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O TEXTO

DO NOVO
TESTAMENTO
Curso de Introdução
à Crítica Textual

Instituto Schaeffer de Teologia e Cultura


Marcelo Berti
Aula 2
Definição de
Variante Textual
Esboço da Aula

Definição: O que é Variante Textual?


1. Realidade das Variantes
2. Quantidade de Variantes
3. Definição de Variantes
4. Tipos de Variantes
5. Classificação das Variantes

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Variantes Textuais
Introdução às Variantes Textuais na Tradição Manuscrita
do Novo Testamento

I. Realidade das Variantes Textuais

1.

“Existem duas razões principais para a Crítica Textual do Novo Testamento: (1) o docu-
mento original (também conhecido como autógrafo) não existe mais; e (2) não existem
duas cópias que concordem completamente. De fato, mesmo entre as cópias mais si-
milares do primeiro milênio d.C., existe pelo menos dez diferenças por capítulo.”

Daniel Wallace, “Can We Trust the New Testament” in Reinventing Jesus: How
Contemporary Skeptics Miss the Real Jesus and Mislead Popular Culture (Grand
Rapids, MI: Kregel, 2006), 54

2.

a. (c.140 - 202 d.C)

Embora seja provável que a crítica textual tenha começado antes, um dos primeiros
casos registrados da crítica textual do Novo Testamento aparece nas obras de Irineu.
Em um exemplo, Irineu (c. 140–202 d.C.) preferiu uma leitura específica de Apocalipse
13:18, porque foi “encontrada em todas as cópias boas e antigas”.

Paul D. Wegner, A Student’s Guide to Textual Criticism of the Bible: Its History, Me-
thods & Results (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2006), 208.

b. (c.185 - 254)

“As diferenças entre os manuscritos se tornaram grandes, seja por negligência de alguns
copistas ou pela audácia perversa de outros; eles se esquecem de verificar o que trans-
creveram ou, no processo de verificação, aumentam ou diminuem conforme desejarem”

Bart Ehrman and Bruce Manning Metzger. The Text of the New Testament: Its
Transmission Corruption and Restoration. 4th Edition (New Yourk, NY: Oxford,
2005), 200

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c. (c.347-420)

“Jerônimo, que tomou nota das leituras variantes, considerou que um manuscrito mais
antigo tinha mais peso do que um mais recente e preferiu leituras que melhor se adequas-
sem à gramática ou ao contexto de uma passagem”

Eldon Jay Epp, “Textual Criticism: New Testament,” ed. David Noel Freedman, The
Anchor Yale Bible Dictionary (New York: Doubleday, 1992), 6:427.

3.

Os escritos do Novo Testamento grego tornaram-se padronizados quando Constantino-


pla, também conhecido como Bizâncio, tornou-se o centro de transmissão. A cópia prolífi-
ca de manuscritos por profissionais (principalmente monges que trabalhavam o dia todo
na scriptoria em mosteiros, ou “salas de redação”), juntamente com a “correção” sistemá-
tica de seus exemplares para alinhá-los com uma versão mais completa do texto, resultou
na forma textual eclesiástica desenvolvida conhecida como o padrão bizantino.

Amy Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas
Mangum, Revised Edition., vol. 1, Lexham Methods Series (Bellingham, WA:
Lexham Press, 2018), 118.

4.

O NTG de Erasmo tornou-se a base do Textus Receptus (TR), que significa “o texto rece-
bido por todos”. O Textus Receptus, editado várias vezes por vários estudiosos, tornou-se
o texto grego padrão pelos próximos séculos. O texto de Erasmus também foi a base
de dois desenvolvimentos adicionais na produção da Bíblia: Martinho Lutero o usou para
traduzir o NT para o alemão (1522), e William Tyndale se baseou no trabalho de Erasmus
para sua tradução da Bíblia para o inglês (1526). A tradução de Tyndale, por sua vez, tor-
nou-se a base da versão King James (1611).

Amy Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas
Mangum, Revised Edition., vol. 1, Lexham Methods Series (Bellingham, WA:
Lexham Press, 2018), 119.

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5.

Maurice Robinson e William Pierpont, o The New Testament in the Original Greek - Byzantine
Textform. A edição de 2005 tem:

• 140.283 palavras
• 6.814 diferenças com NA27
• 1.800 com o Textus Receptus
• 500 variações entre os textos Bizantinos.

Já a edição de 2018
• 140.281 palavras
• 6.813 diferenças com NA28
• 552 variações do texto Bizantino.

Considere também a diferença de tamanho entre as obras impressas nos nossos dias:
Textus Receptus (1663) tem 140.929 palavras
Westcott e Hort (1881) tem apenas 137.838
UBS5 (2012) tem 138.213 palavras.

Diferença de tamanho entre as edições


NA28 e WH = 375 palavras (0.2%)
NA28 e TR = 2.716 (1.9%).
TR e WH = 3.091 (2,1%).

Agora, note que percentualmente esses valores não são tão impressionantes, e basea-
do nelas pode-se estimar que o texto do Novo Testamento teria crescido 2% em toda
sua história.

6.

A valiosa coleção de manuscritos, versões e citações do Novo Testamento que temos


concorda significativamente em geral, mas o impressionante número de vezes que o
Novo Testamento foi copiado explica por que há tantas diferenças entre eles.

Tommy Wasserman and Peter Gurry. A New Approach to Textual Criticism: An


Introduction to the Coherence-Based Genealogical Method (Resources for Biblical
Study Book 80, Atlanta: SBL Press, 2017), 1.

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II. Quantidade de Variantes

De acordo com Peter Gurry, no artigo The Number of Variants in the Greek New Testa-
ment: A Proposal Estimate (NTS 62, no. 1, 2016), as estimativas de variantes no texto
do Novo Testamento vem crescendo historicamente. Entretanto, tais estimativas tem
seus problemas. Por isso, nesse artigo ele oferece uma estimativa baseada em consi-
derações verificáveis.

1.

a. John Mill (1707): Durante 30 anos coletou cerca de .


b. Richard Bentley (1713) “Se mais cópias fosses coladas, o número de variantes
seria ainda maior”.
c. F.C. Scriviner (1861): Estimou .
d. Philip Schaff (1883): Estimou .
e. B.B. Warfield (1889): Estimou .
f. Eberhard Nestle (1897) Estimou .
g. Marvin Vincent (1899): Estimou .
h. Loui Pirot e Léon Vaganay (1934): Estimaram .

2.

a. Kenneth Clark (1966): Sugeriu algo entre .


b. Merrill Parvis: Estimou .
c. Dado Comumente Apresentado: tornou-se o número pa-
drão em livros e artigos de Crítica Textual.
d. Bart Ehrman: Sugeriu que acadêmicos estimam .

3.

De acordo com Peter Gury essas estimativas tinham três problemas:

(1)

(2)

(3)

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4.

“Sugerimos que uma estimativa razoável para o número de variantes textuais no Novo
Testamento grego (sem incluir diferenças de grafia) é de cerca de 500.000. Esta estima-
tiva - e enfatizamos que ainda é uma estimativa - é baseada em uma amostra de cerca
de três por cento de todo o Novo Testamento grego e inclui minúsculos, maiúsculos e
alguns lecionários”

Peter Gurry, “The Number of Variants in the Greek New Testament: A Proposal
Estimate,” NTS 62, no. 1 (2016), 119.

III. Definição de Variante Textual

1.

“A variante textual ou, em anos mais recentes, a unidade de variação fornece o ponto
focal para a crítica textual do NT. No entanto, nem toda “leitura” textual que varia de qual-
quer outra leitura na mesma unidade de texto pode ser chamada de “variante textual”.
Somente leituras variantes que são variantes “significativas” é que podem ser conside-
radas “variantes textuais”. Cada um desses termos requer uma definição cuidadosa.”

Eldon Jay Epp, “Textual Criticism: New Testament,” ed. David Noel Freedman, The
Anchor Yale Bible Dictionary (New York: Doubleday, 1992), 413.

2.

“O termo “variante” (ou “variante textual”) é reservado para as leituras que são signifi-
cativas nas principais tarefas da crítica textual do NT, conforme especificado acima:
determinar as relações dos manuscritos, localizar o manuscrito dentro da história tex-
tual e transmissão do NT, e no estabelecimento do texto original ou o texto mais antigo
possível do NT.”

Eldon Jay Epp, “Textual Criticism: New Testament,” ed. David Noel Freedman, The
Anchor Yale Bible Dictionary (New York: Doubleday, 1992), 413.

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IV. Tipos de Variantes Textuais

A. Mudanças Não Intencionais

1.

“Não há dúvida de que é grande o mistério da piedade: Aquele // Deus foi manifestado
em corpo, justificado no Espírito, visto pelos anjos, pregado entre as nações, crido no
mundo, recebido na glória” - 1Timóteo 3:16

Diferença:

ΘC - Theós (Deus)

ΟC - hós (Aquele)

2.

“Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz // tenhamos com Deus, por nosso Se-
nhor Jesus Cristo” - Romanos 5:1

Diferença:

ἔχομεν - echomen (temos)

ἔχωμεν - echōmen (tenhamos)

3.

“… os quais não nasceram // vieram a existir por descendência natural, nem pela vonta-
de da carne nem pela vontade de algum homem, mas nasceram de Deus” - João 1:13

Diferença:

ἐγεννήθησαν - egennēthēsan (nasceram)

ἐγενήθησαν - egenēthēsan (vieram a existir)

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4.

“Escolheu doze para que estivessem com Ele, os enviasse a pregar e tivessem autorida-
de para expulsar demônios. [Escolheu doze]” - Marcos 3:14-16

Similaridade:

καὶ ἐποίησεν δώδεκα - kai epoiēsen dōdeka (v.14)


καὶ ἐποίησεν δώδεκα - kai epoiēsen dōdeka (v.16)

5.

“E o levou a Jesus. Jesus olhou para ele e disse: “Você é Simão, filho de João // Jonas”
- João 1:42

Diferença:

Ἰωάννου - Iōannou (João)

Ἰωνᾶ - Iōnna (Jonas)

6.

“… mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não cabe a mim conceder.
Esses lugares pertencem àqueles para quem // aos outros foram preparados” - Mar-
cos 10:40

Diferença:

ἀλλʼ οἷς - allʼ hois (àqueles para quem)

ἄλλοις - allois (aos outros)

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7.

“Sabemos // Por um lado eu sei que a Lei é espiritual; eu, contudo, não o sou, pois fui
vendido como escravo ao pecado” - Romanos 7:14

Diferença:

οἴδαμεν - oidamen (Sabemos)


οἶδα μέν - oida men (Por um lado eu sei)

8.

“Todo o que nega o Filho também não tem o Pai; [quem confessa o Filho] tem o Pai.” -
1João 2:23

Similaridade:

τὸν πατέρα ἔχει - ton patera echei (tem o pai)

9.

“Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, aos santos e fiéis em Cristo Je-
sus que estão em Éfeso.” - Efésios 1:1

B. Mudanças Intencionais

1.

“Salomão gerou Roboão; Roboão gerou Abias; Abias gerou Asafe; Asafe gerou Josafá;
Josafá gerou Jorão; Jorão gerou Uzias” - Mateus 1:7-8

Diferença:

Ἀσάφ - Asaph (Asafe)


Ἀσά - Asa (Asá)

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2.

“Conforme está escrito no profeta Isaías // nos profetas // em Isaías e nos profetas: Envia-
rei à tua frente o meu mensageiro; ele preparará o teu caminho voz do que clama no de-
serto: ‘Preparem o caminho para o Senhor, endireitem as veredas para Ele” - Marcos 1:2-3

Diferença:
ἐν τῷ Ἠσαΐᾳ τῷ προφήτῃ - en tō Ēsaia tō prophētē
ἐν τοῖς προφήταις - en tois prophētais
ἐν Ἠσαΐᾳ καὶ ἐν τοῖς προφήταις - en Ēsaia kai en tois prophētais

3.

“Muitos dos judeus leram a placa, pois o lugar em que Jesus foi crucificado ficava próxi-
mo da cidade, e a placa estava escrita em aramaico, latim e grego” - João 19:20

Diferença:

ἦν γεγραμμένον Ἑβραϊστί, Ῥωμαϊστί, Ἑλληνιστί

- ēn gegrammenon Hebraisti, Rhōmaisti, Hellēnisti

Havia uma inscrição acima dele [[ estava escrita em aramaico, latim e grego ]], que dizia:
“Este é o Rei dos Judeus - Lucas 23:38

ἦν γεγραμμένον Ἑβραϊστί, Ῥωμαϊστί, Ἑλληνιστί


- ēn gegrammenon Hebraisti, Rhōmaisti, Hellēnisti

4.

“E seu Pai, que vê o que é feito em segredo, te recompensará [publicamente]” - Mateus 6:4

Diferença:

ἐν τῷ φανερῷ - en tō phanerō

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5.

“Todos os anos seus pais // José e Maria iam a Jerusalém para a festa da Páscoa” - Lucas 2:41

Diferença:

οἱ γονεῖς αὐτοῦ - hoi goneis autou (seus pais)

Ἰωσὴφ καὶ ἡ Μαριάμ - Iōsēph kai hē Mariam (José e Maria)

“Terminada a festa, voltando seus pais // José e sua mãe para casa, o menino Jesus
ficou em Jerusalém, sem que eles percebessem” - Lucas 2:41

Diferença:

οἱ γονεῖς αὐτοῦ - hoi goneis autou (seus pais)

Ἰωσὴφ καὶ ἡ μητήρ- Iōsēph kai hē mētēr (José e sua mãe)

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V. Classificação das Variantes

Inviável

Insignificante Significativa

Viável

“Uma ‘leitura’ pode ser subdividida em duas grandes categorias: ou elas são ‘significan-
tes’ ou ‘insignificantes’, e nesse contexto ‘significante’ significa relevante e útil para a
abrangente tarefa da crítica textual do NT, incluindo a determinação da relação do ma-
nuscrito com todos os outros manuscritos, a localização do mesmo dentro da história
textual e transmissão do NT, e o objetivo final de estabelecer o texto original. Do mes-
mo modo, ‘insignificante’ significa imprópria, inadequada, ou inconclusiva para aquelas
abrangentes tarefas da crítica textual.”

Eldon Jay Epp, “Toward the clarification of the term ‘Textual Variant’” in Eldon J.,
and Gordon D. Fee. Studies in the Theory and Method of New Testament Textual
Criticism. SD 45. (Grand Rapids, Mich.: Eerdmans, 1993), 57.

“Todas as variantes textuais podem ser divididas em três grupos: insignificantes para
o sentido do texto, significante (ou relevante) mas inviável, e significante e viável (por
viável queremos dizer a variante que tem plausível reivindicação de autenticidade). A
grande maioria das variantes textuais pertencem às primeiras duas categorias.”

Daniel Wallace, “Laying a Foundation: New Testament Textual Criticism” in Darrel


L. Bock, Buist Fanning, Interpreting the New Testament: Introduction to the Art
and Science of Exegesis. (Wheaton:IL, Crossway, 2006), 34.

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A. Inviáveis e Insignificantes

“Várias mudanças ortográficas são leituras sem sentido. Essas podem acontecer quan-
do o escriba está cansado, sem atenção, ou talvez não conheça o grego tão bem assim.
Alguém poderia pensar que os escribas que cometeram tais erros poderiam impactar
profundamente as cópias do texto. Mas, na verdade, leituras sem sentido quase sempre
não são duplicadas pelo próximo escriba. Além disso, leituras sem sentido nos ensinam
muitas coisas sobre como os escribas trabalhavam. Por exemplo, um antigo manuscrito
de Lucas e João, conhecido como P75, tem algumas variantes sem sentido interessan-
tes. Mas elas envolvem uma ou duas letras em cada uma dessas ocasiões, sugerindo
que esse escriba copiava o texto uma ou duas letras por vez. De fato, esse escriba era
muito cuidadoso. Ele ou ela era uma pessoa detalhista.”

Daniel Wallace, “Laying a Foundation: New Testament Textual Criticism” in Darrel


L. Bock, Buist Fanning, Interpreting the New Testament: Introduction to the Art
and Science of Exegesis. (Wheaton:IL, Crossway, 2006), 35-6.

1. Leituras Sem Sentido

“Embora, como apóstolos de Cristo, pudéssemos ter sido um peso, tornamo-nos bon-
dosos // bebes // cavalos entre vocês, como uma mãe que cuida dos próprios filhos”
- 1Tessalonissences 2:7

Diferença Transcrição

ήπιοι - ēpioi (bondosos) ΕΓΕΝΗΘΗΜΕΝΗΠΙΟΙ


νήπιοι - nēpioi (bebês) ΕΓΕΝΗΘΗΜΕΝΝΗΠΙΟΙ
ἵπποι - híppoi (cavalo) ΕΓΕΝΗΘΗΜΕΝΙΠΠΙΟΙ

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2. Erros Claros e Demonstráveis

“Não rogo que os tires do mundo, mas que os protejas do Maligno // Não rogo que os
tire do Maligno” - João 17:15

Diferença:
οὐκ ἐρωτῶ ἵνα ἄρῃς αὐτοὺς ἐκ τοῦ κόσμου,
ἀλλʼ ἵνα τηρήσῃς αὐτοὺς ἐκ τοῦ πονηροῦ
ouk erōtō hina arēs autous ek tou kosmou,
allʼ hina tērēsēs autous ek tou ponērou

οὐκ ἐρωτῶ ἵνα ἄρῃς αὐτοὺς ἐκ τοῦ πονηροῦ


ouk erōtō hina arēs autous ek tou ponērou

3. Leituras Singulares

“Mas quando ficaram sabendo que ele era judeu, todos gritaram a uma só voz duran-
te cerca de duas horas: ‘Grande é a Àrtemis dos efésios!’ // ‘Grande é a Àrtemis dos
efésios!’” - Atos 19:34

Diferença:
ἐπὶ ὥρας δύο κραζόντων· Μεγάλη ἡ Ἄρτεμις Ἐφεσίων
epi hōras dyo krazontōn; Megalē hē Artemis Ephesiōn

ἐπὶ ὥρας δύο κραζόντων· Μεγάλη ἡ Ἄρτεμις Ἐφεσίων [Μεγάλη ἡ Ἄρτεμις Ἐφεσίων]
epi hōras dyo krazontōn; Megalē hē Artemis Ephesiōn [Megalē hē
Artemis Ephesiōn]

4. Diferença de Grafia e Significado

“Eu chorava muito, por não ter sido encontrado alguém digno de abrir o rolo nem de
olhar para dentro dele” - Apocalipse 5:4

Diferença:
ἔκλαιον - eklaion (chorava)
ἔκλααν - eklaan
ἔκλεον - ekleon (celebrava)

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B. Viáveis e Insignificantes

“O maior grupo de variantes textuais são resultado de mudanças ortográficas, das quais
a grande maioria não pode ser nem mesmo traduzida. Considere por examplo os se-
guintes exemplos. ‘João’ é escrito ou como ᾽Ιωάννης [Ioánnes] ou ᾽Ιωάνης’ Ioánes] nos
manuscritos. Todo nú [letra ’n’ em grego] móvel no NT ou está presente ou ausente nos
manuscritos. Essa mudança não afeta em nada o texto. Os escribas eram criativos com
a ortografia em caso de ditongos, especialmente quando os mesmos envolvem um iota
[letra ‘i’ em grego]. Mas na maioria das vezes ele não afeta um iota no sentido. Esse tipo
de mudanças ortográficas pertencem à categoria de insignificante.”

Daniel Wallace, “Laying a Foundation: New Testament Textual Criticism” in Darrel


L. Bock, Buist Fanning, Interpreting the New Testament: Introduction to the Art and
Science of Exegesis. (Wheaton:IL, Crossway, 2006), 35.

1. Diferenças Intraduzíveis

“A ele vinha toda a região da Judeia e todo o povo de Jerusalém. Confessando os seus
pecados, eram batizados por ele no rio Jordão” - Marcos 1:5

Texto Crítico

ὑπʼ αὐτοῦ ἐν τῷ Ἰορδάνῃ ποταμῷ


- hypʼ autou en tō Iordanē potamō

Texto Majoritário

ἐν τῷ Ἰορδάνῃ ποταμῷ ὑπʼ αὐτοῦ


- en tō Iordanē potamō hypʼ autou

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2. Erros Claros e Demonstráveis

“Surgiu um homem enviado por Deus, cujo nome era João” - João 1:6

Diferença:
Ἰωάννης - Iōannēs (João)
Ἰωάνης - Iōanēs (João)
Ἰωάννην - Iōannēn (João)

3. Diferença de Grafia (uso de vogais)

(ex. 1) “Portanto, você que julga os outros é indesculpável; pois está condenando a si
mesmo naquilo em que julga, visto que você que julga, pratica as mesmas coisas” -
João 1:6

Diferença:
ὁ κρίνων - ho krinōn (aquele que julga)
ὁ κρείνων - ho kreinōn
ὁ κρίνoν - ho krinon

(ex.2) “pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança” - João 1:6

Diferença:
τὸ δοκίμιον - to dokimion (a prova)
τὸ δοκίμον - to dokimon
τὸ δοκήιμιον - to dokēimion
τὸ δοκειμιον - to dokeimion
τὸ δοκιμειον - to dokeimion

“Incluídos na categoria de variantes insignificantes são as transposições entre ma-


nuscritos, sinônimos, uso ou ausência de artigo com nomes próprios e coisas do tipo.”

Daniel Wallace, “Laying a Foundation: New Testament Textual Criticism” in Darrel L.


Bock, Buist Fanning, Interpreting the New Testament: Introduction to the Art and Scien-
ce of Exegesis. (Wheaton:IL, Crossway, 2006), 35.

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C. Significantes e Inviáveis

1. Leituras com Pouca Atestação

“Saúdem Andrônico e Júnias // Júlia, meus parentes que estiveram na prisão comigo.
São notáveis entre os apóstolos, e estavam em Cristo antes de mim” - Romanos 16:7

Diferença:
Ἰουνιᾶν - Iounian (Júnia)
Ἰουλίαν - Ioulian (Júlia)

2. Erros Claros e Demonstráveis

“Conforme está escrito no profeta Isaías: Enviarei à tua frente o meu mensageiro; ele
preparará o teu caminho voz do que clama no deserto: ‘Preparem o caminho para o
Senhor, endireitem as veredas para Ele’ [ Todo vale será aterrado e todas as montanhas
e colinas, niveladas. As estradas tortuosas serão endireitadas e os caminhos acidenta-
dos, aplanados. E toda a humanidade verá a salvação de Deus ]” - Marcos 1:3

Diferença:

πᾶσα φάραγξ πληρωθήσεται καὶ πᾶν ὄρος καὶ βουνὸς


ταπεινωθήσεται, καὶ ἔσται τὰ σκολιὰ εἰς εὐθείαν καὶ αἱ τραχεῖαι
εἰς ὁδοὺς λείας· καὶ ὄψεται πᾶσα σὰρξ τὸ σωτήριον τοῦ θεοῦ
pasa pharanx plērōthēsetai kai pan oros kai bounos tapeinōthēsetai,
kai estai ta skolia eis eutheian kai hai tracheiai eis hodous leias; kai
opsetai pasa sarx to sōtērion tou theou

Códice Washingtoniense (cf. Lucas 3:3-6; Isaías 40:4-8)

dei nostri omnis vallis replebitur et omnis mons et collis humiliabitur


et omnia prava erunt recta et aspera in planiciem. Et videbitur gloria
Domini et videbit omnis caro salutare Dei nostri

Minúsculo c (cf. Lucas 3:3-6; Isaías 40:4-8)

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3. Casos de Harmonização

“Vendo isto, os fariseus perguntaram aos discípulos dele: “Por que o mestre de vocês
come [e bebe] com publicanos e ‘pecadores’?” - Marcos 1:3

Diferença:
ἐσθίει - esthiei (come)
ἐσθίετε καὶ πίνετε - esthiete kai pinete (come e bebe)

“Para ser honesto, de todas as centenas de milhares de mudanças textuais encontra-


das entre nossos manuscritos, a maioria deles é completamente insignificante, imate-
rial, sem nenhuma importância real para qualquer coisa que não seja mostrar que os
escribas não conseguiam soletrar ou manter o foco melhor do que a maioria de nós.”

Bart Ehrman, Misquoting Jesus: The Story Behind Who Changed the Bible and Why
(New York:NY, HarperCollins, 2005), 207.

D. Significativas e Viáveis

“A última categoria, significativa e viável, refletem apenas 1% de todas as variantes tex-


tuais. Mas ainda aqui a situação pode ser exagerada. Por significativa queremos dizer
que a variante muda o sentido do texto em de alguma forma. Se a variante afeta o en-
tendimento da passagem ela pode ser considerar significativa.”

Daniel Wallace, “Laying a Foundation: New Testament Textual Criticism” in Darrel L.


Bock, Buist Fanning, Interpreting the New Testament: Introduction to the Art and Scien-
ce of Exegesis. (Wheaton:IL, Crossway, 2006), 37.

1.

“Ele lhes disse: “Quando vocês orarem, digam: Pai // Pai Nosso // Pai nosso que está nos
céus. Santificado seja o teu nome” - Lucas 11:2

O Texto do Novo Testamento Curso de Introdução à Crítica Textual @institutoschaeffer


Diferença:

πάτερ - pater (Pai)

πάτερ ἡμῶν - pater hēmōn (Nosso Pai)

πάτερ ἡμῶν ὁ ἐν τοῖς οὐρανοῖς - pater hēmōn ho en tois ouranois

- (Pai nosso que está nos ceus) (cf. Mateus 6:9)

2.

“Como vocês podem crer, se aceitam glória uns dos outros, mas não procuram a glória
que vem do Deus único // daquele que é Único” - João 5:44

Diferença:

τοῦ μόνου θεοῦ - tou monou theou (do Deus único)

τοῦ μόνου - tou monou (daquele que é Único)

3.

“Nós cremos e sabemos que és o Santo de Deus // Cristo Filho de Deus // Filho de Deus
// o Cristo // o Cristo o Santo de Deus // o Cristo o Filho do Deus Vivo” - João 6:69

Diferença (UBS5):

ὁ ἅγιος τοῦ θεοῦ - ho hagios tou theou (o santo de Deus)

ὁ χριστὸς ὁ υἱὸς τοῦ θεοῦ - ho christos ho huios tou theou (o Cristo


Filho de Deus) (ver Mateus 16:16)

ὁ υἱὸς τοῦ θεοῦ - ho huios tou theou (o Filho de Deus)

ὁ χριστός - ho christos (o Cristo) (ver Marcos 8:29)

ὁ χριστὸς ὁ ἅγιος τοῦ θεοῦ - ho christos ho hagios tou theou (o Cristo


o Santo de Deus)

ὁ χριστὸς ὁ υἱὸς τοῦ θεοῦ τοῦ ζῶντος - ho christos ho huios tou theou
tou zōntos (o Cristo o Filho do Deus vivo) (ver Mateus 16:16)

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E. Quantidade de Variantes Significantes e Viáveis?

“O texto do Novo Testamento foi copiado de modo estável através dos séculos. Isso
pode ser mensurado pelas diferenças entre o texto grego por trás da KJV (TR) e aquele
por trás das traduções modernas do NT. Ainda que a KJV seja uma tradução de mais de
quatrocentos anos, ela é baseada em manuscritos significativamente mais tardios que
as traduções modernas. Ele representa um texto que cresceu através dos séculos. Ain-
da assim existem apenas cerca de cinco mil diferenças entre o TR e a NA27. Em outras
palavras, eles concordam em mais de 96% das vezes.”

Daniel Wallace, “Laying a Foundation: New Testament Textual Criticism” in Darrel


L. Bock, Buist Fanning, Interpreting the New Testament: Introduction to the Art and
Science of Exegesis (Wheaton:IL, Crossway, 2006), 34.

Apesar de serem muitas as variantes textuais conhecidas, o menor grupo de variantes


pertence àquelas que são significantes (que alteram o sentido do texto e podem ser
usadas para descrever a história do texto) e viáveis (que tem suporte externo e interno)
ao mesmo tempo. Para ilustrar esse ponto, vamos considerar o texto da UBS.

Publicado em 1975, a terceira edição do texto grego da United Bible Societies apresen-
tava no seu aparato 1440 variantes textuais. De acordo com essa edição, 126 dessas
variantes listadas (9%) eram consideradas como certas pelo comitê e recebiam a nota
{A}; 475 (33%) eram consideradas como provavelmente certo e recebiam {B}; 699 (48%)
descreviam ocasiões em que o comitê teve dificuldades em decidir qual variante deveria
ser considerar original e recebiam nota {C}; e por fim, 144 (10%) descreviam ocasiões
em que o comitê teve grande dificuldade de chegar a uma decisão, e levavam nota {D}.

Em outras palavras, para o comitê da terceira edição, apenas 10% de todas as variantes
textuais eram realmente difíceis para se chegar a uma decisão. Por outro lado, Kurt
Aland e Barbara Aland ao analizar as variantes classificadas pelo comitê consideraram
a possibilidade do mesmo ter sido cauteloso demais, e no livro The Text of the New
Testament perguntaram:

“A única pergunta é se os editores não foram muito cautelosos em classificar as varian-


tes, de modo que uma B pudesse ser substituído por A, um C por um B e um D por um C”

Kurt Aland and Bárbara Aland, The Text of the New Testament (Grand
Rapids:MI, Eerdmnas, 1986), 45.

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No texto UBS4, existem 1390 variantes listadas no aparato, das quais 514 (36%) rece-
bem nota {A}, 541 (38%) recebem nota {B}, 326 (25%) recebem nota {C} e apenas 9 (1%)
recebem nota {D}. Em outras palavras, no processo de revisão da evidência o comitê
entendeu que a grande maioria das variantes, apesar de significativas e viáveis, eram
entendidas como certas (74% das variantes foram classificadas como {A} e {B}.

Mais recentemente, a quinta edição do texto grego da UBS passou por nova revisão,
com um novo comitê, mas as divisões das notas manteve de certa forma o mesmo pa-
drão: das 1392 variantes listadas, 505 (36%) receberam nota {A}, 523 (38%) receberam
nota {B}, 352 (25%) receberam nota {C} e apenas 10 (1%) receberam nota {D}. Conside-
rando a forma atual do texto, que tem 138.213 palavras, o número de variantes listadas
está um pouco acima de 1%.

Ou seja, as variantes classificadas como {A} refletem apenas 0.36% de todo o texto, ao
passo que as variantes classificadas como {B} representam 0.37% e aquelas classifica-
das como {C} representam apenas 0.36% do texto como um todo. Com isso, podemos
dizer que o comitê teve grande dificuldade em apresentar o texto em apenas 0.007% de
todo o texto do NT tal como impresso na UBS5.

Portanto, apesar de serem muitas as variantes conhecidas, apenas uma pequeníssima


parte, do pequeno grupo de variantes textuais (1% do texto), é que pode ser descrita
como realmente difícil (veja o quadro abaixo).

UBS3 UBS4 UBS5

1440 variantes 1390 variantes 1392 variantes

{A} 126 (9%) 514 (36%) 505 (36%)

{B} 475 (33%) 541 (38%) 523 (38%)

{C} 699 (48%) 326 (25%) 354 (25%)

{D} 144 (10%) 9 (1%) 10 (1%)

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Conceitos a Relembrar

Definição: O que é uma Variante Textual?


1. Realidade das Variantes Textuais
As variantes textuais existem, independente da visão que se
tenha do texto. Elas são atestadas pela tradição manuscrita
sobrevivente, pela história da igreja, pelas edições históricas,
pelas edições críticas e pelas traduções contemporâneas.
Diante das evidências é impossível negar a realidade das
variantes textuais
2. Quantidade de Variantes Textuais
Desde os tempos mais remotos da crítica textual moderna
eruditos tem apresentado estimativas a respeito da quantidade
de variantes existentes. Muito embora todas elas tenham seus
problemas, é possível estimar que existem aproximadamente
500.000 variantes textuais entre os manuscritos do NT.
3. Definição de Variantes Textuais
Uma das grandes dificuldades de se estimar a quantidade de
variantes está em definir o que deve ser contabilizado. Usa-
se o termo ‘leitura variante’ para descrever qualquer variação
de grafia entre os manuscritos ao passo que usa-se ‘variante
textual’ somente para leituras significantes para a Crítica
Textual. É importante lembrar que nem sempre usam-se os
termos de modo consistente.
4. Tipos de Variantes Textuais
Existem dois tipos de variantes textuais, alterações não
intencionais e intencionais.

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5. Classificação das Variantes
As variantes textuais podem ser classificadas em quatro
categorias: aquelas que são inviáveis e insignificantes, viáveis
e insignificantes, significantes mas inviáveis e significantes e
viáveis. Apenas variantes do último grupo são listadas no aparato
da UBS5 e representam menos de 1% do texto. Entre essas
variantes, menos de 1% pode ser considerada como incerta.

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