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O Ciume Patologico uma discussao


psicanalitica20200709 19412 1oz4fya
Paulo Freedman

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"Violência na clínica cont emporânea : a novilíngua"


T hamy Ayouch

ANDREA LORENA DA COSTA Cont ribuições para o est udo do ciúme excessivo
João Olivat o

SOBRE O CIUME E A INVEJA


Lunardon Vaz
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIGRAN CAPITAL

Paulo Freedman de Souza Junior

O Ciúme Patológico
Uma discussão psicanalítica.

Campo Grande MS
2020
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIGRAN CAPITAL

Paulo Freedman de Souza Junior

O Ciúme Patológico
Uma discussão psicanalítica.

Trabalho de Conclusão de Curso em forma de artigo


científico apresentado ao Curso de Psicologia do
Centro Universitário UNIGRAN CAPITAL, como
requisito parcial para obtenção do título de bacharel

Professora orientadora: M.ª Elaine Cristina da Fonseca


Costa Pettengill.

Campo Grande MS
2020
Paulo Freedman de Souza Junior

O Ciúme Patológico
Uma discussão psicanalítica.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________________
Professora Orientadora Me. Elaine Cristina da Fonseca Costa Pettengill

________________________________________________________________
Professora Me. Iara Oliveira Meireles

________________________________________________________________
Professor Me. Carlos Alfredo Pettengill

Campo Grande MS
2020
À Dona Ivanilde, minha avó, que investiu em mim
não só recursos financeiros, mas sua fé para que eu
fizesse parte da mudança para um mundo melhor.
AGRADECIMENTOS

Mãe, pai e vó, por serem o pilar de sustentação da minha existência.

Thamiris e Luiz, meus irmãos, que me ensinam a arte e a grandeza da vida.

Bruno pelo incentivo e insistência em todos os caminhos por onde andei.

Lucas, Elisangela, Adriana, Rômulo e Aline, por estarem comigo diariamente na caminhada
dessa graduação.

Helena, Stéphanie, Fábio, Francislaine, Luciana, Ana, Loubetão, pela credibilidade na minha
formação.

Aos professores que fizeram parte dessa caminhada, e me ensinam o ofício de ser psicólogo.

Prof. Estefânia, por despertar em mim o interesse pela pesquisa no campo do afeto.

Prof. Elaine, por toda beleza e toda sabedoria. Por ter também aceitado trabalhar comigo neste
artigo, me orientando para o melhor, e sendo exemplo de bom profissional, desde o primeiro
dia que entrou em minha vida.

Cibele e Youssef, amigos queridos e mestres do meu barco, vocês me permitem ver a
mudança no mundo.

Ainda Israel, Nilce e Lindaura, que embora não fisicamente, seguem olhando por min com os
olhos de Deus, junto a Ele.

A todos os amigos que passaram, ficando ou não comigo, mas que me sempre deixaram algo
de valor.
"Não tenha medo de sair um pouco de si, para
compreender melhor qual o seu sentido para as
coisas.

Ás vezes realmente será necessário que isso


aconteça, porque certas situações merecem um olhar
mais atenuado e calmo.

Basta não ter medo de se perder para se encontrar”.

(Maysa Muniz, Afeto Interestelar).


SUMARIO

1 INTRODUÇÃO 8
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 10
2.1 A VIOLÊNCIA RELACIONADA AO CIÚME 11
2.2 DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL NA INFÂNCIA 12
3 RESULTADO E DISCUSSÃO 16
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 21
5 REFERÊNCIAS 22
O Ciúme Patológico, uma discussão psicanalítica.

Paulo Freedman de Souza Junior


M.ª Elaine Cristina da Fonseca Costa Pettengill

RESUMO: O que diferencia o ciúme normal do patológico é apenas uma frágil e tênue linha.
É um sentimento que depende de alguma fagulha de desconfiança para que apareça como uma
obsessão. O ciúme normal seria baseado em alguma situação temporária e real. O ciúme
patológico teria razões infundadas e irreais, havendo um inconsciente desejo de ameaça a um
rival. O objetivo deste artigo é discutir a partir dos pressupostos da Psicanálise, sobre os
fatores que, no desenvolvimento da personalidade, podem suscetibilizar o sujeito ao ciúme
patológico. Este estudo justifica-se em razão de inúmeros crimes que são cometidos em nome
do ciúme e representa uma tentativa de prevenção primária em saúde mental, visando a
compreensão dos fatores de risco para o desenvolvimento do ciúme patológico. A
metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica. Como resultados, verificou-se que quando
a criança, mobilizada por um incremento de seu próprio sadismo, fica impossibilitada de
introjetar a mãe enquanto objeto ideal, restando a ela a experiência da insegurança e da
desconfiança do amor do outro e de sua própria capacidade de amar, ela fica suscetível ao
ciúme patológico. O ciúme patológico também guarda estreita relação com a autoestima
diminuída. A literatura aponta que o comportamento dos pais de predileção a um dos filhos ou
sobrinhos, pode intensificar o ciúme do filho, gerando registros duradouros em seu
desenvolvimento. Pode acontecer de o ressentimento e as inseguranças geradas tornem a
criança uma pessoa hesitante e hostil em todas as situações que venha enfrentar até a fase
adulta. Por fim conclui-se que antes de mais nada é necessário dar importância à prevenção
ainda nas fases inicias do desenvolvimento psíquico, de modo que o sentimento não se torne
patológico. Buscar ajuda psicológica é fundamental para lidar com o problema, de forma a
receber o suporte psicológico necessário para retomar o desenvolvimento emocional das
etapas onde determinadas experiências emocionais não puderam ser elaboradas e hoje se
repetem por meio das manifestações do ciúme patológico.

Palavras-chave: Ciúme. Infância. Patológico. Psicanálise.

1 INTRODUÇÃO

O termo ciúme é derivado da palavra em latim “zelumen”, que por sua vez é derivada
da palavra grega “zelus”, que, conforme o dicionário Aurélio significa “sentimento doloroso
causado pela suspeita de infidelidade da pessoa amada; zelos; angústia provocada por
sentimento exacerbado de posse”. (FERREIRA, 2010, p. 157).
Pode se manifestar diante da percepção da falta de exclusividade afetiva frente ao
objeto, também pela sensação de se estar a dividir, ou até mesmo disputar atenção,
intimidade, dedicação, cumplicidade e afeto com outros. Este sentimento de não pertença está

8
presente no desenvolvimento com a entrada do terceiro elemento (figura do pai) em cena, que
vai gerar os sentimentos ambivalentes na criança. (FREUD, 1916 – 1991).
Em Freud (1976, p. 271), o ciúme se constitui essencialmente do luto, da dor pelo
objeto amoroso que se acredita haver perdido e da injuria narcísica: “(...) é um daqueles
estados emocionais, como o luto, que podem ser descritos como normais. Sua falta seria
então, resultado de repressão, desempenhando papel ainda mais importante no inconsciente”.
O ciúme, ainda conforme Freud (1976, p. 271) “é um estado afetivo normal. O que
preocupa são suas manifestações extremas. Sua falta sugere um problema, e sua intensidade,
uma patologia”. A ausência da manifestação do ciúme pode indicar um bloqueio ou
dificuldade de expressar as emoções, causando dor e sofrimento, oriundo de grandes
repressões nas fases iniciais da vida do sujeito.
Melanie Klein (1960) afirma que os primeiros sinais de ciúme e ódio se manifestam na
infância, e se estendem ao longo de toda a fase adulta. Outra contribuição importante de
Klein, diz respeito ao ciúme como uma manifestação da inveja. A inveja seria do plano do
imaginário, e o ciúme da ordem do simbólico, se constituindo no Complexo de Édipo.
De acordo com Ballone (2004), o que diferencia o ciúme normal do patológico é
apenas uma frágil e tênue linha. É um sentimento que depende de alguma fagulha de
desconfiança para que apareça como uma obsessão. O ciúme normal seria baseado em alguma
situação temporária e real. O ciúme patológico teria razões infundadas e irreais, havendo um
inconsciente desejo de ameaça a um rival.
O conceito de ciúme patológico ou mórbido, conforme Ballone (2004), compreende o
exagero de vários sentimentos, como o medo de perder o objeto amado para um rival
imaginário ou real, e que, por ser de absurdo exagero, traz prejuízos às relações interpessoais,
em razão do desejo obsessivo de total controle sobre os sentimentos e comportamentos do
outro.
O ciúme patológico é abordado no DSM-V (2014), na descrição dos transtornos de
personalidade do tipo paranoide. Indivíduos com esse transtorno podem ser patologicamente
ciumentos, muitas vezes suspeitando que o parceiro é infiel sem qualquer justificativa
adequada. Podem reunir “evidências” triviais e circunstancias que apoiem suas crenças de
ciúmes. Desejam manter controle total das relações intimas para evitar serem traídos e podem
constantemente questionar e desafiar o paradeiro, as ações, as intenções e a fidelidade do
parceiro.

9
Na descrição do Transtorno Obsessivo Compulsivo, o DSM-V (2014) refere que o
ciúme obsessivo se caracteriza pela preocupação não delirante com a infidelidade percebida
do parceiro. As preocupações podem levar a comportamentos ou atos mentais repetitivos em
resposta às preocupações com a infidelidade; elas causam sofrimento clinicamente
significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional, ou em outras áreas
importantes da vida do indivíduo, e não são mais bem explicados por outro transtorno mental,
como o transtorno delirante tipo ciumento ou o transtorno de personalidade paranoide.
O objetivo deste artigo é discutir a partir dos pressupostos da Psicanálise, sobre os
fatores que, no desenvolvimento da personalidade, podem suscetibilizar o sujeito ao ciúme
patológico. Este estudo justifica-se em razão de inúmeros crimes que são cometidos em nome
do ciúme: “Com ciúmes, mulher queima marido com ferro de passar em Campo Grande”
(Midiamax, 20 de maio de 2019), “Mulher que matou por ciúmes é condenada a 14 anos de
prisão” (Campo Grande News, 04 de setembro de 2019), “Em briga por ciúmes, homem joga
copo de vidro na namorada, dá socos, chutes e tenta enforcá-la em MS” (G1, 20 de maio de
2019), “Motorista de aplicativo foi morto por conta de ciúmes entre casal de passageiros”
(Correio do Estado, 14 de maio de 2019). Essas são algumas chamadas de notícias jornais
eletrônicos do ano de 2019 em Campo Grande, onde o motivador do crime foi o ciúme.
Além de ser um tema que desperta interesse em grande parte da população, o presente
estudo representa uma tentativa de prevenção primária em saúde mental, visando a
compreensão dos fatores de risco para o desenvolvimento do ciúme patológico. Entender de
que modo o ciúme pode se desenvolver nas pessoas dentro de uma perspectiva psicanalítica,
favorece a reflexão sobre os cuidados que devem ser observados na educação infantil, no
atendimento às necessidades psicológicas nas diferentes etapas da infância, a fim de contribuir
para um desenvolvimento adequado ao longo da vida e a diminuição de problemas sociais
(como a violência contra a mulher) relacionados a padrões de comportamento desajustados
como as manifestações patológicas do ciúme.
Trata-se de pesquisa bibliográfica com acesso às bases de dados da internet (scielo,
lilacs, bireme, google acadêmico, etc.), utilizando-se de artigos publicados entre 2009 e 2019,
com os descritores: ciúme patológico, desenvolvimento infantil, desenvolvimento da
personalidade, fase fálica, complexo de édipo. Também foram utilizadas obras clássicas da
psicanalise que tratam sobre o desenvolvimento da personalidade.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

10
2.1 A violência relacionada ao ciúme:

Segundo Christian Dunker (2017, p.62), “o ciúme é um sentimento demasiadamente


humano, pois ele traduz a tragédia da inclusão de um terceiro em um espaço antes
supostamente habitado apenas pelo par amoroso. Essa intrusão de um terceiro representa a
exclusão interna do próprio sujeito”. Tal situação está por muitas vezes associada a uma
emoção negativa por sua relação importante estar sendo ameaçada.
Por muitas vezes a manifestação do ciúme sugere uma mudança na relação amorosa. O
sofrimento experimentado pelo adulto ciumento retoma à dor infantil sentida por ter deixado
de ser o objeto de desejo dos pais. Ele então vive as experiências de um amor possessivo, por
medo ou risco de perda do objeto amado. O ciúme então se configura numa emoção negativa
porque causa dor psicológica, produz raiva, desconfiança, baixa-autoestima, insegurança,
podendo atingir formas doentias e chegar ao extremo da violência, prejudicando então a
relação afetiva.
Sobre o ciúme patológico, a dra. Elizabeth Zamerul diz:

“... sentimento doloroso de ameaça de perda de algo que se


possui. Na opinião de muitos, o ciúme é natural e inclusive inevitável,
mas o que importa não é a natureza da emoção, e sim como o
ciumento e o outro parceiro lidam com ela”. (ZAMERUL, 2018)
Antes de chegar à agressão física, a violência se disfarça no cotidiano em situações
que não podem ser ignoradas em uma relação. Uma das principais razões de agressões físicas
reside no ciúme. As manifestações podem variar de ameaças de violência, ocorrências de
espancamento até assassinatos. Muitas vezes, o ciumento ataca o parceiro com uma raiva
intensa, com a intensão de causar dano corporal e até a morte:

“Os comportamentos dos casais que vivem a violência


psicológica, moral, sexual, patrimonial ou física mostram que, no
início da relação, aos primeiros sinais do ciúme, acreditavam que era
“sinal de amor”: às vezes, até mais que isto, ele era visto como uma
prova de amor. E qual é o problema de pensar assim? Isto abre uma
brecha – faz com que as cobranças ou hostilidades geradas pelo ciúme
se tornem toleráveis”. (ZAMERUL, 2018)

Santos (2017), em seu artigo Crimes Motivados por Ciúmes, aborda os crimes que
cercam a humanidade com relatos bárbaros, e os classifica como “passionais”. Os crimes de

11
violência doméstica são cometidos, na maioria das vezes, quando o ciumento se sente
rejeitado, agindo por um sentimento de exclusão, como o ser egocêntrico, egoísta e ególatra.

Segundo a Juíza Jacqueline Machado da 3ª Vara de Violência Doméstica e Familiar


contra a Mulher, de Campo Grande, e responsável pela Coordenação da Mulher em Violência
Doméstica e Familiar do TJ-MS (G1, 20 de maio de 2019), somente em Campo Grande 5.200
mulheres tinham medidas protetivas contra seus parceiros, concedidas peja justiça. Consta
ainda no Mapa da Violência Contra a Mulher em Campo Grande / MS (2018 ref. 2017), da
SEMU – Secretaria de Políticas para a Mulher, para a Prefeitura de Campo Grande, no ano de
2017, que foram registrados 6.102 casos de violência doméstica no Estado de Mato Grosso do
Sul, sendo 1.936 casos em Campo Grande.

Ainda conforme as informações da pesquisa do Mapa da Violência Contra a Mulher


em Campo Grande / MS (2018 ref. 2017), o ciúme é apontado como fator motivacional da
violência em 20% dos casos registrados.

Para Scheer (2017), tais padrões são fortalecidos pela romantização de


relacionamentos abusivos, uma vez que o controle e o ciúme servem para naturalizar
comportamentos agressivos dentro deste contexto. Era comum em obras midiáticas (novelas,
filmes, etc.) a presença de ciumentos (as), controladores (as) e possessivos (as) em papeis de
destaque. A violência física fica então mascarada pelo ciúme, controle, humilhação, ironias e
ofensas.

2.2 O Desenvolvimento Emocional na infância:

O desenvolvimento emocional, segundo a teoria psicanalítica, acontece através do


desenvolvimento psicossexual. A Fase Oral vai do nascimento até meados dos 2 anos de
idade. Essa fase é a primeira fase da evolução da libido, onde o bebê entende o mundo e todo
o prazer pela boca. Ele chora, mama, chupa o dedo. A boca é seu contato com o mundo
externo.

Segundo explica a psicanalista Monica Marchese Damini (2018), nessa fase ocorre a
formação da segurança física, psicológica e de seus modelos. Tal processo acontece a partir
do seu contato com a mãe. É a época da estruturação emocional, e o toque, os cuidados e o
contato com a mãe/cuidador são primordiais para seu desenvolvimento, sendo o seio da mãe o

12
seu primeiro objeto de prazer, e a amamentação, sua primeira satisfação e experiência de
desejo.

O bebê que recebe cuidados satisfatórios dos pais (contato físico, é pego no colo, é
atendido quando chora) recebe a segurança física que necessita, e como consequência, tende a
repetir boas relações no futuro, podendo lidar melhor com perdas, angústias e ansiedades,
diminuindo as chances de dependência emocional.

Em contrapartida, o bebê que não recebe bem todos esses cuidados, seja por falta ou
por excesso, corre o risco de ficar fixado nessa fase, trazendo prejuízos como ser uma pessoa
de grande insegurança afetiva, com medo (real ou imaginário) de ser abandonado, numa busca
constante por elogios, afeto, e por ser amado (DAMINI, 2018).

Nessa fase, então, o bebê precisa de um adulto (mãe/figura materna) que cuide dele,
para evoluir bem e tornar-se um adulto saudável. Para esse adulto, Winnicott (1956) dá o
nome de “mãe suficientemente boa”, que representa a figura disponível para responder às
necessidades do bebê quase que imediatamente, passando assim segurança e amor. Ela
também dá a falsa sensação de que é uma extensão do bebê, suprindo seus desejos, dando
gratificação e frustração equilibradamente.

A esse sentimento de segurança, Erik Erikson (1976) traduz o estágio de Confiança X


Desconfiança. É a partir desse sentimento de segurança passado pela mãe ao bebê, que ele vai
ser capaz de confiar em si, nas pessoas e no mundo, melhor adaptando-se nas suas relações
futuras, e seu amadurecimento ocorrerá de forma equilibrada.

A Fase Anal, segundo Freud (Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, 1905),
começa por volta dos 2 anos e dura até por volta dos 4 anos de idade, quando a base da
segurança psíquica e da formação de valores da criança se estruturam. Nesta segunda fase da
evolução da libido, estão em evidência para a criança o ânus, o trato intestinal e o trato
urinário, onde entram em cena também características defensivas e sádicas, naturais e
necessárias, como a agressividade, posse, egoísmo e dominação.

Para Marchese (2018), a criança de 2 anos já sabe da existência do outro, começa a


entender que ele não é o centro do universo, e que recebe ordens, e começa também a
formação do seu Ego Ideal, que são os valores passados para ele pela família, sociedade,
religião, etc.

Neste período a criança não entende o abstrato (ironias, sarcasmo, duplo sentido), o

13
que é dito sem nenhum cuidado pode ser mal-entendido, gerando angústia. É importante que
os pais entendam que a criança é totalmente literal.

Conforme Marchese (2018), ela passa a entender as fezes como sua produção, que
passam a funcionar como objeto, e buscam através dela segurança psíquica pela posse e
dominação, quando conseguir o controle dos esfíncteres. Com autonomia adquirida, a criança
passa a gostar do objeto cocô, então é necessário ensina-la cuidados e higiene, sem que isso
reprima seu potencial de produção e ela o veja como algo sujo.

Quando recebe os cuidados adequados, começa a aprender sobre controle (e


autocontrole), desenvolve um sadismo saudável (uso adequado da agressividade, como
determinação e persistência na vida), desprendendo-se do que não lhe serve ou não lhe faz
bem ao longo da vida, e também aprende sobre dominação, e a pensar no amanhã de forma
saudável.

A criança que ouviu que seu cocô era sujo ou não teve cuidados higiênicos pode
desenvolver agressividade destrutiva, não conseguindo expressar o que não lhe faz bem, ou
desenvolver passividade e covardia. Também se desenvolve o masoquismo, por não poder
evacuar naturalmente (MARCHESE, 2018).

Segundo Erik Erikson (1976), a criança de 2 anos vivencia o estágio da Autonomia X


Vergonha e dúvida, pois o controle de suas necessidades fisiológicas traz para a criança a
confiança e autonomia necessárias para tentar coisas novas sem medo de errar. A
disponibilidade e a tolerância dos pais para com os erros da criança nesse período são
fundamentais, contribuindo para que a mesma tenha vontade de fazer melhor. Em
contrapartida, a extrema rigidez e crítica leva à dúvida e vergonha de sua própria capacidade.

A Fase Fálica, segundo Freud (1905), tem início por volta dos 4 anos e vai até os 6
anos aproximadamente. É a terceira fase da evolução da libido, colocando o falo como
evidência, ou seja, a criança desenvolve um grande interesse pelas pessoas que, na sua
percepção, tem o domínio ou poder sobre as outras pessoas. E é assim que então ela pode
buscar se identificar com esse adulto que “manda mais”, que exerce maior poder em seu lar,
como um dos genitores. Outro motivo que explica o nome desta fase, é o grande interesse da
criança por seus genitais, sendo esta fase considerada a fase da descoberta dos genitais pela
criança (RAPPAPORT, FIORI e DAVIS, 1987).

Nesta fase está a base da formação do reconhecimento, da busca por ser amado,
valorizado e aceito. Nesse momento a criança quer fazer parte do triangulo familiar (pai, mãe
14
e filho) e é importante que, apesar de seu desejo de separar os pais, ela perceba e se sinta
segura de que este seu desejo e fantasias de destruir a união dos pais não serão concretizados,
pelo menos não por causa dela. Segundo Rappaport, Fiori e Davis (1987), quando o casal
decide se separar nesta fase de desenvolvimento do filho, é muito importante assegurar à
criança que ela não foi responsável pela separação, pois é nisto que ela tende a acreditar em
razão de seu pensamento ainda egocêntrico e onipotente.

É nesse período também que a criança experimenta sentimentos de ciúme, inveja e


rivalidade relacionada aos seus pais. Freud (1905) refere que nesta fase a criança vivencia o
que ele nomeou Complexo de Édipo: A menina vê a mãe como rival na disputa pelo amor do
pai, e o menino rivaliza com o pai o amor da mãe. Tais conflitos vão influenciar sua vida
emocional até a fase adulta. Segundo Melanie Klein (1960, p.100): “A psicanalise de adultos
revelou-me que os efeitos dessa primitiva vida de fantasias são duradouros, influenciando
profundamente o inconsciente do adulto. ”

Marchese (2018) afirma que ênfase é dada nos estudos psicanalíticos à personalidade
narcísica da criança da fase fálica (a menina percebe que é mulher como a mãe e o menino
que é homem como o pai), ela começa a prestar atenção nos órgãos sexuais dela e dos pais, e
buscar seu reconhecimento, amor e atenção como forma de aceitação.

Para Erikson, a criança entre 3 e 5 anos vivencia o estágio da Iniciativa X Culpa. Aqui
se marca a possibilidade de tomar iniciativas sem culpa. Quando reprimida e/ou castigada em
excesso nas suas curiosidades (sexual, intelectual, etc.), poderá desenvolver culpa, diminuindo
sua iniciativa de buscar novos conhecimentos e explorar novas situações.

A atenção satisfatória (afeto, envolvimento e limites bem estabelecidos) que os pais


dedicam ao filho, favorecem à criança o desenvolvimento de uma adequada autoestima,
vaidade e orgulho, sabendo reconhecer seus erros e acertos. A falta da atenção pode gerar
timidez ou introversão, sentimentos de inferioridade, bem como a necessidade de agradar os
outros (por busca de atenção e reconhecimento). O excesso de atenção pode gerar um
narcisismo crítico, exigindo muita atenção, sempre para si.

Após esse período, o indivíduo entra numa época de amadurecimento psíquico no


Período de Latência, onde há uma pausa no desenvolvimento da sexualidade. Ocorre a
sublimação (um desvio da libido para novos objetos) dos impulsos sexuais e a criança
demonstra maior capacidade de socialização e de ajustamento às regras de conduta. A criança
nesta fase é superegóica, ou seja, demonstra uma preocupação importante com seus
15
comportamentos, procurando ser elogiada por se comportar conforme o desejo de seus
educadores (pais, professores na escola).

Segundo Erik Erikson, a criança de 6 anos vivencia o estágio da Produtividade X


Inferioridade, pois sente-se capaz de produzir, logo, competente. Através da sociabilidade e
cooperatividade, desenvolve-se o sentimento de pertencer. A descrença em suas habilidades,
fomentada por atitudes de rigidez e excessiva exigência dos pais por perfeição de desempenho
da criança, pode leva-la a ter sentimentos de inferioridade e exclusão, sentimentos estes que
são prejudiciais ao desenvolvimento de sua personalidade.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para que seja melhor entendida a dinâmica do ciúme patológico, é necessária uma
reflexão acerca do processo de constituição do sujeito de acordo com a teoria psicanalítica,
bem como a importância do ciúme neste processo. Rios (2003) fala sobre o ciúme primordial,
do bebê em relação a mãe. O rompimento da relação mãe-bebê, com o avanço do
desenvolvimento, irá, segundo Rios (2003), proporcionar a ocorrência de eventos decisivos
para os processos de constituição do sujeito, que estão diretamente relacionados com a
vivência primordial do ciúme.

Sobre o ciúme e a infância, Skoloff (1954) afirma que o ciúme excessivo das pessoas
adultas, de caráter neurótico e irracional, tem sua real origem nos traumas ciumentos da
primeira infância. Melanie Klein (1960), afirma que a criança primeiramente experimente a
inveja, desejando o corpo fértil da mãe para si. Essa experiência é vivenciada até os dois anos.
Depois disso a criança começa a se dar conta da importância que o pai também tem na vida da
mãe, e o ciúme excessivo vai ocorrer, segundo Klein, quando a criança, mobilizada por um
incremento de seu próprio sadismo, fica impossibilitada de introjetar a mãe enquanto objeto
ideal, restando a ela a experiência da insegurança e da desconfiança do amor do outro e de sua
própria capacidade de amar.

Segundo Diogo (2009), o ciúme patológico guarda estreita relação com a autoestima
diminuída. Os pais podem iniciar logo cedo uma forma de construção da autoestima na vida
dos filhos, antes que o mundo externo tenha um impacto maior. A família é a instituição
social mais importante durante seu processo de formação. As mensagens que a criança recebe

16
da família devem ser de aceitação, valorização, sempre inspirando o outro, no caso o filho,
sobrinho, neto, enfim, as crianças do núcleo familiar, a se tornarem pessoas capazes de
estabelecer convívio social satisfatório, de respeito e consideração por si mesmo e pelos
outros. Quando a relação mãe, pai e filho for positiva, este último terá maior probabilidade de
adquirir o senso de segurança e autoconfiança que o acompanharão pelo resto da vida
(DIOGO, 2009).

As crianças precisam ser capazes de confiar em seus pais e os pais devem ser dignos
de confiança. A confiança se desenvolve quando os pais estão presentes na vida da criança de
modo qualitativo, ou seja, não adianta muito passar o dia todo fazendo companhia fisicamente
para a criança, mas distante afetiva e emocionalmente dela, como nos casos em que os pais
estão conectados em suas comunicações via internet e seus filhos estão do lado deles
fisicamente esperando uma atenção que não vem. Para que a confiança se desenvolva, as
crianças devem se sentir seguras. Depende dos pais a criação de um ambiente seguro para os
filhos. Ao criar segurança, os pais fortalecem os alicerces da confiança e da saúde. Um
ambiente inseguro é um solo fértil para o aparecimento de neuroses (BRAZELTON, 1988).

Em seu texto de 1933, sobre a Feminilidade, Freud declara que não importa o sexo da
criança, ela é cuidada por um semelhante. Esse papel de cuidador pode ser ocupado por
qualquer pessoa. A pessoa que sempre cuida da criança é o primeiro amor de sua vida,
proporcionando uma série de sensações de prazer. A criança reconhece que é o centro das
atenções até o momento que começa a perceber a existência de mais pessoas a sua volta,
podendo desenvolver esse sentimento ciumento.

Para a criança, que deixa de ser o centro das atenções da mãe (por volta do final do
primeiro ano de vida), e começa a perceber que a mãe tem uma vida além da relação que
existe entre eles de mãe-filho, o ciúme é um sentimento que naturalmente é experimentado,
ocorrendo também a repressão desse sentimento ao longo de sua vida. Nos casos em que esta
experiência infantil do ciúme foi exacerbada ou percebida como traumática porque a criança
não pôde, por exemplo, desfrutar da fantasia e às vezes nem da realidade de ter uma mãe só
pra ela, não pôde sentir-se única por algum tempo em seu desenvolvimento emocional, como
quando a mãe engravida de um outro filho quando o filho mais novo ainda nem completou 1
ano de vida, esta vivência então traumática pode predispor a criança ao ciúme patológico na
vida adulta posterior (FREUD, 1976, p. 271)

No entanto, Freud (1922) refere que a origem do ciúme patológico reside

17
consideravelmente na fase edipiana e seus conflitos, em especial no que se refere às
frustrações e conflitos que estão em torno do complexo de Édipo. Freud (1922), afirma que o
ciúme provém de reprimidas inclinações à infidelidade, provenientes das fantasias edipianas
de estar sendo infiel aos progenitores, em especial, o progenitor do mesmo sexo da criança.
Assim, o menino se culpa inconscientemente de trair a confiança de seu pai, a quem também
ama, desejando ter a mãe como sua namorada, e a menina sente-se culpada por trair a
confiança da mãe desejando seu parceiro amoroso.

A nível inconsciente, é como se o sujeito ciumento pensasse: “se eu pude trair a quem
amo, o que me garante que o mesmo não vai acontecer comigo? Afinal, até mereço este
castigo por ter sido infiel”. É esta crença inconsciente do sujeito ciumento que, segundo
Freud, o leva a angustiar-se em demasia no vínculo com a pessoa amada. Nada do que a
pessoa amada possa fazer ou dizer para convencê-lo de sua fidelidade, fará diferença em sua
dúvida patológica inconsciente. Conforme Freud (1922), apenas o rastreamento destas
lembranças infantis em torno de seu complexo de Édipo, poderiam ajuda-lo no sentido de
rever e mudar o comportamento de ciúme e necessidade de controle sobre a pessoa amada.

O ciúme serve à rejeição, por projeção, de dois tipos de impulsos: impulsos à


infidelidade x impulsos ao homossexualismo. Certamente ambos os impulsos desempenham
um papel no ciúme normal que pode desenvolver-se sempre que há uma necessidade de
reprimir impulsos à infidelidade e/ou ao homossexualismo e coincide com a característica de
intolerância à perda de amor (FREUD, 1922).

Klein (1960, p.90) afirma que a criança revela também um intenso sentimento de
ciúme para com os irmãos e irmãs, na medida em que também se apresentam como rivais no
amor dos pais, despertando conflitos entre impulsos agressivos e sentimentos de amor. Daí a
importância do cuidado que os pais devem tomar no sentido de não demonstrar sua predileção
por um dos filhos, ainda que realmente se identifique mais com o mesmo. O cumprimento de
regras de conduta que se espera de um dos filhos, deve ser solicitado de todos, inclusive
daquele com quem os pais se identificam mais, a fim de evitar fomentar o ciúme que
naturalmente é experimentado pelas crianças no vínculo com seus pais.

Ferreira-Santos (1996, p.25) refere que o comportamento dos pais de predileção a um


dos filhos ou sobrinhos, pode intensificar o ciúme do filho, gerando registros duradouros em
seu desenvolvimento. Pode acontecer de o ressentimento e as inseguranças geradas tornem a
criança uma pessoa hesitante e hostil em todas as situações que venha enfrentar até a fase

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adulta. Isso pode se intensificar ainda mais quando os pais inconscientemente demostram
predileção por um dos filhos.

Para Brito (2013) a criança pode assumir total desprezo para com o terceiro intruso da
relação (em especial, contra os irmãos ou primos), cometendo atos de violência como
beliscões, mordidas, e num nível patológico, tentativas de eliminação física, comportamentos
estes que tendem a ser transferidos e repetidos nas relações afetivas da vida adulta caso não
haja nenhum tipo de intervenção a esse respeito, como a busca por auxílio psicológico por
parte dos pais à criança ciumenta.

Segundo Stamateas (2010), o ciumento tem medo de perder porque não tem a
permissão interior de ter. É um sujeito que cresceu em um ambiente negligente, onde os pais o
desqualificavam e enganavam, não lhe permitindo experimentar novas situações, faltando
validação. Os pais, segundo este autor, devem bendizer os filhos. Isso surgirá como como
permissão para ter, viver e poder. Stamateas (2010) explica ainda a relação do ciúme como
consequência de uma das principais características que o ciumento apresenta: a baixa
autoestima. O sujeito ciumento acredita que não tem valor e que não merece respeito. Acha
que é alguém que a qualquer momento pode ser traído e abandonado, somando ainda fatores
como insegurança, medo, instabilidade e desorganização pessoal.

Mussen (1995) define a autoestima como um conjunto de juízos e valores que um


indivíduo atribui a aspectos de sua personalidade, suas habilidades e de sua imagem pessoal.
A figura dos pais tem papel fundamental na estruturação psíquica da criança e na constituição
da sua autoestima e do seu autoconceito, onde, através da fala, das atitudes e gestos dos pais
para com a criança, esta vai estabelecendo um vínculo de maior ou menor valorização de si
mesma. Ela precisa que seus pais/cuidadores lhe evidenciem suas boas características e
conquistas, para um melhor desenvolvimento da autoestima. As mensagens que ela recebe,
influenciam diretamente na construção do seu Ego Ideal (MUSSEN, 1995).

Conforme Brito (2016), é importante que se estabeleça uma comunicação positiva


entre a criança e seus pais. Pais que utilizam de expressões desafiadoras (mas não
humilhantes) e construtivas ajudam na construção de uma identidade confiante. A crítica
inadequada acaba reforçando as crenças de incapacidade e inferioridade. A comunicação deve
ser estabelecida no sentido de mostrar que sua capacidade é superior à dificuldade. Os pais
devem procurar estabelecer um modo positivo de comunicação, evitando frases do tipo “você
não é capaz de fazer algo”. Ao invés disso dizer que acredita no potencial da criança, para que

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ela crie em seu sistema psíquico a energia necessária para acreditar em si mesma.

Os pais também podem propor, segundo Brito (2016), uma parceria com a criança,
para que juntos cheguem à uma solução para o tema que é visto como problema, como “o que
podemos fazer para mudar isso juntos? ”, dessa forma a criança sente que os pais acreditam
em sua capacidade e criatividade para lidar com problemas, além de ser esta uma forma
saudável de expressar o amor que se sente pela criança, tornando-se um fator de proteção
contra o desenvolvimento do ciúme patológico.

Ainda de acordo com Brito (2016), separar a criança da sua conduta também pode ser
a forma ideal de se estimular uma mudança positiva, desaprovando dessa forma o
comportamento e não a pessoa, evitando rótulos que podem estigmatizar a criança, gerando
uma crença duradoura no psíquico dos filhos. Dizer que uma criança é barulhenta, por
exemplo não é a maneira ideal de apontar uma mudança no seu modo de agir. É necessário
que se separe o indivíduo da conduta que ela traz. Dizendo então “seria bom que você fizesse
menos barulho”, o responsável repara o fazer barulho como comportamento, enquanto
barulhento é identidade, desaprovando o comportamento e não o filho.

O diálogo entre pais e filhos deve acontecer sempre no caminho de mostrar que a
capacidade é maior em relação à situação a ser superada. Em momentos de dificuldade,
mostrar compreensão e solidariedade são importantes para a construção da autoestima do
indivíduo. Uma maneira eficaz de fazer isso é exaltar as habilidades da criança, reforçando
sua competência, tornando-a mais confiante e ciente do seu valor (BRITO, 2016).

Coopersith (1967, p.4) refere que uma pessoa com a autoestima elevada mantém uma
imagem constante de suas capacidades, e são menos preocupadas por medos e ambivalências,
orientando-se de maneira mais diretiva e realista em direção aos seus objetivos pessoais.

É importante salientar que para o desenvolvimento saudável da autoestima e outros


atributos psíquicos que vão influenciar nas atitudes que o sujeito vai adotar durante a vida
adulta nos relacionamentos que vir a estabelecer, a criança também precisa de um espaço
onde possa expressar sua raiva e ciúme de maneira que não sofra retaliação dos pais por causa
disso. Quando os pais dizem que o filho não pode sentir ciúmes e raiva, é o mesmo que pedir
que ele não sinta fome ou sede. Não há como controlar um disparo psíquico, mas, pode-se
aprender a manejar as ações quando esses disparos são acionados, como controlar um
comportamento agressivo quando sentir raiva (CAMINHO, 2017). Quando os pais são
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capazes de lidar com estes sentimentos da criança de forma adequada, ou seja, permitem ao
filho sentir tais sentimentos sem grande espanto ou indignação (não reagindo como se o filho
fosse um anjo e sim o ser humano que ele é), a criança não se sente inadequada e isto se
reflete de modo positivo em sua autoestima e favorece a adequada expressão de emoções e
sentimentos sempre que sentir necessidade de manifestá-los, sem que se sinta culpada por
assim se comportar.

Caminho (2017) se refere aos casos em que os pais reagem mal a qualquer
manifestação de agressividade da criança, levando a criança a inibir seus sentimentos
agressivos e não àqueles casos em que a criança sempre reage de forma agressiva e impulsiva
com grande dificuldade para conter suas emoções, o que indicaria sim a necessidade dos pais
agirem de modo a solicitar da criança maior capacidade de autocontrole. E mesmo nestes
casos, existem maneiras e maneiras de mostrar a uma criança seus comportamentos
inadequados, e que seja de preferência, conforme estudos de Winnicott (1956), de maneira
respeitosa, terna, ainda que de forma firme e séria, protegendo dessa forma a autoestima e o
autoconceito da criança e ao mesmo tempo sinalizando a ela que existe um limite que ela não
deve transpor na relação com os pais e com outras pessoas, que é a desobediência e a falta de
respeito para com eles e os outros. Segundo Winnicott (1956), é este limite que um dia foi
oferecido pelos pais na infância com todo o amor e respeito que eles têm (e tinham) por seu
filho, que pode possibilitar a ele hoje na vida adulta sentir-se responsável em conter seus
impulsos agressivos e destrutivos (como o ciúme patológico) de modo a proteger o seu
vínculo afetivo com as pessoas de seu convívio.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho possibilitou uma reflexão sobre os fatores que, durante o


desenvolvimento psíquico do indivíduo, acarretam no desenvolvimento do ciúme de forma
patológica.
A psicanalise pode contribuir no sentido de facilitar a construção do indivíduo com
seu Self Verdadeiro, viabilizando a sua expressão de forma genuína.
No contexto clinico, é apontada a necessidade de proporcionar ao homem ou mulher
que sofre com o ciúme patológico, a reflexão diante de seus complexos parentais, elaborando
uma conexão com sua autoestima, seus valores, levando-o (a) a superar a estrutura edípica,
fazendo o luto das suas feridas psíquicas.
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Através desta pesquisa teórica, foi possível compreender o que leva uma pessoa a agir
de forma a fracassar no controle de suas angústias (que em grande parte são motivadas por
experiências emocionais malsucedidas da infância) e a transgredir os limites necessários para
uma convivência humana harmoniosa e respeitosa, como é o caso do sujeito que manifesta o
ciúme doentio.
O medo que alguém sente de perder o outro ou sua necessidade de exclusividade sobre
ele é um sentimento egocêntrico, que pode ser associado à terrível sensação de um dia ter sido
o excluído na relação triangular estabelecida com seus pais na infância, mais precisamente na
fase edipiana do desenvolvimento.
O ciúme se caracteriza como um problema quando alcança proporções significativas e
negativas, que alterem a dinâmica do relacionamento. É importante ter a consciência que o
parceiro não é um instrumento transicional que vai curar as feridas infantis, e reconhecer que
embora a boa vontade em mudar seja um primeiro passo, buscar ajuda psicológica é
fundamental para lidar com essas questões de forma a receber o suporte psicológico
necessário para retomar o desenvolvimento emocional das etapas onde determinadas
experiências emocionais não puderam ser elaboradas e hoje se repetem por meio das
manifestações do ciúme patológico.

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