Você está na página 1de 17

PACIENTE ONCOLÓGICO E SEUS DIREITOS

O Direito - entendido como o conjunto de normas que regulam nossa vida, as relações entre os particulares e
o público, as relações patrimoniais e extrapatrimoniais - está presente no nosso dia a dia, desde antes de
nosso nascimento até após nossa passagem, por essa existência.

Assim, além de muito amor, acolhimento, escuta sem julgamentos, o paciente oncológico pode exigir o
cumprimento de uma série de direitos, para que melhor e mais tranquilamente possa dedicar-se a si mesmo,
durante seu tratamento de saúde.

De uma forma didática, relaciono os direitos do paciente oncológico em 4 grupos:

I. Direito ao Diagnóstico, Tratamento e Remédios;


II. Direitos Sociais;
III. Direitos Tributários;
IV. Direitos Civis.

As orientações sobre cada grupo podem ser consultadas de maneira independente, ou seja, a leitura pode
ficar a seu critério, na ordem e no momento que desejar, conforme seus interesses.

Buscando dar autonomia ao paciente oncológico (ou alguém de sua confiança), indico, nos itens de cada
grupo, como e onde requerê-los, informando os documentos e os requisitos exigidos. Dessa forma,
diretamente e sem custos, poderá fazer seu pedido ao órgão responsável pela análise e deferimento do
requerimento.

Saliento que, na hipótese de indeferimento administrativo, o requerente poderá buscar a defensoria pública
de seu município ou um advogado de sua confiança, para que ingresse com medida judicial, a fim de obter a
efetivação de seu direito.

Quando temos conhecimento de nossos direitos, podemos viver com maior segurança e tranquilidade,
exercendo melhor nossa condição como cidadãos.

Que possam ser úteis os esclarecimentos abaixo, podendo ser compartilhados a quem deles poderá fazer
bom uso:

I. DIREITO AO DIAGNÓSTICO, TRATAMENTO E REMÉDIOS

a) Pelo SUS

O direito à saúde é direito de todos e dever do Estado, conforme artigo 196 da Constituição Federal.

Esse direito garante ao paciente o diagnóstico, tratamento e remédios pelo Sistema Único de Saúde – SUS.

O SUS deve oferecer todos os serviços necessários à recuperação do paciente oncológico, como cirurgia
oncológica, oncologia clínica, radioterapia, hematologia e oncologia pediátrica em Unidade de Assistência
de Alta Complexidade em Oncologia.

Sendo o câncer a principal hipótese médica, os exames devem ser realizados em até 30 (trinta) dias e o
primeiro tratamento deve ocorrer em até 60 (sessenta) dias do dia em que for diagnosticado (Lei
12.732/2012 - alterada pela Lei 13.896/19).

O paciente com neoplasia maligna deve receber, gratuitamente, todos os tratamentos necessários.
Na hipótese de qualquer negativa na oferta de medicamentos, o paciente poderá exigir que o SUS cumpra a
legislação e atenda a prescrição médica, buscando medida de urgência em ação judicial.
b) Tratamento Fora de Domicílio Pelo SUS

Quando o paciente residir em município em que não há tratamento oncológico adequado ou após esgotados
todos os meios de tratamento no próprio município de residência, tem direito ao Tratamento Fora de
Domicílio (“TFD”), conforme Portaria SAS/MS nº 055- 24/02/1999 (Portaria da Secretaria de Atenção à
Saúde do Ministério da Saúde).

O TFD pode envolver a garantia de transporte a serviços de outro município ou


Estado, hospedagem e ajuda de custo para alimentação, quando indicado, e é concedido, exclusivamente,
aos pacientes atendidos na rede pública e referenciada.

Além disso, nos casos em que houver indicação médica, poderá ser autorizado o pagamento de despesas
para acompanhante.

c) Tratamento pelos Planos de Saúde

Quando o plano de saúde contratado incluir atendimento ambulatorial, haverá cobertura de tratamentos
antineoplásicos domiciliares de uso oral, incluindo medicamentos para o controle de efeitos adversos
relacionados ao tratamento e adjuvantes (art.12, inciso I, alínea “c” da Lei nº 9.656/1998 e suas alterações): 

Quando o plano de saúde contratado incluir internação hospitalar, haverá cobertura para tratamentos
antineoplásicos ambulatoriais e domiciliares de uso oral, procedimentos radioterápicos para tratamento de
câncer e hemoterapia, na qualidade de procedimentos cuja necessidade esteja relacionada à continuidade da
assistência prestada em âmbito de internação hospitalar; art. 12, inciso II, alínea “g” da Lei nº 9.656/1998 e
suas alterações)

O plano de saúde também dará cobertura para cirurgia plástica reconstrutiva de mama, utilizando-se de
todos os meios e técnicas necessárias, para o tratamento de mutilação decorrente de utilização de técnica de
tratamento de câncer (art. 10-A).

Na hipótese de qualquer negativa na oferta de medicamentos, o paciente poderá exigir o cumprimento do


contrato do seu plano de saúde, buscando medida de urgência em ação judicial.

d) Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) 192

Ao ligar para o número 192, os usuários serão atendidos por profissionais que irão avaliar o grau de urgência
do paciente, conforme protocolo de Acolhimento e Classificação de Risco e Portaria nº 2048 do Ministério
da Saúde. Após a chegada da ambulância, o paciente será reavaliado pelo profissional de saúde que decidirá
a conduta a ser tomada e levado, como procedimento padrão, ao hospital geral mais próximo.

e) Pacientes Estrangeiros

É garantido ao paciente estrangeiro o atendimento gratuito em saúde pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Tal direito é assegurado pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei n° 13.445/2017 (artigo 4º, inciso VIII),
que instituiu a lei de migração no Brasil.
II. DIREITOS SOCIAIS

a) Sacar FGTS

O que é?
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço depositado pelo empregador
(artigo 20, inciso XI da Lei nº 8036/1990 e Decreto 5860/2006)

Quem pode sacar?


a) O trabalhador cadastrado no FGTS que estiver na fase ativa (sintomático) de neoplasia maligna (câncer)
b) O trabalhador cadastrado no FGTS que tenha dependente portador de câncer

Onde solicitar o saque?


a) A solicitação pode ser realizada de maneira digital, via site da Caixa Econômica Federal
https://www.caixa.gov.br/beneficios-trabalhador/fgts ou no aplicativo do FGTS.

b) Se o valor do saque for de até R$ 3.000,00 compareça em um dos canais listados abaixo, portando o
Cartão Cidadão e senha pessoal:
- Correspondentes Caixa Aqui.
- Lotéricas.
- Postos de Atendimento Eletrônico.
- Salas de Autoatendimento.

c) Nas salas de autoatendimento das agências, é possível realizar o saque do FGTS sem o cartão do cidadão,
informando apenas o número do PIS/PASEP/NIT/NIS e senha, para valores até R$ 1.500,00.

Observações:
- Se você não possui Cartão Cidadão ou se o valor do saque for maior que R$ 1.500,00, seu atendimento
deve ser realizado nas agências da Caixa.
- Nos locais onde não houver agência da Caixa, o saque deve ser efetuado no banco conveniado onde foi
feita a solicitação do benefício.
- Importante: o saldo da conta do trabalhador no FGTS é corrigido todo dia 10 de cada mês. Ao requerer o
saque, o cliente pode solicitar se preferir, que o pagamento do FGTS seja efetuado após o crédito de juros
e atualização monetária.
- Caso seja necessário emitir documento com os motivos que impedem o saque do seu FGTS, deve ser
solicitado ao atendente da Caixa.

Documentos Necessários ao Pedido


Para o pedido do saque, os documentos que devem ser anexados são:
a) Documento de identificação (RG/CPF – CNH – identidade profissional – passaporte, outros);
b) Carteira de Trabalho (ou Cópia autenticada das atas das assembleias que comprovem a eleição, eventuais
reconduções e término do mandato, quando se tratar de diretor não empregado)
c) Número de inscrição PIS/PASEP/NIS.
d) Atestado médico com validade não superior a 30 dias, contados de sua expedição, firmado com assinatura
sobre carimbo e CRM do médico responsável pelo tratamento, com diagnóstico no qual relate as
patologias ou enfermidades, o estágio clínico atual da moléstia e do enfermo, indicando expressamente
que o paciente está sintomático para a patologia. Exemplo: “Paciente acometido(a) de neoplasia
maligna, em razão da patologia classificada sob a Classificação Estatística Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados à Saúde (CID)________, nos termos do Decreto nº 5.860, de 2006, e Lei nº
8.922, de 1994”; ou “Paciente sintomático(a) para a patologia classificada sob o CID________”; ou
“Paciente acometido(a) de neoplasia maligna, em razão da patologia classificada sob o CID________”;
ou “Paciente acometido(a) de neoplasia maligna nos termos da Lei nº. 8.922, de 1994”, ou “Paciente
acometido(a) de neoplasia maligna nos termos do Decreto nº. 5.860, de 2006”
e) Laudo do exame histopatológico ou anatomopatológico que serviu de base para elaboração do atestado
médico; ou Relatório circunstanciado do médico, que explique as razões impeditivas para a realização do
exame, acompanhado de outros exames complementares comprobatórios;
f) Comprovante de dependência, no caso de saque em que o dependente do titular da conta for acometido
pela doença.
g) Atestado de óbito do dependente, caso este tenha vindo a falecer em consequência da moléstia, a partir da
vigência da MP 2-164-40/2001 de 26/07/2001.

Sobre o valor do FGTS


O valor recebido será o saldo de todas as contas de FGTS pertencentes ao trabalhador, inclusive a conta do
atual contrato de trabalho. No caso de motivo de incapacidade relacionado ao câncer, persistindo os
sintomas da doença, o saque na conta poderá ser efetuado enquanto houver saldo, sempre que forem
apresentados os documentos necessários.

b) Sacar PIS/PASEP

Com a publicação da Medida Provisória nº 946, de 7 de abril de 2020, em 31 de maio de 2020, o Fundo
PIS/PASEP será extinto e ocorrerá a migração do saldo atualizado para o Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço - FGTS.

O Saldo de Cotas será transferido para contas individuais vinculadas de FGTS.

Conforme o Artigo 5º da Medida Provisória nº 946, de 7 de abril de 2020, os valores de cotas serão tidos por
abandonados a partir de 1º de junho de 2025, quando passarão à propriedade da União. Dessa forma, os
valores das cotas do PIS, estarão disponíveis para saque até 31 de maio de 2025.

Nesse caso, as providências para o saque estão no item anterior, em favor do trabalhador cadastrado no
PIS/PASEP antes de 1988 que estiver na fase ativa (sintomático) de neoplasia maligna (câncer) ou de seu
dependente, paciente oncológico.

c) Benefício por Incapacidade Temporária (antigo Auxílio-Doença)

O Que é?
Benefício por incapacidade temporária pago ao contribuinte do INSS (Instituto Nacional de Seguridade
Social), desde que preenchido alguns requisitos. (Lei 8.213/91 artigos 59 a 63 / Artigo 30, inciso III, § 2º, VI e
artigo 71 a 80 do Decreto nº 3.048/1999 (incluído pelo Decreto 10.410/2020)

Quem pode Requerer?


Todo e qualquer funcionário que possua vínculo empregatício com uma empresa ou que seja segurado, no
INSS, como autônomos, MEI (Microempreendedor Individual) ou qualquer outro cidadão que pague o
INSS, mensalmente, observados os seguintes requisitos:
a) estiver incapacitado por mais de 15 dias para o trabalho ou sua atividade habitual (para segurados
autônomos/MEI, domésticos, facultativos o benefício será pago desde o primeiro dia de afastamento);
b) mantenha sua qualidade de segurado, desde que as contribuições tenham sido realizadas anteriormente à
data do diagnóstico de câncer.
Observações:
- Qualidade de Segurado é o tempo em que o segurado (contribuinte) fica vinculado ao INSS, mesmo após o
término do seu contrato de trabalho/contribuição. Por lei, mantém-se a qualidade de segurado entre 12 a 36
meses após a última contribuição ao INSS, conforme o caso.
- Dispensada a carência de 12 (meses) de contribuição mensal e consecutiva para o INSS, para pacientes
oncológicos.

Onde Solicitar
Telefone: 135
Aplicativo: Meu INSS
Site: https://www.inss.gov.br
Pedir “Perícia Inicial” se for a primeira vez, ou “Perícia de Prorrogação” se já estiver em benefício,
indicando a Agência do INSS mais próxima, para comparecimento no dia e hora marcados no agendamento.
Observação: Até 31/12/2021, o INSS está autorizado a conceder o benefício, mediante apresentação de
atestado médico e documentos que comprovem a doença, sem perícia presencial, sendo que o benefício não
poderá ser prorrogado, devendo ser feito novo requerimento (Lei 14.131/2021).

Documentos Necessários ao Pedido


Para o pedido do benefício de Incapacidade Temporária, os documentos que devem ser apresentados no dia
da perícia são:
a) Documentos pessoais originais do interessado com foto (RG, CNH ou CTPS);
b) Comprovante de residência;
c) Documentos médicos originais (exames laboratoriais e de imagem, laudos, receitas, declarações com data
inferior a 30 dias na data da perícia);
d) Procuração ou termo de representação legal (tutela, curatela, termo de guarda), se houver;
e) Documento de identificação com foto (RG, CNH ou CTPS) e CPF do procurador ou representante, se
houver.

Orientações em Caso de Benefício concedido a MEI


Quando um microempreendedor individual passa a receber o benefício de Incapacidade Temporária, deve
continuar a emitir o DAS (Documento de Arrecadação do Simples Nacional) para ISS ou ICMS, ficando
suspenso somente o recolhimento para o INSS.

Assim, quem é MEI (Lei Complementar 123/2006) deve emitir DAS toda vez que os impostos ISS ou ICMS
acumularem R$ 10,00, sob pena de juros e multa, sendo ainda passível de inscrição em dívida ativa, mesmo
recebendo benefício do INSS, isso em razão de o tributo do MEI ser baixo e fixo.

Orientações em Caso de Indeferimento


Caso o benefício seja negado pelo INSS, o contribuinte segurado poderá propor Ação Judicial, para buscar
obter a concessão de seu benefício. Nessa ação judicial, o Juiz designará um Perito Médico, sem vínculo
com o INSS, que realizará nova perícia. (Desaconselhamos recurso administrativo por ser comum
confirmação do indeferimento inicial, tomando um tempo importante ao paciente/segurado.

Os Juízes costumam decidir observando o laudo da perícia médica judicial, por isso é muito importante as
declarações do médico oncologista que acompanha o paciente serem muito bem elaboradas e detalhadas,
para – além de trazer as questões clínico-biológicas – trazer as condições pessoais do paciente e o grau de
restrição para o trabalho, para bem embasar eventual recurso.

Em geral, o benefício não tem sido concedido para portadores de doenças controladas, pois a causa de
concessão do benefício é a incapacidade para o trabalho/atividade habitual, em decorrência da doença.
d) Licença para Tratamento de Saúde (Servidores Públicos)

Aos Servidores Públicos é garantido o direito de ficar licenciado de suas funções, quando ficar
temporariamente incapacitado para o trabalho, por adoecimento.

A incapacidade para o trabalho deve ser comprovada por meio de perícia médica realizada pelo órgão
público ao qual o servidor está vinculado, de acordo com legislação específica de cada esfera pública
(federal, estadual e municipal).

e) Licença por Motivo de Doença em Pessoa da Família (Servidores Públicos)

Aos servidores públicos é assegurada licença, na hipótese de adoecimento de familiares e/ou dependentes,
concedida após perícia médica comprobatória realizada pelo órgão público ao qual o servidor está
vinculado, de acordo com critérios definidos por legislação específica de cada esfera pública (federal,
estadual e municipal).

Os familiares e/ou dependentes compreendidos, para fins desta licença serão definidos de acordo com
legislação específica da esfera pública ao qual o servidor esteja vinculado.

f) Direito ao Benefício de Aposentadoria por Incapacidade Permanente (Antiga Aposentadoria por


Invalidez)

O Que é?
A aposentadoria por invalidez é concedida, desde que a incapacidade para o trabalho seja considerada
definitiva, pela perícia médica do INSS ou do órgão pagador (servidor público). Regime Geral da Previdência
Social (RGPS) – (Lei 8.213/91 artigos 42 a 47 e Artigo 30, inciso III, § 2º, VI e artigo 43 a 50 do Decreto nº
3.048/1999 e Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) dos servidores públicos

Quem pode Requerer?


Tem direito ao benefício o segurado que não esteja em processo de reabilitação para o exercício de atividade
que lhe garanta a subsistência (independente de estar recebendo ou não o auxílio-doença).

No INSS, o portador de câncer terá direito ao benefício, independente do pagamento de 12 contribuições,


desde que se mantenha a qualidade de segurado (como explicado no item que tratou da incapacidade
temporária).

Onde Solicitar
Telefone: 135
Aplicativo: Meu INSS
Site: https://www.inss.gov.br
Observação: Comumente, na própria “Perícia de Prorrogação” do “Benefício de Incapacidade Temporária”,
é identificada a incapacidade permanente do segurado.

Servidores públicos e militares são regidos por leis específicas (Lei 8.112/90 e outras Leis). Procure seu
órgão pagador (Fundações, Institutos, Autarquias, Comando Militar) ou o Serviço Social da unidade em que
realiza o tratamento, para mais orientações.

Documentos Necessários ao Pedido


a) Documentos pessoais originais do interessado com foto (RG, CNH ou CTPS);
b) Comprovante de residência;
c) Documentos médicos originais (exames laboratoriais e de imagem, laudos, receitas, declarações com data
inferior a 30 dias na data da perícia);
d) Procuração ou termo de representação legal (tutela, curatela, termo de guarda), se houver;
e) Documento de identificação com foto (RG, CNH ou CTPS) e CPF do procurador ou representante, se
houver.

Orientações em Caso de Indeferimento


Idem à conduta sugerida no item do Benefício de Incapacidade Temporária

f.1) Assistência Permanente de Outra Pessoa

Caso o aposentado por invalidez necessite assistência permanente de outra pessoa, no dia a dia, o valor da
aposentadoria por invalidez poderá ser aumentado em 25% nas situações previstas no anexo I, do Decreto
3.048/99 (• cegueira total; • perda de nove dedos das mãos, ou superior a essa; • paralisia dos dois
membros superiores ou inferiores; • perda de uma das mãos e dos dois pés, ainda que a prótese seja
possível; • perda dos membros inferiores, acima dos pés, quando a prótese for impossível; • perda de um
membro superior e outro inferior, quando a prótese for impossível; • alteração das faculdades mentais com
grave perturbação da vida orgânica e social; • doença que exija permanência contínua no leito; •
incapacidade permanente para as atividades da vida diária)

Pode tal assistência também ser prevista, na legislação do órgão pagador, conforme atividade do servidor
público.

Documentos Necessários ao Pedido


a) Documentos pessoais originais do interessado com foto (RG, CNH ou CTPS);
b) Comprovante de residência;
c) Carta de Concessão da Aposentadoria por Invalidez;
d) Laudo médico que descreva a necessidade do auxílio permanente de outra pessoa.

g) Direito ao Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC)

O Que é?
Benefício que integra a Proteção Social Básica no Sistema Único de Assistência Social (Suas). Visa a
garantia de renda de um salário mínimo mensal a quem preencher os critérios.
Lei Orgânica de Assistência Social (Loas) – Lei 8742/1993 e Decreto no 8.805/2016

Quem pode Requerer?


- idoso com 65 anos ou mais;
- pessoa com deficiência, de qualquer idade, com impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação
plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

Requisitos
a) comprovar a deficiência, em perícia designada pelo INSS;
b) for brasileiro nato ou naturalizado;
c) tiver nacionalidade portuguesa;
d) Renda familiar por pessoa de até ¼ (25%) do salário mínimo, caracterizando a impossibilidade do
paciente e de sua família de garantir seu sustento.
Obs.: Para esse cálculo, considera-se o conjunto de pessoas composto pelo requerente,
cônjuge/companheiro, pais e, na ausência de um deles, madrasta/padrasto, irmãos solteiros, filhos e
enteados solteiros e os menores tutelados, desde que todos vivam no mesmo domicílio.

Características do Benefício
a) O BPC é um benefício individual, não vitalício e intransferível, ou seja, não gera direito à pensão para
herdeiros ou sucessores;
b) O beneficiário não recebe 13º salário;
c) A concessão do benefício é avaliada e operacionalizada pelo INSS;
d) não pode ser acumulado com outro benefício do INSS ou de outro regime, salvo os da assistência médica
e da pensão especial de natureza indenizatória.

Onde Solicitar
Telefone: 135
Aplicativo: Meu INSS
Site: https://www.inss.gov.br
(A partir de 19/09/2020, até segunda ordem, o Governo Federal suspendeu a exigência do Cadastro Único)

Documentos Necessários ao Pedido


a) CPF de cada um dos membros da família que morem na mesma casa;
b) comprovante de residência (conta de água ou luz, preferencialmente)
III. DIREITOS TRIBUTÁRIOS

a) Isenção do Imposto de Renda para Proventos de Aposentadoria, Reforma (Militar) e Pensão

O que é e quem tem direito


A pessoa com câncer está isenta do imposto de renda relativo aos proventos de aposentadoria, reforma e
pensão, inclusive as complementações recebidas de entidade privada e a pensão alimentícia. (Lei nº 7.713, de
1988, art. 6º, inciso XIV e XXI; Regulamento do Imposto sobre a Renda aprovado pelo Decreto 9.580/2018, artigo 35, inciso II,
alíneas “b” e “c”; Instrução Normativa Receita Federal – IN RFB 1500/2014 art. 6º, II e III)

Como Requerer
Para solicitar isenção, a pessoa deve procurar o órgão pagador da sua aposentadoria (INSS, Prefeitura,
Estado, etc.) e comprovar a doença através de laudo médico.

O serviço médico oficial da fonte pagadora emitirá laudo pericial deixando de haver imediata retenção na
fonte (Lei nº 9.250/1995, art.30).

Observações
a) Após o laudo pericial, o contribuinte poderá retificar sua Declaração de Imposto de Renda Pessoa Física
dos exercícios abrangidos pelo período declarado pelo médico da fonte pagadora. Caso tenha tido saldo
de imposto a pagar, poderá elaborar e transmitir o PER/DCOMP Web para pleitear a
restituição/compensação dos valores pagos a maior que o devido.
b) A isenção do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física por motivo de moléstia grave não dispensa o
contribuinte de apresentar a Declaração do IRPF caso o mesmo se enquadre em uma das condições de
obrigatoriedade.

Maiores informações pelo site:


https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/assuntos/orientacao-tributaria/isencoes/irpf/molestia-grave

b) Isenção de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e Imposto sobre Operações Financeiras
(IOF) para Pessoas com Deficiência

Quando a pessoa com câncer tem direito a solicitar a isenção do IPI e do IOF, na compra de veículos?
O paciente com câncer pode ser isento desses impostos federais, na compra de veículos, apenas quando
apresenta deficiência física, visual, mental severa ou profunda.
Lei nº 8.989/1995, artigo 1º, inciso IV, § 7º / Instrução Normativa RFB 1769/2017

Como requerer
No SISEN (sistema de Concessão Eletrônica de Isenção de IPI e IOF, pelo site
https://www.sisen.receita.fazenda.gov.br/sisen/inicio.jsf

Diretamente pelo paciente ou por intermédio de seu representante legal, aquisição com isenção aplicável
somente a veículo novo cujo preço de venda ao consumidor, para até 31 de dezembro de 2021, incluídos os
tributos incidentes, não seja superior a R$ 140.000,00 (alteração através da Lei 14.183/2021). Há o Projeto
de Lei 5149/2020, em trâmite na Câmara dos Deputados, para prorrogar a isenção.

Requisitos comuns IPI e IOF


a) Ter recursos financeiros ou patrimoniais compatíveis com o valor do veículo a ser comprado, salvo se
comprar por financiamento bancário;
b) Não possuir impedimentos legais para obter benefícios fiscais (incisos I, II e III do art. 12 da Lei nº
8.429/1992; inciso II do art. 6º da Lei nº 10.522/2002; e art. 10 da Lei nº 9.605/1998);
c) Não ter dívidas previdenciárias caso seja Contribuinte Individual pelo Regime Geral de Previdência
Social (RGPS).
Periodicidade
Novo pedido de isenção poderá ser realizado, se o veículo tiver sido adquirido há mais de 3 anos (Parágrafo
Único do artigo 2º da Lei 8.989/1995, após alteração pela Lei 14.183/2021.

Maiores informações pelo site:


https://www.gov.br/pt-br/servicos/obter-isencao-de-impostos-para-comprar-carro

c) Isenção de Imposto de Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços (ICMS) e de


Imposto de Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) para Pessoas com Deficiência, para
Condução de Veículo Adaptado

O que é ICMS? É o imposto estadual sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestação de serviços. Cada Estado possui legislação própria que regulamenta esse imposto.

O que é IPVA? É o imposto estadual referente à propriedade de veículos automotores. Cada Estado tem a
sua própria legislação sobre o imposto.

A competência desses impostos é de cada Estado da Federação brasileira, sendo necessário pesquisar
especificamente o Estado de interesse do paciente, se existe regulamentação e como proceder.

d) Isenção de Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU)

Alguns municípios preveem, em sua Lei Orgânica, isenção do IPTU para pessoas portadoras de doença
crônica, segundo critérios estabelecidos por cada prefeitura.

O paciente precisará conferir se possui direito a esse benefício, na prefeitura do seu município, e como
proceder.
IV. DIREITOS CIVIS

a) Quitação de Financiamento de Imóvel em Caso de Invalidez Total e Permanente ou Morte, por


Seguro previamente contratado

O paciente com invalidez total e permanente, causada por acidente ou doença, possui direito à quitação do
financiamento de imóvel por ele contratado, caso haja essa cláusula e desde que a doença incapacitante
tenha iniciado, após a assinatura do contrato de compra do imóvel.

É necessário ao paciente ou a herdeiro/sucessor requerer a quitação, junto ao órgão financiador. Pode ser o
Sistema Financeiro de Habitação (SFH), Companhia de Habitação Popular municipal, Caixa Econômica
Federal (Minha Casa Minha Vida - MCMV ou Casa Verde e Amarela, etc.

Documentos necessários
Em caso de invalidez: Carta de concessão fornecida pelo órgão previdenciário, entre outros, conforme o
agente financiador.

Em caso de morte: atestado de óbito, documentos dos herdeiros/sucessores, entre outros, conforme o agente
financiador.

b) Prioridade na Tramitação de Processos

O paciente com câncer tem direito à prioridade na tramitação de processos, em qualquer Juízo ou Tribunal,
conforme artigo 1048, inciso I do Código de Processo Civil brasileiro, bastando juntar prova de sua
condição ao requerer tal prioridade. Para tanto, informe ao seu advogado sobre sua condição de saúde,
entregando a ele os documentos comprobatórios.

Nos processos administrativos, no âmbito da Administração Pública Federal, igualmente haverá prioridade
na tramitação, por força do artigo 69-A, inciso IV da Lei 9784/1999.

Nas demais esferas administrativas estaduais e municipais, também há legislação que embase tal prioridade.

c) Outorgar Procuração

É recomendável que o paciente oncológico designe uma pessoa de confiança, para representá-lo nas
questões que envolvam os atos da vida civil (ex.: movimentação bancária, benefícios previdenciários,
reuniões de empresa em que seja sócio, declarações de MEI, assembleias condominiais, pagamentos,
negociações/contratações, compras, etc.), pois assim poderá dedicar-se a si e ao tratamento com mais
tranquilidade, sem preocupar-se com questões “cotidianas” e o tempo para retomá-las, especialmente nos
momentos em que necessitar maiores cuidados e repouso.

Como fazer
Com os documentos próprios e os da pessoa de confiança, o paciente poderá enviar, por e-mail, minuta de
Procuração ao Tabelionato de Notas mais próximo/conveniente.

Há alguns tabelionatos que aceitam receber os documentos do Outorgante e do Procurador por e-mail, na
fase da minuta da procuração.

No momento da assinatura, os documentos originais do Outorgante deverão ser apresentados no Cartório


escolhido.
Em Caso de Paciente Hospitalizado ou Impossibilitado de Comparecer em Cartório
Em casos excepcionais, em que se comprove, mediante Atestado Médico, a lucidez e a impossibilidade de
locomoção paciente/outorgante, o cartório poderá designar funcionário para coleta de assinatura do
Outorgante, no local em que estiver.

Procurações com Modelos Próprios


Alguns órgãos públicos possuem seus próprios modelos de procuração, para finalidades específicas, como é
o caso da procuração do INSS e da Farmácia de Medicamentos do SUS, em suas diversas unidades estaduais
e municipais.

Nesse caso, o paciente poderá outorgá-las em separado, ou o procurador pode providenciá-las mediante
apresentação da procuração por instrumento público que o constituiu.

d) Outorgar Escritura Declaratória de União Estável

Da Importância da Escritura Declaratória de União Estável


É recomendável a quem conviva em união estável outorgar, em tabelionato de notas, escritura pública
declaratória de união estável, a fim de comprovar a união do casal com convivência contínua, pública e
duradoura, que se une com o objetivo de constituir família.

Isso é reconhecido tanto para casais heterossexuais (homem e mulher) quanto para uniões homoafetivas
(mesmo sexo), conforme a Lei nº 9.278, de 1996, artigos 1.723/1.727 e 1.790 do Código Civil de 2002 e o
julgamento da ADIN (Ação Direta de Inconstitucionalidade) nº 4.277 e da Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental nº 132 pelo STF – Supremo Tribunal Federal.

Assim, a qualquer tempo e para qualquer necessidade, direitos e deveres do casal são facilmente validados e
reconhecidos judicial e administrativamente.

Como fazer
Preferencialmente com assessoria de um advogado, o casal outorgará Escritura Pública no Tabelionato de
Notas mais próximo/conveniente, apresentando seus documentos pessoais, declarando o regime de bens que
respaldará a convivência, entre outras cláusulas, facilitando o acesso à partilha de bens, à pensão, entre
outros direitos, em caso de separação do casal ou óbito.

Para facilitar ao casal e dar publicidade a terceiros, tal escritura pode ser registrada em Cartório de Registro
de Títulos e Documentos.

Exemplos de Caso-Problema, quando não há declaração de União Estável


Apenas para destacar a importância da declaração da União Estável, dois exemplos de caso-problema que
foi vivenciado em nosso escritório de advocacia:

Exemplo 1
Em processo judicial previdenciário, nosso escritório obteve para um cliente o direito à sua aposentadoria,
com implantação imediata do benefício e com requerimento - via precatório - do pagamento dos valores
desde a data do requerimento administrativo até o trânsito em julgado da ação. (Precatório é requisição de
pagamento de valor devido por Fazenda Pública, cujo valor deve ser previsto em orçamento).

O precatório foi pago mais de um ano depois da implantação da aposentadoria e, ao buscarmos contato com
nosso cliente descobrimos que a companheira dele estava tentando provar, judicialmente, a união estável
entre ambos há vários meses, em processo que pretendia ser declarada curadora do companheiro, pois este
sofrera um AVC e estava impossibilitado a qualquer ato da vida civil.
Foi necessário aguardar, por meses, até a sentença favorável a essa companheira do cliente, para que
pudéssemos levantar o numerário na Justiça Federal e transferir o valor pago pelo INSS para a conta dele/da
companheira, que tanto necessitavam do dinheiro para tratamento.

Exemplo 2
Atraso na análise, em si, para deferimento de pensão por morte a uma senhora que convivia em união estável
com companheiro que veio a falecer. O INSS precisou, inicialmente, analisar fotos do casal e declarações de
terceiros que conheciam o casal, entre outros indícios de convivência, para aceitar a união estável entre eles
e, em seguida, deferir a pensão por morte deixada pelo companheiro à viúva. Se esse casal tivesse uma
escritura pública de união estável, o deferimento e a implantação da pensão por morte teriam sido agilizados,
evitando dissabores, principalmente num momento de fragilidade emocional e necessidade financeira.

e) Elaborar Testamento Vital – Diretivas Antecipadas de Vontade

O que é
É um documento que toda pessoa maior pode elaborar, esteja gozando de plena saúde ou em tratamento
médico. É um instrumento de garantia da autonomia da pessoa que o redige, a qual deve estar lúcida e com
pleno discernimento.

Através dessa manifestação de vontade, a pessoa (denominada “Testador”) declara que, na hipótese de estar
sem condições de expressar livre e diretamente sua vontade, informa como quer ser cuidada em caso de vir a
ser acometida por qualquer doença ou em caso de vir a ter alguma restrição física ou mental com o avanço
da idade, até o momento de sua passagem.

Nesse documento elaborado pela própria pessoa, poderá fazer constar uma série de itens, como os
relacionados abaixo a título de exemplo (a opção por uns pode excluir outros):
- se eu ficar doente ou estiver em idade avançada que necessite tratamento de saúde, seja ele em casa ou em
hospital, eu aceito “tais e tais” procedimentos e não aceito “tais e tais” outros;
- dentre os procedimentos, aceito receber tratamentos complementares como Reiki, Passe, Florais;
- autorizo que “tais e tais” pessoas me visitem, seja em casa ou em hospital e, expressamente, não autorizo
“tais e tais” pessoas a me visitar;
- autorizo que as visitas, acima permitidas, ocorram enquanto eu mantiver a lucidez (ou, outro exemplo:
autorizo sem ressalvas as visitas);
- na hipótese de prognóstico médico que impossibilite intervenção medicamentosa ou cirúrgica, autorizo
tratamento paliativo para que permita afastar sofrimento/dor e trazer o maior conforto físico e emocional
possível;
- na hipótese de parada cardiorrespiratória, autorizo a equipe médica a realizar manobras de reanimação pelo
tempo máximo de 10 minutos (ou indicar menos tempo);
- desautorizo a manutenção da vida por aparelhos, quando não houver possibilidades de tratamento efetivo;
- autorizo (ou proíbo) a doação de órgãos;
- autorizo (ou proíbo) a doação do meu corpo para universidade de medicina;
- autorizo que meu velório tenha crucifixo e velas (ou só velas);
- autorizo (ou proíbo) a cremação;
- autorizo a cremação imediata (ou autorizo a cremação após 72h da declaração do óbito), podendo as cinzas
serem espargidas e “tal” lugar;
- entre outros
Constituição de um Representante Legal
Para que o Testamento Vital possa ser cumprido, tal como é o desejo do paciente, ao redigi-lo a pessoa deve
indicar o nome de um familiar ou outra pessoa de total confiança que terá a função de representá-lo nas
situações em que esteja incapacitado de fazê-lo diretamente (exemplo: na ocorrência de fraqueza física,
internamento, cirurgia, perda de lucidez, perda da capacidade cognitiva de decisão, etc.).

Legalidade do Testamento Vital no Brasil


No Brasil, não há lei específica que normatize a questão do Testamento Vital, sendo assunto de muitos
congressos médico-jurídicos, por ser uma questão interdisciplinar.
O direito ao Testamento Vital, todavia, é garantido pela Constituição Federal, como princípio da Dignidade
de Pessoa Humana (art. 1, inciso III) e o Direito a Liberdade de ação (art. 5, inciso II), assim como pela
Resolução n° 1995/2012 do Conselho Federal de Medicina (“CFM”).
Assim, o Testamento Vital detém legitimidade do ponto de vista ético médico-jurídico e constitucional.

Observações
a) não há a obrigatoriedade de registrar o Testamento Vital em cartório, mas é fundamental que, uma vez
redigido o documento, o mesmo seja conhecido pelo médico/profissional de saúde que acompanha o
paciente;
b) é aconselhável anexá-lo no prontuário médico do declarante, estando ele em atendimento ambulatorial ou
hospitalar, bastando simples pedido (conforme Resolução 1995/2012 CFM);
c) é utilizado para dispor, exclusivamente, sobre questões relativas ao tratamento de saúde do paciente até
seu óbito e destino de órgãos e seu corpo físico, e não para fins de direito sucessório (partilha de bens,
heranças etc.).

f) Realizar Planejamento Sucessório

O que é
O planejamento sucessório é um exercício prático de uma atividade preventiva, com realização de
procedimentos para que, em vida, o titular de patrimônio possa organizar a transferência de seus bens aos
seus herdeiros.

Quem pode fazer


Qualquer pessoa que tenha qualquer patrimônio, tenha herdeiros necessários (artigo 1845 Código Civil) e
que deseja organizar o destino dos bens, durante a vida e após. A seguir, algumas opções dentre outras
possíveis no planejamento sucessório.

f.1) Elaborar Testamento – Ato de Última Vontade


Previsto no Código Civil, no Livro V - Do Direito da Sucessões, Título I – Da Sucessão em Geral, artigo
1.748, e no Capítulo III – Da Sucessão Testamentária, artigos 1.857 a 1.960, é um documento através do
qual toda pessoa capaz, desde que esteja gozando de pleno controle de suas faculdades mentais, isto é, lúcida
e com pleno discernimento, faça constar sobre seu patrimônio e como quer dispor sobre seus bens e direitos,
após sua passagem.

Testador é o nome que se dá para a pessoa que faz o testamento e legatário é o nome que se dá a quem é
beneficiado no testamento.

O testamento pode ser público (feito em cartório), cerrado e particular (entre outros). O particular também é
chamado Codicilo, e se trata de uma disposição mais simples, podendo ser de próprio punho, datado e
assinado, com distribuição de bens de menor valor, como roupas, móveis, joias, e o que deseja, por exemplo,
para seu velório/enterro.
Para garantir um mínimo de segurança ao testador e às suas vontades, o artigo 1.860 do Código Civil define
quem pode testar (fazer um testamento), evitando que familiares e/ou legatários queiram anular o
testamento, discutindo situações de fraude ou demonstrando que o testador, no momento da lavratura do
documento, não estava lúcido. Nesse sentido, aconselhamos que o testamento seja elaborado com assessoria
jurídica, sendo o mais conveniente o público, pela facilidade na localização do documento, no futuro, pelos
legatários.

O testador tem um limite de disposição de seu patrimônio, e deve respeitar a existência de herdeiros
necessários (filhos, pais e cônjuges), como definido no artigo 1.845 do Código Civil. Nesse caso, o testador
pode dispor como quiser de até 50% de seu patrimônio, pois a outra metade é garantida aos seus herdeiros
necessários.

f.2) Doar Bens por Escritura Pública


O titular do patrimônio pode entender ser mais conveniente doar seus bens aos herdeiros necessários, sendo
a mais comum a doação com reserva de usufruto vitalício (artigo 2018 Código Civil). Nesse caso, pode
escolher que um bem seja doado a um filho e outro bem, de valor equivalente, ao segundo filho. (Obs.: Se
houver doações de bens diferentes em valor, deverá ser ajustado no inventário, posteriormente, entre os
herdeiros)

Assim, os pais podem outorgar escritura pública de doação de bens aos seus herdeiros necessários, em
cartório de notas (tabelionato), com a condição de não serem vendidos para (a) garantir a moradia dos pais
doadores até o falecimento de ambos; (b) para garantir o recebimento de todos os frutos sobre o imóvel que
for alugado, permitindo que o valor do aluguel seja pago, integralmente, aos pais doadores. O usufruto
impede que os filhos donatários vendam o imóvel.

Além dos custos da escritura pública, haverá incidência de ITCMD (Imposto de Transmissão Causa Mortis e
Doação), com alíquota variável conforme o Estado em que estiver o bem, e despesas com registro no
cartório de registro de imóveis, normalmente pagos pelos doadores.

Nesse exemplo, os donatários somente poderão usufruir do bem quando ambos os pais falecerem e for
liberado o usufruto, sendo necessário o inventário de bens somente para os bens e direitos não doados.

f.3) Constituir Holding Familiar


Para fazer o planejamento sucessório por meio de holding familiar, o titular do patrimônio cria uma empresa
ou mais, conforme a opção escolhida após aconselhamento jurídico, podendo ser: (a) holding operacional;
(b) holding mista; ou (c) holding pura.

Aqui, vamos citar a forma mais simples de holding familiar, com o exemplo de constituição de uma empresa
limitada registrada em Junta Comercial, com objeto social de administração de bens próprios (sociedade
operacional, podendo haver outra atividade no objeto).

O capital será integralizado com os bens desse sócio (normalmente pai e mãe) que, em cláusula do contrato
social de constituição, doará quotas da sociedade aos seus herdeiros.

As quotas distribuídas de maneira igual a cada um dos herdeiros são adiantamentos de herança, numa
linguagem mais simples.

Normalmente, os pais doadores das quotas acabam ficando com uma única quota cada um e constituem
usufruto das quotas doadas aos herdeiros, ou seja, enquanto vivos esses pais doadores receberão
integralmente valores de aluguéis, das rendas de investimento, etc. e manterão a administração da empresa,
não podendo os filhos cederem essas quotas a terceiros.
Dessa forma, o patrimônio da família ficará dentro da empresa, gerando alguns benefícios: (a) reduzir ou
eliminar a necessidade de inventário dos sócios doadores após falecimento; (b) permitir que os sócios
doadores administrem plenamente, como melhor lhes aprouver, os bens que constituem o ativo e o objeto da
empresa, inclusive auferindo frutos de locação, etc.; (c) gerar uma condição previamente organizada para os
herdeiros, objetivando evitar disputas ou dilapidação do patrimônio recebido dos pais; (d) estimular nos
filhos a capacidade de administrarem um negócio em sociedade, para desenvolverem uma atividade
econômica que gere manutenção da vida pessoal de cada um, crescimento pessoal e financeiro, crescimento
da empresa com criação de empregos.

Normalmente, somente com a extinção do usufruto, seja por retirada dos sócios doadores da sociedade ou
seu cancelamento por liberalidade própria ou por falecimento deles, que os filhos passam a administrar a
empresa.

Para esse planejamento sucessório, aconselhamos a contratação de um advogado e, após a constituição da


empresa, um contador para atender a contabilidade da sociedade.

O custo de registro do contrato social dependerá da localidade da empresa, pois, apenas como exemplo,
atualmente, para arquivamento do contrato social de uma sociedade empresária limitada, a Junta Comercial
do Paraná cobra R$ 91,85, enquanto a do Rio de Janeiro cobra R$ 414,00 e a de Pernambuco cobra R$
347,00.

Se o capital social foi integralizado com bens imóveis, não haverá incidência de ITBI (Imposto de
Transmissão de Bens Imóveis), conforme artigo 156, §2º, inciso I da Constituição Federal e artigo 36 do
Código Tributário Nacional), devendo ser levado o contrato social e cartão CNPJ para o cartório de registro
de imóveis atualizar a propriedade no nome da empresa constituída, sem o recolhimento desse imposto.

Essa isenção do ITBI permanece se a atividade preponderante da empresa for administração de bens ou se
não houver venda dos bens num período de três anos, caso contrário a empresa pagará o ITBI (artigo 37 do
Código Tributário Nacional).

Houve uma época em que os Estados não cobravam o ITCMD (Imposto de Transmissão Causa Mortis e
Doação) de doação de quotas/ações, mas passaram a cobrar nos últimos anos, cada qual com base na
legislação própria de sua competência, sendo que é vedado às Juntas Comerciais exigirem comprovação do
pagamento do imposto para registro do contrato social (Ofício Circular SEI 3548/2020/ME do
Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração (DREI).

CONCLUSÃO

Ao finalizarmos, desejamos com essas linhas que o paciente oncológico possa requerer todos os direitos em
que se enquadrar ou que tiver interesse, para trazer-lhe uma melhor qualidade de vida, na medida em que
liberar sua mente de alguns assuntos.

Uma boa maneira e mais rápida de colocar seus direitos, em prática, é uma conversa com familiares e
amigos de confiança.

É um momento de se permitir ser cuidado, também, para além da saúde, ou seja, permitir-se ser cuidado em
questões de seus “papéis”.

Normalmente, familiares e amigos estão à disposição do paciente oncológico, para auxiliá-lo sempre, mas
como não sabem como exatamente e nem desejam ser invasivos com perguntas, ficam à espera de um
pedido, de um sinal.
Então, se você é um paciente em tratamento oncológico que tal pensar em oferecer a oportunidade de
alguém querido e de confiança, a ajudá-lo mais, na medida em que também se permite ser auxiliado, nas
questões até ditas “chatas”, quando envolve requerimentos, documentos, etc.

Essa ajuda pode ser “simples”, como abrirem o site do INSS, por exemplo, para fazerem o requerimento
juntos, enquanto desfrutam da companhia um do outro, sem pressa, nem ansiedade.
Qualquer interesse em se aprofundar, nos direitos aqui relacionados, sugerimos a própria legislação vigente,
pois os sites que normalmente trazem informações, não raras vezes, são baseados em lei já alterada.

Alessandra Fanton de Siqueira Alves


OAB/PR 21.316
Voluntária do CAPO Bezerra de Menezes
Equipe Editorial do CAPO Bezerra de Menezes

*Seja um PADRINHO/MADRINHA das atividades do CAPO* ❤️

O CAPO - Centro de Apoio a Paciente Oncológicos Bezerra de Menezes - é uma associação sem fins lucrativos cujo
objetivo primordial é o acolhimento do paciente com câncer e seus familiares.

As nossas atividades são mantidas com doações de diversas pessoas, notadamente nossos voluntários, que além da
contribuir com seu tempo e dedicação também auxiliam a fortalecer a estrutura financeira mínima necessária para
continuarmos nossos trabalhos do bem.

Porém desde o início da pandemia nossas doações caíram drasticamente e precisamos recompor nossa arrecadação
para mantermos e, se possível, ampliarmos futuramente nossas atividades.

Convidamos você a ajudar a continuar e ampliar nosso trabalho tornando-se um PADRINHO ou MADRINHA e
realizando pequenas doações mensais que podem ser a partir de R$ 10,00 por mês.

Cada um de nós ajudando um pouquinho o trabalho beneficiará mais pessoas e ficará ainda mais lindo!

Acesse: https://capobm.org/quero-doar/ e faça sua doação.

Acesso: https://capobm.org/quero-ser-socio-do-capo/ caso queira ser sócio.

Conheça mais sobre nossas atividades em capobm.org.

Juntos somos e seremos cada vez mais fortes!

Você também pode gostar