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INTERNACIONAL
DO TRABALHO
Coordenação Geral
Nelson Boni
Coordenação de Projetos
Leandro Lousada
Professor Responsável
Marcio Morena Pinto
Revisão Ortográfica
Vanessa Almeida
9 Unidade 1 – A Internacionalização e o
Direito Internacional do Trabalho
11 1.1. O Trabalho na Vida do Homem
1.1.1 O Trabalho na Vida do Homem
1.1.2 Visões Histórico-Ideológicas do Trabalho
1.1.3 A Evolução Histórica das Relações de Trabalho
1.1.4 As Revoluções Industriais
1.1.5 As Doutrinas Sociais e o Marxismo
1.1.6 O Surgimento e o Desenvolvimento de um
Direito do Trabalho de Caráter Universalizante
9
1.1. O TRABALHO NA VIDA DO HOMEM
11
os setores da vida humana, não se circunscrevendo à ati-
vidade remunerada, área onde costuma ser identificado,
acabando por apoderar-se da própria vitalidade humana.
O trabalho é sempre dirigido por uma finalidade
consciente, criando e reproduzindo técnicas reiterada-
mente utilizadas ao longo da história, sempre com o
objetivo de transformar a natureza, adaptando-a con-
forme as necessidades sociais. Ao modificar o seu en-
torno, o homem transforma a si próprio, se autopro-
duz, afastando-se dos animais que permanecem sempre
os mesmos na sua essência.
Para Martins Filho (2009, p. 3), trabalho é toda a
ação humana, realizada com gasto de energia física ou
mental, acompanhada ou não do auxílio instrumental,
dirigida a um fim determinado que produza efeitos no
próprio agente que o realiza, a par de contribuir para
transformar o mundo em que se vive.
Aranha e Martins (1993, p. 6), destacam um cunho
mais humanista que o trabalho aporta, por ser uma
atividade relacional. Além de desenvolver habilidades,
permite que a convivência não só facilite a aprendiza-
gem e o aperfeiçoamento dos instrumentos e das técni-
cas, mas também enriqueça a afetividade resultante do
relacionamento humano. No trabalho, o homem apren-
de a conhecer a natureza, as pessoas e a si mesmo ex-
perimentando emoções de expectativa, desejo, prazer,
medo, inveja etc. Em poucas palavras, o trabalho é uma
condição de transcendência e, portanto, é expressão da
própria liberdade.
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1.1.1 VISÕES HISTÓRICO-IDEOLÓGICAS
DO TRABALHO
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tempo para a contemplação teórica da verdade e, tam-
pouco, para a práxis política. O ideal humano deveria
se realizar na figura do cidadão filósofo, ou seja, um
homem livre das incumbências da sobrevivência, evi-
denciando-se um ideal de cunho altamente elitista.
Em sentido contrário, a crença judaica e a cristã
passam a valorizar o trabalho manual, ensinando que
Deus trabalhou seis dias e descansou no sétimo. Ora,
se até mesmo Deus trabalhou para conceber o mundo
tal como o conhecemos em toda a sua riqueza e diver-
sidade, o homem também deve trabalhar. No entanto,
note-se que, apesar de dar-se importância ao trabalho,
a sua percepção é sempre negativa, estando associada
à ideia de tortura, de maldição, de pena a ser executada
com resignação etc.
Um mito universal que ilustra muito bem isso é
a da expulsão de Adão e Eva do Paraíso (Genesis, III,
19), onde os homens viviam originalmente felizes e
tinham tudo de que necessitavam. Não havia miséria,
necessidades, muito pelo contrário. O problema se co-
loca com a descoberta da árvore do conhecimento, cuja
fruição era proibida aos homens. Como se sabe, o ho-
mem, junto da mulher, colheu o fruto e o comeu. Em
seguida, como punição, Deus amaldiçoou as lavouras
do homem, dizendo: “no suor do seu trabalho deverás
ganhar o teu pão rosto”. Daí provém uma concepção
de trabalho originalmente associada a uma maldição.
Outra famosa passagem bíblica que retrata o traba-
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lho está na Segunda Carta de São Paulo aos Tessaloni-
censes (3, 10), na qual o apóstolo teria dito: “Quem não
quer trabalhar, também não deve comer”, em resposta
a um grupo de cristãos que queriam alienar-se dos es-
forços da vida profissional, eclesial e política à espera da
vinda do Senhor.
Na Roma escravagista, o trabalho era visto como
“ausência de lazer”. A palavra negotium indicava “negação
do ócio”, significando, portanto, ocupação, trabalho, la-
buta e, por isso, os romanos formaram esta palavra que
nasce da contração do advérbio nec (não), com o subs-
tantivo otium (ócio), significando descanso, recreação.
A etimologia do verbo “trabalhar” e da palavra
“trabalho”, por sua vez, tem origem nos vocábulos
latinos tripaliare e tripalium. O tripalium era um instru-
mento utilizado pelos agricultores, formado por três
paus - algumas vezes munido com pontas de ferro - aos
quais eram atados os animais. Indevidamente, o mesmo
instrumento servia também para torturar os escravos,
mantendo-os presos. Daí provém a associação do tra-
balho com agonia, sofrimento e pena.
Na Idade Média, São Tomás de Aquino procura rea-
bilitar o trabalho manual, dizendo que todos os trabalhos
se equivalem. No entanto, a própria construção teórica
de seu pensamento, calcada no restabelecimento da visão
grega, tende a valorizar mais a atividade contemplativa.
Como assinala Kamper (1998, p. 20), nas condi-
ções da religiosidade e da cultura europeia, o trabalho
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foi inegavelmente visto como uma espécie de sacrifício
ao qual os homens foram obrigados; um sacrifício de
força vital e de tempo de vida que os homens preci-
sam realizar. No decorrer da história, o trabalho acaba
mudando de natureza e acaba se transformando numa
espécie de sacrifício voluntário, como diz Lutero, trans-
formando o que era um castigo em algo positivo.
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O renascimento urbano e comercial foi consolidan-
do uma nova estrutura de classes. As vilas e as cidades
cresceram tão rapidamente que mais da metade da po-
pulação rural havia sido deslocada para desenvolver ati-
vidades comerciais e artesanais, dando suporte ao desen-
volvimento de uma economia monetária e mercantil que,
paulatinamente, foi substituindo a economia feudal.
Com o incremento do comércio, fortaleceram-se
os grupos profissionais dos mercadores, chamados de
“corporações de ofício”. Essas corporações de merca-
dores (ou “guildas”) eram associações que passaram a
garantir o monopólio do comércio local, tutelando os
interesses de seus membros em face da impotência do
Estado, buscando garantir o monopólio de seus ramos
de atividade, limitando diretamente o comércio feito
por estrangeiros, através do controle dos preços e da
qualidade dos produtos.
O capital acumulado permite aos burgueses com-
prar matérias-primas e máquinas, o que fez com que
muitas famílias que desenvolviam o trabalho doméstico
nas antigas corporações e manufaturas passassem a dis-
por de seus antigos instrumentos de trabalho, vendo-se,
de certa forma, obrigadas a vender a força de trabalho
em troca de um salário para sobreviver.
Essa primeira etapa de acumulação de capital é co-
mumente chamada de acumulação primitiva. Realizada
inicialmente por meio da transformação das relações de
produção e surgimento do trabalho assalariado e concen-
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tração dos meios de produção – nas mãos de poucos,
seguidos da expansão capitalista, como explica Marx:
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pregado e a produção alcançada individualmente passa
a ser vendida pelo empresário, que fica com os lucros
obtidos. É nesse momento que se configura o nasci-
mento de uma nova classe social: o proletariado.
19
É um momento de muitas novidades tecnológicas.
Pascal concebe a primeira máquina de calcular. Torri-
celli constrói o barômetro. Inventa-se o tear mecânico,
que tanto contribui para o desenvolvimento da indús-
tria têxtil, mormente na Inglaterra, onde sofreu um im-
pulso extraordinário e aumentou significativamente a
produção de tecidos.
Outros setores também se desenvolvem, como o
metalúrgico, impulsionando a produção em série e le-
vando à modernização e expansão dos transportes. Vale
ressaltar que não apenas as cidades sentem o reflexo das
novas tecnologias, mas também no campo processan-
do-se uma revolução agrícola.
É curioso notar que a máquina passa a exercer tal
fascínio sobre a mentalidade do homem moderno que
a ciência compara a natureza e o próprio homem a uma
máquina, um conjunto de mecanismos cujas leis pre-
cisam ser descobertas. Descartes foi um dos célebres
filósofos que tentou desvendar o comportamento dos
animais comparando-os a máquinas, valendo-se do me-
canismo do relógio para explicar o modelo característi-
co do universo (ARANHA, MARTINS, 1993, p. 152).
Como analisa Hobsbawn sobre a era industrial, o
poder e a velocidade a tudo transformavam:
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pontes formando um conjunto de construções que fazia as
pirâmides do Egito e os aquedutos romanos e até mesmo
a Grande Muralha da China empalidecerem de provin-
cialismo, era o próprio símbolo do triunfo do homem pela
tecnologia. (2005, p. 72).
21
Isto era feito mediante o emprego de uma mão-de-obra
barata e numerosa, submetida a jornadas médias de tra-
balho de dezesseis horas por dia. Mulheres e crianças
eram largamente empregadas, uma vez que sua remune-
ração era inferior à da mão-de-obra masculina (1993,
p. 177).
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to work/eight hours to play/eight hours to sleep/eight shillings
a day” (oito horas de trabalho/oito horas de lazer/oito
horas para o sono/oito “shillings” por dia).
Por volta de 1860 inicia-se a chamada “Segun-
da Revolução Industrial”, caracterizada por mais ino-
vações técnicas, como a descoberta da eletricidade, a
transformação do ferro em aço, o desenvolvimento de
novos meios de transporte como o automóvel e o avião
e, mais tarde, o surgimento dos meios de comunicação.
Trata-se de um período de busca por maiores lu-
cros em relação aos investimentos feitos e que levou
ao extremo a especialização do trabalho, ampliando a
produção em série e barateando o custo da unidade
produzida. Um exemplo clássico desse fenômeno ficou
conhecido como “fordismo”, um revolucionário siste-
ma de organização do trabalho industrial de massa, ide-
alizado pelo empresário americano Henry Ford (1863-
1947), fundador da Ford Motors Company.
A principal característica do fordismo foi a in-
trodução das linhas de montagem, nas quais cada
operário ficava em um determinado lugar realizan-
do uma tarefa específica, enquanto o automóvel se
deslocava pelo interior da fábrica numa espécie de
esteira. Com isso, as máquinas ditavam o ritmo do
trabalho e os funcionários da fábrica especializavam-
-se em apenas uma etapa do processo produtivo,
repetindo essa mesma atividade durante toda a sua
jornada. Esse procedimento acabava por gerar uma
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alienação física e psicológica, pois os operários não
mais tinham noção da totalidade do processo produ-
tivo.
Essa forma de produção em série propiciou o sur-
gimento de grandes indústrias e a geração de grandes
concentrações econômicas, que culminaram nos holdings,
trustes e cartéis. (VICENTINO, 1997, p. 288).
O gigantesco salto tecnológico dos países indus-
trializados no seu esforço para vencer a convulsão uni-
versal proporcionada pela Segunda Guerra Mundial
lançou a humanidade num terceiro estágio do processo
iniciado dois séculos antes, ao qual muitos chamaram
de “Terceira Revolução Industrial”, caracterizada por
diversas inovações tecnológicas, associadas à informá-
tica. Como bem assinala Catharino:
24
1.1.4 AS DOUTRINAS SOCIAIS E O MARXISMO
25
tas na Grã-Bretanha.
Foi primeiramente junto à maquinaria que os tra-
balhadores de espírito mais simples “lutaram” de ime-
diato, na tentativa de destruir a força produtiva desen-
volvida pelo capital. Esse movimento ficou conhecido
como “Ludismo”, em função do seu líder Ned Ludd.
O conflito com o proletariado girava em torno da
exploração de sua mão de obra, cuja contraprestação
mantinha sua renda em um nível de mera subsistência,
possibilitando aos ricos acumularem mais lucros, per-
mitindo-lhes financiar a industrialização e, por conse-
guinte, um nível de vida luxuoso.
Da constatação dos efeitos negativos da Revolução
Industrial é que surgem no século XIX os críticos do
progresso. Esses críticos propunham reformulações so-
ciais e a construção de um mundo mais justo; ideais que
desencadearam os movimentos socialistas e anarquistas
que pretenderam enunciar e alterar aquela situação de-
plorável, germinando as primeiras iniciativas para a con-
solidação de uma legislação internacional do trabalho.
Calcados nas ideias do pensamento iluminista, os
primeiros a refletir sobre os problemas causados pelas
sociedades capitalistas em desenvolvimento ficaram
conhecidos como “socialistas utópicos”, graças a sua
visão mais romântica desses novos tempos.
Os seus principais representantes foram Robert
Owen, Saint-Simon e Charles Fourier. O que todos ti-
nham em comum era o propósito de defender a criação
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de uma sociedade ideal na qual as classes viveriam em
harmonia, buscando interesses comuns que estivessem
acima da exploração ou da busca incessante pelo lucro.
Robert Owen (1771 – 1858) pode ser visto como
um dos mais atuantes pensadores do socialismo utópi-
co. Acreditava que o caráter humano era fruto das con-
dições do local onde era formado. Portanto, defendeu
a adoção de práticas sociais que primassem pela felici-
dade, pela harmonia e pela cooperação, para superar os
problemas causados pela economia capitalista.
Na condição de administrador, teve a oportunidade
de observar claramente as penosas condições às quais os
trabalhadores eram submetidos. A partir dessa experiên-
cia, seguindo suas próprias convicções, Owen reduziu a
jornada de trabalho de seus operários e defendeu a me-
lhoria de suas condições de moradia e educação.
Por essa razão, é considerado um dos precurso-
res da ideia de uma legislação internacional do trabalho,
dirigindo alguns escritos em 1818 aos soberanos dos
Estados da Santa Aliança, reunidos em Aix-la-Chapelle,
para que tomassem medidas destinadas a melhorar a
sorte dos trabalhadores, preconizando uma ação inter-
nacional no sentido de difundir as experiências pratica-
das em sua empresa. (VALTICOS, 1977, p. 29).
Saint-Simon (1760-1825) dividia a sociedade em
dois setores: produtores e ociosos. Por essa razão, de-
fendeu uma reconfiguração social entre operários e
industriais, pregando a manutenção dos privilégios e
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do lucro, desde que eles assumissem os impactos so-
ciais causados pela prosperidade econômica. Para ele,
ao cumprir a sua responsabilidade social, o industriário
poderia equilibrar os interesses sociais.
Outro crítico feroz da sociedade burguesa foi Char-
les Fourrier (1772-1837), defendendo uma sociedade
sustentada por ações cooperativas que possibilitariam
uma sociedade mais próspera. Fourrier acreditava ser
possível reorganizar a sociedade em “falanstérios”, ou
seja, fazendas coletivas agroindustriais. Seu projeto pre-
gava o fim da separação entre trabalho e lazer e a adap-
tação da educação às inclinações e habilidades de cada
criança. Também preconizava que os bens fossem dis-
tribuídos de acordo com a necessidade de cada morador.
Em oposição aos socialistas utópicos, surgem os
socialistas científicos ou marxistas, para quem os utópi-
cos projetavam uma sociedade sem antes avaliar devi-
damente as condições mais enraizadas que constituíam
o capitalismo. Seu maior teórico foi Karl Marx (1818-
1883), cuja obra mais conhecida, O Capital (1867), cau-
sou uma revolução na economia e nas ciências sociais
em geral.
Como ressalta Aron, o pensamento de Marx é uma
análise e uma compreensão da sociedade capitalista no
seu funcionamento atual, na sua estrutura presente e no
seu devenir necessário; ou ainda: “é uma interpretação
do caráter contraditório ou antagônico da sociedade ca-
pitalista”. (ARON, 1997, p. 135-136).
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O marxismo compõe-se de uma teoria científica
que ficou conhecida como “materialismo histórico”
e que defende a ideia de que toda sociedade é deter-
minada, em última instância, pelas suas condições so-
cioeconômicas, por ele chamadas de “infraestrutura”.
Adaptadas a ela, as instituições, a política, a ideologia e
a cultura como um todo compõem o que Marx chamou
de “superestrutura”.
Ao analisar o homem como um ser social, Marx
desenvolve uma nova antropologia, segundo a qual não
existe uma “natureza humana” idêntica em todo tempo
e lugar. Para ele, o existir humano decorre do agir, pois
o homem se autoproduz à medida que transforma a na-
tureza por meio do seu trabalho. Isso porque o trabalho
é considerado uma ação coletiva e a condição humana
depende da sua existência social.
Por outro lado, o trabalho é um projeto huma-
no e, como tal, depende da consciência que antecipa a
ação pelo pensamento. Com isso, se estabelece a dialé-
tica “homem-natureza e pensar-agir”. Nesse contexto
marxista, as relações fundamentais de toda sociedade
humana se circunscrevem às relações de produção, que
revelam a maneira pela qual os homens, a partir das
condições naturais, se utilizam das técnicas e se organi-
zam por meio da divisão do trabalho social.
O modo de produção é a maneira pela qual as for-
ças produtivas se organizam em determinadas relações
de produção num dado momento histórico. No modo
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de produção capitalista, essas forças produtivas repre-
sentadas, sobretudo, pelas máquinas do sistema fabril,
determinam as relações de produção caracterizadas
pelo dono do capital e pelo operário assalariado.
No entanto, as forças produtivas só podem se
desenvolver até certo ponto, pois ao atingirem um
estágio por demais avançado, entram em contradição
com as antigas relações de produção, que se tornam
inadequadas. Surgem então as divergências e a neces-
sidade de uma nova divisão de trabalho. A contradição
aparece como “luta de classes”, tema central do seu
“Manifesto Comunista”.
A luta de classes é o confronto entre duas classes an-
tagônicas quando pugnam por seus interesses. No modo
de produção capitalista, a relação antitética se faz entre o
burguês, que é o detentor do capital, e o proletário, que
nada possui e só vive porque vende sua força de trabalho.
Outro conceito marxista básico é o de “mais-va-
lia”. Marx explica que, ao comprar a força de trabalho,
o capitalista adquire o direito de servir-se dela ou de
fazê-la funcionar durante todo o dia ou toda a semana.
Como o operário vendeu sua força de trabalho ao capi-
talista, todo o valor, ou todo o produto por ele criado
pertence ao empregador, que é dono de sua força de
trabalho por determinado período.
Dessa forma, chama-se “mais-valia” a quantidade
de valor produzido pelo trabalhador além do tempo de
trabalho necessário, isto é, do tempo de trabalho neces-
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sário para produzir um valor igual ao que recebe sob a
fora de salário. (ARON, 1997, p, 148).
Contra a ordem capitalista e a sociedade burguesa,
Marx considerava inevitável uma ação política do ope-
rariado, uma “Revolução Socialista” que inauguraria a
construção de uma nova sociedade. Num primeiro mo-
mento, ele defende a instauração de uma ditadura do
proletariado, controlando-se o Estado, socializando-se
os meios de produção e eliminando a sociedade privada.
Numa etapa posterior, o objetivo era alcançar o
“comunismo”, que representaria o fim de todas as de-
sigualdades sociais e econômicas, inclusive do próprio
Estado. Nessa etapa o homem viveria de acordo com
o princípio: “De cada um segundo sua capacidade e a
cada um segundo duas necessidades”.
Outra corrente ideológica de relevo surgida no sé-
culo XIX foi o anarquismo, que pregava a total supressão
de toda forma de governo, defendendo a liberdade geral.
Destaca-se, entre seus precursores, Pierre-Joseph Prou-
dhon (1809-1865) que, em 1840 publica o seu livro O
Que é a Propriedade?, criticando os abusos do capitalismo
e enfatizando o respeito à pequena propriedade, além de
propor a criação de cooperativas e de bancos que con-
cedessem empréstimos sem juros aos empreendimentos
produtivos, além de crédito gratuito aos trabalhadores.
Ao propor a criação de uma sociedade de homens
livres e iguais, Proudhon defendia também a destrui-
ção do Estado, substituindo-o por uma “república de
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pequenos proprietários”, inaugurando assim o anar-
quismo. Sua crítica social conquista grande número
de trabalhadores e, em 1848, Proudhon é eleito para
a Assembleia Nacional. Participa pouco das atividades
parlamentares, mas suas ideias contribuem para a trans-
formação do anarquismo em movimento de massa.
As propostas anarquistas de Proudhon inspira-
ram Leóo Tolstoi (1828-1921) e, principalmente, Mi-
khail Bakunin (1814-1876), que se tornou o líder do
anarquismo terrorista ao apontar a violência como a
única forma de se alcançar uma sociedade sem Estado
e sem desigualdades.
Na segunda metade do século XIX, houve uma
grande mobilização operária, com diversos levantes re-
volucionários em vários países europeus chamando a
atenção da cúpula eclesiástica de Roma que, em 1891,
publicou a encíclica Rerum Novarum, sob os auspícios
do Papa Leão XIII, que criticava fortemente a falta de
princípios éticos e valores morais na sociedade progres-
sivamente laicizada de seu tempo.
Como assinala Moreira (1997, p. 274), Leão XIII
assumiu a realidade social de seu tempo, colocando-se
num plano reformista, advogando o amparo do movi-
mento operário, aceitando o sindicalismo como forma
moderna de enquadramento social e negando o caráter
revolucionário das novas aspirações. Com isso, ele do-
tou a Igreja de uma doutrina social para os novos tem-
pos, definindo a intervenção de um Estado laico, mas
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não totalitário, em favor das novas classes produzidas
pelo liberalismo capitalista.
Esse documento papal tornou-se um marco da
Doutrina Social Cristã; “uma verdadeira Carta Mag-
na do trabalhador”, como a caracteriza Martins Filho
(2009, p. 22). A diretriz básica da Doutrina Social Cristã
é a da primaziado trabalho sobre o capital, uma vez que
todo o trabalho tem o homem como fim, ou seja, o tra-
balho é para o homem e não o homem para o trabalho.
Essa encíclica referia-se a alguns princípios que
deveriam ser usados na busca de justiça na vida social,
econômica e industrial, como, por exemplo: o princí-
pio da dignidade humana; o princípio do bem comum;
o princípio da destinação universal dos bens; a melhor
distribuição de riqueza; a intervenção do Estado na
economia a favor dos mais pobres e desprotegidos; e a
caridade do patronato aos trabalhadores. A partir da pu-
blicação da Rerum Novarum, a Igreja não mais se desvin-
culou da questão social e de suas concepções políticas.
Quatro anos após a promulgação dessa Encíclica,
surgiu o primeiro sindicato cristão na Alemanha. A par-
tir deste movimento sindical, nasceram vários partidos
cristãos de massa, com forte apoio sindical e uma grande
base eleitoral, sob a bandeira da defesa de um governo
para o povo, de uma representação nacional e propor-
cional, da descentralização, da autonomia das províncias
e da organização de uma economia de providências. En-
tre estes partidos de massas podemos destacar o Partido
33
Popular Italiano (Partito Popolare Italiano), fundado em
1919, pelo padre católico Don Luigi Sturzo.
Ainda durante o século XIX, o movimento operá-
rio europeu mostrou comportamento ora de ascensão,
ora de refluxo, como analisa Vicentino (1997, p.297-
298). Na década de 40, surgiram manifestações como a
“Liga dos Justos”, uma organização socialista que repre-
sentava vários países e seguia as ideias de Marx e Engels.
Na Inglaterra, a ascensão trabalhista culminou no “car-
tismo” (1837-1848), um movimento popular que reivin-
dicava reformas nas condições de trabalho (limitação de
jornada) e direitos políticos (sufrágio universal).
Na década de 1850, após as revoluções frustradas de
1848 e a repressão do Estado, o movimento operário foi
consideravelmente afetado, em muitos centros, chegando
até mesmo a ser desativado quase por completo. Na déca-
da seguinte voltou a ganhar força. Em 1864 foi fundada a
“Primeira Internacional Operária”, também chamada de
“Associação Internacional dos Trabalhadores”.
Em 1889, numa nova ascensão trabalhista, foi fun-
dada a “Segunda Internacional”, com um sentido mais
reformista e menos revolucionário, adotando os ideais
da Social Democracia Alemã, o primeiro partido polí-
tico socialista, defendendo-se agora que o socialismo
seria alcançado de forma gradual.
Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918),
as massas trabalhadoras dividiram-se, sepultando a Se-
gunda Internacional. No ano de 1919, em Moscou, no
34
meio da Revolução Russa bolchevique, formou-se a
“Terceira Internacional” que assumiu o nome de “In-
ternacional Comunista” ou “Comintern”, servindo de
embrião aos primeiros partidos comunistas.
Em meio a todo esse panorama histórico é que
surgem as primeiras tentativas de positivação e consoli-
dação de um direito que oferecesse maior proteção aos
trabalhadores de todo o mundo: o Direito Internacio-
nal do Trabalho.
35
Nesse percurso de universalização e positivação
dos direitos trabalhistas, dois industriais tiveram um pa-
pel de grande relevância, segundo Valticos (1977, p. 29):
o inglês Robert Owen (cuja contribuição para o Direito
do Trabalho já examinamos no capítulo anterior), e o
francês Daniel Le Grand. Le Grand, entre 1840 e 1855,
não poupou esforços para que fosse adotada uma lei
internacional do trabalho, dirigindo-se, para tanto, aos
governantes dos principais países da Europa, principal-
mente ao da França.
Scelle (1927, p. 122) sustenta que a primeira ini-
ciativa oficial para se criar uma legislação do trabalho
de cunho internacional coube à Suíça que, em 1855,
através de uma proposta do Cantão de Glaris, cria uma
verdadeira legislação industrial internacional.
No entanto, a primeira Conferência Internacional
do Trabalho foi convocada posteriormente, em Berlim,
em 1890, estando presentes os representantes da Ale-
manha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França,
Holanda, Inglaterra, Itália, Luxemburgo, Noruega, Por-
tugal e Suécia. Nessa ocasião, várias nações fizeram su-
gestões para a criação de uma Repartição Internacional
para estudos e estatísticas de trabalho.
Para tornar realidade essas sugestões, Guilherme
II pediu o apoio do Papa Leão XIII que, como respos-
ta, trouxe à luz a Encíclica Rerum Novarum em 1891 que
propôs, pela primeira vez, como já vimos, soluções para
resolver a situação precária do operariado, considerada
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como uma consequência do capitalismo liberal e da falta
de princípios éticos e morais nas relações socioeconômi-
cas da época.
Em 1901, foi constituída a Associação Internacional
para a Proteção Legal dos Trabalhadores, em Bruxelas.
E em maio de 1905 teve lugar a Conferência de Berna,
com a participação de quinze Estados, seguida de uma
conferência diplomática, em setembro de 1906, com a
presença de diversas nações, as quais resultaram em duas
convenções: uma sobre a proteção dos trabalhadores nas
atividades em contato com fósforo branco, e a segunda
sobre a proibição do trabalho noturno das mulheres.
Dando um breve salto na história, chegamos ao
período entre as duas grandes guerras mundiais, cha-
mado por Hobsbawn de a “Era das Catástrofes” (2005,
p. 15), período esse que projetou consideráveis reflexos
sobre o Direito Internacional do Trabalho.
Durante a primeira guerra, deflagrada em 1914,
houve a queda do império czarista e o triunfo da revo-
lução soviética, o que proporcionou, pela primeira vez,
a instauração de um regime nacional dirigido, ao menos
teoricamente, pela classe trabalhadora.
Do ponto de vista jurídico, uma das principais con-
sequências geradas com o término da primeira guerra
1
O Tratado de Versalhes foi sancionado no Brasil pelo Decreto n. 3.975,
de 11 de novembro de 1919 (DOU, 12-11-1919), e ratificado em 10 de
dezembro de 1919, ocorrendo o seu depósito da ratificação brasileira em
Paris, a 10 de janeiro de 1920, promulgado pelo Decreto n. 13.990, de 12
de janeiro de 1920.
37
foi a assinatura do Tratado de Versalhes1, que se tornou
uma das primeiras e mais importantes fontes do Direi-
to Internacional do Trabalho, representando uma etapa
importante para o início de uma institucionalização do
sistema internacional de proteção aos trabalhadores.
Esse tratado de paz, assim como o seu protoco-
lo anexo, foi assinado aos 28 de junho de 1919, tendo
como celebrantes os Estados Unidos da América, o
Império Britânico, França, Itália e Japão, como “potên-
cias principais aliadas”, secundados pela Bélgica, Bolí-
via, Brasil, China, Cuba, Equador, Grécia, Guatemala,
Haiti, Hedjaz, Honduras, Libéria, Nicarágua, Panamá,
Peru, Bolívia, Portugal, Romênia, Estado Servo-Croa-
ta-Sloveno, Sião, Tchecoslováquia e Uruguai enquan-
to “potências associadas”, e a Alemanha. (CASELLA,
SILVA, ACCIOLY, 2010, p. 107).
O Tratado de Versalhes fixou diversos princípios
trabalhistas, os quais foram sendo positivados pelos pa-
íses industrializados ou em processo de industrialização,
tratando de temas tais como: duração diária e semanal
do trabalho; repousos do trabalhador; isonomia salarial;
proteção especial ao menor e à mulher; direito de asso-
ciação; e tantos outros direitos responsáveis por formar
o arcabouço do Direito Internacional do Trabalho tal
qual o conhecemos hoje.
Outra relevante consequência da Primeira Guerra
foi a criação da Liga das Nações, como parte do acordo
de paz. Como analisa Ridruejo (2006, p. 683), a Liga
38
das Nações, baseada na filosofia política da manutenção
da paz por meio da trilogia arbitragem-segurança-de-
sarmamento, foi um grande fracasso no cumprimento
dos seus objetivos.
Não se instaurou a obrigação completa de solucio-
nar jurisdicionalmente as controvérsias, nem se proibiu
totalmente o recurso à guerra, pois não havia mecanis-
mos de controle eficientes para tanto. No campo do
desarmamento, os resultados obtidos foram minima-
mente significativos.
Lamentavelmente, a proposta de uma sociedade
de nações logo veio a falir no seu maior propósito: al-
cançar a paz mundial. Como afirma Hobsbawn (1995,
p. 42), o acordo de Versalhes não podia ser a base de
uma paz estável, estando condenado, desde o início,
e, portanto, outra guerra era praticamente certa. E, de
fato, pouco tempo depois, a ascensão do nazifascismo
culminou no início de uma Segunda Guerra mundial,
em 1939.
Ambos os fatos históricos são importantes para o
Direito Internacional do Trabalho, pois tanto a Confe-
rência das Nações, como a assinatura do Tratado de Ver-
salhes, semearam o terreno para o surgimento daquele
que seria o mais importante organismo internacional na
seara do trabalho, a Organização Internacional do Tra-
balho (OIT), responsável pelo aperfeiçoamento e pela
criação dos instrumentos disciplinadores das relações
de trabalho em todo o mundo.
39
Nesse diapasão, Lloyd George, da Inglaterra, pro-
pôs a criação de uma comissão destinada ao estudo
preliminar da regulamentação internacional do traba-
lho, sugestão aprovada na Conferência de Paz, quando
se determinou que o escopo principal dessa comissão
seria sugerir uma forma de organização internacional
permanente, a qual pudesse estabelecer-se a fim de fa-
cilitar a diversos países uma ação conjunta em assuntos
relativos a condições de trabalho, bem como de reco-
mendar os passos necessários para a criação de uma or-
ganização conexa à Sociedade das Nações.
Samuel Gompers, dirigente máximo da Federação
Americana do Trabalho, foi eleito o presidente dessa co-
missão, resultando aprovada a proposta de criação de um
organismo permanente especial, vinculado à Sociedade
das Nações, o qual viria a ser mundialmente conhecido
com “Organização Internacional do Trabalho (OIT)”.
No próprio Pacto da Sociedade das Nações, no seu
art. 23, se estatuía que os seus membros se esforçaríam
para assegurar condições de trabalho equitativas e huma-
nitárias para o homem, a mulher e a criança, em seus
próprios territórios e nos países a que se estendessem
suas relações de comércio e indústria, e, com tal objetivo,
estabeleceriam e manteriam as organizações necessárias.
40
1.2.2 INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS
Com a criação da OIT, inicia-se um processo de
positivação e universalização dos direitos dos trabalha-
dores, sendo que os seus principais instrumentos inter-
nacionais foram: a “Carta do Atlântico”, a “Declaração
da Filadélfia”, a “Declaração Universal dos Direitos do
Homem”, e o “Pacto Internacional de Direitos Econô-
micos, Políticos e Sociais”.
É interessante notar que todos esses documen-
tos internacionais, firmados após a Segunda Guerra
mundial, estão imbuídos do espírito do célebre discur-
so proferido em 1941, pelo ex-presidente dos Esta-
dos Unidos, Franklin Roosevelt. A sua principal ideia
destacava a importância de uma segurança social que
permitisse ao trabalhador viver isento de medo em re-
lação às forças econômicas que lhe eram infinitamente
superiores.
Em agosto desse mesmo ano, Winston Churchill
e Franklin Roosevelt firmaram a Carta do Atlântico. A
principal proposta da Carta era lograr, no campo da eco-
nomia, uma estreita colaboração entre todas as nações,
com o fim de conseguir uma melhoria generalizada nas
normas de trabalho, bem como uma prosperidade eco-
nômica e segurança social. A esse documento aderiram
os países da América, em março de 1945, mediante uma
resolução adotada na Conferência de Chapultepec, no
México (SÜSSEKIND et al, 2003, v.2, p. 1502).
41
No ano de 1944, a OIT convocou a sua 26ª Sessão
da Conferência que teve lugar na Filadélfia. O objetivo
dessa reunião era rever os princípios cardeais que de-
veriam nortear sua ação pós-guerra, aprovando-se uma
“Declaração referente aos fins e objetivos da OIT”,
mais conhecida como “Declaração da Filadélfia”.
Essa nova Declaração, grosso modo, repetia e amplia-
va alguns dos principais preceitos do Tratado de Versa-
lhes, consubstanciando alguns outros. Consagrava ain-
da que “todos os seres humanos, sem distinção de raça,
crença ou sexo, têm direito a procurar seu bem-estar
material e seu desenvolvimento espiritual em condições
de liberdade, de segurança econômica e em igualdade
de oportunidades”.
A Declaração da Filadélfia se estrutura em cinco
capítulos. No primeiro capítulo busca-se reafirmar os
princípios fundamentais sobre os quais se assenta a
OIT, ressaltando-se que o trabalho não é uma merca-
doria. Nesse capítulo ainda se ressalta a importância da
liberdade de expressão e de associação para o alcance
do progresso; alerta-se para o fato de que a pobreza,
em qualquer lugar do mundo, constitui um perigo para
a prosperidade da humanidade.
Invoca-se uma luta contra a necessidade, a qual
deve empreender-se com incessante energia dentro de
cada nação, por meio da atuação do Estado, mediante
um esforço internacional contínuo e coordenado, no
qual os representantes dos trabalhadores e dos empre-
42
gadores, colaborando em pé de igualdade com os re-
presentantes dos governos, participem em discussões
livres e em decisões de caráter democrático, a fim de
promover o bem-estar comum. Afinal, o fim precípuo
de todo o Estado deve ser a realização do bem comum,
como assinala Azambuja (2001, p. 123).
Para Acquaviva (2000, p. 98), o fim do Estado no
plano jurídico, é construir o Estado de justiça, e no
plano social atender às necessidades assistenciais, pre-
videnciárias e educacionaiss da coletividade. No entan-
to, há uma finalidade que lhe é permanente e que bem
resume todas as demais: a busca do bem comum. Nesse
sentido, o Estado seria o meio para o homem alcan-
çar os seus interesses e se desenvolver. Para tanto, ele
nunca deve ficar acima dos valores da pessoa humana,
incluindo-se aqui os direitos sociais dos trabalhadores,
que devem ser sempre preservados, caso contrário, se
corre o risco de ferir-se a liberdade e a iniciativa indivi-
duais, caindo-se em um totalitarismo.
No segundo capítulo, se afirma que a experiência
demonstrou plenamente o acerto da declaração contida
na Constituição da OIT, a qual ressalta que a paz per-
manente só pode ser baseada na justiça social, enume-
rando regras pertinentes a esse desiderato.
No terceiro capítulo, se reconhece a solene obri-
gação da OIT de fomentar, em todas as ações do mun-
do, a execução de programas destinados a promover o
bem-estar da humanidade, e no capítulo quarto, pro-
43
clama-se uma completa e ampla utilização dos recursos
produtivos do mundo, necessária ao cumprimento dos
objetivos enumerados na Declaração.
Esse objetivo pode ser assegurado mediante uma
ação eficaz no plano internacional e nacional, compre-
endendo medidas tendentes a aumentar a produção e
o consumo; evitar flutuações econômicas graves; reali-
zar o progresso econômico e social das regiões menos
desenvolvidas; garantir maior estabilidade dos preços
mundiais de matérias e produtos primários; e fomen-
tar um comércio internacional de alto e constante vo-
lume, motivo que, como assinala Süssekind (2003, v.2,
p. 1503), realçam a integral colaboração da OIT com
todos os organismos internacionais aos quais pode ser
confiada parte da responsabilidade nesta grande tarefa,
assim como na melhoria da saúde, da educação e do
bem-estar de todos os povos.
O quinto e último capítulo afirma que os princípios
enunciados na Declaração são plenamente aplicáveis a
todos os povos, mas que as modalidades de sua aplicação
devem levar em conta o grau de desenvolvimento social
e econômico de cada Estado, primando-se por uma apli-
cação progressiva aos povos que ainda são dependentes,
assim como aos que já alcançaram a sua independência.
O instrumento internacional mais significativo da
história do desenvolvimento do Direito Internacional
do Trabalho é, sem dúvida, a Declaração Universal dos
Direitos do Homem, adotada e proclamada pela Reso-
44
lução 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Uni-
das, aos 10 de dezembro de 1948.
O seu texto retoma várias das disposições consa-
gradoras da filosofia social que havia sido proclamada na
Declaração de Filadélfia, passando a ser acolhido como
inspiração e orientação do processo de desenvolvimento
humano e social de toda a comunidade internacional.
Como analisa Bobbio (1992, p. 26), a Declaração
Universal dos Direitos do Homem representou a mani-
festação da única prova através da qual um sistema de
valores pode ser considerado humanamente fundado e,
portanto, reconhecido. Essa prova é o consenso geral
acerca de sua validade; o consensus omnium gentium que
faz-nos crer na universalidade desses valores.
Nesse mesmo sentido, Trindade (1991, p. 1), afir-
ma que a Declaração Universal dos Direitos do Homem
constituiu um ímpeto decisivo no processo de generali-
zação da proteção dos direitos humanos testemunhado,
permanecendo atualmente como fonte de inspiração e
ponto de irradiação e convergência dos instrumentos
de direitos humanos em âmbito global e regional.
Com a Declaração de 1948 tem início uma fase
na qual a afirmação dos direitos é, ao mesmo tempo,
universal e positiva. É universal no sentido de que os
destinatários dos princípios nela convertidos não são
mais apenas os cidadãos deste ou daquele Estado, mas
todos os homens; e positiva no sentido de que põe em
movimento um processo em cujo final os direitos do
45
homem deverão ser não mais apenas proclamados ou
apenas idealmente reconhecidos, mas efetivamente pro-
tegidos, até mesmo contra o próprio Estado que os te-
nha violado (BOBBIO, 1992, p. 30).
Como bem resume Trindade (1999, p. 26), a De-
claração Universal contribuiu decisivamente para a in-
cidência da dimensão dos direitos humanos tanto no
direito internacional, como no interno, havendo uma
abstração da compartimentalização tradicional entre os
ordenamentos jurídicos internacionais e internos, o que
promoveu uma constante interação em benefício de to-
dos os seres humanos, por força das disposições dos
tratados de direitos humanos.
Após dezoito anos da Declaração Universal, em
19 de dezembro de 1966, a Assembleia Geral da ONU
aprovou o “Pacto Internacional dos Direitos Econômi-
cos, Sociais e Culturais”, que regulamentou os direitos
sociais-trabalhistas constantes da Declaração de 1948.2
46
os benefícios que devem ser conferidos ao trabalhador,
como força produtiva, sem comprometimento do seu
nível econômico.
O Direito Internacional do Trabalho, como todo
ramo do Direito, nasce com o objetivo de estabelecer o
que, por justiça, corresponde a cada um. Como afirma
Martins Filho (2009, p. 4), justamente por decorrer di-
retamente do esforço humano, ao trabalho deve corres-
ponder a primazia entre os fatores da produção.
O Direito Internacional do Trabalho, em termos
científicos, é um dos mais importantes segmentos do
Direito Internacional Público, e não do Direito do Tra-
balho propriamente, o que, vale frisar, não o afasta dos
preceitos básicos deste ramo jurídico, pelo contrário, os
incorpora, para melhor compreensão das regras inter-
nacionais que regem o trabalho, principalmente as ema-
nadas pela OIT.
Süssekind (2000, 17) explica que a expressão “Direi-
to Internacional do Trabalho” é empregada para identifi-
car o capítulo do Direito internacional Público que trata
da proteção do trabalhador, seja como parte de um con-
trato de trabalho, seja como ser humano, com a finalida-
de de: universalizar os princípios de justiça social, unifor-
mizando as correspondentes normais jurídicas quando
possível; estudar as questões conexas, das quais depende
a consecução desses ideais; incrementar a cooperação
internacional, visando à melhoria das condições de vida
do trabalhador e à harmonia entre o desenvolvimento
técnico-econômico e o progresso social.
47
Quando de seus primórdios, o objetivo do Direito
Internacional do Trabalho, como ressalta Delgado (2009,
p. 78), não era apenas servir ao sistema econômico de-
flagrado com a Revolução Industrial, mas fixar controles
para esse sistema, conferindo-lhe certa medida de civili-
dade, buscando, inclusive, eliminar as formas mais per-
versas de utilização da força de trabalho pela economia.
No que diz respeito ao seu objeto, não difere do
próprio objeto do Direito do Trabalho: oferecer a maior
proteção possível ao trabalhador. Em verdade, o Direi-
to Internacional do Trabalho foi instituído como uma
tentativa de universalização das principais normas traba-
lhistas existentes, fundamentando-se, basicamente, em
postulados econômicos, sociais e técnicos, como analisa
Martins Filho (2009, p. 478-479).
O Direito Internacional do Trabalho, como bem re-
sume Süssekind (2003, p. 1499), tem por fim, por meio
de convenções internacionais: a) universalizar as normas
de proteção ao trabalho, esteadas nos princípios da justi-
ça social e da dignificação do trabalho humano; b) esta-
belecer o bem-estar social geral como condição precípua
à felicidade humana e à paz mundial; c) evitar que razões
de natureza econômica, decorrentes do ônus da prote-
ção ao trabalho, impeçam que todas as nações adotem e
apliquem as normas tutelares consubstanciadas nos di-
plomas internacionais.
48
1.2.4 PRINCÍPIOS UNIVERSAIS
O Direito Internacional do Trabalho se funda-
menta em alguns princípios de alcance universal que
estão expressos na Declaração Universal dos Direitos
do Homem (1948), cuja finalidade, como analisamos,
é servir de base para a elaboração e interpretação uni-
versal das leis trabalhistas de todos os ordenamentos
jurídicos existentes.
O primeiro desses princípios é o da liberdade de
trabalho, segundo o qual o trabalho deve ser prestado
por deliberação do trabalhador, proibindo-se, juridica-
mente, qualquer forma coativa destinada a provocar o
seu constrangimento. O trabalho forçado e o trabalho
escravo devem ser mundialmente repudiados, pois aten-
tam contra a própria dignidade do ser humano.
O segundo princípio é o da organização sindical,
previsto no artigo XXIII, inciso IV. A organização sin-
dical deve ser admitida, independentemente do regime
político ou econômico vigorante no país. Afinal, o sin-
dicalismo é parte da história de formação e consolida-
ção do próprio Direito do Trabalho, e seu objetivo pri-
mordial deve ser sempre a melhoria das condições de
vida da classe operária.
O terceiro princípio é o das garantias mínimas do
trabalhador, respeitado universalmente, uma vez que em
todos os países existem direitos trabalhistas mínimos
que são impostos de modo heterônomo e que são im-
49
postergáveis como vantagens fundamentais, tornando-
-se preceitos de ordem pública ou de caráter imperativo.
O quarto princípio é o da multinormatividade do
direito do trabalho, segundo o qual os centros de po-
sitivação das normas protetivas do trabalhador não se
reduzem a uma unidade, haja vista que a norma jurídica
trabalhista não emana apenas do Estado, mas também
de outras fontes, dentre as quais podemos citar os sin-
dicatos em sua atividade negocial.
O quinto princípio é o da norma mais favorável ao
trabalhador. Esse princípio é norteador da própria ela-
boração da norma trabalhista, dedicando-se a resolver
eventuais conflitos de hierarquia, bem como servindo
de critério de interpretação em caso de dúvidas sobre o
sentido na norma jurídica que venha a ser mais benéfico
ao trabalhador.
De forma simplificada, em um caso concreto, ha-
vendo mais de uma norma regulando a mesma matéria,
deve prevalecer aquela que for mais favorável ao tra-
balhador, independentemente de suas posições dentro
da estrutura hierárquica tradicional. Assim, se uma con-
venção coletiva prevê horas-extras com acréscimo de
65%, mas o regulamento da empresa prevê 75%, preva-
lece este, porque é o mais benéfico ao trabalhador.
O sexto princípio é o da igualdade salarial, também
previsto no artigo XXIII da Declaração Universal, inci-
so II: “Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito
a igual remuneração por igual trabalho”.
50
Correlacionado ao princípio anterior, o sétimo
princípio é o da justa remuneração, visando à adequa-
ção entre o serviço prestado e a sua remuneração. Este
princípio também foi proclamado pela Declaração
Universal no já citado artigo XXIII, no seu inciso III:
“Toda pessoa que trabalha tem direito a uma remunera-
ção justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como a
sua família, uma existência compatível com a dignidade
humana (...)”.
O oitavo princípio é o do direito ao descanso, que
fundamenta a obrigatoriedade de descansos diários, se-
manais e anuais aos trabalhadores no exercício de suas
atividades profissionais. Consoante o artigo 24: “Toda
a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especial-
mente, a uma limitação razoável da duração do trabalho
e às férias periódicas pagas”.
O nono princípio trata do direito ao emprego, tam-
bém enunciado como direito ao trabalho, em razão do
qual o Estado tem o dever de promover medidas eco-
nômicas destinadas à abertura de frentes de trabalho em
dimensão suficiente para absorver a mão de obra que
ingresse na ordem trabalhista e impedir o desemprego.
O décimo princípio é o da previdência social. O
Estado tem o dever de assegurar ao trabalhador, me-
diante contribuições previdenciárias, a sua subsistência,
em caso de perda de sua capacidade laborativa.
Por fim, o décimo-primeiro princípio universal é o
da condição mais benéfica ao trabalhador, que assegu-
51
ra ao empregado a manutenção, durante o contrato de
trabalho, de direitos mais vantajosos. Assim, as vanta-
gens adquiridas não podem ser suprimidas e, portanto,
a condição mais vantajosa estipulada em contrato de
trabalho ou constantes em regulamentos de empresa
deve prevalecer independentemente da edição de nor-
mas supervenientes.
1.2.5 FUNDAMENTOS
Os fundamentos do Direito internacional do Tra-
balho concernem a razões de ordem econômica, de ín-
dole social e de caráter técnico, como assinala Süssekind
(2003, v.2, p. 1498).
Os motivos de ordem econômica impuseram, de
forma inquestionável, a necessidade de ser nivelado,
tanto quanto possível, no campo internacional, o cus-
to das medidas sociais da proteção ao trabalho, a fim
de que os Estados que as tivessem adotado, através de
sistemas completos e tutelares, não sofressem, por essa
razão, no comércio mundial, a indesejável concorrên-
cia dos países que tinham obtido produção mais barata
pelo fato de não serem onerados com os encargos de
caráter social.
Do ponto de vista social, busca-se a universalização
dos princípios da justiça social e a dignificação do traba-
lhador, ressaltando-se que razões de ordem econômica
constituíam sério obstáculo à consecução desses ideais;
52
mas não exatamente esses ideais que configuram a fina-
lidade preponderante do direito uiniversal do trabalho.
Nesse sentido, tanto o Tratado de Versailles, com
o qual foi instituída a Organização Internacional do
Trabalho (OIT), quanto as Cartas do Atlântico, da Fila-
délfia, nas Nações Unidas e dos Direitos Universais do
Homem sublinham a prevalêcia dos objetivos sociais da
universalização desses princípios.
Por fim, razões de caráter técnico também funda-
mental, embora em plano secundário, o Direito Interna-
cional do Trabalho. As Convenções e Recomendações
elaboradas pelas sessões da Conferência Internacional
do Trabalho, bem como os estudos e investigações em-
preendidas pela OIT, constituem subsídios importantes
para a elaboração das normas e sistemas legislativos nos
diversos países sobre a matéria.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
1- (Cespe - Instituto Rio Branco – Diplomata - 2009) O
processo de industrialização iniciado na Grã-Bretanha,
na segunda metade do século XVIII, acelerou a substi-
tuição de antigas formas de produção pelo capitalismo,
que se consolidava como sistema econômico dominan-
te, com a atividade fabril suplantando o trabalho domés-
tico e a crescente prevalência do trabalho assalariado.
(a) Certo
(b) Errado
53
2- (Cespe - Instituto Rio Branco – Diplomata - 2009)
Entre as transformações irreversíveis mencionadas no
texto, produzidas pelo avanço da industrialização, o ce-
nário existente em fins do século XIX assinalava a proi-
bição do trabalho infantil e feminino, a regulamentação
da jornada de trabalho e o surgimento dos serviços pre-
videnciários, em meio a uma sociedade que lentamente
se urbanizava.
(a) Certo
(b) Errado
54
ao vício, incapazes de se enquadrar nos preceitos mo-
rais da classe burguesa. A vivência desses indivíduos em
uma mesma vida miserável proporciona o nascimento
de uma série de movimentos sociais, muitos dos quais
denunciam os males do capitalismo. Nessa época, um
patrão filantropo e sensível ao problema proletário toma
iniciativas que virão dar nascimento ao movimento coo-
perativista. Foi ele:
(a) Robert Owen
(b) Karl Marx
(c) Mikhail Bakunin
(d) Georges Sorel
(e) Friedrich Engels
(a) Certo
(b) Errado
55
6- (Unicamp) “De pé ficaremos todos
E com firmeza juramos
Quebrar tesouras e válvulas
E pôr fogo às fábricas daninhas”
(“Canção dos quebradores de máquinas do século
XIX”, cotada por Leo Huberman, História da riqueza
do homem, 1979).
(a) A partir do texto, caracterize o tipo de ação dos que-
bradores de máquinas.
(b) Explique os motivos desse movimento.
56
dor se torna uma mercadoria.
(c) A expressão “trabalho livre” significa separação en-
tre a força de trabalho e a propriedade dos meios de
produção.
(d) A crítica de Marx à economia política consistiu em
apontar que as relações de produção capitalista consti-
tuem relações de produção de valores de uso.
(e) Para Marx, a venda da força de trabalho constitui
uma das alternativas que o trabalhador possui para ga-
rantir, por meio do salário, sua sobrevivência.
57
in Terris (João XXIII, 1961 e 1963, respectivamente) e
Laborem Exercens (João Paulo II, 1981), por seu forte
sentido humanista e de valoração da dignidade do tra-
balho, também contribuiu para avanços no campo do
desenvolvimento social.
(e) O Manifesto Comunista (Marx, 1848), documento
máximo do socialismo, ainda que contenha conceitos
hoje superados, contribuiu para a formação do atual Di-
reito do Trabalho.
58
(MPT- Procurador do Trabalho - 2007). Comple-
te com a opção correta. A Constituição do México, de
________, tratou de regras de Direito do Trabalho no
seu artigo 123.
(a) 1915;
(b) 1917;
(c) 1919;
(d) 1921;
(e) não respondida.
59
(e) a proteção aos seres humanos que compõem os povos
apenas dos países signatários da Carta das Nações Unidas.
60
61
2
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO
TRABALHO (OIT)
63
2.1. O SURGIMENTO DA OIT COMO
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL
65
econômicas destinadas a agilizar o processo produtivo e
a facilitar a circulação de mercadorias entre as fronteiras
dos respectivos países. É o caso da União Europeia e do
Mercado Comum do Sul, o MERCOSUL.
Há organizações que não têm finalidade normativa
ou regulamentar, mas uma função do tipo arbitral ou ju-
risdicional, para conhecer e decidir conflitos que surjam
envolvendo aquelas organizações ou pessoas, físicas ou
jurídicas, que estabeleçam relações jurídicas internacionais.
É o caso do Tribunal de Justiça da Comunidade Europeia.
As instituições meramente consultivas existem
para debater as diretrizes maiores que devem ser ob-
servadas como o Foro Consultivo Econômico-Social,
previsto nos arts. 28 a 30 do Protocolo de Ouro Preto
para o MERCOSUL, que é um organismo internacio-
nal de representação dos setores econômicos e sociais,
de composição paritária, com a participação de repre-
sentações de trabalhadores e empregadores, com igual
número de integrantes de cada Estado Parte, e cuja fun-
ção, como o nome indica, é consultiva e não executi-
va ou decisória, podendo fazer recomendações para o
MERCOSUL e seus integrantes.
A mais importante das organizações que se dedi-
cam ao direito do trabalho é sem dúvida a Organização
Internacional do Trabalho (OIT). Como já pudemos
analisar historicamente, as suas raízes se encontram
no início do século XIX, quando os líderes industriais
Robert Owen e Daniel Le Grand apoiaram o desen-
66
volvimento e harmonização de legislação trabalhista e
melhorias nas relações de trabalho.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT)
foi criada na Conferência das Nações, com a assinatura
do Tratado de Versalhes, em 1919, visando à criação de
instrumentos disciplinadores das relações de trabalho
em todo o mundo. Na parte XII desse tratado está a
constituição jurídica da OIT, a qual foi complementa-
da pela Declaração de Filadélfia (1944). Observe-se que
sua constituição experimentou sucessivas reformas em
1953, 1962, 1972 e 1986.
Segundo Oliveira, com a criação da OIT, os países
signatários do Tratado de Versailles objetivavam auxi-
liar na busca da paz social, incentivar o estabelecimento
de condições humanitárias de trabalho para todos e lu-
tar pela dignidade e elevação do homem que trabalha,
“sempre com vistas a uma internacionalização das nor-
mas sociais de proteção e à adoção dessas normas pelo
governo interno dos Estados-membros”. (1994, p. 73)
Realmente, percebe-se que desde sua instituição,
a OIT vem desempenhando relevante papel na inter-
nacionalização do Direito do Trabalho, fomentando a
uniformização de preceitos trabalhistas fundamentais e
a harmonização destes preceitos com a ordem interna
dos países celebrantes de seus tratados e convenções.
No que tange a sua vinculação com a ONU, o art.
57 da Carta das Nações Unidas, adotada em 1945, es-
tatuiu que os organismos especializados estabelecidos
67
por acordos intergovernamentais que tenham amplas
atribuições internacionais definidas em seus estatutos
e relativas a matérias de caráter econômico, social, cul-
tural e educativo, sanitário e outras conexas estariam
vinculados a ela.
Na 27ª Sessão da Conferência Internacional do
Trabalho, realizada em Paris, em novembro de 1945,
foram aprovadas duas importantes resoluções visando
à realização desse objetivo: a) nomeação de uma delega-
ção especial para o exame de todas as questões relativas
à Constituição e à prática constitucional da Organiza-
ção, cujos fins já estavam delineados na Declaração de
Filadélfia; e b) confirmação do desejo da OIT de entrar
em relações com a ONU, mediante convênio a ser esti-
pulado por mútuo acordo.
O texto original de constituição da OIT, aprova-
do em 1919, sofreu uma revisão geral consubstanciada
pelo instrumento de Emenda de 1945, que entrou em
vigor a 26 de setembro de 1946. Nesse mesmo ano,
mas alguns meses antes (30 de maio) eram concluídas
as gestões visando ao acordo entre a ONU e a OIT,
que foi assinado em Nova Iorque. Consoante seu artigo
primeiro, as Nações Unidas reconhecem OIT como um
organismo especializado, competente para empreender
a ação que considere apropriada, de conformidade com
seu instrumento constitutivo básico, para o cumpri-
mento dos propósitos nele expostos.
68
2.2. FINALIDADES E FUNÇÕES
69
descontentamento causado constitui uma ameaça para
a paz e a harmonia universais.
Nesse sentido, considerando que é urgente me-
lhorar ditas condições, enumera como exemplos: diver-
sos aspectos da proteção ao trabalho; a contratação do
trabalhador; a luta contra o desemprego; a previdência
social; a posição do trabalhador estrangeiro; o princípio
da liberdade sindical; a organização do ensino técnico-
-profissional; e, abrindo larga porta ao estudo de outros
temas, refere–se a “outras medidas análogas”.
Por fim, proclama que a não adoção por qualquer na-
ção de um regime de trabalho realmente humano cria obs-
táculos aos esforços das outras nações desejosas de melho-
rar a sorte dos trabalhadores nos seus próprios territórios.
No que tange aos fins e objetivos, bem como aos
princípios os quais devem inspirar a política dos seus,
há que se destacar o texto da Declaração de Filadélfia
de 1944, que enumera variadas questões pertinentes à
dignidade da pessoa humana e à segurança socioeco-
nômica do homem que vive do trabalho. Para alcaçar
o fim proposto, reconhece em seu artigo 3º, a solene
obrigação de fomentar, entre todas as nações do mun-
do, programas que permitam alcançar:
a) o pleno emprego e a elevação do nível de vida;
b) o emprego de trabalhadores em ocupações nas
quais tenham a satisfação de aplicar toda a sua habilida-
de e os seus conhecimentos e de contribuir da melhor
forma para o bem-estar comum:
70
c) o oferecimento de garantias adequadas para todos
os interessados, de possibilidades de formação e meios
próprios para facilitar as transferências de trabalhadores, in-
cluindo as migrações de mão de obra e de colonos;
d) a possibilidade para todos de uma participação
justa nos frutos do progresso em termos de salários e
de ganhos, de duração do trabalho e outras condições
de trabalho, e um salário mínimo vital para todos os
que têm um emprego e necessitam dessa proteção;
e) o reconhecimento efetivo do direito de nego-
ciação coletiva e da cooperação entre os empregadores
e os trabalhadores para a melhoria contínua da organi-
zação e da produção, assim como da colaboração dos
trabalhadores e dos empregadores para a elaboração e
aplicação da política social e econômica;
f) a extensão das medidas de segurança social com
vista a assegurar um rendimento de base a todos os que
precisem de tal protecção, assim como uma assistência
médica completa;
g) uma proteção adequada da vida e da saúde dos
trabalhadores em todas as ocupações;
h) a proteção da infância e da maternidade;
i) um nível adequado de alimentação, de aloja-
mento e de meios recreativos e culturais;
j) a garantia de igualdade de oportunidades no do-
mínio educativo e profissional.
71
tos Fundamentais no Trabalho”, na qual os Estados-
-membros reafirmaram o compromisso de respeitar,
promover e tornar realidade, de boa-fé, o direito dos
trabalhadores e empregadores à liberdade sindical e o
reconhecimento efetivo do direito de negociação cole-
tiva, assim como a trabalharem pela eliminação de to-
das as formas de trabalho forçado ou obrigatório, pela
erradicação efetiva do trabalho infantil e pela supressão
da discriminação em matéria de emprego e ocupação.
Igualmente, a OIT reitera sua obrigação de ajudar
a seus membros, em resposta às necessidades que hajam
expressado, para alcançar esses objetivos, usando plena-
mente os seus recursos, inclusive mobilizando recursos
externos e alentando o apoio de outras organizações
internacionais com as quais a OIT estabelece relações.
2.3. COMPETÊNCIA
72
p. 1507), a incorporação da Carta da Filadélfia à Cons-
tituição resultante da revisão de 1946, ampliou a com-
petência da OIT, tornando-se explícito que as questões
sociais trabalhistas e as econômico-financeiras são in-
terdependentes, razão pela qual, para adotar soluções
referentes às primeiras, é imprescindível, muitas vezes,
estudar as segundas.
Como explica Costa (1997, p. 154), o mundo con-
temporâneo tem assistido ao resultado de um longo
processo de formação de uma civilização complexa e
diferenciada, na qual os diversos grupos procuram mo-
nopolizar seus privilégios e as possibilidades de acesso
à produção de bens e aos mecanismos de distribuição
desses bens na sociedade. Essa situação que acaba ge-
rando as diversas mazelas sociais as quais vislumbra-
mos rotineiramente em diversas partes do mundo e que
obrigam uma maior abrangência do papel da OIT, bem
como de suas recomendações e convenções.
Em uma economia mundializada, torna-se árdua a
tarefa de prever ou controlar todas as transformações
econômicas e sociais oriundas das forças do mercado
e dos atores sociais. Destarte, podemos dizer que a
OIT não tem uma competência inflexível, deixando aos
acontecimentos que se sucedem sua delimitação, am-
pliação e transformação.
Relativamente à competência ex ratione personae da
OIT, Süssekind entende que ela alcança hoje o ser hu-
mano nos seguintes aspectos: a) como trabalhador em
73
potencial; b) como homem que trabalha (qualquer que
seja a atividade ou a forma de realizá-la), ou em inati-
vidade por contingências biológicas, sociais ou econô-
micas; c) como membro da família ou dependente das
pessoas mencionadas no item anterior.
No que diz respeito à competência ratione loci da
OIT, ela é universal, com exclusão dos territórios dos
Estados que não a integram como seus membros, já
que suas convenções só podem ser ratificadas por estes,
gerando a obrigação de seu cumprimento nos seus ter-
ritórios (2003, v. 2, p. 1508).
74
A OIT constitui, portanto, uma pessoa jurídica de
direito internacional, aplicando às suas representações
os privilégios e imunidades assegurados às representa-
ções das pessoas de direito público externo, aos seus
agentes diplomáticos e a certos funcionários de suas
missões, nos termos do já referido art. 40.
Embora dotada de personalidade própria, a OIT
se vincula à ONU como organismo especializado para
emprender, no campo social, a ação que considere
apropriada em consonância com o seu instrumento
constitutivo básico. Mas, como bem observa Süssekind
(2003, p. 1509), essa vinculação à ONU não desfigura a
personalidade de pessoa jurídica de direito internacio-
nal dos organismos conhecidos com tal qualidade. A
OIT, como os demais organismos especializados vin-
culados à ONU, possui personalidade jurídica indepen-
dente, sem embargo dos compromissos e obrigações
resultantes do acordo de reconhecimento.
2.5. MEMBROS
75
novembro de 1945, assim como quaisquer outros que o
venham a ser, de acordo com os dispositivos dos pará-
grafos 3º e 4º do presente artigo”. O parágrafo 3º diz:
76
desligam da OIT podem retornar à Organização, mas
estará sujeito, conforme o caso, aos procedimentos es-
tipulados para os novos membros.
Qualquer Estado-membro da Organização Interna-
cional do Trabalho poderá dela retirar-se, desde que co-
munique com aviso prévio ao Diretor-Geral da Repartição
Internacional do Trabalho. A retirada tornar-se-á efetiva,
dois anos depois que este aviso prévio houver sido rece-
bido pelo Diretor-Geral, sob condição de que o Estado-
-membro haja, nesta data, preenchido todas as obrigações
financeiras que decorrem da qualidade de Membro.
Importante salientar que esta retirada não afeta-
rá, para o Estado-membro que houver ratificado uma
convenção, a validez das obrigações decorrentes desta,
ou a ela relativas, durante o pedido previsto pela mes-
ma convenção.
77
2.6.1 CONFERÊNCIA OU ASSEMBLEIA GERAL
A Conferência Geral dos representantes dos Es-
tados-membros é órgão deliberativo da OIT e realizará
sessões sempre que for necessário, e, pelo menos, uma
vez por ano. Será composta de quatro representantes de
cada um dos membros, dos quais dois serão Delegados
do Governo e os outros dois representarão, respectiva-
mente, os empregados e empregadores.
Os Estados-membros comprometem-se a desig-
nar os delegados e consultores técnicos não governa-
mentais de acordo com as organizações profissionais
mais representativas, tanto dos empregadores como
dos empregados, se essas organizações existirem.
Cada Delegado poderá ser acompanhado por con-
sultores técnicos, cujo número será de dois, no máximo,
para cada uma das matérias inscritas na ordem do dia
da sessão. Quando a Conferência discutir questões que
interessem particularmente às mulheres, uma ao menos
das pessoas designadas como consultores técnicos de-
verá, evidentemente, ser mulher.
Todo Estado-membro responsável pelas relações
internacionais de territórios que não sejam metropolita-
nos poderá designar, a mais, como consultores técnicos
suplementares de cada um de seus delegados: a) pessoas
por ele escolhidas como representantes do território,
em relação às matérias que entram na competência das
autoridades do mesmo território; e b) pessoas por ele
78
escolhidas como assistentes de seus delegados em re-
lação às questões de interesse dos territórios que não
governam a si mesmos. Tratando-se de um território
colocado sob a autoridade conjunta de dois ou mais
Estados-membros, poder-se-á nomear assistentes para
os delegados dos referidos Membros.
Os consultores técnicos não serão autorizados a
tomar a palavra senão por pedido feito pelo delegado a
que são adidos e com a autorização especial do Presi-
dente da Conferência. Logo, não poderão votar.
Qualquer delegado poderá, por nota escrita diri-
gida ao Presidente, designar um de seus consultores
técnicos como seu substituto, e este, nesta qualidade,
poderá tomar parte nas deliberações e votar. Os nomes
dos delegados e de seus consultores técnicos serão co-
municados à Repartição Internacional do Trabalho pelo
Governo de cada Estado-membro.
Os poderes dos delegados e de seus consultores
técnicos serão submetidos à verificação da Conferência,
que poderá, por dois terços ou mais dos votos presen-
tes, recusar-se a admitir qualquer delegado ou consultor
técnico que julgue não ter sido designado conforme os
termos deste artigo.
Cada delegado terá o direito de votar individual-
mente em todas as questões submetidas às deliberações
da Conferência. No caso em que um dos Estados-mem-
bros não haja designado um dos delegados não governa-
mentais a que tiver direito, cabe ao outro delegado não
79
governamental o direito de tomar parte nas discussões
da Conferência, mas não o de votar. Se a Conferência,
em virtude dos poderes que lhe confere o art. 3º, recu-
sar-se a admitir um dos delegados de um dos Estados-
-membros, as estipulações deste artigo serão aplicadas
como se o dito delegado não tivesse sido designado.
As sessões da Conferência realizar-se-ão no lugar
determinado pelo Conselho de Administração, respeita-
das quaisquer decisões que possa haver sido tomadas pela
Conferência no decurso de uma sessão anterior. E qual-
quer mudança da sede da Repartição Internacional do
Trabalho será decidida pela Conferência por uma maioria
de dois terços dos sufrágios dos delegados presentes.
No que concerne à sua competência, a Conferên-
cia é responsável pela regulamentação internacional do
trabalho e por todas as questões que lhe sejam conexas,
podendo adotar três tipos de instrumentos: convenção,
recomendação e resoluções.
80
28 representam os empregadores e outros 28 os em-
pregados, eleitos, respectivamente, pelos delegados dos
empregadores e dos empregados na Conferência Geral
(art. 7º).
O Conselho de Administração indicará, sempre
que julgar oportuno, quais os
Estados-membros de maior importância industrial,
e, antes de tal indicação, estabelecerá regras para garan-
tir o exame, por uma comissão imparcial, de todas as
questões relativas à referida indicação. Qualquer apelo
formulado por um Estado-membro contra a resolução
do Conselho de Administração quanto aos Membros de
maior importância industrial, será julgado pela Confe-
rência, sem, contudo, suspender os efeitos desta resolu-
ção, enquanto a Conferência não se houver pronunciado.
O Conselho será renovado de três em três anos.
Se, por qualquer motivo, as eleições para o Conselho de
Administração não se realizarem ao expirar este prazo,
será mantido o mesmo Conselho de Administração até
que se realizem tais eleições. Frise-se que o processo
para preenchimento das vagas, bem como a designação
de suplentes, e outras questões da mesma natureza, po-
derão ser resolvidas pelo Conselho de Administração,
sob ressalva da aprovação da Conferência.
O Conselho de Administração elegerá entre os
seus membros um presidente e dois vice-presidentes.
Dentre os três eleitos, um representará um Governo e
os dois outros, empregadores e empregados, respecti-
81
vamente. O Conselho de Administração estabelecerá o
seu próprio regulamento e reunir-se-á nas épocas que
determinar. Deverá realizar uma sessão especial, sem-
pre que dezesseis dos seus Membros, pelo menos, for-
mularem pedido por escrito para esse fim.
82
ordem do dia das sessões da Conferência; b) fornecerá,
na medida de seus recursos, aos Governos que o pedi-
rem, todo o auxílio adequado à elaboração de leis, con-
soante as decisões da Conferência, e, também, ao aper-
feiçoamento da prática administrativa e dos sistemas de
inspeção; c) cumprirá, de acordo com o prescrito na
presente Constituição, os deveres que lhe incumbem no
que diz respeito à fiel observância das convenções; e d)
redigirá e trará a lume, nas línguas que o Conselho de
Administração julgar conveniente, publicações de inte-
resse internacional sobre assuntos relativos à indústria
e ao trabalho.
O pessoal da Repartição Internacional do Trabalho
será escolhido pelo Diretor-Geral de acordo com as re-
gras aprovadas pelo Conselho de Administração. Essa
escolha deverá, sempre que possível, ser feita entre pes-
soas de nacionalidades diversas, visando a uma maior efi-
ciência no trabalho da Repartição. Ressalte-se que dentre
essas pessoas deverá existir certo número de mulheres.
O Diretor-Geral e o pessoal, no exercício de suas
funções, não solicitarão nem aceitarão instruções de
qualquer Governo ou autoridade estranha à Organiza-
ção. Absterse-ão de qualquer ato incompatível com sua
situação de funcionários internacionais, responsáveis
unicamente perante a Organização.
Os Estados-membros da Organização compro-
metem-se a respeitar o caráter exclusivamente interna-
cional das funções do Diretor-Geral e do pessoal e a
83
não influenciá-los quanto ao modo de exercê-las.
No que concerne às suas funções, são essencial-
mente normativas: adoção pela Conferência Geral de
convenções e recomendações na seara das relações la-
borais, estando, obviamente, submetidas aos princípios
gerais do Direito dos Tratados, no sentido de que só
haverá vinculação se o Estado-membro tiver manifesta-
do seu consentimento em obrigar-se. A Constituição da
OIT também lhe assigna funções de controle. Dessar-
te, uma organização de trabalhadores ou empregadores
pode apresentar uma reclamação pelo descumprimento
de uma convenção em vigor para um Estado.
84
Essas comissões não aprovam convenções nem
recomendações, mas resoluções, que não acarretam
quaisquer obrigações aos Estados-membros. Foram
instituídas, por exemplo, as Comissões Consultivas Re-
gionais Asiática, Africana e Interamericana. De cons-
tituição tripartida, delas fazem parte, como membros
natos, os governos, empregadores e trabalhadores dos
correspondentes continentes que integram, como titu-
lares ou adjuntos o Conselho de Administração, sendo
os demais eleitos trienalmente pelos respectivos grupos
na Conferência.
E, novembro de 1980, na sua 214ª Reunião, o Con-
selho de Administração criou a Comissão Permanente
sobre as Empresas Multinacionais, que se reunirá, pelo
menos, uma vez por ano, com encargo de “vigiar o cum-
primento da Declaração Tripartite de Princípios da OIT
sobre as Empresas Multinacionais e a Política Social, tra-
tar dos conflitos sobre a interpretação dessa Declaração e
orientar as investigações da OIT” nesse terreno.
Podemos citar ainda a Comissão Paritária Maríti-
ma, a Comissão Consultiva de Desenvolvimento Rural,
a Comissão Permanente sobre as Empresas Multinacio-
nais, as Comissões de Indústria e Análogas, a Comis-
são Consultiva de Empregados e Trabalhadores Inte-
lectuais, e a Comissão Consultiva de Desenvolvimento
Rural. Outras comissões também merecem destaque,
como a Comissão ONU-OIT de Investigação e Con-
ciliação em Matéria de Liberdade Sindical, os Comitês
85
Mistos OIT-OMS sobre Medicina do Trabalho e Saúde
dos Marítimos etc.
Vale ressalatar que essas comissões não aprovam
convenções, nem recomendações, mas, simplesmente,
resoluções destituídas de qualquer obrigação para os
Estados-membros. Entretanto, como assinala a BIT:
86
em Genebra, que exerce seu objetivo por meio de ci-
clos de estudos; o Centro de Aperfeiçoamento Profis-
sional e Técnico, em Turim. Todos eles em conjunto, e
cada um deles segundo a perspectiva e finalidade para
os quais foram criados, têm cumprido seus objetivos de
dignificar o homem e seu trabalho.
Na Repartição Internacional do Trabalho também
funcionam algumas comissões, a saber: de Peritos na
Aplicação de Convenções e Recomendações, de que
falaremos depois; de Peritos em Seguridade Social; de
Peritos em Estatística, além dos Comitês de corres-
pondência (Grupos de Consultas) sobre trabalho das
mulheres, trabalhos dos menores, cooperativas, popula-
ções indígenas e tribais, prevenção de acidentes, higie-
ne industrial e educação e recreação de trabalhadores.
Observe-se que esses órgãos são constituídos de peri-
tos e não de representantes de governos, trabalhadores
e empregadores.
Por fim, cumpre mencionar a Comissão ONU-OIT
de Investigação e Conciliação em Matéria de Liberdade
Sindical, e os Comitês Mistos OIT-OMS sobre Medicina
do Trabalho e Saúde dos Marítimos e OIT-UNESCO
para aplicação do Estatuto Mundial do Mestre.
87
2.8. CONFERÊNCIAS REGIONAIS E
CONFERÊNCIAS TÉCNICAS
Antes de tratarmos brevemente dessas Conferên-
cias, é preciso não confundi-las com as reuniões, geral-
mente anuais, da Conferência Internacional do Traba-
lho, que constitui o único órgão da OIT competente
para adotar as convenções e recomendações de que tra-
ta a Constituição da Organização.
Além de cumprir as suas missões relacionadas com
o direito internacional do trabalho e da documentação,
a OIT desenvolveu atividades concretas nos países
membros, com vistas a adaptar as convenções interna-
cionais do trabalho às condições locais e regionais de
cada país. Essa regionalização a prazo viu o estabeleci-
mento gradual de conferências regionais e de uma rede
de filiais e correspondentes nacionais.
A primeira Conferência Regional realizada pela OIT
ocorreu em 1936, de 2 a 14 de janeiro, em Santiago do
Chile, agrupando os Estados americanos membros da
Organização. Foi organizada com o objetivo de analisar
os problemas de interesse particular de uma determinada
região, resultando em 26 resoluções relativas à segurança
social e condições de trabalho nos países das Américas.
Nessa ocasião, numerosos pontos foram discuti-
dos, incluindo: os princípios fundamentais da segurança
social; laços mais estreitos entre a OIT e os países das
Américas; desemprego e imigração; direito ao trabalho
88
e condições de vida dos povos indígenas.
Essas Conferências Regionais têm organização
similar à Conferência Geral, delas participando repre-
sentantes governamentais de empregadores e de traba-
lhadores; mas apenas aprovam resoluções e moções, ca-
bendo ao Conselho de Administração, que as convoca
e aprova a respectiva ordem do dia, tomar as medidas
pertinentes e aconselháveis para dar curso às proposi-
ções adotadas.
As Conferências técnicas, por sua vez, são mais ra-
ras do que as regionais, como observa Süssekind (2003,
v.2, p.1516), tendo por objetivo reunir informações e
elaborar estudos comparativos (ex.: estatísticas) ou pre-
parar documento-padrão sobre determinado aspecto
da proteção ao trabalho (ex.: regulamento-tipo de segu-
rança industrial).
89
A atuação da OIT no Brasil vem se caracteriza-
do mais recentemente pelo apoio ao esforço nacional
de promoção do trabalho decente em áreas prioritárias,
como: combate ao trabalho forçado; trabalho infantil;
tráfico de pessoas para fins de exploração sexual e co-
mercial; promoção da igualdade de oportunidades e tra-
tamento de gênero e raça no trabalho; e promoção de
trabalho decente para os jovens, dentre outras.
Em maio de 2006, o Brasil lançou a Agenda Na-
cional de Trabalho Decente (ANTD), em atenção ao
Memorando de Entendimento, de junho de 2003, para
a promoção de uma agenda de trabalho decente no país,
assinado pelo ex-presidente da República, Luiz Inácio
Lula da Silva, e pelo Diretor-Geral da OIT, Juan Somavia.
A Agenda define três prioridades: a geração de
mais e melhores empregos, com igualdade de opor-
tunidades e de tratamento; a erradicação do trabalho
escravo e eliminação do trabalho infantil, em especial
em suas piores formas; e o fortalecimento dos atores
tripartites e do diálogo social como um instrumento de
governabilidade democrática. As organizações de em-
pregadores e de trabalhadores devem ser consultadas
permanentemente durante o processo de implementa-
ção da Agenda.
Note-se que o Brasil é pioneiro no estabelecimen-
3
OIT. Organização Internacional do Trabalho – Escritório no Brasil. OIT no
Brasil. Disponível em: <http://www.oit.org.br>. Acesso em: 15 dez. 2011.
90
to de agendas subnacionais de Trabalho Decente. O
Estado da Bahia lançou sua agenda em dezembro de
2007 e o Estado de Mato Grosso realizou, em abril de
2009, a sua Conferência Estadual pelo Trabalho Decen-
te, com o mesmo objetivo.
O caminho que levou à convocação deste pro-
cesso de consulta nacional teve seu início em junho de
2003, quando o Diretor-Geral da OIT e o Presidente
do Brasil assinaram um Memorando de Entendimento
que previa o estabelecimento de um programa especial
de cooperação técnica para a promoção de uma Agen-
da Nacional de Trabalho Decente (ANTD) no Brasil,
em consulta com as organizações de empregadores e
de trabalhadores.
Entre 2003 e 2010, diversas instâncias consultivas
e deliberativas sobre o tema foram constituídas, cons-
truindo-se consensos importantes no campo da pro-
moção do trabalho decente no país.
Em maio de 2006, a ANTD foi lançada em Brasília
pelo Ministro do Trabalho e Emprego (MTE) por oca-
sião da XVI Reunião Regional Americana da OIT, duran-
te a qual também foi lançada, pelo Diretor Geral da OIT,
a Agenda Hemisférica do Trabalho Decente (AHTD).
Com o objetivo de contribuir com a erradicação
da pobreza e com a redução das desigualdades sociais,
a ANTD se estrutura em torno a três prioridades: a) a
geração de mais e melhores empregos, com igualdade
de oportunidade e de tratamento; b) a erradicação do
91
trabalho escravo e do trabalho infantil, em especial, em
suas piores formas; e, c) o fortalecimento dos atores
tripartites e do diálogo social como instrumento de go-
vernabilidade democrática. Elaborada por um grupo de
trabalho interministerial coordenado pelo MTE, com
assistência técnica permanente da OIT, e submetida à
consulta no âmbito da Comissão Tripartite de Relações
Internacionais (CTRI), a ANTD estabelece resultados
esperados e linhas de ação para cada uma das priorida-
des definidas.
O processo de implementação da ANTD ganhou
novo impulso no final de 2007, com a constituição de
um Grupo Técnico Tripartite (GTT) de consulta e mo-
nitoramento. Também se avançou, nesse período, na
discussão sobre os indicadores para monitorar os avan-
ços nas diversas dimensões do trabalho decente e na
experiência pioneira de elaboração de agendas estaduais
(Bahia, Mato Grosso) e intermunicipais (região do ABC
Paulista) de trabalho decente.
O passo seguinte foi a elaboração do Plano Nacio-
nal de Emprego e Trabalho Decente (PNETD), a partir
de uma proposta construída por um grupo interminis-
terial mais amplo que o anterior, também coordenado
pelo MTE e com a assistência técnica da OIT. No dia
4 de junho de 2009 foi formalizado, por Decreto Pre-
sidencial, o Comitê Executivo Interministerial encarre-
gado da elaboração do PNETD, concebido como um
instrumento de implementação da ANTD.
92
Durante 2009, o PNETD foi intensamente discuti-
do por diversas áreas do Governo Federal e pelo Grupo
de Trabalho Tripartite (GTT), em um importante pro-
cesso de diálogo social. Como resultado, foi construído
um consenso tripartite em torno às prioridades e re-
sultados do PNETD, referendado por um documento
firmado por representantes de governo, empregadores
e trabalhadores durante a 98ª reunião da Conferência
Internacional do Trabalho (junho de 2009). Na ocasião,
uma Declaração Conjunta assinada pelo Presidente Lula
e pelo Diretor Geral da OIT reafirmou o compromisso
entre o Governo brasileiro e a OIT em relação ao tema.
O mesmo Decreto que criou o Comitê Intermi-
nisterial instituiu o Subcomitê da Juventude, com o ob-
jetivo de elaborar uma Agenda Nacional de Trabalho
Decente para a Juventude (ANTDJ). Esse objetivo foi
cumprido durante o ano de 2010, através de um amplo
e produtivo processo de diálogo tripartite. A ANTDJ
se organiza em torno a quatro prioridades: a) mais e
melhor educação; b) conciliação entre estudos, trabalho
e vida familiar; c) inserção digna e ativa no mundo do
trabalho; d) diálogo social.
93
2.10. OS PROJETOS DA OIT NO BRASIL
De acordo com a pagina da OIT Brasil (http://
www.ilo.org/brasilia), a entidade desenvolve uma serie
de projetos no Brasil.
Assim, passa-se a falar de cada uma destas iniciativas.
1- Projeto de estruturação da Agenda Regional de Tra-
balho Decente em Carajás
Conforme dizeres da pagina (http://www.ilo.org/
brasilia/programas-projetos/WCMS_543719/lang--
pt/index.htm) visa à contribuição para a promoção do
trabalho decente, através do desenvolvimento de uma
Agenda Regional de Trabalho Decente na região de Ca-
rajás, que engloba 39 municípios do sul e sudeste do
Pará.
O objetivo central é a promoção integrada do de-
senvolvimento sustentável e da dignidade no trabalho.
O projeto prevê os seguintes princípios:
Foco no direitos humanos e trabalhistas;
Eliminação de todas as formas inaceitáveis de tra-
balho;
Promoção da igualdade de gênero, geração, raça e
etnia;
Integração de ações sinérgicas e complementares
A proposta tem como publico alvo instituições go-
vernamentais, organizações de trabalhadores e empre-
gadores, instituições da Região de Carajás envolvidas
em temas relacionados ao mundo do trabalho e ao de-
94
senvolvimento sustentável; organizações da sociedade
civil e do setor privado da região.
O prazo de duração da iniciativa é de janeiro de
2017 a março de 2018.
95
elaboração de políticas e ações de proteção aos traba-
lhadores/as migrantes na região, para que sejam incre-
mentadas legislações a respeito de migração laboral.
Lamenta-se o fato do projeto já haver terminado,
porquanto as recentes migrações da Venezuela para Ro-
raima inspiram premente necessidade de ações de inclu-
são no mercado de trabalho que contemplem o susten-
to econômico dos migrantes venezuelanos.
FONTE: http://www.ilo.org/global/topics/labour-migra-
tion/projects/WCMS_365740/lang--pt/index.htm
96
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
1- (AOCP - TRT - 9ª REGIÃO (PR) - Juiz – 2004)
Considere as assertivas a seguir sobre a Organização In-
ternacional do Trabalho (OIT):
I. Foi criada pelo Tratado de Paz, em 1919, como
parte da Sociedade das Nações.
II. A estrutura básica compreende três órgãos: Con-
ferência Internacional do Trabalho, Conselho de Ad-
ministração e Repartição Internacional do Trabalho.
III. Incumbe à Conferência Internacional do Traba-
lho elaborar e aprovar as normas que constituem a re-
gulamentação internacional do trabalho e das questões
que lhe são conexas, dentre outras atribuições.
IV. Possui personalidade jurídica própria, sendo vin-
culada à Organização das Nações Unidas.
V. A organização em questão possui personalidade
jurídica para contratar, comparecer em juízo, mas não
possui personalidade para adquirir bens imóveis e deles
dispor.
97
2- (TRT 21R (RN) - 21ª Região (RN) - Juiz – 2010)
Sobre a Organização Internacional do Trabalho, é
correto afirmar:
98
tal, um representante dos trabalhadores e um represen-
tante dos empregadores.
II. A Conferência Internacional do Trabalho é
o órgão deliberativo da Organização Internacio-
nal do Trabalho e corresponde à sessão plenária
de seus Estados-membros presentes por intermé-
dio de suas respectivas delegações compostas de
técnicos indicados pelos respectivos governos con-
forme os pontos que então estejam na sua ordem
do dia.
III. Além da função normativa de elaboração de
Convenções, Recomendações ou Resoluções, a Con-
ferência Internacional do Trabalho também possui a
atribuição de definir a execução das políticas e pro-
gramas da Organização Internacional do Trabalho,
sendo responsável pela eleição do Diretor-Geral e
pela elaboração de uma proposta de programa e or-
çamento bienal.
IV. Na Conferência Internacional do Trabalho, cada
delegado poderá contar com a assistência de consul-
tores técnicos e possui direito a um voto individual e
independente dos demais componentes de sua delega-
ção.
(a) As assertivas I e IV estão corretas.
(b) As assertivas I e III estão corretas.
(c) Apenas a assertiva II está errada.
(d) Apenas a assertiva IV está correta.
99
(e) Todas as assertivas estão erradas.
100
Marque a alternativa correta:
(a) todas as proposições estão corretas
(b) todas as proposições estão incorretas
(c) somente as proposições II, III e IV são as corretas
(d) a proposição I é a única incorreta
(e) a proposição V é a única incorreta
5- (Instituto Cidades - TRT - 1ª REGIÃO (RJ) - Juiz –
2008) Sobre a Organização Internacional do Trabalho,
analise as proposições abaixo e depois assinale a respos-
ta correta:
101
V. É vinculada à ONU como organismo especiali-
zado, sendo sua personalidade jurídica daquela depen-
dente.
102