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CRÍTICA

TEXTUAL
Aula 2

MARCELO BERTI
Sejam muito bem vindos ao curso
de Introdução à crítica textual do
Novo Testamento!
Meu nome é Marcelo Berti. Neste curso nós vamos
estudar um pouquinho mais sobre o texto do Novo
Testamento. Este é um curso livre oferecido pelo
Instituto Schaeffer, do Dois Dedos de Teologia.

Tá preparado?
Introdução
Seja bem vindo à segunda aula da Crítica Textual do Novo Testamen-
to. Nesta aula nós vamos conversar sobre variantes textuais. De acor-
do com aquilo que nós vimos na primeira aula, a Crítica Textual é fun-
damentalmente necessária porque na tradição manuscrita do Novo
Testamento nós encontramos muitas variantes textuais. Em outras
palavras, a história da transmissão deste texto, do dia em que saiu
da mão dos apóstolos até o dia em que ele passa a ser impresso, de-
monstra que os escribas que copiaram esse texto cometeram todos
os tipos concebíveis de erros.

E, nessa aula nós vamos falar sobre a realidade destas variantes tex-
tuais, sobre as antigas e atuais estimativas relacionadas a quantida-
de de variantes textuais, além de apresentar a definição, os tipos e a
classificação das variantes textuais. Em outras palavras, nessa aula
vamos nos aventurar ao estudo das intrigantes variantes textuais do
Novo Testamento.
CRÍTICA TEXTUAL

Aula 2
I. Realidade das Variantes Textuais

Mas vamos começar pelo início: Existem mesmo variantes textuais no Novo Testamento?
Essa é uma pergunta importante porque, eventualmente, nós encontramos pessoas negando
a existências das variantes textuais, como se o texto do NT, do dia em que saiu da mão de
Paulo até o dia em que chegou às nossas mãos fosse exatamente o mesmo em uma trans-
missão contínua, não alterada, não interrompida por absolutamente nada. Mas a verdade é
que quando nós olhamos para a história da transmissão do texto e o processo pelo qual esse
processo aconteceu nós vamos perceber que estas variantes, de fato, aconteceram e que
elas são atestadas pela evidência manuscrita sobrevivente, pela história da igreja primitiva e
medieval, por edições históricas, edições críticas e traduções contemporâneas.

1 | Evidência Manuscrita Sobrevivente: De todas as evidências disponíveis nós não


encontrados dois manuscritos iguais; não encontramos nenhum manuscrito idêntico ao
outro. Em outras palavras, nos quase 6 mil manuscritos disponíveis, nós não temos dois
que sejam idênticos1. Sobre isso, Daniel Wallace atesta: “Existem duas razões principais
para a Crítica Textual do Novo Testamento: (1) o documento original (também conhecido
como autógrafo) não existe mais; e (2) não existem duas cópias que concordem comple-
tamente. De fato, mesmo entre as cópias mais similares do primeiro milênio d.C., existe
pelo menos dez diferenças por capítulo.”2.

2 | História da Igreja Primitiva: Além disso, nós vamos observar que a história da igreja
primitiva já atestava a existências de variantes textuais. Desde os dias de Irineu nós en-
contramos informações de que o texto das escrituras tinha diferentes versões em suas
cópias.

1 Uma breve nota sobre terminologia: Eventualmente usa-se o termo ‘perfeito’ para se descrever manuscritos neotestamentários. Friederick
Wisse, por exemplo, afirma que em Lucas existem 59 mss tem um perfil perfeito entre os manuscritos Kr, isto é, representam fielmente o
mesmo texto (Frederik Wisse, The Profile Method for the Classification and Evaluation of Manuscript Evidence, as Applied to the Conti-
nuous Greek Text of the Gospel of Luke [Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1982], 93). Isso, entretanto, não significa que os manuscritos
sejam textualmente idênticos, pois a classificação de mss perfeitos é feita à exclusão de leituras sem sentido, leituras deslocadas, seja por di-
tografia, haplografia, problemas de audição ou transposição de letras, itacismos, ν-móvel, ou problemas de grafia e por fim, leituras singula-
res. Ou seja, o que a paleografia eventualmente chama de ‘perfeito’ não são manuscritos idênticos, mas mss que representem perfeitamente
o perfil textual de um determinado grupo de mss. Uma vez que esses erros são facilmente percebidos (e na maioria das vezes não afeta o
sentido do texto), pode-se dizer que representam perfeitamente o perfil textual sem serem textualmente idênticos.
2 Daniel Wallace, “Can We Trust the New Testament” in Reinventing Jesus: How Contemporary Skeptics Miss the Real Jesus and Mislead
Popular Culture [Grand Rapids, MI: Kregel, 2006], 54.

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a. Irineu: Ao comentar sobre o texto de Apocalipse capítulo 13:18, Irineu diz que a versão
que ele usa foi “encontrada em todas as cópias boas e antigas”. Irineu entendia que à
sua disposição existiam cópias posteriores e que existiam cópias que não eram boas e,
por outro lado, ele encontrou seu texto em todas as cópias bem antigas.

b. Orígenes: deixa uma larga descrição de como o processo aconteceu. Observe o que
Orígenes vai dizer: “As diferenças entre os manuscritos se tornaram grandes, seja por
negligência de alguns copistas ou pela audácia perversa de outros; eles se esquecem
de verificar o que transcreveram ou, no processo de verificação, aumentam ou diminuem
conforme desejarem.”3 Em outras palavras, desde os momentos mais antigos da igreja
nós encontramos evidências de que este texto passou por um processo de cópias, que
potencializou a existência de variantes textuais.

c. Jerônimo: Sobre Jerônimo, Ehrman-Metzger afirmam: “Quando julgado pelos padrões


modernos, Jerônimo (c.347-420) apresenta-se como uma crítico textual ainda mais sa-
gaz que Origenes, muito consciente dos muitos tipos de erros que podem acontecer na
transcrição de manuscritos. Ele se refere, por exemplo, a possibilidade de confusão de
letras semelhantes, confusão de abreviações, acidentes envolvendo ditografia e haplogra-
fia, metátese de letras, assimilação, transposições e emendas deliberadas por escribas”4.
Observe como Epp o define: “Jerônimo, que tomou nota das leituras variantes, conside-
rou que um manuscrito mais antigo tinha mais peso do que um mais recente e preferiu
leituras que melhor se adequassem à gramática ou ao contexto de uma passagem.”5

3 | História da Igreja Medieval: No período medieval nós vamos encontrar isto acon-
tecendo da mesma maneira: Período medieval, período marcado por instabilidade, por
um processo de cópia mais formal e mais controlado, nós percebemos também uma
crescente tendência de se padronizar o texto.

a. Padronição do Texto Bizantino: Nós vemos, através das evidências manuscritas, que
o período medieval também proporcionou um processo de estabilização desse texto,
fazendo correções, alterações, à medida em que esse texto era copiado. Nós percebe-
mos que a evidência manuscrita desse período atesta esse processo de cópia aconte-
cendo, acompanhado da sua devida explicação eventual, às vezes expansão, às vezes

3 Bart Ehrman and Bruce Manning Metzger. The Text of the New Testament: Its Transmission Corruption and Restoration. 4th Edition
(New Yourk, NY: Oxford, 2005), 200.
4 Ehrman-Metzger, The Text of the New Testament, 201.
5 Eldon Jay Epp, “Textual Criticism: New Testament,” ed. David Noel Freedman, The Anchor Yale Bible Dictionary (New York: Doub-
leday, 1992), 6:427.

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adição, eventualmente, remoção de informações: “Os escritos do Novo Testamento gre-


go tornaram-se padronizados quando Constantinopla, também conhecido como Bizân-
cio, tornou-se o centro de transmissão. A cópia prolífica de manuscritos por profissio-
nais (principalmente monges que trabalhavam o dia todo na scriptoria em mosteiros, ou
“salas de redação”), juntamente com a “correção” sistemática de seus exemplares para
alinhá- los com uma versão mais completa do texto, resultou na forma textual eclesiástica
desenvolvida conhecida como o padrão bizantino.”6

b. Lorenzo Valla (1405-57): “Talvez o humanista bíblico mais conhecido e mais influente
do século XV foi Lorenzo Valla (1405–1457). Valla ensinou retórica em Pavia, entrou ao
serviço de Alfonso I, rei de Nápoles, em 1435 e obteve um cargo na corte papal de Roma
em 1448. Já conhecido por expor a Doação de Constantino como uma falsificação, ele
embarcou em um projeto de cotejode manuscritos Grego e Latinos do NT. A circulação
de suas notas manuscritas foi necessariamente limitada; não se tornaram amplamente
acessíveis até 1505, quando foram publicados por Erasmo sob o título Adnotationes in No-
vum Testamentum (...) Os humanistas bíblicos muitas vezes comparavam o texto original
a uma fonte clara e as traduções e transcrições corrompidas a canais poluídos (...) Valla
tinha uma compreensão excepcionalmente clara da natureza e do desenvolvimento his-
tórico de um texto. Ele desafiou seus críticos a responderem ‘O que é Escritura Sagrada?
Qualquer tradução do Antigo ou Novo Testamento se qualifica? Mas há uma infinidade
e variedade de traduções conflitantes!’ Na ausência de um autógrafo, ele disse, o crítico
textual precisava escolher entre diversas leituras nos manuscritos sobreviventes”7

c. Erasmo de Roterdã: Na primeira edição de seu texto impresso, sobre o qual nós con-
versaremos mais na próxima aula, também incluiu uma série de problemas tipográficos.
Além disso, ele precisou revisar o seu trabalho algumas vezes e aconteceu que pessoas
diferentes passaram a estudar versões diferentes em momentos diferentes da história.
Erasmo publica cinco diferentes edições, cada vez melhorando o texto, à medida em
que ele encontrava novas informações e recebia novas críticas sobre o texto que ele
imprimia. Mas o que é interessante é que a segunda edição do seu trabalho, foi aquela
utilizada por Martinho Lutero na sua tradução para o alemão, ao passo que a sua tercei-
ra edição foi utilizada por William Tyndale na tradução para o inglês. É possível perceber
no trabalho de Erasmo de Roterdã, num período em que o processo de cópia é muito
melhor controlado, em que a transmissão é muito mais formal, que ainda assim os erros

6 Amy Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas Mangum, Revised Edition., vol. 1, Lexham Methods
Series (Bellingham, WA: Lexham Press, 2018), 118.
7 Erika Rummel, “The Renaissance Humanists,” in A History of Biblical Interpretation: The Medieval through the Reformation Periods,
Vol. 2 (Grand Rapids, MI; Eerdmans, 2009), 289-90.

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foram cometidos. De tal forma que existem hoje diferenças entre a tradição do texto do
Novo Testamento em língua alemã e em língua inglesa baseadas nas diferentes edições
produzidas por Erasmo de Roterdã. Além disso, observe o que Edwin Yamauchi nos fala
sobre o próprio texto de Erasmo: “Embora Erasmo tenha afirmado que usou ‘as cópias
mais antigas e corretas do Novo Testamento’, o prazo de impressão imposto pelo editor
o obrigou a confiar em apenas sete manuscritos bastante tardios e inferiores disponíveis
em Basileia.”8 O próprio processo de selecionar mss para sua edição foi um fator limita-
dor para o texto que acabou por produzir.

4 | Edições Históricas: Outro detalhe que eventualmente passa despercebido, é que en-
tre as edições históricas nós vemos amplo testemunho para a existência das variantes
textuais. No que se refere ao Novum Instrumentum produzido por Erasmo, além das
diferenças editoriais feitas pelo próprio Erasmo, os editores subsequentes também re-
alizaram ajustes no texto e adicionaram ao mesmo a evidência manuscrita disponível
a cada um deles (como veremos melhor na próxima aula). Robert Estiene (a.k.a. Ste-
phanus) produziu quatro diferentes versões entre 1546-1551), Teodoro Beza produziu
nove entre 1565 e1604, e finalmente os irmãos Elzevir produziram sete edições entre
1624 e 1678. A famosa frase “Textum ergo habes nunc ab omnibus receptum, in quo
nihil immutatum aut corruptum damus” (Portanto, agora tens o texto recebido por todos,
no qual nada oferecemos de alterado ou corrupto) que deu origem ao termo Textus Re-
ceptus (Texto Recebido) foi encontrado apenas a partir da segunda edição produzida
em 1633. Além disso, o processo de identificação de variantes não parou por aí, sendo
devidamente expandido por John Mill (1707), Johan Bengel (1687-1752), Johan Gries-
bach (1745-1812), Constantine von Tischednorf (1841-1872), Westcott e Hort (1828-
1892) para citar alguns.

5 | Edições Críticas: Se você manusear qualquer edição crítica do texto grego do Novo
Testamento, você vai perceber a existência de variantes textuais. Permita-me dar alguns
exemplos:

a. Diferença Numérica: Considere por exemplo o texto grego editado por Maurice Robin-
son e William Pierpont, o The New Testament in the Original Greek - Byzantine Textform:
A edição de 2005 tem 140.283 palavras e apresenta 6.814 diferenças com o texto da
Nestlè- Aland27 e 1.800 com o Textus Receptus, além de 500 variações entre os textos
Bizantinos. Já a edição de 2018 tem 140.281 palavras e 6.813 diferenças com a NA28,
além de 552 variações do texto Bizantino.

8 Edwin Yamauchi, “Erasmus’ Contribution to New Testament Scholarship,” Fides et historia 19 (Oct. 1987): 10.

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b. Diferença Percentual: Considere também a diferença de tamanho entre as obras


impressas nos nossos dias: Textus Receptus dos irmãos Elzevir de 1663 tem 140.929
palavras, ao passo que o texto produzido por Westcott e Hort publicado em 1881 tem
apenas 137.838. A versão mais recente da UBS5 publicada em 2012 tem 138.213
palavras. Ou seja, a diferença entre o texto da NA28 e WH é de apenas 375 palavras
(0.2%), ao passo que a diferença entre o TR e NA28 é de 2.716 (1.9%). De modo inte-
ressante, a diferença entre o TR e o texto de WH é de 3.091 (2,1%). Agora, note que per-
centualmente esses valores não são tão impressionantes, e baseado nelas pode-se
estimar que o texto do Novo Testamento teria crescido 2% em toda sua história. Bem
na verdade, estes dois exemplos listados aqui servem para demonstrar a realidade
das variantes textuais, elas são inegáveis. As variantes textuais nos acompanharam
por toda a história da transmissão do texto, desde os momentos mais antigos até os
momentos mais recentes.

c. Texto Digital: Permita-me dar mais um exemplo: Se você, hoje, comprar uma ver-
sãoimpressa da Nestle-Aland 28, que é a versão crítica utilizada pelos exegetas, e você
comprar uma versão digital, em alguns momentos você pode encontrar diferenças em
termos de pontuação e em termos de parágrafos utilizados nestas duas edições, que
são as edições do mesmo documento, do mesmo texto, uma impressa e outra digital. E
ainda assim, nós temos a possibilidade de encontrar um erro humano de formatação e
a versão digital ser organizada de maneira distinta. Se você quiser conhecer mais sobre
isso, procure um artigo meu, publicado pela Coalizão do Evangelho, falando sobre a di-
fícil tarefa de se pregar a partir do texto original.9

6 | Traduções em Português: Se você abrir hoje a sua Bíblia em português, você vai
encontrar evidências de variantes textuais. Aliás, se você tiver mais de uma versão,
você vai ter a chance de perceber ainda mais onde estas variantes estão. Dependendo
da versão que você tenha à sua disposição, você vai encontrar que em determinados
lugares do Novo Testamento você tem um texto entre colchetes e todas as vezes que
você encontra este texto entre colchetes na sua Bíblia, os editores daquele texto estão
dizendo para você que aquele texto tem ao menos uma variante textual significativa.
Eventualmente, os editores colocam no material uma nota de rodapé e explicam com
frases parecidas com essas “a frase descrita não se encontra nos melhores manuscri-
tos.” ou “esta frase aparece diferente em outros manuscritos.” Mas seja como for, se
você prestar atenção no seu Novo Testamento em português, você vai perceber que
os editores e tradutores deixaram ali informações sobre a variação do texto. Em outras

9 Marcelo Berti, “Atenção aos Detalhes” – Coalizão Pelo Evangelho (28, fevereiro, 2019).

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palavras, é inegável a existência de variantes textuais. Nós não temos como ignorá-las,
nós não temos como evitá-las. Elas estão aí e nós temos que aprender a como lidar
com elas.

A valiosa coleção de manuscritos, nos diz Tommy Wasserman e Peter Gurry, versões e
citações do Novo Testamento que temos concorda significativamente em geral, mas o
impressionante número de vezes que o Novo Testamento foi copiado explica por que há
tantas diferenças entre eles.

Tommy Wasserman and Peter Gurry. A New Approach to Textual Criticism: An Introduction to
the Coherence-Based Genealogical Method (Resources for Biblical Study Book 80, Atlanta: SBL
ress, 2017), 1.

O que estes dois autores estão dizendo é que a existência destas muitas variantes que
nós temos hoje se dá, em primeiro lugar, em função da quantidade de informações que
nós temos, evidências manuscritas que nós temos à nossa disposição. Se nós tivés-
semos um único manuscrito de todo o Novo Testamento, nós não teríamos nenhuma
variação. Mas como nós temos milhares de manuscritos do Novo Testamento, nós tam-
bém temos milhares de variantes textuais atestadas por toda a história da tradição da
transmissão deste texto.

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II. Quantidade de Variantes


Então, a grande pergunta que fica para a gente é: Quantas são essas variantes? Como nós
sabemos quantas são essas variantes? Porque, se eu leio o texto da escritura, eu quero ter
a certeza de que aquele texto que eu leio é o texto original. De quantas variantes nós esta-
mos falando? Esta é uma pergunta extremamente importante nos nossos dias porque nós
ouvimos números imensos de variações e nós precisamos entender como essas variações
precisam ser organizadas.

1 | Estimativas Históricas: Embora o processo de identificar e coletar variantes textuais


começou muito cedo na história da produção impressa de textos gregos, a preocupa-
ção com a contagem dessas variações demorou um pouco para acontecer.

a. John Mill (1707): Talvez a primeira mais importante estimativa de quantidade de va-
riantes do Novo Testamento foi feito por John Mill em 1707. Depois de 30 anos de ava-
liação de manuscritos, ele coletou cerca de 30.000 variantes textuais!

b. Richard Bentley (1713): Poucos anos mais tarde, Bentley afirmou o seguinte sobre as
variações textuais: “Se mais cópias fossem cotejadas, o número de variantes seria ainda
maior.”10 Em outras palavras, Bentley não estava surpreso com a identificação da exis-
tência de 30.000 variantes textuais, e segundo sua própria estimativa, esse número não
era representativo da realidade.

c. Frederick Henry Ambrose Scriviner (1861): Scriviner escreveu o talvez mais importan-
tes textos sobre a crítica textual do século XIX, e é na opinião de muitos, um dos maiores
críticos textuais que nós encontramos na história. De acordo com o conhecimento que
tinha na ocasião, ele entendia que existiam ao menos 120.000 variantes.11

d. Phillip Schaff (1883): Poucos anos mais tarde, em seu livro de introdução ao texto do
Novo Testamento Grego, Schaff estimou que existiam 150.000 variantes textuais no NT.12

e. B.B. Warfield (1889): O gigante reformado e defensor da inspiração das escrituras em


oposição ao liberalismo do século XIX, em usa introdução à crítica textual estimou a

10 Richard Bentley, ‘Remarks upon a Late Discourse of Free-Thinking,’ The Works of Richard Bentley ed. Alexander Dyce; 3 vols.; Lon-
don: Robson, Levey, and Franklyn, 1838, 3:349-350.
11 F. H. A. Scrivener, A Plain Introduction to the Criticism of the New Testament for the Use of Biblical Students Cambridge: Deighton, 1861, 3.
12 Philip Schaff, A Companion to the Greek Testament and the English Version. New York: Harper & Brothers, 1883, 176.

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existência de 150.000 variantes textuais.13

f. Eberhard Nestle (1897): Um pouco mais conservador, o primeiro editor do Novum Tes-
tamentum Graece estimou entre 120.000 e 150.000.14

g. Marvin Vincent (1899): No mesmo período, o professor de exegese e crítica textual


do Union Theological Seminary, e autor do livro Vocábulos do Novo Testamento, em sua
obra introdutória à crítica textual estimou entre 150.000 e 200.000 variantes textuais.15

h. Louis Pirot e Léon Vaganay (1934): Talvez a última estimativa que possa ser apre-
sentada a de Pirot16 e Vaganay17 que estimaram no mesmo ano, o mesmo número de
variantes textuais: 250.000.

O que está acontecendo é que no decorrer do tempo novos manuscritos foram conhecidos,
novo manuscritos foram descobertos, novos manuscritos foram estudados, colados e com-
parados. E, à medida em que esse exercício foi feito, percebeu-se que a quantidade de dife-
renças entre eles era imensa até o ponto em que parou-se de contar e passou-se a estimar
a quantidade. Hoje, com a quantidade de manuscritos que nós temos, nós não conhecemos
ninguém que os tenha estudado completamente e que possa oferecer um número para des-
crever. Mas o ponto é o seguinte: a estimativa do início do século passado é que nós tínha-
mos cerca de 250.000 variantes no Novo Testamento.

2 | Estimativas Contemporâneas: Mas essa estimativa é considerada conservadora nos


nossos dias. Afinal, quanto mais se estuda e se conhece dos mss do NT, mais sabe-se
sobre suas diferenças. Não é à toa, então, que as estimativas aumentassem com o
tempo.

a. Kenneth Willis Clark (1966): O paleógrafo e professor da Duke University, depois de tra-
balha com mss em bibliotecas nos Estados Unidos e Canadá (1937), de ter catalogado
manuscritos da biblioteca do Mosteiro de Santa Catarina (1952), e das bibliotecas dos
patriarcados Gregos e Armênios (1953), sugeriu em um artigo teológico que existiam
entre 150.00 e 250.000 variantes textuais no NT.18

13 B. B. Warfield, An Introduction to the Textual Criticism of the New Testament. London: Hodder & Stoughton, 1889, 13.
14 Eberhard Nestle, Einführung in das Griechische Neue Testament. Göttingen: Vandenhoeck und Ruprecht, 18971, 14.
15 Marvin R. Vincent, A History of the Textual Criticism of the New Testament. (London: Macmillan, 1899), 6.
16 H. J. Vogels and L. Pirot, ‘Critique textuelle du Nouveau Testament,’ Dictionnaire de la Bible: Supplément; 13 vols.; Paris: Librairie
Letouzey, 1934) 2:226.
17 Léon Vaganay, Initiation à la critique textuelle néotestamentaire (BCSR 60 ; Paris: Bloud et Gay, 1934), 9.
18 Kenneth W. Clark, ‘The Theological Relevance of Textual Variation in Current Criticism of the Greek New Testament,’ JBL 85, no. 1, 1966, 12.

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b. Merrill Parvis (1962): No mesmo período, Parvis estima que existam 300.000 varian-
tes, e em pouco tempo essa estimativa torna-se o número padrão.19

c. Número Padrão: Depois de Merril Parvis, o número padrão em quase todas as estima-
tivas apresentadas foi a de 300.000 variantes textuais.20

d. Bart Erhman (2005): Mas somente mais recentemente no livro “O que Jesus disse?
O que Jesus não disse?” é que Bart Ehrman usou um número que se tornou o número
repetido ad infinitum ad nauseam, nós cansamos de ouvir esse número. Bart Ehrman
sugeriu que existiam 400.000 variantes textuais. Este é um número que nós ouvimos
em debates, este é um número que nós ouvimos em livros, este é um número que nós
vemos em revistas publicadas, mesmo no Brasil. Nós encontramos este número como
um número padrão, mas este é um número estimado, baseado na crescente quantidade
de manuscritos conhecidos, colados e estudados.

e. Daniel Wallace (2006): O professor de grego e crítica textual do Dallas Theological Se-
minary, além de estimar um número similar ao proposto por Ehrman, nos ajuda a enten-
der a proporção desse número quando comparado ao número de palavras do NT: “Por
um lado, quando consideramos todas as evidências textuais do NT, as variações chegam
aos milhares. Para as aproximadamente 138.000 palavras no texto grego do NT, existem
entre 300.000 e 400.00 variantes textuais. Grande parte da razão para esse número de va-
riantes é a abundância de manuscritos do NT que nós temos hoje”21 Em outras palavras,
para cada palavra do NT, existem aproximadamente três variantes textuais.

f. Problemas: Mas existem problemas com todas estas estimativas. Existem pelo me-
nos 3 problemas em todas estas estimativas:

I. Responsável: Primeiro, nós não sabemos quem é que faz essas estimativas. O que
mais chama a atenção, mesmo na literatura acadêmica, quando se fala sobre variantes
textuais é que ela sempre é definida por alguém que não o próprio autor. Normalmente,
usa-se a expressão “estima-se”, “calcula-se”, “fala-se”, mas nós não sabemos quem
estima, quem calcula ou quem fala. Nós não sabemos quem é o autor das estimativas,
exceto aqueles que dizem que a estimativa existe.

19 Merrill M. Parvis, ‘Text, NT,’ The Interpreter’s Dictionary of the Bible: An Illustrated Encyclopedia. New York: Abingdon, 1962, 4:595.
20 K. Elliott and Ian Moir, Manuscripts and the Text of the New Testament: An Introduction for English Readers. Edinburgh: T&T Clark,
1995, 21; Eldon Jay Epp, ‘The Multivalence of the Term “Original Text” in New Testament Textual Criticism,’ HTR, 1999, 52; Eckhard Sch-
nabel, ‘Textual Criticism: Recent Developments,’ The Face of New Testament Studies: A Survey of Recent Research. Grand Rapids: Baker
Academic, 2004, 59.
21 Daniel Wallace. “Laying a Foundation: New Testament Textual Criticism” in Darrel L. Bock, Buist Fanning, Interpreting the New Testa-
ment: Introduction to the Art and Science of Exegesis. (Wheaton:IL, Crossway, 2006), 34.

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II. Método: Segundo, nós não sabemos como essas estimativas foram realizadas. Es-
sas estimativas foram baseadas em cálculos estatísticos? Foram baseados em previ-
sões? Baseados no tamanho dos manuscritos? Foram baseados em quais manuscri-
tos? Como esse exercício foi feito?

III. Critério: Terceiro, nós sabemos exatamente o que se está contabilizando porque o
próprio conceito de variante textual não é o mesmo adotado pelos diferentes autores.

Em outras palavras: nós não sabemos quem estima; não sabemos como se calcula; e nós
não sabemos o que se calcula. Baseado nestes três problemas, recentemente, Peter Gurry
publicou um artigo apresentado o problema e oferecendo sua sugestão de como esse pro-
cesso poderia ser feito de modo mais criterioso, apresentado a metodologia, os limites de
usa investigação e a definição do que pretende contabilizar.22

Em sua definição metodológica, Peter Gury entendeu que deveria considerar porções peque-
nas do Novo Testamento. Ele entendeu que ele vai fazer uma estimativa baseado em aná-
lises exaustivas de pequenos trechos do Novo Testamento. E como referência ele usa três
trabalhos interessantes: o primeiro, publicado por Bruce Morril,23 trata-se de uma dissertação
no texto de João 18; o segundo foi produzido por Matthew Solomon24 numa dissertação em
Filemom; por fim, Gury adiciona o trabalho de Tommy Wasserman25 no livro de Judas. Estes
três autores listam todas as variantes conhecidas em toda a história da transmissão e, ba-
seado no exercício que eles fazem nessas pequenas porções de texto do Novo Testamento,
Peter Gury propõe, então, calcular a partir dali, estimar o número de variantes para o resto do
Novo Testamento. Então, baseado nos números encontrados por estes autores, Peter Gury
expande sua estimativa para o Novo Testamento e conclui o seguinte:

“Sugerimos que uma estimativa razoável para o número de variantes textuais no Novo
Testamento grego (sem incluir diferenças de grafia) é de cerca de 500.000. Esta estima-
tiva - e enfatizamos que ainda é uma estimativa - é baseada em uma amostra de cerca
de três por cento de todo o Novo Testamento grego e inclui minúsculos, maiúsculos e
alguns lecionários”

Peter Gurry, “The Number of Variants in the Greek New Testament: A Proposal Estimate,” NTS
62, no. 1 (2016), 119.

22 Peter Gurry, “The Number of Variants in the Greek New Testament: A Proposal Estimate,” NTS 62, no. 1 (2016), 119.
23 M. Bruce Morrill, ‘A Complete Collation and Analysis of All Greek Manuscripts of John 18’. University of Birmingham, 2012.
24 Matthew Solomon, ‘The Textual History of Philemon’. New Orleans Baptist Theological Seminary, 2014.
25 Tommy Wasserman, The Epistle of Jude: Its Text and Transmission. Coniectanea Biblica New Testament Series 43; Stockholm: Almqvist
& Wiksell, 2006.

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Nessa conclusão, nota-se a importante frase: “sem incluir diferenças de grafia”. Diferente dos
nossos dias, onde os acordos ortográficos são claros e os editores de textos nos dizem onde
as palavras erradas estão mal escritas, no mundo antigo não existia este tipo de mecanismo,
não existia este tipo de correção de como um termo deveria ser escrito. E, por isso, a diferen-
ça de grafia foi excluída em sua estimativa. Peter Gurry não quer saber se uma palavra, que
deveria ter sido usada com um ν foi escrito como dois νν (e.g. Ιοανην ou Ιοαννην), pois nesses
casos não existe qualquer alteração de significado. Ele simplesmente quer saber onde estão
as variações, baseado na estimativa, usando estes textos como base para definir qual é o
número final do Novo Testamento. E baseado na estimativa que ele faz, ele diz que existem
500.000 variantes textuais que não incluem grafias. E esta estimativa, ele diz é apenas uma
estimativa, de uma pequena parte do NT. A diferença é que nesse caso, sabemos quem a
sugere, que critérios usa e o que ele pretende contabilizar.

Note, entretanto, que não estão incluídos papiros aqui. No seu método, ele conta apenas
minúsculos, maiúsculos e lecionários. E também não inclui todos os lecionários. Ele está
preocupado com o texto grego do Novo Testamento tal como não preservado nas tradições
litúrgicas da igreja, que seriam os lecionários. Em outras palavras, aquele número estimado
por Bart Ehrman e Daniel Wallace é agora apresentado por Peter Gury com um aumento de
100.000 variantes.

Em outras palavras, de um modo bem conservador podemos dizer que existem pelo menos
500.000 variantes textuais em toda a tradição manuscrita do Novo Testamento. E é aqui que
o cabelo de muitos ficam em pé: “Caramba, nós temos tudo isso de variação, nós temos todas
essas diferenças! Como nós podemos confiar neste texto, se nós temos todas essas variações
perto de nós?”. E é aqui que nós precisamos começar a refinar a estimativa para realmente
entender o impacto deste número no texto, de fato. E para isso, precisamos definir o que que-
remos dizer com o termo “variante textual”.

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CRÍTICA TEXTUAL

III. Definição de Variante Textual


“A variante textual ou, em anos mais recentes, a unidade de variação fornece o ponto focal
para a crítica textual do NT. No entanto, nem toda “leitura” textual que varia de qualquer
outra leitura na mesma unidade de texto pode ser chamada de “variante textual”. Somente
leituras variantes que são variantes “significativas” é que podem ser consideradas “varian-
tes textuais”. Cada um desses termos requer uma definição cuidadosa.”

Eldon Jay Epp, “Textual Criticism: New Testament,” ed. David Noel Freedman, The Anchor Yale
Bible Dictionary (New York: Doubleday, 1992), 413.

1 | Leitura: Existem, basicamente, dois diferentes usos para este termo. e o primeiro, e
mais comum, é aquilo que hoje usa-se o termo “leitura” para descrever. Uma leitura é
qualquer variação de grafia entre os manuscritos, como sugere Daniel Wallace: “Uma
variante textual é qualquer alteração entre os manuscritos do Novo Testamento onde
não existe uniformidade no uso das palavras.”26 Se você encontrar entre os manuscritos
qualquer tipo de variação de leitura de qualquer natureza, seja mudança de ordem das
palavras, seja mudança de ortografia, seja mudança de grafia, seja mudança de sintaxe;
qualquer tipo de variação. Hoje, prefere-se usar o termo “leitura” para descrever esta va-
riação textual. Nós temos uma leitura distinta, uma outra leitura. Esse texto tem várias
leituras. Este termo melhor descreve esse conceito de qualquer diferença.

2 | Variante: De modo um pouco mais preciso, variante textual é uma dessas muitas
leituras, que ela pode ser significativa para a crítica textual, como sugere Epp: “O ter-
mo ‘variante’ (ou ‘variante textual’) é reservado para as leituras que são significativas nas
principais tarefas da crítica textual do NT, conforme especificado acima: determinar as
relações dos manuscritos, localizar o manuscrito dentro da história textual e transmissão
do NT, e no estabelecimento do texto original ou o texto mais antigo possível do NT.”27 Em
outras palavras, uma variante pode ser importante, seja para a história da transmissão
do texto ou para o sentido do próprio texto.

Em outras palavras, de um grande número de leituras disponíveis nos milhares de manuscri-


tos que nós temos, uma variante textual é aquela que pode ser utilizada de modo significa-
tivo para o estudo do texto. Dessa forma, a grande maioria dessas mudanças de texto, como

26 Daniel Wallace, “Can We Trust the New Testament” in Reinventing Jesus: How Contemporary Skeptics Miss the Real Jesus and Mislead
Popular Culture (Grand Rapids, MI: Kregel, 2006), 54.
27 Eldon Jay Epp, “Textual Criticism: New Testament,” ed. David Noel Freedman, The Anchor Yale Bible Dictionary (New York: Doubleday,
1992), 413.

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CRÍTICA TEXTUAL

por exemplo, problemas de grafia e de ordem de palavras, são insignificantes para o estudo
do texto do Novo Testamento. Apenas aquelas que impactam de alguma forma a história
da transmissão deste texto ou que impactam, de alguma forma, o sentido deste texto é que
podem ser consideradas significativas para a Crítica Textual.

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CRÍTICA TEXTUAL

IV. Tipos de Variantes Textuais


Agora, a pergunta que fica é: Quais são os tipos de alterações que nós encontramos na história
da transmissão? Existem basicamente dois grandes tipos: as mudanças não intencionais e
as mudanças intencionais. Mudanças não intencionais são aquelas que aconteceram aci-
dentalmente. Esse tipo de erro poderia acontecer por problemas de visão, como por exemplo,
a confusão entre letras semelhantes, ou a divisão equivocada de palavras, ou quem sabe a
leitura equivocada de abreviações ou contrações, entre tantas outras. Problemas desse tipo
também podem ocorrer por problemas de audição, em particular no período em que as có-
pias eram realizadas no scriptorium. Nesse caso, poderiam ocorrer problemas relacionados
ao itacismo, intercâmbio de vogais ou até mesmo problemas relacionados à aspiração de
um termo. Além disso, poderiam acontecer mudanças relacionadas à memória, fazendo com
que um escriba usasse um sinônimo no lugar do termo em que está copiando, ou quem sabe
alterar a ordem de uma sentença, ou ainda a assimilação inconsciente de palavras semelhan-
tes, ou até mesmo uma tentativa de harmonização de uma palavra ou expressão do contexto
imediato da passagem que está sendo copiada. Nesses casos, não existe qualquer intenção
de alterar o texto, existe apenas um problema no fator humano no processo de transmissão
e cópia do texto do Novo Testamento.

Já as mudanças intencionais, são aquelas que intencionalmente provocadas pelos escribas,


que costumavam procurar melhorar ou corrigir o texto de acordo com o que entendiam ser a
leitura verdadeira do texto. Alterações intencionais podem ser vistas na melhoria gramatical
de um determinado texto, ou quem sabe melhoria ortográfica de um termo. Outro exemplo
corriqueiro na tradição manuscrita é a existência, em particular nos evangelhos de se harmo-
nizar o texto copiado com o texto de outro evangelho. Em casos de citação de texto do AT,
eventualmente os escribas procuravam harmonizar com o texto da LXX que tinham à dispo-
sição. Além desses, escribas tinham a tendência de adicionar termos relacionados a Jesus,
por exemplo, o descrevendo como Senhor e/ou Cristo. Por fim, devemos lembrar de casos em
que escribas expandiam o texto do NT com notas adicionais, como aconteceu com o texto
de Atos na tradição Ocidental, que é aproximadamente 15% maior que a tradição Bizantina.
Esse tipo de mudança não aconteceu acidentalmente, muito pelo contrário, elas foram inten-
cionalmente produzidas.

A. Mudanças Não Intencionais

Como nós já mencionamos, o processo de cópia feito à mão gerou uma série de erro aci-
dental, uma série de problemas que foram totalmente não intencionais. Permita-me de-
monstrar alguns exemplos de mudanças não intencionais que nós encontramos no texto.
Por exemplo, eventualmente nós encontramos confusão de grafia.

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CRÍTICA TEXTUAL

1 | Mudança de Grafia: Considere o texto de 1 Timóteo 3:16, que diz: “Aquele // Deus
que foi manifestado em carne”. Esta mudança do texto, que aparentemente é tão sig-
nificativa, que é usada por muitas pessoas para mostra como o texto é adulterado; Na
verdade, se você observar as letras gregas que compõe as palavras “aquele” e “Deus”
você percebe que é muito provavél que diferença aqui tenha acontecido de maneira
acidental: ΘC - Theós (Deus) e ΟC - hós (Aquele). A letra Θ seguida de um sigma mai-
úsculo, essa letrinha que parece um C, é a abreviação da palavra “Deus”. Mas a palavra
ος, tem um omicron maiúsculo, Ο, também seguido por esse sigma, C. A principal di-
ferença entre estas duas letras é que a primeira tem um pequeno traço no meio. Este
pequeno traço é a diferença entre “Deus” e “Aquele” no texto de 1 Timóteo 3:16. Uma
variante textual, que pode ter muito bem aparecido por um Escriba, que na sua pressa
de escrever, esquece ou adiciona um pequeno traço.

“A leitura no texto [Aquele] é apoiada pelos primeiros e melhores manuscritos unciais,


bem como por uma variedade de outras testemunhas, e explica melhor a origem das
outras leituras. O pronome relativo neutro ὁ, encontrado em alguns manuscritos, deve
ter surgido como uma correção do escriba do pronome masculino ὅς a fim de trazer
o pronome relativo em concordância gramatical com o substantivo neutro precedente
μυστήριον (mistério). Esta correção para ὁ indiretamente pressupõe ὅς como a leitura
anterior. O Textus Receptus lê θεός (Deus), com numerosas testemunhas. Mas nenhum
manuscrito uncial não corrigido anterior ao oitavo ou nono século suporta θεός; todas
as versões antigas pressupõem ὅς ou ὁ; e nenhum escritor patrístico antes do último
terço do quarto século testemunha a leitura θεός. A leitura θεός surgiu (a) acidental-
mente, por meio da leitura incorreta de ΟC com a abreviação ΘC para θεός, ou (b) delibe-
radamente, para fornecer um substantivo para os seis verbos seguintes, ou, menos pro-
vável, para fornecer maior precisão dogmática por identificando o sujeito como Deus.”

Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 437–438.

2 | Homofonia (sons similares): Nós encontramos palavras que têm o mesmo som, a
homofonia. Estas palavras que têm sons iguais, eventualmente, aparecem no Novo
Testamento. Por exemplo, se você usa a versão ACF, em Romanos 5:1 você vai ler:
“Tendo sido, pois, justificados pela fé, tenhamos paz com Deus”. Enquanto, se você
usa uma versão ARA, você leria “Nós temos paz com Deus”. A diferença entre o con-
vite a uma vida de paz, descrito pela revista e corrigida, e uma declaração de certeza,
“nós temos paz”, é baseado na diferença de uma letra, que tem o mesmo som em gre-

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CRÍTICA TEXTUAL

go. ἔχομεν é a palavra grega usada aqui e no indicativo ela significa “nós temos”, ela
descreve certeza. Mas ἔχωμεν no subjuntivo significa “tenhamos”, ela descreve um
certo elemento de contingência no texto. A diferença entre estas duas leituras basica-
mente se dá na diferença da letra omicron (ο) na palavra ἔχομεν, e da letra omega (ω)
ἔχωμεν, que tem som similar. É verdade, por outro lado, que provavelmente existiam
diferenças de entonação, mas ambos tem som de “o”. E é muito possível que a diferen-
ça entre estes dois textos tenha acontecido de maneira acidental pela confissão entre
as letras Omicron (ο) e Omega (ω), a diferença de um “o” curto e um “o” alongado para
nós, que acabou entrando no texto do Novo Testamento por ter som similar.

“Embora o subjuntivo ἔχωμεν [tenhamos] (‫ * א‬A B * C D K L 33 81 itd, vg syrp, copbo


arm eth al) tenha um suporte externo muito melhor do que o indicativo ἔχομεν [te-
mos] (‫ א‬B 3 Ggr P Ψ 0220vid 88 326 330 629 1241 1739 Byz Lect it61? Syrh copsa al),
a maioria do Comitê julgou que as provas internas devem aqui prevalecer. Visto que
nesta passagem parece que Paulo não está exortando, mas afirmando fatos (“paz” é
a posse daqueles que foram justificados), apenas o indicativo está em consonância
com o argumento do apóstolo. Visto que a diferença de pronúncia entre ο e ω na era
helenística era quase inexistente, quando Paulo ditou ἔχομεν, Tertius, seu amanuense
(16:22), pode ter escrito ἔχωμεν. (Para outro conjunto de leituras variantes envolven-
do o intercâmbio de ο e ω, consulte 1 Cor 15.49).”

Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 452.

3 | Haplografia (omissão de letras ou palavras): A haplografia é outra forma de descre-


ver um erro, um possível acidente. Eventualmente, os escribas omitiam letras ou pala-
vras. Por exemplo, 1 João 1:13 nós vemos o seguinte texto: “os quais não nasceram
por descendência natural” ou a variante, que diz “os quais não vieram a existir por des-
cendência natural”. Aqui nós vemos uma confusão que acontece várias vezes no texto
do Novo Testamento: a confusão do termo grego γεννάω e o termo grego γίνομαι.
γεννάω descreve o “nascimento”; γίνομαι pode ser traduzido como “eu me torno, ve-
nho a ser” ou até mesmo “eu sou”. Estes dois verbos são escritos de maneira muito
distintas em sua forma léxica, mas quando usado em algumas formas no texto grego
elas tem exatamente a mesma grafia, com a exceção de que γεννάω tem um ν a mais.
Neste caso, por exemplo, nascer ou vir a existir é descrito pelos termos ἐγεννήθησαν
ou ἐγενήθησαν. Ambas descritas de modo similar, exceto que γίνομαι tem um ν a me-
nos. Em outras palavras, a adição ou subtração de um ν é o que faria diferença entre
“nascer” e “vir a existir”, uma mudança claramente não intencional.

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“Alguns manuscritos de João 1:13 lêem ἐγεννήθησαν [nasceram] (P66, ‫א‬, B2, etc.) en-
quanto outros lêem ἐγεννήθη [vieram a existir] (itb, Irenaeuslat, Tertuliano, Origenlat1⁄2,
etc.); ambos significam “nasceram” [i.e. vieram a existir] embora venham de duas raí-
zes diferentes, γίνομαι e γεννάω, respectivamente.”

Paul D. Wegner, A Student’s Guide to Textual Criticism of the Bible: Its History, Methods & Results
(Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2006), 47.

4 | Ditografia (adição de letras ou palavras): É quando acontece a adição de letras ou


a repetição de letras ou palavras. E Marcos 3:16 tem um exemplo interessante: “Es-
tes são os doze que Ele escolheu”: καὶ ἐποίησεν δώδεκα (v.14). Estas mesmíssimas
palavras aparecem no v.16: καὶ ἐποίησεν δώδεκα. Essa é uma variante que muito
provavelmente surgiu de um erro de ditografia.

“As palavras entre colchetes não estão em muitos manuscritos, mas parecem ser ne-
cessárias para captar o pensamento do v. 14, que é interrompido pelo comentário
entre parênteses ἵνα... δαιμόνια (para que estivessem com Ele, os enviasse a pregar e
tivessem autoridade para expulsar demônios). Por outro lado, essas palavras podem
ter entrado no texto quando os copistas acidentalmente recopiaram essas palavras
do início do v. 14. A fim de indicar a incerteza quanto à leitura original, as palavras καὶ
ἐποίησεν τοὺς δώδεκα foram colocadas entre colchetes.”

Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 66.

5 | Metastasis (troca da ordem de letras em uma palavras): A metastasis acontece


quando nós vemos a troca de ordem das palavras e em João 1:42 nós temos um
exemplo bem interessante: “E o levou a Jesus. Jesus olhou para ele e disse: ‘Você é
Simão, filho de João’” (Ἰωάννου) ou, então, a variante textual: “filho de Jonas” (Ἰωνᾶ).
A diferença no texto grego entre João e Jonas é a alteração da ordem entre o α e o ν
encontrado nessa palavra. Esta alteração muito provavelmente deu origem a esta va-
riante textual. Claramente, uma variante que poderia ser explicada por uma variação
não intencional. Além disso, é possível que o problema aqui citado seja resultado de
um outro problema:

“O nome Ἰωνᾶ (de Jonas), lido na maioria das testemunhas posteriores e seguido por
Segond, é muito provavelmente uma mudança feita por copistas sob a influência do

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CRÍTICA TEXTUAL

nome Bar-Jona de Mt 16:17. A leitura Ἰωαν (ν) ᾶ reflete uma confusão dos copistas
com o nome de uma mulher mencionada apenas por Lucas (ver Lucas 8: 3; 24:10) (...)
É possível que os nomes Ἰωάννου e Ἰωνᾶ sejam duas formas gregas do mesmo nome
hebraico. Se os tradutores seguirem o princípio de consistência na grafia do nome de
uma pessoa, a grafia do nome aqui e em Mateus 16:17 será a mesma, independente-
mente do texto seguido.”

Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 167.

6 | Fusão (separação incorreta de sílabas): A fusão é a separação incorreta de sílabas,


que deveriam estar juntas. Como você deve saber, o texto mais antigo do Novo Testa-
mente era escrito em caracteres maiúsculos todos conectados (falaremos mais sobre
isso na próxima aula). E quando esse texto era passado para outras versões (ou tinha
sua escrita atualizada), o escriba, eventualmente, confundia as palavras que deveriam
ser separadas, mas ele entendia que essas palavras estavam agrupadas. Como acon-
tece, por exemplo, em Marcos 10:40: “mas o assentar-se à minha direita ou à minha
esquerda não cabe a mim conceder. Esses lugares pertencem àqueles para quem // aos
outros que foram preparados.” A diferença nessas variantes textuais é que ἀλλ’ οἷς:
“àqueles para quem” foi confundida com ἄλλοις: “aos outros”, que são basicamente
as mesmas letras sem as diferenças, sem os sinais diacríticos e a separação. O que
nós vemos aqui é que as palavras que deveriam ser lidas de maneira separada foram
aproximadas e houve uma fusão das palavras e, daí, uma variante textual apareceu.

“Várias versões anteriores lêem o grego ΑΛΛΟΙΣ como a única palavra ἄλλοις (aos
outros). A leitura no texto significa que não é direito de Jesus conceder lugares de
honra (a qualquer pessoa); é Deus quem dará esses lugares àquelas pessoas para
quem os preparou. Alguns cristãos primitivos usavam esse versículo para argumen-
tar que Jesus era, portanto, subordinado a Deus e não igual a Deus. A mudança para
ἄλλοις pode ter sido deliberada a fim de rejeitar tal visão de Cristo, uma vez que a lei-
tura variante significa “Não cabe a mim conceder (a vocês, os discípulos), mas (devo
conceder) a outros [ἄλλοις] para quem foi preparado.”

Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 90.

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7 | Fissão (separação indevida de uma palavra): De modo similar, nós vemos a fissão,
quando palavras que deveriam ter sido lidas juntas, foram separadas. Considere Ro-
manos 7:14: “Sabemos // Por um ado eu sei que a Lei é espiritual”. Aqui nós temos um
exemplo clássico de fissão. οἴδαμεν é a palavra traduzida como “nós sabemos”, ao
passo que οἶδα μέν seria traduzido como “por um lado eu sei”. Se lidos de maneiras
separadas ou unidas, nesse caso que é interessante, ambas as leituras dão sentido ao
texto. Mais interessante ainda é que nós mudaríamos o texto da primeira pessoa do
singular para a primeira pessoa do plural ou vice versa, dependendo de como você en-
tende o texto aqui. O importante é demonstrar que faz sentido no argumento de Paulo
tanto a primeira pessoa do plural “nós sabemos”, como a primeira pessoa do singular
“eu sei”, uma vez que este é um texto em que nós vemos Paulo falando a respeito de
si. Algo que acontece no contexto que pode explicar o que acontece aqui, mas obser-
ve esta é uma variante textual que muito provavelmente aconteceu por acaso. Seja na
fissão ou na fusão das palavras usadas por Paulo neste texto.

“Influenciado pelo uso frequente de Paulo do “eu” nos vv. 7 a 25, alguns copistas e
Pais da Igreja dividiram o verbo οἴδαμεν em οἶδα μέν (eu sei, de fato). Mas fazer isso
negligencia a necessidade neste ponto do argumento de Paulo de uma declaração
com a qual os leitores concordariam. Paulo freqüentemente apresenta tais declara-
ções usando οἵδαμεν.”

Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 301.

8 | Homoioteleuton (fim semelhante) ou Homoioarkton (início semelhante): Palavras


que começam de maneira igual ou terminam de maneira igual, quando estão copiadas,
eram frequentemente confundidas. Considere o caso, por exemplo, de 1 João 2:23:
“Todo o que nega o Filho também não tem o Pai; [quem confessa o Filho] tem o Pai.”. E
este é um caso muito interessante em que nós observamos que alguns unciais, vários
manuscritos, incluindo o Texto Recebido, tem uma versão menor do texto do que as
versões, do que as evidências mais antigas. De acordo com eles, o texto diz: “Todo
o que nega o Filho também não tem o pai”. Ao passo que é muito possível explicar a
expressão “[quem confessa o Filho] tem o pai” como um problema de Homoioteleuton
no qual o escriba pulou uma parte do versículo em função do uso repetido de ἔχει. Um
escriba que quando chegou a τὸν πατέρα ἔχει aqui no texto grego, ele ouviu repetido
duas vezes e sem perceber na mudança de linha pulou do primeiro para o segundo
e excluiu acidentalmente a parte que diz “Quem confessa o Filho”; uma explicação da

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CRÍTICA TEXTUAL

sua primeira cláusula. Quando nós olhamos para exemplos como este nós percebemos
quem, embora sejam muitas as variantes, elas aconteceram de maneira acidental e são
facilmente explicadas. Este tipo de equívoco nós percebemos facilmente e rapidamen-
te, não ficamos nem um pouco surpresos com a existências deles.

“Por causa do homoeoteleuton (τὸν πατωνα ἔχει ... τὸν πατωνα ἔχει), K L e a maioria
dos minúsculos, seguidos pelo Textus Receptus, omitiram acidentalmente a segunda
parte do verso (ὁ ὁμολογῶν... ἔχει [quem confessa ... tem). As palavras, entretanto,
pertencem ao texto original, sendo fortemente apoiadas por ‫ א‬A B C P muitos minús-
culos vg syrp, copsa, arm eth al.”

Bruce Manning Metzger, A Textual Commentary on the Greek New Testament, Second Edition
a Companion Volume to the United Bible Societies’ Greek New Testament (4th Rev. Ed.)
(London; New York: United Bible Societies, 1994), 641.

9 | Omissões ou Adições: Por fim, nas mudanças não intencionais aqui, nós vemos
omissões ou adições, dependendo de como você entende o texto. Considere, por
exemplo, o texto de Paulo em Efésios 1:1: “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vonta-
de de Deus, aos santos e fiéis em Cristo Jesus que estão em Éfeso.”. Essa expressão
“em Éfeso”, eventualmente, não é encontrada na tradução manuscrita, o que pode ser
fruto da omissão acidental de um escriba ou quem sabe de uma explicação de um Es-
criba, que resolveu adicionar esta expressão para explicar uma lacuna de quem sabe
uma teoria de uma carta circular de Paulo, uma carta que ele escreveu para muitas
pessoas, como, eventualmente, se explica a carta de Éfeso.

“As palavras ἐν Ἐφέσῳ [em Éfeso] estão ausentes em várias testemunhas importantes
(𝔓46 ‫ * א‬B * 424c 1739), bem como nos manuscritos mencionados por Basílio e no tex-
to usado por Orígenes. Certos aspectos internos da carta, bem como a designação de
Marcião da epístola como “Aos Laodiceanos” e a ausência em Tertuliano e Efraém de
uma citação explícita das palavras ἐν Ἐφέσῳ [em Éfeso] levaram muitos comentaristas
a sugerir que a carta pretendia ser uma encíclica, cópias sendo enviadas a várias igre-
jas, das quais a de Éfeso era a principal. Visto que a carta é tradicionalmente conhecida
como “Aos Efésios”, e visto que todas as testemunhas, exceto as mencionadas acima,
incluem as palavras ἐν Ἐφέσῳ, o Comitê decidiu mantê-las, mas entre colchetes.”

Bruce Manning Metzger, A Textual Commentary on the Greek New Testament, Second Edition
a Companion Volume to the United Bible Societies’ Greek New Testament (4th Rev. Ed.)
(London; New York: United Bible Societies, 1994), 532.

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CRÍTICA TEXTUAL

Seja como for, todas estas variantes textuais podem ter aparecido de uma maneira comple-
tamente acidental. Elas não foram usadas para distorcer o texto. Elas simplesmente acon-
teceram porque os escribas, assim como nós, eram pessoas que cansavam e às vezes per-
diam a atenção. Eu tenho uma dificuldade no meu processo de leitura. Eu leio muitas vezes
a mesma linha porque meus olhos não estão muito bem alinhados. E este tipo de equívoco
na hora de ler acontecia também com os nossos escribas, que, eventualmente, copiavam a
mesma linha ou pulavam uma linha na hora de escrever o seu texto. E estas são variantes
textuais, são alterações, que nós encontramos na história da transmissão do texto, mas são
não intencionais e muito provavelmente pouco significantes para a crítica textual.

B. Mudanças Intencionais

Mas existe um segundo grupo, existem aquelas que nós chamamos de mudanças intencio-
nais. Estas mudanças intencionais precisam ser estudadas com um pouco mais de aten-
ção e, eventualmente, elas são importantes. Mas que tipo de alterações intencionais nós
encontramos no Novo Testamento?

1 | Alteração de Grafia: Eventualmente, o modo como o termo é escrito é alterado de


uma maneira intencional e é possível perceber isso na história da transmissão. Perceba
Mateus 1:7-8, nós vemos a genealogia de Jesus: “Salomão gerou Roboão; Roboão gerou
Abias; Abias gerou Asafe // Asá; Asafe // Asá gerou Josafá”. Na tradição manuscrita nós
encontramos uma variante textual para Ἀσάφ descrita como Ἀσά, que muito provavel-
mente vem de uma tentativa de explicar ou associar com o texto de 1 Reis 15:9, que
conta a história de Asá e que melhor explique esta informação no texto aqui. Seja como
for, nós temos uma variação talvez causada por questões intencionais.

“Os nomes da genealogia dos vv.6b-11 vêm de 1Cr 3:5, 10-17. De acordo com 1Cr 3:10
(também 1Rs 15: 9ss), o nome desse rei era Asa. No entanto, está claro que o nome
“Asaph” é a forma mais antiga de texto preservada nos manuscritos do NT, uma vez que
manuscritos de várias famílias e tipos de texto diferentes concordam na leitura de “Asa-
ph”. Além da evidência do manuscrito, é mais provável que os copistas tenham notado
que “Asafe” era o nome de um salmista (compare os títulos dos Salmos 50 e 73-83) e
corrigissem o nome para “Asa”, o rei de Judá. Manuscritos posteriores, bem como o
Textus Receptus, lêem Ἀσας (Asa).”

Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 1.

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2 | Ajuste de Dificuldade: Considere o texto de Marcos 1:2-3. Na tradição manuscrita


nós encontramos as seguintes variações: “Conforme está escrito no profeta Isaías //
nos profetas // em Isaías e nos profetas: Enviarei à tua frente o meu mensageiro; ele
preparará o teu caminho voz do que clama no deserto: ‘Preparem o caminho para o
Senhor, endireitem as veredas para Ele”. Este é um texto interessante porque a citação
feita por Marcos aqui combina um texto de Êxodo, um texto de Malaquias e outro de
Isaías. Em grego, os textos são deveras diferentes para serem resultados de confusão:
ἐν τῷ Ἠσαΐᾳ τῷ προφήτῃ (no profeta Isaías), ἐν τοῖς προφήταις (nos profetas) e ἐν
Ἠσαΐᾳ καὶ ἐν τοῖς προφήταις (em Isaías e nos profetas). E, ao que parece, as variantes
“nos profetas” e “em Isaías e nos profetas” surgiram como uma tentativa de explicar ou
ajustar uma dificuldade. Imagine que, por exemplo, o texto original tenha sido escrito “o
profeta Isaías”. Faria muito sentido que alguém copiando este texto e vendo esta cola-
gem de textos do Antigo Testamento entender que “nos profetas” melhor explicaria o
que está escrito no texto. E quando nós olhamos para a evidência, nóSis conseguimos
perceber que muito provavelmente este foi o caminho tomado pelos escribas. E que,
posteriormente, estas duas leituras distintas foram confladas em um só: ἐν Ἠσαΐᾳ καὶ
ἐν τοῖς προφήταις (em Isaías e nos profetas). Nós vemos também “em Isaías e nos
profetas” como uma clara demonstração de que o escriba que produziu essa variante
textual, conheciam as duas anteriores; aquela que diz “Isaías” e “nos profetas”. Quando
você olha para o texto grego, você percebe que era improvável que este texto tenha che-
gado nesta forma por um acidente. Nós não conseguimos explicar a adição ou remoção
de palavras aqui de uma maneira acidental. Muito provavelmente existe um trabalho dos
escribas em ajustar dificuldades encontradas no próprio texto.

“A citação nos vv.2 e 3 vem de dois textos diferentes do AT. A primeira parte vem de
Mal 3: 1 e a segunda parte é de Is 40: 3. É fácil ver, portanto, por que os copistas teriam
mudado as palavras “no profeta Isaías” para a leitura mais geral “nos profetas” (ἐν
τοῖς προφήταις). R.T. France (The Gospel of Mark, p. 60) chama isso de “uma ‘corre-
ção’ óbvia.” A leitura no texto UBS4 também é apoiada pelas primeiras testemunhas
representativas dos tipos de texto alexandrino e ocidental.”

Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce M.
Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche Bibelge-
sellschaft, 2006), 57.

3 | Harmonização: Em João 19:20 diz que quando Jesus Cristo foi pregado, existia uma
placa que estava escrita sobre ele e ele descreve a placa do seguinte modo: “Estava
escrito em aramaico, latim e grego”. Se você olhar no texto grego você vai encontrar a

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seguinte expressão: ἦν γεγραμμένον Ἑβραϊστί, Ῥωμαϊστί, Ἑλληνιστί, descrevendo os


tipos de linguagem que estavam escritas ali. Mas se você olhar em Lucas, que tam-
bém descreve a existência de uma placa sobre a crucificação de Jesus, nós vemos
alguns manuscritos adicionarem as exatas palavras de João: “Havia uma inscrição
acima dele [[ estava escrita em aramaico, latim e grego ]], que dizia: “Este é o Rei dos
Judeus.” Aqui as mesmíssimas palavras são usadas aqui: ἦν γεγραμμένον Ἑβραϊστί,
Ῥωμαϊστί, Ἑλληνιστί. Ao que parece, um escriba precisando explicar qual era o conte-
údo da inscrição, importou-o de um outro evangelho. Esse tipo de alteração, comum
nos evangelhos, é uma forma de variação textual baseada em harmonização.

“A menção aqui [Lc 23:38] das três línguas (grego, latim e hebraico) em que a inscrição
na cruz foi escrita é quase certamente um comentário adicionado por um copista, pro-
vavelmente retirado do texto de João 19:20. Todas as evidências sugerem que a adi-
ção não é original: (a) está ausente de várias das primeiras e melhores testemunhas;
(b) as testemunhas que inserem as palavras diferem entre si (...) e (c) não há explica-
ção satisfatória para a omissão da declaração, se originalmente presente no texto.”

Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 153.

4 | Melhorias Literárias: Por exemplo, Mateus capítulo 6 descreve a oração do Pai Nos-
so nos seguintes termos, no contexto do ensino da oração do Pai Nosso: “E seu Pai,
que vê o que é feito em segredo, te recompensará”. Alguns manuscritos tardios adicio-
nam ali “publicamente” (ἐν τῷ φανερῷ). Ele te vê em segredo, mas ele te recompensa
de maneira pública. Dificilmente esta melhoria ou esta inserção do texto aqui poderia
ser feita acidentalmente. Na verdade, ela serve para demonstrar um equilíbrio entre
aquilo que acontece em secreto e de maneira pública.

“A frase ἐν τῷ φανερῷ (publicamente) está ausente dos primeiros manuscritos dos
tipos de texto alexandrino, ocidental e egípcio. Parece ter sido adicionado por copistas
a fim de fazer um paralelismo explícito com as palavras anteriores ἐν τῷ κρυπτ in (em
segredo). O ponto em toda a seção, no entanto, não é tanto a abertura da recompensa
do Pai, mas sua superioridade à mera aprovação humana (compare osvv.6e18).”

Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 7.

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5 | Ajustes Teológicos: Diferente do que, eventualmente, se pensa existem variantes


textuais que manifestam a teologia dos escribas que os escrevem. Considere, por
exemplo, o texto de Lucas 2:41: “Todos os anos seus pais // José e Maria iam a Jeru-
salém.” Ao que parece algum escriba achou necessário defender a teologia do nasci-
mento virginal de Cristo por não usar o termo “seus pais” (οἱ γονεῖς αὐτοῦ) aqui, para
evitar dar a entender que José fosse pai de Jesus. Sendo assim, alterou para Ἰωσὴφ
καὶ ἡ Μαριάμ (José e Maria). Este tipo de ajuste, que revela uma influência teológica,
demonstra uma preocupação do escriba em proteger a doutrina do nascimento virgi-
nal de Jesus. O fato, por outro lado, é que não existe qualquer demérito em Jesus ser
descrito como aquele que tem pais, pai e mãe, porque José era o pai legal de Cristo
Jesus e não tinha nenhum problema em ser considerado assim. Nós vemos em Lucas
2:43: “Terminada a festa, voltando seus pais // José e sua mãe”.

“No interesse de salvaguardar a doutrina do nascimento virginal, alguns copistas e


tradutores substituíram οἱ γονεῖς αὐτοῦ [seus pais] pelos nomes próprios ὅ τε Ἰωσὴφ
καὶ ἡ Μαριάμ [José e Maria] (1012 ita,, [itc, add mater eius] Diatessaronl, t).”

Bruce Manning Metzger, A Textual Commentary on the Greek New Testament, Second Edition
a Companion Volume to the United Bible Societies’ Greek New Testament (4th Rev. Ed.)
(London; New York: United Bible Societies, 1994), 112.

Ou seja, os escribas, quando copiavam o texto, eventualmente cometiam erros não in-
tencionais. Eles cometiam erros que eram frutos de distração, cansaço; depois de um
longo dia de trabalho eles não estivessem mais prestando tanta atenção. Existem tam-
bém algumas alterações que são claramente intencionais e é aqui que nós encontra-
mos a grande dificuldade da crítica textual: O que nós fazemos, então, com aquelas
mudanças que são intencionais?

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CRÍTICA TEXTUAL

V. Classificação das Variantes


A primeira coisa que nós fazemos com elas é classificá-las. Quando nós classificamos as
variantes textuais nós começamos a entender melhor qual é o tamanho do problema que
nós temos. Porque até aqui nós temos um número de mais ou menos, aproximadamente,
meio milhão de variantes. Nós sabemos que temos variantes intencionais presentes na
história do texto. Como nós vamos classificar, então, esta evidência? E talvez a melhora
maneira de classificar essa evidência seja tentar classificar ela em diferentes eixos. O pri-
meiro eixo é o eixo da significância e o segundo eixo é o eixo da viabilidade. Ou seja, de um
lado nós vemos leituras que são insignificantes para a transmissão do texto; ao passo que
outras são significantes para o texto. Nós vemos algumas que são inviáveis; ao passo que
nós vemos outras que são viáveis. E o que nos interessa conhecer é este grupo de varian-
tes que é ao mesmo tempo viável e ao mesmo tempo significativa. Este grupo de variantes
textuais que precisamos estudar com cautela.

Inviável

Insignificante Significativa

Viável

Em outras palavras, quando nós classificamos as variantes textuais do Novo Testamento,


nós temos quatro grupos de variantes: nós temos aquelas que são inviáveis e insignifican-
tes; nós temos aquelas que até são viáveis, mas são insignificantes; nós temos aquelas que
são significativas, mas são inviáveis; e nós temos aquelas que são significativas e viáveis,
e é este o grupo que nos importa conhecer.

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A. Inviáveis e Insignificantes

“Várias mudanças ortográficas são leituras sem sentido. Essas podem acontecer quan-
do o escriba está cansado, sem atenção, ou talvez não conheça o grego tão bem assim.
Alguém poderia pensar que os escribas que cometeram tais erros poderiam impactar
profundamente as cópias do texto. Mas, na verdade, leituras sem sentido quase sempre
não são duplicadas pelo próximo escriba. Além disso, leituras sem sentido nos ensinam
muitas coisas sobre como os escribas trabalhavam. Por exemplo, um antigo manuscrito
de Lucas e João, conhecido como P75, tem algumas variantes sem sentido interessantes.
Mas elas envolvem uma ou duas letras em cada uma dessas ocasiões, sugerindo que
esse escriba copiava o texto uma ou duas letras por vez. De fato, esse escriba era muito
cuidadoso. Ele ou ela era uma pessoa detalhista.”

Daniel Wallace, “Laying a Foundation: New Testament Textual Criticism” in Darrel L. Bock, Buist
Fanning, Interpreting the New Testament: Introduction to the Art and Science of Exegesis.
(Wheaton:IL, Crossway, 2006), 35-6.

1 | Leituras Sem Sentido: “Embora, como apóstolos de Cristo, pudéssemos ter sido
um peso, tornamo-nos bondosos // bebes // cavalos entre vocês, como uma mãe que
cuida dos próprios filhos” (1Tessalonissences 2:7).

a. Texto: ήπιοι - ēpioi (bondosos) // Transcrição: ΕΓΕΝΗΘΗΜΕΝΗΠΙΟΙ


b. Texto: νήπιοι - nēpioi (bebês) // Transcrição: ΕΓΕΝΗΘΗΜΕΝΝΗΠΙΟΙ
c. Texto: ἵπποι - híppoi (cavalo) // Transcrição: ΕΓΕΝΗΘΗΜΕΝΙΠΠΙΟΙ

“Alguns manuscritos lêem νήπιοι (bebês); e outros, seguidos pela maioria das tradu-
ções, lêem ἤπιοι (bondosos). As palavras são semelhantes na grafia. Por um lado, se
νήπιοι for original, o olho de um copista pode ter acidentalmente pulado sobre a letra
ν, uma vez que a palavra anterior ἐγενήθημεν termina com a mesma letra (um caso de
haplografia). Por outro lado, se ἤπιοι for original, um copista pode ter acidentalmente
copiado a letra ν duas vezes (um caso de ditografia). Qualquer explicação é possível (...).
Paulo usa a palavra “bebê” quase uma dúzia de vezes em outras cartas, mas sempre em
referência a seus convertidos e não a si mesmo. Mas, uma vez que os manuscritos que
apóiam a leitura νήπιοι são geralmente mais confiáveis do que aqueles que lêem ἤπιοι,
a decisão de usar νήπιοι foi feita principalmente com base em evidências externas.”

Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 424.

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2 | Erros Claros e Demonstráveis: “Não rogo que os tires do mundo, mas que os pro-
tejas do Maligno // Não rogo que os tire do Maligno (João 17 :15).

a. οὐκ ἐρωτῶ ἵνα ἄρῃς αὐτοὺς ἐκ τοῦ κόσμου


ouk erōtō hina arēs autous ek tou kosmou
Não rogo que os tire do mundo

ἀλλʼ ἵνα τηρήσῃς αὐτοὺς ἐκ τοῦ πονηροῦ


allʼ hina tērēsēs autous ek tou ponērou
Mas que os proteja do Maligno

b. οὐκ ἐρωτῶ ἵνα ἄρῃς αὐτοὺς ἐκ τοῦ πονηροῦ


ouk erōtō hina arēs autous ek tou ponērou
Não rogo que os tire do Maligno

“Os escribas acidentalmente pularam das palavras ἐκ τοῦ κόσμου [ek tou kósmou] no
meio do versículo para as mesmas palavras no final do versículo. Por esse motivo, as
palavras “embora eu não seja do mundo” estão faltando no final deste versículo em
várias tradições textuais.”

Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 206-7.

3 | Leituras Singulares: “Mas quando ficaram sabendo que ele era judeu, todos grita-
ram a uma só voz durante cerca de duas horas: ‘Grande é a Àrtemis dos efésios!’ //
‘Grande é a Àrtemis dos efésios!” (Atos 19:43).

a. ἐπὶ ὥρας δύο κραζόντων·


epi hōras dyo krazontōn
duas horas gritaram

Μεγάλη ἡ Ἄρτεμις Ἐφεσίων


Megalē hē Artemis Ephesiōn
Grande é Artemis dos efésios

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b. ἐπὶ ὥρας δύο κραζόντων·


epi hōras dyo krazontōn
duas horas gritaram

Μεγάλη ἡ Ἄρτεμις Ἐφεσίων


Megalē hē Artemis Ephesiōn
Grande é Artemis dos efésios

[Μεγάλη ἡ Ἄρτεμις Ἐφεσίων]


[Megalē hē Artemis Ephesiōn]
[Grande é Artemis dos efésios]

No Codice Vaticano, o clamor dos habitantes da cidade, “Grande é a Ártemis dos Efé-
sios!” é escrito duas vezes. Em todos os outros manuscritos, ele é escrito apenas
uma vez. Esta ditografia pode ter resultado da palavra imediatamente anterior para
“clamor”, que tem as mesmas letras finais de “dos efésios”. É semelhante a este:
κράζοντων μεγάλη ἡ Ἄρτεμις Ἐφεσίων (krazontōn megalē hē Artemis Ephesiōn).

Amy Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas Mangum, Revised
Edition., vol. 1, Lexham Methods Series (Bellingham, WA: Lexham Press, 2018), 25.

4 | Diferença de Grafia e Significado: “Eu chorava // celebrava muito, por não ter sido
encontrado alguém digno de abrir o rolo nem de olhar para dentro dele” (Apocalipse 5:4).

a. ἔκλαιον - eklaion (chorava)


b. ἔκλααν - eklaan
c. ἔκλεον - ekleon (celebrava)

O texto da grande maioria dos manuscritos, representada aqui tanto pelo Texto Majo-
ritário como pelo Textus Receptus, e os mais antigos manuscritos da tradição textual
do NT lêem aqui ἔκλαιον - eklaion (chorava), como pode-se notar na UBS5, NA28 e no
SBLGNT. Entretanto, o Códice Sinaítico em sua leitura original traz uma variação ortográ-
fica, muito provavelmente causada por desatenção do escriba, e apresenta a leitura sem
sentido ἔκλααν - eklaan. Percebendo a leitura sem sentido, o primeiro corretor do Códice
(normalmente datado em algum momento no 4o. sec) sugeriu uma alteração interes-
sante, trocando ἔκλααν - eklaan por ἔκλεον - ekleon (celebrava), produzindo uma leitura
que embora tenha ‘significado’, continua sem sentido no texto. Em outras palavras, na
tentativa de corrigir uma leitura sem sentido, o primeiro corretor criou outra.

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B. Viáveis e Insignificantes

“O maior grupo de variantes textuais são resultado de mudanças ortográficas, das quais
a grande maioria não pode ser nem mesmo traduzida. Considere por examplo os se-
guintes exemplos. ‘João’ é escrito ou como ᾽Ιωάννης [Ioánnes] ou ᾽Ιωάνης ’Ioánes] nos
manuscritos. Todo nú [letra ’n’ em grego] móvel no NT ou está presente ou ausente nos
manuscritos. Essa mudança não afeta em nada o texto. Os escribas eram criativos com
a ortografia em caso de ditongos, especialmente quando os mesmos envolvem um iota
[letra ‘i’ em grego]. Mas na maioria das vezes ele não afeta um iota no sentido. Esse tipo
de mudanças ortográficas pertence à categoria insignificante.”

Daniel Wallace, “Laying a Foundation: New Testament Textual Criticism” in Darrel L. Bock,
Buist Fanning, Interpreting the New Testament: Introduction to the Art and Science of
Exegesis. (Wheaton:IL, Crossway, 2006), 35.

1 | Diferenças Intraduzíveis: “A ele vinha toda a região da Judeia e todo o povo de Jerusa-
lém. Confessando os seus pecados, eram batizados por ele no rio Jordão” (Marcos 1:5).

a. Texto Crítico:
ὑπʼ αὐτοῦ ἐν τῷ Ἰορδάνῃ ποταμῷ
hypʼ autou en tō Iordanē potamō

b. Texto Majoritário:
ἐν τῷ Ἰορδάνῃ ποταμῷ ὑπʼ αὐτοῦ
en tō Iordanē potamō hypʼ autou

A grande maioria dos manuscritos (02 07 09 011sup 013 017 021 024 028 030 034 037
0410451213356911812434657978810051071142415822372ƒ1ƒ13 MT TR) nesse caso
lê o texto como ἐν τῷ Ἰορδάνῃ ποταμῷ ὑπ’ αὐτοῦ (en tō Iordanē potamō hyp’ autou)
ao passo que importantes e antigos manuscritos (01 03 019 33 SBL b c f ff2 q) prefe-
rem ὑπ’ αὐτοῦ ἐν τῷ Ἰορδάνῃ ποταμῷ (hyp’ autou en tō Iordanē pota). Nesse caso, tal
diferença não faz a menor diferença, sendo que ambas as leituras continuariam sendo
traduzidas do mesmo modo, a saber “eram batizados por ele no rio Jordão.”

2 | Diferença de Grafia (usos de ν): “Surgiu um homem enviado por Deus, cujo nome era
João” (João 1:6)

a. Ἰωάννης - Iōannēs (João)

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CRÍTICA TEXTUAL

b. Ἰωάνης - Iōanēs (João)


c. Ἰωάννην - Iōannēn (João)

3 | Diferença no Uso de Vogais (ex.1): “Portanto, você que julga os outros é indesculpá-
vel; pois está condenando a si mesmo naquilo em que julga, visto que você que julga,
pratica as mesmas coisas” (Romanos 2:1)

a. ὁ κρίνων - ho krinōn (aquele que julga)


b. ὁ κρείνων - ho kreinōn (aquele que julga)
c. ὁ κρίνoν - ho krinon (aquele que julga)

4 | Diferença no Uso de Vogais (ex.2): “pois vocês sabem que a prova da sua fé produz
perseverança” (Tiago 1:3)

a. τὸ δοκίμιον - to dokimion (a prova)


b. τὸ δοκίμον - to dokimon (a prova)
c. τὸ δοκήιμιον - to dokēimion (a prova)
d. τὸ δοκειμιον - to dokeimion (a prova)
e. τὸ δοκιμειον - to dokeimion (a prova)

“Incluídos na categoria de variantes insignificantes são as transposições entre manus-


critos, sinônimos, uso ou ausência de artigo com nomes próprios e coisas do tipo.”

Daniel Wallace, “Laying a Foundation: New Testament Textual Criticism” in Darrel L. Bock, Buist
Fanning, Interpreting the New Testament: Introduction to the Art and Science of Exegesis.
(Wheaton:IL, Crossway, 2006), 35.

C. Significativas e Inviáveis

1 | Leituras com Pouca Atestação: “Saúdem Andrônico e Júnias // Júlia, meus


parentes que estiveram na prisão comigo. São notáveis entre os apóstolos, e
estavam em Cristo antes de mim” (Romanos 16:7)28

a. Ἰουνιᾶν - Iounian (Júnia) b. Ἰουλίαν - Ioulian (Júlia)

28 Para um tratamento mais abrangente, procure pelo artigo “Era Júnia uma Apostola?”, escrito pelo autor e publicado pela revista Teologia
Brasileira. Versão em PDF no Academia.edu do autor.

AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL

Com base no peso da evidência do manuscrito, o Comitê foi unânime em rejeitar Ἰουλίαν
(ver também a próxima variante no v.15) em favor de Ἰουνιαν, mas estava dividido quanto à
forma como o último deveria ser acentuado. Alguns membros, considerando improvável
que uma mulher estivesse entre os denominados “apóstolos”, entenderam que o nome
era masculino Ἰουνιᾶν (“Junias”), considerado uma forma abreviada de Junianus (ver
Bauer-Aland, Wörterbuch, pp. 770 f.). Outros, no entanto, ficaram impressionados com
os fatos de que (1) o nome latino feminino Junia ocorre mais de 250 vezes em inscrições
gregas e latinas encontradas somente em Roma, enquanto o nome masculino Junias
não foi atestado em nenhum lugar, e (2) quando os manuscritos gregos começaram
para ser acentuado, os escribas escreveram o feminino Ἰουνίαν (“Junia”).

Bruce Manning Metzger, A Textual Commentary on the Greek New Testament, Second Edition
a Companion Volume to the United Bible Societies’ Greek New Testament (4th Rev. Ed.)
(London; New York: United Bible Societies, 1994), 475–476.

2 | Casos de Expansão: “Conforme está escrito no profeta Isaías: Enviarei à tua frente o
meu mensageiro; ele preparará o teu caminho voz do que clama no deserto: ‘Preparem
o caminho para o Senhor, endireitem as veredas para Ele’ [Todo vale será aterrado e
todas as montanhas e colinas, niveladas. As estradas tortuosas serão endireitadas e
os caminhos acidentados, aplanados. E toda a humanidade verá a salvação de Deus] ”
(Marcos 1:3)

a. Códice Washingtoniesnse (cf. Lucas 3:3-6; Isaías 40:4-8)


πᾶσα φάραγξ πληρωθήσεται
pasa pharanx plērōthēsetai
Todo vale será aterrado
καὶ πᾶν ὄρος καὶ βουνὸς ταπεινωθήσεται,
kai pan oros kai bounos tapeinōthēsetai
καὶ ἔσται τὰ σκολιὰ εἰς εὐθείαν
kai estai ta skolia eis eutheian
καὶ αἱ τραχεῖαι εἰς ὁδοὺς λείας·
kai hai tracheiai eis hodous leias
καὶ ὄψεται πᾶσα σὰρξ τὸ σωτήριον τοῦ θεοῦ
kai opsetai pasa sarx to sōtērion tou theou

b. Minúsculo c (cf. Lucas 3:3-6; Isaías 40:4-8)


dei nostri omnis vallis replebitur et omnis mons et collis humiliabitur et omnia
prava erunt recta et aspera in planiciem. Et videbitur gloria Domini et videbit
omnis caro salutare Dei nostri

AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL

Embora a expansão apresentada pelo escriba do Códice Washingtoniense e do


Minúsculo c sejam significativas, no sentido de fazer diferença no sentido do texto,
parece claro que ambos expandiram o texto original de Marcos tomando por base o
texto de Lucas 3:3-6, que contem uma citação mais abrangente do texto de Isaías 40:4-
8. Essa variante textual é interessante, por outro lado, porque é encontrada apenas
nesses dois manuscritos, sendo que o Códice Washingtoniense é datado no 4/5o.
século ao passo que o Minúsculo c pertence ao 12/13o. século. Embora seja possível
que dois escribas em épocas diferentes tenham tido a mesma ideia, e provável que
o escriba do Minúsculo c tenha traduzido o texto grego do Códice Washingtoniense
(ou de algum descendente do mesmo) para o latim usando a mesmíssima citação.
Esse tipo de relação entre manuscritos pode nos ensinar muitas coisas sobre como a
tradição manuscrita do NT aconteceu, mas certamente não nos ajuda em nada com a
forma do texto original de Marcos, exceto se tomada com uma expansão do mesmo.

3 | Casos de Harmonização: “Vendo isto, os fariseus perguntaram aos discípulos dele:


“Por que o mestre de vocês come [e bebe] com publicanos e ‘pecadores’?” (Marcos 2:16).

a. ἐσθίει - esthiei (come)


b. ἐσθίετε καὶ πίνετε - esthietekaipinete (come e bebe)

A adição das palavras καὶ πίνει (e beber) é uma adição natural inserida por escribas,
talvez sob a influência da passagem paralela em Lucas 5:30, que tem as palavras “Por que
você come e bebe?” Essa leitura mais curta do texto foi seguida por Mateus (9:11), que
acrescentou as palavras ὁ διδάσκαλος ὑμῶν (seu professor). Este acréscimo de Mateus
foi, por sua vez, inserido em diferentes lugares em Marcos 2:16 por alguns copistas.

Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 64.

D. Viáveis e Insignificantes

“Para ser honesto, de todas as centenas de milhares de mudanças textuais encontradas


entre nossos manuscritos, a maioria deles é completamente insignificante, imaterial, sem
nenhuma importância real para qualquer coisa que não seja mostrar que os escribas não
conseguiam soletrar ou manter o foco melhor do que a maioria de nós.”

Bart Ehrman, Misquoting Jesus: The Story Behind Who Changed the Bible and Why (New
York:NY, HarperCollins, 2005), 207.

AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL

1 | Liturgia: Considere Lucas 11:2: “Ele lhes disse: “Quando vocês orarem, digam: Pai
// Pai nosso // Pai nosso que está nos céus.”. Neste texto de Lucas nós encontramos
três variantes significativas para o entendimento do texto. As mais antigas leituras, por
exemplo, inclusive o mais antigo papiro disponível para o texto de Lucas, usa somente a
palavra “Pai”. Ao passo que nós vemos o “Pai Nosso” sendo utilizado em vários unciais
a partir do quinto século. Nós vemos também “Pai nosso que estás nós céus” sendo
usado mais posteriormente por outros documentos. Quando nós olhamos para este
texto nós estamos lendo o ensino de Cristo sobre a oração do Pai Nosso e a pergunta
que nós fazemos é: Quais destas versões ou quais destas variantes descreve o texto
original do autor? Por que quando nós estudamos crítica textual é isto que nós queremos
saber: Qual é o texto que Lucas escreveu aqui? Qual é a palavra que Jesus usou aqui? E
quando nós olhamos para as variantes disponíveis e nós estudamos as suas variantes
textuais nós percebemos a possibilidade de tentar explicar qualquer uma delas, como
estas variantes foram organizadas na transmissão. É bem possível que o texto de Lucas
aqui seja “Pai” e que escribas posteriores, tentando harmonizar com o texto conhecido
do Pai Nosso em Mateus, usaram “Pai Nosso”, que é a forma textual mais conhecida
da oração do Pai Nosso. Mas imagina que interessante estudar as variantes textuais
e perceber que neste texto nós vemos a palavra “Pai” sendo utilizada no lugar de “Pai
Nosso”. Será que isto lança luz sobre o modo como Cristo ensinava? Será que isso lança
luz sobre o modo como ele ensinou de diferentes maneiras várias vezes ou quem sabe
a mesma oração? O que nós observamos aqui é um importante estudo de uma variante
textual que é ao mesmo tempo significativa e viável.

A forma de Mateus da oração do Senhor tornou-se a forma mais amplamente usada na


adoração da igreja primitiva. É notável, portanto, que tamanha variedade de testemunhas
antigas conseguiu resistir ao que deve ter sido uma tentação extremamente forte de mu-
dar o texto lucano para a forma materna muito mais familiar. Não é surpreendente, portan-
to, que a grande maioria das testemunhas leiam Πάτερ ἡμῶν ὁ ἐν τοῖς οὐρανοῖς (nosso
Pai que [está] nos céus), como em Mt 6:9.

Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 130.

2 | Teologia: Considere o texto de João 5:44: “Como vocês podem crer, se aceitam glória
uns dos outros, mas não se preocupam com a glória que vem do Deus único // daquele
que é Único”. Estas são alterações que fazem diferença no texto e que podem ser explica-
das de qualquer um dos dois lados.

AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL

A leitura variante, que omite θεοῦ, não é significativa para a tradução, pois o significado
é o mesmo. Embora as primeiras e importantes testemunhas omitam θεοῦ, parece ser
necessário no contexto. Um copista aparentemente omitiu acidentalmente as letras ΘΥ (a
contração usual para θεοῦ) de ΤΟΥΜΟΝΟΥΘΥΟΥ.

Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 175.

3 | Cristologia: Considere João 6:69: “Nós cremos e sabemos que és o Santo de Deus” ou
“Cristo Filho de Deus” ou “Filho de Deus” ou “o Cristo” ou “o Cristo o Santo de Deus” ou “o
Cristo o Filho do Deus Vivo”. Todas estas variantes textuais apresentadas aqui tem o seu
apoio na tradição da igreja; nem todos da mesma maneira. Por exemplo, “o Filho de Deus”
é descrito somente em algumas versões anteriores à vulgata e aparece na siríaca. “Aquele
que é o Cristo” só é citada por Tertuliano. “Cristo o Santo Filho de Deus” aparece no P66 e
outros manuscritos que nós vamos conhecer na semana que vem. “Tu és o Cristo, Filho do
Deus vivo”, que é basicamente o que diz o texto de Mateus, nós encontramos em manus-
critos tardios. Mas “o Santo de Deus”, esta declaração nós vamos encontrar no P66, nos
Sinaíticos, nós vamos encontrar nos Vaticanos. E muito provavelmente melhor descreve
o sentido original aqui.

“A leitura do texto, que tem um suporte manuscrito muito bom, foi expandida de várias
maneiras por copistas, talvez em imitação de expressões em 1:49; 11:27; e Mat 16:16.
Leituras mais longas incluem “o Cristo, o Santo de Deus” (ver Segond) e “aquele Cristo, o
Filho do Deus vivo.

Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 179.

Em outras palavras, nós estamos falando de leituras que são significativas para o texto e para
a história do texto e que são ao mesmo tempo viáveis na sua explicação da história da trans-
missão. Este é o grupo de variantes do Novo Testamento. Este é o grupo que nós precisamos
considerar. Mas nós não precisamos ficar muito preocupados também porque não é sempre
que este tipo de variante acontece no texto do Novo Testamento. Aliás, estas são as exceções.

AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL

E. Quantidade de Variantes Significantes e Viáveis?

Se você fizer por um momento uma análise entre o texto grego do Novo Testamento do Texto
Recebido e a mais recente edição crítica da Nestlè-Aland, você vai perceber que este texto é
96% idêntico:

“O texto do Novo Testamento foi copiado de modo estável através dos séculos. Isso
pode ser mensurado pelas diferenças entre o texto grego por trás da KJV (TR) e aquele
por trás das traduções modernas do NT. Ainda que a KJV seja uma tradução de mais de
quatrocentos anos, ela é baseada em manuscritos significativamente mais tardios que
as traduções modernas. Ele representa um texto que cresceu através dos séculos. Ain-
da assim existem apenas cerca de cinco mil diferenças entre o TR e a NA27. Em outras
palavras, eles concordam em mais de 96% das vezes.”

Daniel Wallace, “Laying a Foundation: New Testament Textual Criticism” in Darrel L. Bock,
Buist Fanning, Interpreting the New Testament: Introduction to the Art and Science of Exegesis
(Wheaton:IL, Crossway, 2006), 34.

Em outras palavras, existem apenas 4% de variações que precisam ser consideradas. E aqui
cabe, então, uma última pergunta: Quantas variantes nós temos que são ao mesmo tempo
viáveis e significativas? Porque esta é uma pergunta muito diferente do que aquela que nós
fizemos no começo. Quantas variantes existem? Meio milhão de variantes é um número
assustador, mas considerando a classificação destas variantes, quantas delas são ao mesmo
tempo significativas e viáveis?

E para responder esta pergunta eu vou usar o texto da UBS. O texto da UBS, que é o texto
grego que eu sugeri a vocês na primeira aula, na sua terceira edição, descrevia 1440 variações
textuais que eram viáveis e importantes. E destas, o comitê classifica como: {A} um texto
certo; {B} um texto quase certo; {C} situações em que o comitê teve dificuldades em decidir
onde colocar o texto; {D} variantes que o comitê teve dificuldades em se chegar a uma decisão.

Na terceira edição da UBS, das 1440 variantes listadas, 126 foram classificadas como {A};
474 como {B}; 699 como {C}; e 144 como {D}. Em outras palavras, 10% de todas as variantes
listadas naquele texto eram consideradas entre aquelas que os editores tinham alguma
dificuldade. Mas Kurt Aland e Barbara Aland, quando fizeram uma análise daquele aparato,
disseram o seguinte:

AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL

“A única pergunta é se os editores não foram muito cautelosos em classificar as variantes, de


modo que uma B pudesse ser substituído por A, um C por um B e um D por um C”

Kurt Aland and Bárbara Aland, The Text of the New Testament (Grand Rapids:MI, Eerdmnas, 1986), 45.

Talvez eles estivessem um pouco cautelosos e nós vemos um otimismo aparecendo nas
outras versões. Por exemplo, a quarta edição muda completamente o cenário: das 1390
variantes listadas, 515 receberam a classificação {A}, 541 receberam {B}, 326 receberam {C}
e apenas 9 variantes textuais foram descritas como {D}.

E na edição mais recente, aquela que provavelmente você tem em mãos, a quinta edição, nós
temos 1392 variantes textuais, das quais 505 são A, 523 são B, nós temos 354 para C e apenas
10 com D. Mais recentemente, a quinta edição do texto grego da UBS passou por nova revisão,
com um novo comitê, mas as divisões das notas manteve de certa forma o mesmo padrão:
das 1392 variantes listadas, 505 (36%) receberam nota {A}, 523 (38%) receberam nota {B}, 352
(25%) receberam nota {C} e apenas 10 (1%) receberam nota {D}. Considerando a forma atual
do texto, que tem 138.213 palavras, o número de variantes listadas está um pouco acima de
1%. Ou seja, as variantes classificadas como {A} refletem apenas 0.36% de todo o texto, ao
passo que as variantes classificadas como {B} representam 0.37% e aquelas classificadas
como {C} representam apenas 0.36% do texto como um todo. Com isso, podemos dizer que
o comitê teve grande dificuldade em apresentar o texto em apenas 0.007% de todo o texto do
NT tal como impresso na UBS5.

Se nós olharmos a probabilidade em relação ao todo do texto desta edição da UBS5, um


texto que tem 138.213 palavras, a proporção de variação deste texto, um texto que nós não
saberíamos exatamente como construir, àquele que leva a nota {D} refletiria apenas 0,007% de
todas as variantes listadas. É evidente que a UBS não cita todas as variantes, mas eu acredito
que o aparato da UBS ilustra como estas variantes intencionais ou como estas variantes que
são viáveis e significativas são tão pequenas em número, quando nós consideramos o texto
todo do Novo Testamento. Em outras palavras, daquelas 500 mil variantes textuais que nós
descobrimos aí estimadas e espalhadas por toda a tradição manuscrita, o nosso texto vai
trazer para a gente 1392, das quais somente 1% são realmente difíceis de tratar.

AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL

E aí, o que você acha deste assunto? O que você achou desta
nossa segunda aula? Como você foi impactado pelo assunto
desta aula, pelas variantes textuais? Quais são as perguntas
que você tem sobre o assunto? Não esquece de deixar sua
pergunta aqui em baixo. Não esquece de deixar seu comentário.
Não esquece de curtir, compartilhar e espalhar este vídeo com
outras pessoas também para que mais pessoas possam sentar
e conversar sobre variantes textuais. E, se der, me segue também
lá no instagram: @mmwberti. Você vai me encontrar lá e nós
podemos conversar também sobre crítica textual.
Esta aqui foi a segunda aula e eu espero você para a próxima
aula, na próxima semana, segunda-feira às 10 da manhã, onde
nós vamos continuar a conversa das variantes textuais. E o que
nós vamos conversar vai ser o seguinte: Onde nós encontramos
estas variantes textuais? Onde elas estão presentes? E nesta
aula nós vamos conhecer mais de perto os documentos que
preservam tanto o texto como as variantes neste processo de
transmissão. Eu espero por você!

AULA 2 @institutoschaeffer
@institutoschaeffer

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