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Boa tarde a todos!

O tema que me foi atribuído, no âmbito desta oralidade, foi o Sarau da


Trindade, em particular a intervenção de Rufino e a reação do público.
Esta temática é desenvolvida no capítulo XVI da obra Os Maias, de Eça de
Queirós, encontrando-se inserida das páginas 421 a 452, isto claro tendo por
base o pdf que todos nós dispomos.
Esse Rufino, e o Alencar, e os bons, só gorgeiam mais tarde...????????? rufino mt expectativa??

À semelhança do que se sucede em muitos outros episódios narrados


nesta obra, o Sarau da Trindade reveste-se de inúmeras críticas aos costumes
da sociedade lisboeta do século XIX.
Antes de mais, creio ser importante enquadrar o começo deste capítulo.
As suas primeiras linhas detalham o fim de um jantar, na Rua de S. Francisco,
que reunira Maria, Carlos e Ega. Maria, aqui, revelara alguma indisposição
para comparecer ao Sarau, ainda que Ega, arduamente, procurasse convencê-
la. Por entre os argumentos que arquiteta, este começa por tecer uma dura
crítica ao arquétipo, neste caso Rufino, do povo português.
“(…) ia ver por dez tostões uma coisa também rara, - a alma
sentimental dum povo exibindo-se num palco, ao mesmo tempo nua e de
casaca.”
Perante esta citação, podemos inferir que estas duas antíteses servem o
propósito de denunciar a dissimulação, a hipocrisia e a exuberância das
aparências. Por um lado, a referência aos tostões em nada contempla uma
raridade, isto pois trata-se de uma insignificante soma de dinheiro que,
incontestavelmente, terá desmerecido o Sarau que se propunham a assistir e,
portanto, um vislumbre da falta de sensibilidade da sociedade lusitana para
com as Artes. Por outro lado, esta alma, que tanto se mostra “nua” como “de
casaca”, antecede, já, toda a oratória de Rufino, que tanto aliciava os seus
contemporâneos. Efetivamente, apesar da opulência na sua eloquência ou
vestimenta, todo o seu discurso era vazio de conteúdo, onde profere coisas que
nem acredita ou que estão claramente desenquadradas com a realidade.
Ega, até quando questionado pela entidade de Rufino, ao compará-lo
com outro orador, “(…) Esse era outro, a sério, (…)”, sugere um evidente
desprezo a este personagem. Aliás, esta imagem depreciativa e torpe de Rufino
é nos dada pelo narrador, a par de algumas intervenções de outras
personagens. Descrito como um “(…) ratão de pêra grande, deputado por
Monção, (…)”, bem como “(…) um bacharel transmontano, muito
trigueiro, de pura, (…)” vê a sua oratória contestada por Maria e Carlos. Isto,
pois, para estes, adocicar o ouvido da plateia, portanto, “(…) a chilrear, (…)
como um pássaro num galho de árvore...”, sem qualquer construção de
pensamento, era puramente indecente.
Ainda assim, não deixa de concretizar uma reprimenda ao Portugal do século
XIX e que, em certa parte, se terá perpetuado até aos dias de hoje. Um
Portugal que se deixa seduzir por um discurso antes bonito que construtivo, e
que, de igual modo, se deixa corromper por desejos banais (?), enfatizando as
suas prioridades …Tal é constatado nas passagens: “(…) nós, os meridionais,
por mais críticos, gostamos do palavriadinho mavioso.” “ (…) como se
pervertia um cidadão, impedindo-o de proteger as letras pátrias - com
promessas pérfidas de tabaco e de bebidas!...” .
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“Por cima, de repente, no salão, estalaram grandes palmas. Carlos, que dava o paletó ao porteiro,
receou que já fosse o Cruges...

- Qual! disse o Ega. Aquilo é aplaudir de retórica!”

Importância dada a Rufino e, portanto, à retórica, em detrimento da cultura

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“ (…) sentiram logo um vozeirão tumido, garganteado, provinciano, de vogais arrastadas em canto,
invocando lá do fundo, do estrado, «a alma religiosa de Lamartine!...»”

info Lamartine: Seus poemas são caracterizados por profunda melancolia, cujos temas
freqüentes são religião e amor. foi um escritor, poeta e político francês. Seus primeiros livros
de poemas (Primeiras Meditações Poéticas, 1820 e Novas Meditações Poéticas, 1823)
celebrizaram o autor e influenciaram o Romantismo na França e em todo o mundo.

“- É o Rufino, tem estado soberbo! murmurou o Teles da Gama que não passara da porta,
com o charuto escondido atrás das costas.”

Demonstra o desinteresse “ (…) assistindo àquele sport da eloquência com uma mistura de
assombro e tédio.”

Novamente falsidade, ….

“(…) corria outra linha de senhoras com vestidos claros, abanando-se molemente;”

“(…) desmanchava o silêncio, (…)”


“E foi o padre que o informou, com a face luzidia, inflamada de entusiasmo:

- Tudo sobre a caridade, sobre o progresso! Tem estado sublime... Infelizmente está a acabar!”

“ (…) voltando-se para as cadeiras reais com um tão ardente gesto de inspiração (…)

“ A multidão, essa, sorria simplesmente, enlevada, para a incomparável poesia da mão calçada de
fina luva que se estende para o pobre.”

“Na sala o silêncio impressionava.”

Um largo frémito de emoção passou. Vozes sufocadas de gozo mal podiam: murmurar «muito
bem, muito bem...»

“Os bravos partiram profundos e roucos de peitos que arfavam. E em torno de Carlos e do Ega
sujeitos voltavam-se apaixonadamente uns para os outros, com um brilho na face, comungando
no mesmo entusiasmo: «Que rajadas!... Caramba!... Sublime!...»”

“Um estremecimento devoto e poético arrepiava as caias das senhoras.”

“ (…) os cavalheiros das Secretarias, da Arcada, da Casa Havaneza, berrando, batendo as mãos,
afirmaram soberbamente o céu!”

Ambiente

“ (…) o recanto indisciplinado onde curtos risos esfuziavam. Outros cavalheiros, indignados,
gritavam «chut, silêncio, fora!»”

Falta de civismo/ saber estar—analogia corrida cavalos

+ reações

“Mas o Ega sufocava, esmagado, farto do Rufino, (…)”

“- Tu imaginavas uma besta assim?

- Horroroso! murmurou Carlos.”

“ Queria saber se era esse o grande orador de que lhe tinham falado...

Ega afirmou com patriotismo que era um dos maiores oradores da Europa!

- Em qual género?...

- Género sublime, género de Demóstenes!”

Info Demóstenes (em grego, Δημοσθένης, Dēmosthénēs; 384 a.C. – 322 a.C.) foi um


preeminente orador e político grego de Atenas. Sua oratória constitui uma importante
expressão da capacidade intelectual da Atenas antiga“- Que te parece, Tomás?

- Faz nojo! rugiu surdamente o poeta.


Tremia, revoltado! Numa noite daquelas, toda de poesia, quando os homens de letras se deviam
mostrar como são, filhos da democracia e da liberdade, vir aquele pulha pôr-se ali a lamber os pés
à família real... Era simplesmente ascoroso!”

“ (…) junto aos degraus do tablado, ia um tumulto de abraços, de comprimentos, em torno do


Rufino, que reluzia todo de orgulho e suor. E pela porta os homens escoavam-se, afogueados,
comovidos ainda, (…)”

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“De ambos os lados se cerravam filas de cabeças, embebidas, enlevadas, (…)”

“Estavam os homens, a gente do Grémio, da Casa Havaneza, das Secretarias, uns de gravata
branca, outros de jaquetões.”

Presença de indivíduos muito influentes

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“E na extremidade da galeria, num camarote feito de tabiques, com sanefas de veludo cor de
cereja, duas cadeiras de espaldar dourado permaneciam vazias, na solenidade real do seu
damasco escarlate.”

“E imediatamente Steinbroken queixou-se da ausência da família real...”

“Depois, respeitosamente, voltou-se para as cadeiras reais, solenes e vazias...”

Ausência da família real

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“ (…) celebrava um anjo, «o Anjo da Esmola que ele entrevira, além no azul, batendo as asas de
cetim...» Ega não compreendia bem - entalado entre um padre muito gordo que pingava de suor,
e um alferes de lunetas escuras.”

“ (…) antevia já, (…) O renascimento da Fé!»

“ (…) o rouxinol em cada balseira provavam Deus irrefutavelmente, - ele fora dilacerado pelo
espinho da descrença! (…), ele passara junto da cruz do adro e da cruz do cemitério, atirando-lhes
de lado, cruelmente, o sorriso frio de Voltaire...”

“Pois fora nesse estado, devorado pela dúvida, que Rufino ouvira um grito de horror ressoar por
sobre o nosso Portugal... Que sucedera? Era a Natureza que atacava seus filhos! - E lançando os
braços, como quem se debate numa catástrofe, Rufino pintou a inundação...”

Dramatismo de Rufino, fala de deus para origem da inundação

Falar de deus….

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“Rufino estava exaltando uma princesa que dera seiscentos mil reis para os inundados do Ribatejo,
(…)”

Dá conta do propósito da sua vinda…

“Mas não era só essa soberba esmola que deslumbrava o Rufino - porque ele, «como todos os
homens educados pela filosofia e que têm a verdadeira orientação mental do seu tempo, via nos
grandes factos da história não só a sua beleza poética, mas a sua influência social.”

Cómica a posição q se autodescreve

“Ele porém, filósofo, (…)”~

“E Rufino findava, com uma altiva certeza na alma!”

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“ (…) para o exaltado lugar de onde desce a salvação, para o Trono de Portugal!”

Bajulação à coroa por parte de Rufino

“ (…) de onde recebera a inspiração da caridade? (…) Dos livros da ciência? Dos laboratórios
químicos? desses anfiteatros de anatomia onde se nega covardemente a alma? das secas escolas
de filosofia que fazem de Jesus um precursor de Robespierre?”

Desprezo às ciências

“E agora, apesar de todas as ironias da ciência, apesar dos escárnios orgulhosos dum Benan, dum
Litré e dum Spencer, ele, que recebera a confidência divina, (…)”

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