nas diversas
especialidades...(Picasso)

[...] o estudante já termina o estágio querendo fazer uma


especialização... (Rembrandt)

[...] é muito enriquecedor para o estudante pois permite que o


estudante coloque em prática o que vem aprendendo (...) vivencia
dificuldades e novas possibilidades (...) é uma forma de
qualificação do estudante... (Renoir)

[...] o estudante já vem com o pensamento de que só o Curso de


Graduação não é suficiente (...) chegando aqui ele tem certeza da
importância de uma especialização... (Degas)

[...] ele (estudante) já sabe que o mercado de trabalho exige um


profissional com mais experiência, mesmo como recém formado,
e por isso ele busca novas oportunidades... (Miró)

A assistência de enfermagem está cada mais especializada, sendo difícil para

os estudantes de graduação adquirirem conhecimentos a respeito deste universo de

informações. Os estágios curriculares nem sempre conseguem que todos os

estudantes desenvolvam atividades em setores especializados ou que experienciem

situações específicas que necessitam de conhecimentos também específicos. Em

alguns casos, como o tempo em que o estudante fica em determinado setor costuma

ser maior no estágio extracurricular, a permanência deles em campos de prática

acaba sendo mais bem aproveitada em conseqüência de estarem em contato direto

com a prática, explorando as oportunidades, aprendendo com outros profissionais e

se espelhando no tipo de enfermeiro que ele será.

Consequentemente emerge dessa experiência um desejo de crescer e se

capacitar melhor e, para que isto o ocorra pensa na proposta de ingressar logo após

o término da graduação em um curso de especialização, algumas vezes motivados

pelos setores especializados que eles ficaram durante o estágio, e também pelo

convívio com os enfermeiros especialistas. O mercado de trabalho exige muito do

enfermeiro no que se refere a sua qualificação, atualmente nos critérios de seleção

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78

para uma vaga exige-se além da experiência cursos de especialização, e o

estudante tem conhecimento desta realidade, portanto vai à busca dessa

qualificação. Como podemos ver neste estudo a maioria dos enfermeiros

entrevistados são especialistas o que motiva ainda mais o estudante a cursar uma

especialização.

Outra contribuição do estágio extracurricular apontada pela minoria dos

entrevistados está relacionada à autonomia e segurança no desenvolvimento das

práticas dos estudantes. Em dois depoimentos o sentimento de autonomia para o

estudante é referenciado como um aspecto importante na sua prática profissional

porque ele vai adquirindo mais conhecimentos, habilidades e poder decisório para a

resolução de problemas.

Os relatos a seguir demonstram isso:

[...] o estágio extracurricular dá mais segurança e autonomia para


o estudante se impor (...) vai adquirindo mais conhecimentos
teórico-científico, habilidades e experiências.... (Renoir)

[...] com o decorrer do estágio o estudante vai tendo mais


autonomia pois já consegue resolver os problemas com mais
segurança e conhecimento... (Rembrandt)

A autonomia é uma conquista que os estudantes de enfermagem agregam no

exercício da prática, e está relacionada com a segurança que o dia-a-dia oferece,

fortalecendo os estudantes com suas experiências adquiridas e permitindo a ele ter

uma postura de alguém que conhece acerca do assunto.

Neste aspecto Rodrigues e Leitão (2000, p.219) ressaltam que:

“ na orientação do estágio o sentimento de autonomia surge a


partir dos estudos, do manejo de métodos e técnicas e da
interação com os clientes. Tal orientação visa contribuir para
incentivar ou aperfeiçoar a responsabilidade profissional”.

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79

A autonomia está muito mais relacionada ao exercício da prática, porque

possibilita o poder decisório nas ações, na implementação de cuidados e nas

atitudes a serem tomadas, portanto os campos de estágio têm grande importância,

pois é na realização da prática que se fortalece os conhecimentos técnico-científico

para conquistar a autonomia.

Ainda outros aspectos são considerados pelos enfermeiros acerca dos

estudantes em campos de estágio, entre eles a aquisição de mais conhecimentos,

habilidades e experiência associando a teoria à prática.

A observação que se segue expressa esta realidade:

[...] o setor de Emergência está muito cheio (...) o enfermeiro junto


com o estudante vai avaliando os casos mais graves (...) a mãe da
criança relata uma febre muito alta acompanhada de sonolência
(...) o estudante sugere ao enfermeiro fazer um antitérmico e um
banho para diminuir a temperatura, o enfermeiro concorda e pede
para ele avisar ao médico e registrar o que está sendo feito na
ficha de atendimento. (Observação nº 2)

Reconheço, portanto, que o estudante ao longo de sua permanência pelo

setor, vai adquirindo conhecimento e sente-se com mais segurança para decidir

sobre as condutas mais adequadas para cada caso, respaldado na concordância do

enfermeiro acerca da conduta adotada.

Identifico neste contexto a Legitimação como modo operacional da ideologia

na qual o enfermeiro sustenta a conduta do estudante considerando-as justas e

dignas de apoio para a situação apresentada. Quando o enfermeiro concorda com a

ação do estudante ele se utiliza da Racionalização como estratégia, construindo

uma cadeia de raciocínio com argumentos que apoiam essa conduta.

No que diz respeito a importância do estágio extracurricular, concordo com

Costa (2005, p.103) que considera que: “o aprendizado no estágio prático hospitalar

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80

para o estudante de enfermagem torna-se importante para a aquisição de

habilidades práticas, fazendo um elo com o conhecimento teórico-científico”.

Considero o estágio extracurricular de grande relevância para os estudantes

de enfermagem, porque, independente da proposta de crescimento profissional de

cada estudante existe o compromisso individual de cada um consigo mesmo,

permeada pela sua ideologia que irá orientá-lo no cotidiano da profissão.

O estágio extracurricular pode ser visto como uma oportunidade do estudante

em desenvolver na prática o que aprendeu em sua escola de origem ao longo dos

anos do curso de graduação. Não deve ser considerado como simplesmente mais

um campo de prática e de aprendizado e nem sempre como uma experiência

positiva. Participar de um estágio extracurricular também tem suas facilidades e

dificuldades.

Um único depoente fez um comentário a esse respeito:

[...] o estágio extracurricular costuma trazer muitas contribuições


para o estudante mas também pode, com menos freqüência,
trazer resultados negativos em conseqüência de variadas
situações vivenciadas e da filosofia de cada instituição como
campo de estágio. (Monet)

Dentre as contribuições que o estágio extracurricular oferece aos estudantes

de graduação, Santos (2005, p.135) em sua tese de doutorado destaca alguns

benefícios como: acelerar a aplicação prática dos conhecimentos teóricos obtidos na

escola, motivar o estudo, contato como futuro campo profissional, perceber as

próprias deficiências e buscar seu aprimoramento, incentivar a observação e

comunicação concisa de idéias e experiências por meio das tarefas realizadas e

incentivar o exercício de senso critico e estimular a criatividade.

Quatro enfermeiros destacam que a realização do estágio extracurricular pelo

estudante de enfermagem é um fator facilitador para o ingresso deste futuro

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81

enfermeiro no seu primeiro emprego, uma vez que o estudante que procura um

estágio extra ao que o curso de graduação oferece tende a adquirir mais

experiências com o desenvolver da prática do seu dia-a-dia. Isso pode ser

comprovado nas seguintes falas:

[...] o estágio extracurricular é importante para conseguir o


primeiro emprego, é um diferencial para o mercado de trabalho
entre quem fez e quem não fez estágio extracurricular...(Degas)

[...] para o empregador fica mais fácil contratar um recém-formado


que tenha feito um estágio extracurricular porque ele já tem uma
vivência maior da prática... (Miró)

[...] contratar recém-formado é muito difícil, o estágio


extracurricular ajuda bastante... (Picasso)

[...] a concorrência de mercado é muito grande, sem outras


experiências extracurso dificulta um pouco, porque quem fez
ocupa a vaga. (Renoir)

A questão do primeiro emprego é muito discutida entre os estudantes, uma

vez que todos desejam trabalhar após o término do curso, e para tanto qualquer

diferencial é importante para a competição no mercado de trabalho. A aquisição de

maior experiência da prática associada à segurança e autonomia torna-se um fator

competitivo entre os estudantes na disputa de uma vaga. O empregador também

tem seus critérios e suas necessidades que vai depender da filosofia de cada

empresa, pois existem programas dentro de empresas que absorvem o profissional

recém-formado.

Ainda nesta linha de pensamento, Santos (2005, p.4) enfatiza que

outro motivo para a busca desta modalidade de estágio é a declaração fornecida ao

estudante ao término do estágio pois fortalece seu poder de competição no mercado

de trabalho na conquista de uma vaga. É mais um diferencial que contribui para o

acesso ao primeiro emprego.

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82

A observação a seguir demonstra a preocupação do estudante em conseguir

um emprego:

[...] o estudante conversa com o enfermeiro da Emergência sobre


a importância do estágio extracurricular para conseguir um
emprego, porque ele acha que é mais fácil quando se tem mais
alguma experiência além do que a escola oferece (...) e conta que
um colega que já se formou conseguiu ser contratado no hospital
onde fez o estágio extracurricular... (Observação nº 8)

No Prontobaby Hospital da Criança, a filosofia institucional adotada é a

contratação do estudante após a sua formação, partindo de critérios de seleção

pautados no desenvolvimento do estudante durante o período de estágio. O

propósito do programa de estágio extracurricular, desde o seu início, é estar

investindo neste estudante para uma futura admissão, estimulando inclusive, a

importância de cursar uma especialização para atender ao perfil do hospital.

O estudante que é selecionado para ser contratado pela empresa, nos dois

últimos meses antes da conclusão da graduação, já inicia seu treinamento no setor

que irá atuar, desempenhando suas atividades junto ao enfermeiro que irá conduzir

o treinamento. Existe todo um movimento por parte dos enfermeiros no sentido da

contratação destes estudantes, uma vez que os enfermeiros foram seus preceptores

de ensino, sendo, portanto, uma forma de reconhecimento do trabalho destes

enfermeiros no ensino da prática, contribuindo para a formação de profissionais

competentes. O Programa de Estágio Extracurricular existe há três anos e já

recebemos quatorze estudantes, sendo oito deles contratados pela instituição.

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83

Reconheço neste contexto a Legitimação como modo de operar da ideologia

utilizando a Universalização como estratégia percebida no momento em que os

estudantes buscam adquirir habilidades técnicas no estágio extracurricular para

terem mais oportunidades de serem bem sucedidos no mercado de trabalho.

Os estudantes em estágio extracurricular encontram-se em constante

aprendizado, aplicando seus conhecimentos e aprendendo outros que vão surgindo

nos campos de prática. O contato diário dos estudantes com situações pouco

vivenciadas na prática dificulta o desempenho de algumas ações, levando-os a

buscarem conhecimentos com enfermeiros, principalmente os especialistas, que

dominam o assunto.

Neste sentido o conteúdo teórico e prático dos enfermeiros especialistas é de

grande relevância para o estudante porque favorece o seu contato com informações

enriquecedoras para o seu conhecimento. Não estou considerando aqui que o

enfermeiro que não é especialista não detém conhecimento suficiente para o ensino

da prática e para atuação em setores especializados, e sim que, atualmente existe

uma procura e uma necessidade maior por parte dos enfermeiros e também das

instituições voltada para a especialização por oferecer um conteúdo significativo de

conhecimentos dentro da especialidade. E, consequentemente, poder ofertar aos

estudantes um campo de conhecimento mais explorado.

O contato com situações específicas estimula no estudante o desejo de se

apropriar deste novo conhecimento, o que exige por parte do enfermeiro um

comprometimento em atender às necessidades de aprendizado deste estudante,

mas que em determinadas situações pode não acontecer de forma que venha

contemplar os propósitos daquele momento.

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84

A seguinte observação comprova este pensamento:

[...] o enfermeiro de um setor informa ao estudante que haverá


um procedimento do qual ele ainda não participou, no setor de QT
(...) o estudante pergunta sobre o procedimento ao enfermeiro do
setor de QT que diz que, no momento, está ocupado e que
explicará mais tarde (...) o estudante permanece no setor
acompanhando o procedimento, porém só no final o enfermeiro
explica ao estudante sobre o que foi feito... (Observação nº 7)

Na concepção de Thompson (2002, p.190) “formas simbólicas são

construções que tipicamente representam algo, referem-se a algo, dizem algo sobre

alguma coisa”. Ou seja, uma forma simbólica pode, em um determinado contexto,

substituir ou representar um objeto, um indivíduo ou uma situação.

O mesmo autor (p.193) acrescenta ainda que o modo como uma forma

simbólica é compreendida pelos indivíduos pode depender dos recursos e

capacidades que eles empregam para interpretá-las, como podemos observar no

comportamento do enfermeiro com o estudante que permanece no setor mesmo

sem a devida atenção do enfermeiro, que só parou para explicar e orientar ao final

do procedimento.

Reconheço nesta observação o enfermeiro como detentor do saber, utilizando

a estratégia de Diferenciação através do modo de Fragmentação, não oferecendo a

integralidade da informação ao estudante no momento necessário, permitindo que

ele procure outras fontes que possam ajudá-lo na compreensão do novo

conhecimento, porque para o estudante o campo de estágio é um cenário de

aprendizado que ele pretende explorar para aumentar seus conhecimentos.

A Dissimulação também pode ser percebida quando o enfermeiro desvia a

atenção e omite sua participação junto ao estudante utilizando o Tropo como

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estratégia da ideologia, dissimulando as relações de poder quando o enfermeiro

refere “estar ocupado e que explicará mais tarde”. O enfermeiro neste momento

assume seu poder institucional em relação às atitudes com o estudante, fazendo-o

esperar até que disponha de tempo para orientá-lo.

Neste depoimento fica bem caracterizada a distinção de poder que, segundo

Thompson (2002, p.199) é a capacidade do indivíduo agir na busca de seus próprios

objetivos e interesses e está ligada à posição do indivíduo dentro de uma instituição,

permitindo diferentes formas simbólicas para tomar decisões.

Para melhor fundamentar este contexto busquei nos estudos de Telles (2003,

p.81), analisado sob a luz de Thompson que a Dissimulação como ideologia também

foi percebida quando os enfermeiros negaram e obscureceram as relações de

dominação omitindo em seus depoimentos fatos importantes,

Com referência ao que se fala inconscientemente, o mesmo autor

(Thompson, p.185) esclarece que o significado das formas simbólicas pode ser

muito mais complexo do que o significado que originalmente quis dizer, podendo ser

obscuro, confuso ou incoerente, uma vez que o sujeito pode ter tido várias

intenções, inclusive as inconscientes.

Neste aspecto percebo que, mesmo que inconscientemente, os enfermeiros

colocam-se na posição de quem domina o saber, as informações e o conhecimento

prático-científico diferenciando-os dos estudantes, visto que a relação enfermeiro-

estudante em campos de estágio denota a idéia de que o enfermeiro ensina e o

estudante aprende.

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2.3 O desenvolvimento das atividades: o saber e o fazer dos estudantes

O campo de estágio constitui para os estudantes o local onde eles poderão

estar em contato com o que aprenderam em sala de aula e o desenvolvimento das

habilidades práticas dentre outros. As atividades desenvolvidas no campo prático

destinam-se ao crescimento intelectual dos estudantes e não apenas no executar da

prática. São momentos de grande relevância para o estudante e futuro profissional,

pois pretende fornecer aos estudantes subsídios valiosos para sua vida profissional.

Para os estudantes é a oportunidade de fazer o que aprenderam, para o enfermeiro

é a preocupação em ensinar a prática respaldada nos princípios éticos do cotidiano

hospitalar.

Os enfermeiros entrevistados destacam alguns aspectos importantes que

surgem no desenvolvimento das atividades práticas dos estudantes em estágio

extracurricular como o saber em sala de aula, o desenvolvimento de habilidades

práticas, a ansiedade e o medo, a experiência com a morte e as atividades

desenvolvidas.

Dois depoentes destacam o saber em sala de aula como fator importante para

o desenvolvimento das atividades práticas:

[...] o estágio permite ao estudante aplicar na prática o que ele


aprendeu em sala de aula... (Picasso)

[...] o estágio é o momento de desenvolver o que o estudante


aprendeu em sala de aula (...) é o complemento prático... (Renoir)

O fazer dos estudantes em campos de estágio vai ao encontro do saber que

eles adquirem nos cursos de graduação, em sala de aula e nos campos de prática

que a escola proporciona, já que dependendo do currículo do curso o estudante já

passou pela experiência da prática, sendo o grande responsável pelo conhecimento

científico e pelas técnicas desenvolvidas pelos estudantes. Não há como

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desenvolver uma boa prática sem a âncora de sustentação oferecida na sala de

aula. É este professor que vai fortalecer a base de todo o aprendizado possibilitando

a aquisição de novos conhecimentos.

Neste caminhar, Berardinelli (1998, p.81) em seu estudo descreve que “a

vivência de sala de aula, além de favorecer a aquisição de conhecimentos novos ,

favorece a interação entre aluno e a realidade externa, entre o mundo interno e o

mundo externo”.

Desta forma, o aprendizado teórico apreendido na sala de aula norteia o

caminhar dos estudantes nos campos de prática no desenvolver do estágio

possibilitando a integração desses conhecimentos com as atividades práticas,

partindo do princípio que ambos se completam.

Nas falas dos enfermeiros surge a Legitimação como modo de

operacionalização, tornando dignos de apoio o saber dos estudantes adquirido em

sala de aula através da estratégia de Racionalização que defende e justifica esse

saber através do poder dos estudantes no desenvolvimento de suas atividades.

A possibilidade de participar efetivamente da rotina de um hospital e de poder

acima de tudo estar desenvolvendo suas habilidades práticas constitui o fator de

maior motivação dos estudantes durante o período de estágio. A necessidade do

saber fazer a prática se faz presente nas falas de três depoentes, é a oportunidade

do estudante de estar realizando uma prática que ainda não realizou e ainda outras,

mais específicas e complexas que não tinha tido sequer contato.

[...] aqui o estudante faz a prática que às vezes ainda não


conseguiu realizar na faculdade (...) ele tem a liberdade, junto com
o enfermeiro, do poder aprender e poder fazer (Degas)

[...] o estudante também deseja saber executar bem a prática


porque ele já vai se formar e depois para trabalhar tem que saber
fazer... (Rembrandt)

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[...] quando o estudante chega para estagiar ele quer aprender o


que ainda tem dúvida, às vezes ver na prática o que só aprendeu
na teoria... (Picasso)

Os estágios, de acordo com Deves e Nunes (2001, p.76) podem ser

considerados como a melhor maneira do estudante testar seus conhecimentos,

esclarecer dúvidas, questionar e, acima de tudo, aprender, favorecendo a interação

entre a teoria e a prática.

Corroboro com o autor enfatizando que é também o sentimento de liberdade

do estudante, do poder fazer e do poder aprender que se observa na interação

enfermeiro-estudante durante o estágio. O conhecimento teórico adquirido durante o

curso de graduação fortalece esse desejo de querer colocar em prática o que

aprendeu na teoria. Somando-se a isso está a perspectiva de sua atuação como

futuro enfermeiro no mundo do trabalho, onde é exigido do enfermeiro conhecimento

e destreza da prática.

A seguinte observação ressalta a necessidade do estudante em desenvolver

a prática:

[...] o estudante comenta com o enfermeiro como é difícil


puncionar um acesso venoso na UTI neonatal, o enfermeiro
explica que com o tempo nossa habilidade vai melhorando. O
estudante responde que precisa praticar muito porque só a teoria
não resolve... (Observação nº 4)

Seguindo ainda este raciocínio no que se refere a prática, Fazenda (1994,

p.65) considera que a prática poderá auxiliar o estudante a compreender e enfrentar

o mundo do trabalho, unindo teoria à prática.

A questão acerca da teoria e da prática é sempre motivo de discussão entre

os estudantes que em alguns casos acabam considerando o domínio da prática

muito mais importante porque é um divisor de conhecimentos, no qual quem tem

mais habilidade prática tem mais inserção no mundo do trabalho.

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89

Estudos recentes como os de Scherer, Scherer e Carvalho (2006, p.288)

ressaltam essa discussão quando descrevem que:

“Há dicotomia entre o discurso e a ação, entre a teoria e a prática,


na qual o aspecto expressivo da assistência de enfermagem é
pouco desenvolvido em comparação ao aspecto instrumental que
continua tendo maior atenção por parte dos enfermeiros”.

Percebo que por maior que seja nosso esforço para associar o conteúdo

teórico com a prática para estudantes e enfermeiros ainda há uma resistência na

aceitação funcional desta associação dificultando o dia-a-dia da prática. O próprio

depoimento acima sinaliza esta dificuldade destacando que o aspecto instrumental

continua tendo maior atenção por parte dos enfermeiros.

Visualizo neste contexto que discute a execução da prática pelos estudantes

de enfermagem a Legitimação como modo da ideologia, perseguindo seus ideais e

objetivos utilizando como estratégias a Racionalização e a Universalização,

persuadindo a todos que o aprendizado da prática é um diferencial na vida do futuro

profissional dependendo da habilidade individual de cada estudante.

É no desenvolvimento das atividades práticas que sensações e sentimentos

se manifestam em maior ou menor grau, que pode depender de condições pessoais

ou advindas do próprio local onde os estudantes realizam o estágio, são sentimentos

relacionados às várias situações do cotidiano que faz o estudante refletir sobre sua

real condição social.

Isto pode ser observado nos relatos de três depoentes:

[...] no início alguns estudantes sentem medo e ansiedade ao


realizarem os procedimentos... (Michelangelo)

[...] o contato com o novo, o hospital, as pessoas, os pacientes,


as novas responsabilidades são fatores geradores de ansiedade e
medo... (Picasso)

[...] tem momentos que o estudante sente medo em assistir um


doente e fazer algum procedimento, é sempre bom estarmos

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90

presentes quando percebemos essa angústia e também


conversarmos com o estudante... (Van Gogh)

Ainda nesta linha de pensamento, Costa (2005, p.134) identifica que a

ansiedade, o nervosismo e o medo que muitos estudantes sentem ao

desenvolverem seus primeiros procedimentos no cenário prático hospitalar podem

interferir na qualidade do aprendizado, sobretudo se os estudantes não têm a

liberdade para verbalizar e superar suas dificuldades.

Concordo com a autora, uma vez que não é fácil para o estudante o contato

com o novo ou com situações que implicam em domínio do conhecimento e

capacidade para o aprendizado.

Este aspecto pode ser constatado pelo trabalho de campo descrito nestes

dois trechos:

[...] o olhar do estudante mostra insegurança e medo de errar,


está nervoso e suas mãos tremem ao segurar o ambú, vou
orientando como ele deve proceder... (Observação nº 3)

[...] o estudante foi ajudar o enfermeiro em um procedimento


invasivo, a mãe da criança estava junto e chorava muito, o
estudante não suportou e saiu chorando... (Observação nº 7)

O hospital como campo de estágio é o local preferido pelos

estudantes uma vez que é nele que a maioria das ações de enfermagem vão se

desenvolver. Entretanto outros fatores de cunho sentimental podem interferir no

processo de aprendizagem. É importante para o estudante que o enfermeiro esteja

presente nestes momentos de dificuldade, oferecendo apoio e segurança,

orientando e dividindo as expectativas.

Uma outra observação pode reforçar este pensamento:

[...] o enfermeiro se dirige ao estudante que prepara o material


para um curativo cirúrgico, parando e conversando com ele sobre
o episódio de outro dia referente a um procedimento que ele não
terminou solicitando que outro enfermeiro assumisse (...) ele
explicou que não conseguiu continuar porque a criança pedia para

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não machucá-la e o pai também, o estudante relatou que sentiu-


se mal e quase desmaiou (...) o enfermeiro explica que isto pode
acontecer com qualquer profissional, mesmo com os mais
antigos...(Observação nº 5)

Pode parecer que tudo no hospital é normal e faz parte do cotidiano dos

estudantes e dos profissionais de uma forma geral, mas cada ser é único, com

sentimentos, emoções, formas de agir e reagir. Lidar com o sofrimento e com a dor

merece uma atenção maior, por parte dos enfermeiros e dos estudantes, do que

simplesmente falar que no hospital tudo isso é normal.

É necessário reconhecer como cada gesto, expressão ou atitude, como

formas simbólicas, pode interferir na vida acadêmica de cada estudante,

dependendo da forma como é transmitida e entendida por ele.

Reconheço nestas situações a Fragmentação como modo de

operacionalização da ideologia proposto por Thompson no qual os pacientes se

transformam num desafio para os estudantes que se sentem fragilizados e

fragmentados em suas ações e seus sentimentos. O Expurgo do outro é a estratégia

utilizada neste caso porque retrata o paciente como perigoso e ameaçador para o

estudante e do qual ele deverá resistir para que o processo de ensino-aprendizado

aconteça de forma significativa.

Outro modo operacional identificado diz respeito à Unificação quando o

enfermeiro reconhece a dificuldade do estudante em conviver com as situações de

insegurança, angústia e tristeza, porque ele também já passou, ou passa em alguns

momentos, por estas mesmas situações. A estratégia utilizada é a Padronização

quando o enfermeiro se une ao estudante partilhando as mesmas dificuldades e

necessidades percebidas, mostrando que tais sentimentos fazem parte do dia-a-dia

de enfermeiro e estudantes.

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Uma situação importante a ser considerada, ainda relacionada a ansiedade e

medo, está relacionada ao fato de vivenciar a morte que ainda é muito difícil para a

maioria dos estudantes de graduação. Embora estando grande parcela do seu

tempo dentro de um hospital experienciar situações de morte é descrito pela maioria

dos enfermeiros como um dos momentos mais delicados.

Os seguintes depoimentos demonstram estes sentimentos:

[...] quando alguma criança morre o estudante tem muita


dificuldade, não sabe o que falar ou o que fazer, às vezes
chora...(Van Gogh)

[...] eu não gosto de lidar com a morte, fico triste em ver a família
sofrer, principalmente quando é criança... (Matisse)

[...] a morte parece o fim de tudo, é difícil para mim explicar ao


estudante como deve se comportar, às vezes também choro,
embora sabendo que é normal, que faz parte da nossa profissão...
(Miró)

A morte envolve diversos sentimentos, os quais, muitas vezes os estudantes

ainda não tinham tido contato. O momento da morte implica na participação de

diversos atores que fazem parte deste cenário como profissionais de saúde,

familiares, religiosos e outros, cada qual tendo uma conduta pessoal para o lidar

com a morte. A morte é o sentimento máximo de constatação da perda e, na grande

maioria das vezes, o ser humano não está preparado para aceitar este fato.

Para cada estudante também existe uma reação muito particular porque o

morrer não parece fazer parte de sua realidade. Mesmo nos campos de estágio o

contato dos estudantes com a morte ainda é pouco presenciado e discutido. Alguns

enfermeiros também sentem dificuldade em falar e agir nestes momentos, mesmo

sabendo que a morte está presente na vida do enfermeiro.

A morte ocorrida no hospital de pediatria tem uma conotação ainda maior por

conta da perda para os pais, aumentando o sofrimento da equipe. É um momento de

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fragmentação entre estudantes e equipes de enfermagem, no qual cada um percebe

e reage de uma maneira.

Inseridos nesse contexto, Poles e Bousso (2006, p.208) ressaltam que

embora a morte esteja presente no cotidiano do enfermeiro e do estudante, observa-

se dificuldade do profissional, não apenas em aceitar, mas como lidar de modo

adequado à situação, principalmente, quando envolve uma criança e sua família.

Através da observação de campo pude perceber esta dificuldade:

[...] a criança não resiste e morre (...) inicia-se os cuidados com o


corpo pós-morte, é dada a notícia aos familiares (...) a estudante
quase não fala, ainda está assustada com toda a situação
vivenciada e pede para sair do setor (...) um dos enfermeiros
explica que é assim mesmo, que faz parte da profissão
(Observação nº 3)

A experiência com a morte ainda é difícil para o estudante que vivencia

situações e atitudes diferentes para cada caso. O grau de envolvimento torna-se

muito grande e exige também um esforço emocional que interfere nas atitudes

pessoais de cada um, principalmente para aqueles que nem sempre estão em

contato com a morte. A participação do enfermeiro apoiando o estudante é

fundamental neste momento.

Reforçando a observação evidenciada na pesquisa de campo, Santos,N

(1996, p.94) analisando os depoimentos de estudantes de enfermagem

experienciando situações de morte, destaca que:

“ nem sempre o estudante de enfermagem tem a oportunidade de


ter experiências referentes às situações que envolvem a morte
durante a sua formação profissional. Entretanto ao participarem
dos estágios extracurriculares, os estudantes de enfermagem
podem ter essas experiências, que não tiveram durante o curso de
graduação.”

O experienciar a morte nem sempre é vivenciada durante o curso de

graduação, pois o estudante tem diversos focos de estudo durante o período de

estágio, o que pode contribuir para a pouca experiência com a morte, mesmo porque

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94

este é um assunto pouco discutido entre equipe multiprofissional e estudantes de

graduação.

Reconheço a Unificação como modo operacional da ideologia, unindo

enfermeiros e estudantes num sentimento único independente das diferenças que

possam separá-las, participando das dificuldades vivenciadas no momento da morte,

permitindo que o estudante expresse suas ansiedades e necessidades. Identifico a

Padronização como estratégia utilizada quando o enfermeiro tenta mostrar ao

estudante que a morte é um acontecimento normal, que faz parte do contexto do

hospital e da equipe de enfermagem.

A Reificação como modo de operacionalização da ideologia também se

manifesta no momento em que o estudante percebe as situações de morte como

permanente e natural, quando na verdade ela é transitória e momentânea. Como

estratégia identifico a Naturalização, quando o enfermeiro ressalta que a morte é um

processo normal na vida dos profissionais da área de saúde, esquecendo que a

morte também é um processo social e histórico e, portanto, deve ser entendido e

respeitado.

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III- FACILIDADES, DIFICULDADES E ESTRATÉGIAS DA PRÁTICA DOS


ENFERMEIROS EM ESTÁGIO PRÁTICO

3.1 Facilidades da prática dos enfermeiros com estudantes de graduação

Os enfermeiros que atuam com os estudantes de graduação consideram

importante identificar fatores que contribuam para melhorar o ensino da prática junto

aos estudantes de graduação. Emergiram, portanto, dos relatos de enfermeiros

preceptores, alguns aspectos importantes como o gostar de ensinar a prática, a

interação positiva entre enfermeiros e estudantes e a motivação e o interesse dos

estudantes associado ao campo de aprendizagem.

Dentre os nove enfermeiros que participam deste estudo três depoentes

destacam o gostar de ensinar a prática como aspecto facilitador evidenciado nas

suas experiências com estudantes de enfermagem:

Esta facilidade pode ser constatada nos depoimentos que transcrevo a

seguir:

[...] eu gosto muito de ensinar e tenho facilidade em passar o que


sei (...) porque para ensinar o enfermeiro tem que gostar...
(Matisse)

[...] apesar de algumas dificuldades, sempre encontro uma forma


de estar ensinando aos estudantes porque além de considerar
importante para eles também gosto de ensinar, mas às vezes o
tempo é pouco... (Michelangelo)

[...] eu gosto de ensinar, principalmente a parte prática (...) os


estudantes também gostam e é bom porque facilita o
aprendizado... (Picasso)

Um dos aspectos que já foi citado em outra unidade e não pode deixar de ser

considerado aqui diz respeito ao fato do enfermeiro realmente gostar do que faz,

pois esse sentimento faz com que as ações, as atitudes e as reflexões sejam

permeadas de pontos positivos para o alcance de seus objetivos.

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96

É de nosso conhecimento que o ensinar a prática é um processo lento e às

vezes difícil, que exige do enfermeiro e do estudante um comprometimento e uma

dedicação mútua, no qual estes personagens vivem papéis distintos; do enfermeiro

que ensina a prática e do estudante que aprende. É necessário o enfermeiro dispor

do seu tempo no setor em que atua para estar participando ativamente da

aprendizagem do estudante, de estar acompanhando seu desempenho,

compartilhando erros e acertos e buscando novos conhecimentos.

A observação a seguir reforça alguns desses aspectos:

[...] o enfermeiro convida o estudante de graduação e um técnico


de enfermagem para ir com ele realizar um curativo cirúrgico com
retirada de dreno (...) ele vai explicando passo a passo (...) os
estudantes fazem várias perguntas (...) o enfermeiro pede para
que um dos estudantes de graduação termine o procedimento
realizando o curativo.(Observação nº 2)

A prática do enfermeiro em passar o conhecimento por meio de suas

experiências, do gostar, e do querer compartilhar, segundo Berardinelli (1998, p.178)

são necessárias no fazer da preceptora. Os enfermeiros somam esforços utilizando-

se de suas experiências nos setores que atuam para favorecerem aos estudantes

condições adequadas ao aprendizado. O gostar de ensinar não está associado

somente ao ser profissional, mas também ao componente pessoal de cada

enfermeiro, de sua própria ideologia, de sua capacidade de se comunicar, de ouvir e

de participar das atividades dos estudantes.

Em vista a estas colocações que se concentram na ação prazerosa que os

enfermeiros sentem em estar ensinando a prática ao estudante identifico a

Legitimação como modo operacional da ideologia presente nos depoimentos dos

enfermeiros legitimando suas ações como justas e dignas de apoio, utilizando a

estratégia da Racionalização defendendo seus objetivos dentro da instituição social.

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A interação positiva entre enfermeiros e estudantes é outra facilidade

apontada por três depoentes:

[...] eles [estudantes] fazem de tudo na prática (...) é uma


participação muito prazerosa, uma interação do enfermeiro com o
estudante, uma atuação em equipe... (Michelangelo)

[...] tem dias que tenho muitas atribuições assistenciais e


administrativas e os estudantes se oferecem para me ajudar (...)
eu deixo eles executarem as tarefas de menor complexidade e
que eles já sabem fazer, mas fico perto para qualquer dúvida ou
dificuldade... (Miró)

[...] quando surge alguma situação de emergência eles


(estudantes) já vão preparando os materiais do jeito que eu gosto,
porque assim, organizado, também fica mais fácil para ensinar...
(Rembrandt)

O enfermeiro no papel de facilitador da aprendizagem desenvolve com os

estudantes de enfermagem atividades técnicas e científicas que favorece a

aprendizagem e fortalece a relação de trabalho em equipe. O estudante acompanha

o enfermeiro no desenvolvimento das atividades, incorporando as maneiras de como

cada um atua, motivando e fortalecendo desta forma seu aprendizado e sentindo-se

participante dos procedimentos práticos realizados.

Vale a pena ressaltar que o estudante, algumas vezes, sente uma admiração

muito grande pelo enfermeiro que o está acompanhando e orientando, admirando

seu potencial de atuação e espelhando-se nele como futuro profissional.

Nas falas dos entrevistados percebo que o enfermeiro possibilita a realização

das atividades práticas que os estudantes tanto desejam, permitindo efetivamente a

execução do procedimento, fazendo com que o estudante sinta-se como parte

integrante da equipe de enfermagem, estabelecendo, portanto, relações sociais com

o grupo. O enfermeiro caracteriza ainda como prazeroso a sua interação com o

estudante, como pode ser comprovada pela observação de campo a seguir:

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98

[...] o enfermeiro da UTI convida o estudante para receber a


criança que vem do Centro Cirúrgico, ele aceita mas diz que ainda
não sabe tudo (...) o enfermeiro mostra o equipamento que vai ser
utilizado, vai explicando e orientando, em tom de voz baixo, sobre
como proceder, o estudante vai tirando as dúvidas...
(Observação nº 6)

O enfermeiro no papel de facilitador da aprendizagem desenvolve com os

estudantes de enfermagem atividades técnicas e científicas que favorece a

aprendizagem e fortalece a relação de trabalho em equipe. O estudante acompanha

o enfermeiro no desenvolvimento das atividades, incorporando as maneiras de como

cada um atua, motivando e fortalecendo desta forma seu aprendizado e sentindo-se

participante dos procedimentos práticos realizados.

Vale a pena ressaltar que o estudante, algumas vezes, sente uma admiração

muito grande pelo enfermeiro que o está acompanhando e orientando, admirando

seu potencial de atuação e espelhando-se nele como futuro profissional.

Correlacionando este pensamento com o estudo de Costa (2005, p.134)

acerca da relação entre professores e estudantes em estágio prático, a autora

destaca que não existe um manual que ensine a forma do professor se relacionar

com o estudante, pois cada ser possui suas características pessoais e cada

momento é único, portanto a forma como o professor interage com o estudante

poderá ou não se desenvolver para um aprendizado efetivo.

Mediante os relatos dos enfermeiros destaco o modo da Unificação com a

estratégia da Padronização integrando enfermeiros e estudantes na busca de novos

conhecimentos padronizando diferentes estratégias de aprendizagem que atendam

às necessidades exigidas de cada um.

Para fortalecer melhor este enfoque sob a luz do referencial teórico deste

estudo, Costa (op.cit., p.129) também evidenciou em seu estudo como modo de

operacionalização a Unificação e a estratégia de Padronização ressaltando a

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importância da figura e da desenvoltura do professor no processo educativo, e de

como determinados comportamentos e atitudes são admirados pelos estudantes,

transmitindo a idéia de um profissional ideal.

A referida autora (p.135) concluiu ainda que é esperado um comportamento e

atitude do professor na condução do estudante no estágio prático, bem como um

comportamento e uma atitude do estudante para que haja interação e um

aprendizado real.

Outras facilidades emergidas das falas referem-se à motivação e interesse

dos estudantes associado ao campo rico em aprendizagem. Quatro entrevistados

reforçam essa idéia nos depoimentos que se seguem:

[...] Aqui é um universo muito rico para aprendizagem, e isso


motiva muito os estudantes... (Picasso)

[...] os estudantes que passam por aqui ficam maravilhados com


tantas atividades para desenvolverem (...) às vezes até se
atropelam querendo aprender a fazer tudo de uma vez (...) é bom
estar participando deste momento de aprendizagem. (Renoir)

[...] eles (estudantes) chegam no setor querendo participar de


todas as atividades, sempre com muito interesse... (Degas)

[...] a pediatria é um campo muito vasto em aprendizado, com


muitas condutas específicas e que nem sempre os estudantes
tiveram um contato mais demorado para desenvolver a prática...
(Michelangelo)

Para que o enfermeiro desenvolva com satisfação sua função de preceptoria

é necessário que os estudantes estejam motivados e com interesse em aprender.

Do contrário o ensino da prática se torna algo repetitivo e cansativo pois não existe o

canal de recepção da mensagem.

A maioria dos estudantes que realizam estágio extracurricular o faz por

interesse próprio e por estarem motivados para tal. Bousso (2000, p.219) em seu

estudo considera o estágio “essencial à formação do estudante como um momento

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100

específico de sua aprendizagem possibilitando reflexão sobre as ações, visão crítica

e elaboração de novos conhecimentos”.

A motivação e o interesse por parte dos estudantes também faz crescer no

enfermeiro o desejo de estar cada vez mais capacitado e atualizado para

corresponder aos interesses deles.

O cenário hospitalar é um local rico em oportunidades de aprendizado e,

consequentemente exige que o enfermeiro esteja apto a superar os desafios que

surgem a todo o momento. Não há domínio de todos os conhecimentos porque os

conhecimentos vão sendo construídos de acordo com as necessidades sentidas.

Logo, enfermeiros e estudantes, independentes de suas posições sociais, constróem

e compartilham conhecimentos.

Ainda neste contexto, Assad (2003, p.104) enfatiza que “quando o enfermeiro

se sensibiliza com um problema presente no cotidiano profissional, ele sente

motivação para aprender e transformar”. É o processo pelo qual o enfermeiro

preceptor passa ao conviver com os estudantes, é a necessidade dele em também

estar aprendendo e transformando.

A riqueza do campo de estágio proporciona aos enfermeiros um variado

número de opções para que o aprendizado dos estudantes aconteça. É neste

cenário que os enfermeiros vão desempenhar sua função de orientador e

disseminador de conhecimentos. O setor de alta complexidade como a UTI é tido

como o setor desencadeador de experiências no cotidiano hospitalar, porque

estimula nos estudantes o desejo de aprender e dominar novos conhecimentos. Este

enfoque pode ser confirmado pela observação descrita neste trecho:

[...] um dos enfermeiros da UTI mostra ao estudante como se dá o


funcionamento daquele respirador (...) chega ao setor uma criança
muito grave que progride para uma parada cárdio-respiratória
(...)dispara o alarme do monitor multiparamétrico (...) o enfermeiro

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101

vai explicando quando o estudante fala que quer aprender logo a


manusear estes equipamentos... (Observação nº 7)

Uma outra observação também contribui para reforçar os depoimentos:

(...) é hora de realizar o banho no leito na UTI, o estudante pede


ao enfermeiro para ensiná-lo porque entende que é muito
complicado com todos aqueles equipamentos e fios espalhados
pelo leito (...) o enfermeiro responde que com ele também foi difícil
porque a UTI foi seu primeiro emprego e ele ainda precisa estudar
muito... (Observação nº 1)

A motivação e o interesse estão bem presentes na relação entre enfermeiros

e estudantes, e é facilmente percebível que tanto o estudante quanto o enfermeiro

são motivados, muitas vezes, pelos mesmos interesses, que tem como foco central

o crescimento profissional.

Alguns enfermeiros com pouco tempo de formados e pouco tempo de atuação

na instituição e que terminaram o Curso de Especialização recentemente, ainda se

consideram também em processo de aprendizagem, uma vez que não têm tanto

tempo de experiência para disporem de uma bagagem que outros com mais tempo

já adquiriram, e por conta disto motivam os estudantes e também se motivam, além

de aumentar o grau de interação entre eles.

Identifico neste contexto a Unificação como modo de operação da ideologia,

nos momentos de interação entre enfermeiros e estudantes, construindo e

compartilhando conhecimentos, uma vez que o interesse e a motivação partem de

ambas as partes, favorecendo, portanto, o crescimento de todos. A Simbolização da

Unidade foi a estratégia percebida durante o aprendizado do manuseio dos diversos

e específicos equipamentos que simbolizam a unidade de terapia intensiva.

O modo de Legitimação está presente quando o estudante se diz interessado

em aprender o que o enfermeiro está ensinando, utilizando a Narrativização como

estratégia partindo do momento em que o enfermeiro explica a prática ao estudante

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102

e relembra, comentando, sobre suas dificuldades no transcorrer de seu primeiro

emprego

Em todos os depoimentos fica entendido que ensinar a prática aos estudantes

que estejam interessados e motivados num cenário rico para aprendizagem,

constitui para o enfermeiro momentos de prazer e crescimento profissional. O fato da

instituição admitir enfermeiros recém formados, como mostra o quadro de

caracterização dos sujeitos que participaram deste estudo, reforça a interação da

equipe de enfermagem e estudantes de forma mais participativa, ambos com

propósitos de aprendizagem e troca de experiências.

3.2 Dificuldades da prática dos enfermeiros com estudantes de

graduação

O hospital pela sua complexidade já nos passa uma imagem de um local que

convive com dificuldades que fazem parte do dia-a-dia da equipe de enfermagem.

No desenvolvimento do estágio prático algumas dessas dificuldades são vivenciadas

por enfermeiros e estudantes, e destacadas pelos participantes deste estudo como:

a falta de tempo associada às muitas atribuições exercidas pelos enfermeiros, o

tempo restrito dos estudantes para atuarem nos campos de estágio e a falta de um

local adequado e próximo aos setores para reuniões e discussões.

Dos nove entrevistados, a maioria destaca a falta de tempo associado às

muitas atribuições exercidas pelos enfermeiros com uma das dificuldades

apresentadas no campo de estágio prático.

Este aspecto pode ser observado nos seguintes relatos:

[...] vou ensinando uma técnica, acompanhando o estudante e


alguém me chama para resolver um outro problema e o estudante
fica esperando... (Picasso)

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[...] às vezes o plantão está muito agitado, com crianças que


merecem mais atenção e cuidados, eu quero dar mais atenção
para os estudantes, mas nem sempre consigo... (Renoir)

[...] os estudantes reclamam que querem aprofundar mais sobre


algum tema que foi visto na prática, mas o tempo é pouco, então
combino de explicar melhor mais tarde, quando terminar de fazer
minha rotina... (Matisse)

Uma das dificuldades mais evidenciadas está relacionada ao tempo que os

enfermeiros dispõem para se dedicar ao ensino da prática com os estudantes de

enfermagem, uma vez que ele não é liberado integralmente de suas funções para se

dedicar aos estagiários. Consequentemente observei, que na maioria das vezes os

estudantes vão aprendendo a desenvolver a prática durante o procedimento que

está sendo realizado pelo enfermeiro, sem que este tenha tempo de discutir e

melhor direcionar o estudante para o procedimento a ser realizado.

É o conhecimento que muitas vezes é transmitido através de gestos, de

olhares e expressões utilizadas como estratégias de comunicação e também de

aprendizado. Ações que, dependendo do pouco tempo disponível para o ensino da

prática, acabam sendo pouco exploradas e sendo deixadas para mais tarde, quando

o enfermeiro termina de resolver suas atribuições de rotina e só então consegue dar

mais atenção ao estudante.

Não existe, na maioria das vezes, como rotina estabelecida um ensino prévio

da realização daquela ou de outras práticas. Alguns setores como UTI e Emergência

por suas características próprias de complexidade e alta rotatividade também

interferem significativamente no cumprimento das rotinas, tanto assistenciais como

administrativas, dificultando dessa forma o ensino da prática. Os enfermeiros por

conta de outras atribuições dividem seu tempo entre a dinâmica do ensinar a prática

e as atividades do dia-a-dia.

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104

A observação de campo a seguir demonstra a dinâmica do enfermeiro nas

diversas atribuições, incluindo a de preceptor:

[...] o enfermeiro confere o material, faz a escala diária, passa


visita nas crianças, tem que providenciar a medicação que ainda
não chegou, conversa com a acompanhante sobre o caso daquela
criança (...) só muito mais tarde consegue parar e dar atenção ao
estudante... (Observação nº 6)

Identifiquei a Unificação como modo operacional utilizando a estratégia da

Padronização evidenciada no momento em que o enfermeiro segue um padrão para

o ensino da prática, como por exemplo, ensinar a técnica acompanhando o

estudante e se preocupando quando o tempo para o aprendizado é restrito ou

quando a dinâmica da prática é interrompida por outras necessidades que surgem.

Os enfermeiros querem seguir o caminho que facilite o aprendizado e favoreça o

desejo do estudante em aprender e crescer, fortalecendo também a integração do

enfermeiro com o estudante.

A Dissimulação como modo operacional da ideologia é percebido quando as

relações de dominação passam por cima de relações e processos existentes, como

no caso dos estudantes que vão aprendendo a desenvolver a prática sem ter tido

tempo de discutir com os enfermeiros acerca da execução daquele procedimento e

para que o estudante seja mais bem direcionado para outras situações que implicam

em aprendizado. A estratégia do Deslocamento é evidenciada quando a forma de

ensino que o enfermeiro se utiliza não é a convencional, ou seja, aquela que o

enfermeiro explica antes ou durante o aprendizado, ela é deslocada para a forma de

ensino transmitida através de formas simbólicas, gestos, atitudes, olhares e

expressões que permeiam o cotidiano dos enfermeiros e estudantes de

enfermagem.

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105

Outra dificuldade apontada por quatro depoentes diz respeito ao tempo

restrito que os estudantes dispõem para desenvolver o estágio extracurricular,

principalmente quando ele acontece no período diurno, por concorrer com o horário

destinado às aulas no curso de graduação.

[...] a falta de tempo dos estudantes não ajuda muito porque


chega à hora deles irem embora e o procedimento ainda não
acabou ou vai demorar um pouco para começar... (Michelangelo)

[...] quando consigo parar para conversar com os estudantes


sobre as dificuldades do dia está na hora deles irem embora,
então fica para o próximo dia de estágio... (Degas)

[...] eles (estudantes) querem ficar até mais tarde no estágio, mas
existe o compromisso com a escola e eles também não podem
faltar... me preocupo com o tempo deles pois não quero que eles
sejam prejudicados... (Monet)

[...] tem procedimento que vai ser realizado no horário que os


estudantes já foram embora e eles ficam querendo ficar para
aprender... nem sempre é possível, às vezes eles têm prova,
seminário ou outra atividade que vale nota. (Miró)

O ensino prático, no estágio extracurricular, muitas vezes torna-se

fragmentado para a compreensão do estudante, porque em alguns momentos ele

necessita ir embora para assistir às aulas teóricas do curso de origem. O que se

observa consequentemente, é que existe uma escolha, por parte do estudante, em

ficar para realizar aquele procedimento ou ir para a escola e dar continuidade ao

programa curricular. É notório que o estudante que faz opção pelo estágio

extracurricular quer aprender e executar mais a prática e, portanto, investe para que

isso possa ocorrer, prejudicando algumas vezes seu compromisso com a escola.

Mais uma vez é importante destacar que o estágio extracurricular é apenas

um complemento ao que se aprende no Curso de Graduação, porque o curso é a

base que norteará todo o desenvolvimento desta modalidade de estágio. Faz-se

necessário, portanto, que os estudantes sejam orientados pelos enfermeiros do

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106

campo de estágio quanto à importância da freqüência às aulas práticas e teóricas do

Curso de Graduação, para fortalecer ainda mais suas ações no campo de estágio

prático.

Tal situação pode ser comprovada com a seguinte observação:

[...] Neste dia o horário do estágio do estudante vai até às 12:00h


porque na parte da tarde ele tem aula na faculdade que inicia às
13:00h. São 12h25min e o procedimento ainda não terminou (...) o
estudante quer ficar, mas o enfermeiro diz que está quase na hora
de sua aula, o estudante se despede do enfermeiro e vai para a
aula... (Observação nº 4)

Mesmo sabendo das restrições de horários dos estudantes que fazem estágio

extracurricular, constatei que o enfermeiro, em algumas situações, acaba interferindo

nesse processo de escolha porque estimula o aluno para a realização de

procedimentos que às vezes não é tão freqüente, e é uma oportunidade para o

estudante que deseja aprender. O enfermeiro se preocupa muito com o que é

importante para os estudantes aprenderem e com as oportunidades que surgem no

campo de estágio prático e, acredito que, em alguns momentos, esqueçam dos

compromissos que os estudantes têm com o Curso de Graduação principalmente

quando estimula o estudante a permanecer além do seu horário para algum

aprendizado em especial.

A seguinte observação confirma essa linha de pensamento:

[...] a UTI está muito cheia e um dos estudantes se prepara para ir


embora. Quando ele se despede do enfermeiro este solicita que
ele fique mais um pouco para assistir a cirurgia que será realizada
a beira do leito e que é muito importante para ele estar
participando. O estudante responde que só poderá ficar mais meia
hora pois tem aula neste horário... (Observação nº 6)

Acredito que alguns enfermeiros por terem pouco tempo de formado e pouco

tempo de experiência com estudantes de graduação consideram ser de grande

relevância para os estudantes o aprendizado e a execução da prática, e por isso

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107

valorizam cada oportunidade que surge como um novo aprendizado para os

estudantes, incentivando-os há permanecer mais tempo no hospital. A participação

de alguns enfermeiros que também fizeram estágio extracurricular pode ser

considerada como outro fator que contribui para incentivar os estudantes a

participarem de atividades que consideram importantes.

Ainda nesta abordagem posso perceber que em alguns momentos existe o

sentido do poder interferindo nas relações entre estudantes e enfermeiros, quando

estes estimulam os estudantes a permanecerem após o horário de estágio, uma vez

que um pedido feito pelo enfermeiro ao estudante denota relações assimétricas de

poder.

Reconheço nestes casos a Fragmentação como modo de operacionalização

da ideologia, uma vez que o horário restrito dos estudantes para o desenvolvimento

do estágio fica prejudicado em alguns momentos, fragmentando o aprendizado da

prática. A Diferenciação como estratégia está presente no momento em que há uma

divisão entre os estudantes que preferem permanecer além do horário de estágio

para participarem do procedimento e dos outros estudantes que saem do estágio

para dar continuidade ao programa do curso de graduação.

A Dissimulação foi outro modo encontrado quando o enfermeiro passa por

cima de processos existentes como no caso do horário do estágio extracurricular

que não deve interferir na vida acadêmica dos estudantes, sendo responsabilidade

dos enfermeiros estarem atento para que os estudantes não ultrapassem seus

horários, mas que, em algumas situações, o enfermeiro acaba solicitando que o

estudante permaneça no estágio por mais algum tempo, contrariando a proposta

inicial.

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108

A falta de um local adequado e próximo aos setores para os enfermeiros e

estudantes se reunirem é outra dificuldade apresentada pela maioria dos

participantes do estudo.

Esta dificuldade pode ser percebida nos depoimentos que se seguem:

[...] falta um local adequado e próximo ao setor, talvez uma sala


com exceção do Centro de Estudos que é longe, para nos reunir,
conversar, tirar nossas dúvidas... (Van Gogh)

[...] aqui na UTI é muito cheio e complicado para discutirmos


alguns temas interessantes com os estudantes, mas como não
temos nenhuma outra sala próxima o jeito é tirarmos as dúvidas
quando o movimento diminui. (Matisse)

[...] o Centro de Estudos fica no outro prédio, então perdemos


algumas oportunidades de melhorar nossa dinâmica de discutir
casos e trocar experiências, pois nem sempre podemos sair do
setor... (Renoir)

[...] o ideal seria termos um espaço destinado aos encontros com


os estudantes, que fosse próximo ao setor, para usarmos
diariamente logo após a realização da prática, para que as
dificuldades pudessem ser resolvidas. (Rembrandt)

[...] na Emergência já é difícil sobrar tempo para nos reunir e a


falta de uma sala para esta finalidade também dificulta bastante,
então vamos trocando idéias entre um atendimento e outro.
(Michelangelo)

Os enfermeiros sentem a necessidade de estarem se reunindo com os

estudantes para discutir casos, tirar suas dúvidas e trocarem conhecimentos em um

local que não seja a própria unidade de trabalho, pois não há como se reunir para

este tipo de atividade dentro de um setor, algumas vezes até sem muita estrutura

física. Por outro lado o enfermeiro também não pode se afastar por muito tempo do

seu setor para um local muito distante e que demande muito tempo.

Nas observações registradas no diário de campo constatei esta dificuldade:

[...] no setor de Emergência acontece um atendimento a uma


criança com crise convulsiva sendo assistida por um enfermeiro,
um estudante de enfermagem, um médico e um técnico de
enfermagem, todos muito envolvidos na assistência que está sedo
prestada (...) durante o atendimento o preparo da medicação a ser

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109

utilizada demora para ser preparada e administrada, o enfermeiro


solicita urgência e a medicação é administrada (...) a criança
melhora e é transferida para o quarto (...) o enfermeiro procura um
lugar para conversar com a equipe sobre a demora no
atendimento. Como o setor não dispõe de um local o enfermeiro
utiliza um dos consultórios que no momento estava livre...
(Observação nº 3)

A opção pelos centros de estudos, auditórios e outros locais se torna muito

complicado em função dos motivos já descritos. A maioria dos locais dentro dos

hospitais destinados para reuniões e encontros, está localizada em locais distantes

dos setores e de difícil acesso, o que contribui para dificultar a troca de informações

entre profissionais e estudantes. O ideal seria a existência de uma sala em cada

setor, ou próxima, disponível para estas finalidades, o que com certeza, iria

favorecer bastante a dinâmica proposta.

Este aspecto também é ressaltado por Berardinelli (1998, p.164), quando se

refere à disponibilidade de locais adequados para se reunirem com os estudantes

para ministrar aulas teóricas e apresentação de estudos dos casos.

Corroboro com esta abordagem enfatizando a necessidade de um local onde

a aprendizagem da prática seja discutida cientificamente, permitindo que

enfermeiros e estudantes adquiram novos conhecimentos e cresçam

profissionalmente, possibilitando condições para que os campos de estágio não

sejam locais voltados somente para o exercício da prática, mas sim um local onde o

aprendizado seja rico em questionamentos e experiências.

Outra observação reforça a necessidade de um local adequado para melhor

favorecer o aprendizado dos estudantes:

[...] o enfermeiro quer explicar com mais calma aos estudantes


sobre a importância do balanço hídrico que é feito na UTI e como
deve ser preenchido o impresso para evitar problemas freqüentes,
mas o setor não tem nenhuma sala que possa ser usada para
estas finalidades. Sugiro, como participante, o Centro de Estudos,
mas como o enfermeiro não pode deixar o setor por muito tempo,
resolve explicar num outro dia mais calmo. (Observação nº 2)

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110

Podemos concluir com esta observação que a explicação deixada para um

outro dia não mais terá a importância do momento em que ela aconteceu e na quais

os sujeitos participaram. Por outro lado existe ainda a possibilidade de nem

acontecer, se perdendo no passar dos dias, onde tantas outras situações se

apresentarão como mais importantes.

Visualizei nesta situação o modo de Fragmentação, no qual os estudantes

não conseguem efetivar o caminhar do aprendizado pelas dificuldades impostas pela

estrutura física da instituição e pela indisponibilidade do enfermeiro que exerce

funções concomitantes de ensinar e de assistir. Quando o enfermeiro deixa para

outro dia a explicação que deveria ser dada aos estudantes naquele momento

identifico a Diferenciação como estratégia utilizada.

A Unificação foi outro modo de operacionalização identificado no momento

em que, mesmo enfrentando as dificuldades relacionadas à falta de um local

destinado às discussões diárias, enfermeiros e estudantes aproveitam da melhor

maneira os momentos e os espaços disponibilizados para as discussões e trocas de

experiências. Quando os enfermeiros adaptam outros locais para se reunirem com

os estudantes de forma que consigam atingir os objetivos propostos, já que não

conseguem utilizar os locais destinados para tal finalidade mediante as dificuldades

encontradas reconheço a Padronização como estratégia utilizada.

Essas dificuldades que envolvem o enfermeiro e o estudante fazem parte do

cotidiano de um hospital onde todas as atividades precisam ser realizadas

independentes das dificuldades. Considero muito importante a atuação dos

enfermeiros em tentar, sempre, flexibilizar um pouco do seu tempo para se dedicar

ao ensino da prática para os estudantes, independente das dificuldades impostas,

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111

como a incompatibilidade de espaços físicos adequados para os encontros e dentro

da disponibilidade de tempo que os estudantes dispõem para a aprendizagem.

3.3 Estratégias utilizadas pelos enfermeiros em campo de estágio prático

Esta subunidade descreve as estratégias utilizadas pelos enfermeiros em

campo de estágio prático com estudantes de graduação.

No dia-a-dia da prática do enfermeiro com estudantes de graduação a

transmissão da prática depende de fatores, que vai desde o comprometimento

profissional de cada enfermeiro ao grau de aprendizagem de cada estudante. Ao

enfermeiro compete o papel de utilizar e adequar, de acordo com a capacidade de

aprendizado e o perfil de cada estudante, a melhor estratégia de ensino-

aprendizagem que venha a facilitar a aprendizagem e o crescimento profissional dos

estudantes em campo de estágio.

Neste estudo, todos os enfermeiros afirmam adotarem alguma estratégia de

ensino-aprendizagem com os estudantes de graduação em campos de estágio. As

mais utilizadas são a leitura de textos, o dever de casa, associação da teoria à

prática, aula prática, visita diária aos pacientes, estudo clínico (também chamado de

estudo de casos) e aula expositiva.

A respeito das técnicas utilizadas, Berardinelli (1998, p.95) considera que a

estratégia adotada no dia-a-dia é a de criar oportunidades, participando com o

estudante na realização da prática, dando apoio, supervisionando e interrogando

sobre suas ações.

Dessa maneira, compreendo que não existe uma estratégia específica para

cada caso e nem há um padrão que se aplique a todos os casos, as estratégias vão

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surgindo de acordo com as situações vivenciadas e devem ser utilizadas a fim de

facilitar a integração dos estudantes com seu próprio aprendizado.

Três dos nove enfermeiros entrevistados destacam a leitura de textos no

próprio local do estágio ou em casa para posterior discussão nos campos de estágio,

bem como o dito “dever de casa”, que é uma oportunidade que os estudantes têm

para estudar, discutir e enriquecer seus conhecimentos. Isto pode ser demonstrado

nos seguintes depoimentos:

[...] eu cobro muito deles [estudantes], eu ensino, mas também


peço para estudar. Todo dia tem um dever de casa, um assunto
para ser estudado e discutido depois... (Picasso)

[...] os estudantes vão procurar e estudar este assunto em casa


para trazerem no próximo dia de estágio. Não é deixar passar a
dúvida porque não vão saber como agir de novo... (Renoir)

[...] buscar artigos sobre a temática do setor para os estudantes


de enfermagem ler no plantão ou levar para casa para discutir no
próximo plantão... (Michelangelo)

É muito importante para o aprendizado dos estudantes a cobrança feita pelo

enfermeiro acerca do que está sendo ensinado, é um elo de compromisso que se

estabelece entre o enfermeiro e o estudante. A forma como o enfermeiro cobra do

estudante sua participação no desenvolver do estágio prático demonstra seu

comprometimento e sua participação com a formação deste futuro profissional.

A leitura de artigos possibilita tanto aos enfermeiros quanto aos estudantes o

acesso às descobertas do novo, do atual, contribuindo para as mudanças que se

desencadeiam a partir do contato com novos conhecimentos. O profissional que não

lê não cresce, não desenvolve novas habilidades e não se sente estimulado para

crescer. Neste sentido, no que se refere ao hábito da leitura, Bordenave e Pereira

(2002, p.256) ressalta ainda que “o estudante deve desenvolver hábitos de leitura e

pesquisa bibliográfica que lhe permitam adquirir e renovar seus conhecimentos”.

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113

A seleção dos textos é feita pelos enfermeiros em conjunto com os

estudantes de acordo com as necessidades percebidas no decorrer do estágio.

Envolvida neste contexto, observei que muitas vezes um assunto para leitura é

escolhido pelo enfermeiro, mas o estudante sugere outro, envolvendo a mesma

temática, mas que para ele é mais importante e/ou motivador, porque o interesse do

estudante tem objetivo, às vezes, diferentes do nosso. Neste caso, enfermeiro e

estudantes chegam a um consenso acerca do material para leitura. Só em casos

muito específicos com assuntos importantes e de pouco conhecimento a escolha do

enfermeiro é respeitada, considerando para tal seu poder de conhecimento.

A leitura deve ser considerada como um disseminador de informações e de

conhecimentos, além de ser também um requisito essencial para o ingresso dos

estudantes na área da pesquisa, uma vez que não há pesquisa sem leitura. É

importante, portanto que os estudantes tenham conhecimento e entendimento do

valor que a leitura pode proporcionar durante toda a sua vida.

A leitura de textos como dever de casa é uma estratégia adotada por alguns

enfermeiros para estimular o estudante a dar continuidade ao processo de estudar

fora do ambiente escolar. Os assuntos são escolhidos de acordo com critérios pré-

estabelecidos e que atenda ao contexto do momento. É a oportunidade que os

estudantes têm para estudar, discutir e enriquecer seus conhecimentos.

Por outro lado, a demanda de atividades em sala de aula e em campos de

estágio para atender a proposta do currículo ocupa, na maioria dos casos, grande

parte do tempo dos estudantes, e quando, associada há mais uma atividade

extracurricular o tempo livre destinado ao estudo fica muito comprometido. A leitura

com estratégia, para que seja produtiva depende muito do interesse do estudante e

da disponibilidade de tempo para que o conteúdo seja efetivamente incorporado ao

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114

cotidiano da prática. O que se observa, portanto, é que existe um empenho formal

do estudante em atender ao que o enfermeiro preceptor solicita principalmente no

que se refere às leituras de textos, mas na prática isso nem sempre acontece. Isto

pode ser confirmado na observação a seguir:

... Na UTI durante a visita diária, o enfermeiro solicita ao estudante


que fale um pouco sobre aquela patologia e qual o cuidado mais
importante no caso de (...) o estudante demora a responder (...) o
enfermeiro pergunta se ele leu o artigo que ele lhe deu sobre o
assunto e ele responde, em tom de voz baixo, que não teve
tempo, mas que isto não vai mais acontecer. (Observação nº 4)

Reconheço que neste caso, para que a relação de ensino-aprendizagem

tenha resultados positivos, se faz necessário que o enfermeiro reconheça as

dificuldades dos estudantes e, juntos, possam estabelecer critérios que possibilitem

o aprendizado, É essencial para o crescimento do estudante que ele valorize a

importância de sua participação efetiva no campo de estágio, entendendo que existe

um profissional preocupado com seu desempenho.

Neste aspecto identifico a Unificação como modo de operação utilizando a

estratégia da Padronização, interligando estudantes e enfermeiros preceptores

tendo por objetivo o contato com novas informações que incentive o crescimento

profissional de ambos. A preocupação dos enfermeiros com as necessidades dos

estudantes está presente, principalmente no momento em que o enfermeiro sugere

um assunto a ser estudado e discutido e o estudante tem interesse em outro

assunto, sendo levado em consideração o que é mais importante para aquele

momento e para atender ao objetivo proposto.

Outro aspecto utilizado como estratégia por três enfermeiros é a associação

da teoria com a prática:

[...] uma estratégia interessante é aquela que sempre associa a


teoria à prática, o conhecimento científico dos estudantes à prática
das técnicas executadas... (Van Gogh)

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115

[...] eu gosto muito de unir a prática sempre fundamentada com a


teoria (...) e faço um resumo da teoria associada à prática.
(Michelangelo)

[...] sempre tento mostrar que a prática às vezes pode se


distanciar um pouco da teoria, mas a teoria é a base de todas as
técnicas, e é ela que direciona nossas ações do fazer... (Monet)

É de extrema relevância que os enfermeiros possibilitem a interação da teoria

com a prática nos campos de estágio valorizando a importância de ambas. Por

algumas vezes pude observar que a maior preocupação dos enfermeiros ainda está

voltada para o ensino da prática colocando em segundo plano o embasamento

teórico que sustenta o ensino, não por considerar a teoria menos importante e sim

por entender que o ensino prático é muito mais complexo e depende de

oportunidades para que os estudantes possam realizar.

Diante desta constatação, muito discutida entre os enfermeiros, percebo que

existe um cuidado por parte dos enfermeiros em integrar a teoria e a prática

valorizando a parte teórica ministrada na escola para melhor fundamentar as ações

da prática. Tal constatação vai ao encontro do pensamento de Deves e Nunes

(2001, p.80) que diz que o principal é que ocorra a integração dos conhecimentos

adquiridos na teoria com a vivência da prática que é essencial para o aprendizado.

Como observador pude confirmar a preocupação do enfermeiro em estimular

a realização da prática associada ao conhecimento teórico nas seguintes

observações:

[...] o enfermeiro da Emergência conversa com o estudante sobre


o curativo a ser realizado, o estudante pergunta ao enfermeiro se
o curativo pode ser feito sem o uso de luva estéril, pois em outro
hospital ele viu fazer desta forma. O enfermeiro responde que
não, explicando pausadamente, que deve ser empregada a
técnica correta de acordo com o que aprendemos...
(Observação nº9)

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[...] O enfermeiro da CCIH orienta sobre as precauções de contato


a ser instituída naquela criança, pergunta se todos já conhecem o
método e se alguém tem alguma dificuldade. O estudante explica
como ele aprendeu na escola e o enfermeiro confirma estar
correto e ainda solicita que ele explique da forma que aprendeu
para outro funcionário que estava com dificuldade.
(Observação nº 7)

É importante valorizar no estudante o interesse demonstrado por ele durante

o aprendizado, e também possibilitar que o estudante discuta e oriente outros

profissionais acerca do conhecimento adquirido. Essa troca estimula o estudante a

aprender cada vez mais, pois em alguns momentos ele também desempenha o

papel de quem ensina.

Neste contexto reconheço a Legitimação como modo operante da ideologia,

através da estratégia de Racionalização que faz com que o enfermeiro defenda e

justifique a importância da associação da teoria e prática em campos de estágio

como estratégia de aprendizagem e da Narrativização, partindo de estudantes e

enfermeiros, através da descrição das técnicas a serem utilizadas, relembrando

ensinamentos de aulas anteriores, multiplicando saberes e estimulando a

capacidade reflexiva e a busca do conhecimento.

Dos nove enfermeiros entrevistados, três escolheram a aula prática como

estratégia mais utilizada:

[...] uma dinâmica prática de como lidar com os respiradores,


monitores, bombas infusoras e outros mais. Mostrar o que o
aparelho oferece como suporte para o paciente, como fazer a
interpretação dos alarmes e fazer a leitura do que é mostrado no
painel. É muita tecnologia para o enfermeiro ensinar para o
estudante que está aprendendo... (Rembrandt)

[...] acho que só o fazer que se aprende observando não é muito


válido, tem que ter uma prática demonstrativa antes de realizar o
procedimento. (Monet)

[...] e com a aula prática fica mais fácil de transmitir o


conhecimento, o único problema é que o tempo que se gasta para
ensinar e para dar uma aula prática é muito grande para o

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enfermeiro que tem outras tarefas a cumprir (...) eu gosto muito de


usar este recurso para facilitar o aprendizado do estudante, mas
nem sempre tenho tempo... (Miró)

A capacitação para o manuseio dos equipamentos não depende apenas do

conhecimento acerca do seu funcionamento, mas também do manuseio

propriamente dito, pois a tecnologia moderna dispõe de mecanismos muito

específicos que implicam na habilidade prática de quem o manipula. Ainda

relacionada a escolha pela aula prática está a execução de procedimentos mais

complexos em unidades que devido às suas especificidades necessitam de

treinamento prático com aulas direcionadas à realidade do setor.

Compreendo que para o aprendizado do estudante a aula prática favorece

seu crescimento profissional porque permite trocar experiências, tirar dúvidas que

ainda persistem explorar outros assuntos associados àquela prática e, mais que

tudo, realizar a prática. O ensino da prática se passa em um hospital especializado,

com enfermeiros também especializados que vão demonstrando o fazer com muita

calma e segurança. São momentos que os estudantes consideram muito valiosos

por terem a oportunidade de participar efetivamente da atuação dos enfermeiros.

Miró, entretanto, contrapõe-se em suas informações no sentido de considerar

importante a estratégia da aula prática, mas faz uma crítica relacionada ao tempo

gasto por ele para se utilizar desta estratégia. O gerenciamento do tempo que o

enfermeiro dispõe para as atividades assistenciais e de preceptoria é sempre motivo

de muita controvérsia, dificultando, em alguns momentos, os mecanismos

facilitadores da aprendizagem.

Percebi a importância da aula prática para o estudante nesta observação:

... o grupo é constituído por dois enfermeiros, sendo um deles com


pouco tempo de formado e o outro com mais de dez anos de
formação e mais dois estudantes de enfermagem, estes com

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atitudes de grandes expectativas. O grupo recebia do Centro


Cirúrgico uma criança em pós-operatório imediato de cirurgia
cardíaca... sempre em voz baixa o enfermeiro com mais
experiência orienta sobre o que deve ser feito de imediato ... os
estudantes vão executando com muito interesse, olhando sempre
para o enfermeiro a procura de algum sinal ... fazem perguntas ...
o outro enfermeiro também vai perguntando sobre algo que ele
ainda não conhece muito bem. (Observação nº 6)

Considero que a participação prática dos estudantes em momentos

importantes fortalece o desejo de aprender cada vez mais porque ao realizar a

prática ele se sente com mais domínio e capacidade técnica. Vale ressaltar ainda

que a participação do enfermeiro com pouco tempo de formado no processo de

aprendizagem junto com os estudantes favorece a integração dos estudantes e

enfermeiros, tendo como objetivo único o crescimento profissional.

Destaquei, portanto, a Unificação como ideologia tendo como estratégia a

Padronização, percebida nas falas dos enfermeiros, que sugere que seja instituída

uma padronização de programas e/ou rotinas que facilite por meio de uma

linguagem de fácil entendimento a atuação dos enfermeiros e estudantes em

campos de estágio e a Fragmentação tendo como estratégia a Diferenciação, no

qual um dos enfermeiros nem sempre se utiliza das aulas práticas por demandar

muito tempo, fragmentando, dessa forma, o aprendizado.

A participação dos estudantes na rotina de visita diária aos pacientes foi

citada por três dos nove enfermeiros entrevistados como uma estratégia que permite

aos estudantes sua inserção em um cenário com muitas especificidades e no qual

ele ainda não domina, mas quer aprender.

Essa estratégia pode ser revelada nas seguintes falas:

[...] aqui fazemos uma visita diária em todas as crianças da UTI


com a participação da equipe multidisciplinar. Fazemos um
debate após a visita porque a família está presente durante a
visita. É um momento muito rico para os estudantes porque eles
vão perguntando e interagindo com as especificidades do setor,

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às vezes o estudo de um caso é tão interessante para o estudante


que vira até tema de monografia... (Picasso)

[...] na visita diária todos os profissionais contribuem com suas


opiniões, é um momento muito dinâmico e onde se aprende muito
[...] no final sempre fica um assunto para discussão... (Degas)

[...] o horário da visita diária é o mais esperado pelos estudantes


que já se esquematizam de forma a participar dela [...] tem dias
que são muitas informações diferentes e complexas [...] acho que
às vezes os estudantes não vão dar conta de tanto conteúdo...
(Renoir)

É um momento em que o enfermeiro está interagindo com os estudantes,

direcionando-os para o que é mais importante, proporcionando seu crescimento

profissional e estimulando seu potencial científico. A visita diária com a equipe

multidisciplinar acontece de forma muito dinâmica, alguns casos são discutidos mais

detalhadamente, outros mais superficialmente, o tempo é insuficiente para

discussões mais aprofundadas de todos os pacientes. Nesse aspecto o papel do

enfermeiro é de grande relevância, pois ele precisa utilizar de suas habilidades

pessoais e profissionais para que haja um aproveitamento real por parte dos

estudantes no transcorrer da visita para que suas dúvidas e inquietações possam

ser atendidas.

Esta observação demonstra a participação dos estudantes na visita diária:

[...] os dois estudantes chegam antes do horário para adiantar e


começam a atuar junto aos enfermeiros, perguntando a que horas
será a visita, o enfermeiro responde com um sorriso entendendo a
ansiedade da pergunta [...] a visita tem início, os estudantes pouco
falam, com o transcorrer da visita várias perguntas são feitas por
eles (estudantes), alguns também participam mais ativamente,
respondendo e sugerindo [...] A visita termina e muitas perguntas
são feitas aos enfermeiros... (Observação nº 3)

Também como estratégia adotada por três depoentes encontro o estudo de

casos (ou estudos clínicos):

[...] quando os estudantes chegam para as atividades vou logo


agilizando o serviço para poder estar conversando com eles,
passando alguma rotina [...] principalmente durante a visita diária

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que fazemos, vou logo falando sobre os pacientes, eles me fazem


perguntas que vou respondendo, é um momento de troca de
conhecimento... (Michelangelo)

[...] os estudantes gostam de ler o prontuário, pois conseguem


identificar vários fatores que acomete o paciente e também
encontram muitas patologias que se tornam verdadeiros estudos
de casos... (Monet)

[...] quando eles (estudantes) escolhem um caso para estudarem


percebo um grande interesse e envolvimento, pois com pouco
tempo livre fica difícil para os estudantes a realização de
atividades como estas... (Rembrandt)

O interesse do estudante pelo estudo de casos (também conceituado como

estudo clínico) é muito importante para a formação do enfermeiro por fornecer um

vasto conteúdo de conhecimentos acerca do assunto que está sendo estudado,

permitindo também o contato com as mais variadas possibilidades referentes à

condução do tratamento a ser ministrado.

É nesse sentido que Moreira (1997, p. 93) enfatiza que os estudos de casos

dão oportunidades aos estudantes de desenvolverem a capacidade de compreensão

dos problemas enfrentados.

É, portanto uma estratégia que estimula o estudante a buscar conhecimento e

estimular a capacidade de reflexão sobre o assunto estudado. É muito produtivo

para os momentos de discussão com os enfermeiros e estudantes e outros

profissionais que venham a participar. Pode ser considerada como uma importante e

rica estratégia de aprendizagem.

A observação a seguir constata essa importância:

[...] o estudante comenta com outro sobre o caso da criança que


está cuidando e a complexidade daquela síndrome que envolve
uma série de complicações, fala sobre algumas delas com certo
domínio e muito interesse e diz que no futuro pretende escrever
um artigo sobre este caso. (Observação nº 5)

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Outra estratégia utilizada por cinco dos enfermeiros diz respeito aos

encontros no final do período/plantão para discussão sobre assuntos diversos

pertinentes ao dia de trabalho:

[...] nem sempre é possível discutir um caso com o estudante no


seu horário de estágio e algumas vezes eles [estudantes] pensam
que sabem o porquê daquilo, mas ainda têm dúvidas, então falo
para ficar uns vinte minutos depois do horário para conversarmos,
para eles elaborarem suas perguntas e tirarem suas dúvidas.
(Degas)

[...] quando sobra um tempo eu vou logo chamando eles


[estudantes] para uma conversa sobre alguma experiência que
vivenciamos, também solicito que eles façam uma avaliação sobre
o estágio para ver o que precisa mudar... (Rembrandt)

[...] acho válido todo final de plantão o enfermeiro parar e


perguntar, debater com os estudantes o que cada um achou ou
até mesmo se cometeu algum erro [...] é ver com o estudante
como o procedimento acontece e como se procede... (Renoir)

[...] é como se fosse uma avaliação, mas não gosto muito de usar
essa palavra [...] a gente se reúne no final do dia sempre que
aparece uma dúvida e também quando sobra algum tempo para
essas discussões... (Monet)

[...] tem que ter um momento para perguntar e tirar as dúvidas


deles (estudantes) senão não dá para saber como eles estão indo
e o que estão aprendendo e como estou ensinando também...
(Matisse)

É necessário que o enfermeiro preceptor tenha um tempo, que não seja

durante o ensino da prática, para estar conversando com os estudantes sobre suas

experiências, facilidades, dificuldades, dúvidas e insegurança que emergem do

ambiente hospitalar e mais precisamente do setor onde cada estudante está. Estes

encontros são importantes para o crescimento e desenvolvimento profissional dos

estudantes, uma vez que o horário deles é quase todo ocupado pelas atividades

curriculares e extracurriculares, existindo por conta disso, uma preocupação do

enfermeiro em estimular estes contatos para debates. Entretanto, como convivemos

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com as dificuldades que o cenário hospitalar nos apresenta, às vezes o programado

encontro acaba não acontecendo em decorrências de situações inesperadas.

Pude confirmar esta situação na observação descrita a seguir:

[...] depois do almoço, com o setor mais calmo, o enfermeiro


combina com os estudantes para conversar sobre os
acontecimentos daquele dia na sala de estar do setor. Após
quinze minutos de conversa o enfermeiro é solicitado para
resolver problema de saída de ambulância [...] o problema demora
a ser resolvido, já é tarde e a conversa entre o enfermeiro e os
estudantes acaba ficando para outro dia... (Observação nº 7)

Considero que o estágio não pode ser um “aprende e faz”, um exercício

somente da prática, ele deve ser dinâmico, com momentos para discussões técnicas

e científicas entre enfermeiros e estudantes e com o propósito de estimular a

capacidade intelectual de ambos. Acredito nesses encontros como sendo um

sinalizador das atividades dos enfermeiros preceptores, que, no cotidiano da prática,

nem sempre conseguem estar avaliando o desempenho dos estudantes e o seu

próprio na condução do estágio.

Monet refere não gostar muito de falar em avaliação, mas ela se faz

necessária e é de grande importância por ser um indicador de processo. A avaliação

não deve ser vista como um fator que vai prejudicar os sujeitos envolvidos e sim

como uma resposta ao que está acontecendo.

Sobre essa questão, Telles (2003, p.87) aponta que a avaliação no processo

de ensino-aprendizagem pode ser visto como um momento de muitas reflexões,

podendo criar uma atmosfera de tensão quando utilizada como critério de

julgamento, podendo, em vez de estimular a criatividade, paralisá-la, transformando-

se num instrumento a serviço do fracasso ou do sucesso.

Penso que, mesmo sem o propósito de estarmos avaliando os estudantes em

momentos considerados como difíceis por gerar certa desmotivação, um tipo de

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avaliação que nos atenderia seria a avaliação formativa, que segundo Savary (1999,

p.33) proporciona um retorno de quem ensina e de quem aprende sinalizando

quando e onde está a falha. É uma forma de motivar os estudantes a atingir seus

objetivos, e, portanto, uma troca de informações acerca do processo de ensino-

aprendizagem durante o desenvolvimento das atividades práticas que permite

identificar e ajustar falhas.

Percebo que mesmo com as todas as dificuldades do dia-a-dia os enfermeiros

se preocupam em estar com os estudantes em horários alternativos para atender a

ansiedade e a troca de experiências e conhecimentos dos estudantes.

Ainda como estratégia apenas um dos enfermeiros sugere a aula expositiva:

Eu acho que deve ser intensificado o número de aulas expositivas


específicas sobre os diversos serviços e assuntos, principalmente
sobre o que mais acontece no hospital e também sobre o que se
tem menos conhecimento e menos interesse [...] porque cada
enfermeiro acaba ensinando o que é mais importante para aquele
setor e outros assuntos, também importantes, vão ficando para
depois... (Matisse)

O fato dos enfermeiros estarem prestando assistência direta ao paciente e

transmitindo a prática aos estudantes de enfermagem acrescida do tempo restrito e

da falta de um local adequado e não muito distante do setor para que as aulas

aconteçam são fatores que dificultam esta prática, entretanto Santos (2003, p.81)

ressalta que a aula expositiva é adequada para transmitir conhecimentos,

experiências e despertar a atenção dos estudantes para determinados assuntos.

A escolha e utilização das diversas estratégias têm por finalidade atender ao

processo de ensino-aprendizagem dos estudantes em campos de estágio. Não

existe, entretanto, uma padronização de estratégias que possam ser aplicadas em

diferentes situações nos cenários de prática, o que existe é uma adequação de

estratégias que visa facilitar a aprendizagem dos estudantes.

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124

Identifiquei a Legitimação como modo operacional da ideologia, por serem

legítimas, justas e dignas de apoio, pois em todos os momentos os enfermeiros

estão possibilitando o desenvolvimento das atividades dos estudantes de

enfermagem e a Unificação, unindo estudantes e enfermeiros independentes de

suas classes sociais, utilizando a estratégia de Padronização como formas de inserir

e facilitar o trabalho dos estudantes no cenário hospitalar.

A utilização das estratégias de ensino-aprendizagem possibilita ainda a

identificação e interpretação das muitas formas simbólicas que são evidenciadas

durante o processo, pois depende do envolvimento profissional e ideológico de cada

enfermeiro.

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125

Papoulas em Argenteuil, 1873


Monet

O florescer da conclusão do estudo:


etapa máxima do caminho percorrido.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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126

Este estudo permitiu compreender e refletir acerca da proposta de trabalho de

um grupo de enfermeiros comprometidos com a formação dos estudantes de

graduação em enfermagem, partindo das experiências destes enfermeiros com

estudantes e nas formas simbólicas produzidas e interpretadas no ensino prático em

campo de estágio. O referencial teórico-metodológico utilizado favoreceu o

entendimento das relações sociais entre enfermeiros e estudantes em campos de

estágio contribuindo para atingir os objetivos propostos.

Utilizando o referencial teórico, foi possível identificar quatro modos de

operação da ideologia; a Legitimação, a Unificação, a Dissimulação e a

Fragmentação e algumas estratégias de construção simbólica como a

Racionalização, a Narrativização, a Padronização, a Simbolização da Unidade, o

Deslocamento e a Diferenciação, que permearam a análise profunda deste estudo.

Busquei conhecer através dos modos de operação da ideologia e suas

respectivas estratégias como ocorre o processo de ensino-aprendizagem no campo

de ensino prático de uma instituição privada. As ações, falas, atitudes, gestos e

expressões como formas simbólicas produzidas na prática dos enfermeiros e

interpretadas pelos estudantes de graduação foram a fonte de conhecimentos que

permitiu desvendar os significados mais importantes que emergiram das

experiências desses enfermeiros.

O Prontobaby Hospital da Criança como cenário deste estudo e como uma

instituição estruturada possibilitou mostrar como se dá o processo de ensino-

aprendizagem com estudantes de graduação em Enfermagem desenvolvido pelo

grupo de enfermeiros e sua articulação com as formas simbólicas que emergem da

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127

prática dos enfermeiros com os estudantes em campo de estágio de um hospital

especializado.

Ao analisar atentamente as falas dos enfermeiros identifiquei aspectos

relevantes tais como, a preocupação com a aprendizagem, o incentivo que os

enfermeiros proporcionam aos estudantes e o estímulo ao desenvolvimento das

atividades práticas dos estudantes, que os levaram a serem comprometidos com o

processo de ensino-aprendizagem e com a relação que se estabelece entre

enfermeiros e estudantes. O enfermeiro no papel de facilitador da aprendizagem

possibilitou momentos de trocas de experiências e conhecimentos entre estudantes

e enfermeiros analisado sob o significado das formas simbólicas transmitidas pelos

enfermeiros e como elas são recebidas e entendidas pelos estudantes no cenário

hospitalar.

As relações de poder assimétrico foram evidenciadas em alguns momentos

deste estudo, constatando que entre estudantes e enfermeiros perdura o poder que

o enfermeiro, com seu conhecimento e sua posição numa instituição social, tem

sobre o estudante, dificultando, em alguns momentos, a interação de troca e

aprendizagem.

Na contramão das relações de poder, me deparei com o comprometimento e

o envolvimento de enfermeiros na busca contínua do conhecimento e no incentivo

que os mesmos proporcionam aos estudantes na execução da prática e na

aquisição de novos conhecimentos, procurando ainda minimizar diferenças sociais e

profissionais entre o enfermeiro que ensina e o estudante que aprende.

O estudante no desenvolver do estágio convive com a linguagem não verbal e

com as formas simbólicas, que efetivamente, significa muito para ele. A transmissão

do ensino prático envolve as mais variadas formas simbólicas que estão presentes

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128

no cotidiano do enfermeiro e do estudante. Através das falas, atitudes, gestos e

expressões as informações são transmitidas para disseminar o saber, mas também

identificar situações de exclusão percebidas pelos estudantes.

O convívio com estudantes despertou nos enfermeiros mudanças marcantes,

no desejo de mudar e buscar novas fontes de conhecimentos, de melhor se

capacitarem e estarem mais atualizados para desempenhar o papel de quem ensina.

A procura por cursos de licenciatura, mestrado e outros com conteúdo pedagógico

para melhor preparar os enfermeiros para o ensino também foi evidenciado.

Para os estudantes, com suas expectativas em querer crescer e melhor se

capacitar diferenciando-o no mercado de trabalho as contribuições relacionadas à

segurança, a autonomia e o ingresso no primeiro emprego foram bastante

valorizadas, bem como as atividades práticas desenvolvidas.

Foram encontrados aspectos facilitadores da prática dos enfermeiros como

gostar de ensinar, a interação positiva entre enfermeiro e estudante, a motivação e o

interesse do enfermeiro no processo de ensino-aprendizagem e um cenário rico para

o aprendizado. Outros aspectos como a falta de tempo associado às muitas

atribuições exercidas pelo enfermeiro, e o tempo restrito dos estudantes para

atuarem nos campos de estágio constitui alguns aspectos que dificultam o ensino-

aprendizagem nos campos de estágio. Estratégias de ensino-aprendizagem como as

leituras de textos, o dever de casa, as aulas práticas e os estudos clínicos também

foram adotados pelos enfermeiros para facilitar o ensino e estimular o estudante a

crescer.

O estudo permitiu atender aos objetivos propostos permitindo perceber que se

desejamos ter no mercado de trabalho profissionais competentes, comprometidos e

com pensamento crítico e reflexivo, precisamos nos preocupar com a formação

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129

destes profissionais e o quanto nossa contribuição como enfermeiros preceptores

em campos de estágio é relevante para o processo de ensino-aprendizagem dos

estudantes.

O processo de globalização que estamos vivendo nos direciona para novos

horizontes. Novos cursos de Enfermagem de nível superior de escolas da rede

privada estão surgindo, o ensino prático de escolas de Enfermagem, em sua maioria

da rede pública, que antes era restrito aos campos de estágio de hospitais

universitários, estão se expandindo e atualmente já encontramos professores e

estudantes em campos de estágio curricular em instituições hospitalares da rede

privada.

A participação de enfermeiros como preceptores de estudantes em estágio

curricular e extracurricular, tanto nos hospitais universitários quanto nos demais,

independentes de sua origem, deve ser vista como uma parceria entre escolas e

hospitais, valorizando a importância deste enfermeiro como colaborador do processo

de ensino-aprendizado para os estudantes nos campos de estágio, favorecendo e

fortalecendo desta forma a interação entre a prática, o ensino e a pesquisa.

“Mais importante do que a obra


de arte propriamente dita é
o que ela vai gerar. A arte pode
morrer; um quadro desaparecer,
mas o que conta é a semente”.
(Miró, pintor)

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130

Meninas ao Piano, 1892


Renoir

As referências de um estudo são como


uma partitura. Não há pesquisa sem o seu
auxílio e o seu domínio.

REFERÊNCIAS

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Bookman, 2005

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135

A Conversa, 1909
Matisse

Os conteúdos importantes que emegem das


entrevistas e das observações encontradas no estudo.

APÊNDICES

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APÊNDICE A

ROTEIRO DE ENTREVISTA COM O ENFERMEIRO

Objeto de estudo: “formas simbólicas produzidas na prática dos enfermeiros com


estudantes de graduação em campo de estágio”

Objetivos: - descrever as experiências dos enfermeiros com estudantes de graduação no


desenvolvimento do estágio prático;
- analisar a articulação das formas simbólicas que emergem da prática dos
enfermeiros com estudantes de graduação em campo de estágio prático.

I)IDENTIFICAÇÃO

 Código recebido:
 Tempo de formado:
 Fez estágio extracurricular: ( ) S ( )N ( ) Internato ( ) Outros
( ) Rede pública ( ) Rede privada
 Tempo de experiência profissional:
 Tempo de atuação neste hospital:
 Outro emprego ( ) S ( ) N ( ) Público ( ) Privado
 Qualificação: ( ) Graduação ( ) Especialização. Área: _______________
 ( ) Mestrado/Doutorado
 Experiência anterior com aluno de graduação: ( ) S ( )N
 Data: Horário: Início: Término:
 Local agendado:

II)QUESTÕES:

1- Como você descreveria a experiência enfermeiro/estudante nos campos de estágio?


2- Como você se sente como colaboradora do processo de ensino-aprendizagem desses
estudantes? Sugere alguma estratégia que possa ser adotada?
3- Quais as contribuições que o estágio oferece para a formação dos estudantes de
graduação?
4- Quais as atividades de enfermagem desenvolvidas pelos estudantes?
5- Como você vê a participação do estudante em campos de estágio?

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137

APÊNDICE B

ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

Objeto de estudo: “formas simbólicas produzidas na prática dos enfermeiros com


estudantes de graduação em campo de estágio”

Objetivos: - descrever as experiências dos enfermeiros com estudantes de graduação no


desenvolvimento do estágio prático;
- analisar a articulação das formas simbólicas que emergem da prática dos
enfermeiros com estudantes de graduação em campo de estágio prático.

Nº da observação: Data:
Horário: Início: Término: Duração:
Assunto observado:
Descrição do local (setor):
Descrição dos sujeitos:
Descrição dos diálogos:
Descrição das atividades dos enfermeiros em relação aos estudantes.
Descrição da relação entre enfermeiro e estudante de enfermagem:
Destaque das situações-problema identificadas:
Descrição das atividades dos estudantes:
Impressões do observador:

_______________________________________________________________

Aspectos considerados relevantes para uma observação:


Polit, Beck e Hungler (2004, p.267)

1) O ambiente físico: “onde”?


Onde a atividade está acontecendo? Quais as principais características do ambiente físico? Qual o contexto no qual o comportamento
humano se revela?
2) Os participantes: “quem”?
Quem está presente? Quais as características dos presentes? Quantas pessoas existem? Quais são os seus papéis? Quem está dando livre
acesso ao ambiente?
3) Atividades: “o que”?
O que está acontecendo? O que os participantes estão fazendo? Como os participantes interagem uns com os outros? Quais
os métodos usados por eles para se comunicar e com que frequência o fazem?
4) Frequência e duração: “quando”?
Quando a atividade começou e terminou? A atividade é recorrente? A atividade observada é típica? Em que grau?
5) Processo: “como”?
Como a atividade está organizada? Como as pessoas estão interagindo e se comunicando? Como o evento se desdobra?
6) Resultados: “por que”?
Por que a atividade está acontecendo, ou por que está acontecendo desta maneira? Que tipos de coisas resultam? O que não aconteceu e
deveria ter acontecido, e por que?

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138

APÊNDICE C

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139

Duas Personagens, 1934


Picasso

Os anexos como outros personagens


importantes que fazem parte deste estudo.

ANEXOS

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ANEXO A

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141

ANEXO B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

A pesquisa intitula-se “A PRÁTICA DO ENFERMEIRO COM O ESTUDANTE


DE GRADUAÇÃO EM ESTÁGIO EXTRACURRICULAR”, de autoria da mestranda
Margarete Perez Machado, sob a orientação da Profª Drª Neiva Maria Picinini
Santos, da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. O estudo tem como objetivos descrever as experiências dos enfermeiros
com estudantes do curso de graduação em enfermagem no desenvolvimento do
estágio extracurricular e analisar a correlação das formas simbólicas, através das
ações, falas, gestos, atitudes e expressões faladas ou escritas, produzidas pelas
experiências dos enfermeiros e a aprendizagem dos estudantes em campos de
estágio extracurricular.
A justificativa do estudo está pautada na importância de conhecer as
experiências dos enfermeiros com o estudante de graduação em estágio
extracurricular. O procedimento utilizado será uma entrevista contendo
perguntas que enfocam as experiências dos enfermeiros como preceptores nos
campos de estágio, as estratégias adotadas pelos enfermeiros e as contribuições
que o estágio extracurricular oferece para a formação dos estudantes de
graduação. As entrevistas serão realizadas pela pesquisadora, de acordo com
local e horário escolhidos pelos entrevistados, sendo as mesmas gravadas em
fita magnética, garantido o seu anonimato e das pessoas citadas durante a
entrevista, e respeitada a sua recusa em participar ou retirar seu consentimento,
em qualquer fase da pesquisa, uma vez que sua participação é voluntária, não
acarretando riscos de ordem financeira, social, moral ou profissional. Os
benefícios da pesquisa estão direcionados para a importância da participação do
enfermeiro na formação profissional, assim como contribuindo para a qualidade
do ensino de graduação. Ressalto que após a entrevista, apresentarei a

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142

transcrição das fitas para sua revisão e aprovação para atender aos fins da
pesquisa e posterior publicação em periódicos e/ou livros, e que as mesmas
ficarão guardadas em poder do pesquisador responsável pelo período de cinco
anos após o término da pesquisa, sendo então destruídas após este prazo. O
TCLE será apresentado aos participantes de forma individual, estando os
pesquisadores, cujos telefones e e-mail se encontram abaixo, à disposição para
sanar qualquer tipo de dúvida e fornecer outras informações sobre o presente
estudo.

Rio de Janeiro, _____ de ______________ de 2005.

__________________________________
Entrevistado(a)

__________________________________
Pesquisadora
Margarete Perez Machado
Tels: 2557 6579 ; 9984 7532
e-mail: margareteperez@uol.com.br

__________________________________
Orientadora
Neiva Maria Picinini Santos
Tel: 2293 8999
e-mail: npicinini@yahoo.com.br

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