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Bem aventurados os que choram


porque serão consolados
Rev. Edilson Botelho Nogueira,
I.P.I de Pirapozinho, 3/10/2021

Bem-aventurados os que choram, porque serão


consolados. - (Mt 5:4)

Introdução

Em nosso primeiro estudo das bem-


aventuranças, vimos sobre a bênção de sermos
feitos humildes de espírito, como sendo a
virtude que nasce:
a) Da percepção da nossa verdadeira condição
espiritual,
b) nasce de um espírito de Cristo-dependência,
Cristo-confiança, Cristo-definição.
c) e uma virtude que nasce do desejo de servir
a Deus e aos homens pelo puro prazer de ser
grato a Deus.

A Bem Aventurança seguinte é uma emoção: o


choro. Como é que Jesus pode dizer que
alguém é feliz quando chora?
Que beneficio se pode obter chorando?

Desde criança ouvimos nossos pais dizerem –


engole o choro!
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- Homem não chora!

Vivemos num mundo onde o choro é um grande


inconveniente, há todo um sistema construído
sobre a premissa de que – o choro é uma
tragédia.

Então, tudo convida o ser humano a sorrir.


Todas as propagandas são feitas a partir da
felicidade que acompanha o produto.

Sorriso e felicidade vendem banco, carro,


hospital, jazigo em cemitério, shopping center,
remédio, roupa, tratamento de ereção
masculina, absorvente feminino, dentadura,
papel higiênico, tudo, até igreja põe placa na
porta dizendo – Pare de sofrer, não chore mais!

Mas, Jesus vai de encontro a essa mentalidade,


ele diz em Lucas:

Lucas 6:25 – Ai de vós, os que estais agora fartos!


Porque vireis a ter fome. Ai de vós, os que agora
rides! Porque haveis de lamentar e chorar.

Ora, Jesus não está dizendo que prefere o choro


ao riso, riso e choro são reações da alma
humana às situações da vida.
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O Apóstolo Paulo diz:
Romanos 12:15 – Alegrai-vos com os que se
alegram e chorai com os que choram.

Mais uma vez, o que conta não é chorar ou rir,


mas o porquê alguém chora ou se alegra.

Por que Jesus diz que alguém que chora, pelo


motivo certo é feliz?

A Escritura diz – “...tempo de chorar e tempo de


rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria;
Eclesiastes 3:4

Pelo que devemos chorar para sermos


consolados?

Quem nos ensina de maneira clara de qual choro


Jesus fala, é o profeta Isaías:

No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor


assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas
de suas vestes enchiam o templo. Serafins
estavam por cima dele; cada um tinha seis asas:
com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus
pés e com duas voava. E clamavam uns para os
outros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR
dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua
glória...
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Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque
sou homem de lábios impuros, habito no meio de
um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram
o Rei, o SENHOR dos Exércitos!
(Isaías 6.1-3, 5)

La está Isaías, um dos maiores profetas do Antigo


Testamento, talvez o mais culto e erudito, cujo
domínio do hebraico é impressionante.

Diante dele, Yahweh se revela em toda a sua


glória. Está tudo la. O Rei, o Trono, os súditos, o
cântico dos serafins – Santo, Santo, Santo.

Isaías nunca vira algo assim em toda a sua vida.


A santidade de Deus era ao mesmo tempo
admirável e aterradora. Terremoto, fogo, neblina
e fumaça...
O som da sala sem paredes ou portas, é tudo
infinito, é tudo imensurável, a glória de Deus está
diante do profeta... ele simplesmente apareceu
ali...

Por alguns momentos, não sabemos por quanto


tempo, tudo pareceu maravilhoso aos olhos de
Isaías, porque ele estava fascinado pela beleza da
santidade do Senhor.

De repente, como que acidentalmente, ele baixa


os olhos, e enxerga a si mesmo...
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O contraste é horrendo.

Isaías, é repugnante diante da beleza de Deus.


A perfeição do Senhor torna as imperfeições do
profeta em uma visão grotesca e infernal.

Deus é Espírito, Isaías é carne.


Deus é eternidade, Isaías é vaidade.
Deus é pureza absoluta, Isaías é corrupção e
imundícia.

Não tivesse os olhos de Isaías visto o Senhor,


estaria tudo bem, ele continuaria rindo e se
achando o máximo.

Mas, não – ele viu o Senhor na beleza da sua


santidade, então, ao ver a si mesmo, o choque é
avassalador.

Ai de mim! Estou perdido!

Isso é o mais profundo desespero, é como se


alguém que sabe que irá morrer no minuto
seguinte...

Ele está no lugar errado, ele não tem esse


direito, ele não pertence àquele ambiente, ali
não cabe mancha alguma, iniquidade nenhuma
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por mais leve que seja, não há espaço para o
pecador, somente os santos são admitidos.

Isaías não pediu pra ir lá, ele foi levado.


Mas agora, a alegria de ter visto o inimaginável,
transforma-se em absoluto e completo
desespero.

Vou morrer, não tem escapatória, é agora, eu


não sou daqui, eu não podia ter entrado, tinha
que ter ficado la fora, mas fui trazido pra dentro,
eu não estava pronto, agora, a morte é certa, ai
de mim estou perdido.

Se você visse Isaías nesse momento, como


qualquer ser humano, ele estaria gemendo de
dor, seu rosto estaria molhado de lágrimas e
suor, porque pela primeira vez ele via a si
mesmo com os olhos de Deus.

Foi decepcionante. Logo ele, um erudito, um


catedrático, se vê um pecador.

– Sou homem de lábios impuros, morando com


gente de língua mentirosa...

O que temos aqui?

Como pode esses “lábios impuros”?


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Seria Isaías um homem acostumado a falar
palavrões, ou xingamentos, termos ofensivos?

Dificilmente, diria quase impossível.

Mas, por que Isaías via impureza justamente no


órgão mais virtuoso e brilhante de seu
ministério? Sua palavra? Seu discurso? Seu
linguajar?

Há uma possibilidade.
Creio que Isaías viu orgulho nascido de sua mais
extraordinária habilidade.

Onde ele era imbatível, a sua comunicação, ali


residia o pecado de sua auto-dependência.

A sua arrogância havia se instalado no centro de


sua habilidade. Tudo que saía de lá vinha
contaminado com a soberba.

Então ele chorou, como nunca na sua vida.


Como se fosse a última coisa que faria antes de
enfrentar o tribunal do Deus todo-poderoso.

Foi nesse momento que Isaías conheceu uma face


do Senhor que ele jamais se esqueceria por toda
a sua vida: a sua graça e misericórdia.
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“Então, um dos serafins voou para mim,
trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do
altar com uma tenaz; com a brasa tocou a minha
boca e disse: Eis que ela tocou os teus lábios; a
tua iniquidade foi tirada, e perdoado, o teu
pecado.” 6,7

Glória a Deus – iniquidade tirada, pecado


perdoado...
Quem pode imaginar o consolo que aquele
perdão trouxe a Isaías?
Quem pode imaginar o alívio de que está prestes
a ser exterminado, e de repente, é justificado?
Perdoado? Limpo?

O que disse Pedro quando se encontrou com


Jesus depois de conhecer a sua autoridade sobre
os peixes do mar de Genesaré?

– Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador. Lc


5.8

Mas o mais amargo de todos os choros de Pedro,


foi no dia de sua traição a Jesus.
– Não conheço esse homem!
Mas o galo se encarregou de lembrar Pedro do
Jesus dissera – antes que o galo cante, você vai
me negar 3 vezes...
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Pedro chorou, amargamente (Mt 26.75), choro
doído, choro de alguém que tem um encontro
consigo mesmo, e percebe quão mentiroso e
falso é...

Ah, quão felizes são aqueles que choram, diz


Jesus, choram quando encontram a si mesmos,
e veem a si mesmos com os olhos de Deus...

De repente, eles começam a perguntar:

– Como é que eu pude chegar a esse ponto?

– Como não dominei a mim mesmo?

– Como pude achar prazer em tal infâmia?

– Como pude invejar, cobiçar, trair, enganar a


esse ponto?

– Como pude dizer tal impropério?

– Como pude ser tão mesquinho, egoísta,


avarento?

Quando um crente está diante de si mesmo, de


toda a maldade do seu coração, de toda a
desobediência, de toda incredulidade, de toda
rebelião...
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Ele será acometido da mais graciosa e


miraculosa tristeza, a tristeza de Deus:

Porque a tristeza segundo Deus produz


arrependimento para a salvação, que a ninguém
traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte.
- (2Co 7:10)

Então o choro é irreprimível...


Rios de lágrimas vão inundar nosso coração.

Mas a Escritura diz: E lhes enxugará dos olhos


toda lágrima... Apoc 21.4

Salmos 32:1 – Bem-aventurado aquele cuja


iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto.

Salmos 32:5 – Confessei-te o meu pecado e a


minha iniquidade não mais ocultei. Disse:
confessarei ao SENHOR as minhas transgressões;
e tu perdoaste a iniquidade do meu pecado.

Somente aqueles cuja confiança repousam


somente no Autor e Aperfeiçoador da fé, serão
consolados.

Romanos 8:1 – Agora, pois, já nenhuma


condenação há para os que estão em Cristo Jesus.
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Felizes são aqueles consolados com a justiça de


Cristo.
Nada tira o riso deles, nada tira a alegria deles,
nada tira a felicidade deles...

Eles dizem – Estamos salvos! Estamos livres!


Perdoados!
A tristeza de Deus nos trouxe o consolo!

Era disso que o Apóstolo Paulo dizia:


Romanos 8:35 – Quem nos separará do amor de
Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou
perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou
espada?

Hoje vamos pedir ao Senhor que nos entristeça


com a sua tristeza que produz arrependimento.

Talvez tenhamos nos tornado uma geração sem


lágrimas.
Tão preocupados em ser felizes, tão
preocupados em sermos prósperos, tão
preocupados com nosso bem-estar, que
esquecemos da bem-aventurança de chorar.

No céu, vamos encontrar pessoas que nunca


foram à igreja, nunca sentaram num banco de
EBD, nunca cantaram em um coral, nunca
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assistiram um culto de domingo a noite,
pessoas que nunca participaram de um
louvorzão, que nunca foram a uma campanha de
evangelismo, que nunca tomaram a ceia do
Senhor, nunca foram sequer batizadas.

Mas jamais encontramos no céu uma única


pessoa que não tenha chorado, pelo menos uma
única vez na vida, no dia em que viram a si
mesmas com os olhos de Deus.

Não conheceremos pessoas mais felizes, mas


satisfeitas, mais bem aventuradas, que aquelas
que foram consoladas com a Justiça de Cristo.

Bem-aventurados os que choram, porque serão


consolados. - (Mt 5:4)

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