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Educação a Distância
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Educação em Rede

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Dr. Rosangela Bonici

Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Educação em Rede

Fonte: Thinkstock/Getty Images


Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:
• Introdução
• Educação em Rede
• O Conhecimento em Rede
• Comunidades em Rede
• As Comunidades Virtuais de Aprendizagem
• A Educação a Distância Mediada por Ambientes Virtuais
• Conclusão

Objetivos
• Compreender o conhecimento em rede.
• Conceituar e identificar as comunidades em rede.
• Perceber que a educação a distância é mediada por ambientes virtuais.
• Entender a aprendizagem nas comunidades virtuais para tal fim.
UNIDADE
Educação em Rede

Contextualização
A evolução tecnológica que aconteceu após a invenção do computador e da internet
permitiu uma mudança radical na forma com que nos comunicamos. No Report of
the special rapporteur on the promotion and protection of the right to freedom
of opinion and expression, Frank La Rue, publicado em 2011, a Organização das
Nações Unidas (ONU) declarou que o acesso à rede é um direito fundamental do ser
humano, mostrando, assim, o grau de importância que o mundo virtual tem em nossa
vida concreta.

Vivemos na Era Digital e quer queira, quer não, o mundo está, de alguma forma,
conectado. Além de alterar nossa vida concreta, as tecnologias trazem mudanças
significativas à educação. Tais recursos têm lançado novos paradigmas sobre o ensino.
A principal questão que se apresenta, hoje, para os educadores, é como utilizar os
recursos tecnológicos de maneira eficiente, do ponto de vista pedagógico.

Dessa forma, é importante conhecermos e estudarmos a educação em rede e as


possibilidades que esta apresenta para a educação do século XXI.

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Introdução
Nesta Unidade veremos o que é educação em rede, conhecimento em rede,
comunidades em rede, comunidades virtuais de aprendizagem e ambientes virtuais de
aprendizagem.

Aprimore seus conhecimentos.

Educação em Rede
Que tal iniciarmos nossos estudos sobre educação em rede com um vídeo de José
Mário? Este vídeo contextualiza de uma maneira simples e didática o que é educação e
conhecimento em rede.

Confira o vídeo Conhecimento em Rede e entenda mais sobre o assunto: https://goo.gl/tq0KlX

Durante a Revolução Industrial, os valores então reinantes eram os de um glorioso


mundo mecanizado, que Frederick Taylor transformou em forma de organização ideal.
Tal modo de pensar o mundo manifestou-se e propagou-se na estrutura das escolas
que, por meio da organização espacial – alunos em fila – e do controle do tempo – sinal
para entrar e sair, a instrução de ouvir e responder, a apresentação de conteúdos fora
de contextos, a proliferação de disciplinas artificialmente separadas, a memorização e
reprodução de textos inertes –, consolidaram um modelo educacional com currículos
rígidos e que buscavam adaptar o homem moderno às necessidades das indústrias.

Saiba mais sobre Frederick Taylor: https://goo.gl/bWmMjm

Na sociedade da informação e do conhecimento, a metáfora da máquina já não tem


sentido como modelo inspirador da educação e aprendizagem. A metáfora que agora
parece nos inspirar é a da rede. A ideia de rede constitui uma imagem emergente para a
representação do conhecimento, inspirada, em grande parte, nas tecnologias informacionais.

Dito de outra forma, a metáfora da máquina valorizava o individualismo, a ausência


de contextos, a rotina, a mecanização, a passividade; ao passo que a metáfora da rede
valoriza a comunidade, a interação, os contextos, a complexidade, o fluxo, a mudança.

Em um ambiente mecanicista, o aluno aprendia isolado, inserido em uma multidão


de outros estudantes igualmente isolados. Construía sua aprendizagem e era avaliado
sozinho. Esse sistema o tornava individualista porque era penalizado se não o fosse.

Nos ambientes em rede, os alunos, membros de comunidades, sentem que a


construção de seus conhecimentos é uma aventura coletiva. Vão aprendendo que o
construído no coletivo, muitas vezes, não seria possível se realizado solitariamente.
Aprendem que fazem parte de comunidades e que o partilhado é, afinal, importante
para o que compartilham com as outras. Vão aprendendo que o seu próprio valor para
uma comunidade depende não apenas de si, como seres isolados, mas também da
forma como podem contribuir para o coletivo.

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UNIDADE
Educação em Rede

Em um mundo inspirado pelas redes e enriquecido pelo recurso das tecnologias


da informação e comunicação, deve-se tornar possível a construção de saberes pelos
próprios alunos, em ambientes ativos e culturalmente ricos – lugares que raramente
existem no contexto escolar que conhecemos.

As tecnologias de informação e comunicação potencializam a construção de novos


conhecimentos à medida que facilitam o acesso às informações e dados em quantidade
e velocidade antes inimagináveis. Todavia, o processo de conhecer, como o entendemos
atualmente, não é sinônimo de informação, passa necessariamente pela construção de
significados, representações e ações cognitivas complexas.

O fato de as informações estarem disponíveis não garante o conhecimento.


O processo de conhecer aciona faculdades cognitivas, como as apontadas por Lévy
(2000): perceber, imaginar e manipular.

Lévy (2000, p. 157) descreve a capacidade de perceber como:


A faculdade de percepção ou do reconhecimento de formas é caracterizada por sua
grande rapidez. O sistema cognitivo se estabiliza em uma fração de segundos na
interpretação de uma determinada distribuição de excitação dos captadores sensoriais.
Reconhecemos imediatamente uma situação ou um objeto, encontramos a solução
de uma situação ou um objeto, encontramos a solução de um problema simples, sem
que para isto tenhamos que recorrer a uma cadeia de deduções conscientes. Nisto,
somos exatamente como os outros animais. A percepção imediata é a habilidade
cognitiva básica.

Em relação à faculdade de imaginar, ou de fazer simulações mentais do mundo


exterior, esse teórico diz ser
[...] um tipo particular de percepção, desencadeada por estímulos internos. Ela nos
permite antecipar as consequências de nossos atos. A imaginação é a condição da
escolha da decisão deliberada: o que aconteceria se fizéssemos isto ou aquilo? Graças
a esta faculdade, nós tiramos partido de nossas experiências anteriores. A capacidade
de simular o ambiente e suas reações tem, certamente, um papel fundamental para
todos os organismos capazes de aprendizagem (LÉVY, 2000, p. 157).

Por fim, diz que dispomos de uma faculdade operativa, ou manipulativa, que seria
muito mais específica da espécie humana que as anteriores:
A aptidão para a bricolagem é a marca distintiva do homo faber (ainda que haja
apenas uma diferença de grau em relação às performances dos animais, em
particular daqueles que servem-se de seus membros anteriores para outros fins que
não a locomoção). Este poder de manejar e de remanejar o ambiente irá mostrar-
se crucial para a construção da cultura, o pensamento biológico ou abstrato sendo
apenas um dos aspectos, variável e historicamente datado, dessa cultura. Na verdade,
é porque possuímos grandes aptidões para manipulação e bricolagem que podemos
trafegar, reordenar e dispor parcelas do mundo que nos cerca de tal forma que elas
acabem por representar alguma coisa. Agenciamos sistemas semióticos da mesma
forma como trabalhamos o sílex, como construímos cabanas de madeira ou barcos.
As cabanas servem para abrigar-nos, os barcos para navegar, os sistemas semióticos
para representar (LÉVY, 2000, p. 157-158).

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O Conhecimento em Rede
O conhecimento em rede permite que pessoas, mediante a troca de informações,
experiências e/ou interações, liguem-se e se religuem a todo momento, possibilitando
processos de aprendizagem a qualquer hora e em qualquer lugar. Esse conhecimento
ocorre a partir do respeito às diversidades presentes nos ambientes de interação.

Conseguimos avançar quando analisamos a metáfora da rede sob a perspectiva das


relações construídas a partir de interações de significados. Para compreender melhor
esse processo, imaginemos uma rede como a da figura abaixo:

Figura 1 – Conhecimento em rede


Fonte: iStock/Getty Images

Machado (2005) sintetiza a dinâmica dos processos cognitivos que geram o


conhecimento em rede a partir dos seguintes tópicos:
·· Compreender é apreender o significado;
·· Apreender é vê-lo em suas relações com os outros objetos e/ou
acontecimentos. Os significados constituem os feixes de relações;
·· As relações entretecem-se e articulam-se em teias, em redes, construídas
social, individualmente e em permanente estado de atualização;
·· Em ambos os níveis – individual e social – a ideia de conhecer assemelha-se
à de enredar.

Assim, a rede descrita subsiste em um espaço de representações, constitui uma


teia de significados. Os pontos – nós – são significados – de objetos, pessoas, lugares,
proposições, teses etc., enquanto as ligações são relações entre nós, não subsistindo
isoladamente, mas apenas enquanto pontes entre pontos (MACHADO, 2005, p. 139).

Essa forma de pensar muda substancialmente nosso modo de perceber a educação,


os processos de ensinar e aprender. Por outro lado, a quantidade de informações
disponíveis, principalmente nos ambientes virtuais, precisa ser organizada e mapeada a

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UNIDADE
Educação em Rede

partir de mecanismos de acesso e organização.

Em entrevista ao programa Roda Viva, em 2001, Pierre Lévy enfatiza a necessidade


de buscarmos desenvolver a competência de filtrar informações e de assumirmos nossa
autonomia de decisão sobre o como e o quê, de fato, interessa-nos.

Confira a entrevista que Pierre Lévy cedeu para o programa Roda Viva.
Disponível em: https://goo.gl/eaGdOL

Nosso grande desafio nesse processo não é somente aprender constantemente,


mas também ensinar, ou seja, criar e alimentar relações coletivas que viabilizem a
autonomia individual e fortifiquem o coletivo. Mais do que nunca, precisamos aprender
a viver em comunidade.

Comunidades em Rede
Muitos autores têm ressaltado a importância dos meios de comunicação que, em
função de sua ação, modificam o espaço, o tempo e as relações entre as várias partes da
sociedade. Assim, a comunicação mediada por computador vem afetando a sociedade,
influenciando a vida das pessoas e a noção de comunidade. As comunidades mediadas
por computador são chamadas de comunidades virtuais. Ou seja, comunidade virtual
seria o termo utilizado para os agrupamentos humanos que surgem no ciberespaço e
mantêm relações sociais.

Rheingold (1994) foi o primeiro autor a difundir o conceito de comunidade


virtual, definindo-a como agregados sociais que surgem da rede – internet – quando
uma quantidade suficiente de pessoas leva adiante discussões públicas durante um
determinado tempo, com suficientes sentimentos humanos, a fim de formar redes de
relações pessoais no ciberespaço.

Para Recuero (2001) comunidade virtual seria o termo utilizado para agrupamentos
humanos que surgem no ciberespaço e se relacionam entre si. As características principais
da comunidade virtual seriam: interatividade e permanência – que é o sentimento de
pertencimento ao grupo.
As comunidades virtuais são redes eletrônicas de comunicação interativa autodefinidas,
organizadas em torno de um interesse ou finalidade compartilhados. Podem abarcar
e integrar diferentes formas de expressão, bem como a diversidade de interesses,
valores e imaginações, inclusive a expressão de conflitos, devido às suas diversificações,
multimodalidades e versatilidades. O desenvolvimento de comunidades virtuais se apóia
na interconexão e se constitui por meio de contatos e interações de todos os tipos
(SCHLEMMER; CARVALHO, 2005, p. 2).

Para Lévy (1999) o “dilúvio de informações”, ao qual estamos expostos, acaba


por favorecer a criação de grupos, comunidades que se aproximam por interesses
comuns, gerando as “comunidades virtuais”. Tais comunidades criam diferentes formas
de relacionamento entre os indivíduos, ampliam as relações e expandem os processos
educacionais para além dos muros das escolas.

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A criação de comunidades virtuais é orientada pelo crescimento do ciberespaço, a
interconexão e a inteligência coletiva. Lévy (1999) diz ainda que a “[...] interconexão
constitui a humanidade em um contínuo sem fronteiras [...]”, todos no mesmo “[...] banho
de comunicação interativa [...] tece um universal por contato [...]” no ciberespaço. Um
universal heterogêneo que cresce e expande filamentos, sem totalidade. Interconexão,
comunidade virtual e inteligência coletiva são aspectos de um universal por contato.

Ainda segundo esse autor, a comunidade virtual é construída sobre afinidades de


interesses, de conhecimentos, sobre projetos mútuos, em um processo de cooperação ou
de troca, independentemente das proximidades geográficas e das filiações institucionais.
Cabe a essa estabelecer as normas de convivência, a sua netiqueta e não encorajar
o anonimato. Assim como nas comunidades presenciais, podem surgir afinidades,
amizades, conflitos, manipulações e enganações.

Entenda melhor sobre o conjunto de normas de convivência conhecida como Netiqueta.


Disponível em: http://goo.gl/KBXv70

As comunidades virtuais exploram novas formas de opinião pública, nas quais


ocorrem contatos e interações de todos os tipos. Trata-se de um coletivo mais ou menos
permanente que se organiza, interconectado, por meio do novo correio eletrônico mundial.
“Comunidade atual seria a expressão muito mais adequada para descrever os fenômenos
de comunicação coletiva no ciberespaço do que comunidade virtual” (LÉVY, 1999).

As comunidades virtuais se constituem de grupos de pessoas interconectadas em


busca da inteligência coletiva, ou seja, é uma inteligência coletiva em potencial. Um
grupo humano se interessa em constituir-se como comunidade virtual para aproximar-se
do ideal do coletivo inteligente, mais imaginativo, mais capaz de aprender e inventar.
A virtualização e/ou desterritorialização das comunidades no ciberespaço são condições
para haver inteligência coletiva em grande escala.

A inteligência coletiva é o terceiro princípio da cibercultura. O ciberespaço é a


ferramenta de organização de comunidades de todos os tipos, de modo que o melhor
uso do ciberespaço pode ser alcançado ao se colocar em sinergia os saberes, as
imaginações e as energias espirituais daqueles de estão conectados a esse. A cibercultura
é a expressão da aspiração de construção de um laço social, fundado sobre a reunião
em torno de centros de interesses comuns, no compartilhamento de informações, na
cooperação e nos processos de colaboração.

Com uma visão mais objetiva, Palloff e Pratt (2004) citam Preece ao afirmarem que
[...] comunidade on-line consiste em pessoas, em um objeto, em políticas comuns
e nos sistemas de computador. As pessoas interagem socialmente quando tentam
satisfazer suas próprias necessidades ou desempenhar papéis especiais, como os de
líder ou de moderador.

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UNIDADE
Educação em Rede

As Comunidades Virtuais de Aprendizagem


As comunidades virtuais podem ter diferentes objetivos, mas neste momento daremos
atenção às comunidades virtuais de aprendizagem. Mas o que são?

A expressão comunidade virtual de aprendizagem é muito utilizada para designar


grupos no ciberespaço que, por meio de interação on-line, desenvolvem aprendizagens.

As comunidades virtuais de aprendizagem realizam comunicações interativas onde


as normas, os valores e os comportamentos são definidos na própria comunidade;
a aprendizagem é cooperativa e todos os sujeitos têm o mesmo direito de participação,
assumindo papéis ativos na construção de seus conhecimentos e de acordo com o tema
da comunidade, de modo que o educador assume o papel de orientador.

Silva (2005) compreende as comunidades virtuais de aprendizagem como centradas


no aluno e nas quais o processo de ensino-aprendizagem se daria pela interação direta
com os conteúdos; pela participação ativa na pesquisa e exploração de informação;
pelo estabelecimento de uma relação direta com os criadores do conhecimento; pelo
confronto e divisão da diversidade de interpretações; pelo apoio docente ao aluno, no
desempenho de uma tarefa cognitiva complexa.

Para Figueiredo (2002) nos ambientes em rede, os “alunos-nós-de-rede”, membros de


comunidades virtuais de aprendizagem, sentem que a construção de seus conhecimentos
é uma aventura coletiva – uma jornada onde constroem os seus saberes, mas onde
contribuem, igualmente, para a construção dos saberes dos outros.

À medida que a aventura se renova, vão aprendendo que cada um vale, não apenas
por si, mas pela forma como se relaciona com os outros – entendem que no coletivo
constroem o que nunca ou ninguém conseguiria construir sozinho. Vão aprendendo
também que fazem parte, em simultâneo, de muitas comunidades e que o partilhado é,
afinal, importante para o que partilham com as outras pessoas. Vão aprendendo que o
seu próprio valor para uma comunidade depende não apenas de si, como seres isolados,
mas também da forma como podem contribuir para essa em função de fazerem parte
de tal comunidade.

Conforme Passarelli (2003), as comunidades virtuais de aprendizagem foram gestadas


no espaço midiático da internet e representam novas possibilidades para o processo de
ensino e aprendizagem, tanto no âmbito da educação formal – escolas tradicionais –,
como no da educação não formal – comunitária, para a vida.

De acordo com Palloff e Pratt (1999), as especificidades das comunidades virtuais de


aprendizagem seguem os seguintes pressupostos:
·· Destinar-se a interesses comuns a todos os sujeitos participantes;
·· Ênfase no trabalho em equipe;
·· Centrar sua dinâmica nos objetivos a serem alcançados;
·· Todos os sujeitos têm o mesmo direito de participação;

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·· Normas, valores e comportamentos são definidos na própria comunidade;
·· O educador assume o papel de orientador e animador da comunidade;
·· A aprendizagem é cooperativa/colaborativa;
·· O sujeito assume o papel ativo na construção de seu conhecimento, de
acordo com o tema da comunidade;
·· Interação permanente.

Aprendizagem nas Comunidades Virtuais de Aprendizagem


Ter uma comunidade virtual de aprendizagem constituída não garante a aprendizagem
entre seus membros.

A sociabilidade e a sensação de pertencimento ao grupo, ambas proporcionadas


pela comunidade virtual de aprendizagem, resultam em aprendizagem. Dito de outra
forma, a interação entre os participantes cria espaços que privilegiam a coconstrução do
conhecimento e, também, a consciência da ética ao interagir no conhecimento de outra
pessoa. Isto significa uma nova concepção de aprendizagem.

Palloff e Pratt (1999) propõem seis palavras-chave para haver aprendizagem


em uma comunidade on-line: honestidade, correspondência, pertinência, respeito,
franqueza e autonomia.

Em sua pesquisa, Bonici (2013) estudou o modelo de Comunidade de Inquirição


(COI) proposto por Garrison, Anderson e Archer (2000), visando perceber a eficácia da
aprendizagem on-line quando se trabalha em comunidades virtuais. O objetivo principal
desse modelo foi identificar e propor uma nova abordagem educacional, baseada nas
redes de aprendizagem assíncronas e colaborativas a distância, utilizadas no Ensino
Superior (GARRISON; ARBAUGH, 2007).

Bonici (2013) assume que o aprendizado on-line eficaz requer o desenvolvimento


de uma comunidade que ofereça suporte à investigação significativa e à aprendizagem
aprofundada, difícil de se conseguir no ambiente on-line. O modelo ainda pressupõe que
a aprendizagem ocorre por meio da relação entre três componentes principais: presença
social, presença de ensino e presença cognitiva, as quais se influenciam mutuamente.

Suporte
PRESENÇA do discurso PRESENÇA
SOCIAL COGNITIVA
Experiência
educacional
Negociação Seleção
do Clima Social dos conteúdos

PRESENÇA
DE ENSINO

Meio de comunicação
Figura 2 – Modelo das comunidades de inquirição
Fonte: Garrison, Anderson e Archer (2000)

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UNIDADE
Educação em Rede

Definiremos cada um desses componentes do modelo COI.

As Presenças Social, de Ensino e Cognitiva


O primeiro componente do modelo COI, a presença social, refere-se ao grau que
os estudantes se sentem social e emocionalmente conectados uns aos outros em um
ambiente on-line. Pode ser entendido como “[...] a capacidade que os participantes
têm de projetar suas características pessoais na comunidade on-line, apresentando-se
aos outros participantes como ‘pessoas reais’’’ (GARRISON; ANDERSON; ARCHER,
2000, p. 89). A presença social ajuda os participantes a interagirem de forma cordial
e agradável no grupo, levando à permanência no curso e contribuindo, assim, para o
sucesso da experiência educacional. Parece ainda facilitar os objetivos cognitivos, pois
leva os estudantes a se sentirem seguros para se comunicarem abertamente.

A presença de ensino consiste na concepção, facilitação e direcionamento de processos


cognitivos e sociais, objetivando que o estudante alcance resultados de aprendizagem.
Para se criar tal presença em contextos de cursos on-line, o professor deve exercer três
papéis principais: o primeiro diz respeito ao design e à organização do curso; o segundo
refere-se ao discurso facilitador; e o terceiro relaciona-se às instruções diretas fornecidas
aos estudantes.

A presença de ensino começa antes do início do curso, no momento em que o


professor concebe e prepara o plano do curso, continuando quando esse profissional
facilita o discurso e fornece instruções diretas, sempre que solicitadas pelos estudantes.

A presença cognitiva é a menos pesquisada e compreendida das três presenças,


no entanto, é a que leva ao âmago de uma comunidade de investigação. O elemento
básico para o sucesso no ensino on-line é a presença cognitiva, que é entendida como
a capacidade de os estudantes construírem conhecimentos por meio da reflexão e da
comunicação entre os participantes da comunidade.

O pensamento crítico é visto como um processo holístico e multifacetado que se


associa a um evento disparador seguido por deliberação, percepção, concepção e ação.
Os autores entendem que os pensamentos crítico e de inquirição correspondem a um
processo reflexivo interno da mente. O modelo assume um processo iterativo e uma
relação recíproca entre os mundos pessoais e compartilhados, ou seja, há uma sinergia
entre reflexão e ação comunicativa, constituindo o pensamento crítico e a integração de
deliberação e ação.

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A Educação a Distância Mediada por
Ambientes Virtuais
É bom lembrar que as comunidades virtuais de aprendizagem não se opõem às
comunidades físicas, pois possuem dinâmicas e regras diferentes de interação e, se utilizadas
da forma correta e com objetivos claros, levam à aprendizagem da mesma forma.

Percebemos uma mudança de cultura como consequência de alterações nos processos


de comunicação. Vivenciamos o nascimento da cultura da virtualidade real. A educação a
distância mediada por ambientes virtuais, ou ainda, Ambientes Virtuais de Aprendizagem
(AVA) fazem parte dessa nova cultura.

Para Ribeiro, Mendonça e Mendonça (2007) o AVA detém a função de mediação


do conhecimento e gestão pedagógica. São softwares elaborados com o objetivo de
disponibilizar para o aluno diversas ferramentas para promover a sua aprendizagem,
possuindo como principais vantagens:
[...] a interação entre o computador e o aluno; a possibilidade de se dar atenção individual
ao aluno; a possibilidade do aluno controlar seu próprio ritmo de aprendizagem,
assim como a sequência e o tempo; a apresentação dos materiais de estudo de modo
criativo, atrativo e integrado, estimulando e motivando a aprendizagem; a possibilidade
de ser usada para avaliar o aluno (RIBEIRO; MENDONÇA; MENDONÇA, 2007, p. 5).

Para Haguenauer, Lima e Cordeiro Filho (2010) o AVA é uma ferramenta com
dimensão pedagógica, em que o professor disponibiliza vários recursos para o aluno,
como textos, aulas, cronogramas e exercícios.

Para aprofundar a dinâmica das relações sociais, o docente pode empregar fóruns
temáticos, chats agendados e grupos de discussão. Por meio de pesquisas orientadas é
possível trocar experiências, tirar dúvidas e expor os resultados para todos os participantes.

A comunicação pode ser fomentada de modo síncrono, ou seja, em tempo real;


ou assíncrono, quando alunos, professores e colegas podem efetuar a comunicação em
tempos distintos, como em fóruns de discussão.

A linguagem utilizada deve ser diversificada, ou seja, intercalar textos acadêmicos e


informais, propiciando maior aproximação entre os participantes. É essencial tornar o
ambiente de aprendizagem um espaço “vivo” e atrativo para alunos e professores.

O AVA deve ser um espaço de cooperação e colaboração, que elimine a sensação


de isolamento, o desânimo, a ansiedade e a desmotivação. Deve ser um lugar destinado
à transmissão do saber a uma comunidade de aprendizagem, em que docentes e discentes
estão envolvidos diretamente no processo e desenvolvem habilidades profissionais,
técnicas e psicológicas.

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UNIDADE
Educação em Rede

Conclusão
Nesta Unidade vimos que a educação em rede começa a se firmar com o advento
dos computadores e da internet, potencializando a construção do conhecimento pelo
próprio aluno.

Vimos que o conhecimento em rede, por meio da troca de informações, permite


experiências e interações para que pessoas se liguem e religuem a todo momento, o
que possibilita a aprendizagem a qualquer hora e em qualquer lugar. Porém, para que
a aprendizagem se faça, é necessário saber mapear e organizar a informação a fim
de que se transforme em conhecimento. Os professores devem levar os estudantes ao
desenvolvimento dessas habilidades, de modo que adquiram o conhecimento esperado e
necessário para viverem na sociedade da informação e do conhecimento.

Vimos também que as comunidades em rede, ou comunidades mediadas por


computador, ou ainda comunidades virtuais, são agrupamentos humanos que surgem
no ciberespaço e mantêm relações sociais.

Entre os vários objetivos das comunidades virtuais, destacamos as comunidades


virtuais de aprendizagem, que podem ser descritas, de forma simplificada, como
grupos no ciberespaço que, por meio de interação on-line, desenvolvem aprendizagens.
Tais comunidades são centradas no aluno e no processo de ensino e aprendizagem.

É importante notar que fazer parte de uma comunidade virtual de aprendizagem


necessariamente não garante a aprendizagem entre seus membros. Para haver
aprendizagem é necessário, entre outras condições, que os membros da comunidade
se socializem, que tenham a sensação de pertencimento, que interajam, que criem
espaços de construção do conhecimento de forma ética, respeitando as opiniões dos
demais participantes.

Com a educação a distância surge a necessidade de disponibilizar no ciberespaço


materiais e ferramentas para promover a aprendizagem, assim aparecem os ambientes
virtuais, ou ainda os AVA, cuja função é a mediação do conhecimento e a gestão
pedagógica. Nesses recursos o professor pode disponibilizar para o aluno, textos,
aulas, cronogramas, exercícios, propor fóruns temáticos, chats agendados e grupos de
discussão, onde a interação entre discente e docente pode ser síncrona – em tempo real
– ou assíncrona – a qualquer tempo.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Vídeos
Conhecimento em rede
No vídeo, o professor Nilson Jose Machado nos fala sobre o conhecimento em rede.
http://goo.gl/l08yE8

 Leitura
Por um novo conceito de comunidade: redes sociais, comunidades pessoais, inteligência coletiva
Em seu artigo, Rogério Costa, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, trata
da transmutação do conceito de “comunidade” para “redes sociais”.
http://goo.gl/o1mNrl

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UNIDADE
Educação em Rede

Referências
BONICI, R. M. C. Análise da disciplina on-line de Probabilidade e estatística: o
modelo de comunidade de inquirição e a educação estatística no Ensino Superior. 2013.
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em: 11 fev. 2016.

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