Century Guild
Com 26 anos, Arthur H. Mackmurdo [1851-1942] conhece Os projetos do grupo fornecem alguns dos elos entre
Willian Morris e inspira-se em suas ideias e realizações no design o movimento Arts & Crafts e a estilização floral da
aplicado. Junto com Selwyn Image [1849-1930] e Herbert R. Art Nouveau.
Horne [1864-1916] funda a Century Guild. Seus obejtivos eram The Century Guild Hobby Horse começou a ser publicado
“passar todos os ramos da arte para a esfera, não em 1884 como a primeira revista com impressão refinada
mais do comerciante, mas do artista. As artes do exclusivamente dedicada às artes visuais. Tem influências
design deveriam ser elevadas ao seu lugar de direito da Idade Média e alguns antecipam formas do Art Nouveau,
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Arts & Crafts
ao lado da pintura e da escultura”. mas os padrões eram precoces para o seu tempo.
Willian Morris, tipo Golden, 1888-90.
Esta fonte inspirou renovado interesse
pela tipografia de estilo veneziano antigo.
O Hobby Horse era produzido por sir Emery “O ornamento, seja qual for, figura ou padronagem,
Walker [1851-1933] . Seu cuidadoso leiaute deve fazer parte da página, deve estar integrado ao
e composição, papel artesanal e ilustrações plano global do livro”.
xilográficas fizeram dele o arauto do interes-
se das Arts & Crafts pela tipografia, design Walker considerava o design do livro semelhante à arquite-
gráfico e impressão. Mackmurdo, além de an- tura, somente o cuidadoso planejamento de cada aspecto
tecipar a Art Nouveau, foi precursor do movimento da impren- – papel, tinta, tipo, espaçamento, margens, ilustração e orna-
sa particular e do renascimento do design de livros. mento – poderia resultar numa unidade de projeto.
O Hobby Horse foi o primeiro periódico a apresentar o ponto Após iniciar seu primeiro projeto de tipos, Morris aluga um
de vista das Arts & Crafts inglesas para o público europeu e chalé e batiza seu empre-
a tratar a impressão como uma forma séria de design. Num endimento de Kelmscott
artigo de 1887, Selwyn Image afirma que todas as formas de Press. Estava empenhado
expressão visual mereciam o estatuto de arte. em recapturar a beleza
“Pois quando começamos a perceber que todos os dos livros incunabulares
tipos inventados de forma, tonalidade e cor são as- – meticulosa impressão
pectos igualmente verdadeiros e respeitáveis da arte, manual, papel artesanal,
vemos algo muito parecido com uma revolução que xilogravuras feitas à mão,
surge na nossa frente”. capitulares etc. O livro
se tornava uma forma
de arte.
Kelmscott Press
Herbert Home, folha de rosto para
Em 1888, Willian Morris apresentou a tecelagem de tapeça- Poems, de Lionel Johnson, 1895.
Simetria, tipos contornados, espace-
rias, Walter Crane falou sobre design e Emery Walker sobre jamento de letras e alinhamento são
projeto e impressão de livros. Defendendo a unidade do de- as qualidades projetuais do trabalho
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Arts & Crafts
sign, Walker disse: de Home. As letras combinam perfei-
tamente com a ilustração.
Walter Crane, esboços de leiaute de The Willian Morris, página de
Bases of Design [As Bases do Design], O paradoxo de Willian Morris é que, enquanto procurava refúgio texto de The Works of Geoffrey
1898. Crane usou estes esboços para Chaucer, 1896. Belas páginas
demonstrar a relação entre páginas du-
no trabalho manual feito no passado, desenvolveu atitudes em de textura e tonalidade contêm
plas que formam uma unidade, e o modo relação ao design que delineavam o futuro. Sua influência no de- uma ordem e nitidez que
como as margens podem ser usadas sign gráfico não ficou apenas na imitação de seu estilo, e sim no tornam legíveis e acessíveis as
para efeito decorativo. palavras do autor.
conceito de livro bem-feito, belos projetos tipográficos baseados
em modelos anteriores e seu senso de unidade de design, que
inspiraram uma geração inteira de designers de livros.
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Arts & Crafts
O Movimento da
Imprensa Particular
Em 1888, Charles R. Ashbee [1863-1942] fundou a Guilda
de Artesanato. Sua escola unificou o ensino do design e da
teoria com a experiência da oficina. Em 1890 a guilda alugou
a Essex House. Após a morte de Willian Morris, Ashbee
adquire todo equipamento disponível da Kelmscott Press e
forma a Essex House Press.
Em 1900, T. J. Cobden-Sanderson [1840-1922] juntou-se
a Emery Walker na fundação da Doves Press para “atacar
o problema da tipografia pura”, com a opinião de que
“a obrigação primordial da tipografia é comuni-
car à imaginação, sem perder pelo caminho, o
pensamento ou a imagem que o autor pretendia
transmitir”.
Os livros da Doves Press são tipograficamente maravilho-
sos. Ilustração e ornamento foram descartados, produzidos
com papel de excelente qualidade, impressão perfeita e
tipos e espaçamentos requintados. Utilizavam capitulares
de Edward Johnston [1872-1944] , um mestre calígrafo.
Seu estudo sobre técnicas caligráficas e manuscritos anti-
gos, bem como suas atividades de ensino fizeram dele uma
Charle R. Ashbee, páginas do Salmo da Essex House, 1902. Iniciais abertas à mão em influência importante na área de letras.
blocos de madeira, tipos caligráficos, papel artesanal e impressão por prensa manual
combianm-se para recriar a qualidade dos incunábulos.
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Arts & Crafts
C.H. St. John Hornby, página da Legend
de São Francisco de Assis, 1922. O
livre uso da capitular e as palavras
iniciais impressas em cor notabilizaram
os leiautes da Ashendene Press.
Estabelecida em 1895, a Ashendene Press dirigida por C. H. ele banalizou o movimento inteiro enquanto seus defensores
St. John Hornby, mostrou-se uma excepcional imprensa par- acreditam que ele trouxe beleza à vida de pessoas comuns,
ticular. Os tipos eram inspirados nos tipos semigóticos. Tinham que, de outra forma, não teriam chance de aproveitar os
uma elegância vibrante e boa legibilidade, com moderadas frutos do movimento.
diferenças de peso entre os traços grossos e finos e uma letra Lucien Pissaro [1863-1944] aprendeu a desenhar com o
ligeiramente comprimida. pai, o pintor Camille Pissaro e depois fundou a Eragny Press
Uma reviravolta curiosa no movimento Arts & Crafts é o norte- com sua mulher, Esther Bensusan [1870-1951] . Suas
americano Elbert Hubbard [1856-1915] , que conheceu impressões tinham xilogravuras de 3 ou 4 cores e se inspi-
Willian Morris em 1894 e estabeleceu sua Roycroft Press [grá- ravam no passado e no presente, abrindo espaço para o Art
fica] e Roycroft Shops [oficinas artesanais] em Nova Iorque, Nouveau.
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Arts & Crafts
que tornaram-se atrações turisticas. Seus críticos dizem que
S. H. de Roos, páginas de Hand and Soul,
de Dante Gabriel Rosseti, publicado por
De Heuvelpers (The Hill Press), 1929.
Morris, o movimento Arts & Crafts e as imprensas particulares O legado do movimento Arts & Crafts ultrapassa as artes
revitalizaram a tipografia. Os tipos dos mestres Garamond, visuais. O comportamento de seus defensores quanto a
Plantin, Caslon, Baskerville e Bodoni foram estudados, abertos materiais, função e valor social tornou-se importante inspira-
e oferecidos para composição no início do século XX. ção para os designers do século XX. Seu impacto positivo no
Nos Estados Unidos a American Type Founders Company design gráfico continua um século após a morte de William
[ATF] montou ampla biblioteca para pesquisa tipográfica e foi Morris graças à retomada de tipos anteriores, aos constantes
importante na retomada de projetos anteriores, como varia- esforços rumo à excelência no design e na tipografia de livros
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Arts & Crafts
ções de Bodoni, Garamond, Jenson e Goudy entre outras. e ao movimento da imprensa particular, que perdura até hoje.
Bibliografia: História do Design Gráfico – Philip B. Meggs