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VIDA E OBRA DE LUÍS DE CAMÕES

CAMÕES LÍRICO
VIDA E OBRA CAMÕES
Existem poucas
CAMÕES LÍRICO certezas quanto `s

Luís Vaz de Camões nasceu provavelmente e Lisboa, em 1524 ou vifs fr Luís Vaz de
1525, no seio de uma família da pequena nobreza. Não se sabe ao
certo onde terá vivido nos primeiros anos, mas admite-se que terá Camões, pois as
estudado em Coimbra, porque nessa altura o seu tio, D. Bento
informações sobre a
Camões, era prior do mosteiro de Santa Cruz.
sua biografia
Entre 1545 e 1548, partiu para Lisboa e aí frequentou a corte de D.
João III e salões da alta nobreza, onde ganhou fama de bom poeta. baseiam-se num

A sua provável ligação à casa do conde de Linhares, D. Francisco de número limitado de


Noronha, ditou a viagem para Ceuta, em 1549. Aí permaneceu até
1551, cumprindo funções militares, e também terá perdido um dos documentos e em
olhos em combate.
breves referências
De volta a Lisboa, Camões regressou ao Paço, mas, graças ao seu
dos seus
feitio altivo e ao seu orgulho acentuado, envolveu-se numa rixa,
ferindo um moço do Paço, o que determinou a sua prisão. Quando, contemporâneos.
em 1552, foi libertado, por perdão régio, partiu para a Índia, na armada
de Fernão Alvares Cabral. Contudo, segue aqui

Na Índia, participou em expedições militares e embarcou na armada um resumo do que se


qu patrulhou o mar Vermelho. Mais tarde, tendo como objetivo
pensa ter sido o seu
melhorar as condições de vida, partiu para Macau, onde
desempenhou o cargo de provedor dos defuntos. No regresso a Goa, percurso de vida.
em 1558 ou 1559, a embarcação onde seguia naufragou na foz do rio
Mekong. A este episódio aludiu o poeta na estrofe 128 do Canto X da
epopeia.

A situação de penúria que teve de enfrentar em Goa e as dívidas que acumulou levaram-no, de novo,
à prisão. Em 1567, partiu para Moçambique, onde voltou a enfrentar dificuldades. Foi Diogo do Couto
que, ao passar por Moçambique e vendo que o poeta vivia na miséria e da boa vontade de amigos,
o trouxe de volta para Portugal

Assim, em 1569, após 16 anos de desterro, regressou a Lisboa. Só três anos mais tardes conseguiu
obter a publicação da primeira edição d’Os Lusíadas, que lhe valeu de D. Sebastião, a quem era
dedicado, uma tença anual de 15 000 réis pelo prazo de três anos e renovado pela última vez em
1582 a favor de sua mãe, que lhe sobreviveu.

Os últimos anos de Camões foram amargurados pela doença e pela miséria. Reza a tradição que se
não morreu de fome foi devido à solicitude de um escravo Jau, trazido da Índia, que ia de noite, sem
o poeta saber, mendigar de porta em porta o pão do dia seguinte. O certo é que morreu a 10 de junho
de 1580, sendo o seu enterro feito a expensas de uma instituição de beneficência, a Companhia dos
Cortesãos. Um fidalgo letrado seu amigo mandou inscrever-lhe na campa rasa um epitáfio
1
significativo: “Aqui jaz de Camões, príncipe dos poetas do seu tempo. Viveu pobre e miseravelmente,
e assim morreu.

Se a escassez de documentos e os registos autobiográficos da sua obra ajudaram a construir uma


imagem lendária do poeta miserável, exilado e infeliz no amor, que foi exaltada pelos românicos
(Camões, o poeta maldito, vítima do destino, incompreendido, abandonado pelo amor e solitário),
uma outra faceta ressalta da sua vida. É, de facto, Camões um homem determinado, humanista,
pensador, viajado, aventureiro, experiente, que se deslumbra com a descoberta de novos mundos e
de “Outro ser civilizacional”. Por isso, diz Jorge de Sena: “Se pouco sabemos de Camões,
biograficamente falando, tudo sabemos da sua persona poética, já que muitos poetas em qualquer
tempo transformaram a sua própria experiência e pensamento numa tal reveladora obra de arte como
a poesia de Camões é”.

2
INFLUÊNCIA PETRARQUISTA
Francesco Petrarca, poeta e humanista italiano, nascido no século XIV, em Arezzo, influenciou
profundamente a poesia de poetas vindouros, com especial destaque para Luís de Camões.

A influência de Petrarca em Camões incide em vários aspetos da sua obra. A sua influência reflete-
se, em primeiro lugar, na conceção do Amor e da Mulher. Acima de tudo, o Amor petrarquista, de raíz
neoplatónica, gera harmonia, proporciona conhecimento cognitivo e espiritual, e é redentor. Por isso,
deve ser vivido e entendido em si mesmo. A mulher, pela sua beleza e perfeição, permite ao homem
cultivar o amor. Ela deve ser apenas contemplada e a distância que os separa favorece a pureza
espiritual do sentimento. Por isso, o amor ideal assenta na negação do desejo, do amor sensual,
vivido e experimentado.

Esta negação dá lugar a um duplo sentimento do prazer e sofrimento, que atravessa aquele que ama.
A superação desta contradição, que trará paz ao poeta, tem apenas lugar na esperança de que depois
da morte terá lugar a fusão sublime das almas.

Camões retratou a mulher, à imagem da Laura de Petrarca, bela, intocável e inatingível. Cantou
também o amor, como negação do desejo e da presença física da amada, e os seus efeitos
contraditórios. A influência de Petrarca faz-se sentir, em segundo lugar, na importância dada ao
princípio da imitatio vitae. De acordo com este princípio, a poesia deve ser uma imitação da história
da vida do poeta, desse ser um reflexo da sua experiência. A poesia desempenha, desta forma, um
papel crucial, porque através da escrita o poeta leva a cabo um processo de autoconhecimento que
lhe permite analisar as contradições causadas pelo amor. A memória desempenha neste processo
um importante papel, porque permite ao poeta recuperar o seu passado, resgatar acontecimentos do
esquecimento e inscrevê-los no fluir do tempo.

Também Camões insiste em alguns versos que a sua poesia resulta das “verdades puras” da sua
própria vida e também ele dá relevo à memória. Em Camões, as “memórias” e a “lembrança”
relacionam-se diretamente com a passagem do tempo e a transitoriedade do amor. É necessário,
todavia, considerar que o princípio da imitatio vitae é um recurso estético desta época e que este não
deve conduzir a uma leitura autobiográfica da sua obra. De facto, ler os seus poemas à luz da sua
vida, do seu percurso ou do seu temperamento não é correto.

Para os leitores, um poema tem mais valor se for verdadeiro. Era esta ilusão de verdade que os seus
poemas pretendiam criar ao referir reiteradamente que a poesia era o reflexo da vida. No entanto,
integrando os códigos literários do petrarquismo, a verdade é exatamente o oposto. A poesia cria a
vida e não o inverso.

De Petrarca, herdou também Camões o dolce stil nuovo, um novo tipo de verso e de composição
poética. O verso que se tornou mais popular foi o decassílabo (verso de dez sílabas, acentuado na
4ª e na 8ª sílabas), mas também o hendecassílabo (verso de onze sílabas, acentuado na 6ª sílaba).
Entre as composições poéticas, podemos encontrar o soneto, com duas quadras e dois tercetos, a
canção ou a sextina, que Camões também cultivou.
3
TEMAS DA LÍRICA CAMONIANA

O Amor e o Destino são dois temas que estão que estão no âmago da lírica de Luís de Camões, um
poeta que, de acordo com o poeta e crítico alemão August-Wilhelm Schlegel, “só por si, vale uma
literatura inteira”.

A poesia de Camões pode ser lida à luz de duas coordenadas fundamentais: por um lado, as
tendências estético-literárias do seu tempo – a poesia tradicional, a cultura clássica e os códigos do
petrarquismo e do neoplatonismo; por outro lado, a sua experiência de vida, marcada pelos
sentimentos e contradições que atravessavam a Europa na época e, sobretudo, Portugal, na segunda
metade do século XVI – um país que vivia à sombra da grandeza proporcionada pelos
Descobrimentos e pela conquista, onde se pressentiam já sinais de decadência.

Da colisão destas duas coordenadas resulta a sua poesia, cheia de tensões e contradições.

O Amor é o tema privilegiado de toda a lírica camoniana. Todavia, este manifesta-se de forma
contraditória. É na sua expressão que se pressente a superação dos códigos italianizantes. Ao invés
de um amor que traz harmonia, conhecimento e redenção, o amor é, por vezes. Dissídio. É um amor
cego, é tormenta e desconcerto. Surge frequentemente associado à Fortuna, ao Fado ou ao Destino,
aqui entendidos como entidades míticas que condicionam negativamente a vida do poeta.

Este amor entra em conflito com a razão, a mais importante faculdade do homem, que lhe permite
superar o nível dos sentidos e ascender ao nível do intelecto. Sem ela, o homem fica preso ao mundo
sensível, permeável ao engano e à cegueira.

A própria conceção da mulher é contraditória. Há poemas que espelham a influência de uma


conceção de mulher petrarquista, inspirada na imagem de Laura, a personificação do bem e da
beleza, outros há que refletem uma conceção diferente. Por isso, é possível também encontrar nos
poemas de Camões uma mulher real, concretizada na figura de Vénus, que rende o homem através
do apelo aos sentidos e ao desejo.

Esta dupla conceção de amor e de mulher pode ser entendida como a expressão de uma crise de
racionalidade no poeta, que afirma e reproduz os ideais renascentistas do homem e do mundo que
serviram de enquadramento ao pensamento que lhe era contemporâneo e, simultaneamente, os
coloca em questão. É, então, o resultado do pessimismo e da crise de racionalidade que assinala a
segunda metade do século XVI europeu.
4
AS CORRENTES TRADICIONAL E RENASCENTISTA DA
LÍRICA CAMONIANA
Corrente Tradicional Corrente renascentista (a
(influência dos temas da poesia influência greco-latina e
trovadoresca e das formas da italiana)
poesia palaciana)

• A saudade; • O petrarquismo
• O sofrimento amoroso • O amor platónico
• O tema da donzela que vai à • A sensualidade
fonte • A beleza divinal
Os temas:
• O ambiente pastoril • A saudade
• O ambiente cortesão • O destino
• O humorismo • A mudança
• O desconcerto do mundo

Medida velha – isso do verso de 5 Medida nova – uso do verso de


sílabas métricas – redondilha 10 sílabas métricas –
O verso: menor – e de 7 – redondilha maior. decassílabo – de acentuação
nas 6ª e 10ª sílabas (heroico) ou
nas 4ª, 8ª ou 10ª sílabas (sáfico)

• Vilancete • Soneto
• Cantiga • Canção
A variedade estrófica: • Esparsa • Écloga
• Trova • Elegia
• Endecha • Ode
5
EXERCÍCIOS
(100 PONTOS)
GRUPO I

Lê o texto a seguir transcrito, constituído pelas estâncias 80 a 82 e 89 a 91 do Canto X de Os


Lusíadas. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário apresentado.

80 “Vês aqui a grande máquina do Mundo,


Etérea e elemental1, que fabricada
Assi foi do Saber, alto e profundo,
Que2 é sem princípio e meta limitada.
Quem cerca em derredor este rotundo
Globo e sua superfícia tão limada,
É Deus: mas o que é Deus, ninguém o entende,
Que a tanto o engenho humano não se estende.

81 “Este orbe que, primeiro, vai cercando


Os outros mais pequenos que em si tem,
Que está com luz tão clara radiando
Que a vista cega e a mente vil também,
Empíreo3 se nomeia, onde logrando4
Puras almas estão daquele Bem
Tamanho, que ele só se entende e alcança,
De quem não há no mundo semelhança.

82 “Aqui, só verdadeiros, gloriosos


Divos5 estão, porque eu, Saturno6 e Jano7,
Júpiter, Juno, fomos fabulosos,
Fingidos de mortal e cego engano.
Só pera fazer versos deleitosos
Servimos; e, se mais o trato humano
Nos pode dar, é só que o nome nosso
Nestas estrelas pôs o engenho vosso.
[…]

89 “Debaxo deste grande Firmamento,


Vês o céu de Saturno, Deus antigo;
Júpiter logo faz o movimento,
E Marte abaxo, bélico inimigo;
O claro Olho do céu, no quarto assento,
E Vénus, que os amores traz consigo;
Mercúrio, de eloquência soberana;8
Com três rostos, debaxo vai Diana.9
6
90 “Em todos estes orbes, diferente
Curso verás, nuns grave10 e noutros leve11;
Ora fogem do Centro longamente12,
Ora da Terra estão caminho breve,
Bem como quis o Padre omnipotente,
Que o fogo fez e o ar, o vento e neve,
Os quais verás que jazem mais a dentro
E tem co Mar a Terra por seu centro.

91 “Neste centro, pousada dos humanos,


Que não somente, ousados, se contentam
De sofrerem da terra firme os danos,
Mas inda o mar instábil exprimentam,
Verás as várias partes, que os insanos
Mares dividem, onde se apousentam
Várias nações que mandam vários Reis,
Vários costumes seus e várias leis13.

Luís de Camões, Os Lusíadas, leitura, prefácio e notas de Álvaro Júlio da Costa Pimpão,
apresentação de Aníbal Pinto de Castro,
Lisboa, Ministério da Educação, 1989 [pp. 267, 269]

1. elemental: formada pelos quatro elementos.


2. Que: Porque.
3. Empíreo: Paraíso cristão.
4. logrando: usufruindo.
5. Divos: Santos.
6. Saturno: filho do Céu e da Terra.
7. Jano: filho de Apolo, com capacidade para adivinhar o passado e o presente.
8. vv. 1-7: Sete Céus.
9. Lua: três rostos – lua cheia, quarto minguante, quarto crescente.
10. grave: lento.
11. leve: rápido.
12. longamente: a grande distância.
13. leis: religiões.

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.

1. Localiza o excerto na estrutura interna de Os Lusíadas. (20 PONTOS)

2. Interpreta o sentido da estância 82. (20 PONTOS)

3. Explicita a forma como o cosmos é representado nestas estâncias. (20 PONTOS)

4. Comenta a expressividade do recurso à mitologia na estância 89. (20 PONTOS)

5. Mostra de que forma a contemplação da Máquina do Mundo contribui para


o processo de mitificação do herói de Os Lusíadas. (20 PONTOS)
7
(50 PONTOS)
GRUPO II

Lê o texto seguinte.

Camões e o ano da astronomia

Nos objetivos explicitados pela UNESCO ao declarar o ano de 2009 como Ano Internacional da
Astronomia inclui-se a evocação de testemunhos patrimoniais de factos astronómicos – físicos ou
imateriais – que tenham produzido marcos na história da ciência ou da cultura de povos. Nesta
perspetiva, Camões, como autor da obra maior da literatura portuguesa, não poderá deixar de ser
evocado, particularmente neste mês de julho, em que se situa a data da partida de Vasco da Gama
para a Índia, facto que o poeta descreve como o maior feito dos portugueses.
Na verdade, Camões exprime factos astronómicos – alguns deles ainda hoje fora do domínio do
cidadão comum – com rigor tal que só um conhecimento profundo permitiria integrar na estrutura
de Os Lusíadas sem afetar o rigor científico. Por exemplo, o movimento de precessão da Terra –
impulsionado pela nona esfera (exterior à “oitava esfera” ou “firmamento”) – que origina a alteração
regular da posição do polo celeste em relação às estrelas e cujo deslocamento é de 28 segundos
de arco por século, é referido pelo poeta, que arredonda esse valor para meio grau (30 segundos)
para, assim, obter um grau (“um passo”) em cada duzentos anos: “Que enquanto Febo, de luz nunca
escasso, / Duzentos cursos faz, dá ele um passo.” (X, 86).
Obviamente, a citação das duzentas voltas (“cursos”) que o Sol (“Febo”) dá à Terra recorda o
facto de Camões ter adotado o conceito geocêntrico (segundo o qual a Terra era suposta no
centro do Mundo), dado que a aceitação da ideia de Copérnico (o heliocentrismo) só começou a
generalizar-se depois de o poeta ter assimilado os conhecimentos que lhe permitiram estruturar a
sua obra.
Tal movimento da Terra – cujas consequências só são percetíveis ao longo de séculos – é
responsável não só pela alteração da posição do polo celeste (o ponto do céu em torno do qual
todas as estrelas parecem girar), em relação às estrelas, mas ainda pelo facto de o Sol se projetar
– em determinada data – na direção de estrelas que não serão as mesmas, século após século.
Por isso, a 8 de julho dos anos da época atual, o Sol projeta-se na direção de estrelas da
constelação dos Gémeos, tendo já estado – na mesma data – no Caranguejo, posição que ocupava
na ocasião da partida de Vasco da Gama para a Índia. No entanto, devido à discrepância entre
datas e constelações nas quais o Sol se projeta, Camões cita a entrada do Sol (o “eterno lume”) na
constelação do Leão (numa referência à lenda do leão de Nemeia), sendo também curiosa a forma
como se refere à data da largada da armada de Lisboa para a Índia: “Entrava neste tempo o eterno
lume / No animal Nemeio truculento; / […] / Cursos do Sol catorze vezes cento, / com mais noventa
e sete, em que corria, / Quando no mar a armada se estendia.” (V, 2).

Máximo Ferreira, Super Interessante, n.º 135, julho de 2009


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1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.7., seleciona a opção correta.

Escreve, na folha de respostas, o número de cada item e a letra que identifica a opção escolhida.
1.1. Este texto pertence ao género textual (5 PONTOS)

a. apreciação crítica.
b. exposição sobre um tema.
c. síntese.
d. relato de viagem.
1.2. Na expressão “Camões, como autor da obra maior da literatura portuguesa, não poderá
deixar de ser evocado, particularmente neste mês de julho, em que se situa a data da
partida de Vasco da Gama para a Índia” (ll. 4-6), o valor deíctico é marcado por (5 PONTOS)

a. “Camões”.
b. “neste mês de julho”.
c. “em que se situa”.
d. “a data da partida de Vasco da Gama para a Índia”.
1.3. O marcador discursivo “Na verdade” (l. 8) utiliza-se para (5 PONTOS)

a. confirmar uma afirmação apresentada no parágrafo anterior.


b. reformular algo que foi dito no final do parágrafo anterior.
c. estabelecer uma relação de causa-efeito relativamente à informação apresentada
no parágrafo anterior.
d. apresentar uma restrição ao que foi dito no parágrafo anterior.
1.4. Nas linhas 11 e 12, as aspas são utilizadas para delimitar (5 PONTOS)

a. arcaísmos.
b. neologismos.
c. palavras utilizadas com sentido conotativo.
d. citações de Os Lusíadas.
1.5. O advérbio “Obviamente” (l. 17) marca, relativamente ao que vai ser dito, (5 PONTOS)

a. a concordância do autor.
b. a discordância do autor.
c. o desinteresse do autor.
d. a desaprovação do autor.
1.6. Para Máximo Ferreira, a adoção do modelo geocêntrico por parte de Camões revela (5 PONTOS)

a. a desvalorização dos factos astronómicos em oposição à valorização excessiva da


harmonia da estrutura interna da epopeia.
b. a ignorância do poeta relativamente a um facto já conhecido na época em que
Os Lusíadas foram escritos.
c. a aceitação de uma crença da época.
d. a descrença no modelo heliocêntrico proposto por Ptolomeu.
1.7. O determinante relativo “cujas” (l. 22) tem como antecedente (5 PONTOS)

a. “a sua obra” (l. 21).


b. “Tal movimento da Terra” (l. 22).
c. “a Terra” (l. 22).
d. “consequências” (l. 22).
9
2. Responde aos itens apresentados.
2.1. Classifica a palavra “UNESCO” (l. 1) quanto ao processo de formação que lhe deu
origem. (5 PONTOS)

2.2. Identifica a função sintática desempenhada pelo constituinte frásico “de Vasco
da Gama” (l. 6). (5 PONTOS)

2.3. Classifica a oração “que arredonda esse valor para meio grau” (l. 14). (5 PONTOS)

(50 PONTOS)
GRUPO III

Sintetiza o texto abaixo, constituído por trezentas e noventa e quatro palavras, num texto que
contenha entre cem e cento e trinta palavras.

Astronomia de “Os Lusíadas”

Em 1972, por ocasião das comemorações do IV centenário da publicação de Os Lusíadas,


a então Junta de Investigações do Ultramar promoveu a reedição da obra A Astronomia de
“Os Lusíadas”, esgotada muito tempo antes e considerada “fundamental para a análise do
Poeta”. Trabalho publicado inicialmente na Revista da Universidade de Coimbra, de 1913 a
5 1915, e depois integrado nas Obras Completas do autor, em 1943, a sua reposição constituiu
iniciativa notável para a preservação e divulgação de um estudo que evidencia uma das di-
versas áreas do conhecimento em que Camões revela um saber profundo, dir-se-ia mesmo
“completo”, de tudo o que então era tido como certo, no domínio da Astronomia.
Ao longo de dez secções, a obra apresenta a interpretação do seu autor – Luciano Pereira da
10 Silva, professor de matemática na Universidade de Coimbra na transição entre os séculos XIX e
XX, que dedicou muitos anos à “investigação em História da Astronomia e da Arte de Navegar”
– com rigor e clareza que deliciam quem, tendo estudado a obra de Camões, terá, certamente,
sentido dificuldades em entender conteúdos, apesar de o poeta ter deles o conhecimento sem
o qual não seria possível cumprir exigências poéticas sem faltar ao rigor dos factos.
15 Por exemplo, a data da saída de Vasco da Gama de Lisboa em direção à Índia – 8 de
julho de 1497 – é descrita pelo poeta com base no conhecimento da posição do Sol em
relação aos signos (não das constelações) do Zodíaco: “Entrava neste tempo o eterno
lume, / No animal Nemeio truculento, / […] / Cursos do Sol catorze vezes cento, / Com
mais noventa e sete […]”. Na verdade o Sol (o “eterno lume”) “entrava” então na constela-
5 ção do Caranguejo, região da esfera celeste que a generalidade dos astrólogos considera
“dominada” pelo Leão, o animal lendário que aterrorizou os habitantes de Nemeia.
Antecedida por um prefácio de um outro notável professor de matemática da mesma
universidade e também ele muito dedicado à “história das navegações” – Luís de Albu-querque
–, a obra evidencia conceitos bem conhecidos por Camões e ainda hoje não
10 completamente entendidos por uma larga faixa de investigadores e curiosos da sua obra,
como a precessão dos equinócios e as suas consequências, os “regimentos” da Polar ou
do Cruzeiro ou a razão por que quase todos os astrolábios da época dos descobrimentos
eram graduados no sentido contrário ao da medição da altura dos astros.

Máximo Ferreira, Super Interessante, n.º 147, julho de 2010


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