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Trabalho de Grupo de Arquitectura da

Antiguidade e Idade Média


A Origem e Evolução da Estrutura Urbana de Évora

Trabalho realizado por: Ana Silva

Ana Sofia Nero

Maria Matos
Introdução:
Évora é uma das cidades de Portugal que guarda dentro de si, no seu coração, um dos mais significativos e grandiosos conjuntos
urbanísticos e arquitectónicos da História de Portugal, constintuindo um dos mais preciosos reflexos da riqueza a nível de cultura portuguesa e
também a sua influência forasteira. Esta cidade, é um bom exemplo como elemento dinâmico de ligação entre o Homem e a Natureza, que é
um sistema de constante desenvolvimento ao longo dos tempos, e que é sujeito a alterações contínuas na sua fisionomia e no seu próprio
sistema. Dito por José Saramago, “Évora é principalmente um estado de espírito, aquele que [...] a fez defender quase sempre o lugar do
passado sem negar o presente o espaço que lhe é próprio”. Fazer e reconstituir a história desta cidade é um ponto que continua em constante
obscuridade que faz com que fiquem a pairar no ar todas as incertezas, as hipóteses e lendas que existem sobre a historigrafia. O seu próprio
nome – Ebora – que sugere uma fundação céltica, é como uma lenda, cheia de inigmas a descobrir com o tempo. A escassez de elementos,
tanto documentais, como arqueológicos, levam a percorrer uma esfera onde a hipótese é hegemónica, e cria incertezas sobre factos que
deveriam ser iluminados para que fossem dadas as certezas correctas e uma clarificação de toda a História de Évora.
Acredita-se que a estrutura urbana de Évora, teve o seu ponto de origem no período neolítico que é de facto desconhecida por falta de
factos reais que possam provar isso, mas apesar disso, pelos vestígios de alguns monumentos sagrados, possa afirmar-se que apresentava já
uma considerável ocupação humana, com uma área de implatação já notável. Esta área demonstrou desde muito cedo um potencial defensivo
e militar presente nas suas encostas e nas posições destacadas do terreno. O oppidum celta que antecedeu o período de romanização da
cidade é um bom exemplo de uma plataforma fortificada primitiva. É após a reconquista do território aos Romanos, tendo sido a época destes
que mais fascínio e enigma causou sobre o olhar contemporâneo que se detém da cidade, feita pelos mouros, na época medieval da cidade
em que se desenvolveu posteriormente durante essa época, devido à atribuição do seu foral, dando origem a uma planta radiocêntrica e a
maiores edificações. Évora nesta época, é totalmente assaltada por um crescimento em termos urbanos e monumentais, que levará, na
transição do século XVI, a ser considerada a 2ª cidade do país, uma residência permanente da corte e estância dilecta de reis, artistas e
pensadores.
Época Romana:
Évora é um dos mais significativos e belos exemplos da presença romana em Portugal. Coroada pelo, designado erradamente de
“Templo de Diana”, uma peça fundamental no entendimento da cidade, um dos maiores marcos da romanização em conjunto de outros
prováveis edifícios, e a zona ocupada pelo monumento era a zona mais elevada da cidade, dismistificando a sua denominação de “Diana”. Veja-
se agora um pequeno inventário de vestígios urbanos e arquitectónicos romanos, para que se possa começar a conhecer mais o envolvimento
urbano da cidade através de uma imagem psicológica transmitida, neste período que Évora se lançou ao seu desenvolvimento com os
Romanos, que vem mais tarde a ser desvendada a sua história através de vistígios construtivos:
 Templo Romano (actual Largo de Vila Flor)
 Termas Romanas (actual Praça do Sertório, Paços de Concelho)
 Domus – Casa Nobre de Burgos (actal Rua dos Burgos, Álcarcova de Cima)
 Calçada Romana com colunata – possível decumanum (actual Rua Vasco da Gama, ao auditório da fundação Eugénio de
Almeida)
 Rua 5 de Outubro – possível decumanum
 Eixo que parte da Porta de Moura até à proximidade da Torre das cinco quinas –cardum
 Porta e Rua de D. Isabel – Entrada da cidade e cardine
 Arruamento Romano (actual escadaria de acesso ao Largo da Sé)
 Pavimento em mármore do antigo Forum (Largo de Vila Flor, actual Museu de Évora)
 Muralha tardo-romana

Vestígios construtivos como estes, cosolidados pela arqueologia e pela historigrafia, conseguiram dar dez certezas da cidade antiga.

A cerca velha, romano-goda, foi construída pelos Romanos e reconstruída pelos Visigodos, e a sua própria construção não obdece a
vários moldes construtivos das fortificações romanas. Este circuito amuralhado tinha um comprimento de 1200 metros e confinava dentro de si
10 hectares de cidade e devido aos vestígios de uma domus romana, não se acredita que a cidade se bastasse pelo interior da muralha. Vitrúvio
sita, “A forma de uma Praça [aqui entendida como recinto muralhado] nunca deve ser nem quadrada, nem composta de Ângulos demasiado
avançados, mas ela deve fazer simplesmente uma cintura a fim de que o inimigo possa ser visto de vários locais, pois os ângulos avançados são
desapropriados para a defesa, e são mais favoráveis aos sitiantes, que aos cercados”
Todo o troço de muralha que abraça a zona do antigo castelo (actual Convento dos Lóios, Palácio dos Duques do Cadaval e Palácio de
São Miguel) até à Torre das Cinco Quinas,, bem como o que vai da torre Mouchinha (já destruída), passando pela Rua Conde Serra da Tourega
até à Porta de Moura, parecem sugerir a ideia da referida cintura Vitruviana. A mesma sensação ficamos ao localizar o troço que parte da
última zona até à Igreja de São Vincente; da Torre das 5 Quinas à Torre de São Paulo, consideradas duas torres de flanco da muralha, na zona
de Paçosdo Conselho, o traçado mantém-se consoante as orientações de Vitrúvio, mas, a inflexão para a antiga Porta da Rua da Selaria (que
precede a actual Rua 5 de Outubro) parece descabida face ao restante recinto muralhado. De um sistema de ângulos arredondados, a muralha
adopta uma vertente demasiado rectílinea denotando-se, portanto, várias lógicas da totalidade da linha amuralhada. Esta aquando comparada
com outras muralhas apresenta várias descrepancias sobre ela.

A Porta de Moura é apontada como cardo máximo de Évora Romanam e situava-se no lado Sul do circuito muralhado. A Porta encontra-
se bastante soterrada, subsistindo, ainda que não de uma forma visível, entre os cunhais das duas torres. A torre ocidental possui uma altura
de aproximadamente 15 metros até ao pavimento do terraço e as escadas de acesso aos espaços interiores, seguem a tipologia corrente da
arquitectura militar Romana sendo que o seu alinhamento coincide com a linha da muralha adjacente. E a Torre Oriental, também maciça na
base, mede aproximadamente 14 metros, até ao nível da sala que antecede o terraço de 17 metros de altura. De forma a aceder aos seus
espaços interiores é necessário percorrer uma apertada escada circular de granito que dão o seu acesso.

A Porta de D.Isabel, outra porta marcante de toda a muralha, possuía um arco de volta perfeita completo e continha em si duas torres
de flaco orientadas pelo lado exterior, com uma base quadrada de 15 pés romanos de lado. Este arco perfeito é constituído por 29 silhares de
granito, que uma vez intervalados com os silhares que compõem o arco pelo lado interior, formam ranhuras laterais, que por si permitiriam o
deslizar no seu interior de uma pesada grade ou porta de ferro, movimentada por cordas ou correntes de ferro. As torres que ladeavam o Arco
de D. Isabel e a Torre do Salvador, separados por uma distância de cerca de 55 metros, e neste ponto elevado da muralha tinham uma função
significativa e importante de defesa e protecção de território. Esta torre referida, era uma torre de base quadrangular constituída por grandes
muros de uma extrema força, e o seu acesso era feito pelo piso inferior, desde a cota base, e pelo facto de ter um grande aproveitamento
sobre o espaço encontrado nela, aponta para a torre ter sido já em tempos, uma simples habitação ou até um palácio. Esta torre tinha uma
ligação, aparentemente directa à torre do pertencente ao colégio São Paulo , que tinha um papel importante sobre a protecção e defesa da
Porta Nova, que tinha uma ligação com a torre seguinte, a torre de Sisebuto, feita através de um troço de muralha que percorria a zona, onde
actualmente se encontra o edifício em frente à Camâra Municipal. Na parte sul da torre, visível para a praça do Sertório, existe uma parede de
alvenaria que envolve a escadaria actual, e ao nível do segundo piso, encontra-se uma seteira, o que pressupõe uma possível e importante
forma de defesa sobre o recinto praça, o que deixa para trás um promenor, de que se a praça era ou não protegida por esta mesma torre.

As termas eram um espaço organizado segundo um sistema de planimetria ortogonal e os seus limites do complexo termal situar-se-
iam a Norte no meio da rua de Olivença, e a Este no espaço interno onde actualmente se localiza a entrada secundária da Câmara Municipal. As
termas representavam na cidade de Évora um símbolo do esplendor do mundo romano, e conjugavam de um ponto de vista arquitectónico a
nobreza dos materiais, com uma planificação dos espaços interiores, segundo o aglomerado populacional a que se destinavam. “O tamanho
dos banhos deve ser proporcional ao número de utentes: mas a sua proporção deve ter em atenção que a largura seja um terço inferior ao
comprimento, sem contar com o Repositório que envolve os Banhos, e o Corredor” (in Vitrúvio). Na área que foi escavada para aprofundar esta
existência de Termas, foi descoberta e realizada uma sala circular, bem como um laconicum – banhos de vapor, uma zona de fornalha –
praefurnium e uma enorme piscina – o natatium.

O Fórum, um símbolo de riqueza, um misto de monumentalidade e classicismo, constituía o pólo dinamizador da vida urbana em todos
os aspectos, tendo este as dimensões de 20 pés romanos (6 metros) de largura, e abrindo directamente para a zona do iluminado Templo, o
maior eixo da praça, precogniza uma das principais vias antigas da cidade. Na altura da sua descoberta foi considerada como decumanus
maximus da urbe, consideração sustentada pela perpendicularidade denotada entre esta via e os cardines conhecidos, nomeadamente, aquele
que percorre as actuais Ruas de Avis e da corredoura, e que entra pela cerca antiga da Porta de D. Isabel. Em pleno período medieval esta zona
da cidade, é “asfixiada” com sucessivas alterações, o que motivou a deslocação do eixo principal para a rua 5 de Outubro, cujo paralelismo terá
induzido, ao considerá-la como decumanus maximus da cidade. O Fórum da cidade era onde se praticavam os ritos sagrados, se administrava a
justiça e se desenvolviam as actividades comerciais, e na praça definida pelo templo, possuia ainda a curia (o Tribunal), o comitium (Senado
municipal) , o Aerarium (Tesouraria), e as tabernae (estabelecimentos comerciais), e sempre se levou a preocupação a nível de implantação de
edifícios. Adimensão dos espaço públicos demonstrava já a proporcionalidade em relação ao número de pessoas que usufruiam dele, tendo em
atenção não paracer nem demasiado pequeno em caso de grande massa populacional, ou de um muito vasto vazio. Além do Templo Romano,
encontram-se vestígios de uma antiga Basílica no Forum Romano, disse assim Vitrúvio, “As Basílicas existentes nas praças públicas, devem estar
situadas no local mais quente, a fim de aqueles que têm negócios durante o inverno, não sintam aí tanta incomodidade por esta razão. A sua
largura deve ter pelo menos a terça parte do seu comprimento, ou no máximo a metade, se o local não permitir observar esta proporção”. A
Basílica obedece a uma estrutura canónica de formato rectangular. Rodeada por uma colunata que define um deambulatório, a parte central
possui uma cobertura em lanternim trespassado por vãosadossados. De lado, terraços encimavam os pórticos periféricos, sendo estes espaços
de ligação ao interior do edifício. Tanto o espaço oposto ao Decumanum, bem como a lógia de urbanização axial Romana da Sé parecem
descrever espaços ideais para a existência de uma basílica.

Évora continha em si, um enorme estatuto social e político, o que leva a ponderar a possível hipótese da existência de variados edifícios
culturais, tendo também uma importância episcoal na Antiguidade Tardia. A nível topográfico o cabeço da cidade parece em algumas zonas
propício à implantação de um Complexo Teatral. Em planta verificamos que em algumas zonas a interrupção do casario define uma forma que
se adequa à visão de um espaço Teatral. A zona que inflecte em semi-círculo junto do espaço edificado rua de São Manços, e que envolve as
ruas do Cenáculo e Freiria de Baixo possui um considerável declive no terreno sendo o local ideal para a base de sustentação da bancada Norte.
Através desta disposição, este terreno seria aproveitado e a bancada quebraria os ventos que ameaçavam a zona de actuação.
Época Medieval:
Na História de Évora, com a ocupação romana, a cidade consolidou as suas artérias, definiu os seus espaços e estabeleceu os trâmites
que permitiram o seu crescimento urbano. A Évora Imperial era um local, já pautado pela garndiosidade clássica, cujos vestígios reminiscientes
constituem uma vaga herança de um municipium, consideralvelmente importante para Hispânia. Na realidade o desenvolvimento urbano de
Évora não foi sempre constante, teve os seus períodos de estagnação. No declinar do Império romano, as cidades reflectiram a conturbação
socio-militar que percorreu as províncias. A retracção do perímetro urbano, a sua confinação espacial a um recinto muralhado e a interrupção
de políticas de crescimento, corresponderam ao clima de cisão política e emancipação dos povosditos “bárbaros”, face ao reinado dos
romanos. O Cristianismo com o passar do tempo, foi influenciando e apoderando-se das mentalidades das populações, e tudo gerou “a
decomposição do mundo romano”. Após a reconquista da cidade, esta ganha o Palácio Real de São Francisco , como seu símbolo da função
real, o seu espaço continua a ser o mesmo, quer da cidade romana, como da cidade muçulmana, e é apartir deste núcleo primitivo da muralha,
com a consequente criação de arrebaldes, que passarão posteriormente a fazer parte da própria cidade. Contudo, é na zona do forum romano
e da alcáçova muçulmana que se erguerão alguns dos edifícios mais marcantes da cidade, como, a Sé, o primitivo edifício dos Paços do
Concelho e o Açougue instalado mais antigos da nobreza local.
Na Idade Média Évora sofreu um grande boom arquitectónico que ressaltou os seus primitivos limites, e esta crescerá a partir das
portas da primitiva cerca. Acrescenta-se a esta arquitectura uma construção da judiaria, ocupando no quadro urbano uma posição priviligiada,
graças ao seu papel dinimizador do ponto de vista económico, e a mouraria, que se situava numa posição inequivocante periférica, que se
coadunava com a marginalidade económica e social, imposta às comunidades mouras.
A cidade de Évora torna-se nun centro estratégico e político, sede da Ordem Militar de Avis e as cortes dos reinados de D Afonso II, D
Dinis, D Afonso IV, D Pedro I, D. Fernando fixam-se temporariamente em Évora –introduzindo-se assim o movimento migratório à cidade, que
cria uma maior malha urbana e é neste ponto que se começam a desenvolver marcas de desenvolvimento urbano como a Praça do Giraldo,
Portas de Moura, Conventos de São Francisco e de São Domingos, o velho aqueduto da Rua do Cano e mais tarde a Igreja de São Mamede.
A Cerca Romana-Goda, com um perímetro de 1080 metros, delimitava uma área de 10 hectares e o seu traçado formava um pentágono
irregular, cujos planeamentos ainda se mantêm em algumas partes do seu circuito, sendo o mais completo e bem preservado o da fachada
leste que serve de suporte ao Palácio dos Condes de Basto. Persistem igualmente alguns lanços da fachada norte como o que suporta o jardim
de Diana. Na fachada ocidental são visíveis os troços de muralha da porta nova e nas Alcárcovas de cima e de baixo, enquanto na face sul se
conserva um bom troço de muralha à porta de moura. De quando a quando, estas muralhas eram reforçadas por fortes torres que foram sendo
reconstruídas ate ao séc. XIV. Conservam-se por isso, mais ou menos alteradas, doze torres de proveniência romano-goda. A entrada neste
recinto fazia-se através de pontes em arco de volta perfeita (“arco dona Isabel” na idade média conhecido por “porta do talho do mouro”)
Dom Manuel fundou um castelo novo na banda meridional da fortificação, para que existisse a protecção devida e da existência Da
existência palpável do Castelo Medieval, são pedaços verdadeiros: as torres do Palácio dos Condes de Basto, de secção rectangular; uma de
suporte do quintal da Casa Cadaval; a formidável Torre Pentagonal, do lado Norte, de formosa janela germinada, do séc. XVI, coroada de
merlões de pirâmide; e a torre quadrada do Observatório Meteorológico, designada modernamente de Sertório. Uma das primitivas portas do
castelo (da Traição), voltada para a banda Norte e no local mais abrupto, foi revelada em 1944 durante as obras de reintegração da curiosa sala
quinhentista, com três tramos e seis colunas de capitéis fitomórficos, no extinto convento dos padres Lóios, sôtoposta ao Arquivo Distrital. A
portada, gótica chanfrada, de lanceta muito acentuada, dos fins do séc. XIII ou princípios do XIV, encontra-se completamente esmagada em
construções posteriores e acusa um desnivelamento do pavimento actual, de alguns metros, contudo, está intacta, embora dois robustos
botareus de alvenaria a dividam do interior para o exterior.
A Praça do Giraldo passa a ser considerada, com a expansão da cidade para fora das muralhas, torna-se o centro urbano da cidade,
onde se efectuaram, através dos séculos, as mais importantes solenidades profanas e religiosas. Foi nesta praça que o rei D. Duarte instituiu o
Paço dos Estaus, do qual ainda hoje se mantém assinaláveis vestígios góticos. A Praça do Giraldo está fortemente ligada ao campo em volta,
nesta altura a população ainda está muito dependente da agricultura, pois era local de excelência para o comércio, artesanato e serviços. Esta
praça era espaço de circulação principal (juntamente com a Rua João de Deus e actualmente com a Rua Serpa Pinto). As antigas estradas de
ligação ao exterior são vias urbanas, em redor quarteirões, dimensões e estruturas regulares, pontualmente quebradas por edifícios. Em
relação à sua designação, teve variados nomes conforme o seu uso: Terreiro da Feira de S. Tiago, Praça da Porta de Alconchel, apenas Praça
(1428), Praça do Pão (1481) , Praça da Água da Prata (1481), Praça Grande (1618), Praça Maior (1728), Praça Redonda (1833), e finalmente a
designação que ainda hoje conserva, Praça do Giraldo (1869).
As Portas de Moura eram a entrada sul do recinto fortificado (eixo “cardo máximo ” de Évora romana). A sua designação deriva da
orientação relativamente a Moura. Actualmente, a porta encontra-se bastante soterrada, onde se pode ver parte do primitivo arco
subterraneamente entre os cunhais das torres. Neste local, existe uma capela (invocada a S. Manços) virada sobre o percurso de entrada no
recinto amuralhado. Na praça localizada junto a esta porta existe uma fonte renascentista de 1556, atribuída ao arquitecto Diogo de Torralva.
Na casa do Cordovil existe um mirante do estilo manuelino-mudejar. As Portas de Moura englobam vestígios de fortificações romanas e árabes.
O bairro da Mouraria situava-se nas zonas de arrabalde da cidade, numa posição periférica devido à marginalidade económica e social
imposta às comunidades mouras. A comunidade moura fixa se nos quarteirões a norte da Igreja de S. Mamede, entre as ruas da Corredoura, da
Mouraria e das Alcaçarias. Hoje em dia, existem ainda alguns traços da antiga mouraria, como ruas estreitas com bruscos alargamentos nos
cruzamentos desencontrados, nos becos, nos pátios, pequenos quintais e pequenos e simples estabelecimentos comerciais.
Ocupação Islâmica:

No século VIII deu-se a ocupação islâmica do território da Península Ibérica (Al-Andaluz), não como invasão militar, mas como sucessão
de eventos, acima de tudo, mercantis e urbanos. Note-se que, na esfera militarista, a invasão mourisca, datada de 711, foi antes de mais um
fenómeno berbere. Devido à posição geográfica da península – extremo continental e contacto com o Norte de África – esta foi sempre alvo de
uma instabilidade étnica e alterações de povoamento que foram alterando e influenciando a sua cultura.
Na cultura muçulmana era dada supremacia ao mundo urbano face ao rural que foi, nesta época, aproximado à óptica citadina.
O território peninsular foi aberto à margem Sul do Mediterrâneo, ao Mali e Senegal, Médio Oriente e daí à Pérsia e Índia, através do comércio,
actividade de grande importância. Évora encontrava-se em situação geograficamente privilegiada para a troca comercial, pois nesta cidade
havia a confluência de eixos e rotas comerciais importantes. Funcionava assim como “zona tampão” entre Mérida, Santiago do Cacem e
Alcácer do Sal. Para além disso era uma região muito fértil, detentora de campos de olivais e pródiga em recursos cerealíferos. O seu poder
comercial e financeiro foi ao longo do tempo crescendo e com a ocupação muçulmana o seu cariz comercial foi vincado e convertida num
importante eixo mediador das principais vias mercantis.
A ocupação muçulmana em Évora (Yabura) é datada entre 713 e 716. Nesta deu-se a destruição parcial da muralha de fundação
romana ou até, segundo alguns relatos, total, permanecendo de origem romano-goda somente na base de assentamento. A questão coloca-se
essencialmente em o que é estrutura original e o que é reedificado.
No advento do século VIII, Elvora, era sede episcopal. Possuía a sua Basílica no ponto mas alto da “urbe”, onde hoje é o Museu da
cidade. Sobranceiro estava o Templo, possivelmente adaptado a igreja. A organização urbana seguia ainda a regularidade Clássica, sendo as
principais vias correspondentes ás actuais Rua Vasco da Gama, D. Isabel e 5 de Outubro. Era uma cidade com acentuada cariz religioso que
vivia da agro-pastoricia desenvolvida maioritariamente na periferia. Neste período, suevo-visigótico, era dada mais relevância ao mundo rural
face ao mundo urbano, desenvolvendo-se a periferia, o que veio a ser alterado com a ocupação muçulmana. Até à formação das primeiras
Taifas a cidade passou por uma rápida conquista mas lenta “islamização”, que não foi um corte abrupto com o passado e herança mas sim uma
gradual mudança civilizacional. Isto traduziu-se numa procura de estabilidade social que origina uma reestruturação urbana:

“Conquitada rapidamente la Península por los guerreros islâmicos, ocupadas muchas cidades mediante pactos y la mairoria de las
restantes después de assédios e muy destructores, no debieron de producirse en los tiempos inmediatos modificaciones de importância en la
pobre organización urbana. Lentamente iria cambiando com arreglo a dispociones importadas del oriente islâmico […] característica más
acusada […] era la fragmentación urbana […]”

Torres Balbás:

O desenho urbano romano-godo era agora aproximado à labiríntica “urbe” muçulmana, no entanto, nota-se que houve uma
permanência clássica. O desenho das principais vias foi parcialmente mantido, a maneira de ver as ruas que passavam agora para segundo
plano em detrimento da habitação foi a mudança fundamental e que mais marcou o crescimento da cidade. A habitação passava a ser a célula
primária do organismo urbano e surgiam os tortuosos arruamentos e “becos cegos” (a desembocar num pátio, de planimetria variável, e quase
sempre centrado num poço) resultantes da invasão do edificado sob as ruas. São muitas as marcas desta transformação urbana em Évora e
surgem alguns paradigmas, nomeadamente a Rua Alcárcova de Cima: o topónimo e configuração remetem para apropriação mourisca, no
entanto, estando fora do recinto muralhado, constitui um sintoma de urbanização do século XIV em torno da Praça do Giraldo. Percorrendo a
Rua 5 de Outubro podemos observar, em larga escala, a ideia de compartimentação de espaços. São visíveis várias ligações, que parecem ter
encerrado, em tempos, ligação a pátios internos, e preservados ainda dois destes elementos. Numa transversal a esta Rua encontra-se o Beco
da Espinhosa que, delimitado por uma parede abre para um grande pátio interno de formato quadrangular que possui ainda um poço no
centro. Um pouco mais acima pode ver-se uma entrada, com configuração semelhante, que abre para um espaço interior, aberto e
subdividido. Também pela largura das ruas principais e secundárias da cidade, que correspondem aproximadamente ás estandardizadas pelos
muçulmanos, podemos ver que as normas de “urbe” islâmica foram seguidas. Apesar das alterações, a lógica de continuidade do desenho foi
mantida nesta transmutação da ortogonalidade romana para a “anarquia” islâmica.

Na organização de uma cidade muçulmana podem destacar-se três elementos como os mais importantes: a Alcáçova, a
Mesquita e o suq. Em Évora existem portanto marcas, ainda que algumas hipotéticas destes. No sítio onde se situam hoje o Palácio dos Duques
de Cadaval, o Solar dos Condes de Basto e o Pátio de S. Miguel erguer-se-ia a Alcáçova, a partir da Torre das Cinco Quinas. Quanto à Mesquita
existem muitas suposições mas nenhuma certeza. Estas foram feitas à base do conhecimento do desenho, formatos, enquadramento habitual
das Mesquitas em praça pública e orientação habitual destas (Meca). Uma hipótese plausível para a localização é a do actual Museu junto ao
Templo, outra seria a de aproveitamento de antigas igrejas sendo estas as de S. Pedro e S. Tiago que se encontram orientadas para Meca e que
possuem estratos de ocupação do século VI. Segundo alguns autores a Mesquita poderia ainda localizar-se onde se apresenta hoje a Sé. Por
ultimo temos o suq. Este seria um eixo fundamental na organização urbana. Algumas ruas, normalmente as principais, eram deixadas livres
para a aglomeração dos vários ofícios. Era habitualmente o centro da cidade e constituía um ponto muito importante no seu desenvolvimento.
Indubitavelmente teria uma grande importância em Évora visto esta manter o seu carácter de cidade agrícola ao longo dos tempos, ate mesmo
regressar ás “mãos” dos cristãos no século XII. A lógica leva-nos a crer que o suq seria na Rua 5 de Outubro, no entanto, esta consideração não
é unânime pois há autores que defendem que este seria na Rua Diogo Cão. Unânime é a consideração de suq como elemento ligante entre a
Mesquita e as Portas da cidade. Mais tarde sabemos que foi instalado um açougue (evolução toponímica de suq) no Pátio do Salema.
“O período muçulmano em Évora constitui um singular momento da sua evolução histórica que, para alem de representar uma ruptura,
estabeleceu a plataforma decisiva para a sua continuidade baixo-medieval, sem renegar (na totalidade), contudo, as heranças do domínio
romano-godo”. Onde mais ficou marcada a simbiose andaluza foi nos volumes, técnicas construtivas, complementos funcionais e decorativos.
Sem ela seria inexplicável a arte mudéjar e o chamado gótico alentejano.
O período de domínio muçulmano em Portugal acaba no século XII com a Reconquista. Nesta época o que se verificava nas cidades era
uma aproximação progressiva do campo à zona urbana que era o reflexo do instável período militar em que se vivia. No entanto parece-nos
que antes do século X, Évora teria uma disseminação extra-muros mínima. Após 914 deu-se um grande crescimento da cidade sob a alçada de
Badajoz. Era agora considerada uma das grandes da Hispânia e o seu crescimento estava apoiado na exploração agrícola que sugere
desenvolvimento da periferia da cidade. Os arrabaldes eram o eixo de ligação entre a parte rural e urbana, constituindo em conjunto um todo
interligado. A Reconquista levou quase à extinção das manifestações artísticas e arquitectónicas muçulmanas, no entanto, herdamos a língua
escrita/falada, o direito, formas de arte posteriores, sistema familiar, traje e alimentação.

“A cidade, como suporte ideológico e zona de confluência sócio-cultural, é receptora e, simultaneamente, vítima de contextos
históricos. Adequa-se a estes, transpondo por via física a pulsação civilizacional dos tempos. No entanto, ao falarmos de cidade,
nomeadamente de Évora, temos que a conjugar como conceito de aculturação. A preservação de todo um conjunto de elementos, alguns mais
perceptíveis que outros, denuncia um espaço urbano que, consecutivamente, se adaptou a novas situações e períodos históricos”

A evolução urbana do centro histórico de Évora, contributos para o seu conhecimento séc. I a.C. – XII d.C. (1166)
Bibliografia:

 Val-Flores, Gustavo Silva, Yabura, Vol. I e II


 Val-Flores, Gustavo Silva, A evolução urbana do centro histórico de Évora, contributos para o seu conhecimento séc. I a.C. – XII
d.C. (1166)

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