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MINISTRA NANCY ANDRIGHI

1.- Um ícone da Magistratura atual, a Ministra Nancy Andrighi.


Atualmente a presença feminina há mais tempo no cargo nos Tribunais
Superiores.
Nasceu para a Magistratura. Sensível, vive e sente cada decisão
como se de seus efeitos destinatária. Culta, atualiza-se na literatura, artes e
ciências, especialmente humanas, presentes nos julgados, palestras e escritos.
Incansável, exaure bibliografia e jurisprudência e conhece os autos como
ninguém – próprios e alheios, os quais analisa antes, lendo os processos
eletrônicos, com argúcia de ir às entrelinhas. Vai do todo aos mínimos
detalhes e deles retorna ao todo, sem nunca se perder.
Desbrava temas novos, sintonizada com o social e o humano, vistos
com afeto e caridade. Responsável, não deserta das bases jurídicas assentes,
evoluindo-as. Sempre paladina de alguma causa, sustenta opinião firme.
Combativa, é arrasadora adversária nos debates, mas, sempre Magistrada,
passada a refrega, compreende, esquece e submete-se ao julgado contrário,
respeitando jurisprudência.
Admira e reverencia a independência jurisdicional própria e alheia –
em que jamais se intromete. Separa bem a amizade, sentimento pessoal, da
jurisdição, direito alheio.
Enorme capacidade de trabalho, inacreditável quantidade de votos e
decisões de diferenciada qualidade, na fúria vulcânica de findar processos.
Fanático rigor pela celeridade. A influência na jurisprudência é imensa. Faça-
se o teste simples. Retirem-se as páginas de seus julgados dos repertórios de
jurisprudência e como se verão eles emagrecidos...
Inextinguível receptividade para o futuro dos meios judiciários.
Sempre a primeira na aceitação da modernidade tecnológica ou instrumental
inovadora, como, em apenas dois exemplos, o fez, ainda no Tribunal de
Justiça do Distrito Federal e Territórios, ao inaugurar a assinatura e imediata
liberação do Acórdão e, ultimamente, com fragoroso sucesso, ao instalar a
audiência virtual a Advogados para explicação de Memoriais sem terem de
vir a Brasília.
Grande processualista e experiente professora de Direito Processual
Civil – Mestre em Direito das Relações Internacionais e Mediação, pela
Universidade de Kurt Bösh, Suíça, Campus de Buenos Aires, e Doutoranda
em Direito Civil, pela Universidade de Buenos Aires - UBA, em fase de
elaboração de tese. Integrante de várias Comissões de Gestão Judiciária,
Reforma do Processo, da Organização Judiciária e do próprio Poder
Judiciário. Trabalha fácil na criação e implantação prática de vertentes
jurídicas nacionais, inclusive com incansável colaboração na alteração
legislativa. Integrante, desde a instalação, do Júri do “Prêmio Innovare”.
Expositora admirável, no âmbito nacional e internacional, arrebata
o fôlego do auditório mais predisposto à sonolência, da primeira à última
palavra, até a sempre certa explosão do grande aplauso final!

2.- Iniciou na Magistratura em 1976, na terra natal do Rio Grande


do Sul, vencendo, recém-formada, o duro embate do concurso de ingresso.
Permaneceu até 1980, residindo no interior, em respeito ao mandamento
institucional que honra a Magistratura de carreira. Já Juíza gaúcha
experiente, aprovada em novo concurso, foi nomeada em 1980 Juíza do
Distrito Federal e Territórios, cuja carreira trilhou passo a passo até se tornar
destacada Desembargadora, em 14.2.1992, e Diretora da Escola Superior da
Magistratura, em 1995.
Empossada no Superior Tribunal de Justiça em 27.10.1999, em
vaga destinada a Desembargadores de Tribunais de Justiça, trouxe aquele
“saber de experiência feito” e a “mão de ferro em luvas de veludo”, que a
caracterizam.
Empossada no Tribunal Superior Eleitoral, na vaga de Ministro do
Superior Tribunal de Justiça, em de 6/5/2010, permaneceu até 26/4/2013.
Exerceu o Cargo de Corregedora-Geral do TSE – instalando, inclusive, a
Galeria de Ministros Corregedores Eleitorais. Ministra do Tribunal Regional
Eleitoral, julgou 4.435 processos e proferiu 14.716 Decisões, sendo 1.209
Acórdãos, 108 Decisões Liminares e 13.391 Decisões Monocráticas.
Proferiu votos e decisões primorosos, decisivos na garantia de correta
aferição da vontade do povo brasileiro na eleição de seus dirigentes. Como
Corregedora-Geral Eleitoral, destaquem-se, pela complexidade, exigência
de cálculos e efeito nacional, os casos relativos à divisão proporcional das
cadeiras legislativas estaduais e distritais (Petição nº 95457/Manaus-AM)
e de registro do PSD – Partido Social Democrático (Registro de Partido
Político nº 141796/ Brasília-DF).
Serviu no Tribunal Superior Eleitoral cumulativamente, com a
imensa carga de serviço do Superior Tribunal de Justiça, com Sessões do TSE
a arrastar-se noite a dentro, cumprindo a sina dos Ministros do STF e STJ
integrantes do TSE, de começar nova jornada exaustiva quando os demais
integrantes de suas Cortes voltam para casa exaustos e não já encontram
forças nem mesmo para assistir aos julgamentos do TSE pela TV-Justiça!

3.- A Ministra Nancy Andrighi e eu somos amigos há várias décadas


irmanados. Lembro-me bem de quando a conheci, Juíza do Tribunal de
Justiça do Distrito Federal e Territórios, secretariando, nos tempos dos
manuscritos, com letra miúda e infindáveis folhas de papéis, em imagem
suave de elegante Juíza jovem entre juristas provectos, a primeira Comissão
de Reforma do Código de Processo Civil, sob a presidência do Ministro
Sálvio de Figueiredo Teixeira – então Diretor-Presidente da Escola Nacional
da Magistratura – ENM/AMB, com a já decisiva presença do Ministro Athos
Gusmão Carneiro. Que honra tive ao integrar aquela Comissão, depositária
das esperanças do meio jurídico-judiciário e do próprio povo usuário da
Justiça! Doze projetos elaborados, onze transformados em lei.
Os trabalhos não se teriam concluído não fossem a competência e
a dedicação da Secretária-Geral Nancy Andrighi. Que trabalho! Debates
acirrados em numerosas sessões, abertas a todos quantos integrantes ou não
integrantes da Comissão que aparecessem para colaborar. Professores de
Direito, Juízes, Advogados, Promotores, Defensores, Servidores. Grandes
nomes notórios e respeitados trabalhadores anônimos do dia a dia do Direito.
Discutia-se interminavelmente, consensuava-se ou votava-se. E lá ia ela
anotando tudo, com letra miúda, fechando os textos, passando a limpo para
a sessão seguinte, em que tudo recomeçava. Produziram-se doze projetos,
que se tornaram leis, as leis de modernização e aceleração processual, sem as
quais impensável a instrumentalidade do moderno processo civil brasileiro.
Integramos, depois, a Diretoria da ENM/AMB, ainda, por oito anos,
sob a presidência do Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira! Ela, Secretária-
Geral, eu, Diretor Adjunto de Assuntos Internacionais – desde aquela
Diretoria inicial, integrada também pelos Desembargadores Eládio Lecey
e Nildo Nery dos Santos e pelo Professor Ricardo Arnaldo Malheiros Fiuza
– vindo, após, a integrarem-se tantos outros grandes nomes da Magistratura
– ajuntando-se José Renato Nalini, Eliana Calmon Alves, Ellen Gracie
Northfleet, e somando-se, às atividades, o ainda Advogado, hoje Ministro,
João Otávio de Noronha.
Visitamos praticamente todas as Escolas da Magistratura do Brasil,
inaugurando as Reuniões Semestrais de Diretores de Escolas da Magistratura
– estaduais, trabalhistas e federais – e fomos ver “in loco” como funcionavam
as mais importantes Escolas estrangeiras. Realizaram-se seminários que
marcaram época. Tudo levado à transparência nos numerosos volumes de
livros e escritos que se encontram nas bibliotecas jurídicas, inclusive do
exterior.
Publicamos três livros: Juizados Especiais Cíveis e Criminais, Ed.
Del Rey, 1996; O Juiz na Audiência, Ed. Rev. dos Tribunais, 1997; e
Comentários ao Código Civil, (em col. c/ Vera Andrighi), Vol. IX, Coleção
Forense, 2007.
No Superior Tribunal de Justiça, em que ingressei há mais de
seis anos, o protocolo da Corte, na 3ª Turma e na 2ª Seção, situou-me
exatamente ao lado da Ministra Nancy Andrighi – no assento derradeiro, de
que, ao mandamento constitucional, direi adeus à vida na Magistratura.

4.- O presente livro pereniza o trabalho da Ministra Nancy Andrighi


no Tribunal Superior Eleitoral e na Corregedoria Nacional Eleitoral.
Um volume considerável, conquanto contendo pequeno e sumário
extrato seletivo de seus julgados no Tribunal Superior Eleitoral. Atente-se
bem, contudo, a que todo esse muito trabalho não é nada no conjunto da
grande obra benfazeja já realizada; e, ainda, atente-se, novamente, a que
todo o conjunto um dia será apenas uma parte do que futuramente ainda
produzirá a Ministra Nancy Andrighi, que ainda jovem alcança agora os
mais elevados cargos na direção do Poder Judiciário, passando a cumprir sua
missão de Estadista da Justiça.
Como dito ao início, um ícone da Magistratura, a Ministra Nancy
Andrighi. Um referencial perene. Na história do Poder Judiciário Nacional,
uma “Grande Dama da Justiça”.

Ministro Sidnei Beneti


Brasília, 25.5.2014

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