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As variantes textuais do Novo

Testamento Grego – texto da aula


Nessa aula vamos abordar a questão das variantes textuais do Novo
Testamento.

O que são variantes? Variantes são variações, são diferenças entre


diferentes textos, ou diferentes cópias, ou exemplares de um texto. Se
um mesmo documento tem duas formas, ou em determinado ponto
tem uma palavra e em outra cópia, num outro exemplar, tem uma
palavra diferente, essa diferença entre as palavras é chamada de
variante textual.

E a gente pode perguntar, e precisa perguntar, se todas as cópias da


Bíblia que chegaram até nós, especialmente as cópias do Novo
Testamento grego, todas as cópias são iguais entre si? E a gente
precisa responder que, infelizmente, não. A rigor, não existem duas
cópias que sejam absolutamente, ou totalmente, idênticas. Existem
pequenas variações entre todas elas, nem que seja alguma letra que
foi copiada de forma errada.

Tudo isso existe porque as cópias foram feitas, muitas vezes, na


pressa, muitas vezes, num contexto de perseguição, especialmente na
igreja antiga. E em função da necessidade. As pessoas queriam uma
Bíblia logo, elas não podiam esperar 4 anos para receber a Bíblia. A
igreja estava funcionando, os cultos estavam sendo realizados;
“precisamos da Bíblia, então copie rápido”.  Eles não pediam que a
Bíblia não fosse perfeita, mas, nesse processo de copiar com rapidez,
era fácil introduzir erros. Erros de cópia, que graças a Deus, hoje, pelo
grande número de cópias ou de manuscritos disponíveis, nós
podemos eliminar a maioria desses erros, resolver o problema.

Alguns poucos ficam, são problemas mais complexos; mas a maioria


dessas variantes é feita de coisinhas miúdas. Do tipo “Cristo Jesus”
em alguns manuscritos e “Jesus Cristo” em outros. O apóstolo Paulo,
no Novo Testamento, é o que mais vezes usa a formulação “Cristo
Jesus”. Quando um copista, ou alguém que estava copiando a Bíblia
para a igreja, quando ele chegava em “Cristo Jesus”, ele tinha um
problema, ele via nisso um problema. Porque ele estava acostumado
a dizer, na sua igreja, “Jesus Cristo”, e não “Cristo Jesus”. Ou, então,
se ele conhecia esse detalhe do estilo de Paulo, essa preferência por
“Cristo Jesus”, ele podia se sentir tentado a, ao encontrar na Bíblia um
“Jesus Cristo”, uma formulação “Jesus Cristo”, mudar para “Cristo
Jesus”.
 
Então existe uma explicação para isso, mas venhamos e
convenhamos, não há uma grande diferença entre “Cristo Jesus” e
“Jesus Cristo”; é a mesma pessoa.

Os copistas, os escribas, eles cometeram erros de cópia, porque eles


não eram robôs, eles não eram máquinas; eles eram gente como a
gente. Nós, hoje, ao escrevermos alguma coisa à mão, especialmente
se copiamos de outro documento, nós cometemos erros. (Tem muito
erro em texto bíblico, por exemplo, em programa de culto ou em
boletim de igreja; as pessoas, em vez de extraírem o texto de um local
seguro, copiam todo o texto. Eles abrem a Bíblia e começam a copiar,
e criam variantes, esquecem uma vírgula, trocam uma letra, não
colocam o acento; tudo isso é parte de um processo que se chama
criação de variantes.)

Muitas das variações, ou variantes, foram do tipo “sem querer”, do tipo


involuntário. Alguém poderia escrever duas vezes a mesma letra, ou
então esquecer uma letra que estava duplicada. Ele poderia
facilmente, por um equívoco, por uma distração, pular ou saltar uma
linha. Especialmente, quando havia várias linhas, vários versículos
com um final igual, ou então com um começo igual.

Há um exemplo bem característico no Códice Sinaítico, esse enorme


manuscrito de meados do quarto século e que foi descoberto em
1859. Ali, na história do bom samaritano, o copista saltou ou omitiu
uma linha. Jesus conta a história desse homem que descia de
Jerusalém a Jericó; ele foi assaltado, foi deixado semimorto à beira da
estrada. Nisso, chega um sacerdote, vê a cena e “passou de largo”. O
texto continua: aí veio um levita, ele vê a cena e “passou de largo”.
Esse final igual desses dois versículos fez com que o copista, ou
escriba, “passasse de largo” esse versículo do levita. Então, nesse
manuscrito, no Códice Sinaítico, só existe o sacerdote e, depois, o
samaritano. O versículo que trata do levita foi omitido. Por quê? 
Porque ele se enganou. Ele escreveu o texto (“passou de largo”) e,
quando ele voltou ao original (a cópia que ele tinha diante de si, o
exemplar que ele tinha aberto diante de si), ele localizou o “passou de
largo”. Só que localizou um pouco abaixo, e, com isso, omitiu uma
linha ou um versículo inteiro.

Mas havia também aquelas variantes, ou aqueles acréscimos, ou


omissões que foram feitos de forma voluntária. Eu gosto de dizer “sem
querer, querendo”, ou seja, voluntariamente. Tipo colocar ao final de
um texto um “Amém” que não estava lá.

Não era comum terminar todos os livros bíblicos com “Amém”, mas
alguns como que pedem um “amém”.  O final da Segunda Carta aos
Coríntios: “a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai, e a
comunhão do Espírito Santo sejam com todos vocês…” E aí o texto
pede um “amém”. Em muitos manuscritos, os copistas acrescentaram
um “amém”, mas os manuscritos mais antigos não têm um “amém” ali
no final da Segunda Carta aos Coríntios.

Então, existem milhares de variantes, se forem considerados todos os


manuscritos que chegaram até nós. A maioria dessas variações não
tem maior importância para o texto grego, ou para tradução; são
variações inofensivas. 

Mas existem uns 1.400 lugares no Novo Testamento que os eruditos


gostam de discutir. Alguns querem discutir mais, outros menos, e
todos esses pontos ou todas essas “unidades de variação” estão
registradas no Novo Testamento grego. Temos, portanto, milhares de
variantes, ou de variações, e diferenças entre os manuscritos que
chegaram até nós. De certa forma, quanto mais manuscritos a gente
tem, mais variantes aparecem. Porque, no processo de cópia, foram
sendo feitas pequenas alterações, como vimos, algumas delas
involuntárias e algumas delas de forma voluntária. Então, se todos os
manuscritos forem considerados, são muitas variantes.

No entanto, a maior parte dessas variantes não tem maior


importância. A rigor, nenhuma delas afeta a doutrina cristã. Nenhuma
doutrina cristã está em jogo. Não se perde nada e não se ganha nada,
se a gente tem texto um mais longo, aqui e ali, ou um texto mais
breve, ou uma mudança de uma palavra por outra. Essencialmente, o
Novo Testamento é o mesmo.

Mas existem uns 1400 lugares ou pontos no Novo Testamento onde


existe uma variante um pouco mais complexa, um pouco mais
preocupante. E essas variantes, essas 1400, estão registradas no
Novo Testamento grego (ao pé da página). Existe inclusive um livro
chamado “As Variantes Textuais do Novo Testamento Grego” que
explica essas variantes registradas aqui no Novo Testamento grego.

Já o Novo Testamento Nestle-Aland, esse tem um número bem maior


de unidades de variação ou registro de variantes no rodapé, no
aparato crítico. Calcula-se que seja em torno de 10.000 variantes que
estão registradas aqui.
Mas é preciso a gente se acalmar e ter a certeza, essa confiança de
que apesar das variantes... Nós não gostaríamos que existissem, mas
elas existem; as pessoas que copiaram cometeram erros de cópia,
erros de escrita, mas tudo isso, graças a Deus, consegue ser
solucionado na sua maior parte. 99% do Novo Testamento está
absolutamente estabelecido, e isso é feito através da ciência chamada
crítica textual.

A crítica textual é o uso da nossa razão, o uso das faculdades que


Deus nos deu para comparar manuscritos e ver onde existe um erro
de cópia, e preferir, nesse caso, o texto que está no outro manuscrito
onde não existe o erro de cópia.

Essa comparação entre manuscritos para preparar as edições que


usamos hoje é feita pelos críticos de texto, numa disciplina chamada
crítica textual. Melhor do que ignorar um problema é encará-lo de
frente e usar os recursos que Deus nos deu para fazermos as
melhores edições do Novo Testamento, de onde nos virão as
melhores traduções da palavra de Deus, assim como ela nos foi
originalmente entregue.

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