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Síndromes Neurológicas

Dr. Marcus Vinícius Della Coletta

Conceito
Conjunto de sinais e sintomas decorrentes de uma lesão neurológica e que correspondem a topografias específicas
no sistema nervoso. Ou seja, quando se identifica corretamente uma síndrome neurológica isso já leva a uma
localização/topografia da lesão.

Etapas propostas para fazer o diagnóstico:

1. Diagnóstico sindrômico (feito com anamnese e exame físico)


2. Diagnóstico topográfico (sugerido pelo resultado do diagnóstico sindrômico)
3. Hipóteses etiológicas (mais frequentes de acordo com a localização. Ex: infecciosa, neoplásica etc)

Localizações das síndromes neurológicas:

Medula

Região encefálica (tronco cerebral,


cerebelo, hemisférios cerebrais). Dependendo da localização da lesão
no sistema nervoso, seja no córtex ou
no órgão efetor (músculo), vai gerar
uma manifestação diferente e uma
síndrome neurológica específica.

Sistema Nervoso Periférico (desde as


raízes, seja motoras ou sensitivas,
por todo caminho até músculos).

Síndromes Motoras
São as mais comuns do dia-a-dia. Na maioria das vezes o paciente queixa-se de perda de força muscular em
determinada região.

Neurônio motor superior (1º neurônio/ Síndrome Piramidal/ Síndrome de liberação piramidal):

 Força muscular ↓↓↓ (perda de força)


 Tônus ↑↑↑ (hipertonia)
 Trofismo ↓↓ (trofismo pouco diminuído)
 Reflexos ↑↑↑ (hiperreflexia)
OBS: O 1º neurônio é encontrado desde o córtex motor (lobo frontal, giro pré-central) e passa pelas estruturas do
tronco cerebral e pela medula, fazendo sinapse com o 2º neurônio no gânglio motor. Com a lesão de uma estrutura
central (hemisfério cerebral, tronco cerebral, medula) vai gerar um quadro sindrômico de 1º neurônio.

Neurônio moto inferior (2º neurônio – entre a raiz até a placa motora):

 Força muscular ↓↓↓ (perda de força)


 Tônus ↓↓↓ (hipotonia)
 Trofismo ↓↓↓ ↓↓↓ (trofismo muito diminuído) – quanto mais perto do músculo o nervo for lesionado,
mais rápida a massa muscular diminui.
 Reflexos ↓↓↓ (hiporreflexia ou arreflexia)

OBS: Às vezes, o paciente apresenta perda de força que não se enquadra em nenhuma das classificações acima, o
que pode ser gerado por uma lesão incompleta de neurônio motor, lesão de raiz (síndrome radicular), lesão de um
nervo periférico específico englobando uma área pequena, síndrome de placa motora ou miopatia (disfunção
muscular).

Síndrome Radicular
 Dor irradiada pelo trajeto da raiz
 Hipoestesia na faixa definida pela raíz (no mesmo dermátomo referente à dor)
 Limitada movimentação nas manobras radiculares (Brudzinski e Kerning, entre outras).
 Perda de força em vários músculos do trajeto da raiz

Sinal meningorradicular: Sinal de Sinal meningorradicular: Sinal de


Brudzinski = quando flexiona o Kerning = Eleva a coxa com a perna
pescoço o paciente flete as pernas. fletida em 90o, e então se eleva a
perna e percebe uma limitação pela
extensão radicular.

Poliradiculopatia (várias raízes acometidas):

 Exemplo clássico: Síndrome de Gillain-Barrè


 Paralisia progressiva, ascendente, flácida (a perda de força muscular não é aguda, vai piorando ao longo das
horas e dos dias. Ex: o paciente começa no 1º dia de manhã com fraqueza e dificuldade para caminhar, e de
noite já está impossibilitado de andar, no 2º dia ele tem fraqueza para elevar os braços, e no 3º dia ele está
tetraplégico).
 Importante: Líquor com elevação de proteínas e celularidade normal (dissociação proteíno-citológica).
 OBS: Como é uma lesão de raiz, é o 2º neurônio motor que está acometido e o quadro clínico se manifestará
com as características do mesmo.
Síndrome de Nervo Periférico
 Perda de força em território limitado
 Hipoestesia em pequena área
 Importante atrofia. Lembre: quanto mais perto do músculo a lesão, maior é a atrofia.
 Ex: dificuldade de mover os dedos, fraqueza somente em um pé.

Lesão de nervo
periférico clássico:
Mão ulnar –
dificuldade de
extensão dos
dedos. Observar
que a queixa
sensitiva e motora
corresponde ao
trajeto do nervo.

Síndrome de Placa Motora


 Perda progressiva da força ao longo do dia – o curso da força muscular é flutuante, vai perdendo cada vez
mais força durante o dia à medida que faz mais esforços, e melhora com o descanso. Depois de uma noite de
sono o paciente acorda bem, porém como é uma doença autoimune, à medida que a destruição dos
receptores de acetilcolina da placa motora vai aumento o paciente não se recupera totalmente mesmo
depois do descanso.
 Reflexos se perdem ao longo do esforço
 Sem atrofia importante – apesar de a lesão estar perto do músculo não tem atrofia, pois a lesão não é no
nervo.

Exemplo clássico: Miastenia Gravis

Acomete a superfície da placa motora,


onde tem receptores de acetilcolina que
quando ativados estimulam o
movimento muscular.

Esse acometimento é autoimune com


destruição dos receptores e a placa
motora não funciona de maneira
generalizada no corpo.
Síndrome de Disfunção Muscular
 Perda importante de força e atrofia grave.
 Doenças distróficas - doença progressiva, crônica, quando do início da infância geralmente é fatal, leva a
uma destruição progressiva e generalizada das fibras/massa musculares, não tem acometimento dos nervos.
Ex: Distrofia muscular de Duchenne, que se inicia por volta dos 3 a 4 anos de idade com quedas e fraqueza.
Distrofia muscular de Becker é uma forma um pouco mais benigna, que se inicia mais tarde e evolução mais
lenta.

Distrofia Muscular

Cerebelo
A lesão cerebelar gera alteração da coordenação:

 Marcha atáxica (perda de coordenação muscular)


 Dismetria (deficiência para definir a direção, extensão, força e o tempo do movimento de forma precisa).
 Disdiadococinesia (dificuldade de a pessoa realizar movimentos rápidos, alternados e coordenados).
 É a única estrutura do SNC cuja lesão gera perda de tônus muscular (hipotonia), ou seja, nem toda lesão
central gera hipertonia.
 Os neurônios que saem do cerebelo não são 1º neurônio, são neurônios de modulação do movimento que
indicam como o movimento deve ser realizado. Na lesão cerebelar o paciente tropeça na perna, por exemplo.

Distúrbios do Movimento (Síndrome Extrapiramidal)


São geradas por lesões:

 GÂNGLIOS DA BASE (estruturas profundas da substância branca que indicam como o movimento deve ser
realizado, com que velocidade, com que amplitude)
 CEREBELO
 Estruturas moduladoras do movimento
 Distúrbios hipercinéticos e hipocinéticos

Distúrbios Hipocinéticos:

 Doença de Parkinson (se caracteriza pelo parkinsonismo):


- Tremor de repouso – com o membro solto com a ação da gravidade tem tremor, quando realiza
movimento contra a gravidade para o tremor.
- Rigidez hipertoniada em roda endentada - quando movimenta lentamente o membro tem aumento da
resistência.
- Bradicinesia
- Instabilidade postural - apresenta desequilíbrio por ter o tronco mais inclinado para frente, uma falha no
controle postural que desloca o centro da gravidade para frente e deixa o tronco rígido, com passos
curto, e tende a correr atrás do seu centro de equilíbrio e pode cair com facilidade, pois tem uma
diminuição da resposta dos reflexos posturais.
- Fácies em máscara
- Marcha em pequenos passos

Distúrbios Hipercinéticos:

 Coréia
 Balismo
 Distonia
 Tremor
 Mioclonia
 Tiques

Síndromes Sensitivas

Lesão sensitiva central (encefálica): há


perda da sensibilidade em todo lado
contralateral, ou seja, uma síndrome
sensitiva em hemicorpo é uma lesão de
origem cortical contralateral.

Lesão sensitiva radicular: tem um trajeto,


uma distribuição, como por exemplo, a
perda de sensibilidade que começa no
quadril, desce pelo lado da perna e vai até
o pé somente de um lado do corpo.

Síndrome Medulares

Lesão sensitiva medular (com lesão


completa da medula): há perda da
sensibilidade a partir de um nível, de um
dermátomo, de uma altura do corpo.
Exemplo: perda de sensibilidade do umbigo
para baixo.
Lesões Medulares Incompletas:

 Síndrome medular anterior


 Síndrome medular posterior
 Síndrome central
 Síndrome hemimedular
 Síndrome radicular (inclui a síndrome da cauda equina)

Síndromes Medulares Posteriores:

 Comprometimento do cordão posterior com prejuízo da propriocepção e vibração (apenas a sensibilidade


profunda está comprometida). Visto com muita frequência em paciente com deficiência de vitamina B12 e
neurossífilis.
 Distúrbio da marcha: marcha tabética – paciente anda pisando com força no chão para sentir com mais
intensidade a profundidade e onde está o solo.
 Sinal clássico: teste de Romberg positivo - o paciente permanece em posição vertical, com os pés juntos, e
pede para que ele feche os olhos e então ele apresenta oscilações do corpo, com desequilíbrio e forte
tendência à queda. Isso acontece por que ele perde a percepção visual do espaço, e como não tem
sensibilidade profunda o teste dá positivo.
 Lesões cervicais, apraxia de membros superiores que se acentua com a privação da visão durante os
movimentos.

Síndromes Hemimedulares:

 Síndrome de Brown-Séquard
 Caracterizam-se por paralisia e alteração da propriocepção ipsilateral e perda da sensibilidade para dor e
temperatura contralateral. O paciente relata: “eu não consigo mexer um lado do corpo, e o outro lado está
estranho”.

Síndrome da cauda equina:

Compressão aguda que leva a perda de sensibilidade da região pélvica além de disfunção esfincteriana. É UMA
EMERGÊNCIA CIRÚRGICA. Se não operar, o paciente pode ficar com uma disfunção esfincteriana permanente.

Compressão aguda das raízes lombossacras, que


pode ser por deslocamento do disco
intervertebral, que gera dor, perda da
sensibilidade da região pélvica e disfunção
esfincteriana. Paciente relata: “dor muito forte
em região pélvica, depois ficou tudo amortecido
entre as pernas e sem perceber eu fiz xixi”.
Síndrome da Polineuropatia

A síndrome de polineuropatia tem padrão clássico de bota e luva,


com perda da sensibilidade e disestesia (sensação desagradável
de queimação ou formigamento) nas extremidades dos membros
superiores e inferiores. É mais comum em pacientes diabéticos.

Síndrome Demencial
É um padrão diferente, pois não envolve lesão do nervo, raiz ou medula. Esta síndrome envolve diversas funções
corticais relacionada com a cognição, ou seja, memória, atenção, linguagem, cálculo, raciocínio abstrato. Porém o
principal acometimento é a memória, o que gera uma Síndrome Amnésica.

Demência é uma perda global das funções cognitivas, onde a memória geralmente é a predominante, com prejuízo
funcional. Ex: Professor começa a não ir à aula por esquecimento, erra o caminho de casa, não sabe que dia da
semana é, esquece-se de pagar as contas. Há perda cognitiva principalmente da memória e prejuízo funcional.

É importante saber se esses sintomas são novos ou se a paciente sempre foi assim. Se a pessoa foi sempre assim,
trata-se de um retardo mental, e não de uma demência.

Doença de Alzheimer (é a doença que mais acomete com síndrome demencial):

 Perda da memória recente


 Lembra de fatos antigos
 Perda de orientação Tempo / Espaço
 Confusão de nomes
 Alteração do ciclo do sono

Avaliação rápida no dia-a-dia:

 MEEM (mini exame do estado mental): questionário que consta de 30 pontos, o normal é pontuar 29 ou 30,
menos de 26 pontos (em uma pessoa alfabetizada com mais de 4 anos de escolaridade) indica uma síndrome
demencial. Os pontos de corte variam de acordo com a escolaridade e alfabetização.

FIM !!!

RAISSA BARAKATT , NEUROLOGIA , 7º P

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