Quando vigorava o antigo Código de Processo Civil no Brasil (de 1973), a única
forma de demanda conjunta era o litisconsórcio ativo, ou seja, quando figura
mais de duas pessoas no polo ativo da demanda, já que não havia previsão legal de instrumentos específicos para a tutela coletiva de direitos individuais ou para a tutela de direitos coletivos. A tutela dos interesses coletivos no Brasil surgiu com normas extravagantes e dispersas que oportunizavam a defesa de direitos coletivos ou individuais alheios por meio de entidades e organizações, que poderiam propor ações judiciais, em seu nome, em busca de tais direitos. O processo coletivo comum destina-se à tutela jurisdicional do direito subjetivo coletivo em sentido amplo e abarca a Ação Civil Pública, a Ação Popular, o Mandado de Segurança Coletivo, o Mandado de Injunção, o Dissídio Coletivo, a Impugnação de Mandado Eletivo e a Ação Direta Interventiva. Já o processo coletivo especial possui um conjunto de instrumentos, princípios e regras processuais próprios e distintos, pois se destina especificamente à tutela jurisdicional do direito objetivo. Para Assagra de Almeida, esse conjunto seria formado pela ação direta de constitucionalidade e outros instrumentos processuais inseridos no controle concentrado de constitucionalidade.
A Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/1985) regula as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados ao meio ambiente, ao consumidor e a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, a qualquer outro interesse difuso ou coletivo, por infração da ordem econômica, à ordem urbanística, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos, bem como ao patrimônio público e social, nos termos do seu artigo 1º. A legitimidade ativa da Ação Civil Pública pertence: ao Ministério Público, a Defensoria Pública, a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios, as autarquias, empresas públicas, fundações, sociedades de economia mista, ou associações que estão constituídas há pelo menos um ano nos termos da lei civil e que inclua entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, conforme previsão do artigo 5º da Lei nº 7.347/ 1985. Segundo Teori Zavascki, é apropriado denominar de ação civil pública algumas ações que seguem o procedimento da Lei nº 7.347/85, e que aplicam esta última de maneira subsidiária, como por exemplo, o Estatuto da Criança e do Adolescente que, em seus artigos 208 a 224, disciplina a tutela dos direitos e interesses coletivos e difusos das crianças e adolescentes, o Código de Defesa do Consumidor, cujos artigos 81 a 90 e 101 a 104 dispõem sobre a tutela dos direitos e interesses difusos e coletivos dos consumidores, o Estatuto do Idoso, que, em seus artigos 69 a 92, define regras processuais específicas para a tutela dos direitos coletivos e individuais das pessoas idosas, dentre outros. Zavascki sustenta que ao se falar em ação civil pública “está-se falando de um procedimento destinado a implementar judicialmente a tutela de direitos transindividuais, e não de outros direitos, nomeadamente de direitos individuais, ainda que de direitos individuais homogêneos se trate.”. Tais direitos são tutelados em procedimento próprio e recebem outra denominação, pelo artigo 91 do Código de Defesa do Consumidor, de “ação coletiva” e “ação civil coletiva”. Portanto, Zavascki destaca que, se da mesma conjuntra se originam lesões, simultâneas ou sucessivas, a direitos transindividuais e a direitos individuais homogêneos, “o direito processual há de oferecer meios adequados para permitir a proteção integral e efetiva de todos os direitos ameaçados ou violados, inclusive, se for o caso, mediante cumulação de pedidos e causas”. Assim, segundo o autor, a sentença de procedência eventualmente proferida, no tocante aos direitos individuais homogêneos, deverá ter natureza genérica, tendo as pessoas lesadas que promover demanda autônoma, em nome próprio, para o advento do seu cumprimento e neste procedimento autônomo serão identificados e liquidados os danos a serem indenizados individualmente, dos quais os proveitos serão revertidos para o seu patrimônio pessoal, diferentemente do que ocorre com os direitos transindividuais, que são revertidos para um fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição dos bens lesados, nos termos do artigo 13, da Lei 7.347/85.
A Ação Popular já estava presente na Constituição da República de 1934, que
estabelecia que qualquer cidadão poderia pleitear a declaração de nulidade ou anulação de atos lesivos ao patrimônio da União, dos Estados e dos Municípios, mas foi suprimida pela Constituição de 1937 e voltou a ser inserida no ordenamento jurídico brasileiro em 1946. Em 29 de junho de 1965 foi promulgada a Lei nº 4.717, que regula a Ação Popular e vigora até os dias de hoje. A legitimidade para propositura da Ação Popular pertence aos cidadãos, conforme previsão da Constituição Federal, em seu artigo 5º, LXXIII e da Lei nº 4.717/65, em seu artigo 1º. Portanto, somente os brasileiros (natos ou naturalizados), que ostentem a condição de eleitor poderão ajuizá-la, devendo comprovar a cidadania para ingresso em juízo, com o título eleitoral ou documento a ele correspondente, conforme artigo 1º, §3º da Lei nº 4.717/65. O autor da Ação Popular age como substituto processual da coletividade e, em caso de abandono da causa, outro legitimado poderá assumir o polo ativo da demanda. Supletivamente, pode ser substituído pelo Ministério Público, se nenhum outro legitimado o fizer, conforme entendimento do STF (REsp 638.011/RJ, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 25/04/2016, DJ 18/05/2006, p.182). Contudo, é excluída a possibilidade de ser ajuizada por pessoa jurídica, nos termos da Súmula 365 do STF. O STJ admite que a Ação Popular seja ajuizada pelo Ministério Público, pois entende-se que possui legitimidade para toda e qualquer demanda que vise à defesa dos interesses difusos e coletivos (AgRg no AREsp 746.846/ RJ, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 15/12/2015, DJe 05/02/2016). A Lei nº 12.016/ 2009 trata da tutela de direitos coletivos strictu sensu e de direitos individuais homogêneos por meio do Mandado de Segurança Coletivo. A legitimidade ativa pertence aos partidos políticos com representação no Congresso Nacional, às organizações sindicais, às entidades de classe ou às associações legalmente constituídas e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados, conforme artigo 5º, LXX, da Constituição Federal. O STJ também admite a legitimação ativa do Ministério Público para impetrar o mandado de segurança coletivo, pois pode valer-se da ação necessária para a defesa de interesses metaindividuais.